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Conteúdo I – 3º ano

A Proclamação da República

CALIXTO, Benedito. Proclamação da República. 1893. Óleo sobre tela, 124 cm x 200 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.
O povo, segundo o jornalista Aristides Lobo, julgava estar
assistindo, bestializado, a esse acontecimento, como se
fosse uma parada militar.

O historiador José Murilo de Carvalho, no entanto, entende


que o povo não assistiu bestializado, mas, sim, percebeu
que as estruturas da sociedade da época não seriam
significativamente alteradas com a mudança política
empreendida pelos militares.

Dois dias depois, a família real partiu para o exílio na


Europa e, assim, iniciou-se o período do Governo Provisório.

José Murilo de Carvalho


ÔÔ
HA
PAN PÉ DE
A REPÚBLICA É PROCLAMADA! O!

Em 1889, o imperador nomeou o visconde de Ouro Preto


como chefe de seu ministério para tentar acalmar os
ânimos republicanos, atendendo às reivindicações
necessárias para neutralizar a oposição.
Contudo, a monarquia já havia decaído e nada mais
restava a fazer. Marechal Deodoro da Fonseca, herói da
Guerra do Paraguai, defensor das questões militares e
amigo íntimo do imperador, foi convencido a liderar o
movimento republicano.
O inconformismo dos proprietários de escravizados, o
anseio dos militares por participação política e o
descontentamento da igreja católica nos ajudam a
entender o declínio do imperador D. Pedro II.
Deodoro da Fonseca, então, foi o responsável por depor o
gabinete do visconde de Ouro Preto, embora não tenha sido
ele próprio o proclamador da República.

Quem proclamou e discursou oficialmente foi José do


Patrocínio, um político e jornalista negro, que foi até a
Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, onde, enfim, a
República foi proclamada.

HO RA...
É
U E LO!!
DO D
REPÚBLICA DA ESPADA
1889-1894
Durante os primeiros anos da República, mesmo
sem haver uma organização, houve muitas
manifestações e revoltas populares, envolvendo
até mesmo aqueles sem o direito de votar.

Na campanha republicana, inclusive, pareceu que


o povo finalmente teria acesso à cidadania
política, porém as desigualdades foram
perpetuadas na aliança entre militares e
cafeicultores
Com a Proclamação da República, novos símbolos nacionais
foram criados, como uma nova bandeira e um novo Hino
Nacional. Além disso, nomes também foram alterados.

Junto a tudo isso, a retomada da figura de Tiradentes como


herói nacional e a referência à República por meio de figuras
femininas formavam a nova política de construção da
identidade nacional, agora republicana.

Bandeira provisória da republica utilizada de 15 a 19


de novembro de 1889, sendo substituída pela atual.
GOVERNO PROVISÓRIO (1889 – 1891)
Foi formado no mesmo dia da proclamação, e sua chefia coube ao
marechal Deodoro da Fonseca, que organizou seu ministério, o
primeiro da história republicana brasileira. A primeira medida
tomada pelo governo foi alterar o nome do país, que passou a ser
República dos Estados Unidos do Brasil. Em seguida, promoveu:

• a separação entre Igreja e Estado;


• a regulamentação do casamento civil;
• a criação do registro civil;
• a secularização dos cemitérios;
• a reforma do Código Criminal;
• a reforma do ensino;
• a naturalização de estrangeiros residentes no país, se
assim o desejassem.

Viva a República!!!
ENCILHAMENTO
Durante o Governo Provisório, o ministro da Fazenda, Rui
Barbosa, adotou uma política econômica com o objetivo
de promover o desenvolvimento industrial e comercial do
Brasil. Entre as medidas dessa política, Rui Barbosa
autorizou a emissão de dinheiro para facilitar o crédito a
investidores industriais e comerciais.

A inciativa também tinha raízes na abolição da


escravidão, pois, agora com o trabalho assalariado, havia
necessidade de colocar dinheiro para circular, a fim de
pagar os trabalhadores e estimular o desenvolvimento
social e econômico do Brasil.

Sim, a atriz Marina Ruy Barbosa é tataraneta de Rui Barbosa


Embora bem-intencionada, essa política econômica não
recebeu apoio da elite nacional, pois esse grupo da sociedade
estava acostumado a encarar o trabalho como atividade
reservada a escravizados e libertos.

Empréstimos foram tomados dos bancos, mas, em vez de


aplicá-los na produção industrial e comercial efetivamente,
muitos investidores criavam empresas-fantasmas e faziam a
especulação financeira na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

O resultado disso foi a aceleração da inflação e a falência de


empresas. Politicamente, tal situação foi aproveitada pela
oposição, representada principalmente por cafeicultores e
casas importadoras, o que enfraqueceu o governo do marechal
Deodoro da Fonseca.
A CONSTITUIÇÃO DE 1891
Promulgada em fevereiro por uma Assembleia Constituinte, a
Constituição de 1891 foi a segunda Constituição do Brasil e a
primeira da República.

Entre suas determinações, ela estabeleceu:


• a República Presidencialista Federativa, na qual cada estado
(anteriormente, chamados de províncias) passou a ter autonomia
legislativa e governamental;
• consagrou os Três Poderes: Executivo, Legislativo (Congresso
Nacional, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado) e
Judiciário;
• determinou o voto universal masculino não secreto aos maiores
de 21 anos que fossem alfabetizados;
• determinou a separação entre Estado e Igreja, ou seja, a partir
de então, o Estado seria laico e não haveria mais religião oficial.
GOVERNO DE FLORIANO Viva a
PEIXOTO República!!!
O MARECHAL DE FERRO
A Constituição de 1891 estabeleceu que o primeiro
presidente seria eleito por voto indireto, isto é, pela
Assembleia.

Numa disputa tensa, saíram vitoriosos Deodoro como


presidente e Floriano como vice. Naquela época, o vice-
presidente não era automaticamente eleito com a vitória
do candidato a presidente, como ocorre atualmente.
A primeira eleição presidencial do Brasil, retratada por Pereira Neto, em 1891. Na imagem, lê se: “O CONGRESSO E A
CONSTITUIÇÃO. O Brasil gloria-se de haver discutido e promulgado uma Constituição adiantada, com o concurso dos seus filhos
mais diletos, terminando essa grande obra pela eleição de dois dos principais fatores do dia 15 de novembro, para as principais
magistraturas da pátria livre. HONRA À AMÉRICA! VIVA A REPÚBLICA!”.
Após a crise do Encilhamento, a popularidade de Deodoro decaiu,
pois os militares acusavam-no de ser monarquista demais, e os
fazendeiros de café acusavam-no de não proteger a agricultura,
que sustentava a nação. Hostilizado pelo Congresso Nacional,
Deodoro da Fonseca decretou seu fechamento.

O clima de tensão foi aumentando com a decretação de uma greve


pelos ferroviários da Central do Brasil, que instigaram outros
setores a aderir ao movimento.

A Marinha, então, ameaçou bombardear a baía da Guanabara se


Deodoro não renunciasse. Esse episódio ficou conhecido como a I
Revolta da Armada. O estado de saúde de Deodoro agravou-se e
ele terminou por renunciar ao cargo, passando-o a seu vice,
Floriano Peixoto.

Viva a República!!!
GOVERNO DE FLORIANO PEIXOTO
Floriano, também considerado herói da Guerra do Paraguai,
assumiu o governo após o conturbado período de Deodoro e em
plena crise econômica.

A primeira crise política que ele enfrentou partiu do próprio


meio militar, quando 13 generais assinaram um Manifesto à
Nação, exigindo o cumprimento da lei e a convocação imediata
de novas eleições presidenciais, pois a Constituição
determinava que deveria haver novas eleições se o governante
deixasse o cargo por morte ou renúncia antes de completar a
metade (dois anos) do mandato.

Como Deodoro renunciara após nove meses de mandato, os


generais exigiam o cumprimento do dispositivo constitucional.
Entretanto, Floriano contra-argumentou que esse preceito
não valia para seu mandato, pois ele não fora eleito por
voto popular, e sim por via indireta. Os oficiais que
assinaram o manifesto foram aposentados e Floriano
encarregou alguns juristas de dar sua interpretação à
Constituição, legalizando, assim, seu mandato.

Enquanto isso, ele tomava suas primeiras medidas como VOCÊ ESTÁ
ESTÁ DEMITIDO!
DEMITIDO!
VOCÊ
presidente: demitiu os governadores que declararam
apoio a Deodoro, controlou a especulação financeira e
tabelou os preços dos alimentos.
Procurando apoio político, Floriano aproximou-se da
elite cafeeira paulista, que estava interessada em
normalizar o quanto antes o conturbado cenário
político-nacional.

Também promoveu algumas concessões populares,


como a construção de casas, a suspensão de impostos
sobre a carne e a regulamentação do preço dos
aluguéis
REVOLUÇÃO FEDERALISTA
No Rio Grande do Sul, uma crise política arrastava-se desde 1892,
envolvendo o Partido Republicano Gaúcho – cujos membros,
chamados de “pica-paus”, eram aliados a Floriano Peixoto – e o
Partido Federalista – seus membros eram apelidados de
“maragatos” e opunham-se ao presidente.

Os federalistas exigiam o afastamento do governador republicano,


Júlio de Castilhos, e a instalação da república parlamentarista, com
o objetivo de diminuir os poderes presidenciais.

A revolta ultrapassou as fronteiras gaúchas, expandindo-se por


Santa Catarina e Paraná e causou muitas mortes. Ao final, Júlio de
Castilho e os pica-paus saíram vencedores
REVOLTA DA ARMADA
Influenciada pela Revolução Federalista, a Marinha, sob a
liderança de alguns oficiais, passou a contestar a legitimidade
do mandato presidencial de Floriano.

No Rio de Janeiro, militares da Marinha passaram a bombardear


a capital, obrigando centenas de pessoas a superlotar os trens
rumo ao interior. Para enfrentar essa revolta, Floriano
encomendou navios de guerra em vários países, a fim de
compor outra Marinha para combater a rebelião.

Ao combater os revoltosos, Floriano ganhou o título de


“marechal de Ferro”. Com a derrota dos revoltosos no Rio de
Janeiro, no Paraná e em Santa Catarina, Floriano consolidou a
República Brasileira.
Militares da Marinha durante a II Revolta da Armada, em fotografia tirada por Juan
Gutierrez, no Morro do Castello, por volta de 1893. Rio de Janeiro, RJ/Acervo FBN.
REPÚBLICA
OLIGÁRQUICA História
1894 - 1930
REPÚBLICA DO CAFÉ COM LEITE
O governo que se seguiu à República dos
Marechais foi marcado pelo predomínio dos
paulistas (produtores de café) e mineiros
(produtores de leite) ou políticos ligados a
esses dois grupos que se alternavam no
poder federal.

Por essa razão, também é chamado de


República do Café com Leite.
REPÚBLICA DO CAFÉ COM LEITE

Entretanto, é importante destacar que São


Paulo e Minas Gerais viviam nesse período
um processo de industrialização e o
desenvolvimento econômico lhes garantia
grande poder político.

Esse período teve início com a posse do


presidente Prudente de Morais e se
estendeu até o ano de 1930.
REPÚBLICA DO CAFÉ COM LEITE
Para que essas oligarquias se
mantivessem na Presidência da República,
era necessária a elaboração de artifícios
que garantissem aos seus candidatos
sempre a vitória.

Um dos mecanismos criados com essa


finalidade foi a Política dos Governadores,
um acordo feito entre o governo federal e
as oligarquias estaduais.
REPÚBLICA DO CAFÉ COM LEITE
Os governadores garantiam votos nas eleições
ao governo federal. Em troca, este fornecia
investimentos nos estados e apoio aos
governadores nas eleições estaduais.

Ainda nos estados atuavam os coronéis, grandes


latifundiários que, por meio da fraude ou da
coerção, garantiam votos aos governadores e
aos candidatos à Presidência da República.
VOTO DE CABRESTO

Os coronéis coagiam os eleitores a


votar nos candidatos indicados por
eles. O conjunto de eleitores sob o
poder de um coronel recebia a
denominação “curral eleitoral”

Nesse período, o voto era aberto, ou


seja, era possível burlar e controlar e
escolha do eleitor.
VOTO DE CABRESTO

Capangas eram colocados nas seções eleitorais


para verificar se o voto do eleitor estava de
acordo com as ordens do coronel.

Em caso negativo, ocorriam retaliações, que


poderiam ir desde a perda de seu trabalho até
agressões físicas.

Esse tipo de votação era chamado de “voto de


cabresto”.
STORNI. As próximas eleições... “de cabresto”.
Revista Careta. 1927. Ella – Ele é o Zé Besta? Elle-
Não é o Zé Burro!
VOTO DE CABRESTO

Outra forma de fraudar o sistema de


votação era "inventar” eleitores, ou
seja, criar registros falsos ou
“ressuscitar” eleitores já falecidos,
entregando seu título a outra pessoa
para que votasse em nome do morto.

O Rei da Noite é um personagem fictício da série de televisão de


alta fantasia da HBO, Game of Thrones, baseado na série de
romance de George R. R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo. Ele é
descrito como o líder e o primeiro dos Caminhantes Brancos
VOTO DE CABRESTO

Depois do processo eleitoral, o candidato


eleito era submetido à Comissão
Verificadora, formada por membros do
Poder Legislativo, que tinha a atribuição de
validar a eleição.

Caso algum candidato que não fizesse


parte dos acordos fosse eleito, ele poderia
ser “degolado”, termo utilizado para se
referir ao não reconhecimento da eleição.
VOTO DE CABRESTO

Dessa forma, utilizando-se de todos esses


meios fraudulentos, os integrantes dos dois
principais partidos republicanos se
mantiveram na Presidência da República até
1930.
CRISE DO CAFÉ

Com a efetivação da Política do Café com Leite,


o governo atuou no sentido de garantir a
estabilidade da economia do café.

Os cafeicultores enfrentavam crises na produção


cafeeira, resultantes principalmente da
superprodução, que se intensificou entre 1906 e
1917.
CRISE DO CAFÉ

Em 1906, reunidos na cidade paulista de


Taubaté, estabeleceram uma política de
valorização do produto, em que o governo
federal compraria todo o excesso de café
produzido no país.

O objetivo era valorizar o café


internacionalmente, diminuindo sua oferta.
CRISE DO CAFÉ

Os fazendeiros se comprometeram a produzir


em menor quantidade para que o governo
pudesse vender os estoques no futuro e
recuperar o investimento feito na compra das
sacas.

Porém, a superprodução continuou e o governo


a cada ano estocava mais do produto.
CRISE DO CAFÉ

Em 1917, quando a Grande Guerra fez com que


a compra de café por parte dos países
estrangeiros diminuísse, os cafeicultores
brasileiros utilizaram novamente a tática de
vender seus estoques para o governo com o
objetivo de evitar a queda do preço do produto
pela grande oferta

Filme: 1917 | 2020


Na Primeira Guerra Mundial, dois soldados britânicos recebem ordens
aparentemente impossíveis de cumprir. Em uma corrida contra o tempo,
eles precisam atravessar o território inimigo e entregar uma mensagem
que pode salvar 1.600 de seus companheiros.
O GOVERNO:
CRISE DO CAFÉ

Em 1920, houve novamente superprodução e os


cafeicultores solicitaram ao governo federal uma
nova compra do produto em grande quantidade.
Entretanto, dessa vez, o governo alegou não ter
condições de atendê-los.

Teve início então uma crise no esquema que


ocorria havia vários anos entre ele e os
cafeicultores.
DESENVOLVIMENTO URBANO

Enquanto o poder político se concentrava nas mãos


dos oligarcas, que faziam o possível para preservar
seus interesses, mesmo que isso significasse
recorrer a métodos ilícitos, o setor industrial
brasileiro começou a se desenvolver com a iniciativa
de particulares, em sua é maioria, grandes
comerciantes que haviam acumulado capital com a
comercialização do café.
DESENVOLVIMENTO URBANO
Assim, em São Paulo, local em que se
concentravam as maiores fortunas do país, a
industrialização teve significativo desenvolvimento,
sendo seguido por Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Pernambuco e Bahia.

As primeiras indústrias criadas nessas cidades


produziam prioritariamente roupas e sapatos, além
de produtos alimentícios e bebidas.

Logo, porém, investiram em outro tipo de produção,


voltada para suprir as necessidades das próprias
indústrias.
DESENVOLVIMENTO URBANO
Surgiram então indústrias que produziam ferro,
aço e outros materiais pesados necessários para a
produção de máquinas industriais.

Ao mesmo tempo que surgiam as indústrias, Moradias precárias dominavam o centro do


também cresciam no Brasil as cidades e o modo Rio de Janeiro antes da reurbanização
de vida urbano.

Ruas amplas eram abertas e construções


inspiradas na arquitetura francesa abrigavam
confeitarias, restaurantes e lojas refinadas.

Em mesma área estava repleta de


construções de inspiração francesa
DESENVOLVIMENTO URBANO

A iluminação pública se tornava mais comum nas


cidades maiores e, até mesmo, alguns bondes
passaram a circular.

De casa. A moda seguia o que ditavam os


estilistas europeus, sobretudo os parisienses,
mesmo que o excesso de tecidos e detalhes fosse
totalmente inapropriado para cidades quentes,
como o Rio de Janeiro. Autoridades do Palácio da Guanabara em fotografia
tirada por Augusto Malta em 20 de agosto de 1913,
período na qual a política dos governadores era
utilizada pelos membros dos governos locais,
estaduais e federais.
MOVIMENTOS SOCIAIS DA PRIMEIRA
REPÚBLICA
MOVIMENTOS SOCIAIS
URBANOS
Nos sertões, havia multidões carentes de
recursos e de atenção por parte dos seus
representantes políticos. Em condições de
abandono pelo Estado, muitos seguiam líderes
místicos.

Por sua vez, nas cidades, o desenvolvimento


da indústria e o processo de renovação dos
centros urbanos trouxeram transtornos para as
classes menos favorecidas.
MOVIMENTOS SOCIAIS
URBANOS
Péssimas condições de trabalho e moradia estavam entre os fatores que
ocasionaram duas das mais significativas manifestações urbanas ocorridas
durante a Primeira República: a Revolta da Vacina e as greves promovidas
pelos operários de São Paulo.

Podemos ainda citar o Movimento Tenentista e a Semana de Arte Moderna


como movimentos sociais urbanos
REVOLTA DA VACINA

O processo de urbanização do Rio de


Janeiro no fim do século XIX desapropriou
muitos terrenos e causou a expulsão de
inúmeras famílias da classe trabalhadora
do centro urbano, onde habitavam
cortiços.

Estes abrigavam diversas famílias que


viviam em condições precárias, sem as
condições básicas de sobrevivência.
REVOLTA DA VACINA

As condições insalubres de moradia e de trabalho


contribuíram para que doenças como a varíola, a
febre amarela, a cólera, a disenteria e a gripe se
alastrassem rapidamente.

A Diretoria Geral de Saúde Pública, sob a


administração do médico sanitarista Osvaldo
Cruz, decretou a vacinação obrigatória contra a
varíola.
REVOLTA DA VACINA

A população, que estava descontente


com as condições de vida e o descaso do
governo, considerou autoritária essa
medida e promoveu uma revolta entre
os dias 10 e 18 de novembro de 1904.

O quebra-quebra levou as autoridades a


revogar a obrigatoriedade da vacina.

A charge da revista O Malho, de 29 de outubro de 1904, parecia


prever a revolta que se instalaria na cidade poucos dias depois:
nem com um exército, o “Napoleão da Seringa e Lanceta”, como
muitos se referiam a Oswaldo Cruz na época, conseguia conter a
fúria da população contra a vacinação compulsória (Crédito:
Leonidas/Acervo Fiocruz)
REVOLTA DA CHIBATA

Em 1890, o presidente Marechal


Deodoro restabeleceu os castigos
corporais na armada brasileira, que
haviam sido extintos em 16 de
novembro de 1889.

Como exemplo, podemos citar que a


punição para os delitos leves era a
prisão a pão e água. Para as faltas
graves, a punição eram 25 chibatadas.
REVOLTA DA CHIBATA

Em 22 de novembro de 1910, os marinheiros,


liderados pelo cabo João Cândido, assumiram
o controle dos principais navios da armada
brasileira (Marinha) ancorados na Baía de
Guanabara.

Ameaçando bombardear a cidade, os


marinheiros exigiram o fim dos castigos
corporais e a anistia aos revoltosos.
REVOLTA DA CHIBATA

Como resultado do movimento, foram


proibidos os castigos físicos na Marinha.

Entretanto, os participantes da revolta


foram presos e deportados para o Acre e
a Amazônia, para o trabalho nos
seringais, ou encarcerados na Ilha das
Cobra.
MOVIMENTO OPERÁRIO – GREVE GERAL – SÃO
PAULO (1917)
Desde o fim do século XIX, a industrialização
crescia nas principais cidades brasileiras. As
fábricas estavam voltadas para a produção
de roupas e sapatos, ferro, aço e outras
matérias primas importantes para a própria
produção.

As condições de trabalho em tais locais


eram péssimas: extensas jornadas de
trabalho em locais insalubres e inseguros, Quadro Operários de Tarsila do Amaral

muitas vezes com a participação de


crianças.
MOVIMENTO OPERÁRIO – GREVE GERAL – SÃO
PAULO (1917)
Motivados pela necessidade de melhorar
esse quadro, e influenciados pela
presença de imigrantes europeus, que
tinham experiência com as lutas
operárias, os trabalhadores organizaram
os primeiros sindicatos.

Além disso, eles realizaram diversas


greves durante a Primeira República, com
destaque para a Greve Geral de 1917.
MOVIMENTO OPERÁRIO – GREVE GERAL – SÃO
PAULO (1917)
Várias propostas de regulamentação do
trabalho foram apresentadas ao Congresso
Nacional.

Entretanto, o único benefício aprovado foi a


indenização em caso de acidente de trabalho.
MOVIMENTOS SOCIAIS RURAIS

MOVIMENTOS SOCIAIS DA PRIMEIRA


REPÚBLICA
Nos que se seguiram à Proclamação, o
que se viu não foi um povo
“bestializado”, que apenas assistia aos
acontecimentos políticos, mas
combativo, insatisfeito e pronto para se
fazer ouvir.

Por outro lado, o governo muitas vezes


também estava pronto para fazer calar
as reivindicações
MOVIMENTOS SOCIAIS RURAIS vi
Óia, num
miora
nenhuma
Para os brasileiros que viviam nas regiões mais não...
afastadas dos grandes centros urbanos, a
Proclamação da República não trouxe nenhuma
melhoria significativa.

Ao contrário, nos estados em que as atividades


econômicas principais passavam por momentos
de crise, a já empobrecida população teve que
arcar com o aumento da carga de impostos
estipulados pelos governos regionais
CANUDOS (1893-1897) – BAHIA

No interior da Bahia, sertanejos liderados pelo


beato Antônio Conselheiro fundaram o Arraial
de Canudos.

Ali foi estabelecida uma congregação religiosa


que aboliu a propriedade privada e se recusava
a pagar os impostos.

Guerra de Canudos | 1996 | Diretor: Sérgio Rezende


CANUDOS (1893-1897) – BAHIA

Nas duas primeiras investidas, ocorridas em


1896, uma com 600 homens e outra com 1
500, as tropas do governo foram vencidas
pelos sertanejos, armados, principalmente,
com paus e pedras.

Em 1897, com um contingente de 6 000


homens bem armados, o Exército brasileiro
destruiu Canudos. Centenas de sertanejos
foram mortos e mulheres e crianças foram
feitos prisioneiros.
CONTESTADO – PARANÁ/SANTA CATARINA
(1911-1915)
Movimento ocorrido no sul do Brasil, na
região conhecida como Contestado,
porque era disputada por Paraná e
Santa Catarina.

Reunidos em torno das pregações do


monge José Maria, trabalhadores rurais
expulsos de suas terras, pela
instalação de uma madeireira e pela
construção de uma ferrovia,
estabeleceram-se na região.
CONTESTADO – PARANÁ/SANTA CATARINA
(1911-1915)
Como essa ocupação desagradou aos
fazendeiros próximos e aos governos
locais e estaduais, os ocupantes foram
alvo de ataques de milícias estaduais e
de jagunços a serviço de coronéis locais.

Após vários confrontos, a população ali


assentada foi expulsa pelas tropas do
governo em 1915.

Grupo de vaqueanos (milícia armada privada) defende


madeireira de ataques de revoltosos na Guerra do Contestado.
Foto do sueco Claro Jansson, que imigrou para o Brasil em 1891
e viveu na região na época da guerra Fonte: Agência Senado
PADRE CÍCERO: O BEATO DE JUAZEIRO –
CEARÁ (1889-1934)
A popularidade do padre Cícero Romão Batista, em
Juazeiro e em outras regiões do Ceará, acabou por
desagradar às autoridades locais porque, além de
um líder religioso, ele passou a ter influência
política.

O padre teve projeção após a difusão da notícia de


que, em suas missas, ocorriam milagres.
PADRE CÍCERO: O BEATO DE JUAZEIRO –
CEARÁ (1889-1934)
Ele foi expulso da sua ordem, acusado de
divulgar falsos milagres, e proibido de
ministrar sacramentos ou de rezar a
missa.

Apesar de todas as proibições, a


popularidade de Padre Cícero aumentou e
ele exerceu os cargos de prefeito de
Juazeiro e vice-governador do estado do
Ceará.

Estátua de Padre Cícero, no Horto, em Juazeiro do Norte


— Foto: Gustavo Pellizzon/SVM
139
O CANGAÇO
O Nordeste brasileiro, na segunda metade do
século XIX, expressava o poderio dos proprietários
rurais que, em 1831, haviam recebido a patente
de coronel da Guarda Nacional, legitimando um
poder que já tinham e do qual usufruíam como
resultado da posse de imensos latifúndios.

Nesse ambiente, não havia espaço para homens


do povo assumirem a posse de qualquer pedaço
de terra.

Representação de Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, o Rei do Cangaço,


foi um cangaceiro brasileiro que atuou na região do sertão nordestino do Brasil.
O CANGAÇO

Para garantir o poder e os interesses desses


coronéis, eram arregimentados jagunços para a
formação de milícias particulares. Esses
jagunços, fortemente vinculados aos coronéis,
defendiam os interesses dos seus chefes à custa
das armas. Carregavam não só armas, mas
também munição, cantil d’água, mochila com
roupas e alimentos, isto é, uma verdadeira canga,
daí passarem a ser conhecidos como
cangaceiros.
O CANGAÇO

Com o tempo, começaram a se tornar


independentes dos coronéis e passaram a
ameaçar aqueles mesmos interesses e
patrões para cuja defesa foram criados.

Os primeiros cangaceiros que formaram os


primeiros bandos independentes dos
coronéis foram João Calango e Antônio
Silvino, no final do século XIX.

Bando de Silvino. Antônio Silvino está em pé, o


segundo à esquerda.
O CANGAÇO

Silvino tornou-se o primeiro “rei do


sertão”, atuando em quase todo o
Nordeste, entre os anos de 1898 e
1918. Chegou a se intitular
“governador” e trajava, como todos
de seu bando, uniformes da Guarda
Nacional.
Antônio Silvino, retrato de sua ficha policial, 1914.
O CANGAÇO

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era


filho de lavradores, começou sua carreira
como membro do bando de “Sinhô”
Pereira e depois formou o seu próprio
bando, assaltando e pilhando vários
povoados do Nordeste, fazendo sua fama
espalhar-se por todo o país.
O lendário cangaceiro Lampião posa para foto segurando uma edição de um dos
jornais que costumava ler, "O Globo", 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).
O CANGAÇO

Em abril de 1926, por influência de Padre Cícero, o


governo concordou em ceder a patente de capitão
a Lampião e entregou-lhe armas, munições e a
promessa de anistia para que ele e seu bando
colaborassem na perseguição e combate à Coluna
Prestes.

Na certeza de que o governo não iria cumprir a sua


parte (anistia), Lampião não cumpriu a sua,
tornando sua perseguição mais violenta.
O CANGAÇO

Em 1928, fugindo de uma volante (milícia


do governo), Lampião refugiou se na
Fazenda Malhada, no sertão da Bahia, e a
filha do proprietário, Maria– que ficou
conhecida como Maria Bonita –,
apaixonou-se por ele e tornou-se sua
companheira por toda a vida.

O Brasil, nesse ínterim, estava se Maria Bonita, mulher de Lampião, posa para o fotógrafo
libanês Benjamin Abrahão junto aos seus dois cães,
transformando. O desenvolvimento Guary e Ligeiro
urbano-industrial firmava-se a cada dia e
exigia novas relações sociais.
O CANGAÇO

A Revolução de 30 (1930) impôs um


tremendo baque ao cangaço, em razão da.
centralização do poder e da modernização do
país, especialmente do Sudeste, o que
provocou a saída de milhares de migrantes
do Nordeste em busca de empregos nas
indústrias de São Paulo e Rio de Janeiro.

Paralelamente, a Revolução de 1930


provocava a decadência das oligarquias
tradicionais e impunha novas relações
político-sociais.
O CANGAÇO

Em julho de 1938, Lampião e seu


bando estavam acampados em
Angicos, no sertão do Sergipe, quando
uma volante comandada por João
Bezerra cercou o acampamento e os
destruiu sob pesada fuzilaria.

Lampião, Maria Bonita e nove


cangaceiros foram mortos no local, Volantes do estado da Bahia em registro de Benjamin
Abrahão, circa 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).
enquanto o restante do bando
conseguiu furar o bloqueio e fugir.
O CANGAÇO

Com requintes de selvageria,


Bezerra mandou decepar as
cabeças e as colocou em
exposição ao público nas
escadarias da igreja de Santana do
Ipanema, cidade mais próxima de
Angicos, e, a partir daí, o cangaço
chegava ao fim.

Cabeças dos cangaceiros expostas em Santana do Ipanema/AL,


1938. (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).
O CANGAÇO

As revoltas sociais que ocorreram na


República Velha demonstraram o
descontentamento com a
manutenção das condições sociais
herdadas do Brasil imperial (e
colonial).

Em nome do bem-estar da elite


econômica, o governo modernizou a
Alargamento da Rua da Carioca, 1905 (Crédito: Augusto Malta)
capital do país, expropriando e
demolindo os casarões que haviam
se transformado em cortiços.
O CANGAÇO

Os terrenos na orla marítima foram valorizados e


os pobres, expulsos para o morros, os quais foram
tomados por habitações precárias que ficaram
conhecidas como favelas.

A industrialização ocorrida na região Sudeste


passou a atrair um grande contingente de mão de
obra para essa parte do país, contribuindo para
enfraquecer o movimento do cangaço, enquanto
fortalecia as camadas médias urbanas, cada vez
mais descontentes com o status quo vigente

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