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Análise do soneto "O palácio da Ventura"

            Antero que Quental foi um verdadeiro apóstolo social, solidário e defensor da


justiça, da fraternidade e da liberdade. Mas as preocupações nunca o deixaram desde
que entrou nos meios universitários de Coimbra e se tornou líder da Geração de 70
que, em Lisboa, continuou a sua luta.

            As dúvidas e a verificação de que o seu apostolado não estava a conseguir os


objetivos que desejava, aliado ao agravamento da sua doença, conduziram Antero de
Quental a sentir-se dececionado, mergulhando num estado de pessimismo. Quem se
empenha como ele, de forma apaixonada, numa campanha para alerta mentalidades e
não sente a promoção do espírito da sociedade moderna, fica frustrado.

O PALÁCIO DA VENTURA

Sonho que sou um cavaleiro andante,


Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante


Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:


Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro com fragor...


Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

            Neste poema, os momentos de dúvida e de incerteza, ou melhor, de


esperança e de desesperança, estão bem demarcados.

            “O Palácio da Ventura”, título metafórico, é uma súmula do pensamento


anteriano que tem subjacentes duas facetas bem demarcadas:
 uma combativa, de origem intelectual, ou seja, as suas aspirações enquanto
pensador;
 outra negativa, de origem emocional e temperamental.

            Na verdade, este poema (assim como toda a sua obra) deixa transparecer uma
nítida dicotomia que consiste na oposição constante entre luz e sombra, sonho e
realidade, esperança e desilusão, reflexo do próprio carácter do poeta e que constitui,
per si, o drama do homem e do pensador.

. Assunto: a busca da felicidade (palácio encantado”) e o encontro da desilusão.


. Tema: a oposição sonho / realidade desilusão pessimismo.
. Estrutura interna   –   tragédia em 4 atos
HIPÓTESE  A
 . 1.º momento (1.ª quadra) ® O entusiasmo do primeiro arranco, em busca da
felicidade (o palácio encantado da Ventura).
 . 2.º momento (vv. 5-6) ® O desalento, o cansaço e a desilusão provocados
pelo insucesso da procura. A conjunção coordenativa adversativa “mas” cria a
oposição entre os dois momentos.
 . 3.º momento (vv. 7-12) ® O renascimento da esperança: a ilusão
momentânea, a nova esperança e o grito de ansiedade. A expressão “E eis”,
com valor adversativo, permite o retomar da ilusão e da busca iniciais.
 . 4.º momento (vv. 13-14) ® A dor e a deceção finais (de certa forma já
antecipadas no 2.º momento): “Mas dentro encontro só, cheio de dor. Silêncio
e escuridão  -  e nada mais!” abismo entre a realidade e a
idealidade  ®  pessimismo (estado de espírito do sujeito) A adversativa “mas”
confirma o segundo momento, ou seja, o da desilusão.

O poema “Palácio da Ventura”  escrito por Antero de Quental, pode ser


classificado como um   soneto italiano,  decassílabos, constituído por duas
quadras e 2 tercetos e tem 14 versos. O Esquema cromático do poema é  ABAB,
ABAB, CCD, EED. Composto por rimas cruzadas nas primeiras duas estrofes, e
emparelhadas e interpoladas nas últimas duas estrofes.

O poema revela ter um tom de desapontamento. O sujeito poético, revela uma


alegoria pessimista, pois no fundo ele narra o poema explicando as suas
decepções e desilusões durante na vida, metaforicamente. O poema é sobre um
cavaleiro que cavalga desesperadamente para o “palácio do amor” em busca de
uma coisa deslumbrante que não se sabe bem o que, mas é algo que ele tanto
sonhou e imaginou. Mas por fim decepciona-se com o resultado final ao
encontrar o palácio, pois quando o abre é algo vazio. No primeiro momento o
sujeito poético aparenta ter um momento de entusiasmo na primeira quadra,
explicando a sua imaginação e vontades. O segundo momento de desânimo,
inicia com o “mas”, contando com o onírico do primeiro verso.  Neste momento
ele revela a sua triste realidade, nos primeiros dois versos da segunda estrofe. O
terceiro momento revela um tom de renovação da esperança, do sétimo ao
décimo segundo versos, ele encontra o palácio, cheio de esperança. Últimos
dois versos no final, demonstrando a desilusão e pessimismo. O poeta
comunica a sua mensagem através do uso de figuras de estilo e recursos
estilísticos, como Imperativo, hipérbato, dupla adjetivação e entre outros.

1. Nível fónico

 . Soneto: duas quadras e dois tercetos.

 . Métrica: versos decassílabos heróicos.

 . Rima: - ABAB / ABAB / CCD / EED;


- cruzada nas quadras e emparelhada e interpola nos tercetos;
- consoante (“andante” / “anelante”);
- grave (“andante” / “anelante”) e aguda (“fragor” / “dor”);
- pobre (“andante” / “anelante”) e rica (“Escura” / “Ventura”.
 . Aliterações em t, p, l ...
 . Transporte: vv. 3-4, 7-8, 13-14.
 . Ritmo binário.
 . Musicalidade: reforço do sentido através do jogo rítmico (binário) e sonoro
(aliteração) que enfatiza o apelo, a ânsia de felicidade do sujeito lírico,
nomeadamente nos versos 2, 6 e 9.
            Podemos ver neste poema a história de tantas tentativas fracassadas, em
virtude da distância que medeia entre o sonho e a realidade.
            Por outro lado, também é possível ver neste poema o próprio Antero de
Quental, utópico, revolucionário, cheio de força, erguendo a espada da
Liberdade, do Amor e da Justiça, mas incompreendido, recusado. Ou ainda a
alegoria de tantos jovens sonhadores e incompreendidos.

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