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4. DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA
ÉTICA E MORAL
Quotidianamente somos confrontados com situações em que temos que decidir sobre coisas que
interferem na liberdade de outros.
É por isso que nas nossas decisões temos em conta valores, princípios, normas ou regras de
conduta que impomos a nós mesmos, mas também esperamos que os outros as sigam ou pelo menos
as aceitem.
Se os outros manifestam um comportamento diverso daquele que à luz destes ideais julgamos que
deveriam ter, afirmamos que não agiram corretamente, não têm valores, princípios ou mesmo
"moral".
Embora muitas vezes se usem as palavras moral e ética como equivalentes, elas não designam o
mesmo.
MORAL ÉTICA
▪ Estas condutas e normas são estabelecidas no ▪ Analisa os princípios que regem a constituição
interior de um grupo, sociedade ou cultura, para de normas orientadoras da ação (morais).
orientar a ação.
▪ A moral diz: não se deve matar. ▪ A ética pergunta: por que razão não é permitido
matar? O que é o bem? Porque devemos agir
moralmente?
FILOSOFIA – 10º ANO 2
Ao longo dos séculos os filósofos propuseram diferentes modos de classificar as nossas ações como morais
ou não. Duas perspetivas continuam a dominar o panorama da ética normativa:
Na sua moral Kant procura responder à questão “Que devo fazer?” ou ainda “o que é uma ação
moral?”
A moralidade da ação depende, acima de tudo de uma boa vontade. A boa vontade é, do ponto de
vista moral, a única absolutamente boa.
O que torna a vontade boa? Os resultados que consegue? Não! O que torna boa a vontade é a
intenção que subjaz à ação.
Exemplo:
Suponha que devolve uma carteira que encontra no refeitório da sua escola. Fez o que, de acordo com as
normas morais estabelecidas, devia fazer. Mas é este facto suficiente para, segundo Kant, dizer que agiu
de boa vontade? Não. Pode ter realizado esta ação com medo de ser descoberto, para não ficar de
consciência pesada, e não por ter pensado que era essa a ação correta. A sua intenção não foi
propriamente cumprir o dever, mas evitar problemas.
Assim, o que caracteriza a boa vontade é cumprir o dever sem outro motivo ou razão a não ser fazer
o que é correto.
Para Kant, a boa vontade é a que age com uma única intenção: cumprir o dever pelo dever.
FILOSOFIA – 10º ANO 3
Uma boa vontade é uma vontade que age por dever. Kant distingue diferentes tipos de ações:
Diferentes tipos de
ações
Ações imorais, que não Ações que cumprem as regras Ações que ocorrem por puro
cumprem as regras ou normas ou normas morais, mas respeito pela lei moral,
morais e que surgem sempre apenas por medo, interesse, independentemente das
por inclinação sensível. egoísmo ou satisfação consequências ou resultados.
pessoal.
Moralidade
O que determina assim a moralidade da ação não é o propósito a atingir ou o efeito que dela se
espera, mas o querer que a origina.
A obrigação de não mentir não varia consoante as circunstâncias, devendo nuns casos ser respeitada
e não o ser noutros.
Nem sempre a ação que tem as melhores consequências previsíveis deve ser praticada.
Segundo Kant, e os deontologistas em geral, matar pessoas inocentes é sempre moralmente errado,
sejam quais forem as consequências de não o fazermos.
O IMPERATIVO CATEGÓRICO
O Homem é um ser dual, razão e desejo encontram-se em oposição. É por isso que o dever moral nos
surge sob a forma de uma ordem ou mandamento – um Imperativo Categórico.
1ª fórmula
“Age sempre de maneira a que a máxima da tua ação se possa tornar numa lei universal, válida para todos
os seres racionais”.
2ª fórmula
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro,
sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”.
Agir moralmente significa seguir várias obrigações particulares como dizer a verdade, cumprir a
palavra dada, não matar pessoas inocentes, não roubar, etc.
.
Agir segundo estas regras é agir com base em máximas universalizáveis, ou seja, máximas que
qualquer pessoa nas nossas circunstâncias poderia também seguir.
Pelo contrário, mentir, roubar ou matar pessoas inocentes, não é permissível pois as máximas destas
ações não são universalizáveis: não queremos um mundo onde todos mintam, onde todos roubem,
etc.
O imperativo categórico diz-nos apenas que característica deve ter a máxima em nome da qual
praticamos uma ação (seja ela qual for) para que essa ação seja moralmente admissível: ser
universalizável.
ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS
O utilitarismo é uma ética consequencialista, isto é, avalia a moralidade das ações pelas vantagens ou
desvantagens que os seus efeitos comportam. O que permite definir se uma ação é boa ou má são as suas
consequências.
O utilitarismo defende o princípio hedonista, que remonta à filosofia moral epicurista da antiguidade
grega, segundo o qual a finalidade última das nossas ações – o supremo bem – é a felicidade.
O princípio da utilidade exige que cada um de nós faça o que for necessário e estiver ao seu alcance
para promover a felicidade e evitar a dor. A felicidade identifica-se com o estado de prazer e de
ausência de dor ou sofrimento.
O princípio utilitarista da maior felicidade assenta no pressuposto de que devemos fazer tudo para
maximizar o prazer e procurar tanta felicidade quanta nos for possível. As ações são corretas na
medida em que tendem a promover a maior felicidade global.
O critério que permite, segundo Mill, reconhecer a validade ou correção moral das nossas ações é,
portanto, o da utilidade; será legítima a ação útil que é capaz de trazer a máxima felicidade possível
para um maior número de indivíduos.
Mas como medir a felicidade? Para alguns utilitaristas a felicidade está associada à quantidade do
prazer. Quanto mais intensos e prolongados forem os prazeres associados a dada ação, tanto mais útil
ela será.
Stuart Mill estabelece uma distinção fundamental entre prazeres superiores e prazeres inferiores,
que assenta não na quantidade mas na qualidade dos prazeres.
FILOSOFIA POLÍTICA
A filosofia política é uma disciplina que procura refletir sobre questões acerca da forma como as
sociedades humanas devem estar organizadas.
Para Aristóteles (384-322 a.C.) o fim último (telos) ou finalidade da política é a virtude, isto é, a
formação moral dos cidadãos, e o fim último do Estado é proporcionar o conjunto dos meios
necessários a essa formação.
“…o ser humano é, por natureza, um ser vivo político.” (Aristóteles, Política)
LIBERALISMO IGUALITÁRIO
No mundo em que vivemos, sentimos que a igualdade e a justiça não são respeitadas:
Há crianças que são vendidas pelos pais extremamente pobres a quem tem dinheiro e falta de
escrúpulos para as comprar;
Pessoas cujo rendimento não permite fazer mais que uma refeição por dia;
Jovens que não têm a possibilidade de conseguir a escolaridade básica;
Cidadãos que estão presos por terem defendido as suas ideias.
Outra pergunta surge desta: Como deve uma sociedade distribuir os seus bens? Qual é a forma
eticamente correta de o fazer? Trata-se do problema da justiça distributiva. A teoria da justiça de
John Rawls constitui é talvez o contributo mais importante na tentativa de resposta a esta questão.
Rawls defende uma conceção de justiça como equidade: como chegar a um acordo (contrato
social) unânime sobre os princípios que devem organizar as sociedades e acabar com o conflito de
interesses, garantindo uma distribuição equitativa das riquezas?
A Posição Original é uma situação imaginária. Trata-se de um contrato hipotético para que os
princípios sejam equitativos. Se cada um de nós não souber em que posição se encontra, ou virá a
encontrar-se, será imparcial.
Se queremos assegurar uma distribuição justa de peixe por três famílias, a pessoa que faz a
distribuição não pode saber a parte que terá;
Se queremos assegurar um jogo de futebol justo, a pessoa que estabelece as regras não pode saber se
a sua equipa está a fazer um bom campeonato ou não.
De seguida, Rawls levanta a questão central: Que princípios seriam escolhidos por detrás deste véu de
ignorância? (Não sabendo como ia ser o amanhã, como iria ser a nossa vida, que princípios escolheríamos?)
Aqueles que as pessoas aceitariam contando que não teriam maneira de saber se seriam ou não favorecidas
pelas contingências sociais ou naturais.
Colocados numa posição original, sob o véu de ignorância, os seres humanos escolheriam dois princípios:
A sociedade deve garantir a máxima liberdade para cada pessoa compatível com uma liberdade igual
para todos os outros.
Não pode ser violado a favor da utilidade social, por isso, em caso de conflito de interesses, este princípio
tem prioridade.
PRINCÍPIO DA IGUALDADE
A sociedade deve promover a distribuição igual de riqueza
A sociedade deve promover a distribuição igual As desigualdades económicas e sociais devem estar
de riqueza, exceto se a existência de ligadas a postos e posições acessíveis a todos em
desigualdades económicas e sociais beneficiar condições de justa igualdade de oportunidades. No
os mais desfavorecidos. entanto, estas desigualdades devem contribuir para o
benefício de todos.
▪ Um sistema de ensino pode permitir aos estudantes mais dotados o acesso a maiores apoios se, por
exemplo, as empresas em dificuldade vierem a beneficiar mais tarde do seu contributo, aumentando os
lucros e evitando os despedimentos.
▪ Os médicos podem ganhar mais do que a maioria das pessoas, desde que isso lhes permita ter acesso a
tecnologia e investigação de ponta, que tornem mais eficazes o tratamento de certas doenças e desde
que esses tratamentos estejam disponíveis para os mais desfavorecidos.
FILOSOFIA – 10º ANO 8
LIBERTARISMO
«O que é meu é meu». Mesmo que existam desigualdades económicas, não se deve tirar aos mais
favorecidos para dar aos mais desfavorecidos.
Cada um de nós tem direito ao que herdou, recebeu ou ganhou de modo legítimo. A justiça social
consiste nessa titularidade legítima.
Nozick defende que deve existir apenas um estado mínimo. Este deve garantir os direitos individuais
dos cidadãos e a sua segurança em relação a ameaças internas e externas.
Para pagar esses serviços (polícia, tribunais, exército…), o Estado deve cobrar impostos. Mas apenas
os estritamente necessários. Não deve cobrar impostos para redistribuir a riqueza, ao contrário do que
Rawls defende.
O Estado não deve ter funções sociais: não deve ter hospitais nem escolas públicas, não deve pagar
subsídios nem reformas, por exemplo.
COMUNITARISMO
Pelo contrário, o comunitarismo defende que os indivíduos não existem enquanto tal (isto
é, de forma isolada e autónoma), mas sim existem no seio das suas relações e interações
sociais, em comunidade.
De acordo com os comunitaristas, tal como Michael Sandel, a forma como Rawls
argumenta a favor dos princípios da justiça, através do véu de ignorância numa posição
original, não é bem-sucedida.