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APOLOGÉTICA

Aula 1 – Os preâmbulos da fé

Apologética significa defesa da fé, e quando fazemos Apologia de alguma


coisa agente está fazendo a defesa dessa coisa perante uma comunidade que
no geral hostiliza essa coisa. E no começo do Cristianismo, ele se originou
dentro de uma atmosfera onde a Filosofia Grega já tinha produzido alguns frutos
e como a gente sabe, a Filosofia enfatiza justamente o uso da Razão no
processo de investigação das coisas. E investiga o que é o homem, o que é a
natureza, o que é Deus, e tudo isso os primeiros Filósofos como Sócrates,
Platão e Aristóteles e os demais buscavam compreender se utilizando daquela
luz natural que o ser humano tem que é a razão e a inteligência. E é claro
que isso fez com que o uso da razão se desenvolvesse de uma maneira
espantosa, extraordinária. Você se apegar rigorosamente a inteligência, a razão,
para investigar temas muito profundos, como o sentido da existência, o que é o
ser humano, o que é o cosmos, o que é a matéria, o que é Deus, isso vai fazer
com que, se você levar a sério o empreendimento desse tipo, que foi o que eles
fizeram ao longo de alguns séculos na Grécia, vai fazer com que a sua razão se
desenvolva muito. Muitas técnicas de raciocínio, de pensamento de investigação
foram desenvolvidas na Grécia nesse período. Essas técnicas se disseminaram
de algum modo por toda aquela região ali no entorno a partir do Império de
Alexandre que fez com que a cultura Grega de algum modo se propagasse na
região.
Mas tem um outro fator também que é importante e eu estou dizendo isso
porque o Cristianismo surge num certo sentido dentro de uma atmosfera
cultural já ambientalizada por assim dizer pela Filosofia. Alguns, como o próprio
São João Paulo II, sugere que a Filosofia tenha sido algo providencial
como uma espécie de preparação providencial para a Encarnação de
Nosso Senhor e o que faz muito sentido dependendo do enfoque que você
dá. Faz muito sentido mesmo. No entanto, como qualquer Tradição, a Tradição
Filosófica, ela também passa por degenerações, quer dizer, o primeiro Tales de
Mileto, Pitágoras, Parmênides e depois Sócrates, Platão, Aristóteles. Mas depois
de Aristóteles a coisa já começa a decair um pouco e os Filósofos posteriores a
Aristóteles não eram de uma estatura intelectual tão elevada e até de uma
estatura moral tão elevada quanto eram Sócrates, Platão e Aristóteles que são e
foram considerados como a tríade fundamental da Filosofia. Então veja bem, por
um lado o Cristianismo surge dentro de uma atmosfera cultural, pelo menos em
algumas regiões ali, dentro de uma atmosfera filosófica, onde a Filosofia já
existia, já se conheciam conceitos filosóficos, já se tinham certo aprimoramento
no uso da razão, o que a gente chamaria hoje de senso crítico, embora não seja
bem isso a Filosofia, mas para facilitar o nosso entendimento, o que agente
chamaria hoje de senso crítico já existia por ali de algum modo. Só que, no
entanto, o Cristianismo não surge na época dos melhores Filósofos. Ele (o
Cristianismo) já surge numa época da decadência da Filosofia. Então, por
exemplo, os Filósofos com os quais São Paulo se encontra na famosa
passagem dos Atos dos Apóstolos, já são Filósofos do terceiro escalão. Se São
Paulo falasse para Sócrates, Platão e Aristóteles a contradição e o choque não
seria tão grande quanto foi aquele que é descrito lá nos Atos dos Apóstolos, isso
porque a Filosofia Grega é muito afim a Revelação Cristã e tem muitos pontos
em comum, Na verdade o diagrama geral daquilo que se chama de Filosofia
Grega no sentido mais pleno da expressão é basicamente o mesmo do
Cristianismo com a diferença de que o Cristianismo sendo uma Revelação
acrescenta uma série de verdades que jamais poderiam ser alcançadas
pelo simples uso da razão humana por mais eficaz e profundo que ele fosse.
Necessariamente, a Revelação Cristã também via corrigir algumas deficiências
da Filosofia Grega, mas elas são muito poucas. Então, se São Paulo tivesse
falado com esses filósofos da primeira turma, sem dúvida o conflito seria menor
e talvez eles até se convertessem quase que imediatamente ali. E isso que eu
estou falando não é um entendimento meu, pois os primeiros Padres, os Santos
Padres tinham esse entendimento e falavam que Platão era um Cristão antes da
época. Eusébio de Cesaréa lista Sócrates, Platão e Aristóteles como Cristãos,
como Justos. Lembro-me dos Justos do AT e entre os pagãos também existem
justos e a própria Bíblia menciona alguns deles. E ele elenca os Filósofos
Gregos como personagens que, não é irrazoável imaginá-los como alguém que,
ouvindo o testemunho dos Apóstolos, se converteriam, tamanha era a
sinceridade deles na busca pelo conhecimento, tamanha era a eficiência, o rigor
com o qual eles utilizavam aquela luz com a qual Deus dotou todos os homens,
que não é a luz da fé, que vai vir somente com Cristo, mas é a luz da Razão. No
entanto, não foi isso que aconteceu. O que aconteceu foi que o encontro dos
Cristãos com a Filosofia se deu através de Filósofos já de uma dignidade
filosófica mais baixa, o que causou uma série de desentendimentos intelectuais
se é que a gente pode falar assim, com muitas críticas, as vezes com boa
intenção, as vezes com o intuito de ridicularizar o próprio Cristianismo, mas
muitos questionamentos foram lançados contra os primeiros Padres, o que fez
com que alguns desses primeiros Padres não fossem a favor da utilização da
Filosofia como meio de levar a fé até os pagãos ou como meio de defender a fé
do ataque dos pagãos. Nem todos eles, mas a maior parte adotou essa postura:
“Se a Filosofia é uma coisa boa, ao estuda-la a gente vai perceber isso e então a
gente vai ficar com isso, pois afinal de conta tudo o que é verdadeiro é Cristão
e isso eles tinham uma consciência muito clara desde o início. Então, eles
diziam, vamos estudar Filosofia e, se for verdadeiro, é nosso. Esse ‘nosso’ sem
a pretensão de uma apropriação cultural. É nosso no melhor sentido, é de todo
mundo, é a Razão humana. E caso isso seja de fato uma coisa boa, porque
não se utilizar desse patrimônio cultural para defender a nossa doutrina perante
aqueles que exigem justamente argumentos, razões, e isso é quase que uma
obrigação moral se utilizar desse patrimônio cultural. E então, começou-se ali
um diálogo entre a Filosofia e a Revelação Cristã. Esse diálogo já existia
entre os Judeus. Já existia ali uma Filosofia Judaica, mas o que acontece
quando o Cristianismo se cruza com a Filosofia é uma coisa espantosa. Os
maiores Filósofos que a humanidade já produziram foram Filósofos
Cristãos. É só olhar para Santo Agostinho, São Tomas de Aquino, São João
Crisóstomo, se pegar um Ricardo de São Vitor é impressionante. É
impressionante onde a mente desses homens chegaram e justamente
porque não contavam mais somente com a luz natural que é a razão, mas
tinham acrescida a essa luz a luz da fé que ilumina a inteligência e conduz
a vontade ao amor de Deus, ao amor da verdade, o que estimula mais ainda
a sua inteligência fazendo com que, como diz o próprio Ricardo de São Vitor, o
indivíduo participe da própria Santíssima Trindade onde a Verdade é
amada desde toda a eternidade com uma intensidade e uma perfeição
inconcebíveis. E vocês imaginem o que é um Santo, um Santo Filósofo ainda
por cima, que participa desse Mistério maravilhoso que é a Santíssima Trindade
onde Deus se conhece e se ama desde toda a eternidade e recebe de algum
modo uma reverberação, uma Graça que vem a partir disso. É claro que a
atividade intelectual desse sujeito vai ser uma atividade extremamente elevada,
muito maior do que aquela alcançada pelos próprios Filósofos Gregos. É lindo
ver isso, esse diálogo entre Cristianismo e Filosofia. E isso não é um capricho,
pois foi uma coisa que surgiu por uma necessidade muito específica que
era defender a Doutrina Cristã que na época era extremamente germinal em
muitos aspectos. Uma necessidade específica como a Suma Teológica que
vocês já ouviram falar, que é o maior Tratado, talvez o maior Tratado de
Apologética que temos, seja a Suma Teológica, a Suma contra os Gentios de
São Tomás de Aquino onde você tem a Doutrina Cristã exposta com um rigor
racional impressionante. Vamos lendo a Suma e temos a sensação de quando
vemos uma Catedral daquelas antigas e nos perguntamos: como é possível
um ser humano construir um negócio desse. E você vai lendo a Suma e se
pergunta: como pode um ser humano pensar tudo isso aqui. Para se chegar
ao ponto de ter uma Suma Teológica com a Doutrina Cristã bem organizada,
racionalmente fundamentada até onde isso é possível, pois veremos que nem
tudo pode ser perfeitamente fundamentado racionalmente, demorou bastante
tempo. No começo inclusive alguns vão dizer que foi na própria tentativa, no
próprio empenho de defender a fé perante os ataques dos pagãos que os
Cristãos foram se tornando cada vez mais conscientes da própria Doutrina
Cristã que até então estava germinalmente contida nas Escrituras (nos
Evangelhos) e no que a Tradição transmite. Então, a Apologética tem uma
importância do ponto de vista do próprio Cristão porque ela nos torna mais
consciente da Doutrina que nós professamos, mas hoje e talvez essa seja uma
das razões pelas quais esse curso foi pensado, e pela qual ele vale a pena dá-lo
e participar dele, é que hoje nós vivemos num ambiente muito próximo daquele
ambiente lá. Naquele ambiente onde surgiu o Cristianismo e pensem numa
cidade como a de Alexandria onde você tinha exemplares de todas as culturas
em torno, todas as mitologias dos povos em torno circulavam por ali. Você tinha
Judeus, você tinha Indus, você tinha gente de tudo quanto é lugar. Cada um com
uma ideia relativamente diferente da do outro, quer dizer, era um intercâmbio
cultural, e todo intercâmbio cultural ele tende a produzir uma certa confusão
mental. Você não sabe muito bem o que é verdade e o que não é. Ele tende
inclusive, na pior das hipóteses, a dar a vitória para aquele que fala melhor e
não para a verdade. Isso porque o fato de você estar de posse da verdade não
quer dizer que você vai defende-la da melhor maneira possível. E vocês sabem
que entre os Gregos apareceram os Sofistas. E o que eram os Sofistas? Eles
eram como que “Maus Advogados”, recebiam dinheiro parar poder
convencer as pessoas do que o cliente queria convencê-las, independente
se estava levando a verdade ou a falsidade, se era correto ou incorreto.
Eles tinham uma técnica muito profunda de persuasão que deixariam os
marqueteiros hoje no chinelo. Esses personagens, os Sofistas, que existiam na
época do desenvolvimento da Filosofia Grega, eles são fruto de uma época
onde um certo intercâmbio cultural pode favorecer uma confusão mental. Muitas
opiniões diferentes expostas e se você não tem um critério muito firme para
diferenciar, discernir a verdade do erro ali você acaba acreditando que não
existe verdade ou erro. Você acaba acreditando que tudo depende do
ponto de vista de cada um, e que aquele que fala melhor, aquele que
consegue persuadir melhor, ele vai acabar sendo o fator determinante
daquela cultura ali. É o que acontece hoje. O que acontece hoje quando um
jovem entra na Universidade? Quando eu estava na faculdade de Filosofia, você
começa a aprender um monte de Filósofo e não começa em Sócrates, Platão e
Aristóteles, não começa com Santo Tomas. Se der sorte, ótimo, mas não é
assim. Eles começam com René Descarte, Hegel, Kant, Marx, essa turma
moderna onde cada um pensa diferente do outro. Um fala uma coisa, depois, 50
anos se passam e outro vem e fala do modo oposto, e outro vem e fala outra
coisa completamente diferente dos outros dois, e assim vai. Você entra na
faculdade aprendendo isso, o que não aconteceria se você entrasse na
faculdade aprendendo Tales de Mileto, Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, e
porquê? Porque ali era uma Tradição, onde um estava ajudando o outro a
pensar a verdade das coisas. O fato é que, quando um jovem entra na
faculdade hoje, ele é como que se fosse colocado diante de uma vitrine com
vários pensadores diferentes, e ele é levado, ele é convidado explicitamente a
escolher um desse produtos que lhe são apresentados, porque uma das
primeiras perguntas que vão fazer ao jovem é pedir para ele se posicionar: de
qual linha você é? Você é um Marxista, um Kantiano, um defensor da lógica
matemática e o jovem acabou de entrar. E o que isso causa no jovem? Causa
nele uma forte impressão de que não existe uma verdade, de que tudo é
uma questão de preferência. Esse é o grande problema de uma cultura
secularizada. A secularização da cultura onde não existe mais critério para
você poder separar a verdade do erro e as coisas começam então a se
equivaler como preferências subjetivas. A importância da Apologética para
o tempo atual talvez seja essa. Ela te fornece um critério para você
conseguir separar o joio do trigo, separar a verdade do erro com a seguinte
diferença em relação á Dialética. Dialética é uma técnica filosófica criada por
Sócrates cuja finalidade é justamente te dar um critério para separar a verdade
do erro. Ele criou isso para combater os Sofistas que ficavam lá enganando todo
mundo. E Sócrates então disse: tem que haver um critério para separar a
verdade do erro. Não é possível que seja assim. O cara te convence de que
Deus existe e um minuto depois a gente conversa de novo e ele me diz o
contrário e fica por isso mesmo? Não dá. Uma coisa não pode ser diferente
dela mesma. Existem critérios na realidade que a Razão humana compreende,
então tem que ter uma técnica para você saber usar esse critério e separar a
verdade do erro. E então Sócrates cria uma coisa chamada Dialética, e o que
nós estamos falando aqui é sobre Apologética. E qual a diferença entre
Dialética e Apologética? A Apologética parte dos dados da Revelação, ela
aceita a Revelação como uma Verdade. E ninguém aqui entre nós, mesmo
tendo nossas dúvidas subjetivas, nossas fraquezas espirituais, mas do ponto de
vista da profissão de fé que nós fazemos todo domingo e fizemos no Batismo,
ninguém aqui tem dúvida das Verdades Fundamentais da Revelação Cristã.
Então, nós partimos disso, nós Cremos naquilo. A Razão e a Dialética, portanto,
a Filosofia vai entrar aqui como uma espécie de auxiliar da Fé, que vai como que
ramificar as verdades da fé, levar a luz de fé até regiões onde ela ainda não
penetrou. Por exemplo, quando você encontrar um amigo, um professor, um
afilhado, um sobrinho, um irmão, um parente que entra para a Universidade e
começa a ouvir uma série de argumentos muito lógicos, mas muito lógicos
mesmo, extremamente lógicos, pois o Diabo é lógico, e quando ele pensa no
que ele aprendeu no Catecismo da Igreja Católica, ele só consegue lembrar de
que ele tinha que crer naquilo. É um ‘eu creio’, mas assim, quando eu creio, até
eu conseguir ver a luz da fé com a clareza com a qual um Santo vê, tem um
trajeto a percorrer. No começo, a luz da fé é fraca, ou seja, o conhecimento que
vem pela fé, no começo, é fraco e por isso que nós pedimos Fé! O
conhecimento vem aos poucos, e tudo é uma progressão, uma construção, pois
somos seres em construção, e por isso dizemos sempre, que não se ama aquilo
que não se conhece. Precisamos conhecer. Veja, a fé produz um conhecimento,
mas não é um Conhecimento Racional, e ainda que você o tenha, na hora de
você transmiti-lo para outro, você dá o seu testemunho, você professa a sua fé
agindo como um Cristão. E isso é muito bom e muito eficaz, mas em alguns
casos é necessário algo mais do que isso. É necessário ser um ‘Pedagogo
da Fé’ (salvo engano foi Boécio quem disse isso). Pedagogo é aquele que
conduz a criança pela mão e produz um movimento de elevação. É como se
fosse quando uma criança quer subir / ascender num lugar onde ele não
consegue. O Pedagogo faz isso, só que espiritualmente. E em alguns casos
vamos sentir a necessidade de um pedagogo para a fé. E as vezes para nós
mesmos com alguma caminha da espiritual. Nós podemos ser o sujeito para o
qual a Apologética vai ser útil, mas também para defender a nossa fé perante os
ataques que ela irá receber, para converter alguns, e por todas essas razões a
Apologética será esse pedagogo da fé. Será alguém que vai te dar a mão lá
onde você está, uma pessoa que ainda acredita que o homem veio do
macaco, acreditando que Deus é uma criação da mente humana, ou que
Deus é fruto do inconsciente, da luta de classes, ou que Cristo na verdade
foi só um grande sábio, porque na concepção dessas pessoas, Deus não
pode ser um homem, Deus não pode morrer, e tem uma senhora que
acreditava nisso, que Deus não poderia ter morrido. E não dá para você
dizer de primeira mão que essa senhora está errada, pois nós sabemos que
Deus enquanto Deus, não pode morrer mesmo. E o que está faltando nessa
senhora que disse isso? Falta a compreensão, pois ela não vai ter o primeiro ato
de fé sem o mínimo de compreensão disso. Algumas pessoas precisam
percorrer uma certa trilha com a Razão para conseguir fazer o primeiro ato
de fé. E ainda mais hoje nesse mundo secularizado onde tudo é relativizado.
Comigo foi assim. A fé não fazia sentido nenhum para mim até o momento que
eu consegui entender, não muita coisa, pois os Mistérios você não consegue
entender com a Razão, como por exemplo, a Santíssima Trindade, a
Encarnação, mas um grau de Razoabilidade as vezes funciona como um
condutor até a fé, como um pedagogo da fé que pega a sua mão lá
embaixo e a coloca nas mãos de Jesus Cristo. E então a Graça começa a ter
mostrar aquelas coisas que até então você não conhecia.
Então a Apologética serve para isso, pois ela é um tipo de Teologia, e existem
vários tipos de Teologia, como por exemplo, a Teologia Dogmática que a fé; e
temos a Teologia Mística que trabalha os procedimentos internos da vida de
oração pelo qual você vai ascendendo na caridade (lendo os livros de Santa
Tereza, São João da Cruz por exemplo); temos a Teologia Simbólica que vai
analisar o simbolismo contido nas Escrituras e além de outras temos a chamada
Teologia Fundamental ou Teologia Apologética que é uma ciência a respeito de
Deus que tem por finalidade de algum modo, defender, usando a Razão,
fundamentar racionalmente, quer dizer, cientificamente (e ciência no sentido
estrito é razão), então, fundamentar racionalmente o que for possível de ser
fundamentado racionalmente para defender a Revelação Cristã e o Magistério
da Igreja. E porque fundamentar racionalmente o que for possível de ser
fundamentado racionalmente? Porque nem tudo pode ser fundamentado
racionalmente. Tem questões de fé que realmente não dá para você
fundamentar racionalmente. Mas, mesmo essas questões, que são dados de
Revelação que exige de nós um ato de Fé muito profundo, a Apologética pode
apresentar argumentos de Razoabilidade. Podemos mostrar no seguinte
sentido: dizer que não dá para provar por A mais B que isso é assim, mas todas
as outras possibilidades são muito mais difíceis e muito mais irrazoáveis
do que essa. E quando você está diante de uma verdade que não dá para
provar, isso aqui funciona quase que como uma prova cabal. Então, no diálogo
entre Fé e Razão que aprendemos na escola como se fossem coisas opostas,
que é uma herança que vem da época de Galileu, onde começaram a criar essa
falsa oposição entre Fé e Razão, a Apologética, tal como era realizada pelos
primeiros Padres Filósofos, esse diálogo é como uma amizade mesmo. Isso
porque Deus fez o homem com uma Luz Natural, que é a Razão, e depois Ele
acrescenta, dá ao homem uma outra Luz, que é uma Luz Sobrenatural, a Luz
da Fé. E uma luz não pode se opor a outra. Percebam então que uma luz não
pode se opor a outra. Se eu estou com uma lanterna aqui e alguém acende um
refletor atrás de mim, o refletor vai vir para somar, iluminar mais ainda. Luz com
luz é mais luz. E a Razão é uma Luz Natural e toda luz tem por objeto a
Verdade. Toda luz te mostra algo, te revela algo. E os Santos Padres
tiveram uma consciência muito clara disso percebendo que não pode
haver oposição entre Fé e Razão. Essa oposição significaria uma oposição
na própria intenção de Deus. Ao criar um ser humano dotado de uma Luz
Natural, que fosse contrária a uma Luz Sobrenatural que Ele daria para
esse mesmo ser humano depois. O que pode acontecer é a Luz Natural por si
só não ter o alcance para compreender algumas verdades, que justamente por
isso são Reveladas, dadas por Deus ao homem. E se a Razão Natural, essa Luz
Natural, essa Inteligência não têm a capacidade natural para alcançar essas
verdades sobrenaturais, ao nos serem dadas essas Verdades Sobrenaturais, ou
seja, a partir do momento em que a Revelação é dada ao homem, Deus também
tem que dar ao homem um acréscimo de luz. Percebem? Eu não posso dar
uma coisa muito grande para você sem de algum modo modificar,
aperfeiçoar a sua capacidade de inteligir, de compreender, de receber essa
luz que eu estou te dando. É aí que entra a Graça (a Graça ilumina a
inteligência e conduz a vontade) que infunde no organismo, no Espiritual
humano, na Alma humana a Fé, que é um aperfeiçoamento da Inteligência
pelo qual ela se torna capaz de vislumbrar, de aderir a essas Verdades
Sobrenaturais. Veja que não temos oposição entre Fé e Razão. São duas
luzes. O que pode acontecer e o que acontece é de algumas Verdades
Reveladas serem grandes demais para a Razão, para serem expostas na
forma de um raciocínio, na forma de um argumento. E por isso os Santos
Padres e o próprio Cristo se valem muito de Analogias onde você usa um
símbolo, você conta uma historinha para que o sujeito possa fazer uma
ideia de como é aquela Verdade. Quem tem filhos sabe disso. As vezes a
criança pergunta umas coisas, mas o objeto da pergunta dela faz parte de
uma esfera da realidade da qual ela mesma não faz parte ainda. É como se
meu filho de 10 anos perguntasse a mim, pai, o que é o Superior Tribunal
Eleitoral? O que vou falar para ele? O que eu posso fazer quando a Razão
dele não tem condição de alcançar esse conhecimento, é encontrar na
esfera existencial dele, nos brinquedos dele, nas coisas que ele faz, algo
que seja análogo àquilo que seja uma miniatura daquilo. Analogia é isso, é
você encontrar numa escala inferior uma miniatura de algo que está numa
escala superior. Isso resolve o problema totalmente? Não! Mas isso faz a
sua Alma dar um voo súbito, nos eleva e nos faz ter uma ideia do que seja
aquilo. É um tipo de raciocínio que é utilizado justamente quando a Razão
humana não pode apreender algumas Verdades que são luminosas demais
para ela.
Mas veja bem, o que é luminoso demais para a Razão humana não contraria a
Razão humana. Transcende a Razão humana. Uma coisa é eu querer
convencer vocês de que se eu tenho 4 maças e eu tiro 2 eu vou ficar com 6. E
isso não dá para convencer ninguém racionalmente, pois tem algo em vocês que
vão repudiar isso. E esse algo em vocês que repudia isso é a Luz Natural. E o
nosso instrumento de trabalho na Apologética será isso. A Fé é um
pressuposto. Quanto mais nós rezarmos, quanto mais a gente Crer, mais a
nossa Razão vai funcionar com clareza, com pureza. Mas o nosso instrumento
vai ser isso que cada um de vocês possui, pelo qual, ao tentar convencer vocês
de uma coisa tão absurda quanto essa, das 4 maçãs tirando 2 ficam 6, vocês
imediatamente sentem uma repulsa intelectual. Algo dentro de vocês
rejeita isso porque identificou uma contradição, uma falsidade lógica. E
isso é uma coisa contrária a Razão e que nós chamamos de Irracional. Mas
quando estamos diante de Verdades Reveladas que a Razão não pode
alcançar, a Razão não necessariamente sente essa repulsa. Ela até pode
sentir essa repulsa no início, mas será uma coisa subjetiva, uma coisa sua.
Se você começar a utilizá-la com cuidado você perceberá que aquilo
(aquela Verdade Revelada) não se opõe a Razão. Isso só está acima demais
da minha Razão. Esse é o critério que os Apologistas ou Apologetas usavam.
As Verdades de Fé não podem contradizer a Razão, mas elas podem
Transcender a Razão.
E o que a gente faz diante disso? você pode, por exemplo, usar a Razão para
tentar negar essa Verdade que Transcende a Razão para ver se a sua Razão
consegue negar isso. Olhem que coisa interessante. A minha Razão não
consegue provar essa Verdade Revelada ‘X’. Então, deixa eu tentar fazer a
minha Razão provar que isso é falso. Você também não consegue. Esse é o
Sinal de uma Verdade Transcendente, onde você não consegue prová-la,
mas também não consegue refutá-la, provar que ela é falsa. Isso mostra
que a sua Razão não se opõe diretamente a ela, a essa Verdade Revelada.
Sua Razão só não enxerga o suficiente para poder compreendê-la na forma
conceitual.
E porque isso acontece? O Ser Humano, tal como está exposto no Gênesis,
ele foi pensado por Deus, foi feito por Deus como uma Alma em um Corpo.
Uma Alma que vivifica o Corpo, que trabalha a partir do Corpo. Essa é a
diferença fundamental entre o Ser humano e o Anjo. Nós e os Anjos somos
os dois tipos de Criaturas Espirituais que existem. Os Anjos são Espíritos
Puros, eles não têm corpo. Então, a Inteligência deles capta as verdades
diretamente em Deus. O Anjo olha na luz Divina e vê tudo que ele precisa, tudo
o que Deus permitiu que ele visse. Já o homem é um Espírito também, é uma
Inteligência, mas feita para operar a partir do corpo. O corpo não é um
defeito do ser humano, tanto é que uma das verdades Reveladas é a
Ressurreição dos Corpos. Na Vida Eterna estaremos com esse Corpo aqui
que temos agora, um Corpo Glorioso, devidamente modificado pela Glória,
pela presença de Deus, mas o meu Corpo. Lembre-se que Ressurreição
significa Transformação. Daí que será um corpo modificado, transformado,
pela Glória, pela presença de Deus. E isso quer dizer que a Inteligência
humana, ela foi feita para operar a partir dos órgãos corpóreos. E quais são
os órgãos corpóreos responsáveis pelo conhecimento? Os 5 Sentidos. Nós
vemos as coisas, nós ouvimos, nós tocamos, a imagem das coisas percebidas
pelos 5 sentidos passa para a nossa imaginação. Por exemplo, quem nunca me
viu e está me vendo pela primeira vez hoje, chegando em casa e se se recolher
um pouco, terá uma imagem do meu rosto. Essa percepção sensível visual
passou para a imaginação. Lá na imaginação a sua inteligência começa a captar
o que chamamos em Filosofia de conceito, começa a captar as verdades,
começa a entender as coisas. Parece complicado, mas não é tanto assim. Veja,
compare-se a si mesmo com um animal. O animal também vê, imagina, pois
você percebe pelo comportamento do animal que ele tem lembranças. O fato de
ele reagir de maneira diferente de uma pessoa para outra quer dizer que ele tem
na memória dele algo guardado que é a imagem e alguns afetos inclusive
despertado por aquela imagem. Mas o animal não sabe que aquilo ali é uma
pessoa, ele não sabe que aquela pessoa é o dono dele. É claro que em algum
sentido ele sabe que aquela pessoa é o dono dele, mas ele não tem o conceito
de dono na cabeça dele. Perceberam a diferença? Ele não sabe o que é ser
dono. Pra ele dono é uma fonte de onde vem coisa boa todos os dias, que se
resume a comida. É uma imagem física que está na memória dele vinculada a
uma alegria, pois dali vem carinho e comida. Por isso ele reage assim, mas ele
não sabe o que é ser um dono. Ele não sabe o que é uma pessoa, o que é um
cachorro, o que é uma comida. No sentido intelectual, ele não pode escrever um
artigo sobre o que é comida, e não é só porque ele não sabe escrever, mas
porque ele não consegue entender o ser das coisas, pois se soubesse ele
faria um esforço e daria um jeito de comunicar isso. Já a Razão humana, a
Inteligência humana funciona a partir da imaginação. No animal, o mundo
externo chega até a imaginação e para. No ser humano, atrás da
imaginação tem essa Luz Natural que Deus no deu, que é a Razão, a
Inteligência. Essa Razão olha para o conteúdo da Imaginação e dali ela
começa a perceber as coisas para as quais ela foi feita. E parar que coisas a
nossa Razão foi feita? Para coisas que nós chamamos Verdades. E ela
começa a perceber as verdades, a essência das coisas, o ser das coisas
que é a mesma coisa. E percebemos o que é o cachorro, o dono do cachorro,
percebemos que o cachorro não percebe que o dono é dono. E tudo isso que eu
estou falando aqui eu jamais poderia falar para uma plateia de cachorros. Só
conseguimos falar sobre os cachorros porque nós não somos cachorro. Aliás
isso bastaria para refutar a nova moda na internet, de pessoas que acham que
são cachorros, gatos, etc. O camarada cisma de achar o que ele não é.
Pensemos bem sobre isso. Qual o pré requisito para que você decida ser um ser
diferente daquele que você é? Qual a única espécie que pode fazer um
negócio desses, que pode tentar fazer um negócio desses? A espécie
humana, é claro, porque só ela percebe o ser das coisas. Um cachorro
jamais poderia querer ser um gato, pois ele não sabe nem que é cachorro,
quanto mais ser gato. Ele não tem essa noção intelectual. O ser humano tem e
por isso ele pode fingir que é um cachorro. Então, quer dizer, o ato pelo qual o
sujeito tenta convencer as pessoas de que ele não é um ser humano, é a
maior prova cabal de que ele é sim um ser humano. E isso é Apologética, por
incrível que pareça. E sabem porquê? Porque uma das verdades na nossa
Religião está lá no Gênesis, onde Deus vai criando as coisas e cria segundo a
sua espécie. Cada planta, cada animal, cada coisa segundo a sua espécie. E
os adeptos de tal pensamento, de acharem que são de outra espécie, chamam
de preconceito, você achar que pertence a uma espécie. Para eles espécie não
existe e te convenceram disso. Ora, saber defender o valor da espécie, saber
argumentar a favor da existência de espécie tem uma importância para a nossa
fé! Percebem isso? É claro que temos coisas mais importantes, mas vocês
vivem no mesmo mundo do que eu e vocês sabem que a coisa está chegando
num nível de barbaridade que isso se tornou uma coisa importante.
Simplesmente começou a aparecer pessoas que acreditam nisso, que não
existe espécie, que ele não é um ser humano, e que ele pode ser qualquer coisa
que ele quiser. Cristo nos deu um mandamento: “ide e ensinai a todos os povos”.
Amar ao próximo em última instância é isso. Você creu, foi batizado e agora vai
e ensine. E como vou fazer isso diante de uma pessoa que acha que é um
cachorro? Primeiro temos que dizer a ele que ele é um Ser humano, uma Alma e
essa Alma é imortal. Se o cara entender que essa Alma é imortal, para você
explicar para ele o que é Revelação já será muito mais fácil do que o sujeito que
não acredita em alma imortal. Eles acreditam que morreu, acabou. Difícil falar
em Revelação como um cara desse. Como vou converter ou defender a sua fé
diante de uma pessoa assim. Eu terei que saber muito bem falar do que é uma
alma imortal e provar, pois a alma imortal é uma verdade de fé, mas também é
uma verdade que pode ser perfeitamente provada pela razão humana. É isso
que chamamos de Preâmbulos da Fé. Preâmbulos da Fé são aquelas coisas
que antecedem a fé e que são condições para que as pessoas tenham fé. Se o
sujeito não entende que ele é um ser humano, que ele é uma alma imortal,
que ele é dotado de razão, de inteligência, até porque a fé depende da
razão / inteligência, ela é um aperfeiçoamento da inteligência. Se ele não
entende que Deus existe, ele não vai conseguir, apesar de que a Graça
pode tudo, o Espírito sopra onde quer, mas no geral ele não vai conseguir
fazer o primeiro ato de fé dele que é necessário para que haja conversão.
São João Crisóstomo dizia que em tempos de Crise Espiritual, tempos como o
nosso, até mesmo os Milagres São Ineficazes. Num mundo secularizado,
relativista as pessoas vão dizer que tudo não passa de ilusão de ótica,
enganação e é coisa do demônio. Vão dizer que pode até ser coisa
sobrenatural, mas é coisa do demônio. São os “deuses”. E São João Crisóstomo
dizia que nesses tempos de Crise e de Fé, a Única solução é o Uso Copioso da
Palavra. Ele está falando aqui do ensino, e é fácil perceber que ele quer dizer
aqui da Apologética. É você saber usar a inteligência para conduzir as pessoas
até a fé ou para defender a sua fé diante daqueles argumentos que justamente
impedem as pessoas a chegarem até ela. E nós estamos nessa época.
Então, tudo isso que eu falei aqui depende da nossa vida de oração, da nossa
vida de fé, da graça e de tudo isso. É um pedagogo da religião. É um auxiliar
que vai conduzir a luz da fé até estruturas muito distantes da fé para em última
instância, não somente defender a Revelação e o Magistério, como também tirar
as barreiras que impedem as pessoas de se obrigarem a aderir a essa fé. Que
em última instância tudo isso serve para que o sujeito ouça tudo isso e diga:
meu Deus, eu sou obrigado a aceitar isso. Primeiro porque a minha razão me
obriga, mas o fato fundamental pelo qual a minha razão está me obrigando a
aderir, é a Revelação. Deus veio, Deus falou, Deus transmitiu isso ao homem. E
como é que eu não sou obrigado a aderir a isso, que veio do próprio Deus? E
essa obrigação, por mais que o termo obrigação esteja ligado a escravidão,
constrangimento, essa obrigação é que torna o ser humano livre. Porque
quando você é obrigado pelo que te transcende realmente, você na
verdade está se aperfeiçoando. Uma coisa é você estar obrigado a se colocar
numa situação abaixo da sua dignidade, e isso é o que chamamos de servidão.
E olhem que interessante, tanto liberdade quanto servidão evolvem uma
obrigação. No caso da servidão você está obrigado a servir algo ou alguma
realidade que está abaixo da sua natureza. Já no caso da perfeição, você está
sendo obrigado também, pelo poder da luz, da razão, da própria fé, da
revelação, a se integrar em algo que te transcende. E como diz Santo Tomas da
Aquino, a perfeição de qualquer criatura, de qualquer Ser, é se unir àquilo
que te transcende. O que faz uma coisa perfeita? Ela se une àquilo que é maior
do que ela. Hoje as pessoas usam o termo instalar. É você se instalar numa
ordem superior a da qual você está.
Na próxima aula entraremos no que é a Fé e no que é a Razão. Mas creio que já
ajudou a entender um pouco o que é a Apologética, a metodologia que ela usa,
qual a importância dela para o mundo atual.

Comentários

A mentira se alimenta da verdade. Uma pessoa que fala muito, obstinada por
alguma doutrina errada, em algum momento fala uma verdade que você pode se
utilizar dela para que a razão da pessoa possa aderir a sua razão. Sócrates fazia
isso. A verdade atrai verdade. Não é fácil nos colocar numa posição moral pela
qual a gente consegue controlar os nossos animais interiores e agir com esse
espírito de caridade.
Depois da Idade Média, depois da Escolástica, quando a coisa começou a
desandar, a humanidade passou muito tempo acreditando que o que move a
civilização, o que move a história era algum tipo de fator impessoal, tipo assim, o
progresso, a economia, a luta de classes, e isso são coisas impessoais, são
fantasmas e o interessante que eles são literais. Marx começa sua obra dizendo:
“um fantasma ronda a Europa”. Mas o diabo não esconde o rabo. Na obra de
todos esses ideólogos modernos, você tem trechos profundamente espirituais, é
claro que gnósticos, no sentido negativo da coisa. Mas eles durante muitos
séculos atribuíam ao motor da história a algum tipo de fator impessoal. Isso fez
com que as pessoas naturalmente e aos poucos, começassem a negligenciar
a responsabilidade que a gente tem perante a manutenção da estrutura
social. Começamos a achar que a estrutura social é um elemento da natureza.
Sabe onde isso aparece hoje? Quando você fala para as pessoas que daqui a
pouco vai estar legalizada a pedofilia e as pessoas te dizem assim: não, isso
não vai acontecer. A sociedade não vai deixar isso acontecer. Isso é um sintoma
de que as pessoas acham que a sociedade e que a história é uma força da
natureza e que se mantém sozinha como as árvores, que quando destrói vem
outra. Elas esqueceram que a sociedade precisa ser mantida por uma Tradição.
E a Tradição se você não cuidar para que a coisas seja transmitida bem, ela vai
se degenerando. Só que quando chegamos no século XVIII e XIX teve um
sujeito que descobriu que estava todo mundo errado e que na verdade o que
move a história era algo que os Filósofos já sabiam e que Cristo falou também,
que é a Palavra. E é por isso que Cristo disse: ide por todo mundo e ensinai,
batizando-os e ensinem. Tem que ensinar, pois o que move tudo é a palavra, o
testemunho, a pregação, a fala, o ensino.
Depois de muito tempo esquecido dessa verdade fundamental, vem Hegel,
filósofo alemão e descobre que o que move a história são as ideias. Só que
Hegel era um gnóstico, ocultista, um gênio do mal vamos dizer assim. E Hegel
fez com isso uma lambança, uma outra coisa. Mas a partir de Hegel vieram
outros filósofos, tais como filósofos da educação americana, a geração
marxista do século XX de Frankfurt que redescobriram Hegel e chegaram a
conclusão de que não é bem a luta de classes que move, não é bem o
progresso da indústria que move a história, mas a Palavra, o Ensino.
Vamos, pois, para a educação (e foram para a educação). É na educação
que eles começaram a modificar isso e Karl Marx chegou a achar isso
desprezível e afirmava que a revolução nunca iria acontecer pela
educação. Ele tinha em mente que a revolução aconteceria pela revolução
armada segundo uma lógica mecânica da luta de classes econômica. Mas
o fato é que a partir de Hegel e de pessoas que redescobriram Hegel
depois do Karl Marx, é que começaram a investir na educação. E a eficácia
da destruição por meio da palavra é terrível, degeneradora. E não é aquela
degeneração paulatina que vai acontecendo ao longo dos séculos, mas ela
vai acontecendo de geração a geração. Compare essa geração de agora
com a anterior de 15 ou 20 anos atrás. É uma queda muito grande. E as
quedas vão se tornando mais profundas e as precipitações muito maiores,
porque agora você tem um elemento realmente diabólico, porque agora
existe uma contra inteligência trabalhando para danificar a sociedade.
Temos que ter muita esperança em Deus, nossa certeza, porque, do ponto de
vista terrestre parece que as coisas estão caminhando para uma direção muito
abissal. No entanto, eu não sei se no mundo, mas no Brasil, na última década,
também está havendo um redescobrimento do poder da palavra, pois
pessoas estão ensinando, estão falando, e estão vendo que a verdade tem um
poder de propagação que supera não só o da mentira, mas supera o do dinheiro
investido nessas instituições de educação feita por fundações, grupos etc. Não
tem muita razão para a desesperança, mas tem muita razão para trabalhar,
que é o que temos feito. Aprender e ensinar, e principalmente com os nossos
filhos. Um pai hoje tem que ser capaz de explicar para o filho com mais
veracidade, com mais razoabilidade, com mais retórica, e ser convincente
para refutar aquelas coisas que o filho aprende na escola. Os professores
são muito ruins hoje, extremamente ruins do ponto de vista intelectual, retóricos.
E como são muitos, e falando a mesma linguagem, acabam por influenciar o seu
filho. Mas se o pai estuda um pouco, entende o mínimo necessário para
conseguir falar com autoridade para o filho, o poder da autoridade da
verdade fará com que o filho nunca mais corra risco dentro da sala de aula.
E digo que nunca mais, pois seu filho começará a perceber a ladainha ideológica
que camufla a verdade por parte desses maus professores, que são repetitivos e
sem autoridade. Percebam quando Cristo falava. Eles diziam que Ele falava
com autoridade. Sim, falava, pois Ele trazia a Verdade. Essa autoridade
vem da Verdade. A Verdade não é nossa. Vejam quando falamos uma verdade
em uma palestra por exemplo, e depois de 10 anos você encontra com uma
pessoa que estava nela e ela te diz: “Professor, o senhor falou uma coisa
naquela palestra que até hoje eu não esqueço. Aquilo me tocou e eu fui para um
caminho bom na vida”.
Os marxistas sempre recorrem a um pensador maligno para poder nos atacar e
continuar o movimento deles através dessa invasão na educação, na mídia, nas
universidades, e nós precisamos sempre recorrer a uma Tradição pensante para
conseguir reafirmar a nossa esperança, a nossa fé, a verdade. E quando
fazemos isso, eles não conseguem ir muito longe. A corrupção da palavra é
muito danosa, é muito ruim e eles a enfeitam para o mal. E então, o dano se
torna grande. E hoje temos uma quantidade de dinheiro incalculável sendo
investido em Universidades, em ONGS, Institutos criados a pelo menos desde a
década de 40 só para formar sociólogos, psicólogos, biólogos, teólogos,
filósofos, e formá-los não só para entrar nas universidades, mas para ocupar
cargos na ONU, na UNESCO, nos Governos, nas Mídias, dentro da própria
Igreja, porque essas ongs vão para as nações e dão assistência para um
governante e na hora que ele tem que formar o seu ministério, eles entram
também. Tem instituições deles criadas só para ensinar países a fazer a sua
constituição. Tudo preparado dentro dessa lógica, e isso que estou falando é
perfeitamente rastreado, e quando você começa a estudar você vai rastreando
isso. E se você sabe, como nossos inimigos sabem, que o que move o mundo
não é o progresso, não é a tecnologia, não é a luta de classes, mas é a palavra,
então não tem teoria da conspiração. Quando que as pessoas acham que é
teoria da conspiração? Quando elas ainda não entenderam que o que move o
mundo é a palavra. O que muda o curso de uma nação é um telefonema. É o
falar com o outro, é a palavra. Quando você entende isso não tem teoria da
conspiração. São pessoas que estão agindo no mundo, e pessoas agindo
sobretudo por meio da palavra, para o bem ou para o mal.

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