Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Manual de Cidadania
Manual de Cidadania
2º ANO : Cidadania
CÓDIGO ISCED1-GI06
TOTAL HORAS/ 2
SEMESTRE
CRÉDITOS (SNATCA) 5
NÚMERO DE TEMAS 8
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e contêm reservados
todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou
outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Aberta UnISCED).
Elaborado Por: Jorge Samuel Litango, Mestrado em Gestão Estratégica de Recursos Humanos
3
ÍNDICE
6
Objectivos Gerais
Objectivos Específicos
Páginas introdutórias
• Um índice automático.
• Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer
para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia
esta secção com atenção antes de começar o seu estudo,
como componente de habilidades de estudos.
8
Conteúdo deste módulo
Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por
sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou
simplesmente unidades. Cada unidade temática se
caracteriza por conter uma introdução, objectivos,
conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de
autoavaliação, só depois é que aparecem os exercícios de
avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes
características: Puros exercícios teóricos, Práticos e
actividades práticas algumas incluído estudo de caso.
Outros recursos
A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED,
pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto
Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu
processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos
didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar.
Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro
de recursos mais material de estudos relacionado com o seu
curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD.
Para além deste material físico ou electrónico disponível
na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital modelo
para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos.
9
Auto-avaliação e tarefas de avaliação
Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se
no final de cada unidade temática.
As tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-
avaliação. Uma parte das tarefas de avaliação será objecto
dos trabalhos de campo a serem entregues aos
tutores/docentes para efeitos de correcção e
subsequentemente nota. Também constará do exame do fim
do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões
Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre
determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de
natureza didáctico - Pedagógica, etc., sobre como deveriam
ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas
observações que, em gozo de confiança, classificamo-las
de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado.
Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas
margens das folhas. Estes ícones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.
10
bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais
esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado
aos estudos, procedendo como se segue:
11
Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler
e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, no módulo.
12
decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras
actividades.
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será
uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado não conhece ou não lhe é familiar;
Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página
trocada ou invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR),
via telefone, SMS, Email, se tiver tempo, escreva mesmo uma
carta participando a preocupação.
13
se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.
14
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e
os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
15
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira.
16
• Estabelecer a diferença entre a cidadania e a ética.
17
TEMA II: NOÇÕES DE ÉTICA E DA CIDADANIA
Unidade2.1: Ética
Ao terminar esta unidade, deveras ser capaz de:
• Caracterizar o termo ético e a sua reflexão;
• Definir a ética e moral;
• Identificar as formas éticas mais usadas;
• Analisar a seguinte pressão: pensar a ética è discutir a razão de ser da
escolha de um comportamento em detrimento de outro.
18
individual de cada indivíduo guiar a sua vida como bem entender.
Discutir a questão ética é, portanto, um desafio.
Vivermos hoje em uma sociedade pluralista, cada vez mais
centrada na satisfação das necessidades individuais de bemestar.
Para alguns, essa pluralidade revela uma crise ética, pois os
valores deixam de ter aplicabilidade universal, dada a velocidade
com que a realidade se modifica. Para outros, vivemos em uma
democracia que permite justamente a expressão de modos
particulares de viver. Esse contexto, a reflexão ética se torna
bastante oportuna, pois ela vai pensar o nosso tempo, nossos
valores e a razão de ser da escolha de nossas condutas que
envolvem, directa ou indirectamente, a colectividade em que
estamos inseridos.
19
dimensão individual. Enquanto a dimensão social, costume, a
ética traduz princípios e normas dos actos que irão influenciar o
ethos como hábito. Diz respeito ao conjunto de regras e normas
destinadas a regular as relações dos indivíduos num determinado
grupo social. Enquanto a dimensão individual, por sua vez diz
respeito ao modo de viver do sujeito ético, cujos hábitos
alimentam o ethos como costume.
20
O estudo da ética implica em investigar os fundamentos e
critérios que determinam o que convém. Nesse sentido, a história
das ideias morais pode ser objecto de disciplina como sociologia
ou Antropologia. A História da ética, por sua vez, se assenta numa
história da Filosofia. Pois busca uma justificativa racional da
ideia e das normas adoptadas, ou seja, procura fundamentar a
razão de terminados costumes para uma determinada
colectividade. Pode dizer-se que a ética é teórica, é reflexão, ao
passo que a moral é prática, é uma forma específica de
comportamento humano.
21
Enfim, a ética é a reflexão que vai orientar, vai dar o sentido em
direcção à realização do ser humano. Pensar a ética é discutir a
razão de ser da escolha de um comportamento em detrimento de
outro. Os critérios que valem em um momento podem não ter
valor em outro, mas a meta é sempre a mesma: ser feliz. Assim,
se a razão de ser da ética é o ser humano, e a finalidade deste é a
felicidade, concluímos que a ética está a serviço da felicidade
humana, do seu bem.
22
para fundamentar o nosso propósito. O conceito de verdade é fio
mediador a partir do qual se pretende descrever a ruptura com o
poder ético greco - medieval e consequente crise da ética a partir
da modernidade. Deste modo, é possível compreender a maneira
com que a reflexão ética nos tempos actuais foi abandonando o
carácter normativo e adoptando um discurso mais psicológico,
mais dirigido ao sujeito ético, livre, autónomo e responsável. Esta
obra se apropria deste evento, que chamamos de personalização
da ética, e dirige-se ao sujeito ético, a quem toma decisão, à
pessoa que pensa porque está a fazer da própria vida. Na segunda
parte procura apontar os meios que possibilidade a construção de
vida feliz. Uma vez colocada a problemática ética dentro de um
contexto maior, cabe agora pensá-la a partir do nosso tempo,
investindo saídas e alternativas, ao invés de lamentar a perda de
estatuto de universidade que não norteava a reflexão ética
clássica.Procuramos, assim clarificar os fundamentos necessários
para que o ser humano, com meio à diversidade do nosso tempo,
organize a sua vida com o propósito de ser feliz, ou mais feliz.
23
realidade. A razão não é capaz de explicar, por exemplo, a nossa
origem no universo.
24
Mesmo se o conhecesse em sua experiência, Deus é indizível,
pois como pode a palavra que é finita, expressar o que por
definição é infinito? Seria como pedir a uma criança que só
domina o conjunto dos números naturais que fizesse operações
com radicais do conjunto dos números radicais. Como
demonstrado a partir desse exemplo, não somos capazes de
apreender a realidade toda, mas este próprio reconhecimento é
uma verdade. Isso significa que, embora não seja possível
conhecer a verdade toda, alguma verdade nos é possível alcançar.
25
possibilidade do conhecimento verdadeiro determinam diferentes
concepções de ética.
26
Na antiguidade clássica, na cidade grega de Atenas, um filósofo
de apelido Platão (428/427-347 a.C, (seu verdadeiro nome era
Aristóles), usou de uma alegoria para ilustrar as suas ideias.
Vamos nos valer dela para discutir o problema do conhecimento e
sua relação com a verdade e a ética. O Mito da Caverna, como é
chamada, é uma história fictícia, que supunha a existência deuma
habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada
de uma aberta para a luz. Estão lá dentro, desde a infância, alguns
homens, algemados de penas e pescoços de tal maneira que só
lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa
eminência, por detrás dele. Entre a fogueira e os prisioneiros, há
um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um
pequeno muro, no género dos tapumes que os homens colocam
diante do público para mostrarem suas habilidade por cima
deles. Ao longo deste muro, passam homens que transportam
toda espécie de objectos. Uns passam falando, outros seguem
calados.
27
julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os lá
de fora. Mas se essa volta à caverna não fosse possível, o
prisioneiro liberto sentiria os olhos doídos e sequer seria capaz de
ver alguma coisa. Precisaria se habituar se quisesse ver o mundo
superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as
sombras, depois disso para as imagens dos homens e dos outros
objectos, reflectidas na água, e por último, para os próprios
objectos.
28
A partir da analogia da caverna, Platão procuro demonstrar que a
verdade é possível de ser conhecida. O conhecimento daverdade
exige que a pessoa se liberte das aparências, do mundo das ilusões
e das sombras e tenha força para vencer as dificuldades do
aprendizado, simbolizadas pela dor nos olhos.
29
para a embalagem pelo mesmo orifício. Esse princípio é o que
Platão chama ou de homologia entre o conhecimento e a verdade.
Se você conhece o bem é impossível não praticá-lo. E se não o
prático é porque não o conhece.
CONDUTA
PRINCÍPIOS ÉTICOS (RESULTADO)
30
Em outra obra de Platão, há uma passagem que ilustra de modelo
normativo de ética. Sócrates estava preso e esperava o dia da sua
condenação, quando Críton, nome que dá título ao diálogo, a
visita e propõe um plano de fuga, Sócrates pondera que a decisão
só poderia ser tomada se estivesse de acordo com o princípio da
justiça. Pela boca de Sócrates, Platão diz: Devemos examinar,
antes de mais nada, se é justo ou injusto sair daqui sem a
permissão dos atenienses, pois se é justo devemos tentá- lo, mas
se é injusto, devemos abandonar a ideia (PLATÃO, 1981).
Sócrates acabou por demonstrar que não seria justo sair da prisão
sem o consentimento da lei. Resultado: foi condenado a morte,
obrigado a beber cicuta. No pensamento de Platão, portanto, o
valor ético, como o bem ou justiça, se impõe de modo imperativo
à condenação, mesmo que as consequências desta acção seja de
modo prejudicial. O resultado da acção se torna secundário em
relação à prioridade que é dada à conformidade com os valores
éticos. Nesse sentido, ser ético impõe sacrifícios.
31
acordo com critério de justiça. Isso significa que apenas os
filósofos tinham o privilégio de serem justos, pois a maioria dos
indivíduos estava presa às ilusões da caverna, incapazes de
distinguir a sombra do objecto que a originou. A certeza era
proporcionada pela razão, ao passo que as dúvidas e a incerteza
eram frutos das opiniões, da discussão sem a fundamentação
racional.
Hoje, este modelo de ética sofre as mesmas críticas que são feitas
ao conceito clássico de verdade. Do mesmo modo que se duvida
da possibilidade de se alcançar a verdade, duvida-se da
possibilidade de se conhecer valores universais que determinem a
acção do sujeito. Usando da analogia com mito da caverna: o que
garante ao cativo que se libertou das correntes que o que ele esteja
vendo lá fora seja realmente o real? Por que não se
32
dizer que estes objectos e indivíduos também sejam sombras de
uma outra realidade?
Modernamente falando, podem ser objectos falando, pode ser
objectos virtuais projectados por computador ou, ainda clones de
ouros seres. Existe realmente a realidade lá de fora, o mundo das
essências, ou a realidade não é nada mais do que as aparências?
33
factos e não a imaginação dos mesmos, pois
muitos conceberam Repúblicas e Principados
jamais vistos ou conhecidos como tendo
realmente existido (MAQUIAVEL, 1985).
34
Para o Maquiavel, portanto, o campo da ética nos moldes gregos
compreende a vida privada. A vida política exige outros
parâmetros para julgar a acção. Ao eleger o resultado como o
critério para o julgamento da acção política, Maquiavel sugere
um modelo de ética que denominamos de ética dos resultados.
Este modelo abre um grande espaço para o relativismo. Enquanto
o princípio ético é universal, a justiça é sempre justiça, os
resultados da acção dependem do contexto. O bem deixa de ser
um valor absoluto, como na ética normativa, e passa a ser um
conceito que varia de acordo com o tempo e a ocasião.
35
circunstâncias se modificam, ele se arruína, visto não mudado o
seu modo de proceder (MAQUIAVEL, 1985).
No que se convencionou chamar de maquiavelismo, os fins
individuais (os fins individuais (vontade de poder, riqueza, por
exemplo) passam a justificar o uso de meios ilícitos (como o
mentira e corrupção). Assim, compartilhamos com a ideia de
Gomes (1969) de que a máxima “ os fins justificam os meios”
não pode ser considerada fora do contexto da reflexão do
florentino:
Em nenhum momento dos dois livros que
estamos abordando (O príncipe e os
comentários…) Maquiavel sugere que os
homens em outras esferas de suas vidas,
devam abrir mão de seus preceitos morais.
É na esfera da política que Maquiavel ao
vê como estes preceitos podem
aprioristicamente auxiliar no exercício do
poder que se exerce sobre homens em
conflito (GOMES, 1989).
36
CONDUTA
(PRINCÍPIOS ÉTICOS RESULTADOS PARA
A COLECTIVIDADE
Fig. 3- A ética dos resultados de Maquiavel
Fonte: (Gomes, 1989).
37
universal, dada a velocidade com
que a realidade se modifica.
a) Indique os aspectos que motivaram a implantaçãoda crise
ética;
b) Estabeleça a diferença entre a ética normativa e a ética do
resultado;
c) Em que circunstâncias surge a ética do resultado.
2. O estudo da ética implica em investigar os fundamentos e
critérios que determinam o que convém.
a) Concorda com a firmação? Fundamenta tendo em conta o
termo ético.
3. É na esfera da política que Maquiavel ao vê como estes
preceitos podem aprioristicamente auxiliar no exercício do
poder que se exerce sobre homens em conflito Gomes,(1989).
Desse modo, parece-nos apropriado dizer que Maquiavel não
era maquiavélico, nem mentor do maquiavelismo. Qual é o
significado da expressão sublinhada.
4. Para o Maquiavel, portanto, o campo da ética nos moldes
gregos compreende a vida privada.
a) Identifica os parâmetros da vida política tendo como base ética
normativa.
38
7. Para outros, vivemos em uma democracia que permite
justamente a expressão de modos particulares de viver.
a) Justifique afirmação acima, tendo em conta o pensamento do
Maquiavel.
8. Razão de ser da ética é o ser humano, e a finalidade deste é a
felicidade, concluímos que a ética está a serviço da felicidade
humana, do seu bem.
9. A felicidade, como experiência de plenitude, é a meta de todo
ser humano.
a) Define a Felicidade.
b) Estabeleça a diferença entre o sofrimento e a felicidade.
c) Identifica os meios que produzem a felicidade.
10. A verdade a cerca da nossa origem é mistério.
a) Concorda com esta? Porquê?
11. Geralmente as pessoas atribuem a Deus a origem de todas
as coisas.
a) Define e caracteriza o Deus.
39
condição de membro de um Estado-nação” (LESSA, 1996) a
conceituação chega à noção da cidadania substantiva, “definida
como a posse de um corpo de civis, políticos e especialmente
sociais” (LESSA, 1996, p. 73).
40
O status de cidadania, inicialmente, era marcado pelos direitos
civis, onde os contratos conferiam liberdade ao indivíduo para
possuir, mas não garantia a efectividade da posse. Numa
passagem Marshall (1967) coloca que o direito à liberdade de
palavra, por exemplo, não adianta se, devido à falta de educação o
indivíduo não tem nada a dizer, ou seja, apenas com a garantia ou
prescrição do direito, não se tem necessariamente a marca da
cidadania nas relações sociais.
41
direitos (civil, político e social) se confundiam porque as
instituições não estavam definidas.
42
dignidade e os direitos inerentes a toda pessoa humana”, assim,
cidadania possui quatro dimensões que podem resumir sua
essência: a dimensão social e económica, no que diz respeita. Às
protecções ao trabalho, ao consumidor, assistência aos
desamparados, face ao projecto económico neo-liberal instalado;
a dimensão educacional, onde “ninguém pode ser excluído dela,
ninguém pode ficar de fora da escola e ao desabrigo das demais
instituições e instrumentos que devem promover a educação do
povo, dimensão existencial, onde “a cidadania é condição para
que alguém possa, realmente, ser “uma pessoa”
Marshall (1967) estabelece que “cidadania é um status concedido
àqueles membros integrais de uma comunidade”. Há uma espécie
de igualdade humana básica associada com o conceito de
participação integral na comunidade, a qual não é inconsistente
com as desigualdades que diferenciam os vários níveis
económicos na sociedade. Em outras palavras, a desigualdade do
sistema de classes sociais pode ser aceitável desde que a
igualdade de cidadania seja reconhecida.
43
Cidadania, Correia (2002) está estreitamente ligada à noção de
direitos humanos, e é na luta pela implementação de seus direitos
que o homem se faz cidadão, no eixo que estabelece a igualdade,
o acesso a direitos, a participação no meio social.
44
população aumentou e, o processo de globalização num modelodo
liberalismo económico passa a mostrar cada Estado, uma
perspectiva global, ignorando suas fronteiras políticas.
45
também trava a luta para o respeito à identidade cultural. Luta que
deve ter vistas ao multiculturalismo emancipatório, à justiça
multicultural, aos direitos colectivos, às cidadanias plurais, no
dizer de Santos.
Defendendo a ideia de que cidadania deve ocorrer no marco da
emancipação e não da regulação que numa sociedade liberal está
presente a tensão entre a subjectividade individual dos agentes na
sociedade civil e a subjectividade monumental do Estado, onde,
o mecanismo que vem a regular essa tensão é o princípio da
cidadania, de um lado, limitando as funções do Estado e por outro
lado, tornando universais e iguais as particularidades dos sujeitos,
de forma a realizar a regulação social.
46
múltiplas culturas, as várias expressões de uma sociedade, o que,
para uma teoria política liberal, ocorre a necessidade da
redefinição de cidadania, estabelecida com base em noções
inclusivas, onde há o respeito às diferentes concepções
alternativas da dignidade da pessoa humana e o reconhecimento
da pluralidade de culturas.
47
campo este composto pelos movimentos sociais e organizações
sociais que compõem a esfera pública de interesses colectivos.
48
Humanos apenas para consumo interno”, ou seja, internamente os
Direitos Humanos são reconhecidos, protegidos e respeitados;
externamente, nas relações com países dependentes, o
reconhecimento, a protecção e o respeito é para os interesses
económicos e militares, que podem perfeitamente justificar
violações de direitos humanos, ocorrendo neste caso uma
contradição.
49
a cidadania democrática, a prevalência dos direitos humanos
(com fins emancipatórios).
50
efectivação da garantia de seus direitos mesmo que desigual na
relação social, para que, possa igualmente participar.
51
Sociedade Civil numa perspectiva de democracia, enfrentando a
desigualdade e a exclusão, postos na produção da vida social, na
luta por direitos, para que essa cidadania se efective e não fique
apenas como prescrição de um Estado intitulado Estado Social
Democrático de Direito.
52
o espaço e a construção social deste, e suas futuras implicações.
No caso específico das autoridades tradicionais, e do seu papel na
administração e gestão local, importa compreender as
características desta forma de poder e problematizar se a mesma
constitui uma oposição tradicional ao poder moderno do Estado.
Neste tema a atenção centra-se, numa primeira fase, no percurso
de alguns conceitos em Moçambique; num segundo momento
procura-se analisar o impacto da implantação do Estado colonial
moderno sobre o complexo sociopolítico que se aglomera sob a
designação de autoridades tradicionais, para se procurar
interpretar, numa terceira parte, os dilemas e opções que se
colocaram ao Estado moçambicano após a independência, em
relação a estas autoridades, com ênfase na temática da resolução
de conflitos. Através dos múltiplos sentidos da categoria
tradicional, procura-se investigar como as fronteiras entre poderes
e instituições foram concebidas e continuamente redefinidas por
autoridades coloniais, antropólogos, chefes e elites locais,
procurando identificar, nos diferentes discursos sobre autoridade
e legitimidade, pontos de apoio e referência que têm alimentado e
justificado a diversidade de situações presentes nos nossos dias.
53
impossível, assumir a autoridade tradicional como uma estrutura
única e homogénea, ao mesmo tempo que chama a atenção para
os impactos que decorrem do facto de se ignorar a presença destas
autoridades.
54
estruturas socialmente sancionadas. Ou seja, como Boaventura de
Sousa Santos (2003) aponta, as representações sociais de tempos
e origens referentes à dicotomia tradicional - moderno são difíceis
de identificar. Qualquer opção reflecte, necessariamente, uma
determinada escolha, introduzindo elementos de distorção na
análise. Consoante as diferenças de poder entre os grupos sociais
que sustentam cada um dos pólos de dicotomia, tanto pode ser o
poder tradicional uma criação do moderno, uma criação do
tradicional.
55
direito formal, passando as diferentes formas de regulação social
que existiam para além do direito oficial e colonial a ser descritas
como justiça tradicional, exilada do sistema oficial de justiça.
56
pós-colonial do que qualquer um de nós imagina. E as suas
dinâmicas continuam a moldar a sociedade pós-colonial” (1996).
As relações entre a autoridade colonial e as outras fontes de poder
político, não sendo simétricas, porque marcadas por uma relação
de poder desigual, apontam, de facto, para a presença de diálogos,
mútuas interferências e apropriações, que marcam e estruturam a
especificidade do Moçambique contemporâneo.
57
controlo político. O desdobrar das múltiplas formas sobre as
quais as culturas políticas contemporâneas se têm forjado (querno
período colonial, quer após a independência) deverá ser analisado
de modo a reconhecer quais as funções do Estado colonial que
permanecem no Moçambique actual.
58
A etnicidade, o direito tradicional e as autoridades tradicionais
representam, de facto, a extinção dos elementos pré-coloniais
intactos africanos. Num contexto de intervenção colonial mais
forte, como é o caso dos espaços urbanos, deveriam ter deixado de
existir ou deveriam transformar-se apenas em elementos em vias
de absorção pelas normas da modernidade. Reconhecendo as
diferenças de poder entre o colonizador e o colonizado, qualquer
análise das dinâmicas dos encontros entre ambos detecta linhas
de influência e de interacção, ou seja, o aparecimento de novos
momentos culturais. Procurando ultrapassar o esquema simplista
das categorias binárias, Cooper (1996) apela a uma leitura
complexa deste encontro colonial, do qual resultou uma vasta
zona de contacto, um espaço de inteligibilidade e interacção entre
colonizadores e colonizados, repleto de momentos de resistência
e de adaptação às intervenções coloniais, dando azo à emergência
de ‘novas’ formas de autoridade e representação.
59
No caso português, a implantação de um sistema colonial
moderno, em finais do século XIX, significou uma mudança
radical da situação jurídica da maioria dos habitantes dos espaços
coloniais ultramarinos africanos, assente na radicalização da
cidadania. A partir de então assistiu-se a uma dissociação entre o
indígena (dotado de identidade étnica, e portanto garantindo
apenas direitos privados, específicos de um dado grupo) e o
cidadão (privilégio dos civilizados, garantido pelo direito público
colonial). Uma análise da separação racionalizada entre cidadão e
indígena é central para compreender a constituição das categorias
coloniais através de um regime muito preciso de direitos e de
obrigações.
60
e súbdito indígena (nativo, nacional) das colónias. Apesar da
pouca produção académica incidindo sobre a formatação do
sistema colonial português na viragem para o século XX, este
período é matricial para compreender o surgimento de umsistema
de administração indirecta dos indígenas, à imagem do que
acontecia nas colónias vizinhas de Moçambique.
61
Denunciando o assimila ionismo ingénuo que grassava na época
liberal, este político defendia abertamente a separação de direitos
entre indígenas africanos e cidadãos portugueses:
62
Pois homens de usos muito diferentes, de instintos muitas vezes
antagónicos, de civilizações muito diversas, podem considerar de
igual modo a lei, que a todos se aplica indistintamente? O que ela
tem, para uns de bem, de moral e de justo, encerra para os outros
de injusto, de imoral e de nocivo, e a igualdade da lei produz a
maior desigualdade possível de condições, perante ela. Por
enquanto, é preciso, nas nossas possessões, a existência de, pelo
menos, dois estatutos civis e políticos: um europeu e outro
indígena. Não quer isto dizer que seja interdito a todos os
indígenas o estatuto europeu, mas isso depende da sua instrução
e dos seus hábitos.
63
O poder destas autoridades próprias exigia uma clara separação de
direitos entre indígenas (súbditos) e cidadãos (colonizadores). A
identidade de cada um estava fixada nos documentos oficiais,
verdadeiros curricula vitae dos seus detentores: a caderneta
indígena para os negros, naturalizando- o pela sua pertença ao
mapa étnico de Moçambique; para os não - indígenas, o
passaporte ou qualquer outro documento de cidadão, contendo
informações sobre o seu espaço de origem natural de
Moçambique (equivalente a branco de segunda para os nascidos
em Moçambique ou noutros espaços coloniais) ou europeus para
o caso dos portugueses da metrópole.
64
As várias versões que este estatuto conheceria, até ser abolido em
1961, insistiram sempre na definição, de modo radical, da ideia
de indígena, a quem eram aplicados os “costumes privados das
respectivas sociedades”. Neste sentido, estes estatutos vão insistir
repetidamente na definição legal do indígena, “os indivíduos de
raça negra ou seus descendentes que, tendo nascido ou vivendo
habitualmente nas colónias, não possuíssem ainda a ilustração e os
hábitos individuais e sociais pressupostospara a integral aplicação
do direito público e privado dos cidadãos portugueses”. Os
indígenas regiam-se “pelos usos e costumes próprios das
respectivas sociedades”, sendo “a contemporização com os usos
e costumes limitada pela moral, pelos ditames da humanidade e
pelos interesses superiores do livre exercício da soberania
portuguesa”.
65
condição do colono. Esta distinção era simples de explicar.
“Quanto ao direito privado indígena, não advém ao Estado
colonizador vantagem alguma, da sua substituição pelo direito
europeu, em geral absolutamente inadaptável às instituições
indígenas da família, da propriedade, do regímen de sucessões,
etc., que tanto convém conservar”. Para este autor, o controlo
sobre justiça penal pelo poder colonial justificava-se por ser
“forçoso que os europeus sejam os únicos a castigar, para
mostrarem que são também os únicos a poder mandar”.
66
do poder de Portugal para criar a categoria do indígena,
consagrando legalmente a ruptura entre cidadãos e indígenas,
servidos por sistemas normativos distintos. É este pressuposto
político colonial que suscita o que Boaventura de Sousa Santos
(2007) identifica como sendo a característica estruturante do
pensamento abissal, “a impossibilidade da co-presença dos dois
lados da linha.” Ou seja, os sistemas de regulação social presentes
entre os indígenas em Moçambique penderam a uma localização
geopolítica periférica, conducente a processos de negligência
política e científica, desanexando os conflitos e as instâncias que
os mediavam.
67
autoridades terem sido recrutados de entre as famílias dirigentes
locais permitiu gerir as populações destas regiões ao mesmo
tempo que se garantia a presença de figuras de poder dotadas de
legitimidade local. Doravante, assistir-se-ia paulatinamente ao
cotejo entre as formas modernas de exercer o poder, assumidas
pela essência do Estado colonial, e as formas locais de
administração, agora designadas autoridades gentílicas ou
tradicionais. A figura da autoridade tradicional, simbolizada no
régulo, era hereditária e a sua legitimidade frequentemente
assente numa ligação, nem sempre real, às linhagens pré-
coloniais locais Gonçalves Cota, (1944). Todavia, sempre que os
líderes locais se opuseram, de uma ou de outra forma, às
autoridades coloniais, foram substituídos por personagens mais
cordatas (Meneses 2003, Meneses, 2006).
68
administrativa se caracterizava pela existência de
complementaridade entre os vários chefes de uma dada região,
nas suas várias formas e hierarquias.
69
a implantação do Estado moderno em África teria sidoimpossível
sem a presença destas autoridades. Esta forma de administração
pública indirecta marcará profundamente o espaço de
relacionamento afirmado pela imposição da relação colonial.
Actores políticos complexos, as instituições do poder tradicional,
apesar de castigadas pelo Estado colonial, actuaram
simultaneamente como um importante factor de coesão e de
construção identitária.
70
ambas assentes no pluralismo legal instituído pela administração
colonial: a lei colonial ou estatal e o direito costumeiros.
71
Esta breve questão permite descobrir as ambiguidades e
complexidades associadas à introdução da noção de tradição, a
qual permanece central para a compreensão das dinâmicas sociais
e políticas contemporâneas. Especificamente, a figura das
autoridades tradicionais assume um papel de destaque, pois que
longe de se resumir à figura do régulo, constitui um pólo de
constituição identitária, em torno do qual se articulam vários
actores e se discutem formas de legitimação e produção de poder.
Como num jogo de espelhos, a tradição, longe de ser um produto
apenas da intervenção colonial, foi continuamente interpretada,
reformada e reconstruída quer pelos súbditos, quer pelos
cidadãos.
72
Fonte: Meneses (2003)
73
ultrapassar a categorização hierárquica da diferença, herança da
colonização, ou seja, a ideia de que existem cidadãos de primeirae
segunda classe. Todavia, apesar das mudanças políticas
significativas, no sentido do reconhecimento da realidade
multicultural, que foram tendo lugar em vários países africanos, a
experiência moçambicana merece uma análise mais cuidada. Se
o período colonial foi caracterizado, para a maioria dos
moçambicanos, pela construção de uma referência cidadã assente
na pertença étnica (ou seja, uma pertença identitária colectiva), o
projecto político dominante no país agora independente,
defendido pela Frelimo, exigia a igualdade jurídica de todos os
cidadãos, independentemente (e primordialmente sem relação)
das suas raízes étnicas. “Matar a tribo para construir a nação”,
uma das frases de ordem mais empregue no período
revolucionário, reflectia este objectivo, ou seja, a emergência de
uma identidade nacional desenraizada do passado étnico. Mas a
luta nacionalista tinha sido, também, uma luta cultural, uma luta
pelo reconhecimento do mosaico social que Moçambique
representava, e marcou por isso de forma determinante o debate
sobre a legitimidade das autoridades tradicionais como forma de
representação política no novo contexto gerado pela
independência. O corolário deste debate, a confirmação
constitucional da presença política destas autoridades,
aconteceria apenas em 2004. A tentativa de construção de novas
formas de poder local, longe de substituir as estruturas que
provinham da época colonial, gerou novas instâncias e actores
que, gradualmente, se foram tradicionalizando e aumentando a
heterogeneidade das estruturas políticas a nível local. Procurar
decifrar os sentidos que atravessam a luta pela afirmação da
diversidade na igualdade em Moçambique é objectivo desta
última parte do texto.
74
Unidade 3.2.2: Ampliando os Espaços de uma rede de Justiça
As práticas como o recurso a médicos tradicionais, as cerimónias
de pedido de chuvas e os rituais em Moçambique, a
independência significaram a ruptura com o passado colonial,
incluindo a interferência no campo das práticas de poder. O
escangalhamento do Estado, a criação do Homem novo e a
destruição das ideias tradicionais e práticas obscurantistas foram
alguns dos princípios filosóficos que nortearam a urgência destas
mudanças, incluindo a construção de uma alternativa baseada no
poder popular. A abolição dos sistemas tradicionais de
administração local, considerados pela Frelimo como sendo uma
estrutura feudal incompatível com o poder popular então
instaurado no país, foi uma das peças centrais da política de
administração no país, até ao final do período de violentos
conflitos armados que Moçambique atravessou (inícios da década
de 1990). Não é surpresa que um documento do Conselho de
Ministros, de 1975, afirmasse que a “destruição das estruturas do
passado não é uma tarefa secundária, nem um luxo ideológico. É
uma condição para o triunfo da Revolução”.
75
Consequentemente, nos primeiros anos da revolução
moçambicana, a Frelimo baniu as autoridades tradicionais e
religiosas, numa tentativa de mudar radicalmente a estrutura
governativa herdada da época colonial. As elites locais e as
estruturas de poder associadas à administração colonial foram
fortemente estigmatizadas e as múltiplas práticas que se
76
destas estruturas). Como a Organização da Mulher Moçambicana
(OMM), Conselhos de Produção (mais tarde transformados que
corresponde, grosso modo, ao período socialista.
77
Fig.7-3º Congresso da Frelimo, a 7 de Fev. de 1977
Fonte: (DAVA 2003)..
78
dinamizadores, a promiscuidade entre os grupos dinamizadores e
as células do partido Frelimo saiu reforçada João Mosca (1979).
Por exemplo, os secretários de bairro (uma figura cada vez mais
relevante a nível local) acumulavam simultaneamente tarefas
políticas (responsável do partido no bairro) e administrativas.
79
à unidade nacional e ao projecto de libertação, resquícios de um
passado tradicional.
80
A aposta da Frelimo na luta anti-obscurantismo deu novas forças à
esfera cultural como discurso crítico e reviveu o legado colonial
como uma espécie de vingança, na medida em que os chefes
tradicionais compararam criticamente as concessões dos
portugueses aos actos pouco medidos da Frelimo. Não é de
admirar que os depoimentos recolhidos pelo país apontem que
muitos chefes tradicionais rapidamente assumiram uma atitudede
desconfiança e posterior distanciamento em relação ao projecto
nacional da Frelimo. Para estes líderes, lutar pela sua autoridade
era sinónimo de uma luta pela sua dignidade, luta esta que
chocava com o projecto de poder popular hegemónico em que a
Frelimo apostava. O recurso a uma crítica tradicionalista não
decorreu de uma simples oposição entre comunidades
tradicionais imutáveis e um Estado modernizador; pelo contrário,
constituiu uma crítica eficaz e historicamente enraizada da
implementação autoritária de políticas centralmente produzidas e
profundamente imperfeitas, uma rejeição não da modernização
per se, mas de uma modernização falhada e coerciva no contexto
de tentativas de afirmar um controlo local sobre processos
centrais à vida das populações.
81
étnica a sua coerência e poder é o facto de estes assentarem nas
consciências e referências das populações, informando-os da sua
identidade, dos modos como devem actuar. Todavia, como
discursos, as tradições, costumes e etnicidades são continuamente
reinterpretados e reconstruídos como improvisações reguladas e,
como tal, sujeitas a avaliação da sua legitimidade. O Estado
moçambicano foi dedicando cada vez menos atenção à
legitimação da sua autoridade, que deveria estar assente, pelo
menos parcialmente, nas experiências vividas de todos os
cidadãos. Não querendo assumir a diversidade etno - cultural do
país, a política da Frelimo, durante a década de 1980, reproduzia,
involuntariamente, a dicotomia do tempo colonial. As outras
culturas, dos então indígenas, consideradas inferiores pelo Estado
colonial, emergiam de novocomo símbolo de atraso nos discursos
políticos. E este era o desafio que se colocava ao Estado. Cada
vez mais activamente, o adjectivo ‘tradicional’ marcava e
reafirmava o desejo de autonomia, de auto-representação e auto-
preservação, debate este onde o tradicional simbolizava cada vez
mais a nossa cultura e o Estado moderno era associado à
alteridade, ao Estado, sombra persistente da relação dicotómica
entre cidadania e subalternidade.
82
no tempo colonial e depreciadas pela Frelimo após a
independência, as autoridades tradicionais mantinham uma forte
presença no tecido político pelo peso que gozavam junto das
populações que administravam. Com o agudizar da situação da
guerra, e devido à atitude ambígua do governo da Frelimo em
relação às autoridades tradicionais, não foi fácil para estas decidir
sobre a posição a tomar face às partes em conflito. Vários foram os
casos de posicionamento dúbio em relação ao conflito, ou de
desdobramento de autoridade, de forma a evitar que o conflito
afectasse profundamente a zona (Meneses 2003). Em muitos
outros casos, estas autoridades, como aconteceu em vastas
regiões do centro-norte de Moçambique, passaram a apoiar a
Renamo (Geffray, 1991). Gradualmente, e apoiando-se
fortemente nas antigas instituições de poder local, a Renamo foi
reintroduzindo os régulos como agentes do poder local nas áreas
sob o seu controlo. O papel destas autoridades foi fundamental na
mobilização de jovens para integrar as fileiras do exército
guerrilheiro da Renamo. Nas áreas sob o seu controlo foram
reintroduzidos os impostos locais, cabendo também a estas
autoridades a resolução de problemas sociais locais (incluindo a
gestão da terra), nos quais a Renamo normalmente se abstinha de
intervir. Na mesma altura, e com o alastrar da guerra, no interior
da Frelimo cresciam as críticas em relação à política de aberta
hostilidade em relação às autoridades tradicionais, datando da
entrada para a década de 1990 os primeiros estudos patrocinados
pelo governo, com vistaa um conhecimento mais aprofundado da
questão do poder tradicional no país.
83
exigências da Renamo, e que seria uma das suas bandeiras de luta
até há bem pouco tempo, foi o reconhecimento efectivo,
constitucional, das autoridades tradicionais (aqui concebidas
apenas como os régulos e os seus subordinados). Todavia, cada
vez mais ciente da força que estas outras autoridades
representavam, no decorrer das primeiras eleições
multipartidárias, em 1996, o então candidato presidencial pela
Frelimo, Joaquim Chissano, defendeu abertamente a presença de
autoridades tradicionais.
84
independência; ou seja, um outro espelho dos grupos
dinamizadores. Vários são os municípios onde a Renamo
instituiu estruturas de poder local os delegados, os chefes de alas,
etc. estruturas estas que competem, em termos de procura de
legitimidade de representação, com outras estruturas já existentes
no local incluindo os secretários, o remanescente dos grupos
dinamizadores, etc. Mais ainda, em contextos urbanos, como é o
caso de Angoche e de Nacala, a introdução destas novas
autoridades surgiu em conflito com as autoridades tradicionais
(régulos e cabos de terra) aí presentes, que continuaram a sentir-
se não respeitadas pelas instâncias políticas detentoras do poder.
85
tradicionais, os secretários de bairro ou de aldeia e outros líderes
legitimados como tais pelas respectivas comunidades”. Isto
equivale a colocar, em pé de igualdade, as autoridades
tradicionais no seu sentido mais restrito, os líderes religiosos, os
secretários de grupos dinamizadores, as personalidades notáveis
locais.
86
função das suas normas e princípios, indicar o representante junto
às autoridades administrativas. O decreto-lei nº 80/2004 é mais
preciso e determina os mecanismos de legitimação. Para o caso
dos líderes tradicionais, a sua selecção tem de ser validada “de
acordo com as regras da respectiva comunidade”, já no caso dos
secretários, estes serão escolhidos (e assim legitimados)
“segundo critérios da respectiva comunidade local ou grupo
social”, ou seja, há um elemento de diferença no processo de
selecção destas autoridades comunitárias, o que inclui momentos
de legitimação directa (eleições para secretários) e outras formas
de escolha, que não incluem formas de democracia directa.
Posteriormente, o líder escolhido é reconhecido formalmente por
um representante da administração estatal a nível local.
87
Em termos factuais, o processo de reconhecimento formal das
autoridades comunitárias tinha, em 2003, legitimamenteindicado
cerca de 13.500 líderes em contextos rurais e urbanos. Destes,
cerca de 10,7% também já tinham sido reconhecidos
formalmente pelo Estado. As pesquisas que têm sido
desenvolvidas em Moçambique mostram que as autoridades
tradicionais nem sempre foram populares nos seus territórios
Gonçalves, (2005). Isto explica, em parte, que nos processos de
legitimação comunitária das autoridades locais vários
secretários tenham sido escolhidos para o posto de autoridade
comunitária, especialmente nas regiões do sul e do extremo
norte de Moçambique, onde a força da Frelimo é
particularmente importante. Nestas regiões a maioria das
lideranças comunitárias eleitas e reconhecidas pelo Estado são
secretários: as estatísticas disponíveis para 2003 apontam que
43,5% das autoridades eleitas eram secretários, especialmente
secretários de bairros, nos espaços peri - urbanos. Em finais de
2006, quando o processo de reconhecimento destas autoridades já
estava bem avançado, os dados apontavam para uma imagem
distinta. O número total de autoridades tradicionais legitimadas
tinha atingido o número de 18.950, especialmente face ao
aumento de líderes de escalões inferiores ao régulo, assistindo- se
a uma diminuição significativa da proporção de secretários, que
passou a representar 17,6% do total das autoridades. Estes dados
sugerem que a implantação das novas autoridades não consegue
competir com a pujança de outros actores, cuja legitimidade,
forjada num nexo histórico e cultural, permanece importante. O
processo de reconhecimento das autoridades comunitárias tem
vindo gradualmente a abrir campo para o empoderamento das
comunidades locais, alargando as
88
possibilidades de actuação na busca de soluções para os seus
problemas.
89
competência de funcionários municipais; parte da resolução de
conflitos acontece pelo recurso a tribunais comunitários;conflitos
de terrenos e a atribuição dos mesmos são da competência dos
secretários de bairro, etc. (MENESES e SANTOS, 2008).
90
Exercícios de fixação
1. Resgatando historicamente a categoria cidadania, na Grécia
antiga (séculos VIII e VII a.C.) chega-se ao conceito por
exclusão.
a) Quando é que o indivíduo é considerado cidadão.
b) Cidadania era ou não a relação de todos. Porquê?
2. Explica O status de cidadania, inicialmente concebido.
3. Caracteriza a qualidade do cidadão na sociedade Feudal.
4. “Construir cidadania é também construir novas relações e
consciências.
a) Caracteriza a convivência, na vida social e académica entre
estudantes e docentes no ISCED.
5. Indica três momentos históricos democráticos necessários
para o bem-estar do cidadão.
6. Os direitos humanos nascem do eixo ocidental.
a) Caracteriza a igualdade, entre os direitos individuais e
colectivos.
7. Preenche os passos vazios
8. Em Moçambique é o interesse
pelas
91
históricas, produzindo um complexo com as
estruturas formais do .
10. Porquê se diz que o poder local é o mosaico de instâncias
presentes da autoridade tradicional.
92
a) O autor de divisão do conceito da cidadania é Brazão Mazula
d) Cidadania é tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-estar até a melhorias
das condições económico.
93
África subsaariana na última década, e conduziu em muitos
lugares a relações políticas muito complexas entre o Estado e
figuras de poder locais tais como as Autoridades Tradicionais.
Deste modo, neste texto abordaremos uma questão de grande
importância para a compreensão não só das dinâmicas políticas,
mas, e sobretudo, das relações sociopolíticas tecidas na
actualidade entre o Estado e as Autoridades Tradicionais: a dos
fundamentos da legitimidade da dominação, bem como as
competências e estratégias sociopolíticas, dos agentes políticos
em questão. Nesta medida, o campo político é, por excelência, a
plataforma analítica onde melhor se exprimem as legitimações e as
suas pretensões à legitimidade reclamadas pelos agentes políticos
em análise: Estado e Autoridades Tradicionais.
94
temática da natureza dos Estados pós-coloniais africanos e da
relação estabelecida por estes com a pretensa «sociedade civil».
Dito de outra forma, a questão das Autoridades Tradicionais
inscreve-se no debate mais vasto do problema do político e da
política na África subsaariana contemporânea.
95
sobretudo em torno da posição das comunidades agrárias que
podiam conservar uma certa autonomia, graças ao acesso que
tinham ao meio de produção por excelência em África. Esta visão
era posta em causa por alguns autores que sustentavam
exactamente o oposto: o Estado estaria em condições de exercer
uma pressão política extremamente forte por meio do controle
que detinha sobre a produção, a distribuição e a vendade produtos
agrícolas Cliffe, (1987). No entanto, o ponto de discórdia comum
nesta polémica não deixa de ser o facto de que ocorreu uma crise
no interior do Estado pós-colonial africano. (SKLAR, 1985).
96
social «levam a água ao seu moinho» (BUIJTENHUIJS &
RIJNIERSE, 1993).
97
jurídico-administrativos podem perspectivar. Isto não é só válido
para as Autoridades Tradicionais em Moçambique, mas também
para as
Autoridades Tradicionais de outras áreas geográficas de África.
De facto, esta margem de manobra resulta do fosso que se criou
entre um Estado «moderno» organizado burocraticamente que
adquire a sua autoridade política nos quadros formais do direito
constitucional, e o contexto social e político no qual, para a
maioria dos africanos do mundo rural, é uma concepção
ideológica, simbólica e cosmológica do mundo inteiramente
diferente que lhes importa (GU-KONU, 1986).
98
interditos matrimoniais, nas concepções de magia e de feitiçaria,
etc., as Autoridades Tradicionais representam as forças, por
assim dizer, inacessíveis que a «elite estatal» e os
«burocratas modernos» não deixam de reconhecer e cortejar.
99
cosmológica, e apresentam sucessos variados, como forma de se
adaptar às exigências e às necessidades políticas daqueles dois
mundos, e de se transformar constantemente. É esta capacidade
de sobrevivência e de adaptação das Autoridades Tradicionais
aos diferentes contextos e conjunturas sociopolíticas que os
diferentes Estados dos países africanos atravessaram e
atravessam que explica, em parte, o actual e renovado interesse
por parte de investigadores africanos e de outros continentes em
constituir este fenómeno social como objecto de estudo
(principal) de várias investigações científicas, (ABBA, 1990;
QUINLAN, 1988).
100
multipartidários, à semelhança do que se configura à escala de
outros países africanos, o que se tem vindo a delinear em
Moçambique inscreve-se também neste contexto de
entendimento mais alargado de âmbito internacional. Quer isto
dizer que as transformações ocorridas em África, no final da
década de 80 e início da década de 90, no sentido da liberalização
política, entenda-se discursos de democratização política e de
boa governação dos regimes autoritários, nas suas versões
militares e de partido único, enquadram-se na construção de uma
nova ordem global, a que alguns autores designam por Modern
World System (Hopkins & Wallerstein, 1996) e que,
inequivocamente, surge como consequência directa do
desmoronamento do Muro de Berlim, e da dissolução do modelo
bipolar derivado da Guerra Fria (WISEMAN, 1995;
MURTEIRA, 1995).
101
acções e relações políticas, totalmente diferentes. No interior
deste conjunto dinâmico e interactivo, emergiram novas
instituições, algumas outras, mais antigas, foram
substancialmente transformadas, enquanto que, outras ainda,
simplesmente atrofiaram ou desapareceram Fisiy, (1995). As
Autoridades Tradicionais integram uma dessas instituições que
reivindicaram publicamente e com sucesso a sua notável e
variável capacidade de sobrevivência e de contínua adaptação
política. As Autoridades Tradicionais criam novos espaços no
actual quadro político, tornando-se legítimos intermediários entre
o Estado e as populações rurais, não se baseando exclusivamente
nos lugares políticos que ocupavam outrora e mantendo viva a
sua «memória social» ancestral. As Autoridades Tradicionais
parecem, pois, possuir uma notável vontade e capacidade de se
adaptarem às mudanças sociais e políticas actuais e reclamam
para si um papel de intermediação, crucial para o futuro, em vez
de tentarem efectuar exclusivamente transformações,
interferências e/ou reclamações socioeconómicas e políticas de
somenos importância a nível regional, nacional e local.
102
fundamental da legitimidade da dominação política das
Autoridades Tradicionais na sociedade rural actual e como é que
ela foi afectada pelas recorrentes experiências de construção da
«nação», e ainda, pelos conceitos ideológicos de democracia,
liberalização, desenvolvimento, direitos humanos (incluindo o
género) e adjudicação.
103
Autoridades Tradicionais mostraram-se, na maioria dos casos,
capazes de defender os seus direitos (privilégios) e os da sua
comunidade rural. O segundo diz respeito ao domínio do ritual e
do simbólico na sociedade «tradicional», no qual as Autoridades
Tradicionais espelham um papel primordial e de autenticidade
inequívoca (LOURENÇO, 2006).
104
própria autoridade política legítima? Esta questão está claramente
ligada às suas prerrogativas sociais na gestão dos recursos
materiais e políticos de que dispõem, e no modo como se efectiva
a sua relação com os agentes políticos do Estado, que asseguram e
promovem a administração das reformas político-
administrativas. Uma análise sobre o modo como elas
desenvolvem novas estratégias para fazer frente às mudanças
políticas, sociais, administrativas ou legais, fornecernos-á
informações sobre a transformação que pode afectar a sua
dominação política nos nossos dias, numa altura em que as
Autoridades Tradicionais estão envolvidas na luta pelo controle
de recursos materiais e de pessoas, tal como alguns dos seus
antepassados já o faziam nas épocas colonial e pré-colonial.
105
em coincidência com os processos globais, desenvolvem-se
rápida e desmesuradamente.
106
fórmula, não desprovida de ideologia, de que elas são os
«verdadeiros representantes das suas populações sejam elas
quais forem».
107
articulam diferentes discursos e agendas políticas
(LOURENÇO, 2006).
Exercícios de Fixação
1. Assinala a alternativa correcta, em relação Estado africano
pós-colonial
108
a) O Estado africano pós-colonial, não se tornou uma «pálida
cópia» do modelo colonial europeu porque rapidamente
seguiu um modelo do desenvolvimento americano.
b) A problemática das relações Estado - Autoridades
Tradicionais só a partir dos anos 80 volta a ter a importância
que teve, por exemplo, no período que mediou o fim da
Segunda Guerra Mundial e o início das independências
africanas.
c) As Autoridades Tradicionais não sabem assegurar-se de uma
legitimidade peculiar, que não explica exactamente o auxílio
da paráfrase «Nós somos guardiães das nossas tradições».
d) Estado pós-colonial e a sua própria ordem cosmológica,
apresentam sucessos variados, como forma de se adaptar às
exigências e às necessidades políticas daqueles dois mundos, e
de se transformar constantemente.
2. Explica o desenrolar dos acontecimentos no período
póscolonial dos Estados africanos independentes.
3. O Estado africano pós-colonial, não se tornou uma «pálida
cópia» do modelo colonial europeu.
a) Concorda com esta afirmação? Justifica.
4. Explica os factores que terão contribuído para o Estado
africano pós-colonial melhorar a gestão de recursos
económicos, políticos e sociais durante os anos 70-80.
109
nível da político administrativa de onde as
Autoridades são .
110
TEMA V: CIDADANIA E A DIMENSÃO SOCIAL
111
transição para a democracia na região também tem se ocupado
principalmente dos meios de garantir e consolidar direitos civis e
políticos, deixando de lado a relação entre estes e os direitos e as
obrigações sociais na construção da democracia. Há importantes
excepções a essa lacuna dos estudos. Rei (1996) chama a atenção
para as inevitáveis tensões produzidas nas sociedades
democráticas entre uma concepção social e uma concepção
individual da cidadania, principalmente no que diz respeito às
demandas contraditórias de interesses colectivos e individuais.
Observa o autor que, na América Latina, a cidadania deve ser
capaz de oferecer um fundamento para os dois tipos deconcepção,
embora possa variar a maneira particular como tal fundamento é
construído, de uma sociedade para outra.
112
um aspecto importante da cultura da cidadania em qualquer
sociedade, e suas consequências repercutem sobre os direitos
civis e políticos. Examinar essas consequências nos permite obter
um quadro mais completo das implicações de um determinado
grupo de políticas sociais, que a simples investigação da sua
eficácia em relação aos ganhos económicos dos beneficiários.
113
diminuem a capacidade do Estado e da comunidade de supri-las. A
ênfase que vem sendo dada actualmente à liberalização dos
mercados e à austeridade fiscal diminui o papel do Estado como
provedor de bem-estar social e provoca, pelo menos de início,
insegurança económica. Processos sociais de longo prazo, como a
urbanização, a migração e a mudança dos padrões de participação
da força de trabalho, provocam uma lenta erosão dos meios
tradicionais de proporcionar segurança social por meio da família
e da comunidade. Além disso, como ocorre na Europa Central e
Oriental, a experiência anterior de cidadania social é muitas vezes
percebida como contrária à democracia e às liberdades
individuais; é o que acontece, por exemplo, quando educação,
assistência médica e habitação são proporcionadas de cima para
baixo e criam dependência em relação às burocracias estatais.
114
uma comunidade nos seus padrões básicos de vida. Como
assinalou Marshall (id. ib., p. 78), a cidadania social permite que
as pessoas compartilhem da herança social e tenham acesso à vida
civilizada segundo os padrões prevalecentes na sociedade. As
instituições mais especificamente associadas a ela são, na opinião
de Marshall, o sistema educacional e os serviços de saúde e de
assistência social.
115
diminuir a desigualdade de modo eficaz se os membros de uma
comunidade compartilhassem um padrão básico de vida e cultura.
O exercício efectivo dos direitos civis e políticos dos membros de
uma comunidade exige que eles estejam livres da insegurança e
da dependência impostas pela miséria, pela doença e pela
carência de educação e de informação. Na visão de Marshall,
entre esses padrões básicos também se incluiria uma experiência
compartilhada de educação, assistência médica e demais serviços
sociais. A experiência comum visava diminuir as diferenças
marcantes de status que poderiam se revelar no momento em que
as desigualdades de mercado fossem traduzidas em tipos
radicalmente distintos de atendimento médico ou acesso à escola,
entre os ricos e os pobres.
116
numa análise da pobreza e da desigualdade na América Latina. É
possível, portanto, extrair do pensamento de Marshall um critério
de avaliação da política social e de sua contribuição para a
cidadania: trata-se de saber se ela contribui ou não paramitigar as
profundas cisões no interior da sociedade pela eliminação das
desigualdades permanentes e auto- reproduzidas, fortalecendo e
ao mesmo tempo prestando assistência aos mais vulneráveis.
Dentro dessa perspectiva, a relação da cidadania social com a
democracia e, daí, com os direitos civis e políticos, é positiva e
relativamente tranquila. Como disse Marshall (1981, p.135), a
cidadania social proporcionada por uma política de bem-estar
torna o capitalismo suficientemente civilizado para coexistir com
a democracia.
117
Unidade 5.2: Cidadania Social e Mercado
Esping-Andersen (1990) mostra que, nas democracias capitalistas
avançadas, se desenvolveram três modalidades diferentes de
resolver a contradição entre a cidadania social e o mercado. Ele
distingue três tipos de regime de previdência social no capitalismo
avançado, de acordo com o grau em que a cidadania social reduz
a dependência do indivíduo em relação ao mercado de trabalho,
ou seja, retira do trabalho o carácter de mercadoria. Esses tipos
de regime são: o liberal, o corporativista e o social-democrata. No
tipo liberal, a previdência social é fornecida por mecanismos de
mercado, como a aposentadoria privada e os planos de saúde
particulares, complementados por programas mínimos de
assistência pública destinados aos pobres. No tipo corporativista
há um sistema estratificado, pelo qual o Estado proporciona
diferentes tipos e níveis de benefícios a diferentes categorias
profissionais, reservando-se à família muitas das funções
tradicionais de previdência. Por último, no tipo socialdemocrata
há um sistemauniversalista de provisão estatal, pelo qual todos os
cidadãos fazem jus, individualmente, a um elevado nível de
benefícios.
118
grupo marginalizado se beneficia da previdência pública,
enquanto as demais classes encontram no mercado sua única
fonte de serviços sociais. Nos outros dois modelos, factores
históricos levaram tanto as classes médias quanto a classe
operária a recorrer à previdência pública.
119
importante a intervenção do Estado para lhe garantir protecção no
trabalho, essa classe desapareceu no mundo desenvolvido e foi
substituída por trabalhadores dos sectores de serviços, a maioria
deles ocupam em actividades burocráticas, os empregados de
“cor branca”. Essa nova classe média é numerosa, educada, tem
uma vida mais longa e altas aspirações quanto a seus padrões de
vida e de segurança. Suas demandas são elevadas, e a questão
política então é saber qual dos dois, mercado ou Estado, tem
melhores condições de atender satisfatoriamente a essas
aspirações.
120
Não há nenhuma certeza de que continuem sendo criados bons
empregos em número suficiente para satisfazer às aspirações de
mobilidade. Nos Estados Unidos, os rendimentos da maioria da
população estagnaram nos últimos anos e a insegurança no
emprego cresceu muito. Além disso, a mobilidade social vem
dependendo de que as sucessivas ondas de imigração forneçam
mão-de-obra para os postos inferiores de trabalho, enquanto
permitem a um bom número de imigrantes de levas anteriores
ascender na hierarquia ocupacional. Essa forma de mobilidade
somente trouxe resultados parciais para os afro-americanos, e
pode vir a ser totalmente inútil no caso das novas gerações de
migrantes hispânicos (Wilson, 1994).
121
Unidade 5.3: Meios Alternativos de Prover Condições de
bemestar Embora os contornos de um novo regime de bem-estar
social já estejam visíveis na América Latina, é preciso analisar mais
profundamente a maneira de colocá-lo em prática. Há muita
controvérsia e uma grande incerteza quanto ao equilíbrio desejável
entre a participação do Estado e a contribuição do mercado e das
associações voluntárias, ou da família e da comunidade. Para
entender essas questões é preciso partir da perspectiva da cidadania,
a fim de pensar a respeito dos dilemas inerentes à provisão de
condições de bem-estar social. Sugiro que esses dilemas sejam
analisados em duas dimensões: de um lado é definida como
responsabilidade da comunidade ou fundamentalmente privada; de
outro, ela toma como base o indivíduo ou o grupo.
122
aos outros. Saúde e educação, por exemplo, são ao mesmo tempo
direitos sociais individuais e direitos que beneficiam a
comunidade como um todo. Além disso, a cidadania social
depende tanto da qualidade interpessoal dos serviços prestados e
recebidos quanto dos direitos e das responsabilidades formais.
123
suas obrigações comunais. O parentesco se tornou, em essência,
uma esfera doméstica ou privada da sociedade.
124
concepção participativa da cidadania, na qual o bem-estar social,
embora definido como responsabilidade pública, é controlado
directamente, isto é, no nível local, por seus beneficiários. No
segundo tipo o fundamento da acção também é a cooperação
baseada na unidade familiar, mas as estratégias são privatizadas,
destinadas a obter condições de bem-estar por intermédio da
assistência mútua na esfera da unidade familiar. Nessa situação,
as pessoas participam politicamente a fim de salvaguardar seus
direitos civis e seus interesses económicos, mas quando o bem-
estar dos membros da unidade familiar é visto como
responsabilidade particular da família, o sentido de cidadania
social se estreita.
125
O terceiro e o quarto tipo se caracterizam por baixa participação da
família ou da comunidade, correspondendo a formas não -
participativas de cidadania. O terceiro tipo é aquele em que os
indivíduos recorrem ao Estado ou a órgãos estatais de grande
poder, e estão em permanente contacto com eles, mas carecem de
apoio social e se sentem impotentes para controlar os termos dessa
relação. O conceito de cidadania tem um conteúdo paternalista,
pelos quais os direitos individuais à protecção social são
reconhecidos, mas estes são definidos de cima. O quarto tipo, no
qual os indivíduos adquirem serviços no mercado, corresponde,
em sua manifestação extrema, a uma negação da cidadania social
como responsabilidade colectiva.
126
complexa e interdependente de serviços de saúde, educação e
previdência social. Essa infra-estrutura requer uma gestão
competente e uma coordenação de recursos que muito
provavelmente as associações voluntárias ou os mecanismos de
mercado não podem garantir.
127
encontradas na América Latina, e cuja eficácia pode variar de um
país para outro. Isso talvez seja mais evidente no caso do
mercado, apesar de sua crescente importância na manutenção dos
fundos de pensão e na prestação de serviços privados de saúde e
educação. Os limites do mercado na provisão desses serviços
decorrem basicamente da pobreza e da desigualdade de renda. Se
apenas uma pequena parcela da população tem condições de
adquirir serviços sociais no mercado, então estes podem se tornar
factores adicionais de desigualdade, por criar uma pequena
camada privilegiada que monopoliza os melhores recursos de
educação e assistência médica. O fraco desenvolvimento dos
mercados financeiros significa que a intervenção e a supervisão
do governo serão necessariamente maiores nas áreas em que a
presença do mercado vem se tornando mais usual, como no caso
de aposentadorias e pensões.
128
empregam ilegalmente uma parcela de trabalhadores informais,
não -registados Roberts, (1989). O desenvolvimento económico
desigual, tanto na cidade quanto no campo, aumentou o
contingente de trabalhadores sem carteira, que corresponde a uma
proporção considerável do emprego informal.
129
públicos de protecção social, como o auxílio-desemprego e a
ajuda às famílias que vivem abaixo da linha de pobreza, as
pessoas terão de continuar recorrendo às mais diversas fontes
informais de renda para sobreviver.
130
terem sido anos de crescimento económico (Oliveira, Roberts &
Tardanico, 1996). As pesquisas também revelam que, durante a
crise de 1995, as famílias não conseguiram compensar a redução
da renda real com o aumento da participação de seus membros na
força de trabalho, em parte porque a queda da fertilidade
contribuiu para o declínio do tamanho das famílias. Assim, entre
1993 e 1995, a pobreza das famílias cresceu, registando-se uma
queda de aproximadamente 20 por cento na renda familiar real. O
crescimento da desigualdade de renda nas cidades mexicanas tem
sido acompanhado pela expansão do emprego informal. Nas três
principais áreas metropolitanas do país, 57 por cento da
população economicamente activa estava coberta pela
previdência social em 1987, enquanto apenas 41 por cento dessa
população tinha a mesma cobertura em 1995. Entre os
trabalhadores assalariados, a percentagem de cobertura caiu de 74
por cento para 58 por cento.
131
influência da religião sobre as famílias e as comunidades. De fato,
as relações familiares e comunitárias constituíram bases
fundamentais de apoio para a urbanização durante a fase de
rápido crescimento da região. Mas essas fontes informais de bem-
estar social têm importantes limitações, que precisam ser
identificadas e pesquisadas.
132
Há muito tempo as pesquisas têm chamado a atenção para o
emprego de estratégias económicas e políticas por parte das
famílias pobres dos centros urbanos na América Latina. Essas
estratégias familiares são comummente usadas pelas famílias
pobres para defender seus interesses económicos, ou para garantir
moradia e demais comodidades do meio urbano. Embora
raramente as estratégias económicas contribuam para a
organização colectiva, como sindicatos ou cooperativas de
produtores, as estratégias voltadas para o acesso a serviços sociais
se tornaram uma base para a construção de importantes
movimentos sociais, embora muitas vezes transitórios e
desorganizados.
Hoje não é tão provável que a mobilidade social seja vista pelas
famílias como uma possibilidade real. Ao contrário, têm-se
acentuado as estratégias de sobrevivência, o que não deixa de ser
uma grande diferença em relação ao período que se estendeu até
meados dos anos 70, quando mudanças estruturais nas economias
urbanas da América Latina permitiram uma significativa
mobilidade ocupacional. Essas estratégias de sobrevivência
frequentemente incluem, até entre os mais pobres, uma tentativa
de manter os níveis de consumo anteriores. Embora a
reestruturação económica torne mais difícil para as famílias
pobres garantir alimento e assistência adequados a seus membros,
ela também põe em questão o estilo de vida e o tipo de economia
de consumo que se desenvolveu na década de 70, mesmo entre os
mais pobres. Além disso, as dificuldades impostas aos pobres
foram acrescidas pela redução do valor real da assistência pública,
quevem acompanhando a reestruturação da economia, quer seja no
133
caso das transferências pagas pelo governo, quer seja na
qualidade dos serviços sociais prestados.
134
aliada ao grande volume do desemprego aberto, reforça as
desvantagens do isolamento social e económico. As famílias
pobres necessitam de fontes cada vez mais diversificadas de
trabalho para seus membros. As famílias chefiadas por mulheres
solteiras são principalmente aquelas em que os filhos têm idade
suficiente para colaborar na renda familiar. Vários estudos
concluem que, recorrendo a essas estratégias, muitas famílias
conseguem evitar uma queda em seus padrões de subsistência
(BENERÍA, 1991).
135
se fundamentar na origem étnica, como ocorre nos guetos étnicos
espalhados pelos Estados Unidos. Mas o desenvolvimento
económico introduz uma divisão económica e social nas
comunidades rurais e urbanas, o que acaba enfraquecendo a
localidade como base de coesão e fonte de serviços sociais. Os
estudos de comunidade na América Latina têm chamado a
atenção, por exemplo, para as desesperadas tentativas individuais
das famílias que, para arranjar um meio deganhar a vida, terminam
por enfraquecer o papel da vizinhança como base de uma
organização colectiva. Interesses externos, como o crime
organizado, os grupos religiosos ou a mídia globalizada,
representam hoje estímulos mais poderosos à divisão e à
individualização que no passado, jogando parentes e vizinhos uns
contra os outros, assim como os jovens contra os membros mais
idosos da comunidade. Zaluar, por exemplo, afirma que
processos desse tipo destruíram a cultura comunitária das favelas
do Rio de Janeiro (ZALUAR, 1996).
136
A migração internacional se transformou numa estratégia usual,
principalmente no México e na América Central, devido à
proximidade dos Estados Unidos. Mas outros países da América
do Sul também participam desse movimento em direcção ao
norte; a migração internacional dentro da região é também
bastante significativa, como, por exemplo, entre a Argentina e os
países limítrofes. Os vínculos internacionais criados pela
migração se tornam às vezes fontes mais importantes de acesso ao
bem-estar social que o Estado nacional, ou as relações
comunitárias dentro do país. As remessas de dinheiro se tornaram
um factor importante de desenvolvimento e bem- estar das
comunidades no México e na América Central. Há mais elementos
envolvidos nessas remessas que o fluxo financeiro, pois
frequentemente os emigrantes mantêm profundas ligações com as
comunidades que deixaram para trás, criando com isso vínculos
políticos e económicos. Os empreendimentos transnacionais,
quer sejam de natureza social, económica ou política, refazem o
mapa da cidadania, superando limites nacionais e fortalecendo
laços externos, internacionais, em detrimento dos laços internos,
nacionais.
137
centrais na manutenção dessas actividades. Mas esse sector
depende da existência de um grande número de cidadãos que
tenha tempo e dinheiro suficientes para dedicar à actividade
voluntária. As bases de sustentação da actividade filantrópica ede
ajuda mútua na América Latina são precárias, devido à
fragilidade económica da classe média e das classes
trabalhadoras. A religião oferece uma base mais sólida para tais
iniciativas, como demonstram vários estudos urbanos (MARIZ,
1992).
138
Unidade 5.5: A Cultura Moçambicana Pós-independência Nacional
139
também tem esse hábito, num sentido de piada a gente chama
xiconhoca ou xiconhoquice qualquer atitude admirável.
1
Xiconhoca é o mito anti-Revolução moçambicano publicado na Revista Tempo
entre os anos 1976 e 1980.
140
deles representando determinado modelo de classe e de
comportamento social que a FRELIMO desejava combater.
141
de produção assalariada, mas limitadas ao espaço urbano sem
grande peso no total da população, na pós-independência tudo
isso foi alterado de forma qualitativamente significativa, ainda
que sem grande expressão quantitativa na fase inicial.
142
O Xiconhoca Burguês, curiosamente, aquele que era o inimigo de
classe é o único que se distingue do povo, inclusivamente,
despreza o povo e complica a vida do povo. Outro sintoma da
distância entre o potencial inimigo ideológico e a «realidade
real». É importante referir que o Xiconhoca Burguês não é patrão,
mas agente dos patrões, normalmente associados ao estrangeiro.
Há como que um espelho de uma realidade que hoje parece
assente: a debilidade das burguesias africanas no pós-
independências e a sua sobrevivência é graças a ligações
económicas que manteve com o exterior.
143
Na época, o partido único, a FRELIMO, optou claramente pela
via do socialismo na sua vertente marxista-leninista, e estava
disposto a transformar radicalmente a sociedade a partir de
pressupostos ideológicos. Mas certa ou errada, essa foi uma
opção só compreensível naquele contexto próprio.
144
E não resta dúvida quanto ao profundo significado ideológico
dessas mensagens, desde o ano zero da Revolução moçambicana.
Mas de todas as marcas, a do Xiconhoca foi a que atingiu maior
eficácia e maior impacto nas consciências da jovem Nação
(RIBEIRO, 2004).
Exercício de Auto-Avaliação
1. Assinala com x as afirmações correctas:
a) O debate sobre a política social na América Latina raramente
focaliza as consequências de determinadas políticas para a
qualidade da cidadania numa democracia.
b) A extensa literatura recente sobre a transição para a
democracia na região não se ocupado em consolidar direitos
civis e políticos.
c) África deixou de lado a relação entre os direitos e as
obrigações sociais na construção da democracia.
d) Reis (1996) chama a atenção para as inevitáveis tensões
produzidas nas sociedades democráticas entre uma concepção
social e uma concepção individual da cidadania,
principalmente no que diz respeito às demandas
contraditórias de interesses colectivos e individuais.
2. Qual é a importância da cidadania social para construção de
uma sociedade mais justa.
3. A análise das características da cidadania social deve,
portanto, se adequar a contextos específicos.
a) Identifica as características da cidadania no contexto
actual dos moçambicanos.
4. A cidadania política moçambicana é hoje mais questionada
do que vinte anos atrás.
a) Concorda com esta afirmação? Justifica.
145
5. No contexto de África livre do jugo colonial, quais foram as
razões que contribuíram na insegurança económica.
6. Na época, o partido único, a FRELIMO, optou claramente
pela via do socialismo na sua vertente marxista-leninista.
a) Qual foi o principal impacto ocorrido em Moçambique a nível
económico, político e cultural.
7. A FRELIMO estava disposta a transformar radicalmente a
sociedade a partir de pressupostos ideológicos, mas certa ou
errada, essa foi uma opção só compreensível naquele
contexto próprio.
a) Indica e explica três características ou princípios
ideológicos da Frelimo.
8. A FRELIMO criou em 1976, uma caricatura a que chamou
Xiconhoca. Esta caricatura representou todo e qualquer
inimigo interno (ideológico).
a) Define e caracteriza Xiconhoca.
b) Indica os tipos de xiconhoca que conheces.
c) Considera um estudante faltoso, incumpridor e desencantador
como xiconhoca? Porque?
9. Tendo em conta o isolamento social da família que impõe
restrições significativas à sua capacidade de suprir as
condições de bem-estar.
a) Identifique os principais problemas que afectam as famílias
africanas.
b) Explica o funcionamento de uma unidade familiar.
c) Mencione os principais factores que avolumam o conflito nas
famílias
146
TEMA VI: CIDADANIA E A DIMENSÃO CULTURAL
147
assimilação. A noção de “progresso” era também acompanhada
de um processo de total assimilação das culturas minoritárias. A
tendência para a actual desintegração social vai em sentido
contrário. Desarticulando-se o espaço público democrático, surge
alguma dificuldade em se viver em comum com a diferença. O
respeito pelos particularismos culturais tem a ver com o direito à
diferença, protegido pelos direitos humanos, aliás consagrados
nos ordenamentos jurídicos dos Estado nomeadamente
ocidentais. E não basta salvaguardar os direitos subjectivos
reclamáveis, importa que eles assumam uma forma colectiva,
permitindo às pessoas e aos grupos a sua afirmação.
148
industriais ou da modernidade tardia perdem a homogeneidade
outrora procurada. A crise do Estado tem a ver com a sua
capacidade de integração social, enfraquecidas assimiláveis.
149
instalação de um certo número, segunda as convivências de
momento de cada país.
150
inimigos antigos, mas entre vizinhos e concidadãos e, o que é
pior, sob pretexto de piedade e de religião) do que em assá-lo e
comê-lo depois que ele é trespassado”. Os imigrantes, em muitos
casos, ficam desprotegidos nas mãos de empresários sem
escrúpulo que os exploram sem reconhecimento dos seus direitos,
desde logo o salário igual e prontamente pago.
151
As políticas de integração, essas mais do que atender aos
interesses dos grupos imigrantes, procuram minimizar ou mitigar
os feitos perversos criados por eles. O êxito da integração não
depende somente das políticas adoptadas, mas ainda e sobretudo,
das condições de trabalho leva a situações de precaridade e de
marginalidade social. A dualização da sociedade arruína a
dinâmica da integração, criando uma subclasse a que são negados
direitos fundamentais, fazendo crescer as manchas de pobreza.
152
ou ajustamentos constantes. Não se podem pôr em causa os
valores universais da razão e do direito, nem a laicidade do
Estado, mas será também inaceitável angelizar as diferenças ou
balizá-las. Não se pode, certamente, desejar um
multiculturalismo desenfreado, do modo que a sua total
dissolução sob a forma de assimilação. O que se vem chamado
“sociedade multicultural” traduz tanto um modelo de integração
como a existência de grupos culturais e religiosos justapostos.
153
A questão do multiculturalismo anda associada, de facto, à
mudança do Estado democrático, procurando promover um
modo de integração política e social. O multiculturalismo surge
como uma concepção da integração que afirma o direito do
Estado democrático a reconhecer a multiplicidade dos grupos
etno-culturais que compõem a sociedade. Tem na usa base uma
perspectiva de assimilação fundada no princípio de uma
indiferenciação nesse reconhecimento.
154
incerto, ambivalente e ambíguo, cheio de permanentes tensões e
potenciais conflitos. Na sua prática concreta, os diferentes actores
sociais são chamados a não dissociar a afirmação da autonomia
da adesão a valores universais. Mas sempre que a diversidade
cultural produz conflitualidade, virtual ou efectiva, somente a sua
passagem à representação política permite o acesso ao tratamento
das suas demandas. Confinar a cultura particular ao estrito
domínio privado é criar as condições para o recalcamento que se
pode traduzir em ódio e revolta. Mastambém não é fácil encontrar
expressões políticas dessas diferenciações capazes de se
afirmarem no espaço público.
155
actuar mecanismos de assimilação, que conduzem à defesa de
uma cultura herdada e de resistência a uma integração é percebida
e valorizada como uma condição de liberdade individual e de
democracia; ou rejeitada porque associada à destruição da
diversidade. Daí resulta a sua ambivalência.
156
aumenta a visibilidade da fragmentação cultural. A identidade
dos povos reveste-se de um conteúdo cultural, e o ímpeto das
identidades culturais anda associado à crise das sociedades
nacionais. O indivíduo torna-se pessoa como membro de uma
comunidade cultural. Sem esse contexto, não consegue manter a
sua identidade e a compreensão de si mesmo.
157
Na actualidade, há um confronto com uma, mais ou menos
profunda, crise de significação. A vida e a experiencia humanas
não possuem, em si mesmas, sentido. Este é atribuído por cada
consciência, na sua relação com outros seres e com o mundo. À
sua disposição encontram as pessoas o que Peter L. Berger e
Thomas Luckmann chamam “depósitos históricos de sentido”,
que lhes oferecem orientação social, dispensando-as do encargo de
terem de solucionar a sós os problemas com que deparam.
158
As comunidades de vida e de sentido são fundamentais para a
formação das identidades pessoais, alimentando-as e apoiando-as.
Com os grandes depósitos de sentido, criavam-se identidades
comummente partilhadas. Papel relevante nesse processo,
desempenhava a religião, que fornece o padrão mais importante
de sentido.
159
legítima de outras crenças na sua relação à própria crença”.
Haverá que distinguir o pluralismo “como dado e como regra da
sociedade” e o “pluralismo na cabeça dos crentes”.
160
As migrações, ao mesmo tempo que contribuem para o
crescimento do pluralismo cultural das sociedades
contemporâneas, fazem aumentar a consciência da diferença.
Mas não se pode definir o pluralismo como um estado em que,
numa mesma sociedade, coexistem pessoas que levam as vidas de
diferentes maneiras. Isso ocorreu em quase todas as épocas. No
passado, essas distintas formas de vida estavam vinculadas a um
sistema comum de valores, com uma permanente interacção entre
as comunidades existentes e especialmente situadas. Era a
situação dos judeus.
161
pluralismo existente de facto. O pluralismo aparece ou imposto
pela natureza das coisas ou produzido pela vontade. Determinado
pela lei, pode coexistir com uma situação de predomínio de uma
Igreja ou de uma cultura, acabando-se, na prática, por apenas se
tolerarem as diferenças, concebendo-se alguns direitos. As
relações de dominação produzem sempre desigualdades entre os
grupos portadores de valores ou de crenças. A tendência será para
uma tolerância selectiva. A intolerância tende a revelar-se
sobretudo em relação a pessoas ou grupos que perturbam a ordem
existente, diminuindo em relação aos que se caracterizam
somente por diferenças culturais.
Avaliação
Caro estudante depois de uma longa leitura certamente que foi assimilada a
matéria, para tal, responda as questões que se seguem.
162
a) Define o multiculturalismo e monoculturalismo plural”.
4.Não é fácil a combinação da unidade de uma sociedade com a
diversidade das culturas que a possam integrar.
a) Explica porquê se diz que a defesa de uma cultura herdada e de
resistência a uma integração, é percebida e valorizada como
uma condição de liberdade individual e de democracia.
163
TEMA VII: A CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES E ESPAÇOS DEMOCRÁTICO
164
Por democracia participativa podemos entender um conjunto de
experiências e mecanismos que tem como finalidade estimular a
participação directa dos cidadãos na vida política através de
canais de discussão e decisão. A democracia participativa
preserva a realidade do Estado (e a Democracia Representativa).
Todavia, ela busca superar a dicotomia entre representantes e
representados recuperando o velho ideal da democracia grega: a
participação activa e efectiva dos cidadãos na vida pública
(SELL, 2006).
165
pública, orçamento participativo, consultas ou por qualquer outra
forma que manifeste a acção popular. Nesse modelo de maior
participação democrática, as organizações da sociedade civil
tornam-se interlocutores políticos legítimos e influentes,
adquirem maior visibilidade sobretudo com o processo de
democratização (AVRITZE & REIS, 1995) e, de certa forma,
podemos dizer que a democracia participativa só poderá ser
realizada quando os cidadãos abandonarem um certo
individualismo e tiverem um maior senso de colectividade.
166
popular, segundo a qual, “todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos (Democracia
Representativa), ou directamente (tendência para a democracia
participativa) ” (FONSECA, 2009).
167
3. a lentidão do processo.
O primeiro obstáculo diz respeito ao aumento da necessidade de
competências técnicas que exigem especialistas para a solução de
problemas públicos, com o desenvolvimento de uma economia
regulada e planificada. A necessidade do especialista
impossibilita que a solução possa vir a ser encontrada pelo
cidadão comum. Não se aplica mais a hipótese democrática de
que todos podem decidir a respeito de tudo. O segundo obstáculo
refere-se ao crescimento da burocracia, um aparato de poder
ordenado hierarquicamente de cima para baixo, em direcção,
portanto, completamente oposta ao sistema de poder burocrático.
Apesar de terem características contraditórias, o desenvolvimento
da burocracia é, em parte, decorrente do desenvolvimento da
democracia. O terceiro obstáculo traduz uma tensão intrínseca à
própria democracia. À medida que o processo de democratização
evoluiu promovendo a emancipação da sociedade civil, aumentou
a quantidade de demandas dirigidas ao Estado gerando a
necessidade de fazer opções que resultam em descontentamento
pelo não- atendimento ou pelo atendimento não-satisfatório.
Existe, como agravante, o facto de que os procedimentos de
resposta do sistema político são lentos relativamente à rapidez
com que novas demandas são dirigidas ao governo (BOBBIO,
2000; NASSUNO, 2006).
168
Unidade 7.2. Gestão Democrática
Actualmente se fala muito em gestão democrática como uma
forma de articular a participação da população e de associações
representativas dos vários segmentos da comunidade na
formulação, execução e acompanhamento de planos, programas
e implementação de Políticas Públicas que devem ser elaboradas
com a participação da sociedade civil em geral, obedecendo o
preceito da democracia participativa que considera a participação
directa da sociedade na formulação de políticas públicas e nos
actos da Administração Pública.
169
aumento na interacção entre os participantes e entre eles e os
instrumentos de suporte a decisão; iii) alteração no método e
processo de planificação, já que neste caso o processo de
planificação está intimamente associado ao contexto político da
cidade (MAGAGNIN, 2008).
170
problemas públicos, sobretudo em caso de problemas técnicos
mais complexos, devendo-se adoptar um misto de planificação
tradicional e participativa: “aplanificada participativa é
apropriada quando os problemas estão claramente definidos”
(MAGAGNIN, 2008).
Planeamento
Implementação e Monitoramento
Fonte: MAGAGNIN, (2008)
171
Formas de Participação Descrição
172
Participação através da Através da iniciativa da comunidade o processo de discussão
Mobilização da sobre os problemas urbanos pode ser realizado com a parceria de
ONGs e órgãos governamentais; mas a característica deste
Comunidade processo é a iniciativa da comunidade em resolver seus
problemas.
Exercício de Aplicação
Caro estudante, faça a verificação das competências adquiridas
resolvendo os seguintes exercícios:
2. A democracia participativa é uma forma de exercício dopoder,
baseada na participação dos cidadãos na tomada de decisão
política.
a) Estabelece a diferença entre a Democracia participativa e a
Representativa.
3. O fim do século XX acredita-se numa crise existente no
modelo de Democracia Representativa.
173
a) Mencione 3 factores responsáveis pela crise desse modelo
democrático.
b) O mecanismo institucional da democracia representativa
tem-se mostrado significativamente limitado. Porquê?
Justifica.
4. Por gestão democrática pode-se entender uma relação que
estabelece entre Governo e Sociedade.
a) Qual é o papel da Administração Pública e população na
Democracia Participativa.
b) Indica três tipos de poder existente no mundo.
4. Em 1994 Moçambique realizou pela primeira vez as primeiras
eleições gerais pluripartidárias.
a) Qual é o modelo das eleições gerais utilizadas em
Moçambique.
5. O processo de uma planificada participativa pode ser
dividido em três fases.
a) Concorda com afirmação? Justifica tendo em conta uma das
passagens do MAGAGNIN.
174
TEMA VIII: A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PELA RELAÇÃO MÍDIA E MOVIMENTO
SOCIAIS.
175
Ao mesmo tempo, Atenas torna-se, por razões de segurança e
política externa, campeã da ideologia democrática, fomentando
revoltas e apoiando os partidos afins noutras cidades dominadas
por constituições aristocráticas. Esta utilização da «ideologia»
política como arma de expansão imperial é também um
fenómeno, senão novo, pelo menos original no seu emprego
sistemático. Assim, a Grécia começa a bipolarizar-se
politicamente entre duas cidades principais: Atenas, uma
democracia imperial, comercial e marítima; Esperta, uma
aristocracia militar e continental. A contenda terminará com a
Guerra do Peloponesco (431-404 a. C.), luta geopolítica e
também com a ideológica, em que Atenas acabará vencida por
uma coligação de interesses que o seu expansionismo acabou por
fomentar.
176
delegava poderes em comissões especializadas: Justiça, Guerra,
Finanças, Educação, Religião, Estaleiros, Contas. Os membros
das comissões eram tirados à sorte. O conjunto destas comissões
abrangia 1200 a 1400 membros, o que pressupunha uma
alternância sucessiva. O mesmo espírito democrático encontrava-
se nos Tribunais de Justiça, cada um compreendendo cerca de
500 membros de Ecclesia, constituindo uma espécie de júri. Em
320 mil habitantes, 20 mil cidadãos gozavam de plenos direitos
políticos. As mulheres, os menores, os estrangeiros e os escravos
não tinham direito de voto».
177
cuja sede e forma se encontrarem estatuídas na Constituição e
Leis Fundamentais, e poder real, que consiste no controlo e
exercício efectivos do mando, tal qual se passa na realidade.
178
ao vencedor, o império marítimo termina. O esplendor cultural
manter-se-á e reflorescerá mesmo com a «geração de derrota», na
qual figuram, além de Sócrates, Xenofonte (425-355), Platão
(428-347) e Aristóteles (384-322). Mas a chama olímpica do
poder político, do império, perderse-á para sempre, para os
atenienses um povo conquistador do Norte vai retomá-la os
Macedónios.
179
regimes, como oferecer, através dos seus pensadores, quer uma
reflexão racional e ponderada sobre o valor dos «fins últimos da
acção política» (Filosofia Política), quer uma análise descrita e
sistemática das formas políticas vigentes, bem como uma
tentativa da sua classificação e estudo segundo critérios gerais,
isto é, uma investigação científica da Política.
Ora é com os gregos que esta fórmula atinge a sua perfeição mais
consciente com uma coincidência entra em crise. Quer dizer: o
esforço tenderá permanentemente, em todas as vicissitudes, a
transmitir à organização política da Cidade, da polis, as
concepções filosóficas sobre o homem e o seu destino. Ao tempo,
para os gregos, os humanos são entendidos como sendo da mesma
espécie dos deuses, sendo a diferença entre uns e outros
quantitativa e não qualitativa. Na cosmovisão grega, os deuses
são semelhantes aos homens, ainda que
180
imortais, e têm as suas paixões, participam nas suas lutas, tomam
partido nas suas guerras e amores. A lei humana deverá, assim, ser
espelho da lei divina, do mesmo que aos lagos (razão) de Deus,
corresponde o nóos (inteligência) do homem, que Heraclito
consubstancia na dike (justiça, lei eterna).
181
Deste modo é natural que a aristocracia etimologicamente
governo dos melhores, e de qualquer modo a oligarquia è
governo de alguns, poucos tenham sido os primiticos modos de
organização política na Grécia, onde a vida política decorria, em
termos de unidade territorial, à volta de cidades-estado
independentes, sendo também vital, do ponto de vista da
distinção social e jurídica, a existência de homens livres, pessoas
jurídicas com mais ou menos direitos, mas considerados cidadãos
e escravos, cujo estatuto é de objectos, pertença dos primeiros,
dualidade que aliás é característica de todas as civilizações da
Antiguidade e deriva, essencialmente, da estruturação da
economia em bases servis, fruto dos resultados da guerra e da
conquista inicial.
182
uma natureza intermédia entre estes e o resto dos mortais. E
também os oráculos ou centros religiosos onde se
interpretavam os sinais e a vontade dos deuses contribuíram,
nesta fase, para manter sem fracturas a sociedade estabelecida.
183
e da plebe, procurou realizar o ideal grego da moderação baseada
na justiça.
184
Mas este sentido da medida, do equilíbrio da Eunomia (a justa
ordem), nem sempre triunfa na política na luta política. Este
legislador prudente que concilie o direito e a força, esta impõe as
suas regras. Então aparece a tirania, figura que, segunda Platão e
Aristóteles, representa a forma degenerada ou corrompida do
governa de um só, a monarquia.
185
com uma força mercenária, tomou o poder e exerceu-o até à
morte. Sucedeu-lhe o seu filho Hípias.
186
proposta, banir por dez anos dos limites da Polis qualquer
cidadão considerado susceptível de ser perigoso para a liberdade
dos outros. A utilização demagógica e o abuso desta faculdade
em situações de manipulação levou a que alguns dos mais ilustres
atenienses, como Arestides ou Cimon, fossem suas vítimas.
187
autonomia. Mas o domínio de um mesmo destino partilhado em
sociedade, como comunidade de semelhantes, se não se assevera
possível sem níveis suficientes de autonomia pessoal, também
parece não ser viável sem exercício de um adequado poder
regulador, que esteja acima dos interesses e dos conflitos
particulares. Uma profunda contradição está em vias de
atravessar as sociedades contemporâneas: a aspiração ao
pluralismo social e cultural e a descentralização política anda
associada á procura de um governo central que exprima uma
vontade comum eficaz, capaz de harmonizar as aspirações de
todos. Procura se, ao mesmo tempo, mais democracia e mais
estado. E em tal encruzilhada tensional, se encontra também o
poder político, enleado nas suas ambivalências e alienado entre a
sua tendência secular para a concertação e para o monismo, e as
exigências de sociedade civil para a autonomia e para o
pluralismo.
188
A crise da política desenvolvida pelas democracias
representativas levanta questões que não deixam, de facto, de
criar alguma procuração, impõe-se a necessidade de repensar a
arquitectura dos estados, a redefinição dos limites das soberanias,
as modalidades da legitimidade e os procedimentos da
representação e da expressão colectividade. Confortam-se, em
tais questões, os princípios da vontade e da razão, ou da vontade
geral e dos direitos humanos, direitos que oferecem o conteúdo
fundamental á noção da cidadania. Os conceitos de democracia e
de democratização estão, na sua representação, a ser sujeitos a
uma contínua mudança. Pensava-se, desde o século XIX, que as
classes trabalhadoras unicamente seriam capazes se assumir a
cidadania mediante á aquisição de competências que os capitais
humanos e profissionais poderiam assegurar. A democracia
postulava homens livres e autónomos. A prática democrática era
concebida á imagem e ao gosto das camadas sociais possidentes.
Ora, o que as sociedades de hoje ainda oferecem é o espectáculo,
por um lado, de uma acumulação ilimitada do capital económico
com a correspondente crescente privação relativa de largos
segmentos da população e, por outro, uma situação de
generalizada desvalorização dos capitais escolares, ao tornarem
se mais extensivos a todos, e de um maior refinamento de alguns
capitais profissionais em razão em passagem da sociedade do
trabalho á sociedade do conhecimento. A realização da liberdade
e da igualdade deixou de ser um objectivo central, porque se a
impor limites ao imperialismo do mercado, mercantilizado que
foram todos os bens sociais e até mesmo culturais. Não parece ir
mais no sentido do nivelamento das condições sócias, mas antes
da direcção da monopolização das vantagens do dinheiro, do
poder e da educação. A democracia
189
de abundância sonhada pelo estado social vem cedendo o lugar a
um certo retorno das desigualdades seculares, acrescidas de novas
diferenciações configuradas sob a forma de exclusão social.
Parece ter se chegado ao fim do objectivo da democraciado bem-
estar e ter desaparecido o desejo de democratização.
190
cosmopolitas, que se consideram cidadãos de mundo, com um
cosmopolitismo ilusório que não é enformado por uma prática
concreta de cidadania. Vive-se dissociado do meio que se insere.
As novas elites das profissões intelectuais e dos quadros
superiores investe fortemente nessa mobilidade social e
geográfica, livres de compromissos imediatos.
191
análise sociológica. As sociedades defrontam se na actualidade
com problemas de não fácil solução. A actividade política tende
assumir um carácter de irrealidade. Ao mesmo tempo que os
profissionais vivem dissociados dos que os rodeiam, parece
aumentar o espaço que separa os cidadãos entre si, caídos numa
cidadania passiva, distanciados dos que detêm o poder político. A
democracia definida como governo do povo pelo povo, continua
a ser uma mera utopia, longe de modelo a que o sonhohumano tem
aspirado para além do desfasamento entre os políticos e a
população, nem sempre é clara a superação dos pobres,
nomeadamente entre o executivo e o legislativo, e entre este o
judicial, assim como entre estes órgãos do estado e as diversas
corporações da sociedade civil, nomeadamente económicas e
desportivas. O poder judicial encontra se de forma ordinária, em
relativo estado de stress, incapaz de responder, em tempo útil, as
múltiplas solicitações que lhe feitas, com consequências graves
para o funcionamento de toda a vidacolectiva.
192
entender a formação de vontade política. A concepção liberal, no
sentido estritamente político, tem como função programar o
estado no interesse da sociedade, realizando assim os desígnios
colectivos, enquanto a agregação dos desejos individuais. A
concepção republicana, essa não reduz a política, a uma tal função
de mediação; ela é, ao contrário, constitutiva do processo de
socialização no seu conjunto. A política é concebidacomo a forma
reflexiva de um contexto de vida ética. Na visão republicana, a
arquitectura liberal dos estados da sociedade sofre, na verdade,
uma profunda transformação. O estado, além da sua função de
regulação, enquanto responsável pela criação de um quadro
jurídico que permita o bom funcionamento da vida económico e
social em defesa dos interesses de cada um, como preconiza o
modelo liberal, possui um poder soberano, com a prevalência de
vontade colectiva sobre os direitos subjectivos reclamáveis dos
indivíduos. Neste caso, a solidariedade aparece como terceira
fonte da integração social, para além da regulação estatal e da
regulação descentralizada do mercado. A sociedade civil e o
espaço público político adquirem aqui uma significação
estratégica.
193
enfraquecimento do liame político. O individualismo conduz a
uma concentração nos interesses particulares, em detrimento do
cidadão e das suas ideias. Os deveres do cidadão são confundidos
com os direitos do consumidor. As democracias, nomeadamente
ocidentais, parecem ser mais ameadas, apesar de tudo, pela
cidadania passivas pela indiferença política do que pela
intolerância. As pessoas tendem a pensar mais não seus direitos e
a cuidar pouco dos direitos dos outros, o mesmo será dizer das
suas responsabilidades.
Se na concepção liberal prevalece a razão a vontade e o respeito
pelos direitos humanos, com tendência para a dominação do
modelo do mercado, no modelo republicano, não é o mercado,
mas a conversação que tem valor de paradigma, isto é, o contrato
social e, por isso, as estruturas de comunicação pública orientadas
para o entendimento e o consenso. O modelo republicano mantém
o sentido democrático de um auto-organização da sociedade
pelos cidadãos unidos na comunicação. As desvantagens residem
em que, esse modelo é demasiado idealista e faz depender o
processo democrático da virtude dos cidadãos orientados para a
salvação pública, virtudes essas contraditórias pela prática social.
O descontrolo actua da actividade económica, sujeita
exclusivamente às leis do mercado sem regulação do poder
político, monstra-o á evidencia. Tal modelo envolve questões
éticas e ideológicas fortes. J.J. Rousseau, defensor do modelo
republicano, recebeu esta ideia do cidadão virtuoso de
Montesquieu, segundo o qual, a honra faz mover todas as partes
do corpo político; ela liga-as pela sua acção; e acontece que cada
um conduz-se para o bem comum, crendo se para os seus
interesses particulares, enforma a perspectiva de Montesquieu,
uma visão da virtude política, isto é, da virtude da própria vida do
povo, virtude que conduz a coesão do estado enquanto, amor da
república, e não a virtude
194
moral. Rousseau louva-o por ter formulado essa teoria, mas não
aceita o seu optimismo: eis porque um autor célebre deu a virtude
por princípio á república, porque todas essas condições não
poderiam subsistir sem a virtude; mas a não ter feito as distinções
necessárias, esse belo génio careceu muitas vezes dejusteza, por
vezes de clareza, e não viu que a autoridade soberana sendo por
toda a parte a mesma, o mesmo princípio deve ter lugar em todo
o estado bem constituído, mais ou menos, é verdade, sob a forma
de governo. Montesquieu tinha em vista a democracia antiga,
concepção que leva a elabora uma tal teoria de virtude. Rousseau
considera as condições de uma democracia representativa, já que,
de democracia direita, pensa que nunca existiu verdadeira
democracia, e não existira jamais. Hegel acaba por retomar e
aceitar essa maneira critica, considerando que a virtude política é
insuficiente, porque a sociedade moderna é complexa do que a
cidade antiga. O que opõe Hegel a Montesquieu é a necessidade
de uma constituição.
195
próximo do que com o distante. Objecto de permanente
questionamento se torna o estado e a sociedade civil.
196
a participação dos indivíduos e autonomia pública dos cidadãos.
Ora, existe uma clara tensão entre soberania do povo e direitos
humanos. Neste particular, se opõem, em especial, os modelos
liberais e republicanas. Na entender de Habermas, a autonomia
privada e autonomia publica pressupõem se reciprocamente, se,
que os direitos do homem ou a soberania popular possam ter
pretensão ao primado. De qualquer modo princípio da soberania
popular requer a garantia dos direitos fundamentais sem os quais
nenhum direito legitima pode existir. O processo democrático
deve assegurar as duas autonomias, autonomia privada dos
cidadãos iguais em direitos e autonomia cívica. Na verdade, é
traço geral da tradição liberal o explicar o estado de direito pelo
antagonismo entre um direito que outorga liberdades individuais
e um poder político que realiza desígnios colectivos. Trata se de
uma posição que, nas sociedades ocidentais, se procurou sempre
reequilibrar. O liberalismo político, próprio de um estado de
direitos democráticos, parte do princípio de que as formas de
vidas individuais tem se protegidas das intromissões do poder do
estado, gozando os cidadãos de uma autonomia pública e de uma
auto determinação pessoal, devendo a primeira ser um meio de
realização desta última. Em democracia, é necessário que os
cidadãos possuam a capacidade e a possibilidade de exercer os
seus direitos, em termos de tanta liberdade subjectivas como de
liberdade pública. O que acontece é que, com a crescente crise do
estado social, a inserção na vida económica e social passa, cada
vez mais, a fonte essencial de status social e da cidadania.
Encontram se, por isso, actualmente privados de exercício da
cidadania todos os que estão em estado de pobreza e de exclusão
social. Não gozam ainda de cidadania plena outros segmentos de
população, como os idosos que vivem em estado de privação
relativa. Em razão destas antinomias, muitas das
197
dimensões da cidadania, se soa formalmente reconhecidas, não
são suficientemente garantidas em todo o espaço nacional e
europeu. Cada uma das concepções de estado acabadas de referir
da origem a formas específicas da cidadania e a configurações
próprias da democracia. A qualidade da prática democrática
depende da vivência da cidadania plena e activa. As sociedades
actuais têm vindo a passar de uma concepção monista da
soberania, mais de acordo com o modelo republicano, a uma
visão pluralista, que apela mais ao modelo liberal na base da
arquitectura do estado republicano, esta uma concepção de estado
monista da vontade colectiva. O povo era entendido, como uma
unidade, um corpo, a que se conferia a ideia de soberania. A
vontade geral era dotada de um carácter substantivo. Essa
concepção da soberania popular participativa de uma visão
monista da política, formada a partir de um único princípio, o
voto, a vontade geral exprime se no desse jogo.
198
entram em acção. A concepção pluralista do povo traduz-se no
incremento a sob política, a que corresponder expressões de
representação.
199
Para a concepção republicana libera, o estatuto da cidadania deixa
de ser definido pelas liberdades que podem reivindicadas por cada
pessoa privada. Desde então, os direitos cívicos, em primeiro
lugar os direitos de participação e de expressão política, são, ao
contrário, liberdades positivas. Os direitos humanos não
garantem, neste caso os indivíduos contra as incursões
confrangedor as vidas do exterior. De harmonia com esta visão, a
existência do estado não é legitimada e, primeiro lugar pela
protecção dos direitos subjectivos iguais, mais pela garantia de
um processo inclusivo de formação de opinião e da vontade, no
decurso do qual os cidadãos livrem e iguais se entendem sobre os
objectivos e as normas que são do interesse comum a todos. Pede-
se assim ao cidadão republicano mais do que agir simplesmente
em função dos interesses que os de cadaum. Se, no modelo liberal,
a ordem jurídica é construída a partir dos direitos subjectivos, no
modelo republicano, o primado é conferido ao seu conteúdo de
direito positivo, imposto pela vontade geral.
200
procede de forma inversa, limitando os direitos humanos á
soberania da vontade geral.
201
efectiva cidadania europeia, sem afirmação de uma Europa
social, com políticas sociais uniformizadas que ultrapassem o
princípio formal subsidiariedade, consagrados em diversos
tratados. Até que supere essa cláusula, a cidadania europeia
continuara a ser uma declaração do princípio, sem o seu total
reconhecimento de facto. O que se verifica é o avanço de uma
Europa económica á custa da Europa social. Nunca haverá uma
Europa social, sem uma Europa política que tarda em aparecer,
porque não surge uma arquitectura política que a suporte.
202
estabelecendo se entre direitos humanos e soberania do povo,
uma relação mais concorrencial do que de complementaridade
recíproca. Pode haver certa tensão entre o império das leis
fundadas os direitos humanos e auto organização espontânea de
uma comunidade que se da si mesma as próprias leis através da
vontade soberana do povo. Os liberais esconjuram o perigo de
uma tirania da maioria, de que falava Alexis de Tocqueville, e
postulam os direitos humanos. Assumem uma concepção que
contrasta com adoptada pelo estado republicano.
203
Habermas, pois que a vontade soberana do povo não pode
exprimir-se a não ser na língua das leis universais e abstractas,
esse direito a iguais liberdades subjectivas que Kant punha como
preliminar enquanto direito fundado para todo o homem a tomar
a parte na formação da vontade política, é desde o partido inscrito
nela. Consequentemente, em Rousseau o exercício da autonomia
política não esta mais sob reserva de direitos inatos, entrando o
conteúdo normativo dos direitos humanos no modo de realização
da soberania popular. O pensamento de Rousseau é ambivalente,
radicando nele o individualismo liberal e a tendência para o
totalitarismo expresso na vontade geral. Aparece na origem tanto
do estado liberal, inspirado nos direitos do homem, como do
estado republicano, assente no contrato social e, dai, na vontade
geral. Acaba. Porem, por privilegiar a vontade unida dos cidadãos,
vontade que produz as regra que garantem as liberdades
subjectivas iguais para todos. A soberania popular assegurara,
desse modo, a substância dos direitos originais do homem, tais
como concebidos por E.Kant.
204
política. Em democracia, o sistema dos direitos não só não é cego
á desigualdade das condições sociais de vida, mas não o é mais
às diferenças culturais. Uma teoria dos direitos não pode ser
indiferente de cultura. Os sujeitos de direitos tornam-se
indivíduos graças á socialização. Desde então, uma teoria do
direito bem compreendido requer precisamente uma política de
reconhecimento que proteja a integridade do indivíduo,
compreendido nos contextos de vida que formam a sua
identidade. A autonomia privada dos cidadãos iguais em direitos
passa a ser assegurada mediante a aceitação da sua autonomia
cívica.
205
deixaram de abarcar todos ou a maioria dos trabalhadores, ao
mesmo tempo que vêem esgotar-se progressivamente a sua
capacidade de mobilização e de reivindicação. São frequentes, na
actualidade, as movimentações de trabalhadores á margem dos
sindicatos, ao mesmo tempo que se desenvolvem p poder o
crescente dos movimentos sociais e das frequentes acções de
cidadania.
206
A escola perde a sua capacidade de normativa social. Temos uma
escola que continua a educar para uma sociedade que já não
existe, usando porventura, modelos e conhecimentos que não são
nem adequados. Estão em causa programas e conteúdos
ministrados.
207
reafirmação da soberania. Esta, promovida a nível do estado e das
relações internacionais, é, cada vez mais, dotada de alcance
limitado, na medida em que essas relações são transnacionais
num espaço geopolítico mais alargado. A globalização, neste
aspecto, não será também mais do que uma certa ilusão. Poderá,
na verdade, pergunta-se se será possível pensar apolítica europeia
de acordo com os critérios da democracia nacional. Não é fácil
transpor para o nível europeu, e muito mais mundial, os
procedimentos de governo das democracias representativas, com
a criação de uma democracia com essa mesma extensão. O
problema consiste em saber como democratizar as organizações
internacionais. Na Europa, um enorme défice democrático. As
decisões cruciais são tomadas por elites políticas e por elites
burocráticas. Faltam as instituições políticas que ofereçam aos
cidadãos as oportunidades de participação e de controlo político.
Está-se ainda longe de uma arquitectura política da Europa, sendo
difícil saber como poderá funcionar ai a democracia. O que se
poderá afirmar com algum fundamento é os procedimentos e
legitimidade em uso nas sociedades ocidentais poderão não ser
exequíveis em níveis políticos supra-nacionais, onde se
reconhece que o procedimento não lógicos sufrágio parece que
ser substituído por um outro mais lógico, como sejam os direitos
humanos.
208
A cidadania política estendida ao espaço europeu é, neste aspecto
limitada, a algumas eleições, especialmente autárquicas. As
próprias eleições para o parlamento europeu mantêm a matriz
nacional. Não existe ainda um espaço publico político europeu,
nem muito menos mundializado, que permita eleições que lhe
sejam adequadas. A participação no sufrágio eleitoral tem sido,
ao mesmo tempo, o símbolo e o instrumento de vivência da
cidadania política, sendo ela que revela o sentido da democracia
moderna.
209
As famílias partidárias a nível do parlamento europeu são
formadas artificialmente por agressão mais ou menos ideológica.
Falta á sociedade civil europeia um sistema de partidos que
representa os interesses transnacionais susceptível de promover a
formação democrática da vontade, a exemplo do que sucede com
os partidos a nível nacional. Enquanto a Europapolítica continuar
a ser um desiderato, sem uma arquitectura que lhe confira
coerência e democraticidade, a cidadania política não terá nela
verdadeira expressão, em termos do si conteúdo e da sua
extensão.
A tendência que vem notando nas sociedades de hoje é para a
noção da cidadania de mundo seja usada por uma elite por uma
elite crescentemente transnacional ou por uma elite cultural
comuns semelhante ideário. Estas elites são portadoras de
ideológicas políticas que procura m superar os limites dos
estados-nação, perdendo o contacto direito com as preocupações
do cidadão comum. Movem-se numa outra esfera.
210
realizar a cidadania democrática e a integração social,
conjugando a liberdade privada dos cidadãos, enquanto membros
da sociedade civil, com a sua autonomia política.
211
das instituições europeias, para além dos agrupamentos
fraccionais, para se convertem num sistema de partidos europeus.
Essas mudanças, essas mudanças, ao mesmo tempo que criam um
espaço público político supranacional, são susceptíveis de
desenvolver a passagem dos direitos humanos aos direitos de
cidadania, com garantia e protecção institucionais.
212
Consequentemente, o desenvolvimento de uma cidadania
supranacional levanta enormes desafios. Por um lado, a matriz da
cidadania é o estado-nação de ponto de vista do seu conteúdo,
define-se pelo reconhecimento e pela defesa dos direitos
humanos. A matriz cultural dos direitos humanos é, por sua vez,
a cultura nacional iluminista do ocidente, que se não levanta
problemas no interior do espaço europeu o mesmo não sucede a
nível mundial. Nesta última situação, existe um eventual conflito
entre direitos humanos e globalização, na medida em que a
presença de culturas diferentes nem sempre coexiste em
harmonia.
213
vêm constituindo garantia de circulação, de trabalho e de outros
cuidados concedidos a todas pessoa cidadãs de cada um dos
integrantes.
214
garantia de liberdades individuais. Esta dualidade é constitutiva
da concepção do direito moderno. É daí que resulta o carácter
potencialmente universal da cidadania. A democracia moderna
prolonga tradição liberada defesa da autonomia individual. Os
princípios democráticos da cidadania apontam para as suas
dimensões universal e para a faculdade que possui cada um de
poder exercer as suas liberdades fundamentais, em qualquer
espaço em que se encontre.
215
espaço europeu nem subjacente a cultura ocidental, que nem
sempre encontra aceitação no quadro de outras culturais.
216
Sempre que um dos estados da Europa não tem relação
diplomática com estado em que seja necessária intervir a favor de
um cidadão, esse papel está confiado a outro estado europeu que
tenha possibilidade que esteja em condições de o fazer.
Auto-Avaliação
1. O que entende por moral?
217
2. O que entende por comportamento?
3. O que e ética?
4. Qual a diferença entre ética e moral?
5. Qual a diferença entre ética e comportamento?
6. O que entende por cidadania?
7. Como pode ser classificada a cidadania.
8. Como se denomina aquela que não faz uso ético?
9. Porque o sentido de ética chegou a falência na modernidade?
10. Como estudante do nível superior, qual é o conceito de
felicidade.
11. Explique a ética segundo o padrão.
12. A invasão e tentativa de conquista da Grécia pelos Persas
veio modificar substancialmente as relações políticas e
sociais na Hélade.
a) Descreve o papel desempenhado por Atenas na defesa e o
incremento dado à sua força. naval, Temístocles e
Clístenes.
b) Qual foi o modelo Democrático estabelecido na Grécia
antiga.
c) Situa no tempo a Democracia ateniense.
13. A família vem perdendo a sua capacidade de normativa
social.
a) Define a cidadania.
b) Que tipo de sociedade está em via de ser constituído.
14. A vivência da cidadania e da democracia pressupõe algumas
condições de base.
c) Mencione as condições de base acima referida.
15. O desenvolvimento de uma cidadania supranacional levanta
enormes desafios.
218
a) Que tipo de matriz da cidadania é o estado-nação de ponto de
vista do seu conteúdo.
219
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Araújo, Sara; José, André, “Pluralismo Jurídico, Legitimidade e Acesso à
Justiça. (2007). Instâncias comunitárias de resolução de conflitos no Bairro
de Inhagoia «B» – Maputo”.
• Arquivo Histórico. (1995). o novo espaço político. Maputo: Universidade
Eduardo Mondlane,
• AVRITZER, Leonardo. (1993).Além da dicotomia Estado-mercado:
Habermas, Coehn e Arato. Novos Estudos Cobra, São Paulo.
• BALBO, Laura. (1987). “Family, Women and the State: Notes toward a
Typology of Family Roles and Public Intervention”, in C. S. Maier (org.),
Changing Boundaries of the Political, pp. 201-19.
• BENERÍA, Lourdes. (1991). “Structural Adjustment, the Labor Market
and the Household: The Case of Mexico”, in G. Standing & Victor Tokman
(orgs.), Toward Social Adjustment: Labor Market Issues in
Structural Adjustment. Genebra: International Labor Office.
220
• BLONDET, C. (1991), Las mujeres y el poder. Lima, Instituto de Estudios
Peruanos.
• BOBBIO, Norberto. (2004). A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier,.
• Bonate, Liazza J. K. (2007). (Jlamand Chiefships Norte de Moçambique,
Centro de Estudos do Islão no Mundo moderno.
• CEPAL (Comisión Económica para América Latina y el Caribe). (1995).
nuevas tendencias en América Latina. Santiago, Documento LC/R. 1575 da
Cepal, Ciências da Universidade de Lisboa, 2004.
• CORRÊA, Darcísio. (2002). A construção da cidadania: reflexões histórico-
políticas. 3ª ed. Ijuí: Ed. UNIJUÌ.
• CORTES, Fernando & RUBALCAVA, Rosa María. (1991). Autoexplotación
forzada y equidad por empobrecimiento. México, E1 Colegio de México,
Jornadas 120.
• COSTA, Sérgio. (1997). Categoria analítica ou passe-partout
políticonormativo: notas bibliográficas sobre o conceito de sociedade civil.
Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais (BIB),
São Paulo.
• DAGNINO, Evelina (org.). (2000). Cultura e política nos movimentossociais
latino-americano.Belo Horizonte: Editora UFMG.
• DAGNINO, Evelina. (2002). Sociedade civil e espaços públicos no Brasil.
Rio de Janeiro: Paz e Terra.
• DAHRENDORF, Ralf. (1994). “The Changing Quality of Citizenship”, in
B. van Steenbergen (org.), pp. 10-9.
• Dicionário da Língua Portuguesa. (2001) .Contemporânea da Academia de
Ciência de Lisboa.
• ECKSTEIN, Susan. (1990). “Urbanization Revisited: Inner-City Slum of
Hope and Squatter Settlement of Despair”. World Development 18, 2: 165-
81.
221
• Empírico. Portugal, Revista Ibero americana de educacion, 2008. Epistemológica.
Maputo, Imprensa Universitária, 2005. Estudo citado por Bagnol e Ernesto) em
“titios e catorzinhas, Maputo, 1993.
• FONSECA, Jumária Fernandes Ribeiro. (2009). O Orçamento Participativo e
a Gestão Democrática de Goiânia. Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento e Planeamento Territorial). Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Planeamento Territorial da Universidade Católica de Goiás.
Goiânia.
• GOLIAS, M. Sistema de Ensino em Moçambique: Passado e Presente.
República de
• GOMES.J.C.L. MAQUIAVEL e a Moderna
concepção dopolítico,1989, Mestrado em Filosofia.
• HEDGES, David. (Org), História de Moçambique Vol. II: Moçambique no
Auge do Colonialismo, 1930 – 1961. 2ª ed. Maputo: Imprensa universitária,
1999.
• HERKENHOFF, João Baptista. (2001). Como funciona a cidadania. 2ª ed.
Manaus: Editora Valer,. http://dx.doi.org/10.14210/alcance.v16n1.p081-101
• KOWARICK, Lúcio & SINGER, A. (1994). “The Worker’s Party in São
Paulo”, in L. Kowarick (org.), Social Struggles and the City. Nova York,
Monthly Review Press.
• LESSA, Renato. (1996). Dicionário do pensamento social do século XX
.Rio de Janeiro: Zahar Editores.
• MAGAGNIN, Renata Cardoso. (2008). Um sistema de suporte à decisão na
internet para o planeamento da mobilidade urbana. Tese (Doutorado em
Engenharia Civil: Transportes). Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo.SP.
• MANN, M. (1987). “Ruling Class Strategies and Citizenship”. Sociology,
21, 3: 339-54.
222
• MAQUIAVEL, N. ( 1982). Comentários sobre a primeira década de Tito
Lívio. 2.ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
• MAQUIAVEL. N. (1985). O Príncipe. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
• MARSHALL, T. H. (1967). Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro:
Zahar.
• TURNER,Bryan. S. (1990). “Outline of a theory of citizenship”. Sociology,
Vol. 24, Nº. 2.
• MARSHALL, T.H. (1967). Cidadania, classe social e status. Trad. Meton
Porto Gadelha. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
• MAZULA, Brazão. (1993). Ética, Educação e Criação da Riqueza, uma
Reflexão Moçambique, Editora Escolar, Moçambique. MaputoCIP.
• MOSCA. João. (1979). Eonomia de Moçambique. Maputo.
• NASSUNO, Marianne. (2006). Burocracia e Participação: a experiência do
orçamento participativo em Porto Alegre. Tese (Doutorado em Ciências
Sociais). Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. Brasília.
• PATEMAN, C. (1992). Participação e Teoria Democrática. Rio de Janeiro,
223
• REIS, Elisa. (1995). Desigualdade e solidariedade: uma releitura do
“familiaridade amoral” de Banfield. Revista Brasileira de Ciências
Sociais. São Paulo.
• ROSÁRIO, Lourenço do. (1996). “Contribuição para uma reflexão sobre
a ideia de identidade e cidadania em Moçambique”, in L. Do Rosário,
Singularidades – estudos africanos. Lisboa: Edições universitárias
Lusófonas.
• Rouveroy van Nieuwaal, Emile .(2000). «Pobreza judiciária: a
complexidade do pluralismo judiciária no Togo», in José Viegas e
Eduardo C. Dias, Cidadania, Integração, Globalização. São Paulo.
• SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). (2002). Democratizar a
Democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira.
• SANTOS, Boaventura de Sousa; NUNES, João Arriscado. (2003).
Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da
igualdade. In SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). Reconhecer para
libertar: os caminhos do cosmopolitismo multicultural. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira,
• SELL, Carlos Eduardo. (2006). Introdução à Sociologia Política: política
esociedade na modernidade tardia. Petrópolis.
• TILLICH, Paul. (1976). A coragem de ser. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
• VIGLIO, José Eduardo. (2004). Avaliação da experiência do
Orçamento Participativo numa cidade média: o caso de Jaboticabal –
SP. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana). Centro de Ciências
Exactas e de Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos.-SP.
• WEBER, Max. (2000). Economia e sociedade - Fundamentos da sociologia
compreensiva. Vol I 4ª edição. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
224