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TAREFA 4

TEMAS

Ações morais e inclinações.


Liberdade e autonomia.

CONCEITOS CHAVE

Inclinações / Moralidade
Liberdade / Autonomia
Iluminismo

Questões

1. Faça o inventário das coisas que, segundo Kant, são boas, mas com
limitação porque podem originar ações erradas.

Os talentos do espírito (discernimento, argúcia de espírito, capacidade de


julgar)

As qualidades do temperamento (coragem, decisão, constância de propósito)

Dons da sorte (poder, riqueza, saúde, felicidade)

Por que razão não são bons sem limitação. Porque, por exemplo, se um
assassino os possuir isso ainda o torna mais perigoso. Consideramos mesmo
mais detestável o criminoso que os possui. A própria felicidade para ser
reconhecida como boa tem que ser merecida. Consideramos detestável a
felicidade daqueles que a conseguiram à custa dos outros.

2. O que entendeu por boa vontade?

A vontade que é levada a agir apenas em obediência à lei moral sem pensar
nas consequências (como a riqueza, a honra, o prazer, a felicidade …)

Por exemplo: se ajudar uma velhinha a atravessar a rua porque há muita gente
a ver e vou ficar bem visto, a minha ação não foi determinada pela boa vontade
mas pela honra; se ajudar a velhinha porque sou uma pessoa boa e fico
contente em ajudar, a minha ação também não foi determinada pela boa
vontade mas pelo prazer; se ajudar a velhinha simplesmente porque é o meu
dever, aí sim, é a boa vontade que determina a ação porque a minha vontade
nada mais pesou que a lei moral – “deves ajudar quem necessita se o puderes
fazer”.
Ler no Manual 2.6 pp.113-114

1. Moralidade e temperamento

Quando dizemos “Aquela pessoa é boa” o que queremos dizer?

a) Que ela tem uma natureza bondosa e que é de esperar que as suas
ações estejam de acordo com a lei moral?
Ou, simplesmente,
b) Que as suas ações estão de acordo com a lei moral?

Em a) estamos a avaliar a pessoa pelo seu temperamento, não


necessariamente pelas suas ações. Mas o temperamento não resultou de uma
livre escolha e não tem, portanto valor moral.

Assim, um temperamento bondoso não tem mais valor moral que um


temperamento maldoso. Referem-se ambos à forma como a natureza nos fez –
como obtemos prazer. Kant chama-lhes “inclinações”.

Não há, à partida, motivos para elogiar desmedidamente as inclinações


bondosas, da mesma forma que é errado diabolizarmos as inclinações
maldosas. Nascemos assim!

REPAREM que em Kant o que importa não é o que se é naturalmente, mas o


que fazemos. Da mesma forma que um temperamento bondoso pode
ocasionalmente ceder à maldade, um temperamento maldoso não nos condena
a agir contra o nosso dever. Porquê, porque como seres racionais somos livres
e podemos contrariar as nossas inclinações.

Na fundamentação da Metafísica dos Costumes Kant questiona o tipo de


personalidade que facilita a tarefa da boa vontade. A questão é esta:

“Se eu pudesse escolher para mim um temperamento que facilitasse a


tarefa de agir sempre em obediência à lei moral, sem olhar às
consequências que temperamento escolheria?”

PENSE NISSO. COMO ESCOLHERIA SER?

A resposta de Kant está no texto que se apresenta a seguir e que devem ler
com atenção.
Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há além disso
muitas almas de disposição tão compassiva que, mesmo sem
nenhum outro motivo de vaidade ou interesse, acham íntimo
prazer em espalhar alegria à sua volta e podem alegrar com o
contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo
porém que neste caso uma tal ação, por conforme ao dever, por
amável que ela seja, não tem contudo nenhum verdadeiro valor
moral, mas vai emparelhar com outras inclinações, por exemplo
o amor das honras que, quando por feliz acaso topa aquilo que
efetivamente é de interesse geral e conforme ao dever, é
consequentemente honroso e merece louvor e estímulo, mas
não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que
manda que tais ações se pratiquem, não por inclinação, mas por
dever. Admitindo pois que o ânimo desse filantropo estivesse
velado pelo desgosto pessoal que apaga toda compaixão pela
sorte alheia, e que ele continuasse a ter a possibilidade de fazer
bem aos desgraçados, mas que a desgraça alheia o não tocava
porque estava bastante ocupado com a sua própria; se agora,
que nenhuma inclinação o estimula já, ele se arrancasse a esta
mortal insensibilidade e praticasse a ação sem qualquer
inclinação, simplesmente por dever, só então é que ela teria o
seu autêntico valor moral. Mais ainda: - Se a natureza tivesse
posto no coração deste ou daquele homem pouca simpatia, se
ele (homem honrado de resto) fosse por temperamento frio e
indiferente às dores dos outros por ser ele mesmo dotado
especialmente de paciência e capacidade de resistência às suas
próprias dores e por isso pressupusesse e exigisse as mesmas
qualidades dos outros; se a natureza não tivesse feito de um tal
homem (que em boa verdade não seria o seu pior produto)
propriamente um filantropo, - não poderia ele encontrar

ainda dentro de si um manancial que lhe pudesse dar um valor


muito mais elevado do que o dum temperamento bondoso? Sem
dúvida! \u2013 e exatamente aí é que começa o valor do caráter,
que é moralmente sem qualquer comparação o mais alto, e que
consiste em fazer o bem, não por inclinação, mas por dever.

KANT, F.M.C., pp 22-23

Então Kant pensa que deveria escolher ser uma pessoa naturalmente bondosa
(um filantropo)?

Se não, como deveria escolher ser?

2. Liberdade e Autonomia

Na base da ética kantiana está, obviamente, a convicção de que existe


liberdade.

A liberdade não é uma certeza, algo que se sabe que existe, mas uma crença
sem a qual não podemos conceber a moralidade.
Consciente disto, Kant coloca a questão, o que é ser livre?

Ser livre não é viver sem lei. Ser livre é viver em obediência à lei. Mas não a
qualquer lei. Somente à lei que cada um cria para si próprio. Kant afirma que
liberdade nada mais é que AUTONOMIA (propriedade de um ser racional que
cria para si próprio a lei (legislador) e a ela se submete (súbdito)). Não somos
livres quando somo apenas súbditos, quando a lei que nos determina não tem
origem em nós (seres racinais).

Aliás Kant considera que o Iluminismo é a consciência de que podemos ser


autónomos. É o tempo da razão por oposição à ordem divina, à tradição
religiosa. Descontando as condições sociais e políticas que permitem esta
autonomia, a liberdade torna-se uma questão pessoal. É o que Kant afirma
num célebre artigo.

“Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que


ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se
servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal
menoridade é por culpa própria, se a sua causa não residir na
carência de entendimento, mas na falta de decisão e de
coragem em se servir de si mesmo, sem a guia de outrem.
Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio
entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo.
A preguiça e a cobardia são as causas de os homens em tão grande parte, após a
natureza os ter há muito libertado do controlo alheio, continuarem, todavia, de bom
grado menores durante toda a vida; e também de a outros se tornar tão fácil assumir-
se como seus tutores. É tão cómodo ser menor.”

KANT, Resposta à questão “o que é o Iluminismo?

Portanto a liberdade constrói-se, não é um dado adquirido.


Não nascemos autónomos, tornamo-nos autónomos. Mas este
processo tem um custo, temos que romper com aquilo que nos
determina, incluindo a propensão natural (inclinação) para o
prazer e o egoísmo.

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