Você está na página 1de 104

MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

GESTÃO DE EMPRESAS

Filosofia, Ética e Logica Organizacional

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO 2022


MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM
GESTÃO DE EMPRESAS

Filosofia, Ética e Logica Organizacional

2º ANO: Filosofia, Ética e Logica Organizacional


CÓDIGO ISCED21-CJURCFE006

TOTAL HORAS/ 2 125


SEMESTRE
CRÉDITOS (SNATCA) 5
NÚMERO DE TEMAS 9
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 10 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED (UnISCED),e contém reservados


todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou
outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Aberta ISCED (UnISCED).
A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processosjudiciais
em vigor no País.

Universidade Aberta ISCED (UnISCED)


Coordenação do Programa de Licenciaturas

Rua Paiva Couceiro. No, Macuti


Beira - MoçambiqueTelefone: 23323501
Cel: +258 823055839

Fax: 23323501
E-mail:
direcção@unisced.ac.
mzWebsite:
www.unisced.ac.mz

i
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 10 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional

Agradecimentos

A Universidade Aberta ISCED (UnISCED) e o autor do presente manual agradecem a


colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:
Pela Coordenação Direcção Académica da UnISCED
Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação da UnISCED
Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação
a Distancia (IAPED)

Pela Revisão

Elaborado Por: Aristides Silvestre Culimua, Mestre em Educação/Filosofia

ii
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional

Índice
ÍNDICE ................................................................................................................1

VISÃO GERAL ...................................................................................................3

BEM-VINDO À DISCIPLINA/MÓDULO DE FILOSOFIA, ÉTICA E LÓGICA ORGANIZACIONAL ......... 3


QUEM DEVERIA ESTUDAR ESTE MÓDULO ..................................................................................... 3
COMO ESTÁ ESTRUTURADO ESTE MÓDULO ................................................................................. 4
ÍCONES DE ACTIVIDADE ................................................................................................................. 5
HABILIDADES DE ESTUDO .............................................................................................................. 5
PRECISA DE APOIO? ................................................................................................7
TAREFAS (AVALIAÇÃO E AUTO-AVALIAÇÃO)..................................................................8
AVALIAÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE TEMÁTICA I. A EMERGENCIA DO FILOSOFAR .............11

1.1 ORIGEM DA FILOSOFIA..................................................................................................11


1.2 TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO DE FILOSOFIA .....................................................................14
1.3 COMO DEFINIR ENTÃO A FILOSOFIA? ............................................................. 14
1.4 A DIVERSIDADE DAS PERSPECTIVAS ...............................................................................14
1.5 UNIVERSALIDADE E PARTICULARIDADE DA FILOSOFIA (SEU OBJECTO DE ESTUDO) ..... 17
1.6 ATITUDES FILOSÓFICAS..................................................................................................17
1.7 A FILOSOFIA NO UNIVERSO DAS OUTRAS CIÊNCIAS .......................................................19
1.8 FUNÇÕES DA FILOSOFIA (NO ÂMBITO TEÓRICO E PRÁTICO) .................................. 19
1.9 MÉTODOS DA FILOSOFIA ..............................................................................................20
SUMÁRIO .....................................................................................................................................20
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO.......................................................................21

UNIDADE II. ÉTICA .......................................................................................... 21

2.1 O SIGNIFICADO DA PALAVRA ÉTICA ...............................................................................22


2.2 DISTINÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL ...............................................................................22
2.3 ÉTICA GREGA CLÁSSICA, MEDIEVAL, MODERNA E CONTEMPORÂNEA ............................23
2.4 O OBJECTO FORMAL DA ÉTICA ......................................................................................28
2.5 O MÉTODO DA ÉTICA ....................................................................................................28
2.6 O VALOR DA CONSCIÊNCIA (CONSCIÊNCIA MORAL)............................................ 30
2.7 LIBERDADE E RESPONSABILIDADE ..................................................................................31
2.8 OS DIFERENTES TIPOS DE ÉTICA.....................................................................................33
2.9 ÉTICA E FORMAÇÃO PROFISSIONAL ...............................................................................35

UNIDADE III: MORAL ...................................................................................... 38

3.1 O CARÁCTER HISTÓRICO DA MORAL .............................................................................38


3.2 A ESSÊNCIA DA MORAL..................................................................................................38
3.3 MUDANÇAS HISTÓRICO-SOCIAIS E MUDANÇAS DA MORAL ...........................................39
3.4 O PROGRESSO MORAL...................................................................................................41
3.5 NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO MORAL EM KOHLBERG .................................................43
3.6 MORAL E RELIGIÃO .......................................................................................................45
3.7 ÉTICA E DIREITO.............................................................................................................46
3.8 MORAL E CIÊNCIA..........................................................................................................47

UNIDADE IV: ÉTICA SOCIAL ............................................................................ 49

1
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional
4.1 OBJETO DA ÉTICA SOCIAL ............................................................................................ 49
4.2 ASPECTOS DA ÉTICA AMBIENTAL .................................................................................. 50
4.3 OS PROBLEMAS DO MEIO AMBIENTE NA ACTUALIDADE ............................................. 51
4.4 DIREITOS HUMANOS E ÉTICA ....................................................................................... 53

UNIDADE V: ÉTICA POLÍTICA .......................................................................... 57

5.1 RELAÇÃO ENTRE POLÍTICA E ÉTICA ................................................................................ 57


5.2 SOCIOLOGIA DO PODER POLÍTICO ................................................................................ 58
5.3 FUNDAMENTAÇÃO E CONTEÚDO DA ÉTICA POLÍTICA .................................................... 60

UNIDADE VI: ÉTICA ECONÓMICA.................................................................... 61


6.1 A ESSÊNCIA DA MORAL ECONÓMICA ............................................................................ 61
6.2 OS SISTEMAS ECONÓMICOS E A MORAL, DESUMANIDADE DO CAPITALISMO ................ 61
6.3 CONDIÇÕES PARA UMA COOPERAÇÃO PARTICIPATIVA NA ECONOMIA MUNDIAL ......... 66

UNIDADE VII: LÓGICA ..................................................................................... 68

7.1 O QUE É LÓGICA........................................................................................................... 68


7.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LÓGICA ............................................................................... 69
7.3 OBJECTO DA LÓGICA .................................................................................................... 70
7.4 OS TIPOS DE LÓGICA..................................................................................................... 71
7.5 LÓGICA PROPOSICIONAL (PROPOSIÇÕES SIMPLES E PROPOSIÇÕES COMPLEXAS) ........ 71
7.6 CONECTIVAS LÓGICAS OU OPERADORES LÓGICOS ........................................................ 72
7.7 NOÇÃO DE TABELA DA VERDADE .................................................................................. 72
7.8 OPERAÇÕES LÓGICAS SOBRE AS PROPOSIÇÕES ............................................................. 73
7.9 RACIOCÍNIO LÓGICO ..................................................................................................... 76
7.10 RACIOCÍNIO DEDUTIVO: DO GERAL AO PARTICULAR ................................................. 77
7.11 AS ORIGENS DO RACIOCÍNIO INDUTIVO...................................................................... 78
7.12 CRÍTICA AO RACIOCÍNIO INDUTIVO ............................................................................ 82
7.13 RACIOCÍNIO ANALÓGICO............................................................................................ 86

UNIDADE VIII: DEONTOLOGIA PROFISSIONAL ................................................ 87

8.1 AS CRISES DO PENSAMENTO RACIONAL E A ÉTICA......................................................... 87


8.2 DEFINIÇÃO DA ÉTICA PROFISSIONAL ............................................................................. 89
8.3 DEFINIÇÃO DE DEONTOLOGIA ...................................................................................... 89
8.4 O PAPEL DA ÉTICA PROFISSIONAL ................................................................................. 90
8.5 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ..................................................... 91
8.6 COMO SER UM PROFISSIONAL ÉTICO? ............................................................ 91
8.7 CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL .................................................................................. 91

UNIDADE IX: ÉTICA HOJE E SUAS INTERFACES COM O MUNDO DA


ADMINISTRAÇÃO ........................................................................................... 92

9.1 ÉTICA EMPRESARIAL ..................................................................................................... 92


9.2 NORMAS EMPRESARIAIS .............................................................................................. 93
9.3 O PAPEL DA ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO EMPRESARIAL................................................. 95

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 97

2
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional

Visão geral

Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Filosofia, Ética e


Lógica Organizacional

Objectivos do Módulo: O questionamento ético do discurso e


destas práticas transformou-se numa questão da sociedade e
envolve todos os cidadãos. Por isso, esta disciplina não se limita ao
estudo das “regras” consagradas em códigos, de declarações de
princípios e livros de estilo, indo mais além, relacionando as teorias
normativas de cada área com os princípios deontológicos da
profissão. A plena compreensão da problemática deontológica
pressupõe – não só o relacionamento da deontologia com a ética
e com o direito – mas também a compreensão do contexto em que
se processa essas actividades. A deontologia é uma disciplina da
ética especial adaptada ao exercício de uma profissão.

▪ Saber responder às perguntas essenciais pelo Homem, pelo


Mundo e por Deus.
▪ Conhecer a criação do Mundo e do Homem do ponto de vista
religioso e científico.
Objectivos
▪ Caracterizar o ser humano nas perspectivas religiosas, africana,
Específicos
budista, islâmica e na perspectiva marxista.
▪ Compreender a relação existente entre a fé e a razão.
▪ Fazer uma interpretação crítica da realidade social e da
dimensão axiológica das nossas acções.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


licenciatura em Gestão de Empresas da UnISCED e outros como
Gestão de Recursos Humanos, Administração, etc. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar
seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem vindos, não

3
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional

sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o


manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Filosofia, Ética e Lógica Organizacional para


estudantes do 2º ano do curso de licenciatura em Gestão de
Empresas, à semelhança dos restantes da UnISCED, está
estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

▪ Um índice completo.
▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia estasecção
com atenção antes de começar o seu estudo, comocomponente
de habilidades de estudos.
Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e algumas
actividades práticas incluindo o estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos da UnISCED, pensando em


si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de ensino-aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal a UnISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital
moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos.

4
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas as respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de
campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões
Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados
aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc., sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamosque caro
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

5
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as


de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto, mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

6
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou
invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma cartaparticipando
a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Daí a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante
– CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central da UnISCED
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.

7
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficar a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto−avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante da UnISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Como é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

8
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica Organizacional

avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de


avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante os estudos e
aprendizagem no campo, pesam 40% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 3 (três)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

9
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional

Unidade temática I. A emergencia do Filosofar


1.1 Origem da Filosofia
No pensar de Vicente, o termo Filosofia surge na Grécia,
aproximadamente nos começos do século VI a.C. como nas demais
culturas antigas, a cultura grega assentava no mito, transmitido e
ensinado pelos famosos poetas gregos nomeadamente: Homero e
Hesiodo (Vicente, 1997:66).

Pois bem, através das complexas narrações e doutrinas sobre os deuses


e os homens, sobre as forças que intervêm activamente nos
acontecimentos cósmicos e humanos, o mito oferecia respostas
orientadoras sobre a origem do mundo e das normas da sociedade em
que o indivíduo humano se encontrava inserido. Ora nos finais do século
VI a.C. em virtude das profundas transformações de carácter cultural e
social, os intelectuais da época sentiram a necessidade de substituir as
explicações mitológicas por uma nova visão do mundo baseada no uso
da racionalidade. Deste modo surgiu a Filosofia, como efectivamente
uma tentativa de racionalizar a interpretação do homem e do universo,
das relações dos homens entre si e destes coma natureza (Cf. ibidem).

A explicação crítico-racional, que veio substituir as narrações mítico-


religiosas, começa na medida em que se impõem com clareza e rigor
algumas ideias ou convicções, que, embora nos dias que correm nos
parecem óbvias, representaram de facto um descontinuismo e ou
avanço revolucionário ao nível da histórica da humanidade. A nova
visão do mundo caracterizou-se sumariamente nos seguintes aspectos:

▪ A convicção de que as coisas, na natureza, ocorrem não por acaso,


mas quando e como tem de acontecer.

▪ A ideia segundo a qual, apenas o conhecimento racional que


extrapola os limites dos sentidos nos pode conduzir a uma verdade
científica.

▪ A convicção sobre a existência de um princípio primordial, a partir


do qual teriam originado todas as coisas incluindo o mundo (cf.
Idem, 67).

De referir que, a superioridade grega em relação aos outros povos,


neste ponto, é de carácter não puramente quantitativo, mas
qualitativo, porque o que eles criaram constitui uma novidade absoluta.
No entanto, os gregos adoptaram dos orientais alguns conhecimentos
científicos. Com efeito, derivaram dos egípcios alguns conhecimentos
matemático-geométricos e dos babilónios alguns conhecimentos
astronómicos.

11
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
As formas de vida grega que preparam o nascimento da filosofia podem
ser resumidas nos seguintes pontos.
Os poemas homéricos: continham já algumas das características do
espírito grego que se mostraram essenciais para a criação da filosofia,
nomeadamente:
Raramente caem na descrição do monstruoso e do disforme. A
imaginação homérica já se estrutura com base num sentido de
harmonia, de proporção, de limite e de medida, coisas que a filosofia
elevaria inclusive à categoria de princípios ontológicos, como
poderemos ver.
A arte da motivação, em Homero, chega a ser uma verdadeira
constante. Pesquisa as causas e as razões dos factos que narra. É esse
modo poético de ver as razões das coisas que prepara aquela
mentalidade que, em filosofia, levará à busca da “causa” e do
“princípio”, do “porquê” último das coisas.
Homero também procura apresentar a realidade em sua inteireza,ainda
que de forma mítica, enquanto o pensamento filosófico apresenta a
realidade na forma racional. O tema clássico da filosofia grega da
“posição do Homem no Universo” está também presente em Homero a
cada momento.
Para os gregos, também foi muito importante Hesíodo com a sua
Teogonia, que traça uma síntese de todo o material até então existente
sobre o tema, tornando a Teogonia em Cosmogonia, que é a explicação
mítico-poética e fantástica da origem do Universo e dos fenómenos
cósmicos a partir do Caos original, que foi o primeiro a se gerar. Este
poema abriu caminho para a posterior Cosmologia Filosófica que
buscaria com razão o “princípio primeiro” do qual tudo se gerou.
O mesmo Hesíodo e poetas posteriores imprimiram na mentalidade
grega alguns princípios que seriam de grande importância para a
constituição da Ética Filosófica e do pensamento filosófico antigo em
geral.
Os poetas líricos também fixaram de modo estável um outro conceito:
a noção de limite, ou seja, a ideia de nem muito nem pouco, isto é, o
conceito de justa medida, que constitui a conotação mais peculiar do
espírito grego.
A religião pública e os mistérios órficos: ambas as formas de religião são
muito importantes para explicar o nascimento da filosofia, mas a
segunda forma o é mais, pelo menos em alguns aspectos: Para a religião
pública (Homero e Hesíodo) pode-se dizer que tudo é divino, porque
tudo o que ocorre é explicado em função da intervenção dos deuses,
que são forças naturais personificadas em formas humanas idealizadas,
ou seja, são homens amplificados e idealizados, sendoassim diferentes
só pela quantidade e não pela qualidade.

12
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
É uma religião “naturalista”. E, da mesma maneira que a religião
pública foi “naturalista”, também a primeira filosofia foi “naturalista”.
E mais: a referência à “natureza” continuou sendo uma constante do
pensamento grego ao longo de todo o seu desenvolvimento histórico;
Os mistérios órficos, com a doutrina da imortalidade da alma, rompem
com a visão naturalista. O Homem compreende que algumas
tendências ligadas ao corpo devem ser reprimidas, ao passo que a
purificação do elemento divino em relação ao elemento corpóreo
torna-se o objecto do viver. A partir do orfismo, pode-se explicar e
compreender Pitágoras, Heráclito, Empédocles e sobretudo uma parte
essencial de Platão, isto é, uma grande parte da filosofia antiga;
Nas duas formas religiosas não existem dogmas fixos, o que deixou uma
ampla liberdade para o pensamento filosófico, que não encontrou
obstáculos que iriam contrapor resistências e restrições dificilmente
superáveis.
Condições sociopolíticas e económicas favoráveis:
Os gregos desfrutavam de liberdade religiosa;
Os gregos beneficiavam-se de uma certa liberdade política em relação
aos povos orientais. Ademais, os gregos foram o primeiro povo da
História a construir instituições políticas livres;
Nos séculos VII-VI a.C., a Grécia passou de um país predominantemente
agrícola para o desenvolvimento crescente daindústria artesanal e do
comércio, o que levou à fundação de centros de distribuição comercial.
As cidades tornaram-se florescentes centros comerciais, acarretando
um forte crescimento demográfico. O novo segmento dos comerciantes
e artesãos alcançou pouco a pouco uma notável força económica,
passando a opor-se à concentração do poder político, que estava nas
mãos da nobreza fundiária;
Sendo os primeiros centros as colónias (primeiro Mileto), e depois a
mãe-pátria (Atenas), é compreensível que a filosofia nasça primeiro
nas colónias e não na mãe-pátria.
Isto aconteceu porque as colónias alcançaram primeiro o bem-estar e,
devido à distância da mãe-pátria, puderam construir instituições livres
antes do que ela.
Mas foi na mãe-pátria (Atenas) que a filosofia atingiu os seus mais altos
cumes, pois foi lá onde floresceu maior liberdade de que os gregos
jamais gozaram.
Assim, a capital da filosofia grega foi a capital da liberdade grega. Com
a constituição e a consolidação da Cidade-Estado, os gregos deixaram
de sentir qualquer antítese e qualquer vínculo para a sua liberdade e
foram levados a verem-se essencialmente como cidadãos, o que
coincide com o Homem. O estado tornou-se o horizonte ético do
homem grego, que sentia os fins do Estado como os seus próprios fins.

13
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
1.2 Tentativas de definição de Filosofia
A definição da Filosofia constitui de forma indubitável uma tentativa,
dado o facto de ela não comportar uma definição unívoca econsensual
entre os filósofos. Portanto não é fácil, nem é pacífica a noção de
Filosofia.

Comummente fala-se de filosofias, no sentido pluralista em vez de uma


filosofia. Como reconhece Simmel citado por Vicente, é a própria
definição de filosofia que se constitui em todos os sistemas filosóficos
como o primeiro dos seus problemas. Pois o que a filosofia é, sódentro
dela própria e só com os seus conceitos e meios pode realmente
determinar-se: é ela mesma, o primeiro dos seus problemas(cf. Idem,
60).

1.3 Como definir então a Filosofia?


Negativamente, há que referir o seguinte:

A Filosofia não é, não se confunde e nem se resume a nenhuma das


definições propostas por este ou por aquele pensador ao longo da sua
história por mais relevantes e convincentes que elas possam vir a ser.

Positivamente, iremos apregoar o seguinte:

1º - A Filosofia distingue-se pela capacidade de assumir novas figuras,


concretizando-se numa pluralidade de modos de a entender e de a
praticar. Contudo, a diversidade e pluralidade não faz perder, e nem
põe em causa a sua identidade, pelo contrário a enriquece.

2º - A Filosofia caracteriza-se por um conjunto de categorias,


procedimentos, problemas e exigências epistemológicas,
historicamente sistematizados que mantém hoje toda a sua
actualidade.

Assim o filosofar de cada novo aprendiz de filósofo, por mais genuíno


e autónomo que possa vir a ser, nunca parte de zero e não pode
prescindir da familiaridade com as categorias, a linguagem, os
problemas e com os procedimentos consagrados por uma tradição
que remonta 2500 anos (Ibidem).

1.4 A diversidade das perspectivas


Como dizíamos nos parágrafos anteriores, devido o seu carácter
estritamente pluralista e diversificado, ao longo da sua história, a
filosofia não chegou a limitar-se a nenhuma das definições propostas
pelos filósofos. Eis algumas concepções:

14
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Aristóteles (A filosofia como contemplação e investigação dos
primeiros princípios e das últimas causas)

No pensar do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C), como de resto


para grande parte da Filosofia clássica, a filosofia nascida de espanto e
da estranheza do Homem perante os enigmas do universo, do cosmos,
da vida e da sociedade, tinha em vista a investigação das causas
primeiras e últimas de todas as coisas. Neste contexto, a filosofia pode
ser concebida como um saber contemplativo e desinteressado em que
predomina o saber pelo puro gosto e curiosidade de saber. Isto significa
que perante a ocorrência de um problema, o filósofo não pode limitar-
se as causas imediatas e aparentes, mas ir ao fundo de modo a raiz da
questão.

▪ Immanuel Kant (A filosofia como a ciência dos fins últimos da


razão)

Immanuel Kant (1774-1804), para clarificar a sua concepção de filosofia,


começa por fazer a distinção entre um conceito escolar e um conceito
geral ou cósmico da filosofia.

Segundo o conceito escolar, a filosofia pode ser entendida como o


sistema dos conhecimentos filosóficos ou dos conhecimentos racionais
a partir dos conceitos.

Em contrapartida, sob o ponto de vista cósmico, a filosofia é antes, a


ciência dos fins últimos da razão humana ou a ciência da relação de
todos os conhecimentos aos fins essenciais da razão humana. Em
termos hermenêuticos isto significa que, todas as ciências e todos os
conhecimentos devem ser postos ao serviço dos fins últimos da razão,
com vista a realização de uma humanidade mais livre, submetendo a
racionalidade científica e tecnológica à racionalidade total regida por
fins.

▪ Karl Marx (A Filosofia como prática de transformação social e


política)

O pensamento de Marx, entretanto, não se restringe a uma análise


teórica, mas busca formular os princípios de uma prática política
voltada para a revolução que destruiria a sociedade capitalista para
construir o socialismo, a sociedade sem classes, chegando ao fim do
Estado. "Os filósofos sempre se preocuparam em interpretar a
realidade, é preciso agora transformá-la (Japiassú & Marcondes, 2001,
p.126).

Portanto insatisfeito com as filosofias tradicionais, puramente


especulativas, que se limitavam a oferecer interpretações ou visões do
mundo, na sua maioria inócuas e, mais grave ainda legitimadoras do
status quo de alienação em que viviam as classes trabalhadoras do seu
tempo, Marx define a filosofia como sendo uma actividade de praxis

15
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
de transformação do mundo (cf. Vicente, 1997,p.61).

▪ Karl Jaspers (A filosofia como demanda e nunca como posse da


verdade)
Um homem da medicina e mais exactamente da psiquiatria, dedicou à
filosofia uma atenção especial. Eis a sua definição: “Que é então a
filosofia que se manifesta de um modo tão universal e sob formas tão
insólitas? A palavra grega Philosophos significa o que ama o saber, em
oposição ao possuidor de saberes que se denominava por sábio
(sophos). Este sentido do termo manteve-se até hoje: é a demanda da
verdade e não a sua posse que constitui a essência da filosofia. Como
pudemos perceber, na concepção de Jaspers, filosofar é estar a
caminho, neste diapasão os questionamentos tornam-se mais
relevantes e profícuos do que as próprias respostas, e cada uma destas
(respostas) transforma-se em uma nova interrogação (cf. Ibidem).

▪ Ludwig Wittgenstein (A filosofia como análise e clarificação da


linguagem)
Para uma compreensão ampla da perspectiva wittgenstiana doconceito
de filosofia, vamos invocar o positivismo lógico e a filosofia analítica,
correntes imprescindíveis e influentes da filosofia contemporânea, que
interpretam e praticam a filosofia fundamentalmente como sendo uma
actividade de clarificação da linguagem. L. Wittgenstein (1889-1915),
um dos filósofos mais importantes e representativos da filosofia
analítica, definiu a filosofia do seguinte modo:

“O objectivo da filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos.


A filosofia não é uma doutrina, mas uma actividade.
Um trabalho filosófico consiste essencialmente em elucidações.

O trabalho da filosofia não reside na construção de proposições


filosóficas, mas no esclarecimento das mesmas. A filosofia deve tornar
claros e delimitar rigorosamente os pensamentos, que de outro modo
são como que turvos e vagos” (cf. Idem, 62).

Severino Ngoenha – no entendimento do filósofo moçambicano, a


filosofia é um acto de espírito que tende a compreender e a ordenar a
diversidade fenomenal segundo uma sequência de razão ou de razões.
Neste âmbito, tem a ver com o tempo, dado que este é a forma da
diversidade, na sucessão dos momentos e das fases que estruturam o
devir. Atendendo o facto de não ser o criador dele mesmo e do mundo,
o sujeito filosofante é, antes de mais, convidado a tomar a realidade
como ela se apresenta, o que leva, na busca dos seus materiais, a
privilegiar a dimensão da memória imediata ou longínqua (Ngoenha,
2015,p. 26).

16
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
1.5 Universalidade e particularidade da Filosofia (Seu objecto de
estudo)
No concernente a este item, pretendemos essencialmente evidenciar
o carácter universal e particular da filosofia.

Em termos da sua universalidade, a filosofia consiste em analisar todas


as questões e inquietações da humanidade em todos os tempos e em
todos os lugares.

As questões filosóficas alcançam a totalidade do real na tentativa de


chegar aos princípios explicativos do real. Portanto a filosofia não tem
um campo específico de investigação, ela procura analisar e
compreender a realidade no seu sentido mais amplo e universal.

Sob o ponto de vista particular, quer dizer que a concepção da filosofia


reduz ao contexto histórico e cultural de cada filósofo. Mais uma vez
voltamos a apregoar o já dito: não existe uma definição pacífica e
consensual de filosofia, por isso, não obstante a sua universalidade, o
termo filosofia reveste-se de um carácter particular.

1.6 Atitudes filosóficas


A Filosofia, mais do que um saber que se possa possuir, é uma atitude
de incessante procura de resposta para os problemas que nos assaltam
o espírito nas mais diversas circunstâncias. É neste sentido que bem se
pode dizer o que especifica a Filosofia é uma certa atitude que lhe é
própria.
Cabe perguntar então, quais são essas características que tornam tão
específicas?
Autonomia, radicalidade, historicidade, universalidade,
espontaneidade, espanto, dúvida, rigor e insatisfação.
Autonomia – uma das características do saber filosófico é autonomia,
ou liberdade da razão relativamente a todas as coerções e
constrangimentos exteriores sejam eles a religião, a política, as
ideologias, a autoridade ou a tradição. Significa que a razão é só a razão,
é o princípio e o tribunal soberano a quem compete o julgamento do
que é verdadeiro no âmbito do conhecimento teórico, e do que é
conveniente no âmbito da ética e da política.

A radicalidade da Filosofia – a profundidade deste tipo de


conhecimento é outra característica que permite distinguir a Filosofia
de outros saberes. Todas as ciências assentam em pressupostos
anteriormente adquiridos enquanto que a Filosofia procura a raiz última
de todas as coisas, acabando por chegar à questão primordialde toda
a existência.

17
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Historicidade – o homem é um ser situado e circunstancial. O filósofo,
enquanto ser humano, é necessariamente, também ele, um ser no
mundo, determinado num horizonte epocal e como tal um ser exposto
às influências do tempo e do meio em que vive.

Universalidade – a Filosofia é, ainda um saber universal, pois exprime


preocupações e problemas que preocupam a humanidade durante
todos os tempos e em todos os tempos.

Exemplo, se o objecto da nossa preocupação é uma paixão, um amigo,


o juízo acerca de um quadro de Malangatana ou a reflexão sobre a
injustiça de que fomos vítimas, não estaremos propriamente a filosofar
(particular); mas essa reflexão tornar-se-á filosófica se formos mais
longe e nos questionarmos acerca do amor, da amizade, da beleza ou
da justiça. Nesta medida, a nossa reflexão não estará a ser particular,
mas universal.

A espontaneidade – em toda a criança de três anos mora um filósofo


em potência que a família e os educadores podem atrofiar ou
desenvolver. Que respostas temos para problemas como estes: Porquê
existem as coisas? Para que é que Deus nos criou? Onde é que acaba o
mundo? Porquê é que as flores são tão bonitas? E quem é quefez Deus?
Todos numa primeira atitude somos filósofos.
Espanto – Aristóteles afirma que a Filosofia tem a sua origem no
espanto, na estranheza e perplexidade que os homens sentem diante
dos enigmas do universo da vida. É o espanto que leva os homens
formular perguntas e os conduz à procura de soluções.

Dúvida – ao filósofo exige-se que duvide de tudo aquilo que é assumido


como uma verdade adquirida. Ao duvidar, o filósofo distancia-se das
coisas, quebrando desta forma a sua relação de familiaridade com as
coisas. Assim, o que era natural torna-se problemático.

Rigor – o questionamento radical que anima o filósofo, não é mais do


que um acto proprietário para fundar um novo saber sobre bases mais
sólidas. A crítica filosófica é por isso radical, não admite compromissos
com as ambiguidades, as ideias contraditórias e os termos imprecisos.

Insatisfação – a Filosofia revela-se uma desilusão para quem quiser


encontrar nela respostas para as suas inquietações.
O que um aprendiz de Filosofia encontra na Filosofia são perguntas,
problemas e incitamentos para não confiar em nenhuma autoridade
exterior à sua razão, para que duvide das aparências e do senso comum.
Faça da procura do saber o modo de vida e nunca se satisfaça com
nenhuma conclusão, queira saber sempre mais e mais.

18
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional

1.7 A Filosofia no universo das outras ciências

QUANTO: FILOSOFIA OUTRAS CIÊNCIAS

Objecto A totalidade do real Uma parte do real


Observação, verificação e
Método Explicação racional lógica experimentação
Sabedoria, conhecimento,
Finalidade verdade pela verdade Fins práticos, lucrativos e imediatos
Aprofunda os conhecimentos,
Profundidade questiona para obter causas Não aprofunda e é pela
dos assuntos finais particularidade
Reflecte todas as
Reflexão manifestações do espírito
crítica incluindo a própria ciência Reflecte sobre os factos

1.8 Funções da Filosofia (no âmbito teórico e prático)


No âmbito teórico, a filosofia desempenha um papel de grande
importância no que concerne a interpretação e compreensão do
mundo. É através da filosofia que o homem faz a contemplação e faz a
leitura da realidade que o rodeia.

Portanto no âmbito teórico, a filosofia confere ao homem um saber


pensar e no aspecto prático, o saber agir.

A Filosofia é uma maneira de estar no mundo, é um modo de existir.


As tarefas da filosofia abrangem as áreas do saber (teórica) e da
experiência (prática). Cabe à filosofia proporcionar ao Homem um
procedimento crítico em relação ao seu próprio pensamento, aos
diferentes saberes e opiniões, aos valores, às crenças e aos poderes.
A filosofia também proporciona ao Homem a capacidade de ser
tolerante perante as opiniões e interesses alheios, a trabalhar para a
paz, para o bem comum, para a justiça, para o respeito, para uma ordem
pública salutar e para a liberdade e autonomia do próprioHomem.
A filosofia torna o Homem lúcido, livre e autónomo, fazendo com que
ele se torne corajoso no pensar e no agir. Nesta fase da globalização e
das mudanças rápidas, ela dota o Homem de pressupostos para desafiar
as tensões delas resultantes.

19
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
1.9 Métodos da Filosofia
O método próprio da filosofia é a reflexão crítica. Reflectir significa
tomar consciência da realidade que se vive, das circunstâncias que
envolvem a vida.
Um dos métodos da filosofia é a justificação lógico-racional: procura
oferecer explicação conclusiva de tudo o que estuda, servindo-se para
tal da razão. Outro método é o crítico-racional: procura conhecer oreal
e agir sobre ele. A análise crítica consiste na superação do vivido através
dum questionamento permanente, isto é, do uso sistemático da razão.
A característica fundamental da filosofia como atitude crítica é a
insatisfação perante qualquer explicação de fenómenos e factos ou
perante os exemplares dados.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:
▪ Analisar a origem histórica da filosofia
▪ Interpretar e conceber a filosofia com autonomia
▪ Reconhecer o carácter pluralista da filosofia
▪ Descrever a dimensão universal e particular da filosofia
▪ Descrever as funções da filosofia
▪ Caracterizar o método da filosofia

Sumário

Resumidamente nesta unidade temática estudamos e discutimos


fundamentalmente os seguintes aspectos:

▪ A origem histórica da filosofia – neste item, defendemos que numa


primeira etapa, os mitos de Homero e Hesiodo é que dominaram o
pensamento grego-clássico.

Era fundamentalmente através dos mitos que se explicava a origem de


todos os fenómenos que ocorressem no cosmos. Todavia esta
concepção mitológica do mundo caiu por terra, com o surgimento de
uma nova visão (uma visão racional).

A partir daqui a interpretação dos fenómenos universais passou a ser


com base no uso da racionalidade.

▪ Tentativas de definição de filosofia – de modo resumido neste


ponto, abordamos o aspecto pluralista da filosofia. A definição de
filosofia torna-se num problema filosófico na medida em que até
então não existe uma concepção unívoca e consensual. Ela não se

20
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
reduz a nenhuma das posições propostas por filósofos ao longo da
história da filosofia.

▪ A diversidade de perspectivas – neste item discutimos algumas


definições de filosofia propostas por filósofos ao longo da história.

▪ Universalidade e particularidade da filosofia – aqui discutimos o


carácter universal e particular da filosofia.
Do ponto de vista universal, a filosofia estuda a totalidade do real, isto
é, ela analisa todos os problemas da humanidade em todos os tempos
e lugares.

Não obstante ao seu carácter universal, a filosofia reduz-se a visão do


mundo e ou ao contexto histórico, social, político e cultural de cada
homem, de cada pensador.

▪ Funções da filosofia (no âmbito teórico e pratico) – do ponto de


vista teórico, a filosofia desempenha um papel de grande relevância
para a interpretação, compreensão e reflexão sobre os problemas
que apoquentam a humanidade em todas as vertentes, portanto em
termos teóricos, a filosofia confere ao homem um saber pensar e a
repensar. No que concerne ao seu aspecto prático, a filosofia
confere ao homem um saber agir (saber agir implica saber aplicar o
saber pensar).

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Todas as ciências têm um determinado objecto de


investigação. Explica o objecto de estudo da filosofia.
2. A filosofia é uma ciência indefinível. Comente a afirmação.
3. O que entende por universalidade de filosofia?
4. Em que consiste a particularidade de filosofia?
5. Qual é a tarefa da filosofia, enquanto função prática?
6. Em que consiste a sua função teórica?
7. Em que consiste a dúvida enquanto atitude filosófica?
8. Qual é a relação existente entre a filosofia e as outras ciências?
9. No âmbito de estudo de uma realidade, a ciência segue sempre
um método. Discuta o método de investigação científica.
10. A Filosofia é essencialmente uma demanda da verdade na
visão de Karl Jaspers. Argumente a afirmação

Unidade II. Ética

21
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
2.1 O significado da palavra Ética
Para uma clara compreensão dos conceitos de ética e moral, teremos
que em primeiro lugar definirmos cada um deles. Desde já chamamos
atenção para que o nosso leitor seja mais cuidadoso e rigoroso, visto
que, os conceitos em alusão comportam significados aproximadamente
similares.

No pensar de Carapeto e Fonseca, a ética tem sido tradicionalmente


analisada por filósofos desde o tempo dos gregos clássicos. A palavra
ética vem do grego ethos, que significa hábito ou costume, aludindo,
assim, aos Comportamentos humanos. É o domínio da filosofia
responsável pela investigação dos princípios que orientam o
comportamento humano. Ou seja, que tem por objecto o juízo de
apreciação que distingue o bem e o mal, o comportamento correcto e
o incorrecto.

A ética é um modo de regulação dos comportamentos que provém do


indivíduo e que assenta no estabelecimento, por si próprio, de valores
(que partilha com outros) para dar sentido às suas decisões e acções.
Faz um maior apelo à autonomia, ao juízo pessoal do indivíduo e
também à sua responsabilidade do que os outros modos de regulação,
pelo que se situa numa perspectiva de auto-regulação (Carapeto e
Fonseca, 2012, p.8).

A autonomia do indivíduo é, desta forma, algo de paradoxal, na medida


em que a liberdade de que dispõe é simultaneamente um encargo:
impõe ao indivíduo que se abra às necessidades dos outros e que
procure encontrar um equilíbrio entre a sua própria liberdade e a
responsabilidade relativamente aos outros. A ética ajuda o indivíduo
neste caminho.

Os princípios éticos são directrizes pelas quais o homem, enquanto ser


racional e livre, rege o seu comportamento. O que significa que a ética
apresenta, em simultâneo, uma dimensão teórica (estuda o "bem" e o
"mal") e uma dimensão prática (diz respeito ao que se deve fazer)

2.2 Distinção entre Ética e Moral


Como fomos capazes de compreender nos parágrafos anteriores, a
ética comporta essencialmente uma dimensão teoria, na medida em
que ela questiona basicamente os princípios normativos que regulam
o modus vivendi de uma determinada sociedade. Como teremos a
ocasião de perceber que a moral é mais prática.

Portanto, Moral é um conjunto de regras, valores e proibições vindos


do exterior ao homem, ou seja, impostos pela política, a religião, a
filosofia, a ideologia, os costumes sociais, que impõem ao homem que
faça o bem, o justo nas suas esferas de actividade. Enquanto a ética
implica sempre uma reflexão teórica sobre qualquer moral, uma
revisão racional e crítica sobre a
22
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
validade da conduta humana (a ética faz com que os valores provenham
da própria deliberação do homem), a moral é a aceitação de regras
dadas. A ética é uma análise crítica dessas regras. É uma "filosofia da
moral". No entanto, é preciso estar atento, uma vez queos termos são
frequentemente utilizados como sinónimos, sobretudo entre os autores
anglo-saxónicos (ibidem, 8).

2.3 Ética Grega Clássica, medieval, moderna e contemporânea


Neste subtema, vamos apresentar algumas teorias éticas da
antiguidade clássica, da modernidade e da época contemporânea.
Ao nível da antiguidade clássica, iremos fazer referência às teorias de
Sócrates, Aristóteles, Pirron, Epicuro, Antistenes e Diógenes de Sinope,
e a teoria de Zenão de Citio, Séneca, Marco Aurélio.
Sócrates – princípio moral: - só por ignorância se pratica o mal. Sócrates
mártir da sua consciência, aceitou a morte, podendo dela escapar, por
respeito ao que considerava o seu dever. As leis da polis são sagradas,
divinas, não provêem dos cidadãos, mas desse seu carácter sagrado,
divino, que dever reconhecido pela minha própria consciência. Face a
isto, a questão que se coloca é: E se as leis são injustas? Estarão as leis
acima do homem?

A resposta de Sócrates é muito clara: a autêntica sabedoria consiste em


conhecer as verdades absolutas e eternas. Assim saber equivale a ser
bom. Não há homens maus, mas apenas homens ignorantes
(intelectualismo socrático). Este posicionamento de Sócrates cairá por
terra com o advento do pensamento de São Tomas de Aquino e
Immanuel Kant, que abordaremos na modernidade (cf. Vicente, 1997,
p.182).

Teoria ética platónica

Para Platão (427-347 a.C.), um dos filósofos gregos mais representativos


do idealismo grego, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, ao
morrer o mestre (Sócrates), Platão foge de Atenas, paraevitar possíveis
represálias e volta anos depois para fundar a Academia de Atenas.
Escrevia em forma de diálogos, destacados em três etapas: diálogos da
juventude, diálogos da maturidade e diálogos da velhice, sendo
Sócrates o interlocutor que mais aparece nos diálogos.

Platão divide o mundo em duas partes (mundo das ideias e o mundo


sensível) de agir eticamente é agir com rectidão de consciência.

Argumentação: A inteligência, quando bem utilizada, conduz ao Bem,


ao Belo, ao Justo. Ao comportar-se de forma ética, o homem aproxima-
se do verdadeiro mundo, o mundo das Ideias, do qual o mundo em que
vivemos é uma mera cópia. O verdadeiro sábio procura actuar em
busca do ideal e corrigir-se quando se engana.
Através da sua inteligência e virtude, o

23
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
homem regressa ao mundo das ideias (Carapeto e Fonseca, 2012, p.14).

Portanto Platão acreditava que o mundo em que vivemos, é umacópia,


uma participação do verdadeiro mundo: o das ideias, do Mundoideal
provêem o Homem, por meio da alma, e a ele deve retornar, utilizando
suas forças: a inteligência, a vontade, o entusiasmo. Assim agir bem,
moralmente, é perceber que a autêntica realidade é a ideal, comportar-
se eticamente é agir de acordo com o logos, ou melhor, com a rectidão
da consciência (cf. Arruda e tal, 2003, p.25).

Aristóteles – O justo termo médio. No entendimento de Aristóteles, o


universo é um todo ordenado e hierarquizado. O homem, é ser
plenamente natural, participa da vida vegetativa e animal, mas só ele
possui a vida que a distingue: a vida intelectual (racional).

A moral é específica do Homem: não é divina, nem animal. A primeira


preocupação do homem é a busca da felicidade. Para a conseguir, para
além de condições objectivas (saúde, meios de subsistência, etc.), deve
ser de forma racional. A virtude consiste em procurar o termo médio, a
prudente moderação é a virtude por excelência.

Os Cínicos (Antistenes e Diógenes de Sínope)

Princípio moral: - Viver segundo a natureza.

Argumentação:

▪ De acordo com a tradição, o mais célebre dos cínicos (Diógenes)


vivera dentro de um tonel e (cinicamente) procura um homem
numa praça cheia de gente, com uma lanterna acesa em pleno dia;
▪ O cínico é um cidadão do mundo. Necessita de horizontes abertos
para poder viver.
▪ Não conhece pátria, tradição ou família.
▪ O cínico vive segundo a natureza. Não se guia pelas convenções,
usos e costumes sociais. Despreza-os.
▪ O sábio cínico basta-se a si mesmo e conforma-se com o que tem.
A sua meta é a auto-suficiência, o auto-governo, a autarquia.

Teoria epicurista (Epicuro de Samos)


Princípio moral: - Viva no jardim!
Argumentação:
▪ Não existe predeterminação no universo, nem em qualquer das
forças que nos rodeiam.
▪ O objectivo da vida é a consecução do máximo prazer (hedonismo)
sabiamente administrado.

▪ Para ser completa a nossa posse e uso da felicidade, devem deixar-


nos em completa liberdade.

24
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Não devemos temer a morte pois que enquanto vivermos nãoexiste
para nós, quando morrermos, já não teremos vida para senti-la.
▪ O sábio epicurista é aquele que conquista a imperturbabilidade
(ataraxia) do espírito e a tranquilidade (aponia) do corpo.

Teoria céptica (Pirron)


Princípio moral: - Dúvida para (não) saíres da
dúvida!Argumentação:
▪ Nada é bom ou mau em si, pois nada é bom ou mau para todos. O
bem supremo está antes na dúvida;
▪ O sábio céptico, ao examinar as razões que pretendem explicar o
mundo e o Homem, não se satisfaz, pelo que se refugia na dúvida;
▪ A posição correcta é a abstenção: não falar de nada como certo,
nem emitir juízos;
▪ O sábio céptico nunca diz isto é…, diz antes isto parece…;
▪ A meta a alcançar é a felicidade considerada como tranquilidade
ante o que se passa à sua volta, e a imperturbabilidade como
equilíbrio interior (ataraxia);

Estóicos (Zenão de Cítio, Séneca, Marco Aurélio)


Lema ou princípio – Domina-te e aguenta!
Argumentação:

▪ O universo é animado por um princípio ou razão universal que cuida


de tudo. É lei providente que prescreve o percurso do cosmos. O
destino às vezes trágico, é sempre racional;

▪ A virtude consiste em viver segundo os princípios da razão, pelo que


a vida deve ser encarada como luta para superar as paixões e os
desejos que incitam ao prazer que é desordem, insatisfação;

▪ O meio para obter a virtude é o exercício da vontade para abster- se


do prazer e suportar a dor, de forma a adquirir o autodomínio e a
fortaleza de espírito;

Ética medieval – de forma sumária, interessa salientarmos que, ao nível


da idade média, encontramos uma ética fundada noteocentrismo (em
Deus). São morais todas as acções que têm o seu fundamento em Deus.

Deus é o ser supremo e perfeito, o ser verdadeiro. Todo o resto é fruto


do seu acto criativo, livre e consciente. Essas são as duas teses aceitas
por fé, que cumpre a função de guias de discurso racional, ou melhor,
esse é o metro de avaliação com que Tomas de Aquino examina
qualquer outro discurso filosófico e se aproxima de Aristóteles para
repropor suas teses mais qualificadas (Reale e Antiseri, 2005, p.231).

25
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Enfim na época medieval temos um Homem que não totalmente livre
sob ponto de vista de criação das suas normas ou leis. Ele deve viver em
consonância com os mandamentos da lei de Deus.

Teorias éticas fundamentais da época moderna

Teoria de Immanuel Kant

Princípio moral (Imperativo categórico): - Age de tal modo que possas


tratar sempre a humanidade, seja em tua pessoa, seja na do próximo,
como um fim; não te sirvas jamais disso como um meio.

Argumentação:

▪ A razão prática postula de maneira universal e categórica;

▪ O dever é a necessidade de uma acção por respeito;

▪ A ética é um sistema de regras absolutas;

▪ O valor moral das acções provém de intenções com que são


praticadas;

▪ As regras morais devem ser respeitadas independentemente das


suas consequências;

▪ As regras morais são leis que a razão estabelece para todos os


seres racionais;

▪ As obrigações morais são absolutas porque não estão sujeitas a


excepções;

▪ O imperativo categórico diz-nos apenas, que característica deve ter


a máxima em nome da qual praticamos uma acção (seja qual for)
para que essa acção seja moralmente admissível: ser
universalizável;

▪ Este princípio é completamente geral e por isso, aplica-se a todas


as acções. Portanto é ele que permite determinar se uma acção é
ou não permissível;

Teoria de Jean Jacques Rousseau (1712-1778)

Rousseau é um filósofo de nacionalidade suíça. A partir do ano de1742


passou a viver em Paris na França, lugar onde se discutiam com muito
eco, os princípios da revolução francesa de 1789. Em 1755,publicou o
Discurso sobre a Origem da desigualdade, que lhe deucelebridade e lhe
causou problemas: polemizou com Voltaire e outros (Japiassú e
Marcondes, 2001, p.168).

Em 1972 publicou O Contrato Social que o levou a exilar-se na Suíça,

26
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
depois na Inglaterra, finalmente retorna a França onde more.

Princípio moral: - A virtude do Homem sábio consiste em seguir os


impulsos da natureza, ou por outra a virtude de um homem sábio
baseia-se na bondade natural incorruptível.

Argumentação
▪ O Homem é, por natureza bom, é a sociedade que o corrompe, isto
é, a sociedade não é por essência corruptora, mas somente certo
tipo de sociedade, aquela que repousa na afirmação da
desigualdade natural dos homens, oprimindo a maioria em proveito
de uma minoria privilegiada.

▪ O estado de natureza é um estado primordial onde o homem vive


feliz, em harmonia com mundo e na inocência, não havendo
necessidade de sociedade: o social não tem sua norma na natureza,
mas no homem. A passagem da natureza à sociedade é contingente,
é uma causalidade puramente externa que o induz a isso, assim no
pensar de Rousseau as acções morais são efectivamente praticáveis
no estado natural (cf. Ibidem).

Posições éticas fundamentais na época contemporânea

Ética utilitarista de Jeremy Bentham


Princípio moral: - Bom é o que é útil.
Argumentação:
▪ Só em sociedade o Homem pode realizar-se;
▪ A sociedade é um conjunto de indivíduos. Neste âmbito é
preciso proporcionar idênticas oportunidades segundo o
princípio de maior felicidade;
▪ As acções são boas na medida em que aumentam a felicidade
do maior número;
▪ A virtude identifica-se com o bem-estar;
▪ O objectivo social final é alcançar uma sociedade de homens
livres (liberalismo) e felizes que, ao proporcionar os meios
(utilitarismo), comunicarão entre si o bem-estar;

Teoria de Karl Marx


Princípio moral: - não à moral burguesa, de classe.
Argumentação
▪ O Homem, embora seja o elemento mais perfeito saído da
natureza, não está a ser tratado como tal.

▪ O Homem, na sociedade actual, vale pela sua posição no sistema


de produção, onde uma minoria, detentora dos meios de
produção, explora a maioria como sua mão-de-obra.

▪ A sociedade burguesa tem sancionado um estado de coisas que

27
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
favorece a classe dominante, sendo, por isso, uma moral de
classe.

▪ Uma moral marxista proclama a necessidade de libertação


contra todo o tipo de exploração-alienação. Contra a alienação
do trabalho, contra a alienação religiosa, contra a exploração
político-social.

Nilismo (Nietzsche)
Princípio moral: - Deus morreu!
Argumentação
▪ A moral vigente, de inspiração platónica e cristã, coloca o centro
de gravidade do Homem não nesta vida, mas numaoutra;
▪ Só negando Deus, ou seja, a responsabilidade perante Deus,
poderemos redimir o mundo;
▪ A vida acaba onde começa o reino de Deus;

Ética do Discurso de Jurgen Habermas


Princípio moral: - só podem ser consideradas válidas normas
resultantes do acordo entre os implicados, após diálogo e
argumentação celebrados em condições de simetria e igualdade.

Argumentação
▪ Confrontados com os graves problemas que hoje se colocam à
humanidade (ecológicos, sociais, etc.), carecemos de uma ética
universalmente válida;
▪ A ética, actualmente tem de ser uma ética de responsabilidade
solidária e deve ter em conta as consequências das acções;
▪ A moral tem de ser encarada como uma disposição protectora que
compensa uma vulnerabilidade estruturalmente inscrita nas formas
de vida socioculturais (Vicente, 1997, p.183).

2.4 O objecto formal da Ética


No tocante a este subtema, tendo em conta que a ética provém do
grego ethos, que significa costume ou comportamento habitual numa
determinada sociedade, e sendo uma filosofia moral, a ética terá como
seu objecto formal a moral, faz por excelência uma reflexão sobre os
princípios que regem a conduta dos homens numa sociedade.

2.5 O método da Ética


A ética baseia-se fundamentalmente em dois métodos: o descritivo e o
normativo.

O descritivo – consiste em descrever as formas de comportamentos, as


formas de conduta, mas também

28
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
descreve as formas de juízos de uma determinada sociedade, não
havendo deste modo, espaço para estabelecer juízos de valor.

O normativo – funda-se no estabelecimento de normas, regras em que


uma determinada acção humana se deve fundamentar.
Em termos metodológicos, Assumpção defende que a ética baseia-se
em 5 códigos: a consciência crítica, ver, julgar, agir e rever.

Consciência crítica – o homem deve e pode utilizar uma característica


que é só sua e que se denomina consciência crítica, para estabelecer
regras independentemente de uma experiência pessoal. É através da
consciência que o homem tem a capacidade e avaliar o sem-número
de situações que se apresentam para si próprio, seja a sós, ou então em
comunidade, e por via desta avaliação, estabelece as normas básicas
para o seu comportamento, para o seu modo de agir (Assumpção, 1998,
p. 28).

Ver – o ver é fundamental, pois se não nos preocuparmo-nos em


conhecer a realidade certamente não nos empenharemos no problema
resolvido, praticamente teremos apenas uma opinião superficial, a nível
do “acho que” e nada mais. No âmbito da Filosofia, ver significa
entender os sinais do tempo.

Através do ver, o homem passa a aprender e a trabalhar com os factos


e não com as subjectividades.

Observar os factos – através da observação, faz-se o levantamento de


todos os dados possíveis relacionados com o assunto que estiver as ser
tratado.

Julgar – o termo julgar tem uma conotação negativa e moralista, de tal


modo que lembra juízes severos e sentados no alto das suas cátedras,
fora do alcance de nossas opiniões e sempre prontos a condenar. Ora,
dentro da nossa reflexão, não pretendemos falar deste sentido de julgar
(o sentido negativo).

Falamos de um julgar fundado em critérios bem definidos, não para


simplesmente condenar, mas para decidir qual é a acção a ser tomada
em função de tudo aquilo que foi visto. Só depois de termos terminado
a etapa de julgar, deveremos passar para o agir.

Agir – esta etapa deve ser sempre atingida se pretendemos usar o


método de ver, julgar, agir e rever.

Agir não significa atitudes dramáticas ou heróicas, que na maioria das


vezes representa apenas uma imaturidade nossa ou quem sabe até
inclusive uma enorme vontade de aparecer. Agir exige um
amadurecimento das etapas anteriores que irão indicar quando e

29
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
como agir. Para evitar erros é preciso e imprescindível que sejam
levantadas as diversas alternativas de acção, diante de um facto
específico (cf. Ibidem, 35).

Rever – rever não significa criticar de forma destrutiva, mas


efectivamente um passo que nos vai permitir melhorar a nossa
actuação, de tal modo que:

▪ Sem a avaliação, a acção deixa de ser transformadora;


▪ Sem a avaliação, a acção não estimula novas acções;
▪ Sem a avaliação, a acção morre;
▪ Sem a avaliação não se valorizam os sucessos e não se tiram lições
dos fracassos,

Assim completamos o método ético de ver-julgar, agir-rever. O


exercício de consciência crítica através do método de Ver, julgar, agir e
rever permite transformar o homem e a própria sociedade na medida
em que,
▪ As estruturas injustas e mesquinhas são destruídas, dando lugar a
uma sociedade livre que respeita a dignidade do homem;
▪ Os falsos conceitos de liberdade são destruídos por se constituírem
em verdadeiras prisões para o homem que se pretende livre;
▪ A manipulação é eliminada na medida em que o homem aprende a
conhecê-la e não se deixa levar pelos argumentos coloridos e bem
elaborados.

2.6 O Valor da consciência (consciência moral)


Na visão de Aristóteles, o Homem é um animal racional. Ora se tivermos
em conta esta concepção, vamos dizer que o homem é o único ser
consciente em si e por si no mundo a consciência reveste-se de um valor
imprescindível para a prática das boas acções, aquelas racionais e
humanas. Mas afinal como se pode definir a consciência moral?

No entendimento de Viegas e Chihulume, no seu significado


fundamental, consciência, de um modo geral, quer dizer a capacidade
que o homem tem de se aperceber da presença dos objectos. Conforme
o acento que se der a esta determinação do conceito, distingue-se
outros significados.

Se a atenção especial for colocada na imaginação ou no poder de


abstracção, a consciência é entendida como a própria forma da
presença psíquica do homem, isto é, percepção que o homem tem de
poder estar claro ou confuso.

Sob o ponto de vista moral, entende-se por consciência (consciência


moral), a faculdade humana de distinguir entre o bem e o mal, ou seja,
a capacidade ou a função que nos

30
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
permite discernir o bem do mal e nos orienta a agir e a julgar as nossas
acções segundo o seu valor ou contra o valor conforme forem julgadas
boas ou más. Daqui se subentende que na consciência moral se fazem
presentes três componentes fundamentes: a componente
discriminativa, para a distinção do bem e do mal; a componente
prescritiva, para a orientação das acções; a componente apreciativa,
para a formulação dos juízos de valor sobre as acções praticadas (Viegas
e Chihulume, 2011, p.14).

A consciência moral é essencialmente caracterizada por ser:


Voz interior - que anuncia um dever ou uma obrigação.
Sentimento - que antecede, acompanha ou sucede as nossas
deliberações, decisões e acções.

Por isso, manifesta-se como um sentimento de satisfação e aplauso


(quando se trata de uma acção praticada conforme a consciência), ou
remorso, culpa, censura e vergonha (quando a acção praticada é
reprovada).

Juiz interior - que condena ou aprova os nossos actos.


Força - que nos impele a um determinado acto.
Espaço de tensão e conflito - que se verifica quando queremos
satisfazer objectos antagónicos (cf. Vicente 1997, p.171).
Fonte e critério subjectivo - de avaliação moral, independentemente,
de qualquer norma.
Intimidade - porque é algo íntimo e por isso inviolável, devendo
merecer das outras pessoas o devido respeito

2.7Liberdade e Responsabilidade
Liberdade - no entendimento de Viegas e Chihulume, a liberdade é um
conceito de difícil definição, embora constitua para cada um de nós uma
experiência ou representação bastante familiar. A percepção tem a ver
com a ausência de qualquer coação externa. Nessa perspectiva,
liberdade significa, não impedimento de se fazer o que pretende fazer.
Este sentido usual de liberdade está em consonância com o seu sentido
original.

Todavia, liberdade designa determinações opostas nomeadamente:

▪ Significa liberdade de voto ou de escolha (determinação formal


positiva) – designa a capacidade genuína do homem agir
voluntariamente, isto é, de escolher entre opções e de poder tomar
uma decisão, contrariamente à conduta ou acção instintiva.

▪ Significa liberdade de acção (determinação negativa) – designa o


poder de acção segundo vontade própria, isto é, a ausência de
qualquer pressão não necessária (no sentido das leis naturais)
interna (por exemplo uma neurose

31
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
obsessiva) ou externa (por exemplo uma coação) perante a acção.
Neste sentido, trata-se das exigências ou pretensões da libertação
ou emancipação na esfera política (por exemplo o direito à
autodeterminação, a liberdade de opinião, liberdade de residência),
da sociedade (por exemplo o movimento femininista), do psíquico
(por exemplo a psicanálise), da natureza, por exemplo o domínio
técnico da natureza (Viegas e Chihulume, 2011, p.15).

▪ Significa livre-arbítrio (determinação material positiva) Designa a


capacidade e a obrigação ou o dever do homem à
autodeterminação moral, isto é, a capacidade e o dever de
estabelecer para si próprio apenas aqueles fins objectivos de acção
que estejam em concordância com as normas morais fundamentais,
aqueles que estejam em harmonia com os interesses aptos de
generalização. Deste modo, a liberdade funda- se na aceitação das
outras liberdades. Neste sentido significa autonomia (em oposição
a heteronomia), uma das categorias centrais da ética.

Responsabilidade provém do lat. responsus, de respondere: que


significa responder pelos seus actos.

A seguir vamos apresentar duas acepções de responsabilidade a saber:


▪ Em ética, a noção de que um indivíduo deve assumir seus actos,
reconhecendo-se como autor destes e aceitando suas
consequências, sejam estas positivas ou negativas, estando,
portanto, o indivíduo sujeito ao elogio ou à censura. A noção de
responsabilidade está estritamente ligada à noção de liberdade, já
que um indivíduo só pode ser responsável por seus actos se é livre,
isto é, se realmente teve a intenção de realizá-los, e se tem plena
consciência de os ter praticado. Há, no entanto, casos em que
excepcionalmente o indivíduo pode ser considerado culpado
mesmo de actos não intencionais, por exemplo quando algo ocorre
por descuido, ou ainda em casos de consequências não intencionais
de seus actos.

▪ A responsabilidade legal ou jurídica é aquela definida pela lei em um


determinado sistema jurídico. Nesse sentido, distingue-se a
responsabilidade civil, segundo a qual o indivíduo deve reparar os
danos cometidos a outrem; e a responsabilidade penal, nos casos
em que o individuo é culpado de um delito ou ato criminoso e deve
pagar segundo as penas da lei (Japiassú e Marcondes, 2001, p.167).

▪ A divisão da Ética
A ética pode-se dividir em: ética de responsabilidade solidária, ética dos
princípios universais, e ética dialógica ou comunicativa.

32
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Ética da responsabilidade solidária – esta perspectiva é apregoa
que os homens devem praticar as suas acções, como seja a
exploração dos recursos naturais, a questão do meio ambiente,
tendo em conta a salvaguarda de um bom futuro para as gerações
vindouras (cf. Vicente, 1997, p.168).

Falando em gerações vindouras, com o chamado “Novo Imperativo


Categórico” Hans Jonas defende o seguinte: age de maneira que os
efeitos da tua acção sejam compatíveis com a permanência de uma
vida autenticamente humana sobre a Terra; ou ainda, age de
maneira que os efeitos da tua acção não sejam destruidores para a
responsabilidade futura de uma tal vida, ou ainda, não
comprometas as condições necessárias para a sobrevivência
indefinida da humanidade. Como se pode ver, o novo imperativo
alerta-nos para uma vida tendo em conta as necessidades, a
integridade e a qualidade de vida das gerações futuras.
▪ Ética dos princípios universais – a ética dos princípios universais, é
aquela defendida por Immanuel Kant. Segundo Kant é necessário
que a nossa liberdade não ponha em causa aquilo que são asnormas
universais, isto é, as normas aceites por todos os homens do ponto
de vista universal.

Como diz Kant na Critica da Razão Prática, Vontade absolutamenteboa


é aquela que não resultar má, aquela cuja máxima pode tornar-se em
lei universal, sem contradizer-se a si mesma (cf. Kant, 1959, p.5).

Portanto o mérito do filósofo alemão Immanuel consistiu


fundamentalmente na fundação de uma ética universal, na medida em
que no seu entendimento, são morais e humanas apenas aquelas
acções que tiverem uma aceitação universal.

▪ Ética dialógica ou de comunicação


A ética dialógica ou de comunicação é proposta por filósofos alemães
Jurgen Habermas e Karl Otto Apel, que defendem a necessidade de um
discurso intersubjectivo como sendo a única via para o estabelecimento
de normas.
No ensaio Teorias de verdade, Habermas citado por Tugendhat, situou
o seu conceito no quadro de uma teoria geral da verdade, segundo a
qual o critério é o consenso dos que argumentam. O discurso
intersubjectivo é para o autor em alusão, o lugar próprio da
argumentação.

As normas não devem constituir decisão de um só, mas de forma


colectiva por todos os participantes que manifestam seus desejos
(Tugendhat, 2007,p.169).

2.8 Os diferentes tipos de Ética

33
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
A ética desdobra-se em duas espécies: a ética geral e ética profissional.
A seguir caracterizamos cada uma delas:

▪ Ética geral
Quando se fala de ética como ciência normativa da rectidão dos actos
humanos segundo princípios racionais, falamos numa ética geral, que
se move principalmente no campo da filosofia.

A ética geral motiva a reflexão sobre aspectos fundamentais da vida


humana. O comportamento humano foi, desde sempre, avaliado sob o
ponto de vista do bem e do mal, do certo e do errado.

A ética diz-nos, não o que o homem pode fazer, mas o que o homem
deve fazer. Ou seja, elucida-nos sobre as escolhas que o homem deve
fazer em liberdade e através das quais se desenvolve e aperfeiçoa
(Carapeto e Fonseca, 2012, p.13).

▪ Ética aplicada
No que concerne a este subtema o que pretendemos dizer é que, a ética
é cada vez mais uma ética aplicada, para dar resposta a um mundo cada
vez mais complexo. Como o nome indica, a ética aplicada procura
aplicar na prática os fundamentos gerais da ética, no plano individual,
familiar e social. Pois a ética não é puramente teórica: é um conjunto
de princípios que balizam as acções dos seres humanos nas sociedades
em que vivem, devendo ser incorporada pelos indivíduos, sob a forma
de atitudes e comportamentos quotidianos.

Na sua obra, Ética Prática, Peter Singer defende que a ética aplicada é
uma das áreas onde a filosofia, praticada na sua melhor tradição
argumentativa, demonstra a sua fecundidade como instrumento de
abordagem a alguns dos grandes problemas da humanidade (Singer,
1993, p.1).

A filosofia é uma actividade viva, caracterizada pelo estudo minucioso


dos problemas e pela tentativa de produzir respostas convincentes
alicerçadas em argumentos sólidos. Mostra-nos a filosofia no seu
melhor, introduzindo de forma exemplar os seguintes temas:

▪ Natureza da ética;
▪ Noção de igualdade;
▪ Direitos dos animais:
▪ Eutanásia;

▪ Aborto;
▪ Fome no mundo;
▪ Problema dos refugiados;
▪ Ética do meio ambiente;
▪ Desobediência civil;

34
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Natureza da acção ética;

2.9 Conduta humana e o dever (e ou obrigação)


A conduta humana pode ser definida como sendo o comportamento
dos homens numa determinada sociedade. Nesta ordem de ideias, a
conduta humana numa sociedade nos remete a dois outros conceitos
relevantes relacionados com a ética e moral, referimo-nos ao dever e a
obrigação, duas palavras comummente usadas como sinónimas, mas
que, no entanto, podem ser empregues em perspectivas opostas.

Enquanto obrigação designaria a necessidade moral que vincula o


sujeito a proceder de um determinado modo, dever significaria esse
procedimento a que ele está obrigado. Por outras palavras: obrigação
seria o aspecto formal e subjectivo e o dever, o aspecto material e
objectivo da mesma realidade global (cf. Cabral, 2003, p.24).

Portanto a conduta humana implica fundamentalmente o cumprimento


rigoroso dos deveres e ou obrigações que regem uma determinada
sociedade. Alguns pensam que cumprir com os deveres é atropelar a
liberdade humana. Por isso na visão de Cabral, o termo dever é um
infinitivo substantivo (do latim. Debere, de dehabere, ter de) e significa
de um modo geral, um imperativo que se impõe à liberdade com
carácter necessitante ou categórico, exigindo-lhe que actue em
determinado sentido. A necessidade do dever (uma necessidade não
material, mas basicamente moral), não reduz a liberdade, nem a
responsabilidade, antes a pressupõe essencialmente,portanto cumprir
com os deveres é dar mais sentido a própria liberdade na visão de
Cabral, afinal de contas, por ser livre, o homem não pode agir à margem
das normas sociais ou dos deveres.

2.9 Ética e formação profissional


No que tange a este item, o que vamos apregoar é que de facto a ética
joga um papel de grande relevância no que diz respeito a formação
profissional do Homem. Neste âmbito, há um conjunto de valoreséticos
e morais que devem ser tomados em consideração para o exercício de
actividades profissionais.
Na visão de Viegas e Chihulume, o respeito e a observância ou o
cumprimento dos deveres relativos à profissão não deve ser pelo mero
medo de alguma sanção, no caso de alguma infracção, de algum deles
ou má qualidade do trabalho realizado, ou pelo simples receio de
represálias do cliente pela má prestação, mas pela livre vontade e pela
consciência pessoal da necessidade de apresentar qualidade do
produto solicitado. Isto implica uma aplicação pessoal responsável do
profissional.

Nesta perspectiva começa a virtude, uma vez que aumentado o nível

35
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
moral do indivíduo, a profissão exige deste uma acção baseada em
valores.

Segundo Sá apud Viegas e Chihulume não bastam a competência


científica, tecnológica e artística; é necessária também aquela relativa
às virtudes do ser, aplicada no relacionamento com as pessoas, com a
classe, com o Estado, com a sociedade e com a pátria (Viegas e
Chihulume, 2011, p.32).

Em termos de valores ou virtudes, Sá apresenta um conjunto de 96


virtudes que devem ser tomados em conta no âmbito da formação
profissional e para um exercício pleno e ético das actividades
profissionais.

Apresentamos na tabela as 96 virtudes profissionais propostas por Sá:

N° Virtude N° Virtude
1 Abnegação 49 Realismo
2 Afabilidade 50 Reciprocidade
3 Altruísmo 51 Reflexão
4 Aptidão 52 Religiosidade
5 Atenção 53 Retórica
6 Atitude 54 Rigor
7 Autenticidade 55 Sacrifício
8 Benevolência 56 Sagacidade
9 Carácter 57 Sensibilidade
10 Cautela 58 Sensualidade
11 Coerência 59 Sentimentalidade
12 Concentração 60 Sutilidade
13 Compreensão 61 Serenidade
14 Coragem 62 Seriedade
15 Criatividade 63 Sigilo
16 Decisão 64 Simplicidade
17 Decoro 65 Sinceridade
18 Detalhamento 66 Sinergia
19 Determinação 67 Sofisticação
20 Dignidade 68 Solidariedade
21 Diligência 69 Temperança
22 Diplomacia 70 Tolerância
23 Disciplina 71 Tradição
24 Discrição 72 Utilitarismo
25 Eficácia 73 Veracidade
26 Eficiência 74 Versatilidade
27 Eloquência 75 Vitalidade
28 Empenho 76 Voluntariedade
29 Energia 78 Zelo
30 Entusiasmo 79 Obediência

36
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
31 Espontaneidade 80 Objectividade
32 Estilo 81 Optimismo
33 Estratégia 82 Parcimónia
34 Eupraxia 83 Percepção
35 Fidelidade 84 Perfeccionismo
36 Firmeza 85 Perseverança
37 Gosto 86 Personalidade
38 Gratidão 87 Perspicácia
39 Honestidade 88 Persuasão
40 Idealismo 89 Pontualidade
41 Improvisação 90 Pragmatismo
42 Lealdade 91 Precisão
43 Liberalidade 92 Pré-percepção ou
presunção
44 Loquacidade 93 Probidade
45 Magnanimidade 94 Projecção
46 Moderação 95 Prudência
47 Nacionalismo 96 Racionalismo
48 Naturalismo

Como pudemos perceber, os valores ou virtudes mencionados na tabela


acima podem jogar um papel imprescindível para a formação
profissional e boa execução das nossas actividades profissionais no
pensar de Sá (ibidem, 33).

No fim desta unidade deve ser capaz de….


▪ Definir o conceito de ética
▪ Definir a moral
▪ Descrever a evolução histórica da ética desde a antiguidade
clássica
▪ Distinguir a ética e a moral
▪ Explicar papel da ética na formação profissional

Exercícios de auto avaliação


1. O conceito de ética remonta a Grécia antiga. Como se define?
2. Ao longo da sua histórica, a ética teve muitas interpretações.
Caracterize a ética clássica (platónica e Socrática).
3. Kant desenvolveu uma ética baseada em princípios universais.
Caracterize-a.
4. Como se pode definir a consciência moral?
5. Indica as suas características.
6. Em que consiste a ética no sentido normativo e descritivo?
7. O que significa agir eticamente?
8. A imparcialidade e o zelo são valores importantes em termos
profissionais. Diga em que consiste cada um deles.

9. Distinga a ética aplicada da ética dialógica ou de comunicação.

37
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
10. Qual é o papel da ética na formação profissional?

Unidade III: Moral


3.1 O carácter histórico da Moral
Primeiro interessa salientarmos que a moral é uma palavra latina que
significa mores (o comportamento habitual de uma determinada
sociedade). Neste subtema o que pretendemos dizer é que ao longo
da história, a moral sofreu metamorfoses, isto é, ela foi concebida de
diversas formas; como reconhece Sanchez (s.e, pag. 1), as sociedades
humanas são históricas, mutáveis, também a moral muda com as
mudanças da sociedade. Fato é que podemos falar de moral na
sociedade antiga, moral feudal, moral moderna, etc. Há diversas morais
de acordo com a diversidade de sociedades. Outro argumento do autor
é o da historicidade do ser humano, isto é, a tese de que oser humano
não é um ente pronto por natureza, ele é aquilo que fazde si mesmo
fazendo história; ele se auto-produz. Se o ser humano é histórico
também a moral é histórica.

Houve, contudo, ao longo da história três formas de fundamentação


histórica da moral, que o autor considera falsas.
▪ A primeira e mais difundida coloca Deus como origem e fundamento
da moral, considera que as normas morais foram legadas por Deus,
consequentemente, não estariam à mercê das mudanças históricas.
▪ A segunda considera que a natureza é a origem e fonte da moral. As
qualidades morais seriam instintivas, sendo comum aos humanos e
animais.
▪ A última afirma que o homem é a origem e o fundamento damoral.
Homem entendido como uma essência universal, eterna e imutável,
presente em cada ser humano.

3.2 A essência da moral


Para a compreensão da essência da moral, precisamos de defini-la.
Moral (do latim mores, costume, comportamento) Em um sentido
amplo, sinónimo de ética como teoria dos valores que regem a acção
ou conduta humana, tendo um carácter normativo ou prescritivo. Em
um sentido mais estrito, a moral diz respeito aos costumes, valores e
normas de conduta específicos de urna sociedade ou cultura,
enquanto a ética considera a acção humana do seu ponto de vista
valorativo e normativo, em uni sentido mais genérico e abstracto
(Japiassú e Marcondes, 2001, p.134).

Em última análise a moral é o conjunto de normas, regras, hábitos e


costumes vigentes numa determinada sociedade. Portanto a moral
trata de valores que uma dada sociedade ao longo dos tempos foi
formando e que os indivíduos tendem a sentir como uma obrigação

38
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
que lhes exterior.

3.3 Mudanças histórico-sociais e mudanças da moral


Na antiguidade clássica Heraclito de Éfeso dizia, não se pode tomar
banho duas vezes nas águas do mesmo rio. Fazendo uma leitura
hermenêutica das palavras de Heraclito, podemos chegar as
constatações seguintes:

▪ A realidade é dinâmica;
▪ A realidade é cíclica (Quer dizer não é linear);
▪ A realidade é validade num determinado tempo e espaço;
▪ Cada época histórica é sujeita a um paradigma;

O conceito de paradigma é muito importante na perspectiva de Thomas


Kuhn, grande pensador americano, renomado na área de
epistemologia. Na sua obra, A Estrutura das Revoluções Científicas,
Kuhn concebe o paradigma como sendo o fundamento e ponto de
partida da actividade científica. Segundo ele, é o paradigma o âmago e
o princípio orientador da ciência. Mas para este autor a crise de um
paradigma deve ser acompanhada pela instauração de um outro, de tal
modo que rejeitar um paradigma sem simultaneamente substitui-lopor
um outro é rejeitar a própria ciência (cf. Kuhn, 2001,p.110).

Na visão do epistemólogo americano, a mudança de um paradigma; isto


é; a transição de um paradigma para o outro, implica uma revolução
científica, a qual contradiz e põe em causa todos os dogmas e
pressupostos do paradigma anterior. Como entende o próprio Kuhn,
revoluções científicas são episódios de desenvolvimento não
cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou
parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior
(Ibidem, 125).

Ora em relação a este subtema, o nosso objectivo não se circunscreve


no debate sobre as revoluções científicas de Kuhn, contudo usamo-las
de analogia para que tenhamos uma compreensão ampla sobre a
pertinência das mudanças histórico-sociais e mudanças da moral.

As mudanças da moral estão relacionadas exactamente com as


mudanças histórico-sociais, por exemplo, ao nível da antiguidade
clássica vamos encontrar uma moral identificada com a ideia do bem na
visão de Platão. Para Platão, o autor da República, agir bem moralmente
significava agir com rectidão de consciência.

A inteligência correctamente utilizada, conduz ao bem, que é aquilo


que é amado primeiro. E com o bem estão o belo e o justo (Arruda, et
all, 2003, p.25).

39
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
No entender de Sanchez, a passagem para novas formas de moral
repousa sobre o aparecimento da propriedade privada (o capitalismo)
e da divisão social do trabalho, possibilitados pelo aumento da
produtividade e o aparecimento das condições de armazenamento do
excedente. A emergência da classe dos escravos marca o aparecimento
de duas morais: a dos proprietários e senhores de escravos, livres da
necessidade de trabalhar e a dos escravos, imposta a eles pelos
primeiros.

A moral dos senhores não era somente a moral efectiva, mas que, pela
fundamentação filosófica, legitimava a sociedade de classes
argumentando que os escravos eram tais por natureza, considerando-
os como propriedade dos senhores (Sanchez, s.a, 2).

Os grandes teóricos da ética ateniense consideravam a ética dentro de


uma perspectiva maior: a Política como técnica de dirigir e organizar
as relações entre os membros da comunidade sobre bases racionais
em vista do bem comum, condição para o bem dos indivíduos. Foi
efectivamente por causa dessas desastrosas consequências sociais
derivadas do sistema capitalista que urge a necessidade de uma nova
moral. No nosso entender, nos tempos actuais devido o avanço do
capitalismo, um capitalismo selvagem, precisamos de uma moral do
tipo personalista e social.

A moral do tipo social é aquela que defende o respeito pelo bem


comum, ou de todos ou por outra pelo bem de toda a sociedade, isto é,
uma moral capaz de garantir a salvaguarda dos interesses dasociedade
no geral e não de um punhado de gente como apregoa a corrente
capitalista.

Sob o ponto de vista de moral personalista, vamos invocar o nome de


Martin Bubber, grande filósofo alemão que se notabilizou na defesa e
ou valorização do outro. Para Bubber o outro deve ser olhado como um
outro Eu, na medida em que, o Eu não pode existir sem o Tu, os dois
elementos se complementam na sua existência no mundo, existe uma
relação de correlação entre o Eu e o Tu, ninguém pode existirsem o
outro.

Portanto no pensar de Bubber, aos vários tipos de relação entre os


homens entre si e entre os homens e as coisas: a relação sujeito- sujeito
constitui o mundo do "tu", ao passo que a relação sujeito- objecto
constitui o mundo do "ele"; o mundo do "tu" é uma relação "eu-tu", é a
relação mais humana que torna os indivíduos humanos em pessoas
humanas, é a única relação que pode humanizar o mundo.

Estamos a viver um momento histórico especial em que precisamos de


uma nova moral. Uma moral social e altruísta ou solidária de Bubber
(aqui fazemos referência a solidariedade e o respeito pelo outro)

40
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
podem jogar um papel de grande importância para a eliminação do
índice cada vez mais elevado de individualismo e egoísmo.

3.4 O progresso moral


Primeiro começaremos por definir a noção de progresso moral ou
desenvolvimento sócio-moral, a posterior vamos elucidar as três
perspectivas de desenvolvimento moral e iremos apresentarigualmente
a visão de Jean Piaget e Kohlberg. Na visão de Piaget,designa-se
por progresso moral aos estágios pelos quais a criança passa no âmbito
do seu desenvolvimento ou evolução intelectual.

No entendimento de Lourenço, o tema da moralidade diz respeito a três


correntes de pensamento: a perspectiva psicanalítica, a teoria da
aprendizagem social e a perspectiva cognitivo-desenvolvimentista
(defendida por Piaget e Kolhlberg).

Para a abordagem psicanalítica, a moralidade tem fundamentalmente


a ver com as emoções e sentimentos morais, vergonha, remorso e
culpa, a título de exemplo. Diferentemente da teoria psicanalítica, a
abordagem cognitivo-desenvolvimentista, o desenvolvimento moral
tem menos a ver com as emoções sentidas após a prática de uma
determinada transgressão e mais com as razões (cognitivas) que estão
por detrás de tais acções ou transgressões.

Para a perspectiva de aprendizagem social, tanto as emoções como as


cognições morais são algo relativamente secundários no âmbito do
funcionamento moral da pessoa. O importante no desenvolvimento
moral de uma pessoa é a frequência com que ela exibe efectivos
comportamentos morais, quer dizer, os comportamentos tidos como
correctos pelos membros de uma determinada sociedade (Lourenço,
2002, p.39).

Voltando a perspectiva (a psicanálise), a culpa sentida e confessada


após uma determinada transgressão é entre outros, um indicador de
desenvolvimento moral da pessoa. Nesta ordem de ideias, as emoções
ocupam um lugar imprescindível na origem, génese e avaliação do
funcionamento moral das pessoas.

Para a teoria de aprendizagem social, a criança torna-se moral quando


cresce porque no seu contacto com os outros, ela aprende que há
comportamentos que tendem a ser aprovados e reforçados e outros
reprovados e punidos. Os aprovados tornam-se mais prováveis, os
punidos menos frequentes.

41
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Para além desta aprendizagem directa (aquela que na abordagem
behaviorista, recebe o nome de condicionamento clássico na
perspectiva de Watson, ou de condicionamento operante no pensar de
Skinner, a criança também aprende os comportamentos tidos como
correctos no seu meio e cultura porque os observa em sua casa, na
escola ou na televisão. Trata-se agora de uma aprendizagem indirecta
e social que é basicamente uma aprendizagem por observação e
imitação de modelos.

Para a teoria da aprendizagem social, os mecanismos por detrás da


conduta moral são os de aprendizagem em geral e os de
condicionamento, reforço e imitação em particular de tal sorte que para
essa corrente, os comportamentos correctos não dependem tanto das
razões cognitivas.

Diferentemente da teoria da aprendizagem social, para a perspectiva


cognitivo-desenvolvimentista de Piaget, a criança torna-se moral
quando cresce porque, através das suas relações com os adultos e, mais
ainda, com os seus pares, ela forma e constrói noções de bem e mal, de
justo e injusto e de direitos e deveres cada vez mais morais, ou seja, mais
capazes de discernir, coordenar e sistematizar opiniões diferentes,
opiniões que se chocam, em geral, quando se trata de um problema
moral (cf. ibidem, 40).

Desenvolvendo-se em termos de pensamento moral, a pessoa também


tende a comportar-se de modo mais moral, ou a fazer o que pensa que
deve ser feito (acção moral objectiva), fazendo isso em nome de razões
morais elevadas (acção moral subjectiva), sendo assim o
desenvolvimento moral de uma criança para esta abordagem não deve
passar pela instigação de culpa ou outras emoções morais quando ela
se comporta de modo imortal, ou pela inculcação de uma série de
comportamentos tidos como correctos, mais fundamentalmente pela
sua vivência em ambientes morais, ou seja, em contextos que lhe
concorram ocasiões de descentração social ou de colocar ponto de
vista dos outros e desenvolver o seu raciocínio moral (ibidem, 41).

Para Piaget, há duas moralidades: a heterónima e a autónoma. A


moralidade heterónima é a moral da obediência, da coerção e do
respeito unilateral. A moralidade autónoma está ligada a cooperação,
igualdade e o respeito mútuo. No quadro a baixo elucidamos as
discrepâncias existentes entre as duas vertentes:

42
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Dimensões morais Heteronomia Autonomia
Definição de Obediência, castigo Cooperação,
moralidade consciência
Distinção de Egocentrismo Perspectivismo
perspectivas
Concepção de dever Exterior a si Interior a si
Avaliação da Responsabilidade Responsabilidade
transgressão objectiva subjectiva
Castigo para o Sanções expiatórias Sanções por
transgressor reciprocidade
Orientação moral Respeito unilateral Respeito mútuo
Sentido de justiça Retaliação e Restituição e equidade
igualitarismo
Concepção das Fixas e imutáveis Modificáveis por
normas acordo

3.5 Níveis de desenvolvimento moral em Kohlberg


Tal como Piaget, Kohlberg defende uma perspectiva construtivista
segundo a qual, as concepções morais da pessoa resultam da interacção
diária do indivíduo com o meio social em que se encontra, bem como
da coordenação dos diversos pontos de vista que a mesma interacção
sempre propicia tendo em conta que estas interacções e coordenações
não são redutíveis à influência incontornável do social e do biológico
(ibidem, 72).

Após um programa ambicioso de investigações empíricas, onde se


destaca o acompanhamento longitudinal durante vinte anos de uma
amostra inicial de sujeitos de dez, treze, e dezasseis anos, Kohlberg
advogou que o desenvolvimento do pensamento moral começa por ser
de nível pré-convencional, transforma-se mais tarde emconvencional e
pode chegar por fim, a ao nível pós-convencional.

O nosso autor resume os estádios do desenvolvimento moral do


seguinte modo: o nível pré-convencional – expressa a moralidade de
alguém que se considera fora das normas e convenções, de alguém que
tende a equacionar os problemas em torno dos direitos e deveres,
justiça e bem-estar em termos fundamentalmente individuais. Em
suma, nesta etapa as normas e as expectativas sociais permanecem
exteriores ao indivíduo.

Nível convencional – expressa o nível moral de alguém que tende a


equacionar a questão dos direitos e deveres, a partir de dentro das
normas e convenções que vigoram na vida social. Nesta etapa, o
individuo assume-se como um ser social que subordinado às
necessidades da sociedade a qual encontra-se inserido.

43
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Nível pós-convencional – é o nível de alguém que assume que há um
conjunto de princípios morais que têm prioridade sobre todas as
normas e códigos. Nesta etapa, as pessoas é que justificam todas as
normas e códigos, e não o contrário. Em suma, o nível em alusão,
reflecte a relatividade das normas, o que significa efectivamente que o
mais importante é a transformação e não a manutenção da sociedade
(cf. ibidem, 75).

A seguir apresentamos em forma de tabela, o resumo dos três níveis do


desenvolvimento na visão de Kohlberg.

Nível Está Orientação Perspectiva sócio-moral


dio
Pré- 1 Castigo e Egocêntrica
convenc obediência
ional 2 Troca de Instrumental e de segunda
interesses pessoa
Convenc 3 Bom menino e Relacional e de terceira pessoa
ional aprovação social
4 Lei e ordem Legal e de um outro generalizado
Pós- 5 Maior bem do Relativista e de um outro
convenc maior número qualquer
ional 6 Princípios éticos De um outro ser moral, racional e
universal

Castigo e obediência – neste estádio é bom e justo tudo o que evita o


castigo e se conforma com a vontade e poder das figuras de autoridade.
Aqui as normas são seguidas à risca e por isso é feio e maudesobedece-
las.

Troca de interesses – neste estádio, temos a moralidade do


oportunismo, calculismo e interesses individualistas, é justo e correcto
tudo o que evita custos e traz ganhos, materiais em especial, para o
próprio indivíduo. É o estádio da moralidade de cada um que se vire
ou do eu não tenho nada a ver com isso.

Bom menino e aprovação social - neste estádio aparece a ideia segundo


a qual é justo e correcto agir de forma a agradar aos outros, em
particular aos que estão mais próximos de nós, de modo a mostrar-lhes
que somos pessoas decentes, afectivas, honestas e cheias de bons
motivos.

Lei e ordem – neste estádio é justa toda a acção que está de acordo com
os direitos e deveres consagrados legalmente.

Ao invés do estádio 3 que está orientado para uma moralidade


afectiva e relacional, o estádio 4 está

44
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
orientado para uma perspectiva mais geral e institucional, isto é, a
perspectiva das normas e dos códigos socialmente aceites e
partilhados.

Portanto neste estádio, as pessoas compreendem que a prossecução de


interesses individuais é apenas legítima quando é consistente coma
manutenção do sistema sócio-moral como um todo.
Maior bem do maior número – neste estádio, a subordinação das
normas aos princípios é apenas intuída e a preocupação é com aspectos
de justiça processual ou justiça ligada aos procedimentos

Princípios éticos – neste estádio a subordinação das normas aos


princípios é claramente reconhecida e assumida (cf. ibidem, 80).

3.6 Moral e religião


A moral e a religião são dois elementos indissociáveis no processo de
socialização do Homem. Defendemos que esses dois são duas áreas
imprescindíveis para a vida social que a moral propõe as normas e
princípios que devem ser seguidos pelos homens dentro de uma
sociedade, e a religião faz a secundarização com aditivos de ordem
teológica ou divina.

A Religião tende a permear aspectos concretos da vida dos indivíduos,


o que comporta a proposição de princípios e de valores, bem como de
modelos de comportamento orientados para resolver os contrastes
existentes entre uma visão ideal da vida, individual e colectiva, e as
situações contingentes que surgem no quotidiano das pessoas. A
relação entre Religião e moral actua quer no plano individual quer no
campo social. Estes dois planos, embora distintos, não são separáveis.
Aliás, não se compreende a natureza profunda, a função e o alcance
histórico de uma religião, se não se tiver em conta o modo como os seus
membros traduzem na prática quanto é proposto por ela.

Assim sendo, é possível identificar relações diferenciadas tanto no


campo teórico como no do comportamento humano, entre a Religião,
qualquer que ela seja, e o comportamento moral. Essas relações podem
ser tipificadas em três posições: a da identificação, característica do
integrista para quem tudo o que é real é moral e, portanto, todo o real
é religioso. Situação em que muito dificilmentese consegue distinguir
a autonomia do temporal, ou das realidades temporais, em relação ao
religioso; a da separação, a qual leva, normalmente, ao extremo oposto
da identificação, ao defender a separação e independência entre
religioso e moral, dando maior ênfase à autonomia do temporal; e,
finalmente, a da conexão que, admitindo embora interdependência
entre Religião e moral, salvaguarda a autonomia do temporal.

45
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Nenhuma destas posições da relação se apresenta em estado puro,
podendo, por isso mesmo, ser consideradas como tipos ideais com os
quais confrontamos, metodologicamente, a realidade em estudo.

Assim, não admira que a posição hegemónica ocupada por um ou outro


tipo possa sofrer variações no tempo e no espaço. Postas estas
distinções, parece ser um dado aceite que o comportamento dos
indivíduos na sua relação com Deus comporta consequências de ordem
moral, não obstante a fragmentação dos espaços e a perda do carácter
de absoluto e universal que detinham os valores e as normas
transmitidas pela tradição (Medeiros, s.e. 17).

3.7 Ética e direito


A ética e o direito são duas disciplinas que se complementam. Ora
vejamos, o direito, à semelhança da ética, tem carácter obrigatório e
normativo, é regulador das relações humanas. O direito é o modo de
regulação dos comportamentos mais operativo nas sociedades
democráticas, pois impõe obrigações e estabelece mecanismos
procedimentos para garantir a sua aplicação. Através das leis, garante-
se a organização e o funcionamento da sociedade e estabelecem-se
relações claras de autoridade e de poder.

Uma vez que as regras são estabelecidas pelo Estado, estamos perante
uma forma de hetero-regulação. O objectivo da regulação dos
comportamentos pelo direito é favorecer a coexistência entre os
indivíduos, protegendo minimamente os direitos de cada um,
procurando evitar e gerir conflitos e sancionar os indivíduos que violem
a lei. Mas a ética e o direito são categorias de normas diferentes, apesar
de por vezes se sobreporem e outras vezes colidirem.

Efectivamente, apesar de a maioria das normas jurídicas ser


considerada, em si mesma, eticamente neutra, há casos de
comportamentos em que sucede o seguinte:
▪ São, em simultâneo, legais e éticos;
▪ Há outros casos em que são eticamente não censuráveis, mas que
o direito tem de sancionar, em nome do "dano social" (são éticos
mas ilegais);
▪ E há também casos de comportamentos legais, mas eticamente
condenáveis - neste caso, porque a lei pode ser injusta e imoral, ou
porque é possível respeitar a letra da lei, violando o sentido que
ela deveria ter.

Uma das principais diferenças entre ética e direito reside no tipo de


regulação: na ética as obrigações, os deveres são internos, pertencem
à esfera privada do indivíduo, enquanto que no direito os deveres
impostos pela legislação são externos, pois estão dirigidos aos outros.

46
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
E desta diferença resultam outras diferenças fundamentais.

Devido ao seu âmbito externo, o direito conta com uma protecção


institucional e estruturas de poder coercivas que sancionam a
transgressão à lei. Pelo contrário, dado o seu âmbito interno, a
observância da ética depende apenas da interiorização que cada sujeito
faça dos seus princípios: a ética é o âmbito da consciência e a única
sanção é, eventualmente, o remorso. Por isso, a ética vive à margem do
aparelho coercivo dos Estados. Mas esta debilidade é apenas aparente,
pois está demonstrado que os seres humanos actuam mais por
convicção do que por obrigação externa. E por isso mesmo, para ser
eficaz, o direito deve, tanto quanto possível, apoiar- se nos princípios
éticos que estão fundados na natureza humana. Portanto não pode ser
a ética a submeter-se ao direito, mas o direito aos princípios ético-
morais (Carapeto e Fonseca, 2012, p.10).

3.8 Moral e ciência


Falar de moral e ciência, é fazer referência a dois aspectos fundamentais
para a prática de uma investigação científica isenta de perigos para a
humanidade. Na relação entre a moral e ciência, a moral joga um papel
relevante, e isso foi notável aquando do lançamento das bombas
atómicas em agosto de 1945 no Japão (em plena segunda guerra
mundial), cujas suas consequências ainda se fazem sentir actualmente
naquele país asiático. A necessidade de éticae moral no processo de
investigação científica é reconhecida por alguns pensadores como
Urbano Zilles.

No entendimento de Zilles, a história da ciência mostra que os cientistas


são seres humanos capazes tanto de grande engajamento político
quanto de fanatismos. Sob esse aspecto, são profissionais muitas vezes
guiados por paixões como políticos ou religiosos com tendências
fundamentalistas, prisioneiros do seu próprio mundo. Entretanto a
institucionalização de uma ordem moral imposta de fora, com os
controles correspondentes, certamente também seria problemática,
como demonstrou o passado.

Se o investigador sempre devesse esclarecer previamente se o que faz


é bom ou mau seria submetido à pressão permanente de legitimar a sua
actividade profissional. O que significa bom ou mal é uma questão a ser
definida e, por isso, muitas vezes, discutível e complicada. A realidade
complexa do mundo da ciência e da técnica é ambígua, pois, a via de
regra, combina determinadas vantagens com determinadas
desvantagens. Isso dificulta um juízo unívoco e consensual, uma vez que
diferentes visões se distanciam entre si (cf. Zilles, 2004, p.3).

47
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
De referir que o impacto negativo da ciência no visão de Zilles, suscitou
o surgimento de Bioética, por volta dos anos 1970. O termo bioético foi
cunhado, em 1970, pelo oncologista norte-americano de origem
holandesa Van Rensselaer Potter.
Divulgou-se muito rapidamente porque tenta responder a uma
necessidade urgente. Potter tinha como objectivo assegurar a
sobrevivência da humanidade ameaçada por uma ciênciadescontrolada
e, para muitos, irresponsável. Percebeu que há uma preocupante
lacuna entre o avanço rápido da ciência, por um lado, e a reflexão crítica
sobre o que é permitido e conveniente, de outro.

Deste modo a bioética nasce como uma tentativa de imprimir cada vez
mais uma maior responsabilidade às ciências que se ocupam com
questões vitais, bem como às tecnologias correspondentes (cf. Ibidem,
4).

Por outro lado, defendemos a necessidade de uma moral científica na


medida em que, o avanço do processo de industrialização contribui de
forma desastrosa para a degradação do meio ambiente e o
consequente aquecimento global que se faz sentir um pouco por todo
o mundo. Verifica-se também o esgotamento dos recursos renováveis
e um aumento da destruição da camada do ozono.

Para Lyon e Fukuyama apelam de viva voz à uma exploração racional e


sustentável dos recursos que a terra nos oferece de forma a
salvaguardar a vida das próximas gerações (estamos a falar das
gerações vindouras). Mais grave ainda é que para além dos problemas
ambientais, a ciência e a tecnologia, como foi provado pela revolução
industrial aumentam o índice de desemprego no mundo devido a
substituição de homens pelas máquinas.

Tendo em conta às premissas colocadas acima, defendemos aexistência


de uma ética ou moral científica para a regulação do processo de
pesquisas científicas. Queremos com isso dizermos que o poder que a
ciência ostenta, não pode tender a ultrapassar os princípios ético-
sociais, pelo contrário, para permitir a preservação de uma boa
convivência (uma convivência pacífica, saudável e humana noplaneta).

No fim desta unidade deverá ser capaz de:


▪ Definir o conceito da moral;
▪ Caracterizar a evolução histórica da moral;
▪ Descrever a relação entre a moral e o direito;
▪ Explicar o papel da ética para a ciência;

Exercícios desta unidade


1. Defina o conceito da moral.
2. Caracteriza a evolução histórica da moral.

48
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
3. Que factores concorrem para as mudanças morais.
4. A moral e a religião são dois campos estreitamente ligados. Explica
a sua relação.
5. Em que consiste a relação entre a moral e a ciência.
6. Como se pode definir o progresso moral?
7. Caracterize as etapas o progresso moral em Kohlberg e Piaget.
8. A ética e o direito são duas áreas estreitamente ligados. Discuta
sobre a relação existente entre elas.
9. Como se define o direito?
10. Entre a ética e o direito, o que deve submeter-se ao outro?

Unidade IV: Ética social


4.1 Objeto da Ética Social
A ética social é um subcapítulo da ética normativa, que procura
fundamentar as normas e os objectivos da interacção entre o indivíduo
e o grupo ou grupos entre si. Dessa relação resultam vários outros tipos
de ética que se enquadram nesta.
A Liberdade: é o fundamento do agir moral. Segundo Kant, é a razão
de ser da lei moral e, simultaneamente, a afirmação do sujeito que age
como pessoa. Etimologicamente, a palavra liberdade significa isenção
de qualquer coacção ou negação da determinação para uma coisa. Em
suma, pode-se entender como a faculdade de fazer ou deixar de fazer
uma coisa. Vista do lado do sujeito, ela tem sido entendida como a
possibilidade de autodeterminação e de escolha, acto voluntário,
espontaneidade, indeterminação, ausência de interferência, libertação
de impedimento, realização de necessidades, direcção prática parauma
meta, propriedade de todos ou alguns actos psicológicos, ideal de
maturidade, autonomia sapiencial e ética, razão de ser da própria
moralidade.

O primeiro pensador que se dedicou à liberdade foi Sócrates. Ele era da


opinião de que o Homem é livre quando se verifica o domínio da própria
racionalidade em relação à própria animalidade. Por seu lado, Sartre
identifica o Homem com a liberdade. É uma liberdade absolutae total.
Portanto, o Homem está condenando a ser livre porque, uma vez
lançado ao mundo, é responsável por tudo aquilo que faz. Os marxistas,
por seu lado, são da opinião de que o Homem só é livre com o fim da
alienação. Para estes, a condição fundamental para a liberdade é o fim
da exploração do homem pelo homem.
A Responsabilidade: do latim respondere, que significa comprometer-
se (sponder) perante alguém em retorno (re). É a virtude através da qual
o agente moral deve responder pelos seus actos, isto é, reconhecê-los
como seus e suportar as suas consequências. A responsabilidade
pressupõe três condições fundamentais:
▪ Conhecimento: o agente deve conhecer os seus actos e as suas
consequências. Se o indivíduo actua por ignorância, a sua
responsabilidade será atenuada.

49
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Liberdade: só somos responsáveis pelos actos que são
verdadeiramente nossos, e é a liberdade que dá ao Homem opleno
domínio dos seus actos e o torna susceptível de valorização.
▪ Intenção: a responsabilidade depende da intenção com que se
decide realizar o acto.
A responsabilidade subdivide-se em dois tipos: 1º fundamental ou
transcendental, que é aquela que o Homem tem por ser Homem,
enquanto Homem. É a responsabilidade perante a consciência, os
outros e a sociedade; 2º categorial, que equivale às diversas obrigações
e deveres de cada um. É subjectiva ou pessoal, cada sujeito agente é
responsável pelos actos que são verdadeiramente seus porque
livremente praticados.
O Mérito: é a aquisição de valor em sequência do bem praticado. O
seu oposto é o demérito, que é a perda de valor em virtude do mal feito.
O mérito depende do valor do próprio acto e das condições em que o
acto é realizado, especialmente de dificuldade e de intenção.

A Virtude: é um valor moral adquirido por esforço voluntário, isto é,


uma força para fazer o bem e que se adquire através de exercícios bons.
Platão apontou quatro tipos de virtudes: fortaleza, temperança,
prudência e justiça, que ainda hoje funcionam.

A Sanção: é o prémio ou castigo infligidos pelo cumprimento ou


violação da lei. A sanção pode ser de consciência - certos sentimentos
com os quais nos sentimos elevados ou deprimidos, consoante os
nossos actos são bons ou maus; de opinião pública – sanciona asacções
humanas quer quando louva os bons ou quando reprova os maus;
Natural – são as consequências que resultam para nós da vida que
levamos; sobrenatural – está relacionada com as religiões, e em todos
os tempos, e inclui a crença num juízo final como recompensa última
dos bons e castigo dos maus. Esta noção de sanção sobrenatural
corresponde a um objectivo moral positivo: evitar que, perante as
insuficiências inevitáveis das sanções terrenas, o Homem possa cultivar
a ideia moralmente corrupta de que pode haver crime sem castigo ou
de que pode haver virtude sem esperança de recompensa.

4.2 Aspectos da ética ambiental


A Relação do Homem com a Natureza na História: já na Jónia
verificaram-se os primeiros esforços de carácter completamente
racional para descrever a Natureza. Efectivamente, foram os filósofos
de Mileto, Tales, Anaximandro e Anaxímenes que reflectiram
filosoficamente sobre a origem da Natureza, contemplando-a e
admirando a diversidade das coisas que se lhes apresentavam. O
cristianismo veicula uma imagem particular da relação entre o Homem
e a Natureza. No Antigo Testamento apresenta-se a Terra como sendo
uma criação de Deus. Todos os

50
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
animais são apresentados como propriedade do Homem.

A filosofia da Idade Moderna, que começa com Descartes, iguala o


animal a uma coisa automática, sem alma e sem sentimentos. No
Iluminismo, há vozes isoladas que apelam para que o Homem respeite
os animais. No século XIX, surgiram na Inglaterra os primeiros
movimentos e leis de defesa dos animais.
No livro Bioética, de Luís Archer, são apresentadas as quatro “atitudes”
de relacionamento do Homem para com o meio ambiente ao longo da
História:
A dominação – na primeira fase da sua existência, os seres humanos,
afectados pelas condições duras de existência e de sobrevivência, via a
Natureza como o domínio donde tiravam o que precisavam para a sua
sobrevivência.
No entanto, a Natureza foi tão “convocada” para servir o Homem que
começou a esgotar-se aos poucos. As fontes e reservas de energia
começaram a chegar aos seus limites. Os efeitos negativos das
transformações do ambiente natural que o Homem encontrou na Terra
tornaram a vida quotidiana quase impossível.
A tomada de consciência dos problemas ambientais estimulou, nos
últimos tempos, várias reflexões filosóficas para a sua interpretação,
explicação e resolução. É necessária uma nova compreensão do
Cosmos. A nova fórmula passa a ser “descentrar” o Homem, ou seja,
tirar-lhe a ideia de que ele se encontra no centro do Universo. A partir
daqui poder-se-á exigir atitudes éticas do Homem perante o meio que
o rodeia.
Finalmente, exige-se responsabilidade: “Em primeiro lugar, aceitar
pagar o custo, humano e financeiro, da alteração dos maus hábitos
sociais quanto ao tratamento das reservas naturais e energéticas. Em
segundo lugar, verificar que existem para a sociedade de consumo
limites de direito impostos pela obrigação de não esgotar a Natureza.
Enfim, juntar à transformação do olhar individual de cada ser humano
sobre a Natureza que o rodeia a necessidade de trabalhar para a
elaboração de códigos jurídicos e de decisões políticas relativamente à
Ecologia.” (ARCHER et al, 1996, p. 132.).

4.3 Os Problemas do Meio Ambiente na Actualidade


A água – já o filósofo grego Tales de Mileto destacava a importância da
água ao apontá-la como a “origem de todas as coisas”. O problema da
água não está tanto na sua quantidade, mas sim na distribuição desigual
pelos habitantes do planeta Terra.

51
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
A Energia – no seu sentido lato, é o motor de todas as formas de vida
e de todos os processos de formação estrutural das plantas e dos
animais.
No seu sentido restrito, e no âmbito do meio ambiente, referimo-nos
aqui à energia que precisamos para o consumo e que, normalmente,
se obtém a partir da combustão de alguns produtos da Natureza ou da
sua exploração. O esgotar da energia, na perspectiva de John P.
Holdren, não constitui problema. O grande problema parece ser,
porém, a distribuição no consumo mundial.
A Poluição do Ambiente – o resultado do fenómeno da industrialização
que aumentou em cerca de 50 vezes no século XX em relação ao século
anterior, tem sido a contaminação do ar que respiramos, das terras que
precisamos para cultivar, dos rios e lagos onde pescamos, assim como
dos oceanos onde também desenvolvemos várias actividades
económicas.
O Clima – as grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases
libertados pelas indústrias estão a provocar o chamado “efeito da
estufa”. Por outro lado, o consumo de combustíveis fósseis provoca a
destruição progressiva da camada do ozono pelos clorofluorcarbonetos
utilizados nos aerossóis, o que pode acarretar graves riscos para a vida
humana.
A Desertificação – é a degradação do solo em zonas áridas, semiáridas
e secas ou sub-húmidas. É um problema global que afecta cerca de um
sexto da população mundial.
O que provoca este fenómeno são as práticas não sustentáveis de
cultivo e colheita, as pastagens excessivas, prática de desmatamento
para a limpeza da terra e obtenção de lenha e o abaixamento dos
lençóis freáticos devido à super-exploração da água. O certo é que já
não há equilíbrio entre a produção dos alimentos e o crescimento da
população mundial. Algumas soluções apontam que esse equilíbrio só
poderá ser (re) estabelecido controlando as taxas de natalidade.
A Terra – apesar dos avanços técnico-científicos, a terra e a água
continuam a ser as principais fontes de aquisição de alimentos para o
Homem, ou seja, o Homem continua ligado existencialmente à
Natureza. No entanto a existência humana começa a ser seriamente
ameaçada devido à degradação da terra.
A alimentação – segundo as estatísticas da ONU, a população mundial
foi de 7,2 biliões no ano 2000 e no ano 2025 será cerca de 8,6 biliões,
dos quais 7,2 biliões viverão nos países agora considerados pobres.
Estas pessoas precisarão de se alimentar, mas existe o grande problema
da pobreza.

A falta de alimentos básicos não permite que o Homem recupere as

52
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
forças para melhorar a sua condição de existência assim como para se
manter saudável. Portanto, a subnutrição anda de mãos dadas com a
pobreza, em particular com a pobreza absoluta.
A extinção das Espécies – a destruição do sistema da vegetação, muitas
vezes, através de queimadas, provoca a extinção de espécies e
variedades de vegetais e de animais. Isto deve-se principalmente à
alteração das condições de vida que as espécies necessitam e, também,
à poluição do meio em que vivem.

4.4 Direitos Humanos e Ética


Existe uma estreita relação entre os direitos humanos e ética, porém
para uma maior compreensão sobre a sua convergência, precisamos
de em primeiro lugar fazermos uma pequena referência ao historial dos
direitos humanos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi promulgada pela


assembleia-geral das nações unidas em 10 de Dezembro de 1948, por
sinal 3 anos depois da segunda mundial (Evento que representou uma
autentica violação aos direitos em alusão). A assembleia-geral das
nações unidas proclamou a declaração dos direitos humanos, como o
ideal comum a ser atingido por todos os povos e por todas as nações,
com o objectivo de cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo
sempre a consciência do papel daquela declaração para a manutenção
de uma harmonia social e elevação da dignidade da pessoa humana.

No pensar de Assumpção, é necessário que cada um se esforce através


do ensino e educação, por promover o respeito a esses direitos e
liberdades e pela adopção de medidas avançadas de índole nacional e
internacional, por assegurar os povos dos próprios estados-membros,
bem como entre os povos dos territórios sob a sua jurisdição (cf
Assumpção, 1998, p.39).

Antes de entrar entrarmos na componente ética dos direitos humanos,


não seria menos importante apresentarmos alguns direitos básicos da
pessoa humana, nomeadamente:

▪ Artigo 1 – todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e


direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir emrelação
aos outros como respeito e fraternidade.
▪ Artigo 2 – todo o homem tem a capacidade de gozar os seusdireitos
e as liberdades estabelecidas na declaração, sem distinção de
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua religião, opinião
pública ou de outra natureza, como seja a origem nacional ousocial,
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição;
▪ Artigo 3 – todo o homem tem direito à vida, à liberdade e a
segurança social;
▪ Artigo 4 – Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, ao

53
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas;
▪ Artigo 5 – Ninguém será submetido a tortura nem ao tratamento ou
castigo cruel, desumano ou degradante;
▪ Todo o homem tem o direito de ser em todos os lugares,
reconhecido como pessoa perante a lei;
▪ Artigo 7 – todos os homens são iguais perante a lei e têm o direito,
sem qualquer distinção, a igual protecção pela lei. Todos têm direito
igual a protecção contra qualquer tipo de discriminação que viole a
declaração e contra qualquer incitamento a taldiscriminação;
▪ Todo o homem tem direito a receber, dos tribunais nacionais
competentes, remédio efectivo para os actos que violem os direitos
fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição e pela
lei;
▪ Artigo 9 – ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado
▪ Artigo 10 – todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma
justa e pública audiência, por parte do tribunal independente e
imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento
de qualquer acusação criminal contra ele;
▪ Artigo 11 – todo homem acusado de um acto delituoso tem o direito
de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido
provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe
tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua
defesa;
▪ Artigo 12 – ninguém será sujeito a interferências na sua vida
privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem
a ataques a sua honra ou reputação. Todo o homem tem direito a
protecção da lei contra tais interferências ou ataques.
▪ Artigo 13 – todo o homem tem direito a liberdade de locomoção e
residência dentro das fronteiras de cada um.
▪ Artigo 14 – todo o homem, vítima de perseguição, tem o direito de
procurar e gozar asilo em outros países.
▪ Artigo 15 – todo o homem tem direito a uma nacionalidade;
▪ Artigo 16 – os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer
restrição de raça, nacionalidade ou religião, tem o direito de
contrair o matrimónio e constituir uma família. Gozam de iguais
direitos em relação ao casamento, sua duração, e sua dissolução.
▪ Artigo 17 – todo o homem tem direito a propriedade, so ou em
sociedade com o outro;
▪ Artigo 18 – todo o homem tem direito a liberdade de pensamento,
consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de
religião ou crença e a liberdade de manifestar esta religião oucrença
pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou
colectivamente, em público ou em particular;
▪ Artigo 19 – todo o homem tem direito a liberdade de opinião e de
expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter
opiniões e de procurar receber e transmitir informações e ideias por
quaisquer meios e independentemente de fronteiras;

54
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Artigo 20 – todo o homem tem direito a liberdade de reunião e
associação pacíficas;
▪ Artigo 21 – todo o homem tem o direito de tomar parte no governo
do seu país, directamente ou por intermédio de representantes,
livremente escolhidos;
▪ Artigo 22 - Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito
a segurança social, e a realização, pelo esforço nacional, pela
cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos
de cada Estado, dos direitos económicos, sociais e culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua
personalidade.
▪ Artigo 23 – todo o homem tem direito ao trabalho, a livre escolha
de emprego, à condições justas e favoráveis de trabalho e a
protecção contra o desemprego;

Somos apologistas da relação entre os direitos e a ética na medida em


que por exemplo não cumprir com alguns artigos constantes da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, (como por exemplo, o
direito a vida), implica em simultâneo violar os próprios direitos
humanos.

Dentre todos os direitos presentes da declaração universal dos direitos


humanos, destacaremos o direito à vida. Portanto esse é que está na
base dos outros; de modo que suprimida a vida caem todos os direitos.
Pois bem, o direito à vida da humanidade inteira, ou melhor a própria
existência da vida na terra, é posta em causa por uma eventual guerra
atómica. Em suas fronteiras, os direitos humanos se entrecortam com
os temas ecológicos e encontram o grande tema da paz.

Definimos o itinerário de desenvolvimento dos direitos humanos. Em


um 1º momento, intui-se que chegamos ao nó dos problemas mais
incómodos: os mais incómodos para a política, porque são os mais
urgentes para a humanidade. A política não é ocupação para
vagabundos; é tentativa jamais esgotada de tirar um espaço adequado
para o homem e construir um mundo na medida do homem. Emtermos
técnicos essa finalidade nós a denominamos de bem comum, o seu
conteúdo, dizíamos está representado pelos direitos humanos. A
correlação entre as gerações de direitos humanos tem mostrado a
exactidão da intuição e tem posto em destaque, até muito claramente,
quais são os riscos e as esperanças da política. Estamos a falar de uma
política que ultrapasse, necessariamente, as fronteiras entre os grupos
e os interesses correlatos para abraçar os horizontes do mundo, para
imaginar a Pólis engrandecida nas dimensões da humanidade (Ibidem,
108).

Imaginemos o que aconteceu no mundo como resultado das duas

55
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
grandes mundiais: milhões e milhões de pessoas incluindo militares e
civis perderam as suas vidas, isto por um lado. Por outro lado, face a
essas inúmeras mortes inclusive de pessoas inocentes, podia reflectir
sobre o regime nazi havido na Alemanha de Hitler.

O regime nazi que vigorou na Alemanha causou muitas mortes e


cometeu muitos crimes contra a humanidade (através de fuzilamento
das suas vítimas nos campos de concentração espalhados e criados
durante a guerra). A questão que nós apresentaríamos é: será que a
ética nazi salvaguardou os direitos humanos? A resposta é categórica,
é não, o regime nazi, devido ao seu carácter racista, cometeu muitos
homicídios durante a primeira e segunda guerra mundiais, de modo que
aqueles que não fossem arianos, no pensar de Hitler deviam ser
estrangulados (da lista das vítimas, destacamos maioritariamente os
judeus).

Por outro lado, vamos analisar a relação entre a ética e os direitos


humanos na perspectiva de justiça social.

Há um grande mal entendido sobre a ética em nossos dias, que até


tem um fundo positivo: é o fato de cada vez mais pessoas terem
simpatia por ela, de haver um clamor pela ética na política, no âmbito
social em geral. Um dos grandes discursos dos últimos anos reclama por
ética, de modo que não existe mais sustentação que possa legitimar os
níveis de desigualdade, injustiça, e da miséria que se fazem sentir em
muitas sociedades (Pereira, 2003, p.150).

A ética deve garantir a salvaguarda da justiça social. Assim defendemos


porque, nos últimos anos os níveis de desigualdades sociais têm vindo
crescer cada vez mais, sobretudo nos países em vias de
desenvolvimento, especialmente os da África subsaariana incluindo
Moçambique. O capitalismo praticado tem sido devastador na medida
em que, o fosso entre as camadas desfavorecidas e as favorecidas é
terrivelmente maior, de modo que, os pobres tendem a tornar-se cada
vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos.

Tendo em conta às premissas colocadas nos parágrafos anteriores,


somos efectivamente apologistas de uma ética dos direitos (portanto
uma ética que possa salvaguardar os direitos humanos).

No fim desta unidade deverá ser capaz de:


▪ Conhecer os conceitos ligados a ética social
▪ Caracterizar o impacto da poluição na actualidade
▪ Descrever o papel da ética para a salvaguarda dos direitos
humanos

Exercícios desta unidade

56
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
1. Como se pode definir a ética social?
2. A outra ética ligada a ética social, é a ética ambiental. Defina-a.
3. Actualmente a relação do homem com o meio ambiente pode ser
caracterizada como desastrosa. Justifica.
4. Mencione os problemas do meio ambiente na actualidade.
5. Fale sobre o impacto do fenómeno de industrialização para o meio
ambiente.
6. Existe uma relação muito forte entre a ética e os direitos humanos.
Descreva-a.
7. Quando é que foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
8. Quem deve adoptar a referida relação?
9. Descreva o papel da ética para a salvaguarda dos direitoshumanos.
10. Dentre os vários direitos humanos plasmados da declaração em
alusão, o direito à vida parece ser o mais destacado. Argumente a
afirmação.

Unidade V: Ética Política


5.1 Relação entre política e ética
A ética é um campo importante e indispensável para um bom exercício
do poder político na visão da antiguidade clássica. A ética e a política
são duas áreas complementares.

Se a ética reflecte sobre a dimensão da prática humana, ou seja trata da


questão d saber como viver. A política reflecte a componente cívicada
acção humana, isto é, levanta a questão de saber como devemos
organizar a sociedade.

A questão ética na política está em como conciliar a eficácia da política


que se ocupa na busca dos meios adequados para atingir um fim. Na
Ética Anicomaco, Aristóteles defende a necessidade de uma relação
indissociável entre as duas esferas do saber; porém é a política que se
deve basear nos princípios ético-morais, visto que, a ética é um
substrato da acção política, neste âmbito a justiça aparece como o elo
de ligação entre os dois saberes.

Diferentemente da abordagem da antiguidade clássica (aquela que era


apologista da submissão da política à moral), na modernidade e
sobretudo com Maquiavel temos uma concepção radicalmente oposta:
ora vejamos na sua obra, O Príncipe, ele defende de forma veemente
que a função da política consiste em conquistar o poder, exercendo-o e
mantendo-se no poder.

57
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
No pensar de Maquiavel, as questões de índole moral não interessam
o poder político, alegadamente porque no entender que os homens
em geral seguem cegamente as suas paixões, esquecendo-se mais
depressa da morte do pai do que da perda do património, de modo que
os homens são réus e que procedem com maldade em todas as
oportunidades que tiverem.
Daí que para Maquiavel, o príncipe ou o governante deve impor-se mais
pelo temor do que pelo amor, para alcançar os seus objectivos que são
preservar a sua vida e a do Estado.

De facto, há que fazer uma distinção entre dois aspectos: como se vive
e como se deveria viver, que aquele que abandone o que se faz por
aquilo que se deveria fazer, aprenderá antes o caminho de sua
destruição do que o de sua preservação, eis que um homem quequeira
em todas as suas circunstâncias fazer profissão de bondade, perder-se-
á em meio a tantos que não são bons. Deste modo um príncipe que
queira se manter no poder, deve aprender a poder não ser bom e usar
ou não da bondade, segundo a necessidade (cf. Maquiável, S.a, p.28).

5.2 Sociologia do poder político


Sociologia do poder político – pode se definir como sendo uma análise
do fenómeno político à luz dos princípios da sociologia.

Para a presente reflexão, iremos reflectir sobre as perspectivas de


Parsons, Durkeim e por fim sobre Augusto Comte.

Perspectiva de Talcott Parsons


No pensar de Parsons, o poder é uma relação pela qual ambos os
lados envolvidos saiam a ganhar em oposição aos regimes ditatoriais e
monárquicos que fundam-se na acumulação e perpetuação do poder
nas mãos de uma só pessoa. Com esta concepção, Parsons pretende
dizer que, o poder é oriundo de um sistema social, de igual modo que
a riqueza seria gerada na organização produtiva da economia.

De facto a riqueza era uma quantidade infinita, e na medida em que


uma parte possuísse, alguma proporção de uma dada soma de dinheiro,
uma segunda parte poderia apenas possuir o restante, mas a quantia
real da riqueza produzida variava com a estrutura e a organização de
tipos diferentes de economia.

Em uma sociedade industrial, por exemplo, havia mais para todos do


que em uma sociedade agrária.

De modo similar, o poder apresenta esses dois elementos e na visão


do autor em alusão, o aspecto colectivo é que mais importante para a
análise sociológica.

58
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Significa que no âmbito do exercício do poder político, é necessário que
sejam salvaguardados os interesses de todos.

Assim, o poder é definido como sendo a capacidade generalizada para


servir à realização das obrigações encadeadas pelas unidades dentro de
um sistema de organização colectiva quando as obrigações são
legitimadas por referência à sua relação com os objectivos colectivos.

Outro aspecto salientado por Parsons são as obrigações recíprocas, as


quais são entendidas como sendo as condições a que estão sujeitos
tanto aqueles que se encontram no poder quanto aqueles sobre os
quais o poder é exercido, que são as condições de legitimação que lhes
confere aquele poder; portanto todo o poder envolve um certo
mandato, que pode ser mais ou menos extenso, atribui alguns direitos
aos seus detentores e lhe impõe certas obrigações em relação àqueles
que lhes estão sujeitos.

As metas colectivas se assentam sobre um sistema de valor comum, que


estabelece os grandes objectivos que governam as acções da maioria
da sociedade (cf. Giddens, 1998, p.243).

Perspectiva de Durkeim
No entendimento de Durkeim, o poder é concebido como o “poder da
sociedade” em oposição com o indivíduo. Uma leitura hermenêutica
permitir-nos-á perceber que, no âmbito do exercício do poder é
imprescindível que se salvaguardem não os interessess individuais,mas
efectivamente os da maioria, isto é, da sociedade (cf. Ibidem, 256).

Perspectiva de Augusto Comte


No início do século XIX, o pensador positivista Augusto Comte, famoso
por ser um dos fundadores da Sociologia e também do Positivismo,
cunhou o termo Sociocracia. De acordo com Comte, a Sociocracia é um
sistema de governo baseado em decisões tomadas, tomando em
consideração a opinião de indivíduos iguais integrantes de uma
estrutura organizacional semelhante a um organismo vivo (como
sabemos, um organismo está vivo se todos os seus órgãos constituintes
estiverem a funcionar plenamente).

A Sociocracia se explica por aquilo que é o seu maior desafio: articular


a sociedade na participação das decisões políticas. Ou seja, de acordo
com as palavras de Comte, a Sociocracia é fundamental na auto-
organização de uma sociedade. O poder político deve basear-se na
inteligência colectiva (estamos a fazer referência à inteligência da
sociedade).

59
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
5.3 Fundamentação e conteúdo da ética política
Sob o ponto de vista de fundamentação, faremos a apologia da ética
para um bom exercício do poder político.

A articulação entre o dever e o poder vai nos ajudar a compreender a


relação entre a acção moral e a política. Neste âmbito questiona-se o
seguinte: será que a política tem sido exercida em consonância com os
princípios morais?

Em quase todas as sociedades, há uma constatação comum: a de a que


o político no exercício das suas funções pode agir à margem da moral,
que o que não é permissível na sociedade em geral, é pelo menos
tolerável quando se trata de um político.

Uma acção moralmente boa é uma acção que foi praticada com base no
respeito a certos princípios universais, pelo menos julgados como tais
por quem a pratica. Uma acção politicamente boa é uma acçãoque teve
sucesso, alcançando o objectivo que o interessado se havia proposto.
Quem age de acordo com os princípios em que acredita não se
preocupa ou pelo menos não devia preocupar-se com o resultadoda
própria acção: "Faz aquilo que deves aconteça o que acontecer". Quem
se preocupa apenas com o resultado normalmente não se preocupa
com a sutileza no que se refere à conformidade das próprias acções com
os princípios: "Cumpre o teu dever (mais precisamente aquilo que é
necessário) para que aconteça aquilo que desejas".

Duas das máximas mais comuns de todo o sistema moral, não importa
se fundado na revelação ou em argumentos de carácter racional, são
"Não matarás" e "Não mentirás". As duas, no fundo, são uma
especificação da máxima universal por excelência "Não faças aos outros
o que não desejas que façam a ti" (Bobbio, 1999, p.117).

Em suma, o que pretendemos dizer é que quando se fala de moral em


política, refere-se a moral social, e não à moral individual, isto é, a moral
que concerne às acções de um individuo e que interfere na esfera social,
e não àquela que diz respeito às acções de aperfeiçoamento da própria
personalidade, independentemente das consequências que a procura
desse ideal de perfeição possa ter nos outros.

No fim desta unidade deverá ser capaz de:


▪ Explicar a origem da ética política.
▪ Conhecer a essência da ética política.
▪ Descrever a evolução histórica da ética política.

▪ Interpretar problemas relacionados com a sociologia do poder


político

60
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Exercícios desta unidade
1. Defina a noção de ética política.
2. Qual é o fundamento da ética política.
3. Caracteriza a ética política da antiguidade clássica
4. Os pressupostos da ética política da antiguidade clássica caíram
por terra com o pensamento de Maquiavel.
5. Que valor a ética pode trazer para a política?
6. Defina a sociologia política.
7. Caracteriza a sociologia política na perspectiva de parsons,
Durkeim e Augusto Comte.

Unidade VI: Ética económica


6.1 A essência da moral económica
Para uma compreensão mais ampla da essência da moral económica,
começaremos por definir a noção de economia.

A economia pode ser definida como o estudo de como os homens


seleccionam a utilização de recursos produtivos escassos ou limitados
para produzir várias mercadorias e distribui-las aos diversos membros
da sociedade para o consumo, isto por um lado. Por outro lado, como
a ciência que estuda o comportamento humano como um
relacionamento entre fins e meios escassos que têm usos alternativos.

A moral pode ser definida como sendo o comportamento habitual dos


homens numa determinada sociedade.

Definidos os dois conceitos, constata-se que ambos têm o mesmo


objecto de estudo, neste caso o Homem, porém cada um deles, o
analisa sob perspectivas antagónicas.

A economia, como explicamos nos parágrafos anteriores, ela estuda o


comportamento humano condicionado pela escassez, pela limitação de
meios e de tempo em relação aos objectivos a que se propõe.

A ética estuda as acções do homem em relação à sua moralidade, isto


é, julga se são boas ou más. Diz respeito, portanto, não os fins próximos
do homem, como comprar uma casa ou um carro, ou estudar tal curso
universitário, ou trabalhar em determinada empresa, mas ao seu fim
último, isto é, se essas acções contribuem ou não para a sua finalidade
essencial.

6.2 Os sistemas económicos e a moral, desumanidade do capitalismo


6.2.1 Sistemas económicos
Sistemas económicos podem ser definidos como sendo a forma

61
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
política, social e económica de organização de uma determinada
sociedade.

A seguir apresentamos em tabela os principais sistemas económicos.

Sistemas económicos Suas características


fundamentais
Comunismo Economia centralmente
planejada com a colectivização
dos meios de produção.
Socialismo Forte presença do estado na
economia, grau acentuado de
colectivização dos meios de
produção. Coexistência com a
propriedade privada e omercado.
Compatibilidade com o
sistema político democrático
Liberalismo do Estado do bem- Sistema de livre-mercado com
estar social governo grande. Elevada carga
tributária e pesados programas
sociais para a garantia do bem-
estar geral
Liberalismo clássico Sistema de livre-mercado com
governo pequeno. O estado
intervém sempre que o critério
ético assim o desejar
Liberalismo conservador Sistema de livre-mercado com
governo mínimo. Apenas poucas
excepções para a presença do
estado. Políticas sociais a cargo do
sector Privado com o incentivo
do governo.
Conservadorismo Sistema de privilégios de
Monárquico nascimento e de concessões de
monopólios comerciais e
industriais. Elevado grau de
proteccionismo.
Fascismo Economia planejada visando
propósitos militares. Associação
com o grande capital

Os socialistas advogam a igualdade acima da liberdade de modo que


não se contentam com a igualdade formal, propugnam pela noção de
igualdade económica que só é alcançada com a socialização ou
nacionalização (propriedade do Estado) dos bens que criam riqueza.
Os princípios democráticos de

62
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
igualdade de oportunidade e igualdade perante a lei não sãosuficientes,
pois não podem impedir que o forte explore economicamente o fraco
no mercado livre.
Os socialistas perseguem um ideal de justiça social. Consideram o
socialismo um sistema mais justo, pois estende benefícios económicos
iguais a todos os membros da sociedade.

Tal noção de justiça social somente se mantém na medida em que a


sociedade é pensada como uma organização racional deliberada. É a
visão construtivista de sociedade, na qual sua organização é entendida
como um ato que aponta a determinados propósitos praticado por um
grupo privilegiado de indivíduos (Feijó, 2007, p. 121).

O liberalismo clássico - defende a igualdade de oportunidade e


igualdade perante a lei, ao mesmo tempo são contra a violação da
liberdade individual e da liberdade de opção (a esquerda viola essas
liberdades em seu esforço para alcançar a plena igualdade social e
económica).

O fascismo Nazi representa um movimento da extrema-direita em prol


da regeneração nacional contra a ameaça do comunismo e da
democracia liberal. O fascismo é de extrema-direita não apenas por ser
inimigo mortal do comunismo, mas também, e principalmente,pela sua
oposição fundamental ao valor da igualdade.

6.2.2 A desumanidade do capitalismo


O sistema capitalista causa a exploração do homem pelo homem que
causa um fosso maior entre a classe operária e a classe dominante (a
burguesia), por isso na obra O Manifesto do Partido Comunista, Engels
e Marx defendem que, sociedade burguesa moderna, que derivou das
ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não
fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas
formas de luta às que existiram no passado. Entretanto, a nossa época,
a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os
antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois
vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente
opostas: a burguesia e o proletariado.

No mesmo diapasão, na sua obra Ética, Política e Desenvolvimento


Humano, Kesserling reconhece que de facto que por causa da onda do
capitalismo, as desigualdades sociais tendem ao agravamento, visto
que, os pobres tornam-se cada vez mais pobres e os ricos cada vez ricos
(grande paradoxo para um desenvolvimento humano equitativo e
sustentável).

No pensar de Kesserling, nos últimos séculos, o comércio e a troca


internacionais certamente aumentaram, porém as sociedades
participantes tiram proveito muito diversificado dessa troca. Entre

63
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
diversas sociedades ou grupos de sociedades abriu-se uma espécie de
abismo de bem-estar, com o tempo, se tornou cada vez mais profundo:
“as desigualdades no mundo durante quase dois séculos aumentaram
constantemente. Uma análise de tendências de longo prazo na
distribuição global da renda (entre nações), mostra que a distância
entre a nação mais rica e a mais pobre no ano de 1820 era de 3 para 1,
em 1913 de 11 para 1, em 1950 de 35 para 1, em 1973 de 44
para 1 e em 1992 de 72 para 1” (cf. Kesserling, 2003, p.160).

Os autores de Human Development Report, defendem a ideia de que as


posições económicas mais baixas no ano de 1992 tinham um nível até
menos alto do que em 1820.

Tabela 1. Nações mais ricas em 1820, 1900, 1992 (Cálculo com base no
PIB por pessoa, em USS, em 1990)

Mais ricas 1820 1900 1992


Grã-Bretanha 1.756 Grã-Bretanha 4.593 Estados Unidos 21.
558
Países Baixos 1.561 Nova Zelândia 4.320 Suíça 21. 036
Austrália 1528 Austrália 4.299 Japão 19.425
Áustria 1295 Estados Unidos 4.096 Alemanha 19.351
Bélgica 1.291 Bélgica 1.291 Dinamarca 18.293

Tabela 2. Nações mais pobres em 1820, 1900, 1992 (Calculo com base
no PIB por pessoa, em USS, em 1990)

Mais pobres 1820 1900 1992


Indonésia 614 Burma 647 Burma 748
Índia 531 Índia 625 Bangladesh 720
Bangladesh 531 Bangladesh 581 Tanzânia 601
Paquistão 531 Egipto 509 República do Congo
353
China 523 Gana 462 Etiópia 300

Embora não sejam os mesmos países, que no início do século XIX e no


fim do século XX, pertenciam aos mais pobres e também não sejam os
mesmos que nos dois períodos pertenciam aos mais ricos, a expressão
da tendência, contudo, não se transforma: diante de um íngreme
movimento para cima de algumas nações economicamente pioneiras,
em cuja sombra um grupo de outras sociedades (sobretudo ocidentais
e asiáticas-orientais) se movimentam para cima, encontra-se uma
espiral descendente, um pouco menos íngreme, de um outro grupo de
nações. Estas tendências podem ser observadas de 1820 a 1900 e, da
mesma forma, de 1900 até 1992.

64
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Face a isto a questão que se coloca é: quais são as causas dessa
crescente desigualdade? Elas devem ser procuradas no comércio
crescente e na permeabilidade das fronteiras para a troca de capital,
mercadorias e serviços? Ou, inversamente, numa insuficiência de
intercambio internacional? A partir de 1500, o comércio internacional
se ampliou continuamente (ibidem, 161). Todavia, como nesse período,
as condições do livre comércio nunca se cumpriram em escala mundial.

Assim, estas questões não podem ser decididas de forma conclusiva.


Entretanto, o fosso entre o rico e o pobre, também se tornou mais
profundo nos últimos tempos. Das estatísticas do banco mundial, se
pode deduzir que, durante a última década do século XX (1987 a
1998), o número dos mais desfavorecidos no mundo aumentou. De
facto na Ásia Oriental, a pobreza extrema se reduziu até quase a
métade, porém, em outras regiões, particularmente na Ásia Central e
do Sul, no Caribe e em outras partes da América-Latina, bem como na
África Negra, o círculo dos grupos atingidos ampliou. Na América
Latina, no Caribe e na Ásia Central, a pobreza até aumentou de
maneira desproporcional ao crescimento da população, conforme a
tabela:

Quantos 1987 1988 1987 1998


vivem com (milhões) (milhões) (participação (participação
‹ 1US por da população da população
dia em %) em %)
Ásia 417.5 278.3 26.6 % 15.3%
Oriental
Ásia 114.1 65.1 23.9 % 11.3%
oriental
sem a
China
Europa + 1.1 24.0 0.2% 5.1%
Ásia
central
América- 63.7 78.2 15.3 % 15.67%
latina +
Caribe
Oriente 9.3 5.5 4.3% 1.9%
médio +
África do
norte
Ásia do sul 474.4 522.0 44.9 % 40.4 %
África⁄Sul 217.2 290.9 46.6 % 46.3 %
do Saara
Total 1183.2 1198.9 28.3 240 %

65
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Total sem (879.8) (985.7)
China

Fonte: Banco Mundial, 2001 tabela 1.1

Como pudemos compreender, os factos falam uma linguagem muito


nítida: 5 décadas de políticas desenvolvimentistas não foram suficientes
para afastar a pobreza. Qual é a razão? No sudoeste da Ásia, a pobreza
diminuiu, enquanto o sudeste da Ásia esteve, nesse período,
fortemente ligada a economia mundial.

Mas também a América-latina, o Caribe e a África negra tiveram


mercados amplamente abertos; a Rússia e os países da Ásia central, por
sua vez, abriram seus mercados muito recentemente (Ibidem, 163).

Em todas estas regiões, a pobreza cresceu mais ou menos nitidamente.


A questão que se coloca é: quais são os factores que se colocam para
isso?

6.3 Condições para uma cooperação participativa na economia


mundial
Uma das problemáticas fortes no âmbito da economia mundial, são as
desigualdades sociais. Marx e Engels, defendem que a questão das
desigualdades sociais foi causada pelo sistema capitalista.

A problemática das desigualdades sociais entre os pobres e os ricos e


ou entre os países pobres e os países ricos, passa necessariamente pela
lógica da solidariedade, justiça social e igualdade.

Solidariedade - no entender de Perroux (1981:205), em todos os cantos


do mundo, a lógica da economia de mercado é corrigida pela lógica da
economia de solidariedade.

A lógica da solidariedade encontra uma expressão aceitável para cada


espírito moderno no artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos do
Homem: “Cada indivíduo tem direito à vida”, facto que condena
qualquer forma de destruição ou de deterioração do vivo pelo vivo e
que estimula as curiosidades relativas aos ilícitos causados à
integridade do ser humano pela organização social.

A política de desenvolvimento e a política de formação das jovens


nações fazem aliança: lançam em conjunto o seu desafio à ortodoxia
política e económica.

66
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
A política de desenvolvimento esforça-se por estruturar economiasmal
desenvolvidas, caracterizadas por uma má articulação dos seus fluxos,
pela dominação do estrangeiro e pelo desperdício dos recursos
humanos.

A política de formação das jovens nações, tende a reestruturar o


conjunto das relações da jovem nação com o exterior, a reduzir os
domínios que suporta, a intensificar a sua coesão e a aumentar o seu
poder de negociação. Os aspectos do novo desenvolvimento, são assim
estreitamente interdependentes pelas seguintes razões:

▪ Trata-se de se emancipar tanto quanto necessário dos


constrangimentos do mercado interno e externo para valorizar os
homens, é a dialéctica das necessidades fundamentais e do poder
de compra.

▪ Trata-se, também, de reduzir as influências de estruturas impostas


pelas potências e de encontrar pontos de inserção nas redes de
economia mundial; é a dialéctica da independência e da
cooperação.

▪ Trata-se de encontrar uma articulação óptima das indústrias e das


agriculturas; é a dialéctica das estruturas económicas internas e
externas (Ibidem, 209).

Justiça social – a justiça social é um elemento de grande importância no


âmbito da cooperação e economia mundiais. A noção de justiça social
surgiu no século XX, no contexto das lutas e reivindicações político-
sociais, com vista a melhoria da situação de exploração das classes
trabalhadoras. Esta noção nasce de um novo modo de conceber a
pessoa humana e do reconhecimento universal de um conjunto de
direitos que hão-de ser assegurados institucionalmente mediante a sua
fixação no direito positivo. A justiça social consiste no seguinte:

▪ Pleno respeito pela dignidade da pessoa humana;


▪ Distribuição equitativa dos bens económicos, culturais e jurídicos;
▪ Igualdade de oportunidades para todos;
▪ Estabelecimento de um adequado sistema de segurança social;

Igualdade – a igualdade é um valor imprescindível para uma boa


convivência e cooperação entre os povos e entre os países. Destemodo,
para que ela se torne justa e imparcial, a cooperação mundial deve
basear-se nos princípios igualitários para permitir que nenhum país saia
em desvantagem. Uma cooperação do tipo mercantil europeia do
século XV, não pode ajudar em nada no processo deparceria entre os
países. Portanto é preciso que cada país perceba que a cooperação é por
igual.

67
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional

John Rawls fala do princípio de justiça como equidade, para explicar que
é necessário que, cada pessoa deve ter um direito igual ao mais amplo
sistema total de liberdades básicas iguais que seja compatível com um
sistema semelhante de liberdades para todos. As desigualdades devem
ser distribuídas para que, simultaneamente: redundem nos maiores
benefícios possíveis para os menos beneficiados, de modo que seja
compatível com o princípio de poupança justa (cf. Vicente, 1997, p.
233).

No fim desta unidade deverá ser capaz de:


▪ Caracterizar os aspectos inerentes a ética económica.
▪ Descrever os problemas derivados pelo capitalismo.

Exercícios desta unidade


1. Como se define a ética económica?
2. Explica a relação existente entre a ética e economia?
3. Defina a noção de sistemas económicos.
4. Caracteriza os diversos sistemas económicos que aprendeste?
5. Em que aspecto reside a desumanidade do sistema económico
capitalista?
6. Como se podem ultrapassar os problemas do sistema capitalista na
visão de Marx e Engels?
7. Como é que os operários podem chegar ao poder no entender de
Marx e Engels?
8. Quais são as condições para uma boa cooperação entre os países?
9. Qual é a pertinência da solidariedade no âmbito da cooperação
mundial?
10. Em que consiste o princípio de equidade na visão de Rawls.

Unidade VII: Lógica


7.1 O que é Lógica
Constantemente, fazemos e ouvimos afirmações e sujeitámo-las aos
nossos julgamentos, considerando umas falsas, outras verdadeiras;
regra geral, aceitamos estas últimas, rejeitando as primeiras. Não
poucas vezes, a justificação das nossas opções recai em afirmações
como é lógico” ou “tem mais lógica”. Mas, embora o afirmemos, será
que temos noção do que efectivamente é isto que chamamos lógica?
A palavra lógica vem do grego logos = razão, proposição, oração
pensamento, discurso linguagem, etc. Etimologicamente, a lógica pode
ser definida como ciência da razão ou do pensamento ou como ciência
do discurso racional ou ainda como ciência que estuda a dimensão
racional do discurso.

68
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
O nosso pensamento nunca trabalha ao acaso, mas funciona na
tentativa de atingir um conhecimento verdadeiro. Assim, a tarefa da
lógica é o estudo das condições de pensamento válido, que procura
alcançar a verdade; regular o perfeito discurso da razão e oferecer o
caminho para o correcto exercício da linguagem e do pensamento na
procura da verdade.
Em suma, podemos definir a lógica como a ciência que estuda as leis e
formas de pensamento válido, isto é, dirige o acto da razão a fim de que
mais fácil e rapidamente proceda de modo valido ou correcto.
7.2 Evolução histórica da Lógica
Aristóteles (384-322 a. C.) é considerado o “pai” da lógica formal. De
facto, a primeira sistematização da ciência lógica foi feita por ele, na
Antiguidade, ao escrever cinco tratados sobre lógica, que seriam
reunidos mais tarde (meados do século I a. C.) por Andrónico de Rodes,
numa obra intitulada Organon, que significa instrumento, na qual
Aristóteles dá mais atenção à lógica silogística. Os cinco tratados
constitutivos do Organon são:

▪ As Categorias (1 livro): teoria aristotélica dos termos, que são


expressão do conceito. Faz o inventário dos dez conceitos gerais ou
géneros do ser – substância, quantidade, qualidade, relação, lugar,
tempo, posição, condição, acção e paixão.
Sobre a Interpretação (1 livro): trata da proposição e da combinação das
proposições e das suas modalidades.

▪ Os Primeiros Analíticos (2 livros): trata da teoria da dedução ou mais


propriamente do silogismo.

▪ Os Segundos Analíticos (2 livros): trata da teoria aristotélica da


ciência, com a sua teoria da demonstração.

▪ Os tópicos (8 livros): regras práticas e esquemas típicos da dialéctica


da demonstração. Esta obra é completada com as Refutações dos
Sofistas, que trata da arte de descobrir os raciocínios falaciosos e
inclui a análise, a classificação e a crítica dos sofismas e
paralogismos.

No fim da Idade Antiga, os estóicos desenvolveram o silogismo


hipotético e iniciaram o que depois veio a se chamar por “Lógica
Proposicional”. A lógica da Idade Média é profundamente marcada pela
lógica formal aristotélica, apesar das grandes tentativas de
sistematização. No princípio da Idade Moderna, devido às críticas de
Francis Bacon (1561-1626) e Descartes (1596-1650), a lógica formal
conhece um certo declínio, vindo a recuperar o seu estatuto graças aos
trabalhos de Kant (1724-1804) e de Leibnitz (1646-1716).

69
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
O projecto de Leibnitz visava:

▪ Fundar uma notação universal que permitisse inventariar e


simbolizar todas as ideias simples através de “caracteres” simples
(characteristica universalis);
▪ Desenvolver a arte de combinar esses caracteres primitivossimples
para a produção de ideias complexas (ars combinatoria);
▪ Estabelecer técnicas de raciocínio automático e mecânico em que
o pensamento e a intuição seriam substituídos pelo cálculo sobre os
signos (calculus ratiocinatior).
Já na Idade Contemporânea, a lógica transforma-se numa álgebra
e num cálculo lógico, graças ao trabalho de George Boole (1815-
1864) – pai da algebrização da lógica – e G. Frege (1848-1925). É com
Frege que se passa da álgebra da lógica para a logística
propriamente dita, que consiste numa logicização das matemáticas
e para o logicismo. É a Frege que se deve: a definição dos princípios
de formalização axiomática; a sistematização do cálculo de
predicados; a introdução do uso dos quantificadores; a definição
das regras do cálculo das proposições.
Whitehead (1861-1947) e Bertrand Russell (1872-1970), autores dos
Principia Mathematica (1910-1913) completam a empresa da
logicização das matemática. Mas devemos notar que a lógica
aristotélica é o fundamento básico e indispensável de toda a lógica.

7.3 Objecto da Lógica


Na lógica podemos distinguir dois objectos: formal e material.

Objecto formal – é a orientação da inteligência para a verdade por


meio de operações racionais ou seja, a forma que deve revestir o
pensamento para se exercer devidamente e assim, evitar a
contradição.

Objecto material – é o saber humano em toda a sua extensão ou


seja, o que permite ao homem um acordo do pensamento com a
realidade.

Portanto, a lógica pode considerar-se como ciência e como arte. É


uma ciência porque nos dá a conhecer quais os processos do
pensamento que nos conduz à verdade e organiza-os num sistema
coerente. E é uma arte porque permite realizar uma obra
atendendo a certas normas, isto é, uma técnica que nos leva a
pensar bem.

70
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional

7.4 Os tipos de lógica


A lógica divide-se em duas partes: formal, material e proposicional.
Lógica formal (teórica, pura e dialéctica) – interessa-se pelas regras
gerais ou leis que devem regular as diferentes formas de
pensamento (ideias, juízo e raciocínio), considerado em si próprio,
isto é, abstraído da matéria à qual se pode aplicar. É a ciência que
estuda as leis a que devem conformar-se as operações da
inteligência para serem válidas e puderem atingir a verdade.
Exemplo: Eduardo Mondlane foi o primeiro presidente de
Moçambique. Formalmente o enunciado é válido, mas falso
materialmente.

Lógica material – trata-se da relação do pensamento com a


realidade objectiva ou seja, estuda a adequação do pensamento
com a realidade. Exemplo: Samora Machel foi o primeiro presidente
de Moçambique. Neste caso, o raciocínio é simultaneamente
correcto e verdadeiro porque é coerente consigo mesmo e está de
acordo com a realidade.

Lógica proposicional – a lógica proposicional, que constitui o


primeiro nível de abordagem lógica, é o domínio da lógica que
estuda as relações lógicas entre as proposições. É, pois, uma lógica
interproposicional.
Toma como unidade de base das suas análises as proposições no seu
todo, sem atender aos seus termos ou partes (cf. Vicente, 2004,
p.22).

7.5 Lógica proposicional (Proposições simples e proposições


complexas)
As proposições são frases, mas nem todas as frases são proposições.
Uma frase interrogativa, uma frase imperativa, uma exclamação,
um pedido ou uma promessa não são proposições, embora sejam
frases.
Só são proposições as frases declarativas, ou seja, aquelas em que
fazemos afirmações das quais se pode dizer que são verdadeiras
ou falsas. As proposições podem ser de duas espécies: simples ou
atómicas e complexas ou moleculares.
Simples ou atómicas – quando se trata de proposições que não se
podem decompor noutras proposições, e por isso mesmo o seu
valor lógico depende apenas do confronto com os factos de que
enunciam. Exemplo: Os moçambicanos são hospitaleiros.

71
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Complexas ou nucleares – são proposições nucleares, aquelas que
se podem decompor noutras proposições consideradas mais
simples, ou seja, proposições simples que, ligadas por partículas que
se chamam conectores, acabam por formar uma só proposição
complexa.
Exemplo: Mourinho foi campeão pelo Clube Real Madrid ou
jogador e empresário
A proposição acima é composta pelas proposições moleculares e
simples:
Mourinho foi campeão pelo Clube Real Madrid;
Mourinho foi jogador;
Mourinho foi empresário;
O campo de estudo de lógica proposicional começa com a análise das
conexões lógicas entre proposições:
A partir dos valores de verdade das proposições simples que integram
as proposições complexas (uma proposição ou é verdadeira ou é falsa).
7.6 Conectivas lógicas ou operadores lógicos
As conectivas lógicas ou operadores lógicas são partículas que designam
as diferentes operações lógicas. São no total cinco operações lógicas a
saber (Negação, conjunção, disjunção, implicação, e Equivalência). Na
tabela abaixo apresentamos as operações lógicas, a sua expressão
verbal e os seus simples:

Operação lógica Expressão verbal Símbolo


Negação Não ˜
Conjunção e ˄
Disjunção Ou ˅
Implicação Se…então →
Equivalência Se e só ↔

7.7 Noção de tabela da verdade


Uma tabela ou tábua de verdade é um dispositivo que ostenta todos os
valores de verdade de um enunciado molecular, consideradas todas as
circunstâncias possíveis.
Os valores de verdade das proposições compostas dependem de duas
séries de dados:
▪ Da verdade ou falsidade de cada uma das proposições simples
constituintes.

72
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Do tipo de operação que se estabelece entre as proposições simples
constituições.
Mediante as tabelas de verdade, é possível determinar mecanicamente
a verdade ou a falsidade das proposições compostas, segundo a
combinação dos valores de verdade ou falsidade das proposições
atómicas (idem, 52).
As operações lógicas que se realizam com as conectivas são
apresentadas sob a forma de tabelas de verdade, onde é possível
combinar todos os valores de verdade possíveis das proposições
conectadas.

7.8 Operações lógicas sobre as proposições


Negação (˜ )
Se considerarmos verdadeira a proposição: Chiquinho Conde é jogador
moçambicano, então a proposição Chiquinho Conde não é jogador
moçambicano, será falsa, pois esta última é a negação daquela.
Como se define a negação?
A negação é um operador que, ao ligar-se a uma única proposição, a
torna falsa se é verdadeira e verdadeira se é falsa. Portanto a negação
é uma função de verdade, porque basta saber se uma proposição
qualquer P é verdadeira ou falsa para se ficar a saber o valor deverdade
que possui a nova proposição ˜P.
Como uma proposição pode ter dois valores de verdade – verdadeiro (V
ou 1) e falso (F ou 0), e como o valor lógico de cada proposição
molecular, ou seja, composta, depende especificamente dos valores
lógicos das proposições simples ou atómicas que a compõem,podemos
construir uma tabela de verdade para a negação na qual se relacionam
os valores de verdade possíveis para a proposição P e para a sua
negação, ˜P.

P ˜P
V F
F V

Conjunção
Tomemos em consideração as proposições seguintes:
O João está doente.
O João vai ao médico.
Trata-se de duas proposições simples ou atómicas que podemos
simbolizar pelas variáveis p e q. É possível combinar estas proposições

73
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
recorrendo ao conector e (˄), de modo a obtermos uma nova
proposição, a proposição molecular ou composta. Desta formateremos,
O João está doente e vai ao médico. Neste âmbito, as duas proposições
estão ligadas por conjunção.
A conjunção liga duas ou mais proposições através da conectiva e,
representada pelo símbolo ˅ (Ou, Ou). A proposição resultante, O João
está doente e vai ao médico, pode ser representada do seguinte modo:
P˅q (podendo ler-se P ou q).
A conjunção é verdadeira se e somente se as duas proposições forem
verdadeiras. Basta que uma proposição seja falsa para que a conjunção
seja falsa.
Se as duas proposições José está doente e José vai ao médico são
verdadeiras, logo a proposição, João está doente e vai ao médico, é
verdadeira. A tabela a baixo elucida em que condições a conjunção
considera-se verdadeira.

José está José vai ao José está doente e vai


doente médico ao médico
P q P˄q
V V V
V F F
F V F
F F F

Disjunção (˅)
A disjunção é a operação que expressa uma alternativa, a qual se traduz
na linguagem corrente pela partícula ou e, na lógica matemática, por ˅.

Há duas espécies de disjunção nomeadamente: a disjunção inclusiva e


a disjunção exclusiva.

Disjunção inclusiva
Comummente identifica-se com a expressão ou e é representada pelo
símbolo ˅ (no sentido inclusivo).

A disjunção inclusiva é falsa quando as duas proposições que a


compõem são falsas. Basta que uma das proposições simples seja
verdadeira para permitir que a disjunção inclusiva seja verdadeira.
Sendo assim, a proposição Está sol ou a temperatura está agradável é
verdadeira nos seguintes casos:

74
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Está sol A temperatura está Está sol ou a temperatura está
agradável agradável
P q p˅q
V V V
V F V
F V V
F F F

Disjunção exclusiva (VV)


Chama-se disjunção exclusiva quando as proposições simples que a
compõem se excluem reciprocamente, ou seja, quando a verdade de
uma significa necessariamente a falsidade da outra.

A proposição P VV q é verdadeira se P e q tiverem valores opostos e é


falsa nos outros casos, portanto só poderá ser verdadeira se e só se uma
das proposições for verdadeira e a outra falsa, e será falsa caso as
proposições simples sejam ambas verdadeiras ou falsas.

Quando se enunciam proposições complexas ou moleculares, como


Está frio ou Está calor, Eu vivo ou estou morto. Do ponto de vista de
disjunção não se admite que as proposições atómicas ou simples sejam
simultaneamente verdadeiras. Por conseguinte é inaceitável, senão
absurdo, que o tempo esteja frio e quente ou que alguém esteja vivo e
morto ao mesmo tempo. A disjunção exclusiva representa-se por V ou
por VV.

Assim, a proposição João passou de classe ou reprovou, exprime o


seguinte significado exclusivo: Ou o Manuel passou de classe ou
reprovou, mas ele não pode ter passado de classe e reprovado ao
mesmo tempo. Deste modo pode destacar-se a sua estrutura,
distinguindo as conectivas e as proposições (O Manuel passou de classe
ou reprovou) e não pode ter passado de classe e reprovado.

A seguir representamos a proposição na tabela da verdade:

O Manuel passou O Manuel Ou o Manuel passou de classe


de classe reprovou ou reprovou
P q pVVq
V V F
V F V
F V V
F F F

Condicional ou Implicação (→)


Duas proposições P e q podem ser relacionadas recorrendo às
conectivas lógicas, se…então…, formando uma proposição (molecular,
ou seja, composta) condicional.

75
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Se João estuda, então passa de classe, simbolicamente p→q, podendo
ler-se P, então q. Assim, a proposição p designa-se por antecedente ou
condição (ou, ainda, hipótese), enquanto a proposição q se designa por
consequente ou condicionado (ou ainda conclusão).

Numa implicação, se a proposição p, o antecedente, for verdadeira,


também a proposição q, o consequente, será verdadeira, uma vez que
a fórmula p→q, significa que não há p sem q. Assim, a implicação só é
falsa caso o antecedente seja verdadeiro e o consequente, como
veremos na tabela da verdade a baixo:

O João estuda O João passa de Se o João estuda passa de


classe classe
P q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V

Equivalência
Consideramos a proposição bicondicional X é par (p) se e só se ↔ X é
divisível por2 (q). Trata-se de uma proposição composta que as
proposições atómicas (simples) através da expressão se e só se,
traduzida por ↔ (que se lê se e só se p, então q).

A equivalência ou bicondicional é verdadeira se P e q tiverem o mesmo


valor e é falsa se tiverem valores lógicos opostos, em conformidade com
a tabela que é apresentada na página seguinte:

X é par X é divisível por dois X é par se e só se X é divisível por 2


p q P ↔q
V V V
F F F
F V F
F V

7.9 Raciocínio lógico


Raciocínio (lat. ratiocinatio) Actividade do pensamento pela qual se
procede a um encadeamento de juízos visando estabelecer a verdade
ou a falsidade de algo. Procedimento racional de argumentação ou de
justificação de uma hipótese. O raciocínio lógico divide-se em duas
partes: raciocínio dedutivo e o raciocínio indutivo.

O raciocínio dedutivo estrutura-se logicamente sob a forma do


silogismo. O raciocínio indutivo é aquele que procede a uma
generalização a partir da constatação de regularidades na observação
de fatos particulares e do estabelecimento de relações entre estes.

76
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
(Japiassú e Marcondes, 2001, p.162).

Através da experiência só temos acesso a realidade que a tradição


filosófica denominou de particulares e contingentes. Particulares no
sentido de serem sempre exemplares em número limitado de um
mesmo género ou espécie: a experiência nunca nos mostra todos os
homens, todos os cisnes, todas as mesas, etc., mas sempre apenas
alguns homens, alguns cisnes, algumas mesas, etc., contingentes,
porque são de uma maneira mas poderiam muito bem ser doutra: o
homem que vemos poderia muito bem não ter nascido, a cadeira
castanha sobre a qual estamos sentados poderia ser preta, etc. No
entanto, se queremos dar um sentido à palavra conhecimento, ele não
pode limitar-se às poucas realidades de que temos experiência, mas
deve ter um alcance muito mais geral: só existe ciência do universal.
O raciocínio indutivo é precisamente o processo do pensamento que
nos permite passar do particular para o geral ou ainda Raciocínio
indutivo - operação mental que, partindo da observação de um certo
número de factos particulares, conclui uma lei geral, aplicável a todos
os casos da mesma espécie procede do particular para o geral.
Observam-se alguns casos, supostos exemplares, e a partir daí infere-
se o que acontece em todos casos.
7.10 Raciocínio dedutivo: do Geral ao Particular
A dedução pode ser vista, num determinado aspecto, como a operação
inversa da indução. Enquanto esta ascendia do particular para o geral,
aquela faz o percurso do universo, descendo do geral para o
particular.
Todavia, esta caracterização peca por deixar de lado aspectos
fundamentais da dedução. O ponto de partida natural da indução é a
experiência, particular e contigente, a partir da qual se procura atingir
uma compreensão intelectual de carácter geral.
Na dedução a experiência não desempenha papel algum: chega-se a
uma conclusão, mas essa conclusão deriva única e exclusivamente das
premissas de que se partiu, é uma consequência necessária dessas
premissas, podendo ser de um grau de generalidade lógica igual ou
superior às mesmas, como acontece na dedução matemática. Mais
propriamente poderíamos, então, definir a dedução como a inferência
na qual, postas certas coisas, outra diferente se lhes segue
necessariamente, só pelo facto de serem postas ou seja o raciocínio
dedutivo é a operação racional que, de uma ou mais proposições
tomadas como premissas, conclui necessariamente uma nova
proposição – procede do geral para o particular.

77
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Vejamos o exemplo:
Os carbonos são condutores eléctricos.
Os carbonos são corpos simples.
Logo, alguns corpos simples são condutores eléctricos.
O que acontece aqui é que, se aceitarmos a verdade das premissas,
somos obrigados a aceitar a verdade da conclusão, sob pena de
entrarmos em contradição. Por isso a dedução possui rigor absoluto,
enquanto analogia e a indução como vimos anteriormente, estão
sempre sujeitas a certas margens de erro.

7.11 As origens do raciocínio indutivo


O pensamento baconiano foi influenciado em grande medida pelo
contexto espacial em que Bacon vivia, a Grã-Bretanha, sua terra natal
encontrava-se numa fase avançada ao nível da Europa, nos sectores
de mineração e indústria.

Bacon viveu numa época em que estava em voga na Grã-Bretanha um


pensamento que consistia fundamentalmente na crença de que o saber
e a ciência não deviam limitar-se exclusivamente à contemplação do
mundo ou da teoria, mas sim estender-se à praxis,de modo a ser
aplicável à indústria, para a posterior transformação das condições de
vida do homem (cf. Reale e Antiseri, 2007, p.322).

Devido ao facto de Bacon ter enaltecido de forma veemente e


acentuada a ideia de que a ciência devia produzir resultados que se
aplicassem à praxis, assim Bacon foi considerado o “profeta” da
revolução industrial que viria a triunfar pela primeira vez no seu país por
volta do século XIX. Aliás, na sua obra, O Mito do Contexto, Popper
reconhece Bacon não como um cientista, mas como um “profeta”, não
apenas no sentido de ter difundido o projecto de uma ciência empírica
ou experimental, mas também no sentido de ter previsto e inspirado
nas suas obras a revolução industrial, que em simultâneo seria a era
da ciência e da tecnologia (cf. Popper, 2009, p.146).

Assim, entendemos efectivamente que a publicação, por volta de 1620


do seu Novum Organum em contraposição ao Organon de Aristóteles,
propiciou a criação de condições indispensáveis para o
aperfeiçoamento da ideia de uma ciência virada à praxis que postula
que depois da dialéctica contemplativa aristotélica que não contribuiu
em nada sob ponto de vista de realização de novas descobertas
científicas, o único instrumento metodológico que existe no âmbito das
investigações científicas é a indução (vulgarmente denominada
também como método experimental, daí a ênfase à experiência e não
à teoria).

78
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
As ideias de Bacon têm características e um significado particulares.
Na transição do século XVI para o século XVII Bacon fez da ciência a
principal referência da sua obra, sendo por isso frequentemente
considerado o mais importante precursor da filosofia da ciência e o
maior responsável pela matriz empirista que durante longos anos
hegemonizou esta disciplina (a filosofia da ciência). O seu objectivo
consistia fundamentalmente em promover o conhecimento científico,
identificando-o com aquele que, por um lado, resulta de permanente
valorização da experiência e, por outro, se articula com o domínio da
natureza pelo homem (Carrilho, 1994, p.13).

A experiência e a técnica são, respectivamente a base e o objectivo do


conhecimento para Bacon, e, nessa perspectiva, o conhecimento ou é
científico ou em rigor não é conhecimento. De referir que, foi
precisamente no Novum Organum que Bacon melhor expôs as suas
ideias sobre a ciência. Com esta obra que deveria ser apenas uma parte
da Grande Instauração que não passou de um projecto, procura
caracterizar-se uma estratégia metodológica alternativa à lógica
aristotélica até então amplamente aceite pelas comunidadescientíficas.
Acusando esta de se esgotar em disputas verbais sem qualquer
relevância, Bacon procura reorientar a lógica de modo a que ela se torne
num instrumento de grande apoio no conhecimento e no domínio da
natureza, e é esta ligação que está na base da tese baconiana de
convergência do conhecimento e do poder (Ibidem, 14).

O Novum Organum publicado em 1620 é uma verdadeira contraposição


e antítese ao Organum de Aristóteles. Para Bacon, a lógica dedutiva
aristotélica constitui de forma inequívoca um grande obstáculo para as
descobertas científicas e não só, mas também para a interpretação
acabada e efectiva da própria natureza (cf. Bacon, 1973, p.5). O
raciocínio dedutivo é inútil para as descobertas científicas e para uma
maior investigação científica pelo facto de ser uma particularização do
universal, isto é, a partir de enunciados mais gerais chega a inferência
de enunciados mais particularizados. Quer dizer, aquilo que se supõe
fazer parte do universo, atribui-se a um ser singular.

No pensar de Bacon a particularização do universal é o maior problema


da lógica dedutiva de Aristóteles. Aliás na sua obra, O Novum Organum
(Novo instrumento para o progresso da ciência), concretamente nos
aforismos VIII, IX, X, XI, Bacon diz que a lógica dedutiva aristotélica
enquadra-se dentro de toda uma dialéctica especulativa, de pouca
relevância para a ciência.

Nos aforismos IX, X e XI respectivamente, são bem claras as afirmações


baconianas segundo as quais a lógica aristotélica, pelo seu carácter
especulativo e dialéctico não contribuiu em nada para o

79
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
progresso das ciências, antes pelo contrário, ela constitui a verdadeira
causa e raiz de todos os males que ofuscam as ciências, pela exaltação
de modo falso dos poderes da mente humana. Ora, todas as belas
meditações e especulações humanas, todas as controvérsias são coisas
malsãs e inúteis para a invenção de novas obras e teorias científicas.
(Ibidem, 7).

A lógica dedutiva não se reveste de nenhuma importância para a


instauração de novas teorias científicas, não só, como também não
serve para nada sob ponto de vista de correcção dos erros cometidos
na ciência (cf.Idem).

Para Bacon a lógica de Aristóteles é actualmente usada para a


consolidação e perpetuação dos erros fundados em noções vulgares,
que para a indagação da verdade, de sorte que é mais danosa que útil
(Ibidem, 8).

O aforismo XIII continua de forma contundente e implacável a humilhar


o método dedutivo aristotélico, ao enunciar claramente que o silogismo
não é empregado para o descobrimento dos princípios das ciências, é
baldada a sua aplicação a axiomas intermediários, pois se encontra
muito distante das dificuldades da natureza.
Bacon acrescenta no aforismo XIV que se o silogismo consta de
proposições, as proposições de palavras, as palavras são o signo das
noções, pelo que, se as próprias noções (que constituem a base dos
factos) são confusas e temerariamente abstraídas das coisas, nada que
delas depende pode pretender solidez, daí a indução como averdadeira
esperança para o alcance da verdade científica e para uma melhor
investigação científica (cf. Idem).

Ainda em relação às contestações baconianas no que se refere à lógica


tradicional, não podemos descurar as interpretações avançadas por
Reale e Antiseri, autores que reconhecem amplamente ou em grande
medida, que efectivamente para Bacon, as ciências do período clássico
não tiveram nenhuma preponderância em termos de provocação de
novas descobertas científicas, fenómeno impulsionado de forma
acentuada pelo método científico predominante na antiguidade (cf.
Reale e Antiseri, 2007, p.331).

Como já se sabe, há por um lado, dois métodos ou lógicas


imprescindíveis ao serviço da investigação científica, o indutivo ou a
lógica indutiva desenvolvido por Bacon e o dedutivo ou lógica dedutiva
desenvolvida por Aristóteles. Contudo, devido ao seu carácter
especulativo e dialéctico, para Bacon a lógica dedutiva ou silogística de
Aristóteles nada mais do que deduzir consequências de premissas.
Deste modo, é um instrumento incapaz de apreender o âmago da
natureza, alvo de todo o processo de investigação científica, tal como
Bacon diz no seu Novo Organum, a ciência e o poder coincidem e os

80
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
dois têm de permitir o domínio sobre a natureza. Para Bacon é
necessário que se interprete o livro da natureza, de modo a dominá-la,
missão cuja lógica silogística não tem a capacidade de cumpri-la, tendo
em conta que ela enquadra-se dentro de todo um processo de
antecipação da mente, não sendo capaz de desvelar a realidade
universal na sua plenitude, basta só lembrarmos que o silogismo é um
raciocínio dedutivo composto por três proposições e três termos, assim
consta das proposições, as proposições das palavras, as palavras estão
no lugar das noções.

Mas afinal, quais são os caminhos que se devem seguir no âmbito da


apreensão da verdade científica? Para Bacon, são dois os
procedimentos que devemos abraçar no acto da produção científica,
um a partir dos sentidos e dos particulares, ascendendo logo aos
axiomas gerais, julgando segundo esses princípios, já estabelecidos em
sua imutável verdade, daí extraindo então os axiomas médios, este é o
procedimento vulgarmente trilhado (cf. Ibidem, 332).

Por outro lado, o processo de produção ou de pesquisa científica se


operacionaliza através do sentido e dos particulares, extraindo os
axiomas e ascendendo gradualmente o nível de generalização, a fim
de atingir os axiomas gerais, sendo este, o melhor caminho a trilharem
todos os processos científicos, não obstante o facto de não ser
amplamente aderido pelos homens, na visão de Bacon (cf. Idem).

As premissas anteriormente arroladas impelem Bacon a sublinhar de


modo insistente que o objectivo das investigações científicas não se
resume na descoberta dos argumentos, mas das artes, portanto não é
descobrir as consequências que derivam dos princípios estabelecidos,
mas sim nos próprios princípios. A descoberta desses princípios de
grande relevância científica só é viável, não através da lógica silogística
clássica, daí o apelo à indução empírica, método através do qual, os
axiomas devem ser extraídos continuamente e por graus, para se
chegar aos conceitos gerais, isto é, partindo de fenómenos particulares
e singulares inferem conclusões universais, uma verdadeira
universalização do particular (cf. Idem).

Aliás falando em indução, precisamos de lembrar que na sua obra-


mestra, O Novo Organum, Bacon entende que a melhor demonstração
é de longe, a experiência, desde que se atenha rigorosamente ao
experimento (Bacon, 1973, p.31).

Segundo a metodologia indutiva de Bacon, todo o processo de


investigação científica que se pretenda produtivo e mais efectivo deve
partir de dados particulares para inferir uma conclusão geral ou
universal. O objectivo dos argumentos é levar a conclusões cujo
conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se
basearam (cf. Marconi e Lakatos, 2009, p.53).

81
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional

Tomando em linha de conta a citação anterior, as ilações preliminares


que podemos tirar em relação a metodologia empírica e indutiva de
Bacon resumem-se em três aspectos fundamentais: primeiro, de
premissas que encerram informações acerca de casos ou
acontecimentos observados, passa-se para uma conclusão que contém
informações sobre casos ou acontecimentos não observados, segundo,
passa-se pelo raciocínio, dos indícios percebidos, a uma realidade
desconhecida, e finalmente o caminho de passagem vai do especial ao
mais geral, dos indivíduos às espécies, das espécies ao género, dos
factos às leis ou das leis especiais às leis mais gerais (Idem).

7.12 Crítica ao raciocínio indutivo


Diferentemente de Bacon, Popper considera que as causas
fundamentais que bloqueiam o progresso da ciência residem de forma
categórica na indução empírica.

Na sua obra A Lógica Da Pesquisa Científica, Popper entende ser comum


considerar-se indutiva a inferência que vai de enunciados singulares
(em algumas vezes chamados também enunciados particulares), como
sejam descrições dos resultados de observações ou experimentos, para
enunciados universais, tais como hipóteses ou teorias (cf. Popper, 1934,
p.28).

Analisando de forma atenciosa o conceito de indução, podemos


constatar efectivamente que sob o ponto de vista lógico, a indução está
distante de ser considerada um instrumento alavancador da pesquisa
científica, tendo em linha de conta que a partir de um enunciado
particular ou singular é totalmente irracional que se infira uma
conclusão universal, independentemente de quão numerosos sejam
estes, com efeito, qualquer conclusão colhida desse modo tem a
tendência de sempre redundar em falsidade (cf. Ibidem, 29).

Para Popper, a problemática da indução pode ser por outro lado


apresentado como a indagação acerca da validade ou veracidade de
enunciados universais que encontrem o seu fundamento no campo da
experiência, tais como hipóteses e os sistemas teóricos das ciências
empíricas. Há uma crença maior na ideia de que a veracidade desses
enunciados universais é conhecida através da realização de
experiências, todavia torna-se evidente que a descrição de uma
experiência, de observação ou do resultado do experimento, enquadra-
se dentro de uma singularidade e não na universalidade, isto é, a partir
de uma experiência e de observação, só faz sentido particularmente e
não universalmente, como pretende a indução de Bacon (cf. Idem).

82
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Para Popper, por detrás da ideia da indução encontram-se asconvicções
erradas de que a observação pode ser pura e ser fonte segura de
conhecimento, de que o investigador pode observar e experimentar a
realidade sem pressupostos e sem preconceitos. Ora para Popper
admitir que no âmbito da investigação científica o cientista possa
comportar-se como se de uma tábua rasa se tratasse, éignorar o facto
de que sempre se observa e se experimenta em função de problemas,
teorias e modelos que condicionam a investigação, assim o discurso de
Bacon sobre os ídolos acaba perdendo sentido, se tivermos em linha de
conta que no âmbito da pesquisa científica o Homem já traz consigo
alguns preconceitos ou pré-noções, em relaçãoao objecto de estudo (cf.
Idem). Sendo assim, o observatismo é simplesmente um mito, porque
na praxis o espírito de um investigador é sempre uma tábua cheia e
nunca tábua rasa (cf. Vicente, 2004, p.210).

A partir de dados meramente particulares a indução faz uma


generalização, ou seja de dados extrai a lei. Isto faz com que alguns
Lógicos considerem o método indutivo, como um raciocínio falacioso,
porque infringe a regra geral das inferências, segundo a qual nenhum
termo deve apresentar maior extensão na conclusão do que nas
premissas, por isso mesmo, a sua aplicação nas ciências empíricas é
contestada, uma vez que a sua conclusão não é logicamente necessária
(cf. Idem). A indução empírica apregoa mais a observação e experiência
ao nível das teorias científicas, para ela, só são científicas as teorias
verificáveis.

Os pressupostos básicos da indução empírica ou positivista podem-se


descrever do seguinte modo:

▪ A base da ciência devia se assentar sobre a matemática e a lógica


indutiva, uma vez que elas seriam os únicos instrumentos gerados
pelo pensamento humano capazes de estabelecer as regras da
linguagem indispensáveis para a formulação das afirmações
científicas. Deste modo, para a indução empírica as afirmações
metafísicas careciam de fundamento, e sendo assim deviam ser
efectivamente isoladas das afirmações genuinamente científicas,
denominadas sintéticas (cf. Appolinário, 2006, p.30).

▪ Para a doutrina empirista, a indução joga um papel de grande


importância nas conclusões cientificamente válidas. Sendo um
método de raciocínio no qual parte-se de uma série de observações
particulares para se inferir uma conclusão generalizada (Idem).

No ponto de vista de Appolinário, a indução, como motor da ciência


foi reduzido ao princípio de verificabilidade e de observacionismo
baconiano, doutrinas segundo as quais, só seria considerado científico
o enunciado que fosse verificado, isto é, posto a prova através de uma

83
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
validação empírica ou de um experimento. Deste modo para o
observacionismo e verificacionismo, se uma afirmação não fosse
verificada experimentalmente perderia o seu carácter científico e faria
parte da metafísica e não de postulados científicos (cf. Ibidem, 31).

O verificacionismo e o observacionismo de Bacon mostraram-se


controversos e questionáveis pelo facto de que muitas leis naturais em
voga, na época, não podiam ser verificadas e observadas
definitivamente.

Popper critica o método indutivo, através do exemplo, todos os cisnes


são brancos, a nível de uma lei da natureza, seria fundamentalmente
necessário ter observado todos os casos concretos, de ontem, de hoje
e garantir que amanhã não apareça um cisne negro (Idem).

As constatações preliminares a que podemos chegar no que concerne


ao pensamento metodológico de Popper consistem em que no seu
discurso sobre o método científico Popper defende de forma clara e
distinta a falsificabilidade ou as conjecturas e refutações como sendo o
único caminho mais certo para a solução do problema da indução e
consequentemente para o alcance da verdade científica.

Como já referimos antes, o princípio de falsificabilidade ou o método


hipotético-dedutivo de Popper implica considerar as teorias científicas
como sendo verosímeis ou hipotéticas, no sentido de que as mesmas
não constituem verdades definitivamente certas e válidas em todos os
tempos, mas que na prática, todas as teorias aproximam-se da verdade,
bastando apenas olharmos para o exemplo do geocentrismo de
Ptolomeu que tornou-se problemático com o advento do
heliocentrismo de Copérnico retomado mais tarde por Galileu.

Uma leitura hermenêutica permitir-nos-á constatar que para Popper,


o método hipotético-dedutivo reveste-se de uma grande pertinência
científica considerando que se trata de um método cuja essência é a
valorização da crítica e das refutações em todas as questões científicas.

No pensar de Popper, o progresso da ciência passa necessariamente


pela rejeição das teorias antigas e fundação de novas teoriascientíficas,
de tal forma que os modelos como a Lei de Newton, são sempre
considerados como hipotéticos e são utilizados enquanto nos
satisfizerem. Contudo, quando em determinado momento estes
modelos não prestarem os serviços que se esperavam deles, são
substituídos por outros (cf. Fourez, 1995, p.70).

Na mesma perspectiva importa ressaltarmos que a ineficácia de um


modelo explicativo ou de uma teoria numa determinada época implica
a adopção de uma teoria capaz de responder com sucesso aos

84
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
problemas desta mesma época.

Foi desse modo que nos primórdios do século XX, os físicos substituíram
a física de Newton pela física relativista de Einstein. Sob esta
perspectiva não se coloca mais a questão de saber se os modelos
científicos são “verdadeiros”, porém interessa-se simplesmente pela
sua eficácia num determinado contexto (Idem). Assim diferentemente
do modelo positivista ou empirista da ciência iniciado e enunciado por
Bacon no seu Novum Organum, para o modelo falsificacionista de
Popper, a ciência apenas progride substituindo teorias antigas por
outras mais eficazes, para o efeito é necessário que estas teorias sejam
falsificáveis ou hipotéticas, visto que elas não representam uma
verdade acabada e definitiva, tal como tivemos a ocasião de assistir a
substituição da mecânica de Newton pela mecânica relativista de
Einstein.

Aliás mesmo em relação ao colapso da teoria gravitacional de Newton


causado por Einstein, em virtude do seu racionalismo e criticismo,
Popper entende que a virtude não reside no cuidado de evitar os erros,
mas pelo contrário em ser-se implacável e contundente na sua
eliminação. Ser-se por um lado, ousado nas conjecturas e por outro,
sistemático na refutação, constitui um facto indispensável em todos os
processos científicos (cf. Lakatos, 1978, p.10).

Portanto, para Popper diferente de Bacon, a honestidade intelectual


não consiste em tentar abrir trincheiras ou estabelecer uma posição,
comprovando-a ou probabilizando-a, a honestidade intelectual ou
científica consiste antes na especificação precisa das condições em
que um indivíduo está disposto a desistir da sua posição, de tal modo
que a crença numa posição ou por outra numa teoria de forma
definitiva pode ser considerada como uma fraqueza lamentavelmente
inevitável, a manter sob o controlo da crítica, no entanto a convicção é
para Popper um crime declarado. Deste modo a ciência em Popper deve
ser uma revolução em permanência e a crítica é a alma do
empreendimento científico, facto que só é possível através do método
hipotético-dedutivo ou da falsificabilidade (cf. Idem).

Efectivamente o probabilismo defendido pelos empiristas e pela lógica


indutiva de Bacon de modo especial cai em desuso com a emergência
da lógica da descoberta científica de Popper, que atribui pela primeira
vez no contexto de um programa de investigação epistemológica
importante, um novo papel à experiência em ciência.

Como já nos referimos em momentos anteriores, de acordo com a


lógica da descoberta científica popperiana, as teorias científicas não se
baseiam, não são estabelecidas ou “probabilizadas” por “factos”, mas
antes eliminadas por estes.

85
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Para Popper, o progresso da ciência consiste no fundo, numa
confrontação revolucionária implacável e contínua de teorias
especulativas e observações que podem ser repetidas, e na
subsequente eliminação rápida das teorias derrotadas. O método das
conjecturas e refutações é um método para eliminar teorias falsas,
neste âmbito as conjecturas são audaciosamente expostas a
julgamento. Verificamos em Popper uma epistemologia descontinuista,
segundo a qual as teorias devem ser refutadas e substituídas por novas
teorias, assim pode progredir a ciência de forma permanente e racional
(cf. Ibidem, 153).

7.13 Raciocínio analógico


Qualquer raciocínio é essencialmente uma passagem do conhecimento
para o desconhecido. Parte se do que se sabe, para tentar chegar àquilo
que não se sabe. A forma mais usual, a mais arcaica talvez, de efectuar
essa passagem é constituída pelo raciocínio por analogia. Acresce que o
estabelecimento de analogia é um dos processos mais importantes no
desenvolvimento da memória. Retemos melhor aquilo de que somos
capazes de estabelecer semelhanças com maior número de outras
realidades.
Analogia será talvez a forma de inferência mais rica e criativa, tão
ilimitada como a imaginação do homem, mas por isso mesmo a menos
susceptível de um tratamento rigoroso, que nos permita definir-lhe as
leis e as regras. É uma forma de pensamento que tanto nos pode levar,
nas asas do génio, à descoberta de aspectos fundamentais da realidade
«, como nos pode fazer mergulhar numa visão distorcida e simplista
daquilo que nos cerca.
Na medida em que, na base da analogia está uma comparação entre
duas realidades, para que a mesma nos possa merecer confiança deve
obedecer às seguintes condições:

Regras da analogia
▪ Os elementos de comparação devem ser reais e relevantes e não
forçados ou imaginários,
▪ Em princípio, quanto mais temos de comparação houver mais
validade terá a analogia,
▪ Não devem existir divergências fundamentais nos elementos a
comparar.

No fim desta unidade deverá ser capaz de:


▪ Definir a lógica.
▪ Descrever o carácter histórico da lógica.

86
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Explicar o objecto de estudo da lógica.
▪ Distinguir os tipos de raciocínios (indutivo, dedutivo e analógico).
▪ Distinguir as operações lógicas enquadradas na lógica
proposicional.
Exercícios desta unidade
1. Ao longo da sua história, a lógica passou por várias metamorfoses.
Descreva a evolução histórica da lógica.
2. Como se define a lógica?
3. Caracteriza o objecto formal e material da lógica.
4. Caracterize o raciocínio indutivo, analógico e dedutivo.
5. Que argumentos são apresentados por Francis Bacon em prol da
indução?
6. Como se define o silogismo?
7. Quais são os princípios que regem os silogismos?
8. Formule um raciocínio válido formal e materialmente?
9. Caracterizar o falsificacionismo de Popper.

Unidade VIII: Deontologia profissional


8.1 As crises do pensamento racional e a ética
Esta temática tem a sua razão de ser, na medida em que, regista-se
actualmente uma literatura interessada naquilo aqui, com pouco rigor,
se chama “A crise de valores”. Andam por aí muitos profetas de
desgraça, que defendem de forma veemente um regresso ao passado,
um regresso aos valores tradicionais.

Um mínimo que se poderá dizer de uma tal pretensão é que ela é


controversa e equivoca, ainda que algumas vezes possa ser bem-
intencionada.

Em 1º é controversa porque, queira se ou não, a histórica faz-se para


frente e não para traz.
A condição da possibilidade do futuro, é justamente a superação dos
erros, dos preconceitos e das ilusões do passado, o que não significa a
negação do seu legado indispensável e positivo.

Em 2º lugar, a pretensão de um regresso aos valores tradicionais é


equívoca porque não se sabe exactamente o que é que se pretende,
de facto, quando se defende um tal regresso.

Se o regresso ao passado significa a pretensão de fazer valer de novo


valores como o nacionalismo agressivo, a raça pura, a purificação
étnica, o autoritarismo, a religiosidade sectária, etc., então será melhor
apontarmos aos nostálgicos do passado, os horrores do nazismo
alemão, os campos de concentração, as perseguições das polícias do
Estado, as prisões políticas, os genocídios e os etnocídios, oproselitismo
e p fanatismo religiosos, e dizermos claramente que não

87
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
vamos enveredar por esses caminhos (cf. Vicente, 1997, p.134).

A expressão “crise de valores” pode significar assumir ainda o


significado de uma ausência ou de uma falta.
Nesta ordem de ideias, a crise de valores será de grande preocupação
e dá que pensar porque não há existência individual, nem convivência
interpessoal e comunitária sem um quadro estável e, pelo menos
parcialmente, consensual de valores. Neste sentido, impõe-se, de facto,
um diagnóstico dos problemas actuais.

Há, claramente, boas razões para que muitos dos nossos


contemporâneos vivam apreensivos com a situação presente. Entre os
motivos de preocupação, podemos destacar:

▪ O primado de uma razão técnico-científica que descura a reflexão


sobre as finalidades, para se ater apenas a produção de bens de
interesse muitas vezes duvidoso e supérfluo;
▪ O niilismo e o relativismo axiológico;
▪ O individualismo e o narcisismo;
▪ Aquilo a que alguns chamam “a era do vazio”;
▪ A cultura de massas por oposição a uma cultura crítica;
▪ A chamada derrota do pensamento a favor da sedução;
▪ A queda da esperança e do pensamento utópico;
▪ A indiferença política das novas gerações;
▪ O regresso dos fundamentalismos religioso e político;
▪ A insegurança e a violência nas cidades, nos estádios, nos bairros e
nas ruas;
▪ O racismo, a xenofobia, as guerras étnicas;
▪ O aumento da fortuna dos mais ricos e o crescimento do número
dos mais pobres, etc.

O esquema a abaixo elucida a divergência entre as sociedades


tradicionais e contemporâneas em termos dos valores morais.

Sociedades Sociedades
Tradicionais Contemporâneas
Mais fechadas Mais abertas

Incomunicação e isolamento Comunicação rápida entre


entre comunidades comunidade (mass media)
Aldeias isoladas Aldeia global

UM ÚNICO CÓDIGO MORAL MÚLTIPLOS CÓDIGOS MORAIS

88
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Intransigência Flexibilidade
Fanatismo Permissividade
Intolerância Tolerância

Grande pressão social Mínima pressão social


Limitação da liberdade Mais liberdade
Mais responsabilidade

8.2 Definição da ética profissional


A ética profissional é o conjunto de normas de conduta que devem ser
postas em prática por qualquer um no exercício de sua profissão. Em
Moçambique, por exemplo, existe um código de conduta profissional
dos professores moçambicanos, proposta pela Organização Nacional
dos Professores (ONP), Estatuto dos Médicos, Estatuto dos
Enfermeiros, Estatuto da Ordem dos Médicos, Estatuto da Ordem dos
Contabilistas, Estatuto da Ordem dos Engenheiros, etc., só para citar
alguns exemplos. Portanto, a ética profissional está relacionada com
as normas referentes ao exercício de uma determinada profissão
(Viegas e Chihulume, 2011, p.28).

8.3 Definição de deontologia


No entendimento de Viegas e Chihulume, o termo deontologia provém
de duas palavras gregas: deon que significa dever, ou o quese deve
fazer. A palavra logos pode ser interpretada como sendo palavra,
discurso, doutrina ou tratado. Deste modo, a deontologia significa
doutrina, tratado ou ciência do dever ou dos deveres, quer dizer, a
doutrina, o tratado ou a ciência do que se deve fazer.

Profissional é adjectivo do substantivo profissão (que vêm da palavra


latina professione, e quer dizer efeito de professar).

Deontologia profissional - define-se como a teoria ou a ciência dodever


profissional. Assim falar de deontologia implica efectivamente fazer
referência aos deveres, princípios e normas adoptados por grupos de
profissionais que exercem uma determinada profissão. Portanto, a
deontologia profissional diz respeito a todas as profissões e refere-se
ao carácter normativo e jurídico que regula as profissões.

Precisamente porque a deontologia profissional faz convergir nas


profissões, aspectos de relevância humana que ultrapassam o campo
do dever profissional em si, ela é também chamada por ética
profissional. Efectivamente aspectos como dignidade humana, direitos
humanos, género, HIV-SIDA, assédio sexual, corrupção, etc.,
apresentam problemas humanos e deixam constatar, por isso, o forte
conteúdo ético presente no exercício profissional (ibidem, 27).

89
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Todavia na visão de Carapeto e Fonseca, a ética não se reduz à
deontologia na medida em que é preciso para além do mero
cumprimento das normas deontológicas. Seguir os princípios éticos
vertidos nos códigos deontológicos porque o seu incumprimento tem
consequências sociais (nomeadamente disciplinares) não é actuar de
forma ética. Porque as acções são apenas conformes à norma e não
conformes ao valor. Se o valor não é assumido pelo agente, este não
age racionalmente, de forma livre e responsável, de acordo com aquilo
que, interiormente, sabe que deve fazer.

E a verdade é que para ser bom profissional, o homem deve


desenvolver todas as virtudes humanas, exercitadas através da
profissão. Além do mais, a ética não se reduz a um conjunto de
proibições: o comportamento ético gera satisfação, uma vez que se
opta, livre e racionalmente, por praticar o bem.

O comportamento ético nasce do interior do homem, das suas


convicções, quer estas sejam, de natureza transcendente, quer de
natureza humanista. E não deve ser adoptado apenas como remédio
em caso de conflito: deve ser vivido todos os dias, como parte de um
projecto de vida pessoal.

8.4 O papel da ética profissional


Neste item pretendemos elucidar a relevância da ética no exercício
das nossas actividades profissionais.

De facto, não é possível um bom exercício das actividades profissionais


sem a ética profissional. A ética profissional é uma espécie de
deontologia apropriada para a execução plena e boa de uma
determinada profissão.

Desta forma, a ética profissional - os padrões de conduta a aplicar no


exercício da profissão, uns comuns a várias profissões, outros
específicos da profissão em causa - ajuda os indivíduos a pertencerem
a um determinado grupo e distingue esse mesmo grupo dos demais
grupos profissionais.

Ajuda a tomar decisões profissionais que sejam acertadas do ponto de


vista ético. E a boa reputação que o grupo profissional consiga alcançar
com a sua conduta ética ajudará os seus membros a poder exercer as
suas funções na sua área de actuação laboral (Carapeto e Fonseca,
2012, p.20).

90
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
8.5 Ética e responsabilidade social das empresas
A ética e responsabilidade social nas empresas joga um papel de grande
importância sob o ponto de vista de solidariedade.

No concernente a esta problemática, na obra Ética Empresarial


Leisinger e Schmitt, afirmam que a empresa está obrigada à cooperação
ou à solidariedade para com as pessoas, na medida em que para além
de buscar o seu próprio interesse, ela deve efectivamente lutar pela
busca do bem comum.

Existe actualmente o consenso de que todos os agentes sociais,


inclusive as empresas, têm o dever de prestar a contribuição que lhes
seja possível para que cada um alcance um desenvolvimento
duradouro. No mínimo, devem ser omissas as maneiras de agir que
impossibilitem a materialização deste objectivo.

Portanto, para um desenvolvimento duradouro as condições


económicas, sociais e ecológicas não devem ser vistas isoladamente, e
muito menos ser lançadas umas contra as outras (Leisinger e Schmitt,
2002, p.23).

8.6 Como ser um profissional ético?


O que podemos dizer em relação a questão acima colocada é muito
simples e breve. Um profissional só pode ser efectivamente ético se ele
primar rigorosamente pelo cumprimento das regras de conduta que
norteiam a sua profissão. No ponto a seguir faremos referência
exactamente ao código de conduta ou da ética profissional. Todavia o
que podemos alertar imediatamente é que, um profissional que não
cumpre as regras que a rege de forma correcta pode até incorrer a um
processo disciplinar que culmine com a sua expulsão da empresa.
Portanto, o apelo que insistentemente fazemos é que na qualidade de
futuros profissionais respeitemos de modo imparcial aos nossos
estatutos e códigos de conduta profissionais.

De referir que a seguir definiremos o conceito de código profissional e


vamos compreender na essência o significado do código de ética
profissional, instrumento relevante para todas as instituições,
organizações empresariais e ou por outra grupos de profissionais.

8.7 Código de ética profissional


Código de ética profissional refere-se concretamente ao conjunto de
regras ou normas que regulam o modus operandi de uma determinada
profissão ou organização profissional, como por exemplo o código de
conduta dos professores moçambicanos.

Neste mesmo diapasão, Carapeto e Fonseca sublinham de facto que


os códigos de ética são um conjunto de regras que procuram conferir

91
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
uma identidade às profissões, orientando e controlando os
comportamentos do grupo a fim de manter a sua coesão e explicitam
a forma como o grupo se compromete a realizar os seus objectivos
particulares de acordo com os princípios universais de ética.

Muitas vezes têm valor jurídico: são prescrições de cumprimento


obrigatório para os profissionais, sob pena de aplicação de sanções
disciplinares. Têm, assim, como finalidade principal constituir um guia
para os comportamentos individuais no exercício da profissão, evitando
a ocorrência de problemas éticos (Carapeto e Fonseca, 2001, p.24).

No fim desta unidade, deve saber:


▪ Definir a noção de deontologia profissional
▪ Descrever as crises do pensamento racional e a ética
▪ Definir a noção de ética profissional
▪ Identificar o papel da ética profissional
▪ Descrever a ética e a responsabilidade social das empresas
▪ Descrever o código de ética profissional

Questões da unidade
1. As noções de ética e deontologia têm a mesma etimologia, no
entanto cada um apresenta as suas especificidades.
- Apresente as especificidades acima referidas.
2. Etimologicamente a Ética e a Moral significam o comportamento
habitual ou costumeiro vigente numa determinada sociedade.
Contudo cada um dos conceitos apresenta as suas especificidades.
- Argumente a afirmação
3. A deontologia e deontologia profissional são componentes
indispensáveis para o bom exercício de uma profissão.
- Qual é a sua distinção?
4. O que significa a expressão “Crise de valores’’?
5. Descreva a pertinência da responsabilidade social das empresas.
6. Que condições tornam um ser humano num profissional ético?
7. Defina a noção de código de conduta.

Unidade IX: Ética hoje e suas interfaces com o mundo da


administração
9.1 Ética empresarial
A ética empresarial reflecte sobre as normas e valores efectivamente
dominantes em uma empresa, interrogando-se pelos factores
qualitativos que fazem com que determinado agir seja um agir “bom”.
Como ética aplicada, ela tem como meta estabelecer, através do acordo
com as pessoas atingidas pelo agir empresarial, normas materiais e
processuais que foram postas em vigor na empresarial como possuindo
carácter vinculante.

92
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Para uma empresa valem as mesmas metas primárias, que para as
pessoas individuais: a de sua existência, a de sua liberdade de acção e
a de sua solidariedade, entendida no sentido de cooperação. Deste
modo, a ética empresarial, em todos os casos, só pode referir-se àquela
classe de acções e medidas que podem ser harmonizadas com a
garantia de existência da empresa no mercado, ou que a põe em risco.
A empresa precisa de liberdade de acção, para que não seja privada das
suas iniciativas e do seu progresso económico.

Um outro aspecto relevante no âmbito empresarial é a necessidade da


cooperação de todos os membros que participam do processo
económico, pois sem esta cooperação, ela não poderia alcançar as
outras marcas primárias (Leisinger e Schmitt, 2002, p.22).

Dentro da ordem jurídica e da competição, as empresas pleiteiam para


si direitos económicos, sociais e ecológicos, cuja correlação são os
deveres económicos, sociais e ecológicos, nomeadamente:

▪ Empenhar-se e engajar-se a curto e a longo prazo pelo bem da


empresa.
▪ Ser responsável pela segurança e previdência dos colaboradores.
▪ Levar em conta de maneira mais ampla possível, os interesses do
meio ambiente e os desejos dos consumidores.

9.2 Normas empresariais


As normas empresariais - definem-se como sendo as directrizes éticas
de orientação e acção postas em vigor por iniciativa própria da
empresa, isto é, sem que exista imposição legal, mas mesmo assim
obrigando todos os colaboradores. Estas normas devem contribuir para
que sejam visados e atingidos de forma mais harmónica possível, os
objectivos económicos, sociais e ecológicos da empresa. Estas normas
são imprescindíveis na medida em que:

▪ Ajudam a empresa a identificar e definir suas responsabilidades não


económicas.
▪ Servem de orientação nas situações eticamente confusas, desta
maneira tornando desnecessárias decisões ad-hoc.
▪ Actuam em sentido contrário a uma progressiva regulamentação
pelo Estado e suas autoridades, desta forma contribuindo para se
chegar à liberdade empresarial.
▪ Diminuem os custos sociais das transacções.

Com essas normas bem formuladas e fundamentadas, a empresa pode


dar um passo importante no longo caminho da realização de suas
ambições éticas (cf. ibidem, 124).

93
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
Para a formulação das normas acima citadas, devem ser tomados em
conta os aspectos seguintes:
▪ Ir além das leis em vigor, do contrário são irrelevantes!
▪ Ir além dos usos e costumes “usuais no ramo”- do contrário são
igualmente irrelevantes.
▪ Conter princípios claros. Um sentido descuidado, confuso ou
mesmo inexistente, ou uma formulação inadequada só traz
prejuízos.
▪ Abordar as actividades da empresa que implicam em maiores
controvérsias sociais.
▪ Ser sinceras – isto é, não devem fazer promessas impossíveis de
serem cumpridas na prática.
▪ Ser analisadas a intervalos regulares, para ver se o conhecimento
que lhes serviu de base modificou-se, e adaptá-las caso tenha
havido alterações essenciais.

De referir que, a qualidade das normas empresariais pode melhorar


consideravelmente se grupos de pessoas competentes, de dentro ou de
fora da empresa puderem prestar as suas contribuições.

Como devem regular situações também particularmente sensíveis do


ponto de vista sociopolítico, é preciso que sobre as normas
empresariais haja consenso, cujo alcance é mediante ao diálogo
(instrumento fundamental da política empresarial) com os grupos
relevantes da sociedade.

Ora, para a implementação das normas em alusão devem ser


respeitadas as recomendações seguintes:

▪ Deve haver um programa de comunicação onde os conteúdos


essenciais dos códigos e sua importância para o dia-a-dia da
empresa sejam explicados, e onde os colaboradores possam fazer
perguntas. Não bastam as campanhas de informações em que as
normas são enviadas através do correio interno.

▪ Para se assegurar de que a mensagem foi entendida com todos os


funcionários recomenda-se que seja feita uma confirmação por
escrito. Não devem existir dúvidas de que a desobediência às regras
que obrigam incondicionalmente acarretam consequências
pessoais, que podem levar até à demissão, e isto
independentemente do facto de as consequências económicas para
a empresa terem sido positivas ou negativas.

▪ Os executivos atingidos pelo código, devem ter a obrigação de


prestar contas, isto é, também eles, a juízo dos colaboradores,
devem ser avaliados por sua contribuição para a realização dos
objectivos da empresa.

94
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
9.3 O papel da ética na administração empresarial
A ética joga um papel de grande preponderância tendo em conta que
ela vai nos fornecer os valores profissionais necessários para uma boa
administração empresarial.

Portanto no mundo empresarial a ética tem vindo a ganhar


importância. Considera-se hoje que a excelência empresarial depende
também da conduta ética da empresa: os valores éticos, o respeito
pelas pessoas, o espírito de serviço são elementos determinantes para
as empresas com bons resultados. E não é por estar na moda. Esta
teoria baseia-se numa visão sistémica das relações da empresa com o
mundo que a rodeia (todas as partes interessadas). O que significa,
então, para uma empresa assumir as suas responsabilidades sociais?
Significa que, ao mesmo tempo que protege os seus próprios interesses,
reconhece as necessidades dos intervenientes da sociedade e avalia as
consequências das suas acções sobre a sociedade, com o objectivo de
melhorar o bem-estar da população.

Neste contexto, assume particular importância a ideia de respeito pelo


ambiente: na sua actividade e na utilização das tecnologias que
desenvolve, a empresa deve procurar que os seus produtos e processos
tenham um mínimo de impacto sobre o ambiente (Carapeto e Fonseca,
2012, p.23).

Apresentamos na tabela a baixo, alguns valores profissionais que


podem jogar um papel de grande importância para uma boa
administração empresarial:

95
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
▪ Aumentar a segurança, saúde e bem-estar humano;
▪ Honestidade, imparcialidade, fidelidade ao público;
empregadores e clientes, evitando conflitos de interesse;
▪ Aumentar a competência e prestígio da profissão;
▪ Desempenhar serviços só nas suas áreas de competência e
sem concorrência desleal;

▪ Reconhecer a propriedade intelectual;


▪ Aumentar a competência profissional;
▪ Respeitar a legislação laboral;
▪ Avaliar os impactos e os riscos;

▪ Evitar conflitos de interesse. Rejeitar todas as formas de


Suborno
▪ Melhorar permanentemente a competência técnica;
▪ Reconhecer erros;
▪ Reconhecer as contribuições de outros colegas dentro da
empresa;
▪ Tratar as pessoas de forma não discriminatória, não atentar contra
os colegas e ajudá-los a cumprir o estatuto da empresa ou
organização;

Ao completar esta unidade deve ser capaz de:

▪ Definir a noção de ética empresarial;

▪ Descrever o papel da ética ao nível da administração empresarial;

▪ Definir as normas empresariais;

Exercícios desta unidade

1. Nos últimos anos, a ética empresarial tem jogado um papel de


grande relevância ao nível das instituições e ou organizações.

- Defina a noção de ética empresarial?

2. As normas empresariais jogam um papel importante no contexto


empresarial e organizacional. Defina-as.

3. A honestidade, imparcialidade e a fidelidade são valores


profissionais indispensáveis no âmbito empresarial.

- Justifica a afirmação referida em três (3).

4. A liberdade é uma dimensão imprescindível em todos os domínios da


vida. Qual é a sua pertinência no contexto organizacional e ou
empresarial.

5. Qual é a relevância do melhoramento sistemático e constante da

96
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
competência técnica no contexto empresarial?

Bibliografia
APPOLINÁRIO, F. (2006). Metodologia da ciência: Filosofia e
prática dapesquisa. São Paulo, Pioneira Thomson Learning.

ARCHER, L. (1996) et all. Bioética, Verbo, Lisboa/São Paulo, p. 132


ARRUDA, M. C. C., et all. (2003). Fundamentos de Ética
Empresarial e Económica. 2ª Edição. Editora Atlas S.A.

BACON, F. (1973). Novum Organum, Os Pensadores. Acrópoles.


CARAPETO, C., & FONSECA, F. (2002). Ética e Deontologia, Manual de
Formação, Lisboa.

CARRILHO, M. M. (1994). A Filosofia das Ciências. De Bacon a


Feyerabend. 1ª Edição, Editorial Presença, Lisboa.
FEIJO, R. L. C. (2007). A Nova Disciplina de Sistemas Económicos
Comparados: Uma proposta da Revista da Economia Política. Vol 28.

FOUREZ, G. (1995). A Construção das Ciências. Introdução à Filosofia das


Ciências, Editora UNESP, São Paulo.
REALE, G., & DARIO, A. (2007). História da Filosofia, Do Humanismo à
Kant. 8ª Edição. Vol.2, Paulus.

97
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
(2005).História da Filosofia, Patrística e
Escolástica, 2ª Edição, Paulus.
GIDDENS, A. (1998). Política, Sociologia e Teoria Social. Encontros com
o Pensamento Social Clássico e Contemporâneo, Fundação Editora da
UNESP, São Paulo.
Immanuel, K. (1959). Crítica da Razão Pratica. Edições e Publicações
Brasil Editora S.A., São Paulo.
JAPIASSU, H., & MARCONDES, D. (2001). Dicionário Básico de Filosofia.
Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro.
KESSERLING, T. (2007). Ética, Política e Desenvolvimento Humano,
Justiça na Era da Globalização. Educs.

KUHN, T.(2001). A Estrutura Das Revoluções Científicas. 6ª Edição,


Editora Perspectiva; São Paulo; Brasil.
LAKATOS, I. (1978). Falsificação e Metodologia dos Programas de
Investigação Científica, Edições 70, Lisboa.
LEISINGER, K.M., & SCHMITT, K. (2002). Ética Empresarial,
Responsabilidade Global e Gerenciamento moderno, Editora Vozes, 2ª
Edição, Editora Vozes.

MARCONI. M. A., & LAKATOS, E. M. (2009). Metodologia Científica. 5ª


Edição. Editora Atlas S.A, São Paulo.
MEDEIROS, O. H.R. Religião e Problema Moral. Segmentação Social e
Crescente Individuação, Actas dos ateliers do V Congresso Português de
Sociologia. S.e, S.a.
NGOENHA, S. (2015). Terceira Questão, Universidade Técnica de
Moçambique.
PERROUX, F. (1981). Ensaio sobre a Filosofia do Novo
Desenvolvimento, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
TUGENDHAT, E. (2007). Lições Sobre Ética, 6ª Edição, Editora Vozes,
Petrópolis.
POPPER, K. (1934).A Lógica Da Pesquisa Científica. Editora
Pensamento-Cultrix, São Paulo.
POPPER, K. (2009). O Mito do Contexto, Em Defesa Da Ciência e
DaRacionalidade, Edições 70 Lda., Lisboa.

98
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional
VICENTE, J.N.(1997).Razão e Diálogo; Introdução á Filosofia,
PortoEditora.

(2004). Dicionário de Conceitos, Razão e Diálogo.


PortoEditora.
VIEGAS, M., & CHIHULUME, Z. (2011). Manual de Ética e Deontologia
Profissional, Universidade Pedagógica, Editora Educar.

ZILLES, U. (2004). O Carácter Ético do Conhecimento. Revista da


ADPPUCRIS. Porto Alegre.

99
UnISCED CURSO: Gestão de Empresas; 20 Ano Disciplina/Módulo: Filosofia, Ética e Lógica
Organizacional

100

Você também pode gostar