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ANTERO DE

QUENTAL
•11º ano - Português (EP)
•Módulo 6
•Professor: Jorge Santos
1. Contextualização histórico-
literária
Contextualização

Formação e ação da Período de viragem estética e Crítica ao pensamento de tacanhez


chamada Geração de 70 modernizadora nacionalista e exaltação do grande
espírito filosófico do tempo

Questão Coimbrã (1865)


Conferências do Casino
(1871)
Antero de Quental

Nasce em Ponta Delgada (Açores), no dia 18 de abril.

Deixa os Açores aos treze anos para estudar em Lisboa e depois em


Coimbra, onde cursa Direito.

Participa ativamente nas manifestações estudantis da época e lidera


vários protestos contra as autoridades académicas.

A par de intensa atividade jornalística, panfletária, poética e crítica,


conspira a favor da União Ibérica.
Antero de Quental

Vive em Paris, entre 1866 e 1867, trabalhando como tipógrafo.

Intervém diretamente em dois momentos culturais determinantes: Questão


Coimbrã (1865) e Conferências do Casino (1871).

Funda e dirige A República (1870), O Pensamento Social (1872) e a


Revista Ocidental (1875).

Data de 1872 a compilação das primeiras produções poéticas, sugestivamente designadas de


Primaveras Românticas, Versos dos vinte anos (1861-1864).
Antero de Quental

Em 1874, reconhece sofrer de uma doença nervosa da qual nunca consegue


restabelecer-se completamente.

A morte de um amigo, Germano Meireles, em dezembro de 1877, deixa órfãs duas


filhas que Antero viria a adotar.

Em 1878 e 1879, é candidato a deputado por Lisboa, pelo Partido dos


Operários Socialistas de Portugal.

Entre 1881 e 1891, vive «a década dourada de Vila do Conde», um período


de intensa reflexão e organização do seu pensamento filosófico.
Antero de Quental

Publica Sonetos, em 1886.

Em janeiro de 1890, o Ultimato Inglês leva-o a aceitar a presidência da Liga


Patriótica do Norte. Demite-se ao fim de escassos meses.

Regressa aos Açores em junho do ano seguinte e suicida-se em setembro.


V

V
F
Lutou contra esses princípios.
V
V

F
Detetou-se na sua poesia e na sua vida uma dimensão angustiante.
F
Foi substituído por um princípio imanente.
V
V
V
V
2. Poesia anteriana
A angústia existencial
A configuração do Ideal
Sonetos completos

Publicada pela primeira vez em 1886, a obra integra sonetos dispersos, anteriormente
publicados em jornais e revistas e noutras obras do autor, assim como alguns inéditos.

Apelidados pelo autor de «memórias da minha consciência», em pouco tempo


foram traduzidos para várias línguas, entre elas o alemão.
A angústia existencial

Antero deseja incessantemente encontrar um equilíbrio e ordem no mundo.

Almeja a edificação de um mundo equitativo e luta pela defesa de valores e princípios


éticos e morais.

É a falta de concretização dessa sociedade justa e reta, que Antero poeta e homem idealiza,
que o conduz à frustração, ao desespero e ao sofrimento.
Marcas da poesia de Antero de Quental

Angústia existencial

Conflito: Razão / Sentimento.


Descrença no Deus transcendente do Cristianismo: a religião é imanente ao Homem e
à história humana.
Preocupação com ideais de Liberdade, Bem, Verdade e Justiça, o que salienta o caráter
filosófico da sua poesia.
Problemática da Ideia / Absoluto.
Configurações do Ideal

A Razão orienta os ideais que permitem ao Homem ascender a um mundo


melhor, superior e ideal, conduzindo à plenitude do ser.

O sujeito poético procura um sentido para a existência humana.

As configurações do Ideal na poética anteriana traduzem-se na perfeição e na


plenitude de realizações (imaginárias ou reais) do eu poético.
V
F

V
V
V

b. F - A busca constante de um sentido para a vida é uma das suas preocupações


fundamentais.
Análise textual
O palácio da Ventura
Despondency
Lacrimae rerum
• Assunto: busca de uma felicidade (palácio
encantado) e o encontro da desilusão.

O palácio • Antero é neste poema um cavaleiro andante do

da Ventura
Amor, vagabundo e deserdado que, após longa e
trabalhosa vida ou viagem, consegue chegar ao
portal do santuário desejado mas onde, quando as
portas finalmente se abrem, só vê a escuridão e o
silêncio...
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Entusiasmo
paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante, Desânimo


Quebrada a espada já, rota a armadura…
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:


Renovação
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado…
da esperança
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d’ouro, com fragor…


Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão — e nada mais! Desilusão
Versos 1-4 ENTUSIAS
Plano onírico / idealização MO

Sonho que sou um cavaleiro andante.


Por desertos, por sóis, por noite escura,
paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Cavaleiro:
Enumeração
dos obstáculos •Representa o triunfo
que o cavaleiro militar ou espiritual
enfrenta
•Serve geralmente
uma causa superior

Procura o bem maior:


«Ventura»

Felicidade Georges Frederick Watts, Galaaz (1888).
Versos 5-6 DESÂNI
MO
Mas: conector com valor de contraste

Ideal ≠ Real

Mas já desmaio, exausto e vacilante,


Quebrada a espada já, rota a armadura…

Metáforas
do desânimo:
a busca Reticências:
não tem desalento,
resultados prostração,
desencorajamento

Joseph Paton, Galaaz (fim do século XIX).


Versos 7-12 RENOVAÇÃO DA
ESPERANÇA
Palácio da Ventura: Felicidade

E eis que súbito o avisto, fulgurante


Na sua pompa e aérea formosura!
Exclamação:
Com grandes golpes bato à porta e brado: alegria, esperança
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado… renovada, desejo
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d’ouro, com fragor… Reticências:


expectativa

o Vagabundo, o Deserdado:
símbolos da errância,
da perda e do sofrimento

Imperativo:
súplica/desejo
Versos 13-14 DESILUS
ÃO
Mas: conector com valor de contraste
Advérbio
que enfatiza
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
a desilusão
Silêncio e escuridão — e nada mais! 
portas d’ouro

Silêncio
e escuridão
Interior: ≠ Exterior:
silêncio fulgor,
e escuridão pompa
e formusura
Percurso do cavaleiro até ao «palácio da Ventura»:

Esperança Desilusão

Alegoria da Vida

Perspetiva pessimista
V
V

F
V
V

F. c. Confere-lhes um valor negativo, à exceção de “Ventura”, que significa “felicidade”.

F. d. Traduz a coragem e a renovada esperança do sujeito lírico.


Sonho; fulgurante; pompa; formosura; encantado
Despondency (desânimo)
• É um poema que apresenta um forte sentimento de tristeza e de abandono
como indica o próprio título.

• O seu ritmo musical sugerido pela pontuação (reticências e exclamação) e pela


repetição anafórica (deixá-la ir) exprime a fragilidade da vida e o consequente
estado de abandono de quem a sente.

• Ao longo do soneto o poeta apresenta os vários elementos que estão


inevitavelmente condenados à morte:
- não só a ave, mas também a vela, a alma, a nota, a esperança, a vida e o amor.
Deixá-la ir Deixá-la ir Deixá-la ir Deixá-la ir Repetição
anafórica

Reforça a
A alma A nota ideia de
A ave A vela
lastimosa desprendida abandono

É a metáfora da Simboliza a
Representa a Simboliza a perda
liberdade morte, depois da
fragilidade da esperança.
e representa a alma perda da fé
do poeta

Deixá-la ir

- A vida não tem sentido


- A morte é a única forma para
a libertação do sofrimento
a vida
a repetição anafórica

“deixá-la ir”

reticências exclamação

1. “ave”, “vela”, “alma lastimosa”, “nota desprendida” (canto),“esperança”, “vida” e “amor”.

2. “ave” é a metáfora de “liberdade” e estabelece-se uma equivalência semântica com “alma”.

3. Angústia existencial, sentimento de desalento, sensação de vazio, pessimismo, mágoa, abandono


face à vida, à existência.
apóstrofe
personificação
- o sujeito poético debate-se com uma profunda angústia existencial,
procurando a noite como confidente.
- Através da apóstrofe, dirige-se diretamente à «Noite» e questiona
este símbolo personificado da própria morte para tentar
encontrar respostas aos seus anseios e dúvidas.

o sujeito poético, recorrendo às interrogações retóricas,


questiona a realidade, a ânsia de absoluto, a procura
de conhecimento (inquietação metafísica)

A noite passa de confidente a símbolo da morte (“sinistra”)

- O sujeito poético chega à conclusão que, perante a incapacidade de


desvendar o mistério da humanidade, só lhe resta a morte.

Metáfora = morte
Temática
• O poema «Lacrimae Rerum» é um dos sonetos mais pessimistas de
Antero de Quental e tem como tema a angústia existencial.
1ª estrofe

• No início do soneto o sujeito poético debate-se com um profundo


e doloroso conflito emocional e existencial, ciente da sua tristeza
e angústia, procurando a noite como confidente.

• Através da apóstrofe, o sujeito lírico dirige-se diretamente à «Noite» e


questiona este símbolo personificado da própria morte para tentar
encontrar respostas aos seus anseios e dúvidas.
2ª estrofe
• Na segunda quadra, o sujeito poético, recorrendo às interrogações
retóricas, mostra que o questionamento da realidade, a ânsia de
absoluto, a procura de conhecimento é a busca de todo o ser
humano, e não só uma inquietação dele.
3ª estrofe
• Na terceira estrofe, a conjunção coordenativa adversativa («Mas»)
marca uma relação de contraste em relação ao discurso anterior, já que
a noite passa não só a ser uma entidade alheia ao sofrimento do «eu»
lírico, mas também a simbolizar a morte («sinistra»).
4ª estrofe
• O último terceto, termina em «chave de ouro», concluindo-se o tema
do soneto.

• O sujeito poético chega à conclusão que, perante a incapacidade do


homem para desvendar o mistério, só lhe resta o mundo das
aparências, que a sua curiosidade tenta desvendar.
C

F
D

B
E
Morte, funeral, luto

Razão, oráculo, confidente


Síntese da poesia anteriana
- Características dos sonetos
- Linguagem e estilo
Características da poesia de Antero
POEMAS TEMÁTICAS

Busca do Ideal:
O palácio da Ventura - Alegria / bem-estar
Angústia existencial:
- Tristeza / angústia
O sentido da vida:
Despondency - Consciência da sua inutilidade
- Pessimismo, desalento, vazio

Ânsia de absoluto:
Lacrimae rerum - Angústia e inquietação metafísica
- Noite: personificação (confidente)
Linguagem e estilo
• Soneto
• Versos decassilábicos
• Uso de conceitos filosóficos
• Uso da metáfora, personificação e apóstrofe
• Ritmo e musicalidade
• Expressividade da pontuação (exclamações, interrogações, reticências)
F Dedicou-se também à política e à filosofia.
V
V

F São valores defendidos por Antero.


V

F
São preocupações manifestadas na sua obra.
V

V
X

X
X

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