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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E GESTÃO

SALAS ANEXAS DE NAMAPA


CURSO DE LICENCIATURA EM GESTÃO RECURSOS HUMANOS (GRH)
Cadeira de Ética e Deontologia Profissional
Texto de Apoio 1

A ÉTICA
Ética, é uma reflexão sobre o conjunto dos costumes e de comportamentos que
caracterizam a conduta humana. Portanto, a Ética é de ordem teórica, pois investiga os
fundamentos da acção humana sob o ponto de vista da bondade ou maldade, da justiça
ou da injustiça, do correcto ou do incorrecto, do obrigatório ou não e do proibido ou
não. A Ética tem a Moral como seu principal objecto de estudo.

3.1. O que é a Moral?


Moral, é o conjunto de princípios, de regras, de juízos e de valores que por serem
aceites pelos membros duma determinada sociedade, vigoram nesta mesma sociedade,
mesmo antes da reflexão sobre os seus significados, sua importância e sua necessidade,
porque a Moral faz parte da prática humana.

3.2. Quando é que surge a Ética?


A Ética surge quando a situação tomada por habitual perde a sua naturalidade, quando
as normas e as instituições transmitidas de geração em geração, perdem a sua validade e
possibilidade de esclarecimento.
A Ética aparece para submeter as normas sobre a acção do homem, as concepções sobre
valores e as instituições sócio – políticas, a uma revisão da qual pode resultar a
legitimação da sua manutenção ou argumentação sobre a necessidade da sua adaptação
às novas circunstâncias ou ainda à sua rejeição.
Com efeito, a Homem vive hoje numa época caracterizada pela desorientação em
relação as normas de convivência social, pela confusão em relação aos valores, pela

Elaborado por: Ofane


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incapacidade de tomar decisões claras sobre os problemas e desespero em torno das
questões essenciais para a vida.

Kant, afirma ser próprio da Filosofia as questões psicológicas; daí surge como pergunta:
“ Que devo fazer?”; esta constitui uma pergunta essencial para a Ética, com efeito,
ouvimos expressões como essas: Por que razão procedeste assim? Isso não é razão
para procederes deste modo? Quem teve razão? ‘Fulano’ perdeu toda a razão que
tinha? Atingir a idade da razão? Não é possível, perdeu a razão em consequência do
desastre?

A pergunta ‘Que devo fazer?’, Supõe um agir na dimensão própria do homem, isto é,
não impedido de forças externas (coacção física), e nem determinismos internos
incontroláveis, algo mais forte do que é ... mas com Razão.

3.3. Actos Humanos

“Os Actos Humanos são aqueles que procedem da vontade deliberada do homem, isto é,
aqueles actos praticados pelo homem com o Conhecimento e com livre Vontade” (S.
Tomas de Aquino).

Conhecimento: quando o homem conhece o sujeito que delibera, se pode ou se deve


tender ou não por ele.
Vontade: uma vez conhecido o objecto, a Vontade tende para ele porque o deseja, ou
afasta dele rejeitando-o.

Só quando se intervêm os dois factos (Conhecimento e Vontade), é que o Homem é


senhor dos seus actos, e só nos Actos Humanos cabem a valorização (vontade) moral.
Mas nem todos os actos que o homem realiza são totalmente actos humanos, visto que
podem ser:

a) Actos meramente Naturais: aqueles que procedem das potências vegetativas e


sensitivas, sobre as quais o homem não tem domínio voluntário algum e são

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comuns em todos os animais. Por exp.: nutrição, respiração, sentir dor, sentir
prazer, circulação de sangue, percepção auditiva e visual, etc.

b) Actos do Homem: são aqueles que procedem do homem, mais que a falta ou que
a advertência (caso dos dementes, das crianças pequenas ou a distracção total),
que a voluntariedade (por coacção física), etc., que é uma outra (quem está a
dormir).

3.3.1. Divisão dos Actos Humanos

Pela sua relação com a moralidade, os actos humanos podem ser:


 Bom (Lícito): se for conforme a lei moral. Por exp.: dar esmola.
 Mau (Ilícito): se for contrário a lei moral. Por exp.: mentir.
 Indiferente: quando nem é contrário e nem conforme a lei moral. Por exp.
Andar.

Pela relação, em razão das faculdades que aperfeiçoam, podem ser:


 Interno: que é realizado mediante as faculdades internas do homem, no seu
entendimento, memória ou imaginação. Por exp.: desejo de algum futuro;
recordação de uma acção passada.
 Externo: quando intervêm também os órgãos e sentidos do corpo. Por exp.:
ler.

3.3.2. Elementos do Acto Humano

O Acto Humano, está constituído por dois fundamentais elementos, a saber:


 Advertência (ligada à inteligência): o homem percebe a acção que vai
realizar ou que já está a realizar. Pode ser Plena ou Semi – plena. No
entanto, não basta ter advertência para poder ser moralmente imputado, é
ainda necessária a advertência da relação do acto com a moralidade.

 Por ex.: quem tem a consciência de estar a comer, mas sem reparar que é dia
de abstinência, pratica um acto que apesar disso não é imputável.

Elaborado por: Ofane


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Todo o acto humano requer necessariamente advertência, de tal modo que
um homem que actue tão distraidamente e que não repare minimamente o
que faz, não realiza um acto humano. A advertência tem de ser dupla: do
acto em si e da moralidade do acto.

 Consentimento: é o que leva o homem a querer praticar esse acto


previamente, com êxito, procurando com isso, um fim. Trata-se de um acto
voluntário consentido, que pode ser directo ou indirecto, consoante a sua
realização em pleno ou em semi – pleno consentimento directo ou indirecto.

Pode-se também, verificar o Acto Humano Voluntário Indirecto, que concerne


os seguintes elementos:
i) Que a acção seja boa em si, mesma ou pelo menos indiferente.
ii) Que o efeito imediato, o primeiro que se produz seja o bom efeito, e o mau
sejam não mais que a consequência necessária.
iii) Que a pessoa ponha-se o fim bom, isto é, o bom – efeito e não o mau somente
permitido.
iv) Que haja motivos proporcionados para permitir o efeito mau. Aqui sublinha-se
o aspecto do Mal necessário (por exp.: a amputação da perna para que viva o
afectado de certa doença; uma senhora grávida com dificuldades de parto, com
duas conclusões: ou morre o filho ou morre ela).

3.4. Os Valores

Designa-se Valor, o ser considerado valioso. Se for uma pessoa, é a que tem
muitas habilidades, qualidades, virtudes ou dotes. No sentido abstracto, exprime o valor
da coisa como a beleza e a bondade que em si encerra. Rigorosamente, não se define o
Valor, apenas se descreve mais ou menos fielmente.

3.4.1. Características dos Valores

Estabilidade: o valor é algo com um carácter estimável, amável e agradável.

Elaborado por: Ofane


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Beleza (Estética): o valor é algo com um aspecto belo e apreciável.
Bondade: o valor é algo que em si encerra o bem, por isso o valor é agradável, belo
e bom. O valor merece existir, ser procurado, respeitado, assumido e vivido.

Ao longo destas características, pode-se localizar vários Tipos do Valor, a saber:


i) Valores Morais/ Éticos: matrimónio legal; respeito; pudor (sentimento de
vergonha), etc.
ii) Valores Jurídicos: direitos, deveres advocacia, etc.
iii) Valores Religiosos: religião; caridade e esperança.
iv) Valores Económicos: comércio; marketing; dinheiro; etc.
v) Valores Culturais: iniciação tradicional à vida adulta; hospitalidade;
solidariedade; situação de vida; língua; canções e danças.
vi) Valores Sociais: educação, comunicação social; política e justiça.
vii) Valores Estáticos: pintura; esculturas e arquitectura.

Há valores ou bens que podem atrair consigo certos males, quando são
inconvenientemente geridos. A televisão, por exemplo, é um valor mas se forem
exibidos programas eróticos, violentos, etc., deixa de ser considerando um valor, por
causa dos resultados nefastos que irão repercutir.

3.4.2. Avaliação das qualidades dos Valores

Hierarquia dos Valores: há diferenças entre os valores, não só no seu tipo e na


sua dimensão, mas também na sua qualidade. A escadaria dos valores conforme os seus
graus de ser ou não perfeitos.

Exemplos:
 A vida é um valor e o dinheiro também o é, mas são diferentes na qualidade
e no grau, e o homem é chamado a saber escolher em muitos casos os que
têm mais valor.
 O corpo humano e o dinheiro, ambos são valores. O que escolher? Não se
deve vender o corpo humano e nem algum dos seus órgãos.

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 A música e o estudo são valores. O que escolher? De facto, há coisas
importantes mas não necessárias e também há coisas necessárias mas não
urgentes.

3.4.3. Valores e Contra – Valores

 O belo é um valor, mas quando é estragado fica feio.


 O agradável quando é transviado torna-se desagradável.
 O bem quando extraviado torna-se mal.
 A vida é um grande valor, mas quando ultrapassada fica morte.
 O amor é um valor, mas quando estragado torna-se ódio.
 A disciplina e o respeito, são grandes valores sociais, mas quando
estragados, tornam-se uma desordem, quer seja na escola, na família, na
comunidade fraterna ou mesmo na Sociedade, em geral.

Os valores são algo delicado, mas ao mesmo tempo singelo, razão pela qual é
preciso ter bastante cuidado, para que não hajam promiscuidades neste aspecto. A vida é
a base do valor; a pessoa é um valor e tem valor e por isso somos convidados a vermos
não simplesmente o corpo, mas principalmente a pessoa.

ÉTICA FUNDAMENTAL (ÉTICA INDIVIDUAL E SOCIAL)

Os elementos da Ética Fundamental são a Ética Individual (constituída por: Amor,


Ódio, Indiferença, Paixões, Emoções e Sentimentos) e a Ética Social (constituída por:
Liberdade, Responsabilidade, Mérito, Virtude e Sanção [da Consciência, da opinião
pública, civil, natural e sobre- natural]).

Conceitos

Amor: autêntica justiça só pode realizar-se de facto se existe verdadeiro Amor ou a


Solidariedade entre os irmãos. Só este tipo ou espírito de Solidariedade fraterna pode
superar todas as discriminações de carácter ético, cultural, religioso e político; ao
mesmo tempo tornará mais eficaz o respeito pelos direitos humanos para além do seu

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reconhecimento formal. Em particular encontrará impulso a formação humana e social
das classes mais desfavorecidas. Será, enfim, o remédio mais eficaz contra o
individualismo e mais eficaz garantia da paz social.

Liberdade (na Ética social): é a ausência de obstáculos sociais e instituições em ordem


ao pleno desenvolvimento das pessoas e das comunidades menores. De um ponto de
vista positivo, é a disponibilidade de meios naturais e morais (Educação e Cultura) para
realizar este desenvolvimento autónomo dentro de um contexto social de paz e
segurança. A Liberdade exige auto – determinação política dos cidadãos, isto é, direito a
constituir e a designar livremente os governantes, como também a resistir com meios
justos ao abuso de poder. A nível institucional, exige estruturas que permitam aos
cidadãos a participar responsavelmente sem discriminação na organização política
fundamental da sociedade, na acção do Governo e na eleição dos deputados.
Consequentemente, exige a recusa das formas políticas ditatoriais ou totalitárias
enquanto incompatíveis com a debilidade humana. Tudo isso comporta uma constante e
intensa formação de todos os cidadãos.

Responsabilidade: este termo é bastante recente na Filosofia, datando apenas de 1787,


introduzido na Alemanha. Etimologicamente, o termo deriva do Latim “Spondere” –
que significa: Comprometer perante alguém, em retorno, “Re”.

i) Natureza da Responsabilidade: a Responsabilidade pode definir-se como


sendo a dimensão relacional da obrigação. Ter responsabilidade, ser
responsável é, portanto, estar obrigado, mas não a isto ou aquilo
determinadamente, ter esta ou aquela obrigação, tal seria a dimensão
‘objectiva’ da obrigação. A responsabilidade consiste formalmente à
obrigação, aquela perante quem se é responsável, e se tem de prestar contas,
daí que em primeira instância, aquele com quem o sujeito se comprometeu,
por qualquer título (Por exp.: - Por contrato). A Responsabilidade é a
capacidade de responder às exigências da vida, de dar resposta adequada às
situações que se nos apresenta.
ii) Elementos constituintes da Responsabilidade: o Auto – respeito (a pessoa
age sabendo que é ela mesma a autora dos seus actos, quer dizer, que a acção

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é uma iniciativa livre, própria e consciente), a Responsabilidade como
diálogo Vertical e Horizontal (dando uma abertura a dimensão divina e
comprometendo-se deste modo com os homens [comunidade]) e a
Responsabilidade como o Dever, Função à Realidade (a Responsabilidade
tem origem no dever e refere-se a sua realização, portanto, esta compreende
uma estrutura objectiva que é o conjunto das realidades, materiais e
espirituais entendida e pressuposta tanto da parte de quem fala como da parte
de quem responde. A ausência destas qualidades implica necessariamente a
falta de responsabilidade).
iii) Modificadores da Responsabilidade: (Voluntariedade, Conhecimento e
Consentimento).
A Voluntariedade é plena ou perfeita se o agente tiver conhecimento pleno e
consentimento pleno, isto é, a voluntariedade torna-se imperfeita se qualquer coisa
faltar no conhecimento e no consentimento, ou em ambos.
O Conhecimento Referido enfraquece-se quando se tornam presentes os seguintes
elementos: Ignorância (é a falta de conhecimento que alguém devia ter; ou seja, é a
falta do saber); Erro (moralmente falando, é o enfraquecimento do Conhecimento.
O Erro tem sua origem nas opiniões erradas, preconceitos, convicções erradas, e
tudo isso pode ter origem na educação deficiente, más companhias, maus filmes e
livros, etc. Trata-se de uma influência negativa, que extravia e deve ser vencida
através de investigações e experiência).
O Enfraquecimento do Consentimento livre requerido
Paixões ou Concupiscência = é o movimento de apetite sensível produzido pelo
bem ou mal como é compreendido pela imaginação. Existem dois tipos de Paixões,
a saber:Concupiscível [amor, ódio, desejo e alegria]; Irascível [cólera, zanga,
coragem, medo, esperança e desespero]; essas Paixões classificam-se em:
Antecedentes (encontram-se antes da acção e induzem a pessoa a agir se pensar) e
Consequentes (seguem a determinação livre da vontade do agente e são livremente
aceites e consentidas ou livremente despertadas ou alimentadas).
Medo e Pressão Social = é o recuo da mente por causa de um perigo iminente. Uma
necessidade intuitiva, por exemplo: Segurança, Concorrência, Estima, Abrigo, etc.,
necessidades que raramente surgem no conhecimento, levam pressão sobre pessoas

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e fazem – nas conformar com as opiniões e comportamentos predominantes, mas o
Medo não cancela a capacidade de escolher.
Violência = é uma influência compulsiva que pesa sobre alguém, contra a sua
vontade, pelo agente exterior. O agente está exterior à vontade e não
necessariamente extrínseco ao corpo ou a realidade psíquica da pessoa. Porque a
Violência, pode ser provocada pelas condições patológicas, enquanto a resistência
externa da vontade é necessária contra – violência, a resistência interna nem sempre
é necessária, com efeito, resiste-se externamente se houver a esperança de vencer o
agente.
Disposições e Hábitos = ao seguir frequentemente uma inclinação que lhe pertença
(da sua Natureza) uma pessoa adquire energia suficiente para desempenhar a acção
com facilidade. A inclinação torna-se forte e assim finalmente cresce para tornar-se
Hábito ou Disposição, que é a facilidade e prontidão de agir numa determinada
maneira adquirida através de actos repetidos. O Hábito se destingue das diferentes
disposições, pois é a qualidade estável que dispões o sujeito, é uma maneira de ser
plenamente que qualifica o sujeito, dispondo-o para o mal e para o bem, segundo a
sua natureza, pois o Hábito pode ser bom ou mau. O homem não está sem
responsabilidade para o desenvolvimento e retenção dos seus bons ou maus hábitos.
De facto, o hábito, enfraquece o intelecto e a Vontade, na situação concreta, como
acontece com a paixão. Por isso existem Hábitos Positivos (Virtude) e Hábitos
Negativos (Vícios).

Elaborado por: Ofane


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