Você está na página 1de 7

2022

Inês Teixeira

ÉTICA E DEONTOLOGIA

1. ÉTICA E MORAL:
A. “ethos com espírito para fora”:

- Costumes, hábitos que nos são impostos; originam moral;


B. “ethos com espírito para dentro”:

- Caráter, espírito interior;


- A forma de como agimos em função do uso racional que damos às normas;
- Reflete o uso filosófico que damos à razão;
C. ÉTICA: reflexão filosófica da razão acerca da moral com pretensões de
universalidade;
D. MORAL: conjunto de normas morais relativa a cada comunidade sem pretensões
de universalidade;
E. NORMA: ”modelo padrão”, conjunto de valores partilhados numa comunidade;

2. TRÊS RAMOS DA ÉTICA: Reflexão filosófica-base:


A. Ética normativa: estudo dos códigos morais; - Pretensões de universalidade;
B. Meta ética: perguntas existenciais; - Reflexão argumentativa;
C. Ética aplicada: ética profissional; - Reflexão objetiva;

3. NOÇÃO DE “VALOR”: Motivam avaliações e apreciações:


A. Constituem o caráter; coisas que valorizamos;
- Alteração valores > alteração normas;
- Relativos;
(Ex: Aborto em Portugal)
- Intersubjetivos (criados em conjunto);
| Nas apreciações nascem os valores;
- Interdependentes;
- “Apreciar” – aferir o que é precioso;
- Dinâmicos na forma de como são partilhados;
- Aspeto dialógico comunicativo essencial; - “Avaliar” – aferir o valor do que o é;

! valores presidem às nossas ações !


4. ARISTÓTELES – ÉTICA EUDAIMONISTA
| Ação moralmente válida: tudo o que promove a realização da enteléquia
humana;
| Conceção aristotélica: tudo o ser tem um telos; todo o ser é um ser por se cumprir;
A. EUDAIMONIA: estado de contentamento estável; virtuosos; bom espírito;

B. ENTELÉQUIA: a natureza própria de cada ser (que está orientada para um fim);

C. TELOS: fim/ finalidade – todo o ser humano contém em si um telos;

(se não o alcançarmos, não nos realizamos como seres humanos)


Ø Somos um ser em construção > temos de nos tornar seres humanos na sua plenitude;
Telos do ser humano: busca pela felicidade

texto
D. NECESSIDADE DA COMUNIDADE: só conseguimos alcançar o fim para o qual
estamos orientados se vivermos em comunidade (e é anterior ao indivíduo);

1ª comunidade ética: 2ª comunidade ética: 3ª comunidade ética:


Família Aldeia Cidade
Transmissão de valores Membros diferentes Leis; bem coletivo;
Satisfação de necessidades + Conflito de necessidades Comunidade política
deveres (conflito de valores)
Normalização (normas) X coerciva nem punitiva; bom uso da razão *
Laço de união: Amor Laço de união: amizade Laço de união: justiça
*AGIR SEGUNDO O JUSTO MEIO: agir virtuoso; tonar a ação do justo meio uma
disposição de caráter; FELICIDADE=JUSTO MEIO COMO CARÁTER
“Agir segudo o justo meio”: agir de modo a alcançar a Virtude: prática; hábito
excelência; ser virtuoso > agir conforme as virtudes (justo meio) (coragem, veracidade…)
5. EPICURISMO/ ESTOICISMO
A. Epicurismo: o prazer identifica-se com a felicidade (regulada pela razão);

Prazeres corpóreos não devem ser evitados, mas realizados com moderação;
Prazeres espirituais > prazeres corpóreos PORQUE longa-duração + ausência não causa dor
B. Estoicismo: vivência do prazer afasta-nos da felicidade; escravos da satisfação;

Kant: a satisfação dos prazeres gera a satisfação de outros – desequilíbrio;


A vida feliz será aquela que, pelo uso da nossa razão, somos capazes de eliminar
os prazeres (independência = + felicidade);

C. ATARAXIA: ideal de uma vida feliz = eliminar prazeres e dor


Ø Estado de imperturbalidade

2
6. KANT – ÉTICA DEONTOLÓGICA/ FORMALISTA
(cumprimento do dever) – valor da ação determinada pelo próprio indivíduo;
| Ação moralmente válida: ação por dever; movida pela razão; INTENÇÃO
A. DEONTOLÓGICA: o valor moral de uma ação reside em si mesma (intenção);

B. FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL: problema que consiste em saber como devemos


agir e quais os princípios a adotar nas ações que desenvolvemos;
C. Criticismo: nova corrente filosófica (filosofia do conhecimento)

- Crítica da Razão Pura: como trabalha o entendimento;


- Crítica da Razão Prática: como é que a nossa racionalidade determina a nossa
ação?
D. AXIOLOGIA: discurso racional/ estudo dos valores que presidem às ações;

E. AÇÃO: intencional, consciente, voluntária; exige uso da razão;

- Agir revela o uso que damos à razão e ao corpo; desencadeia avaliações/


apreciações – revela que somos;
- Inclinações que levam o Homem a agir:
I. Animalidade (animal);
II. Humanidade (social); AGIMOS POR DEVER

III. Personalidade (racional); - Necessidade da ação por respeito à lei;

NÃO SÃO INCONDICIONAIS

OBRIGAÇÃO SEGUNDO UMA


CONDIÇÃO (dever)
E. Leis Jurídicas: F. Leis Morais:

regulam relações com os outros; Leis que cada um cria;

(Kant normas = leis) Definem personalidade (pela razão);

ÂMBITO DA HETERONOMIA ÂMBITO DA AUTONOMIA

(campo da legalidade) (campo da moralidade)

Respeitar as leis que os outros nos impõem


não tem necessariamente valor moral;

LEI INTERIOR = LEI MORAL


3
Ø Não existem ações amorais: todas as ações são ou morais ou imorais;
conscientes, voluntárias e intencionais;

O QUE DEFINE UMA AÇÃO MORAL


PARA KANT?
A intenção com que agimos deve ser pura

Ação moral: escolha racional voluntária por


finalidade e não causalidade;

IMPERATIVO CATEGÓRICO VS IMPERATIVO HIPOTÉTICO

Respeito incondicional pela lei; respeito Respeito pela lei devido a condição imposta;
pelo dever de respeitar ações legais, mas sem valor moral

| |
Lei Universal:
“Age de modo que a tua lei interior (máxima
da tua ação) possa ser universalizável”
(implica transformar a nossa vontade)

“Dar a lei a nós próprios” é a maior manifestação de liberdade

Se forem universalizáveis e as respeitarmos por dever, o mundo


seria pacífico, mas apático

Ação

Ações contrárias ao dever Ações conformes ao dever Ações por dever


Ação Ação
Não respeitam a lei Em conformidade com o Morais
ilegais e imorais;
Ação dever > legais

É um dever que imponho a mim


Ação
próprio de respeitar o dever que
Ação
a lei me impõe

Ação
7. STUART MILL – ÉTICA UTILITARISTA/ CONSEQUENCIALISTA
(Concessão pragmática) – utilidade - consequências
| Ação moralmente válida: felicidade do maior número de pessoas;
A. PRAGMÁTICA: olhar prático sobre a moral

- Valor moral à posteriori VS Kant (priori)


- Problema quantitativo VS Kant (qualitativo)
B. HEDONISMO: conjunto de teorias filosóficas com foco central no prazer

- Prazer + próximo da felicidade do que a ausência de dor;


- Utilitarismo não é um hedonismo puro > prazer é subjetivo;
C. CRITÉRIO DA MORALIDADE: princípio da maior felicidade;

Prazer + Ausência de dor

Imparcialidade: Altruísmo

Não posso dar preferência ao meu prazer Se a minha ação causar prazer a outro,
sobre o prazer dos outros; mas não a mim, é isso que devo fazer;

“Valerá tanto a minha felicidade como a


do outro”

D. IDEAL DEMOCRÁTICO: prazer da maioria

- Educar as pessoas para a civilidade PORQUE o utilitarismo poder promover o


relativismo moral;

Diversidade de culturas e costumes > concessões de moral diferentes;

(Ex: permite concessões de escravidão se trouxer felicidade à maioria);

Ação

5
Ação

Ação
8. J. HABERMAS – ÉTICA DIALÓGICA
(Neo-kantiano) + K. Otto Apel
| Não define a norma moral, mas procura dar condições para a encontrarmos;
A. ÉTICA DO DISCURSO: norma moral que guia as nossas ações é descoberta
dialogicamente através da argumentação;

1º PRESSUPOSTO – DISCORRER DA RAZÃO


O homem é um ser dialógico
Discurso como expressão da língua e como discorrer da razão
Operações mentais que
Operações mentais +
realizamos para
complexas: argumentos
alcançar conhecimento
(expressão do raciocínio)

Discurso obriga a argumentação


Problematização; Argumentação; Contra-argumentação;

Existência de diferentes significados >


Necessidade de precisar significados

2º PRESSUPOSTO – ESTABELECER SIGNIFICADOS


Assegurar a inteligibilidade das mensagens
Tornar a linguagem acessível
3 características da universalidade da norma
moral

Razoabilidade Inteligibilidade Universalidade


Todos podem participar
+ compromisso com a verdade: alcançar a verdade;

+ liberdade: usar da máxima liberdade sem discriminação;

B. ADOTAR A PERSPETIVA DA TERCIERA PESSOA “NÓS”

Participação no discurso > determinar a lei que deve reger a ação coletiva;
Ø O NÓS é que determina a normal moral conjunta que devem seguir;

Ø A norma moral coletiva rege as nossas ações desde que seja raciona
A razão e razoabilidade é igual para todos

6
Kant + Habermas
|
Ética formal + procedimental + dialógica + cognitivista
(procedimentos de como alcançar a norma moral)
Kant:
individualista; norma moral que se apresenta ao indivíduo como imperativo uso razão,
Habermas:
coletiva, norma moral que se apresenta coletivamente como sua, razão
argumentativa
Ø “E se a norma é minha, devo cumpri-la” – aceita-se mo cumprimento do
dever

Aspetos transversais a todos os autores:


⁃ Reflexão filosófica que visa fundamentar a moral;
⁃ AS REFLEXÕES NÃO SE ANULAM UMAS ÀS OUTRAS;
⁃ Imperativos éticos que nos ajudam-nos a refletir;
⁃ Teorias éticas não servem para aferir da validade moral de todos os nossos
comportamentos; servem apenas para aferir da validade moral nas nossas ações
enquanto agentes; só para ações conscientes; porque o que se faz de forma
inconsciente não existe moralidade;
> MORALIDADE EXISTE QUANDO EXISTE INTENÇÃO;
> É POR ISSO QUE A REFLEXÃO ÉTICA TEM PRETENSÕES DE UNIVERSALIDADE - POR
SER ASSENTE NA NATUREZA HUMANA;
⁃ Ação implica uma intervenção no mundo; alterar qualquer coisa no mundo, que
só é possível utilizando o corpo;
⁃ Estamos completamente implicados nas nossas ações; - PERSPETIVA
COMUM DOS AUTORES;
⁃ A ética tem como fundamento as pessoas; de pessoas para pessoas; para regular
as nossas ações e interações;

Você também pode gostar