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Antero de

Quem foi:
Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental


É escrita de forma clássica e o soneto expressa uma só ideia desenvolvida em partes e resumida num final (último terceto).

Ao percorrer rapidamente os Sonetos, o panorama geral é a de uma incessante inquietação espiritual, a infinita procura de qualquer
coisa capaz de conceder um sentido ou uma finalidade à existência humana. Tal pode assumir o nome de Deus- um Deus que infunde
nos homens a aspiração de um ideal sempre mais alto.

O impulso dominante nos sonetos consiste na insatisfação perante um real sentido como demasiado frustrante ou limitado, projetando
o eu num ideal mais ou menos imaginário onde tudo se realizaria na sua perfeição e na sua plenitude. Em Antero caracteriza-se quer por
um irreprimível desejo de sonhar- “E deixa-me sonhar a vida inteira!” -, quer por uma componente quase alucinatória assumida por tais
sonhos, transformados em “visões” fantasmáticas de um universo interior onde não é possível encontrar paz e onde chega a vacilar a
própria noção da identidade individual.

Tendências presentes nos Sonetos de Antero:

A questão fundamental consiste na conhecida dualidade anteriana, entre um olhar otimista e positivo sobre o mundo e, no polo
oposto, a expressão da mais radical da negatividade ou descrença quanto ao mundo. É essa grande contradição que a crítica
tradicional tende a sublinhar, distinguindo:

⮚ “Apolínea” - tendência “luminosa”; temos presente um Antero racionalista, revolucionário utopista que quer
salvar a Humanidade, e por isso é crente na luta por um sociedade melhor, olhando a razão como “irmã do Amor
e da Justiça”; sonetos otimistas, banhados pela luz da Razão e correspondendo aos períodos de maior atividade
política e revolucionária de Antero; visível nos sonetos “Mais Luz”, “Hino à Razão”, “Justitia Mater”, “ A um poeta”;
⮚ “Dionisíaca” – tendência “noturna”; temos presente um Antero desiludido, descrente da luta, mais passivo,
noturno, doentio, mais propenso à reflexão filosófica e à crise, neurótico que se entrega ao sofrimento- “Eu bem
bendirei esta tristeza”; pessimismo, desencanto, angústia, dor, morbidez, frustração, cansaço; visível nos sonetos
“O Palácio da Ventura”, “Mãe”, “Tormento do Ideal”.

Tópicos de análise em sonetos completos:

⮚ Angústia existencial:
● desejo de alcançar um Bem Maior, um mundo perfeito e a frustração de não conseguir;
● luta interior entre Sentimento x Pensamento;
● complexidade interior: luta entre a extrema Imaginação que o leva a criar ilusões, e a Razão;
Antero de
Quem foi:
Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental


● por não haver um equilíbrio entre estas dicotomias, o seu Ser é arrasado pelo pessimismo;
● a angústia transforma-se em estoicismo (opção por sofrer por não ter outra alternativa);
● Antero não deixa de ser poeta nem filosofo, por isso é constantemente crítico de tudo e de si mesmo e daqui se
compreende a sua angústia existencial, o seu viver desequilibrado.
⮚ Configurações do Ideal:
● O Ideal é algo Perfeito, Absoluto, Eterno, é o seu «Palácio da Ventura», o Inatingível ( daí a frustração/ angustia
existencial);
● Tipos de formas do Ideal: a Beleza, o Bem, o Nada supremo, a Liberdade, o Amor total e absoluto (sem dor nem
materialismo), Consciência, a Sabedoria, a Paz.
⮚ Linguagem, estilo e estrutura:
● sonetos como composição clássica;
● vocabulário erudito e ao serviço da verbalização de ideias, conceitos, pensamentos e essência do sentir;
● recursos expressivos: apóstrofes (para presentificar reais ou ideais), metáforas (associações filosofas e poéticas),
personificações ( que ajudam à visão de entidades abstratas como potencialmente identificáveis com seres humanos).
Antero de
Quem foi:
Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental


A um poeta
Surge et ambula

Tu, que dormes, espírito sereno,


Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,


Afugentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno…

Escuta! é a grande voz das multidões!


São teus irmãos, que se erguem! são canções…
Mas de guerra… e são vozes de rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,


E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

Análise:
⮚ Características clássicas.

Analise formal do poema:


⮚ Apresenta duas quadras e dois tercetos;
⮚ Versos decassilábicos;
⮚ Rima interpolada e emparelhada nas quadras e tercetos;
Antero de
Quem foi:
Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental


⮚ Soneto.

Perguntas:

1. O sujeito poético dirige-se a um “tu” que se pode assumir como o “poeta” a quem o título sugere uma
interpelação.
1.1 Na primeira estrofe, o destinatário das palavras do sujeito poético é caracterizado como um “espírito sereno”
(v. 1) que repousa, acomodado, “Longe da luta e do fragor terreno” (v. 4). Nas estrofes seguintes, é incentivado
a, gradualmente, mudar de atitude (“Acorda”, “Escuta”, “Ergue-te”) e a envolver-se na construção de um
“mundo novo” (v. 8).

2. O último terceto concretiza o apelo direto à ação. O sujeito poético apelida o “tu” a que se dirige de “soldado do
Futuro” (v. 12), incitando a necessidade de mudar (“Acorda”, “Escuta”), tornar-se ativo e intervir na concretização
do “sonho puro” (v. 13). O vocabulário do campo lexical de guerra (“sol-dado”, “espada de combate”) contribui
para vincar essa ideia.
3. A poesia deve ser entendida como uma forma de intervenção, potenciadora de mudança na sociedade. Assim, o
“eu” lírico dirige-se ao poeta para chamar a atenção para o seu papel, usando, para o efeito, o vocativo (“Tu”, v. 1,
“soldado do Futuro”, v. 12) e o imperativo (“Acorda!”, v. 5, “Escuta!”, v. 9, “Ergue-te”, v. 12).
4. a) Comparação- V. 3. Realça a atitude de passividade do poeta;
b) Metáfora-V. 6. Destaca a negatividade do tempo que termina;
c) Apóstrofe- Vv. 1, 12 e 14. Identifica o destinatário das palavras do poeta, conferindo um tom coloquial ao poema
e vincando o seu carácter apelativo.

Hino à Razão

Razão, irmã do Amor e da Justiça,


Mais uma vez escuta a minha prece,
É a voz dum coração que te apetece,
Antero de
Quem foi:
Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental


Duma alma livre, só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça


De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações


Buscam a liberdade, entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti, podem sofrer e não se abatem,


Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!

Análise:
⮚ paradoxo- a razão acaba por nos aprisionar; ele quer ser livre, mas para isso precisa de lutar, de pensar,
estando presos à racionalidade;
⮚ soneto;
⮚ características clássicas;

Perguntas:

1. Através do soneto e de um discurso marcadamente conceptual, o sujeito poético transforma a ideia abstrata (elogio da
Razão) numa imagem concreta (através da personificação e da apóstrofe), que se desenvolve segundo a organização
típica do soneto, desde a apresentação na primeira quadra até à chave de ouro do último terceto.
2. Recurso à personificação ao longo do poema: À Razão são atribuídos traços específicos dos seres humanos (v. 2), o que
contribui para a aproximar do sujeito poético, que faz dela sua interlocutora, num tom de cumplicidade.
Antero de
Quem foi:
Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental


3. Caracterização da “Razão” segundo o sujeito poético: A Razão é “irmã do Amor e da Justiça” (v. 1), cria harmonia (vv.
5-6), garante a moral e o “heroísmo” dos homens (vv. 7-8) e motiva a procura da liberdade (vv. 9-10) e a resiliência (vv.
12-14).
4. Recurso expressivo do verso 4: 4. O sujeito poético declara-se livre, mas assume, através do paradoxo, a submissão à
Razão, que deve orientar os Homens.

Gramática:

Com o recurso a “do Amor e da Justiça”, no verso 1, o enunciador insere um complemento do nome.
Com o uso do grupo preposicional “a ti”, no verso 4, o enunciador introduz um complemento direto.
Com a utilização do adjetivo “movediça”, no verso 5, o enunciador insere um modificador restritivo do nome.
Com a integração de “a liberdade”, no verso 10, o enunciador introduz um complemento direto.
Com a introdução do constituinte “Mãe de filhos robustos”, no verso 13, o enunciador introduz um vocativo.

Modificador (do grupo verbal): “Mais uma vez” (v. 2), “na arena trágica” (v. 9), “entre clarões” (v. 10).
Sujeito: “as nações” (v. 9).

Coesão frásica: “filhos robustos, que combatem” – concordância entre nome, adjetivo e verbo;
Coesão referencial: uso de “ti” e “teu” (referentes a “Razão”) e de “que” e “seus” (referentes a “filhos robustos”).
Antero de
Quem foi:
Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental

Tormento do ideal

Conheci a Beleza que não morre


E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;


Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perde a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,


Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o batismo dos poetas,


E, assentado entre as formas incompletas,
Para sempre fiquei pálido e triste.

Análise:
⮚ Decassilábico: 10 silabas métricas;
⮚ 1º/2º estrofe- rima interpolada;
⮚ 3ª/4ª estrofe- rima emparelhada.
Antero de
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Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental


O que o poeta conheceu é diferente do que ele viu:

⮚ o que conheceu- “a Beleza”


● característica apresentada na estrofe 1ª- “não morre” (v1);
● expressão sinónima usada na 3ª estrofe- “a ideia pura” (v. 9);
● “Recebi o batismo dos poetas” (v.12);
⮚ o que viu- “o mundo e o que ele encerra”
● elementos constitutivos referidos nas 3ª e 4ª estrofes: “sombras” (v. 10); “matéria dura” (v. 10);
“imperfeição” (v. 11); “formas incompletas” (v. 13);

Consequência para o “eu”:

⮚ alteração da sua visão do mundo- vv. 6-8;


⮚ transformação do seu estado de espírito- vv. 2 e 14.

O “tormento” do “eu” decorre da sua busca pelo “ideal”, que anteviu, e do seu confronto com o mundo real imperfeito.

Comparação patente nas 2 quadras:


⮚ Palavras que introduzem a comparação: “Como” (v. 2) e “Assim” (v. 6).
⮚ Termos da comparação: “quem da serra / Mais alta que haja, olhando aos pés a terra / E o mar, vê tudo” (vv. 2-4) e
“eu” (v. 6).
⮚ Valor expressivo da comparação: intensificar o desencanto do sujeito poético, que, à semelhança de alguém que,
colocando-se num plano superior, entrevê as realidades de forma diminuída, por ter subido demais nas suas
aspirações, se desilude com o mundo real, passando a vê-lo sem “cor” e marcado pela “imperfeição”.

O palácio da ventura

Sonho que sou cavaleiro andante.


Por desertos, por sóis, por noite escura,
Antero de
Quem foi:
Antero de Quental foi um poeta-filosofo/ filósofo-poeta, celebrado como mentor espiritual e personagem emblemática da Geração de
70.

As 5 décadas da sua existência situam-no num período literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola
realista, sendo habitual identifica-lo como o grupo que, a partir das Conferências de Casino, se tornou conhecido como “Geração de 70”.

Antero inscreve-se numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica.

Poesia anteriana Quental


Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,


Quebrada e espada já, rota a armadura…
E eis que súbito o aviso, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:


Eu sou o Vagabundo, o Deserdado
Abrir-vos, portas d’ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d’ouro, com fragor…


Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silencio e escuridão- e nada mais!

Análise:

1ª quadra e 1º terceto- encanto;


2º quadra- cansaço;
2º terceto- desilusão;

Caracterização da personagem: é nos descrita no início como alguém sonhador e mais tarde como alguém cansado, de
seguida mostra-se otimista e no final do poema aparece-nos descrito como alguém desiludido.

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