Você está na página 1de 4

Apontamentos de Filosofia nº6

Problema da Fundamentação da Moral


PROBLEMA: Qual é o fundamento da moral?
1. Qual é o bem último? Ou seja, que coisa valorizamos por si mesma?
2. O que faz uma ação ser correta?

Teoria Deontológica de Kant


Deontologismo: não faz a avaliação moral depender exclusivamente das consequências, há
coisas que não se pode intencionalmente fazer, mesmo que tenham melhores consequências.

Qual é o bem último? Vontade Boa Uma vontade só é boa se for


Qual é o critério da ação correta? Imperativo Categórico guiada por princípios racionais,
imparciais e objetivos.
Vontade Boa
- é algo que tem valor intrínseco
- é a única coisa tem valor incondicional

Racionalidade: princípios universais, objetivos,


imparciais Vontade
Boa
Homem Vontade

Animalidade: instintos, desejos, medos, princípios


subjetivos, pessoais, inclinação

Ações

Contrárias ao dever De acordo com o dever


ações que desrespeitam o Conforme ao dever Por dever
que é moralmente devido
ações embora estejam de acordo ações que cumprem o dever por
ex.: roubar, matar,…
com aquilo que devemos fazer, não puro e simples respeito pelo dever,
Ilegalidade/Imoralidade são motivadas pelo sentido do dever, apenas para cumprir a obrigação
mas sim por interesses ou inclinações moral
ex.: ajudar por compaixão ex.: ajudar apenas para
cumprir a obrigação moral
Legalidade
Moralidade

Imperativos são ordens


Imperativo Hipotético Imperativo Categórico
- relativos e condicionais - absolutos e incondicionais
- só se aplicam na condição de se ter - dá-nos uma obrigação moral incondicional,
determinados desejos ou inclinações não dependendo dos nossos desejos e
ex.: não copies se tens medo de ser apanhado necessidades particulares

Não têm valor moral ex.: Ajuda sempre os teus amigos.


Têm valor moral
Para Kant, os imperativos categóricos são os nossos deveres absolutos e só eles podem ter
validade universal, porque podem ser aplicados por toda a gente em todas as situações.

Formulações do Imperativo Categórico


Kant formula o imperativo categórico de várias formas para determinar os nossos deveres:

- Fórmula da Lei Universal


- devemos agir apenas de acordo com regras (máximas) que podemos querer que toda a
gente adote em todas as circunstâncias;
- não consiste em ver se teriam boas ou más consequências;
- assim devemos testar as nossas máximas para assegurar a moralidade das nossas ações.

- Fórmula da Humanidade ou do Fim em Si


- é sempre errado instrumentalizar as pessoas, ou seja, usá-las ou manipulá-las como meios
para atingir os nossos fins;
- não é errado tratar pessoas como meios, mas sim simplesmente como meios;
- as pessoas têm valor intrínseco, dignidade e devemos respeitá-las;
- assim devemos testar as nossas máximas para assegurar a moralidade das nossas ações.

Heteronomia vs Autonomia
Heteronomia Autonomia
Lei que os outros nos fazem cumprir. Lei que se dá a si mesmo.

Para Kant, o Imperativo Categórico não é uma ordem externa que tenhamos de cumprir
(heteronomia).

Pelo contrário, o Imperativo Categórico é uma lei que a boa vontade dá a si mesma
(autonomia).

Assim, ao seguirmos o Imperativo Categórico temos autonomia da vontade.

A possibilidade de sermos livres dependerá do modo como usamos a nossa vontade e só uma
boa vontade nos tornará seres livres.

Objeções à ética de Kant


- Natureza do Imperativo Categórico e as suas limitações
O Imperativo Categórico implica que temos deveres perfeitos com caráter absoluto. Assim,
por exemplo, nunca podemos mentir. Mas será isto plausível? Nesta situação, a mentira
parece ser moralmente correta. Logo, a ideia de haver deveres absolutos parece
implausível.

- Conflito de Deveres
O facto de termos deveres perfeitos levanta um problema: e se estes entrarem em conflito.
Numa situação em que alguém ou tem de mentir ou de matar, faça o que fizer, agirá de
forma errada. Logo, é insustentável defender as regras morais são absolutas.
- Além das Pessoas
Para Kant, quem exige respeito são as pessoas, concebidas como agentes autónomos,
racionais e morais. Mas muitos seres humanos não são pessoas, ou seja, seguindo a ética
kantiana esses podem ser usados simplesmente como meios. Esta ideia é absurda, pois seria
muito errado tratá-los como simples meios.

- Despreza o papel das emoções


Para Kant, para sermos morais temos de nos abstrair de todas as nossas inclinações e seguir
um imperativo ditado pela razão. Isto é muitíssimo difícil, até pode ser impossível, e parece
esvaziar a moralidade de algumas emoções que lhe são associadas, como a compaixão. Então,
parece inegável que os nossos sentimentos, desejos e emoções também têm um papel a
desempenhar no domínio da moralidade.

Ética Utilitarista de Mill


Qual é o bem último? Felicidade
Qual é o critério da ação correta? Consequências

Felicidade Hedonista: só o prazer é intrinsecamente bom e a dor intrinsecamente má.

Hedonismo Quantitativo Hedonismo Qualitativo


(Jeremy Bentham) (Stuart Mill)
O valor intrínseco de um prazer depende O valor intrínseco de um prazer depende
apenas da sua duração e intensidade. sobretudo da sua qualidade.

Stuart Mill separa prazeres em duas categorias:


Prazeres Inferiores Prazeres Superiores
Correspondem aos prazeres corpóreos, Correspondem aos prazeres intelectuais e
correspondentes às necessidades primárias. emocionais, dizem respeito às necessidades
mentais/espirituais.

A ética utilitarista defende:


Princípio da Maior Felicidade (PMF)
Uma ação é moralmente correta se, e só se, tendo em conta as alternativas, for aquela que
resulta numa maior felicidade geral, ou seja, a que mais felicidade trouxer a um maior número
de agentes morais. Caso contrário, a ação é moralmente errada.

Assim, o utilitarista defende o consequencialismo.


Consequencialismo: devemos fazer sempre aquilo que resulte nas melhores consequências,
vistas as coisas de uma perspetiva imparcial.

Objeções à ética utilitarista de Mill


- Críticas ao hedonismo (máquina de experiências)
Se o hedonismo fosse verdadeiro, então o mundo da máquina de experiências fosse melhor
que o nosso.
Mas o mundo da máquina de experiências não é o melhor. Seria bem pior por ser uma farsa.
Logo, o hedonismo é falso.

Robert Nozick diz que não é verdade que uma vida seja boa apenas devido às experiências
agradáveis que a constituem. A autenticidade das experiências é algo intrinsecamente
valioso. Uma vida que seja uma farsa, ainda que mais agradável, tem menos valor que o real.
- O Utilitarismo é uma ética demasiado exigente
- se o utilitarismo fosse verdadeiro, teríamos de dedicar a nossa vida a gerar o melhor estado
de coisas possível, e não teríamos muita oportunidade para tentar desenvolver os nossos
projetos pessoais
- teríamos então de redefinir a nossa vida, prescindindo de quase tudo o que gostamos para
benefício dos outros
- teremos de sacrificar o nosso bem-estar até ao ponto em que sacrificá-lo ainda mais não
resultaria numa maior felicidade geral

- O Utilitarismo é uma ética demasiado permissiva


A felicidade geral pode ser o melhor dos fins, mas nem sempre os fins justificam os meios, ou
seja, existem certas formas de maximizar o bem que não são eticamente permissíveis.

- Problemas do cálculo da utilidade


Segundo o utilitarismo dos atos temos de realizar o cálculo das consequências de uma ação,
isto é dificílimo, porque:
- pressupõe que todos os prazeres e dores podem ser reduzidos a uma escala numérica
- pressupõe que podemos saber as consequências prováveis de ações

Você também pode gostar