Você está na página 1de 12

FILOSOFIA – 10º ANO 1

DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA

INTENÇÃO ÉTICA E NORMA MORAL

Quotidianamente somos confrontados com situações em que temos que decidir sobre coisas que
interferem na liberdade de outros.

A simples coexistência coloca a questão da necessidade de cumprir normas.

É por isso que nas nossas decisões temos em conta valores, princípios, normas ou regras de
conduta que impomos a nós mesmos, mas também esperamos que os outros as sigam ou pelo menos
as aceitem.

Se os outros manifestam um comportamento diverso daquele que à luz destes ideais julgamos que
deveriam ter, afirmamos que não agiram correctamente, não têm valores, princípios ou mesmo
"moral".

Embora muitas vezes se usem as palavras moral e ética como equivalentes, elas não designam o
mesmo.

MORAL ÉTICA

 Conjunto de condutas e normas que  Reflexão sobre o porquê de considerarmos


costumamos aceitar como válidas; morais as nossas acções;

 Estas condutas e normas são estabelecidas no  Analisa os princípios que regem a constituição
interior de um grupo, sociedade ou cultura, para de normas orientadoras da acção (morais).
orientar a acção.

 A moral diz: não se deve matar.  A ética pergunta: por que razão não é permitido
matar? O que é o bem? Porque devemos agir
moralmente?
FILOSOFIA – 10º ANO 2

A DIMENSÃO PESSOAL E SOCIAL DA ÉTICA

O si mesmo, o outro e as instituições

Por que razão havemos de ser morais?


ou
Por que razão devemos agir moralmente?

Agir moralmente é agir de forma intencional, livre e consciente. Não julgamos como imorais os
actos dos animais, que não têm consciência do bem e o mal.

Só o ser humano é uma pessoa capaz de optar por várias alternativas, de acordo com o que lhe dita a
sua consciência.

Consciência moral: voz interior ou juiz que nos alerta, censura, reprime e diz sim ou não. Se agirmos de
acordo com ela, sentimos uma certa paz ou tranquilidade; se, pelo contrário, não a tivermos em conta,
sentimos inquietação, desconforto e até arrependimento ou remorso.

A consciência moral não é inata. Pressupõe o contacto e a interacção com o outro. É na relação
com o outro que os princípios e as normas morais são interiorizados.

Esse outro começa por ser a família, depois a escola, os professores, os amigos e a comunidade em
geral.
FILOSOFIA – 10º ANO 3

AUTONOMIA E RESPONSABILIDADE

Se as acções morais são conscientes e livres, os seus efeitos não se reflectem apenas em nós mas afectam
também os interesses e necessidades dos outros. Liberdade é também autonomia e responsabilidade.

Responsabilidade: Obrigação de responder pelos próprios actos e/ou omissões bem como pelas
consequências destes.

Se um individuo para no sinal vermelho de um cruzamento com pouca visibilidade, poderemos dizer que
tem consciência cívica, que foi responsável?

HETERONOMIA AUTONOMIA

Se o indivíduo age assim porque tem medo de Se o indivíduo age daquele modo porque
que um policia esteja por perto a observar, ou acredita que o sinal deve ser respeitado, sob
de que exista uma câmara oculta, por medo da pena de pôr em perigo a segurança dos outros,
punição, então procedeu de acordo com uma mesmo que saiba não estar nenhum policia ou
norma externa a si próprio e está dependente câmara por perto, age moralmente.
dela.

Age legalmente. (heteronomia) Assume para si mesmo um princípio moral, de


forma livre e obedecendo apenas à sua
consciência. (autonomia)

Heteronomia: significa seguir uma ordem Autonomia: significa a capacidade de


proveniente do exterior. estabelecer e seguir normas do seu próprio
agir.

Assume uma responsabilidade legal. Assume uma responsabilidade moral


(altruísta, solidária, cívica).

Devemos agir moralmente porque:

Só nos tornamos humanos enquanto seres sociais e, por isso, temos de compatibilizar os nossos
direitos com os dos outros, de modo a garantir a coexistência e a realização de todos;

Queremos viver humanamente e não de qualquer maneira, isto é, ser pessoas e tratar todos os outros
como pessoas
FILOSOFIA – 10º ANO 4

A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL

ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS

Ao longo dos séculos os filósofos propuseram diferentes modos de classificar as nossas acções como morais
ou não. Duas perspectivas continuam a dominar o panorama da ética normativa:

ÉTICAS DEONTOLÓGICAS ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS


(do grego deon, necessidade, dever) (ou teleológicas – fim, telos)
Immanuel Kant Stuart Mill
 As acções devem ou não devem ser  As acções são correctas ou incorrectas em
realizadas independentemente das virtude das suas consequências.
consequências.  As acções só podem ser avaliadas a partir
 Existem actos que são incorrectos em si dos seus resultados.
mesmos.  Mentir será correcto ou incorrecto,
 Põe exemplo, mentir é sempre incorrecto, dependendo das consequências boas ou más
independentemente das consequências boas que resultem da acção.
ou más que daí possam resultar.

ÉTICAS DEONTOLÓGICAS: A PERSPECTIVA DE IMMANUEL KANT

Na sua moral Kant procura responder à questão “Que devo fazer?” ou ainda “o que é uma acção
moral?”

A moralidade da ação depende, acima de tudo de uma boa vontade. A boa vontade é, do ponto de
vista moral, a única absolutamente boa.

O que torna a vontade boa? Os resultados que consegue? Não! O que torna boa a vontade é a
intenção que subjaz à acção.

Exemplo:

Suponha que devolve uma carteira que encontra no refeitório da sua escola. Fez o que, de acordo com as
normas morais estabelecidas, devia fazer. Mas é este facto suficiente para, segundo Kant, dizer que agiu
de boa vontade? Não. Pode ter realizado esta acção com medo de ser descoberto, para não ficar de
consciência pesada, e não por ter pensado que era essa a acção correcta. A sua intenção não foi
propriamente cumprir o dever, mas evitar problemas.

Assim, o que caracteriza a boa vontade é cumprir o dever sem outro motivo ou razão a não ser fazer
o que é correcto.

Para Kant, a boa vontade é a que age com uma única intenção: cumprir o dever pelo dever.
FILOSOFIA – 10º ANO 5

Uma boa vontade é uma vontade que age por dever. Kant distingue diferentes tipos de acções:

Diferentes tipos de
acções

Contrárias ao dever Conformes ao dever Por Dever

Acções imorais, que não Acções que cumprem as Acções que ocorrem por puro
cumprem as regras ou normas regras ou normas morais, mas respeito pela lei moral,
morais e que surgem sempre apenas por medo, interesse, independentemente das
por inclinação sensível. egoísmo ou satisfação consequências ou resultados.
pessoal.

Imoralidade Ilegalidade Legalidade Heteronomia Moralidade Autonomia

Não passo com o sinal Não passo com o sinal


Matar, Roubar vermelho porque tenho medo vermelho porque acho que
de ser multado e perder a assim deve ser e por respeito
carta ou porque desejo ser para com os outros.
bem visto.
FILOSOFIA – 10º ANO 6

O que determina assim a moralidade da acção não é o propósito a atingir ou o efeito que dela se
espera mas o querer que a origina.

A obrigação de não mentir não varia consoante as circunstâncias, devendo nuns casos ser respeitada
e não o ser noutros.

Nem sempre a ação que tem as melhores consequências previsíveis deve ser praticada.

O lançamento da bomba atómica em Hiroxima tinha previsivelmente melhores consequências do que


não o fazer: evitava um número de mortos muito superior caso não houvesse a rendição do Japão.

Segundo Kant, e os deontologistas em geral, matar pessoas inocentes é sempre moralmente errado,
sejam quais forem as consequências de não o fazermos.

O IMPERATIVO CATEGÓRICO

O Homem é um ser dual, razão e desejo encontram-se em oposição. É por isso que o dever moral nos
surge sob a forma de uma ordem ou mandamento – um Imperativo Categórico.

O Imperativo Categórico expressa o conteúdo incondicionado da lei moral, pois é um mandamento


que não depende de condições (Se queres um computador portátil novo então tens de tirar boas notas
– imperativo hipotético).

1ª fórmula
“Age sempre de maneira a que a máxima da tua ação se possa tornar numa lei universal, válida para todos
os seres racionais”.
2ª fórmula
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro,
sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”.

Agir moralmente significa seguir várias obrigações particulares como dizer a verdade, cumprir a
palavra dada, não matar pessoas inocentes, não roubar, etc.
.
Agir segundo estas regras é agir com base em máximas universalizáveis, ou seja, máximas que
qualquer pessoa nas nossas circunstâncias poderia também seguir.

Pelo contrário, mentir, roubar ou matar pessoas inocentes, não é permissível pois as máximas destas
ações não são universalizáveis: não queremos um mundo onde todos mintam, onde todos roubem,
etc.

O imperativo categórico diz-nos apenas que característica deve ter a máxima em nome da qual
praticamos uma ação (seja ela qual for) para que essa ação seja moralmente admissível: ser
universalizável.

Este princípio é completamente geral e, por isso, aplica-se a todas as ações.


FILOSOFIA – 10º ANO 7

ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS

A PERSPECTIVA UTILITARISTA DE STUART MILL

O utilitarismo é uma ética consequencialista, isto é, avalia a moralidade das acções pelas vantagens ou
desvantagens que os seus efeitos comportam. O que permite definir se uma acção é boa ou má são as
suas consequências.

O utilitarismo defende o princípio hedonista, que remonta à filosofia moral epicurista da antiguidade
grega, segundo o qual a finalidade última das nossas acções – o supremo bem – é a felicidade.

Para Epicuro (341-270 a.C.) a felicidade é a obtenção de prazer sabiamente administrado e o


afastamento da dor. Deste modo, os epicuristas dão da natureza humana uma explicação hedonista: a lei
fundamental da natureza é a procura do prazer. (hedonismo – do grego hedone, prazer)

O princípio da utilidade exige que cada um de nós faça o que for necessário e estiver ao seu alcance
para promover a felicidade e evitar a dor. A felicidade identifica-se com o estado de prazer e de
ausência de dor ou sofrimento.

O princípio utilitarista da maior felicidade assenta no pressuposto de que devemos fazer tudo para
maximizar o prazer e procurar tanta felicidade quanta nos for possível. As acções são correctas na
medida em que tendem a promover a maior felicidade global.

O critério que permite, segundo Mill, reconhecer a validade ou correcção moral das nossas acções é,
portanto, o da utilidade; será legítima a acção útil que é capaz de trazer a máxima felicidade
possível para um maior número de indivíduos.

Mas como medir a felicidade? Para alguns utilitaristas a felicidade está associada à quantidade do
prazer. Quanto mais intensos e prolongados forem os prazeres associados a dada acção, tanto mais
útil ela será.

Stuart Mill estabelece uma distinção fundamental entre prazeres superiores e prazeres inferiores,
que assenta não na quantidade mas na qualidade dos prazeres.

Prazeres superiores Prazeres inferiores

São os prazeres do pensamento, sentimento e São os prazeres ligados às


imaginação; tais prazeres resultam da necessidades físicas, como beber,
experiência de apreciar a beleza, a verdade, o comer e sexo.
amor, a liberdade, o conhecimento, a criação
artística.
FILOSOFIA – 10º ANO 8

ÉTICA, DIREITO E POLÍTICA

Qual a justificação do Direito e da Política?

A moral e a ética não bastam para impor regras se as pessoas não tiverem consciência moral e
consciência cívica. Os interesses dos indivíduos são divergentes e a natureza humana é egoísta.

Assim, para gerir os conflitos sociais, garantir o bem comum e a harmonia social são precisas normas
com carácter coercivo – as leis jurídicas.

Do mesmo modo são necessárias instituições dotadas de poder e de meios para o exercer (O Estado),
impondo o cumprimento dessas leis. Surge assim o Direito e a Política.

Direito: conjunto de normas que regulam as relações entre os cidadãos, estabelecendo também as formas de
punição para a violação dessas normas.

Política (do grego polis - cidade) tem como finalidade encontrar a melhor organização para uma sociedade,
estabelecendo-lhe um conjunto de objectivos de acção comuns, regras e princípios relacionamento entre os
seus membros de forma a aumentar o Bem Comum e evitar os conflitos internos.

Para cumprir essas complexas funções de gestor das coisas públicas (res publica – republica) as
comunidades organizam-se sob a forma de Estado.

Estado: Organização política de uma comunidade de pessoas, com vista à manutenção da ordem dentro do
seu território. Possui o poder de regular, através de leis, a conduta de todos os indivíduos, bem como as
organizações que se encontram dentro das suas fronteiras.
FILOSOFIA – 10º ANO 9

PROBLEMA 1: O que legitima a autoridade do Estado?

Uma perspectiva da Antiguidade Clássica

ARISTÓTELES (384-322 a.C.)

Para Aristóteles o fim último (telos) ou finalidade da política é a virtude, isto é, a formação moral
dos cidadãos, e o fim último do Estado é proporcionar o conjunto dos meios necessários a essa
formação.

“…o ser humano é, por natureza, um ser vivo político.” (Aristóteles, Politica)

Como ser vivo político, o ser humano necessita, por natureza de viver numa comunidade. Só ao
Homem a Natureza concedeu o poder do discurso, e é pela palavra que ele distingue o bem do mal, o
justo do injusto. Só ele é capaz de criar leis.

A plena realização do ser humano depende da sua inserção numa comunidade social e política, que
na Grécia Antiga era a Cidade-Estado.

A partir de um núcleo inicial, a família ou casa (oikos) segue-se a união de famílias (aldeia), de cuja
associação resulta a cidade, comunidade superior cuja finalidade (telos) é proporcionar ao indivíduo
condições para a sua realização social e política.

 Forma de associação originária.

Família  Os homens unem-se em famílias para procriar e satisfazer as


necessidades quotidianas elementares.

 Reunião de várias famílias.

 Satisfaz necessidades mais complexas (por exemplo defesa). È


Aldeia
governada por formas de poder tribal, que derivam do modelo de poder
paterno.

 Resulta da associação de várias aldeias.

 Promove e assegura a vida boa, a felicidade.


Cidade
 Possui um poder político e não um poder paternal, que eleva o Homem à
condição de cidadão, com poder de discurso, participando na criação de
leis e na política em geral.

Assim, o que legitima a autoridade do estado são as potencialidades oferecidas pela vida em comunidade
organizada.
FILOSOFIA – 10º ANO 10

A resposta dos modernos

JOHN LOCKE (1632 – 1704)

Locke começa por questionar como seria a vida sem Estado, chamando Estado Natural ou Estado de
Natureza a esta situação imaginária.

Estado de Natureza designa a situação hipotética em que os seres humanos viveriam sem leis impostas por
um governo e sem submissão a ninguém, regendo-se apenas pela lei natural, que é o conjunto de leis
estabelecidas por Deus e que todos os seres humanos têm inscritas na sua consciência.

No Estado Natural ou Estado de Natureza:

1. Os seres humanos são livres e iguais, por isso:


 Têm os mesmos direitos;
 Não há qualquer hierarquia entre eles;
 Não há nenhuma autoridade superior à vontade individual e, portanto, ninguém tem o direito
de dar ordens e de subordinar outrem;
 Somente o consentimento voluntário legitima que um indivíduo submeta alguém à sua
autoridade.

2. Todos os indivíduos têm direito à vida, à liberdade e à propriedade.

3. Embora o Estado de Natureza seja um estado de Liberdade, não é um estado de ausência de leis,
pois:
 Os seres humanos devem reger-se pela Lei Natural, instituída por Deus;
 Segundo essa lei, ninguém deve prejudicar a saúde, a liberdade e a propriedade de outrem.
 Os seres humanos estão obrigados a preservar a vida, a sua e a dos outros.

A necessidade de assegurar a protecção da vida, da liberdade e sobretudo da propriedade, determinou a


passagem do Estado Natural à Sociedade Civil.

Sociedade Civil – Comunidade organizada politicamente, visando a realização de valores e fins comuns.

Faltava no Estado Natural administração da justiça. Ninguém tinha poder para garantir o
cumprimento da lei natural, nem existe autoridade para julgar com imparcialidade os transgressores.

Por isso, os indivíduos decidiram abdicar de certas liberdades e celebrar um Contrato Social através
do qual cederam o seu poder ao Estado, incumbindo-o de fazer executar as leis necessárias à
preservação dos direitos de todos. (passagem do Direito Natural ao Direito Positivo)

Contrato Social – acordo entre indivíduos que livremente e de mútuo consentimento, prescindem de certas
liberdades em troca de protecção do Estado.

O abuso de poder por parte do Estado, desvincula os cidadãos do dever de submissão à sua autoridade,
legitimando a desobediência e a rebelião contra o Estado.
FILOSOFIA – 10º ANO 11

A TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS

No mundo em que vivemos, sentimos que a igualdade e a justiça não são respeitadas:

Há crianças que são vendidas pelos pais extremamente pobres a quem tem dinheiro e falta de
escrúpulos para as comprar;
Pessoas cujo rendimento não permite fazer mais que uma refeição por dia;
Jovens que não têm a possibilidade de conseguir a escolaridade básica;
Cidadãos que estão presos por terem defendido as suas ideias.

Perante estes casos surge a pergunta:

Problema 2: Como é possível uma sociedade justa?

Outra pergunta surge desta: Como deve uma sociedade distribuir os seus bens? Qual é a forma
eticamente correcta de o fazer? Trata-se do problema da justiça distributiva. A teoria da justiça de
John Rawls constitui é talvez o contributo mais importante na tentativa de resposta a esta questão.

Rawls defende uma concepção de justiça como equidade: como chegar a um acordo (contrato
social) unânime sobre os princípios que devem organizar as sociedades e acabar com o conflito de
interesses, garantindo uma distribuição equitativa das riquezas?

Este acordo só é possível se os indivíduos se colocarem numa situação de imparcialidade: numa


posição original e sob um véu de ignorância.

A Posição Original é uma situação imaginária. Trata-se de um contrato hipotético para que os
princípios sejam equitativos. Se cada um de nós não souber em que posição se encontra, ou virá a
encontrar-se, será imparcial.

O véu de ignorância pressupõe assim a exclusão de toda a informação sobre as nossas


características e condições sociais e económicas, assim como a raça, o sexo, a religião, os talentos e
sobre os nossos valores e concepções de bem.

Exemplo:

A Margarida faz uma festa de aniversário. Nessa festa, a mãe pede-lhe para partir o bolo, dizendo-lhe que
as fatias serão sorteadas e que cada um dos convidados comerá apenas a fatia que lhe couber no sorteio.
Suponhamos ainda que a Margarida é muito gulosa e, por isso, não quer correr o risco de lhe sair no
sorteio a fatia mais pequena. Como deverá partir o bolo?

È obvio que a melhor estratégia é partir o bolo em fatias iguais, pois garante-lhe que não comerá a fatia
mais pequena. Esta é uma decisão imparcial, equitativa.

O véu de ignorância é um teste intuitivo de justiça:

Se queremos assegurar uma distribuição justa de peixe por três famílias, a pessoa que faz a
distribuição não pode saber a parte que terá;
Se queremos assegurar um jogo de futebol justo, a pessoa que estabelece as regras não pode saber se
a sua equipa está a fazer um bom campeonato ou não.
FILOSOFIA – 10º ANO 12

De seguida, Rawls levanta a questão central: Que princípios seriam escolhidos por detrás deste véu de
ignorância? (Não sabendo como ia ser o amanha, como iria ser a nossa vida, que princípios escolheríamos?)
Aqueles que as pessoas aceitariam contando que não teriam maneira de saber se seriam ou não favorecidas
pelas contingências sociais ou naturais.

Colocados numa posição original, sob o véu de ignorância, os seres humanos escolheriam dois princípios:

PRINCÍPIO DA LIBERDADE IGUAL PARA TODOS

A sociedade deve garantir a máxima liberdade para cada pessoa compatível com uma liberdade igual
para todos os outros.

Assegura as liberdades básicas: liberdade política, de religião, de reunião, de pensamento e de opinião,


liberdade de expressão, etc.; a liberdade da pessoa (direito à integridade pessoal; à propriedade; protecção
face à detenção e prisão arbitrárias.)

Não pode ser violado a favor da utilidade social, por isso, em caso de conflito de interesses, este princípio
tem prioridade.

PRINCÍPIO DA IGUALDADE
A sociedade deve promover a distribuição igual de riqueza

Princípio da diferença Princípio da igualdade de oportunidades

A sociedade deve promover a distribuição igual As desigualdades económicas e sociais devem estar
de riqueza, excepto se a existência de ligadas a postos e posições acessíveis a todos em
desigualdades económicas e sociais beneficiar condições de justa igualdade de oportunidades. No
os mais desfavorecidos. entanto, estas desigualdades devem contribuir para o
benefício de todos.

 Um sistema de ensino pode permitir aos estudantes mais dotados o acesso a maiores apoios se, por
exemplo, as empresas em dificuldade vierem a beneficiar mais tarde do seu contributo, aumentando os
lucros e evitando os despedimentos.

 Os médicos podem ganhar mais do que a maioria das pessoas, desde que isso lhes permita ter acesso a
tecnologia e investigação de ponta, que tornem mais eficazes o tratamento de certas doenças e desde
que esses tratamentos estejam disponíveis para os mais desfavorecidos.

Você também pode gostar