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Éticas normativas:

Éticas normativas

Éticas deontológicas Éticas consequencialistas


(Kant 1724-1804) (Mill 1806-1873)

deon; deontos (o que é necessário,


preciso ou devido; dever, obrigação)
Deontologia: tratado sobre o dever.

1. As teorias morais segundo as quais 1. As teorias morais segundo as quais as


certas acções devem ou não devem ser acções são correctas ou incorrectas em
realizadas, independentemente das virtude das suas consequências.
consequências que resultem da sua 1.1. Utilitarismo: forma mais conhecida
realização ou não realização. de consequencialismo.

2. Existem actos que são correctos ou 2. As acções só podem ser avaliadas em


incorrectos em si mesmos. função dos seus resultados.

Éticas deontológicas: a perspectiva de Kant

“O que devo fazer?”

“O que é uma acção moral?” pergunta subjacente à investigação sobre a natureza da


acção moral.

Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)

Há no homem ‘algo de bom em si mesmo’? Há um fundamento antropológico para a


moralidade?

As ‘virtudes’ não são boas em si mesmas. O valor ético positivo ou negativo das
diferentes ‘virtudes’ depende do uso que a ‘vontade’ fizer delas. (virtude: qualidade
moral particular; disposição do indivíduo para praticar o bem; dom; atributo;
predicado; inclinação) Virtude (Kant): “(...) a força moral da vontade de um ser
humano no cumprir seu dever”.

‘lei prática’ ≠ máxima

Máxima: “princípio subjectivo do querer; o princípio objectivo (isto é, o que serviria


também subjectivamente de princípio prático a todos os seres racionais, se a razão
fosse inteiramente senhora da faculdade de desejar) é a lei prática.” (Kant, FMC, //
BA 15, nota de Kant)

prático (moral): ‘tudo aquilo que é possível pela liberdade’

‘acção moral’  ‘liberdade’

Acto moral é aquele que encontra o fim em si mesmo.

Correspondência entre a ‘intenção subjectiva’ e a ‘objectividade da lei’.

interesse: medo, lucro, felicidade

Moralidade: triunfo da universalidade da razão sobre o egoísmo subjectivista.

A vontade não se subordina automaticamente à razão.

Ser moral: legislador universal

Autonomia: submissão do homem à sua própria lei.

Heteronomia

‘boa vontade’ = ‘exercício do querer’ = ‘autonomia da vontade’

Vontade: “uma lei para si mesma”

É pela acção que o homem se faz.

Dever: “necessidade de uma acção por respeito à lei” ; conformidade em agir de


acordo e por respeito à lei moral; exigência incondicional de uma boa vontade.

Dever: ‘necessidade de uma acção por respeito à lei’

respeito ≠ inclinação

“O valor moral da acção não reside, portanto, no efeito [consequência] que dela se
espera; também não reside em qualquer princípio da acção que precise de pedir o seu
móbil a este efeito esperado. Pois todos estes efeitos (a amenidade da nossa situação,
e mesmo o fomento da felicidade alheia) podiam também ser alcançados por outras
causas, e não se precisava portanto para tal da vontade de um ser racional, na qual
vontade – e só dela – se pode encontrar o bem supremo e incondicionado. Por
conseguinte, nada senão a representação da lei em si mesma, que em verdade só no
ser racional se realiza, enquanto é ela, e não o esperado efeito, que determina a
vontade, pode constituir um bem excelente a que chamamos moral, o qual se encontra
já presente na própria pessoa que age segundo esta lei, mas se não deve esperar
somente do efeito da acção.” (Kant, FMC, // BA 15-16)

Homem: ‘Age por respeito para com a lei’


Animal: ‘segue automaticamente a lei da natureza.’

Vontade: razão prática

mandamento (da razão): ‘representação de um princípio objectivo, enquanto


obrigante para a vontade’

imperativo: fórmula do mandamento

Imperativos ordenam hipotética ou categoricamente

Hipotético: ‘Que está submetido a alguma condição’

Categórico: ‘segundo a razão’; não admite dúvida’; ‘que afirma sem restrições’;
absoluto, incondicional

http://descobrir-a-filosofia.blogspot.pt/2010/03/diferenca-entre-imperativos-
hipoteticos.html

‘a priori’: o que não depende da experiência.

‘a posteriori’: o que vem da experiência ou dela depende.

http://criticanarede.com/pensamentomoral.html

http://oestadodaeducacao.blogspot.pt/2009/06/ao-sabado-momento-quase-
filosofico_27.html

http://blog.criticanarede.com/2008/10/problemas-com-regra-de-ouro.html

http://www.oocities.org/~esabio/transgenicos/imperativo_categorico.htm

http://jus.com.br/revista/texto/11254/dignidade-da-pessoa-humana-na-filosofia-moral-
de-kant

http://br.monografias.com/trabalhos909/dever-etica-formal/dever-etica-formal2.shtml
*****
http://www.cfh.ufsc.br/imprimat/artigos/artigo-dignidade
ACÇÕES (class. das)

‘Contrárias ao ‘De acordo com o dever’ (ajudar uma


dever’ (maltratar uma pessoa)
pessoa)

‘Meramente ‘Realizadas por


conforme ao dever’ (com a
dever’ (por interesse intenção de cumprir o
ou compaixão) dever)
= legalidade = moralidade
‘motivos ‘motivo racional’
empíricos’

CLASSIFICAÇÃO DAS ACÇÕES

Contra o dever Conforme ao dever (legalidade *)

por interesse por inclinação por dever


pessoal imediata

simples legalidade moralidade

* ‘legalidade’: não significa concordância com o ‘direito positivo’, mas com o ‘dever
moral’. Essa concordância é entendida como ‘contingente’.

legalidade / moralidade (vontade boa) = patológico (passivo) / livre (activo)

P: ‘conformidade ao dever’; Q: ‘por dever’

Q  P ; ~ (P  Q)  P  ~ Q
TIPOS DE DEVERES (segundo Kant): O critério perfeito / imperfeito é o mais importante. Os
deveres perfeitos têm um carácter negativo; constituem proibições morais absolutas – deontologia
absolutista. Deveres imperfeitos: são finalidades que devem ser atingidas; nomeadamente, a
preocupação positiva com o bem-estar dos outros – beneficência. Os deveres ‘perfeitos’ têm
precedência sobre os ‘imperfeitos’.

Deveres para connosco Deveres para com os outros

Deveres perfeitos Não cometer suicídio. Não fazer promessas


enganadoras.

Deveres imperfeitos Desenvolver as nossas próprias Promover a felicidade dos


capacidades. outros.

Imperativo Hipotético (ao qual corresponde o ‘princípio da racionalidade instrumental’):


‘Escolhe os meios adequados para os teus fins — ou então modifica os teus fins.’

Imperativo Categórico: a) Fórmula da Lei Universal (exigência de universalidade);


b) Fórmula da Humanidade (exigência de respeito).

Máxima: ‘Princípio segundo o qual uma pessoa age numa certa ocasião.’

Kant e o suicídio:

https://www.passeidireto.com/arquivo/31909945/texto-kant-cap-5-o-que-
importa-e-o-motivo/6

Éticas consequencialistas: a perspectiva utilitarista de Mill

John Stuart Mill (1806-1873)

Origens do utilitarismo:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Utilitarismo

Francis Hutcheson (1694-1746): http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Hutcheson

David Hume (1711-1776)


‘Utilitarismo clássico’ (Bentham & Mill) Reformas políticas, económicas e sociais no
Ocidente durante o séc. XIX

Jeremy Bentham (1748-1832.)

O consequencialismo avalia a correcção/incorrecção das acções, apenas e só, a partir


dos seus resultados ou consequências.

* consequencialismo > utilitarismo; consequencialismo ≠ utilitarismo; há


consequencialistas não hedonistas (bom ≠ prazer)

Correcto = ‘maximização do bom’

Para o ‘utilitarismo’, o ‘bom’, lato sensu, é o ‘prazer’ (bom = prazer; mau = dor)

utilitarismo = hedonismo

‘vida boa’: aquela que procura o prazer e evita a dor.

Epicuro (c. 341-270 a.C.) Felicidade: objectivo central da ‘vida boa’ (‘mente’ livre
de inquietudes – ataraxia; ‘corpo’ livre de dor). A ‘vida boa’ alcança-se pela bondade
em relação aos semelhantes e a moderação do apetite.

Três pressupostos-base do utilitarismo clássico:

1. O utilitarismo é consequencialista: as acções são correctas ou incorrectas somente


em função das suas possíveis consequências ou resultados.
2. O utilitarismo é hedonista: as acções são correctas na medida em que,
previsivelmente, tendem a promover a maior felicidade global (o prazer), e
incorrectas na medida em que, previsivelmente, tendem a gerar o contrario da
felicidade (a dor).
3. A felicidade de cada pessoa é contabilizada como igualmente importante.

Polémica acerca do utilitarismo

Equívocos teóricos do seus críticos: 1. relação utilidade-prazer; felicidade: prazer ou


‘ausência de dor’; infelicidade: dor e a privação do prazer.
Prazer & ‘ausência de dor’: únicas coisas desejáveis como fins.
‘Coisas desejáveis’: são-no ‘pelo prazer que lhe é inerente’ ou enquanto ‘meios’ para
criar prazer e evitar a dor.

Útil: prazer em si mesmo, aliado à ausência de dor.


Fundamento da moral utilitarista: a utilidade ou o princípio da maior felicidade.
Felicidade = prazer = ‘ausência de dor’
Infelicidade = dor = ‘privação do prazer’

Únicos fins desejáveis: prazer & ‘ausência de dor’

Desejável: aquilo que enquanto fim ou meio promove o prazer ou previne a dor.
Moralidade: esforço para maximizar o prazer e procurar tanta felicidade quanto nos
for possível.

Princípio da maior felicidade: princípio geral da doutrina utilitarista,


fundamento da moralidade e critério de avaliação das acções (políticas, sociais e
económicas) enquanto boas ou más.

Moralidade ≠ ‘fidelidade a Deus’/‘conjunto de regras abstractas’

Objectivo da moral: realização de cada ser humano neste mundo.

Princípio da utilidade: cada indivíduo deve fazer tudo o que puder para maximizar o
prazer e minimizar a dor.

Concepção do ‘prazer’

Os prazeres variam em grau (quantidade) e em classe (qualidade).

Bentham ≠ Mill: Como definir a ‘maior felicidade global’?

Bentham: felicidade = ‘quantidade de prazer’ (critérios aritméticos: intensidade;


duração; proximidade)

Mill: felicidade = ‘qualidade dos prazeres’ (mais desejáveis e valiosos)


Prazeres ‘superiores’ (espirituais) / ‘inferiores’ (animais, corporais: centrados nas
sensações físicas) Preferibilidade (ordenação hierárquica) dos prazeres.

felicidade (gozo de prazeres superiores) ≠ satisfação (ausência de carências, de um


‘ponto de vista corporal’)

Cf. “Gato que brincas na rua” (Fernando Pessoa, 1-1931)

http://www.insite.com.br/art/pessoa/cancioneiro/126.php

Critério para a ordenação hierárquica dos prazeres: os ‘únicos juízos competentes’


são aqueles que conhecem as duas classes de prazer; aqueles que conhecem apenas
uma classe não estão em condições de avaliar.

Incontroverso: conhecedores
Controverso: ‘opinião da maioria’

Anti-utilitaristas: o utilitarismo é uma ‘moral egoísta’.


Réplica utilitarista: o agente tem que ter em conta não apenas a sua felicidade, mas a
de todos os outros, tem de ser um ‘espectador desinteressado e benevolente’, ou seja,
imparcial.

Qualquer sacrifício individual que não aumente a quantidade total de felicidade é


inútil.
Outras críticas: a) dificuldade de quantificar a felicidade; b) dificuldade de prever
todas as consequências possíveis da acção.

Principal motivo de condenação do utilitarismo: o facto de o sistema utilitarista poder


conduzir a consequências moralmente inaceitáveis; a moralidade utilitarista permite
graves injustiças em nome da felicidade do maior número.

http://criticanarede.com/eti_mill.html

http://criticanarede.com/rawlseutil.html

hedonismo / eudemonismo: http://filosofar.blogs.sapo.pt/73037.html

eudemonismo: eu- + demonismo (daimon)

eudemon(o)-: eudaimonia (felicidade); eudaimon (de destino feliz)

COMPARAÇÃO ENTRE AS ÉTICAS DE KANT E DE MILL

QUESTÕES RESPOSTA DE KANT RESPOSTA DE MILL

As consequências são o Não. A minha ética não é Sim. A minha ética é


que mais conta para consequencialista. consequencialista.
decidir se uma acção é ou
não moralmente boa?

A intenção é o critério ou Sim. A minha ética Não. O factor que decide


factor decisivo para considera boa a acção cuja se uma acção é boa ou não,
avaliar se uma acção é máxima exprime a é o que dela resulta. As
moralmente boa? intenção de cumprir o consequências são o
dever pelo dever. A critério decisivo da
intenção de fazer o que é moralidade de um acto. A
devido, sem mais nenhum intenção diz respeito ao
outro motivo que não o carácter do agente e não à
cumprimento do dever, é a qualidade moral da acção.
única coisa que torna uma Se uma acção é motivada
acção boa. A moralidade pela vontade de obter o
consiste em cumprir o melhor resultado possível,
dever pelo dever. A minha mas tem más
ética é deontológica. consequências, diremos
que, apesar do agente ser
bom, a acção não é boa.

Há acções boas em si Sim. O valor moral de Não. Não podemos dizer


mesmas, isto é, que uma acção depende da que uma acção é boa ou
tenham um valor máxima que o agente má, antes de olharmos para
intrínseco? adopta, sendo as suas consequências.
independente das
consequências, efeitos ou
resultados do que fazemos.

Há deveres absolutos? Sim. Mentir, roubar e Não. Apesar desses actos


Há normas morais que matar, v.g., são actos terem frequentemente
nunca devemos desres- sempre errados. Há consequências más, nem
peitar? normas morais absolutas sempre é assim. Há
que proíbem o assassínio, situações em que não
o roubo, a mentira e que cumprir esses deveres tem
devem ser como consequência um
incondicionalmente melhor estado de coisas.
respeitadas.
Há normas morais que se
têm revelado úteis para
organizar a vida dos seres
humanos, mas devemos ter
em conta que nem sempre
o seu cumprimento produz
bons resultados.

Qual é o princípio moral O princípio moral O princípio moral


fundamental que temos fundamental a respeitar é o fundamental a respeitar é o
de respeitar para que a que exige que nunca trate princípio de utilidade.
nossa acção seja moral- os outros — nem a minha Exige que das nossas
mente boa? pessoa — como meio ou acções resulte a maior
instrumento útil para um felicidade possível para o
certo fim. Respeitar a maior número possível de
nossa humanidade, eis o pessoas. É também
princípio incondicional. conhecido como princípio
Para isso ser possível, da maior felicidade
devo agir segundo possível. A minha ética é
máximas que possam ser consequencialista e
seguidas pelos outros, isto utilitarista.
é, que possam ser
universalizadas.

Há valores absolutos? Sim. A dignidade da Sim. O único valor


pessoa humana é um valor absoluto é a felicidade,
absoluto. Nenhuma acção entendida como prazer.
pode ser boa se desrespeita Todas as outras coisas só
esse valor absoluto. A boa têm valor se produzirem
vontade é a vontade de felicidade.
nunca violar a dignidade
absoluta e incondicional da
pessoa humana.

Maximizar o bem-estar Não. Não é obrigatório e Sim. Se o valor moral das


ou a felicidade é obriga- muitas vezes não é acções depende da sua
tório? permissível. Porquê? capacidade para
Porque há direitos das maximizar o bem-estar dos
pessoas que são absolutos. agentes afectados pelas
Os deveres absolutos de consequências de uma
que falo são restrições que acção, então obter esse
impõem limites à resultado é obrigatório,
instrumentalização dos mesmo que por vezes isso
indivíduos em nome do implique a violação de
bem-estar geral. A minha algum direito. A minha
ética é deontológica ética não é deontológica,
porque o respeito absoluto porque não admite que
pelos direitos da pessoa haja deveres absolutos que
humana implica que haja impõem restrições ao que
deveres absolutos ou é possível fazer em nome
coisas que é absolutamente da felicidade geral e assim
proibido fazer. defendem
incondicionalmente os
direitos dos agentes
morais. A minha ética
centra-se no bem-estar
geral que das acções pode
resultar, e maximizar esse
bem-estar é a única
obrigação moral.
O que é a felicidade? É o A felicidade é um bem, A felicidade é o objectivo
fim ou objectivo último mas não deve influenciar fundamental da acção
das acções humanas? as nossas escolhas morais. moral, embora não se trate
O fim último da acção da felicidade individual
moral é o respeito pela nem da felicidade que se
pessoa humana, pelo valor traduza na redução do
absoluto que a sua bem-estar da maioria das
racionalidade lhe confere. pessoas a quem a acção diz
respeito.

O que é o egoísmo? O egoísmo, impedindo O egoísmo é condenável,


acções desinteressadas e porque impede que se
imparciais, é o grande tenha em vista um fim
inimigo da moralidade. objectivo que é a maior
felicidade para o maior
número possível de
pessoas.

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