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BIOSSEGURANÇA
APLICADA
Wilian Bonete
Ética versus moral
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste texto, você irá percorrer as principais discussões acerca da ética e
da moral. Você irá descobrir se, de fato, há essa distinção e em que ela
importa.
O conceito de ética
Moral e ética são conceitos habitualmente empregados como sinônimos, ambos
se referindo a um conjunto de normas e condutas obrigatórias. Isso ocorre,
e de maneira aceitável, porque temos dois vocábulos herdados: um do latim
(moral) e outro do grego (ética), duas culturas antigas que assim nomeavam
o campo de reflexão sobre os “costumes” dos seres humanos, sua validade e
legitimidade (TAILLE, 2007).
Nesse momento, vamos nos deter especificamente ao conceito de ética.
A partir dos textos de filósofos como Platão e Aristóteles, é possível dizer
que a ética (ou filosofia moral) inicia-se com Sócrates. Percorrendo as ruas de
Atenas, na Grécia, Sócrates questionava aos jovens ou velhos o que eram os
valores nos quais acreditavam e que respeitavam ao agir. Assim, ele perguntava:
o que é a coragem?; o que é a justiça?; o que é a piedade?; e o que é amizade?
A elas, os atenienses respondiam dizendo serem virtudes. Sócrates voltava a
lhes indagar: o que é virtude? Os atenienses retrucavam: é agir conforme o
bem. E Sócrates questionava, ainda: o que é o bem? (CHAUÍ, 2000).
Sócrates embaraçava os atenienses porque os forçava a questionar a origem
e a essência das virtudes (valores e obrigações) que julgavam praticar ao seguir
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os costumes de Atenas. Como e por que sabiam que uma conduta era boa ou
má, virtuosa ou viciosa? O que eram e o que valiam realmente os costumes
que lhes haviam sido ensinados?
Dirigindo-se aos atenienses, Sócrates lhes perguntava qual o sentido dos
costumes estabelecidos, quais as disposições de caráter (características
pessoais, sentimentos, atitudes, condutas individuais) que levavam alguém
a respeitar ou a transgredir os valores da cidade, e por quê. Desse modo, con-
forme Chauí (2000), as questões socráticas inauguram à ética porque definem
o campo no qual os valores e obrigações morais podem ser estabelecidos, ao
encontrar seu ponto de partida: a consciência do agente moral. É sujeito ético
moral somente aquele que sabe o que faz; que conhece as causas e os fins de
sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos
valores morais.
Nessa perspectiva, a ética pode ser vista como o conjunto de ideias que
orientam a humanidade na busca de uma convivência satisfatória, um conjunto
de normas e princípios a partir dos quais os seres humanos procuram elaborar
distinções entre o bem e o mal, o certo e o errado, para que haja uma melhor
convivência em sociedade (ALLES, 2014).
A ética regulamenta as ações do convívio humano e também configura-
-se como um conjunto de conhecimentos e teorias, expressos em princípios
e normas, de que serve a vontade humana para bem conduzir as suas ações.
Essas ações, por sua vez, voltam-se para a sobrevivência e a realização do
ser humano como ser complexo e dotado de razão, sentimentos e emoções.
Desse modo, a ética objetiva tornar a vida possível e passa a ser a mediação
necessária para que a humanidade possa se aproximar da utopia sonhada em
termos de convivência (ALLES, 2014).
Chauí (2000, p. 342) destaca que, se examinarmos o pensamento filosófico
dos antigos, é possível observar que a ética se firma em três grandes princípios
da vida moral:
O conceito de moral
A palavra moral é proveniente do termo em latim Morales, que significa
“relativo aos costumes”, aquilo que se consolidou como sendo verdadeiro,
do ponto de vista da ação. A moral pode ser concebida como um conjunto de
regras aplicadas no cotidiano e que são utilizadas como elementos norteadores
dos julgamentos sobre o que é certo ou errado, moral ou imoral, bem como
as suas ações. A moral é, ainda, construída mediante os valores previamente
estabelecidos pela própria sociedade e os comportamentos aceitos e passíveis
de serem questionados pela ética (SILVA, 2016).
Chauí (2000) nos fornece vários exemplos para pensarmos a questão da
moral. Vejamos alguns:
Esses relatos de situações apontadas por Chauí (2000), dentre outras mais
dramáticas ou menos dramáticas, surgem sempre em nossas vidas cotidianas.
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Ética
Moral
Para conhecer um pouco mais sobre a ética e a moral em outros autores clássicos, leia
o texto: “Considerações acerca da ética e da consciência moral nas obras de Freud,
Klein, Hartmann e Lacan” (JUNQUEIRA; COELHO JUNIOR, 2005).
Dessa forma, é preciso escolher quais são os deveres, definir que moral
condiciona a busca da felicidade. Nesse sentido, Taille (2007) destaca três
virtudes morais: justiça, generosidade e honra. A premissa que envolve esses
três conteúdos é o imperativo categórico kantiano de que existe uma dignidade
inerente a cada ser humano e que ela deve ser estritamente respeitada.
A primeira virtude, então, é a justiça, a mais racional de todas as virtudes,
segundo Piaget. Um dos elementos que a inspira é o princípio de igualdade.
Todos os seres humanos, independentemente de sua origem social, cognitiva,
dentre outros, têm o mesmo valor intrínseco e, logo, não devem usufruir de
nenhum privilégio. Por exemplo, é injusto negar o direito de voto a analfabetos,
uma vez que tal negação implica em colocá-los como cidadãos de segunda
ordem. Outro elemento essencial para se pensar a justiça é a equidade, o que
implica em tornar iguais os diferentes. Em outras palavras, os seres humanos
apresentam diferenças entre si, e elas devem ser consideradas no intuito de que,
no final, a igualdade entre todos os seres humanos seja realizada (TAILLE,
2007).
A segunda virtude diz respeito à generosidade. Essa virtude consiste no
fato de se dar ao outro o que lhe falta, sendo que essa falta não corresponde
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Para um maior aprofundamento sobre o tema da ética e da moral, leia a obra “Ge-
nealogia da Moral” (NIETZSCHE, 2017), escrita originalmente em 1887. Essa obra foi
considerada polêmica por contestar a ideia de que a razão teria o poder de intervir
sobre os desejos e as paixões, identificando a liberdade com a plena manifestação
do desejante e do passional.
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ALLES, L. Ética a partir dos paradigmas. In: RUEDELL, A. (Org.). Filosofia e ética. Ijuí:
Unijuí, 2014. p. 93-104.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 10. ed. São Paulo: Ática, 2000.
CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e
ética. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2015.
CORTINA, A. Ética. São Paulo: Loyola, 2005.
COSSETIN, V. Teorias éticas. In: RUEDELL, A. (Org.). Filosofia e ética. Ijuí: Unijuí, 2014.
p. 104-110.
GONTIJO, E. D. Os termos “ética” e “moral”. Mental, Barbacena, ano 4, n. 7, p. 125-135,
nov. 2006.
JUNQUEIRA, C.; COELHO NETO, N. E. Considerações acerca da ética e da consciência
moral nas obras de Freud, Klein, Hartmann e Lacan. Psychê, São Paulo, ano 9, n. 15,
p. 05-124, jan./jun. 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psyche/
v9n15/v9n15a09.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2017.
NIETZSCHE, F. Genealogia da moral. Ed. de Bolso. São Paulo: Cia das Letras, 2017.
PEDRO, A. P. Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades em torno de
um conceito comum Kriterion, Belo Horizonte, n. 130, p. 483-498, dez. 2014.
SILVA, D. A diferença entre ética e moral. [S.l.]: Estudo Prático, 2016. Disponível em: <
https://www.estudopratico.com.br/qual-diferenca-entre-etica-e-moral/ > Acesso
em: 17 jul. 2017.
TAILLE, Y.. Ética e moral: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Armted, 2007.
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Leituras recomendadas
CAREL, H.; GAMEZ, D. Filosofia contemporânea em ação. Porto Alegre: Artmed, 2008.
HESSEN, J. Filosofia dos valores. Coimbra: Almedina, 2001
KANT, E. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
MARCONDES, D. Iniciação à filosofia: dos pré-socráticos à Wittgenstein. 6. ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos à Wittgenstein. 2. ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
RACHELS, J.; RACHELS, S. A coisa certa a fazer: leituras básicas sobre filosofia moral. 6.
ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
RACHELS, J.; RACHELS, S. Elementos de filosofia moral. Porto Alegre: AMGH, 2013.