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DEONTOLOGIA
PROFISSIONAL
Deontologia Profissional
UNIDADE II
2018
Ficha Técnica:
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................4
ESTRUTURA DA UNIDADE II...................................................................................................................5
CAPÍTULO I- PROFISSÃO ............................................................................................................................6
1.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO ...........................................................................................................6
1.2. DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA PROFISSÃO ............................................................................7
1.3.DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE DEONTOLOGIA ................................................................................8
1.3.1 ORIGEM DO CONCEITO DE DEONTOLOGIA..................................................................................8
1.3.2 A DEONTOLOGIA E A SUA RELAÇÃO COM A PROFISSÃO .............................................................9
1.4. IMPORTÂNCIA DA ÉTICA PROFISSIONAL ..................................................................................... 10
CAPÍTULO II- FORMALIZAÇÃO ÉTICA ...................................................................................................... 11
2.1. DEFINIÇÃO DO CONCEITO ........................................................................................................... 11
2.2. INFRA-ESTRUTURAS ÉTICAS ........................................................................................................ 11
2.3. O CÓDIGO .................................................................................................................................... 12
2.3.1. TIPOS DE CÓDIGOS DE ÉTICA ................................................................................................... 12
2.3.2. O QUE OS CÓDIGOS TÊM DE COMUM ..................................................................................... 13
EXERCÍCIOS ......................................................................................................................................... 14
CAPÍTULO III - VIRTUDES PROFISSIONAIS ............................................................................................... 15
3.1 CONFIDENCIALIDADE E PRIVACIDADE.......................................................................................... 17
3. 2. PRIVACIDADE E CONFIDENCIALIDADE NA ACTUAÇÃO DO PROFISSIONAL ................................ 20
3.3 O PROCESSO DO PACIENTE .......................................................................................................... 21
3.4. LEALDADE .................................................................................................................................... 22
3.5. COMPETÊNCIA ............................................................................................................................. 22
3.6. COMPREENSÃO ........................................................................................................................... 22
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO ................................................................................................................ 24
CAPÍTULO IV - ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES ............................................................................................ 26
4.1. DIMENSÕES DO CLIMA ÉTICO ..................................................................................................... 27
4.2. OS INDICADORES DO CLIMA ÉTICO NAS ORGANIZACIONAL ....................................................... 27
EXERCÍCIOS ......................................................................................................................................... 33
CAPÍTULO V – O PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO ÉTICA – DILEMAS ÉTICOS ................................. 34
5.1.PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO ........................................................................................... 34
5.1.1. FACTORES QUE INFLUENCIAM A TOMADA DE DECISÃO ......................................................... 34
6.1.2. PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO TRADICIONAL ................................................................ 34
ESTRUTURA DA UNIDADE II
A presente unidade é composta por cinco capítulos e visa propiciar aos estudantes os elementos
indispensáveis para a compreensão da Ética no âmbito Profissional, isto é, deomtologia através
do domínio de conteúdos desenvolvidos nos capítulos que a compõe,nomeadamente:
O primeiro capítulo debruça-se o contexto de profissão, onde serão apresentados entre outros
aspectos, algumas premissas básicas que orientam o relaciomento do profissional com os seus
cliente e/ou pacientes;
O segundo caítulo pretende tecer considerações sobre o processo de formalizações éticas,
explicando os procedimentos necessários e sua relevância na vida profissional;
O capítulo três aborda as virtudes de um profissional ideal;
No capitulo quatro é tratada a questão da ética em organizações, isto é, ilucida-se o panorama de
um ambiente e cultura ética em organizações que é o centro das atenções da ética profissional;
Para finalizar, temos o capítulo cinco que aborda sobre os procedimentos a condiderar em
processos de tomada de decisão em contextos éticos- O dilema ético.
O profissional deve estar em contínua relação com o código de ética, que pode ser entendido
como uma relação de práticas de comportamento que se espera que sejam observadas no
exercício da profissão. O código de ética tem como objectivo habilitar o profissional a adoptar
uma atitude pessoal, de acordo com os princípios éticos. Tais princípios dizem respeito à
responsabilidade perante a sociedade e para com os deveres da profissão.
No código de ética profissional são detalhados os conceitos básicos relacionados com os direitos
e deveres dentro de uma profissão e que sejam cumpridos. Estabelecido o Código de Ética, cada
profissional deve subordinar-se sob pena de incorrer em transgressão, punível pelo órgão
competente, incumbido de fiscalizar o exercício profissional. Tal código assume um papel
relevante na garantia da qualidade dos serviços prestados, bem como na conduta profissional.
Em condições normais a profissão tem um carácter benéfico para quem a exerce e ao mesmo
tempo está dirigida a outros, que também se verão beneficiados. Na essência, a profissão tem
como finalidade o bem comum e o interesse público (Kotler, 1997). Portanto, a actividade
profissional deve ser desenvolvida de maneira estável e honesta em interacção com outros, em
conformidade com a própria vocação e respeitando a dignidade da pessoa humana.
Todas as profissões têm como raiz o processo da divisão do trabalho. Entretanto, todo o trabalho
deve ser digno, merecer um profundo respeito e tem que ser retribuído de forma justa.
Com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sob o auspício das Nações Unidas,
podem ser considerados os seguintes artigos (23 e 24) em torno da dignidade do trabalho:
Artigo 23.1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do seu trabalho, às
condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
2. Toda a pessoa tem direito, sem discriminação alguma, a salário igual por igual trabalho.
3. Toda a pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que
assegure a si como à sua família uma existência conforme a dignidade humana e que será
completada, em casos necessários, por qualquer outro meio de protecção social.
4. Todas as pessoas têm direito a fundar sindicatos e a sindicar-se para a defesa dos seus
interesses.
Artigo 24. Toda pessoa tem direito ao descanso, ao desfrute dos tempos livre, a uma limitação
razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.
Os direitos humanos implicam uma ética porque sempre se relacionam de uma forma ou de outra
com os seres humanos: umas de formas indirectas, nomeadamente as actividades que têm a ver
com objectos como a construção de pontes e edifícios, a reparação de automóveis, de
equipamentos, entre outros. Outras, com exigências mais acentuadas porque têm como referência
o homem. Assim, algumas profissões relacionam-se directamente com os seres humanos, como é
O Estado e a sociedade, com as suas instituições, grupos, classes e indivíduos, criam deveres
éticos específicos e definem a conduta relativa a cada um, o que não significa que as obrigações
éticas se confundem com as obrigações legais, impostas pelo poder do Estado ou do Direito. Por
isso, a reflexão sobre as acções realizadas no exercício de uma profissão devem iniciar bem antes
da prática profissional.
A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência, já deve ser permeada por esta
reflexão. A escolha de uma profissão é, por vezes, uma questão de opção. Mas ao escolhê-la,
seja em que circunstância for, o conjunto de deveres para com essa profissão passam a ser
obrigatórios. Geralmente, escolhe-se a carreira profissional sem conhecer o conjunto de deveres
que estão presentes (Kotler, 1997). Assim, em toda a fase de formação profissional, a
aprendizagem das competências e habilidades referentes a prática específica numa determinada
área, deve incluir uma reflexão. Ao completar a formação no nível superior a pessoa faz um
juramento, que significa a sua adesão e comprometimento com a categoria profissional onde
formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional. Esta
adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas constitui a forma mais adequada para o
exercício profissional.
A reflexão do exercício profissional que temos vindo a abordar deve comportar as seguintes
questões:
Estou sendo um bom profissional?
Estou agindo adequadamente?
Sabemos que a conduta humana pode tender ao egoísmo, isto é, para os interesses puramente
individuais. Para deixarem de ser egoístas, os interesses do profissional devem estar alinhados à
sociedade. Para tal é preciso que se acomode a norma, porque estas devem estar apoiadas em
princípios e virtudes. Com as atitudes virtuosas podemos garantir o bem comum. Daí que a ética
tem sido o caminho justo, adequado para o benefício geral, ao voltar-se para a reflexão das
normas que possam guiar a nossa conduta para o bem comum. Por outro lado, a conduta
profissional pode tornar-se agressiva e inconveniente e esta é uma das fortes razões pelas quais
os códigos de ética quase sempre buscam maior abrangência, de modo a inibir tais
comportamentos inadequados ao exercício da profissão. Daí que a ética de cada profissão
depende dos deveres ou da “deontologia ” que cada profissional aplica aos casos concretos que
se podem apresentar no âmbito pessoal ou social.
a) Na área da profissão
A deontologia prevê como norma fundamental, nomeadamente zelar pela competência e
honestidade pelo bom nome ou reputação da profissão, na busca honesta comprometida pelo
bem da sociedade, através dos meios que essa profissão proporciona.
Podemos concluir que, sendo a ética inerente à vida humana, a sua importância é bastante
evidenciada na vida profissional. Cada profissional tem responsabilidades individuais e
responsabilidades sociais, pois envolvem pessoas que dela se beneficiam. A ética é ainda
importante porque na acção humana o fazer e o agir estão interligados. O fazer diz respeito à
competência e à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão.
O agir refere-se à conduta do profissional, isto é, ao conjunto de atitudes que deve assumir no
desempenho de sua profissão.
Pensar em ética é pensar de forma, antes de tudo, reflexiva. É não se sentar em cima de respostas
prontas. Para viver eticamente em qualquer ambiente é preciso primeiro mergulhar dentro de si
mesmo, assumir as escolhas e lutar por um mundo melhor. Acreditar que a felicidade é possível,
já que esse é o objectivo maior da ética.
É do interesse das empresas agir sempre de maneira ética. Todos os melhores funcionários e
fornecedores, tenderão a preferir as empresas com melhores princípios éticos. E os clientes que
têm critério, que sabem escolher, dificilmente serão leais a um produto de menor qualidade, ou a
um serviço que seja pouco eficiente. A ética está directamente relacionada com valores morais,
com o bem e o mal, o que é certo ou errado. Entretanto, de acordo com Nash (1993) existem
muitas razões para a recente promoção da ética no pensamento empresarial. Os administradores
percebem os altos custos impostos pelos escândalos nas empresas: multas pesadas, quebra da
rotina normal, baixo moral dos empregados, aumento da rotatividade, dificuldades de
recrutamento, fraude interna e perda de confiança pública na reputação da empresa.
1
Clima ético é a percepção compartilhada dos empregados sobre os padrões éticos – valores, práticas e
procedimentos – da empresa organização ou instituição, e como eles são aplicados no relacionamento entre os
indivíduos dentro da organização e na interacção dela com os seus stakeholders (parte interessada ou interveniente).
Reflecte tanto o conteúdo moral das decisões — o que deve ser feito – quanto o processo e a prática de tais decisões
— como deve ser feito.
2.3. O CÓDIGO
Depois de termos apresentado na secção anterior as infra-estruturas éticas, em seguida iremos
reflectir sobre cada uma delas.
Um código de ética profissional é um conjunto de princípios que encoraja ou proíbe certas
condutas profissionais. Os códigos de ética são prescrições normativas que justificam certos
objectivos e padrões de comportamento. Todas as profissões têm princípios éticos acerca do
meio apropriado para os profissionais se comportarem em relação ao público e a cada colega
(Arruda at.al, 2000). Portanto, o código constitui uma garantia de explicação dos preceitos
éticos. Por isso, não se pode infringir um código que não existe.
O código de ética adquire um mérito adicional quando +e precedido por discussões sérias que
promovam a compreensão e reforcem o compromisso relativamente a princípios acordados. Daí
que muitos códigos são denominados códigos de conduta, isto é, lidando com o que se deve
fazer. Porém, os códigos são derivações da mente humana e uma imposição ao colectivo. Eles
partilham os diferentes valores que os proponentes lhes atribuem. A necessidade de tais normas
deriva de um fracasso da boa vontade. Se todos gostassem do próximo como de si mesmos e se
comportassem segundo os princípios mais elevados, os códigos pouco seriam necessários.
2.3.1.1.Códigos Formais
Usam-se códigos formais para se captar e codificar a experiência. Estes fazem uma declaração de
princípios que se destinam a servir de linhas de orientação para acções éticas (Marcier, 2003). A
sociedade opera em dois códigos: um corresponde às leis, estatutos e regulações formais; o outro
corresponde ao nosso discernimento social informal e mais geral. Quando alguém infringe as
regras informais pensamos nas sanções legais que podem ser aplicadas.
Os códigos de ética têm de ser de qualidade fixa. De nada valeria dispor de uma série de códigos
de penitência variável. Imaginem uma organização de profissionais (ex: gestores, psicólogos
com diversas divisões). Seria bastante inadequado que uma das divisões fosse orientada por um
conjunto de regras, enquanto uma outra aplicasse um conjunto diferente e menos restrita de
normas éticas. Tal prática equivaleria a uma utilização cínica da ética como expediente. Contudo
EXERCÍCIOS
(se tiver dúvidas, consulte os pontos 1.2, 1.3, 1.4 do capítulo I e 2.3 do segundo
capítulo)
a) Honestidade: é a conduta que obriga ao respeito e à lealdade para com o bem de terceiros.
Um profissional comprometido com a ética não se deixa corromper em nenhum ambiente,
ainda que seja obrigado a viver e conviver com ele. A honestidade deve ser praticada
também na competição, isto é, todas as promoções de vendas devem seguir os princípios de
honestidade na competição, baseando-se pelo respeito aos concorrentes, consoante
naturalmente aceito no mundo dos negócios e em respeito à lei;
b) Coragem: ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a defender-se dignamente quando está
consciente de seu dever. Ajuda a não ter medo de defender a verdade e a justiça,
principalmente quando estas forem de real interesse para outrem ou para o bem comum.
Significa ainda ousar tomar decisões indispensáveis e importantes,
c) para a eficiência do trabalho, sem levar em conta a opinião da maioria;
d) Humildade: a humildade dá ao profissional a possibilidade de crescer. Só assim o
profissional consegue ouvir o que os outros têm a dizer e reconhecer que o sucesso
individual é resultado do trabalho da equipa. O profissional precisa de ser humilde para
admitir que não é dono da verdade e que o bom senso e a inteligência são propriedades de
um grande número de pessoas. Portanto, representa a auto-análise que todo o profissional
deve praticar em função de sua actividade profissional, a fim de reconhecer melhor as suas
limitações. Trata-se de buscar a colaboração de outros profissionais mais capazes, se tiver
esta necessidade e dispor-se a aprender, numa busca constante de aperfeiçoamento;
e) A honestidade: está relacionada com a confiança que nos é depositada, com a
responsabilidade perante o bem de terceiros e a manutenção de seus direitos. É muito fácil
cair na falta de honestidade quando existe a fascinação pelos lucros rápidos, privilégios e
benefícios fáceis, ou pelo enriquecimento ilícito em cargos que outorgam autoridade.
Portanto, a honestidade é a primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não
admite relatividade, tolerância;
f) Sigilo: é a completa reserva quanto a tudo o que se sabe e que lhe é revelado ou o que veio a
saber por força da execução do trabalho; O respeito pela vida das pessoas, dos negócios ou
das empresas deve ser desenvolvido na formação nos profissionais, pois trata-se de algo
muito importante. Uma informação sigilosa é algo que nos é confiado e cuja preservação de
silêncio é obrigatória. Revelar detalhes ou mesmo frívolas ocorrências dos locais de
trabalhos, em geral, nada interessa a terceiros. Por outro lado, existe o agravante de que
planos e projectos de uma empresa ainda não colocados em prática possam ser copiados e
colocados no mercado pela concorrência, antes que a empresa tenha tido oportunidade de
lançá-los. Por outro lado, documentos, registos contáveis, planos de marketing, pesquisas
científicas, hábitos pessoais, entre outros, devem ser mantidos em sigilo e a sua revelação
pode representar sérios problemas para a empresa ou para os clientes do profissional.
Os deveres de uma profissão são obrigatórios. Devem ser levadas em conta as qualidades
pessoais que também concorrem para o enriquecimento de sua actuação profissional, algumas
delas facilitando o exercício da profissão. Muitas dessas qualidades poderão ser adquiridas com
esforço e boa vontade, aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer da sua
actividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las ao
lado dos deveres profissionais.
Numa pesquisa, por exemplo, são utilizados dados constantes em questionários, entrevistas,
processos e bases de dados para um fim específico. Essas informações não deverão ser utilizadas
para outros fins.
De acordo com Eduards (1988, citado por Costa et al., 1998) não é difícil para um profissional
de saúde entender que a confidencialidade é um dos pilares fundamentais à sustentação de uma
relação de confiança com um paciente. É esta garantia que faz com que os pacientes procurem
auxílio profissional quando necessitam, sem medo de repercussões económicas ou sociais, que
possam advir de seu estado de saúde.
Para Costa et al. (1998), a garantia da preservação do segredo das informações, além de uma
obrigação legal contida no Código Penal e na maioria dos Códigos de Ética profissional, é um
dever de todos os profissionais, e das instituições. Este conceito foi proposto por David Ross
(1930). Ele propunha que não há, nem pode haver, regras sem excepção.
De acordo com Costa et al. (1998), a preservação das informações é um compromisso de todos e
para todos. Portanto, existe a necessidade de os profissionais de saúde protegerem as populações
vulneráveis através de políticas claras sobre o uso das informações geradas ao longo de seu
atendimento pelo sistema de saúde.
Muitos autores e códigos utilizam indistintamente o termo sigilo. A palavra sigilo pode ter o
significado de mera ocultação ou de preservação de informações. Os segredos dizem respeito à
intimidade da pessoa, deve ser mantido e preservado adequadamente. A palavra sigilo tem sido
cada vez menos utilizada. A sua utilização em diferentes idiomas tem caracterizado cada vez
mais os aspectos de ocultação e menos os de preservação.
Importa referir que, a segunda circunstância, em que o profissional de saúde recebe o pedido
para omitir informações ao pedido do paciente, pode ser encarada como um claro exercício de
sua autonomia, preservando sua intimidade e segredos. A primeira solicitação, mentir, pode
constituir-se num acto eticamente inadequado. Recomenda-se aos profissionais de saúde que
tenham nestas situações muita prudência ao abordar os seus familiares. Portanto, este deverá
entender bem os aspectos psicodinâmicos envolvidos e discuti-los claramente com a família ou
com o paciente, conforme o caso, antes de tomar uma decisão séria como esta: enganar
deliberadamente alguém.
Muitas vezes as informações médicas são primeiro relatadas às famílias e, posteriormente, aos
pacientes. Em alguns países de formação mais individualista, o paciente, de maneira quase que
obrigatória, terá primeiramente acesso às informações e, então decidirá se alguém mais
compartilhará das mesmas consigo ou não.
Como foi abordado nas unidades anteriores, a questão do dilema ético, na realidade, não está
situado entre revelar ou não o diagnóstico ao paciente, ou qualquer outra informação relevante,
mas sim na forma e momento de revelar tal informação.
Vale a pena relembrar que a garantia recíproca de comunicar a verdade e de não ser enganado,
ou seja a veracidade, é um dos princípios básicos sobre os quais se estabelece a relação médica e
paciente. Deve contudo se salientar que a preservação de segredos está associada tanto à questão
da privacidade quanto da confidencialidade.
As crianças e os adolescentes têm, tal como um adulto, o mesmo direito de preservação de suas
informações pessoais, de acordo com a sua capacidade, mesmo em relação a seus pais ou
responsáveis.
Com relação aos pacientes idosos, especial atenção deve ser dada à revelação de informação aos
familiares e, especialmente, aos cuidadores. Estes deverão receber apenas as informações
necessárias para o desempenho de suas actividades de rotineiras ou seja, de dia a dia.
Para Costa et al. (1998), o termo confidencialidade tem origem na palavra confiança, que é a
base para um bom vínculo terapêutico. O paciente confia que seu médico ou psicólogo irá
preservar tudo que lhe for relatado, tanto que revela informações que outras pessoas, com as
quais convive, sequer supõem existir.
As instituições têm a obrigação de manter um sistema seguro de protecção aos documentos que
contenham registos com informações de seus pacientes. As normas e rotinas de restrição de
acesso aos processos de utilização de senhas de segurança em sistemas informatizados devem ser
continuamente aprimoradas. Por sua vez, o acesso de terceiros envolvidos no atendimento aos
pacientes, como por exemplo seguradoras e outros prestadores de serviços, deve merecer
especial atenção sendo apenas disponibilizada a estes a informação estritamente necessária.
A título de exemplo podemos verificar que, em média, durante um internamento clínico habitual
em hospitais norte-americanos, 75 diferentes pessoas lidam com o processo de um determinado
paciente (Costa et al. 1998).
Os profissionais de saúde, assim como todos os demais funcionários administrativos (secretárias
de unidade, funcionários do sector de arquivo de processos, de sectores de internamento, da área
de facturação e de contas dos pacientes, entre outros) que entram em contacto com as
informações, têm o mesmo comprometimento, ou seja, apenas autorização para o acesso às
mesmas em função de sua necessidade profissional, mas não o direito de usá-las livremente
(Costa et al., 1998).
Neste caso, cabe às instituições e profissionais responsáveis pelo atendimento dos pacientes,
especialmente aos médicos e psicólogos, um importante papel educativo e formativo no processo
de manutenção das informações pertencentes exclusivamente aos pacientes.
De acordo com Goldim et al. (1997, citado por Costa et al., 1998), a garantia da preservação da
privacidade deve limitar o acesso à própria pessoa, à sua intimidade. Deve impedir que um
paciente seja observado sem a devida autorização. Isto é extremamente importante no
atendimento de pacientes em Ginecologia, por exemplo, tendo em vista o tipo de exposição a
que são submetidas na maioria dos exames físicos realizados de rotina. Muitas vezes, o espaço
de intimidade destas pacientes é invadido por diferentes pessoas com as quais nunca tiveram
qualquer contacto prévio. Esta situação se agrava quando o atendimento ocorre num hospital de
ensino, onde, além dos profissionais qualificados, surgem também alunos que participam do
processo.
3.4. LEALDADE
Um funcionário leal se alegra quando a organização ou seu departamento é bem-sucedido.
Defende a organização, toma medidas concretas quando ela é ameaçada, tem orgulho em fazer
parte da organização, fala positivamente sobre ela e defende-a contra críticas. Lealdade não quer
dizer necessariamente fazer o que a pessoa ou organização quer que você faça. Lealdade não é
sinónima de obediência cega. (SÁ. 2005)
Lealdade significa fazer críticas construtivas, mas mantendo-as dentro do âmbito da organização.
Significa agir com a convicção que o seu comportamento vai promover os legítimos interesses
da organização. Assim, ser leal às vezes pode significar a recusa em fazer algo que você acha
que poderá prejudicar a organização, a equipa de funcionário.
Entretanto, é possível ser leal a uma organização ou a uma equipe mesmo que você discorde dos
métodos usados para alcançar determinados objectivos. Na verdade, seria desleal deixar de
expressar o sentimento de que algo está errado, se é isso que você sente.
3.5. COMPETÊNCIA
A competência é o exercício do conhecimento de forma adequada e persistente a um trabalho ou
profissão (Srour 2003). Devemos buscá-la sempre. Já dizia Aristóteles “a função de um citarista
é tocar citara, e a de um bom citarista é tocá-la bem”.
Temos que buscar continuamente a competência profissional em qualquer área de actuação.
Portanto, os profissionais devem ser incentivados a buscar competências e mestria através do
aprimoramento contínuo de suas habilidades e conhecimentos. Porque o conhecimento da
ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas profissionais constituem pré-requisitos para a
prestação de serviços de boa qualidade. Nem sempre é possível acumular todo conhecimento
exigido por determinadas tarefas, mas é necessário que se tenha postura ética de recusar serviços
quando não se tem a devida capacitação para executá-los.
3.6. COMPREENSÃO
A compreensão é uma qualidade que ajuda muito o profissional, porque é bem aceite pelos que
dele dependem, em termos de trabalho, facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no
relacionamento profissional. (SÁ. 2005). É bom não confundir compreensão com fraqueza, para
que o profissional não se deixe levar por opiniões ou atitudes, nem sempre válidas para
eficiência do seu trabalho, para que não se percam os verdadeiros objectivos a serem alcançados
pela profissão.
Importa referir que a compreensão precisa, muitas vezes, de ser condicionada pela prudência. No
exercício da sua função, o profissional deve reconhecer e aceitar as diferenças entre pessoas sem
qualquer discriminação baseada no sexo, idade, nacionalidade, raça e etnia, situação
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO
1. Explique em que sentidos os preços, os descontos e ofertas fazem parte dos valores
éticos?
2. Fale da importância da confidencialidade e privacidade no exercício da profissão na área
de saúde ou mesmo para um profissional dirigente de uma organização?
2
Os stakeholders são pessoas que tem ou reivindicam propriedade, direitos ou interesses numa organização.
3
MORRIS, Tom. A nova alma do negócio: como a filosofia pode melhorar a produtividade de sua empresa. Rio de
Janeiro: Campus, 1998.
4
PÉREZ LÓPEZ, Juan António. Liderazgo y ética en la dirección de empresas: la nueva empresa del siglo XXI. Bilbao,
España Deusto, 1998. p. 52-54.
5
HITT, William D. Ethics and leadership: putting theory into practice. Columbus, OH: Battelle, 1990. P.149.
6
NASH, Laura. Ética nas empresas: boas intenções à parte. São Paulo: Makron Books, 1993.
7
MELÉ, Domènec. Ética en la dirección de empresas. Barcelona, España: IESE, 1997.
As acções e os comportamentos dos líderes pesam significativamente mais que suas palavras ou
políticas escritas. Quando as mensagens não são congruentes, os funcionários ficam a ponderar
qual delas deve ser considerada. A sinceridade dos líderes acima do supervisor imediato é posta
em dúvida. As pessoas são forçadas a se apoiar em opiniões de seus pares/colegas ou em suas
próprias crenças para descrever os limites de um comportamento eticamente adequado. Então,
têm que contrabalançar essas visões com aquilo que acreditam ser o que a organização realmente
quer ou espera.
Para Navran, a organização tem suas exigências formais e informais para alcançar o sucesso.
Essas são as expectativas que a organização tem para com seus colaboradores.
Quanto mais explícita e congruente for, maior facilidade o colaborador terá para avaliá-las,
comparando-as com os seus valores e suas crenças pessoais a respeito do que é certo ou errado.
Os funcionários também comparam as expectativas com as suas próprias percepções a respeito
de suas capacidades pessoais. Juntas, essas comparações formam a base de motivação dos
colaboradores para ir ao encontro das exigências da organização, visando a alcançar o sucesso.
Para Navran (citado por Arruda, 2000) há chaves para o sucesso em toda organização. Na
maioria das vezes, tais chaves incluem o trabalho intenso, a auto-motivação e os resultados
excelentes. No entanto, elas não se limitam a isso. Muitas organizações possuem as suas próprias
e específicas chaves de sucesso. Elas podem ser muito apropriadas: associação com um produto
novo, apoio a um mentor ou experiência em certas posições-chaves. As questões éticas surgem
quando essas chaves de sucesso específicas não são universalmente acessíveis, quando entram
em conflito com a posição ética declarada pela organização ou com os valores pessoais
amplamente aceites pelos funcionários. Quando isso ocorre, o sucesso é percebido como
reservado a um pequeno grupo, com um critério de selecção além do controle do indivíduo.
EXERCÍCIOS
Depois de ter lido os conteúdos deste capítulo, responda ao seguinte questionário:
Existem diversos factores que podem influenciar o processo de tomada de decisões éticas. Destes
factores podem ser destacados os seguintes:
Identificação da gravidade
Factores individuais
Cultura organizacional
Terceiros significativos
Oportunidade
Qual é a motivação moral que leva Henrique a pensar em roubar o medicamento? Caso roube
o medicamento e caso não roube estaria Henrique agindo correctamente?
No geral, os projectos apresentados para avaliação dos CEPs, os pontos que com maior
frequência são considerados eticamente incorrectos são os relativos ao consentimento
livre e esclarecido, ao uso de placebo (convicções que acabam tendo efeitos
terapêuticos. Exemplo: quando alguém fica doente, e fica convicta que se pode curar a
sua doença aplicando uma injecção. Se um médico injectar ao doente uma seringa com a
penas água sem medicamento nenhum, o doente pode sentir o efeito psicológico de
ausência de dor, pelo facto de acreditar na cura. Trata-se de convicções, neste caso do
poder dos medicamentos, que têm efeitos terapêuticos) e à participação de pessoas em
situação de vulnerabilidade.
1) O facto de ser uma doença crónica e por enquanto sem cura, apenas com um tratamento;
2) A principal via de transmissão, ou seja, sendo a via sexual a principal e mais frequente
via de transmissão, o HIV/SIDA, tem sido associado a uma via e/ou atitude sexual
descontrolada, isto é, se um determinado individuo é seropositivo, numa sociedade em
Será isto um exemplo de uma situação especial para quebra de confidencialidade? Existem
algumas excepções justificadas nos direitos de confidencialidade como, por exemplo, a
notificação compulsória de algumas doenças transmissíveis, as lesões por agressão ou violência
e as suspeitas de abuso infantil. A confidencialidade só deve ser quebrada no caso em que o
indivíduo representa uma eminente ameaça à vida e integridade física de outras pessoas.
Contudo antes de se romper com a confidencialidade este deve ser informado e lhe deve ser dada
a oportunidade de ser ele a contar.
A preocupação com a segurança e o bem-estar de outras pessoas é um facto que em outras
ocasiões tem sido motivo para a quebra da confidencialidade.
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO
Depois de ter lido o segundo capítulo desta unidade responda ao seguinte questionário:
1. O que é um dilema ético?
2. Em que contexto surgem os dilemas éticos?
3. Quais são os passos a seguir num processo de tomada de decisão ética?
4. Que relação existe entre o clima ético e a cultura organizacional?
5. De que forma os stakeholders influenciam no processo de tomada de decisão ética.
Resposta:
ARRUDA, M. at al. (2002). Fundamentos da Ética Empresarial. 6a edição. São Paulo: Atlas,
2002.
ARRUDA, M. (2000) Indicadores de Clima Ético nas Empresas. Fundação Getúlio Varga, disponível em
http://www.unicap.br/marina/etico.html, consultado a 03.06.2011.
HITT, W (1990). Ethics and leadership: putting theory into practice. Columbus, OH : Battelle.
KOTLER, P. (1997). Markeying para organizações que visam o lucro. São Paulo: Atlas.
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