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Biografia de Antero de Quental

Antero Tarquínio de Quental foi um poeta e filósofo português. Liderou o realismo em


Portugal e contribuiu para a implantação das ideias renovadoras da geração de 1870.
Com 16 anos entrou no curso de Direito em Coimbra, e, devida à sua marcante
personalidade tornou-se líder dos acadêmicos.
No ano de 1865 Antero editou “Odes Modernas” de onde baniu o romantismo,
sentimentalismo e a lírica, surgindo assim as ideias de liberdade e justiça. Os poemas
foram acusados por António Feliciano de Castilho de obscuridade e exibicionismo.
Antero ataca o academismo e a literatura romântica defendendo a liberdade de
pensamento e a independência de novos escritores.
Antero de Quental juntamente com Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e Oliveira
Martins, em 1871, organizaram as “Conferências Democráticas” para reformar a
sociedade portuguesa. Na V Conferência, o ministro acusou-os de terem intenções
desobedientes, mas, apesar da proibição e das críticas o grupo conhecido como a
“Geração 70” conquistou o seu objetivo.
A sua sentimentalidade excessiva impedia-o de realizar uma poética reformista. Tinha
uma atitude contraditória onde se prendia à tradição religiosa ou se dedicava à ação
social, fazendo com que a sua carreira poética se apresente em 3 fases de acordo com
modificações do seu espírito:
 No soneto “Mais luz” refletiu o conteúdo revolucionário e social;
 Em “Primaveras Românticas” marcou o Romantismo;
 “O Que a Morte Diz” revelou os seus sentimentos pois foi vítima de tuberculose
e viveu uma fase de desilusões.
Ficou “ator mentado pela doença que lhe debilitou o corpo e a alma” e isolou-se em
Vila do Conde onde se suicidou aos 49 anos sentado num banco de jardim na ilha
onde nasceu.

Fonte: https://www.ebiografia.com/antero_quental/

Sonetos de Antero de Quental:


1. Tiveram uma influência clássica (elmanista e arcádica).
2. Influência romântica.

1- Grandiloquência do poeta visionário; Rasgos sentimentais; cenários associados à


noite e ao crepúsculo; Paisagens aterradoras; Obsessão pela morte; Abundância
de personificações (Amor, Razão, Verdade…) - recurso à maiúscula inicial.
2- Cores sombrias; Preferência pelo polo negativo das dualidades noite/dia,
trevas/luz, névoa/sol, mal/bem; referência a nomes que se convertem em
personagens; adjetivação alusiva à tensão, ao conflito e à negatividade.
Traduz ideias de: ansiedade; mistério cósmico; sensação metafísica; caracter fantástico
do real.
O soneto em Antero:
Antero publica os seus primeiros sonetos em 1861 assim como uma teoria do género,
sendo uma novidade ao tempo.
O poeta soube dar expressão aos mais variados modos da sua sensibilidade: amor
místico dos primeiros sonetos, amor da Morte, amor da Noite e diversas evocações da
sua imaginação e as visões apocalípticas da Voz interior e de Contemplação. A fantasia
tem um papel muito importante, pois como a sua sensibilidade ordena os seus sonhos,
acabam por ser “dolorosos”.
Cada soneto é uma projeção do seu drama e parte de um drama que não tem fim (por
mais que o filósofo nos tente convencer do contrário. Drama da alma, os seus espectros,
vozes obscuras da natureza, terrível Absoluto e o Mistério impalpável que o esmaga.
Este drama resulta de um estado de insuficiência, com origem na natureza mística do
poeta, no desejo de união com o absoluto, que se torna insistente depois do
desmoronamento das suas primeiras crenças. “O canto do poeta será, durante muito
tempo, uma saudade do Céu, um gosto da Imortalidade.”
Poética de Antero:
O desdobramento entre o poeta e o Outro poderá inscrever-se numa latente
dramaticidade do poeta.
Esse desdobramento subjetivo pode ter uma exigência do próprio discurso alegórico.
Antero não utiliza a figura alegórica como instrumento formal: identifica-se com tal ao
projetar a sua personalidade no universo poético através do processo dramático.

Na sua poesia está patente uma dualidade entre dois perfis: um, o Antero
revolucionário, racional e idealista; o outro, um ser pessimista, noturno e romântico.
Esta dualidade resulta da angústia existencial do poeta, da sua busca por um ideal.
A questão Coimbrã simboliza o conflito entre dois romantismos: um, complexo,
idealista, utópico e historicista; outro, oficial, deito de tradição versificatória e
melancolia amorosa convencional.

Configurações do ideal:
Procura de uma finalidade para a existência humana: busca do ideal; ânsia de absoluto;
desejo de sonhar; libertação na noite; transcendência religiosa= realização plena e
perfeita; Luz rompe as trevas para alcançar o Bem.
Angústia existencial:
 Consciência da imperfeição humana: tristeza, pessimismo, desencanto, cansaço
 Vida terrena sem alegria: frustração, deceção, desistência
Isto tudo faz surgir:
Ausência de esperança; Triunfo da dor e do mal; Morte

Linguagem, estilo e estrutura


Soneto:
 Influência de Camões e Bocage;
 Estilo clássico: unidade de conteúdo; simplicidade na forma; coerência entre
quadras e tercetos; aspetos formais (estrofes, rimas, métrica).
Discurso conceptual:
 Poesia como complemento do pensamento filosófico.
 Materialização da palavra em conceito (muitas vezes maiusculada).
 Interrogação retórica;
 Complexidade e abstração de conceitos;
 Discurso dialogado com personagens alegóricas: Ideia, Razão, Noite, morte.
 Eixo horizontal (relação. Eu/Mundo) e vertical (relação. Eu/Deus).
Linguagem e estilo:
 Cenários fantasmagóricos de terror crepuscular ou noturno;
 Multiplicidade de personificações, ou mitificações, de maiúscula inicial;
 Elementos personificados que figuram como verdadeiras personagens: o (meu)
coração, a (minha) alma, o vento, as nuvens, o mar, a tristeza, a desilusão, etc.
 Emparelhamentos temáticos contrastivos: predomínio de vocabulário sugestivo
da polaridade claro-escuro ou da graduação entre o negro e o pardacento
(emparelhamento de nomes, com referência pelo termo negativo, matrizes
adjetivais a instalar um claro-escuro.
 Número reduzido de imagens sensoriais;
 Adjetivação de cunho classicizante: gélido, rudo, mesto, inteligente, inulto;
 Recursos expressivos: alegoria, personificação, apóstrofe; metáfora;
 Meios de magnificação retórica: diálogo, interrogações, reticências, interjeições,
superlativos alatinados, etc.
Recursos expressivos
A metáfora é usada para representar conceitos, fenómenos e situações que são centrais
no desenvolvimento do raciocínio do eu poético. Nas metáforas, o eu poético ganha um
olhar novo e revelador sobre uma ideia ou um conceito; “Estreita é do prazer na vida a
taça” (a taça do prazer); “O cálix amargoso da desgraça”.
A imagem é um recurso expressivo que consiste numa representação (natureza
metafórica) com apelo visual. Antero usa-a através de uma alegoria. Em “O palácio da
Ventura” a busca da felicidade é representada pela demanda de um cavaleiro ou como a
ação da morte e do amor na vida dos homens é figurada na imagem de um cavaleiro
negro que avança na noite escura em “Mors-amor”.
A personificação é usada para elementos físicos e para conceitos abstratos que surgem
como personagens: o meu coração, a minha alma, o vento, o sonho e a Justiça, a Razão,
o Amor e a Morte. O eu lírico dirige-se então a estas entidades questionando-as,
lamentando-se, exigindo explicações como se falasse com uma pessoa.
Acabam então por ocorrerem estes diálogos do eu poético com os elementos e conceitos
para desenvolver o seu raciocínio ou de expor o argumento. Recorremos ás apóstrofes

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