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FILOSOFIA – 10º ANO 1

3. OS VALORES

VALORES E VALORAÇÃO
A QUESTÃO DOS CRITÉRIOS VALORATIVOS

“Valoramos as mais diferentes coisas. O nosso valor recai sobre todos os objetos possíveis: água,
pão, vestuário, saúde, livros, homens, opiniões, atos. Tudo isso é objeto das nossas apreciações.”
(Johanes Hessen)

Experiência valorativa ou preferencial é o ato pelo qual atribuímos valor e nos apercebemos dos
valores, ao contactar com diferentes objetos, situações ou pessoas. Dizemos que algo ou alguém é
bom ou mau, justo ou injusto, belo ou feio, etc…

“Diremos que o valor é uma maneira de ser ou de agir que uma pessoa ou uma coletividade
reconhecem como ideal e que faz com que os seres ou condutas aos quais é atribuído sejam
desejáveis ou estimáveis.”
Guy Rocher

Utilizamos a palavra valor em diferentes situações:

• O valor de bens de subsistência ou materiais (água, pão, vestuário, livros);


• O valor sentimental que atribuímos a dado objeto (um anel de noivado);
• O valor que, em termos de beleza, atribuímos a uma pintura ou a uma paisagem;
• O valor das relações que mantemos com os outros (amizade, fraternidade, respeito);
• O valor da vida humana.

A disciplina filosófica que se ocupa do estudo dos valores é a axiologia, ou filosofia dos valores.

Axiologia deriva de axios que significa, em grego, o que é precioso, o que é digno de ser
estimado, o que tem valor. Axiologia refere-se, assim, a uma reflexão sobre os valores.
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CLASSIFICAÇÃO DE VALORES SEGUNDO ORTEGA E GASSET

POSITIVO NEGATIVO

Barato Caro
ÚTEIS Abundante Escasso
Necessário Supérfluo

São Doente
VITAIS Distinto Vulgar
Forte Débil

Conhecimento Erro
VALORES INTELECTUAIS Evidente Provável
Exato Aproximado

Bom Mau
ESPIRITUAIS MORAIS Justo Injusto
Leal Desleal

Belo Feio
ESTÉTICOS Elegante Deselegante
Harmonioso Desarmonioso

Sagrado Profano
RELIGIOSOS Divino Demoníaco
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JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

JUÍZOS DE FACTO JUÍZOS DE VALOR

• afirmações/proposições que pretendem • expressões que pretendem avaliar a


descrever a realidade; realidade;
• são claros e objetivos, isto é, não dependem • são subjetivos, ou seja, resultam da
da preferência ou apreciação de um sujeito; apreciação e da valoração do sujeito;
• são empiricamente observáveis;
• podem ser verdadeiros ou falsos; • não são empiricamente observáveis;
• quando verdadeiros é possível o seu • não são falsos nem verdadeiros;
reconhecimento por todos. • muitas vezes não são consensuais;
permitem evidenciar os diferentes valores
e valorações (éticos, estéticos, religiosos)
Exemplos:
Uma chuva de estrelas é um fenómeno natural. Exemplos:
Uma chuva de estrelas é um espetáculo de uma
Lisboa é a capital de Portugal. beleza indescritível.
Lisboa é uma das mais belas cidades da
No ano de 2006 o número de acidentes de Europa.
viação cresceu relativamente ao ano anterior. O tráfico de crianças constitui uma violação
inaceitável dos direitos humanos.
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CARACTERÍSTICAS DOS VALORES

Polaridade
(bipolaridade)

Os valores apresentam-se em polos opostos (bom/mau, belo/feio, justo/injusto). Todo o valor


enfrenta um contravalor, positivo ou negativo.

Hierarquização
Os valores estão ordenados e organizados em escalas de acordo com a sua importância relativa.
Consideramos que há valores superiores e inferiores.

Por exemplo, num incêndio, se tivermos que optar entre salvar a vida de uma criança, ou um quadro
de valor incalculável, certamente que salvaremos a criança.

Esta hierarquização tem a ver com critérios valorativos próprios do indivíduo ou da cultura em que
está inserido. Podem ser critérios valorativos por exemplo os direitos humanos e o respeito pela
dignidade humana ou ainda o respeito pela natureza e as preocupações ambientais.
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SUBJETIVISMO E OBJETIVISMO

Os valores valem por si próprios, ou cada um cria os seus valores? Quanto a esta questão existem
duas teorias:

CONCEÇÃO SUBJETIVA DOS VALORES CONCEÇÃO OBJETIVA DOS VALORES


(subjetivismo axiológico) (objetivismo axiológico)
 Os valores são objetivos e absolutos,
 Os valores traduzem as preferências dos
existem em si mesmos.
indivíduos.
 São intemporais e universais, não
 São subjetivos e relativos.
variando em função de estados psíquicos
ou do contexto histórico-cultural.
 Dependem de estados psíquicos, crenças e
desejos.
 Ainda que todos fossemos injustos, a
Justiça continuaria a ser, em si mesma,
 São histórica e culturalmente situados.
um valor.

VALORES E CULTURA – A DIVERSIDADE E O DIÁLOGO DE CULTURAS

Cultura – Conjunto dos instrumentos adquiridos, dos saberes aprendidos, transmitidos de geração
em geração, através do processo de socialização.

 Quando utilizamos quotidianamente o termo cultura referimo-nos à dita “cultura geral” ou às


“coisas mais elevadas do espírito”: arte, literatura, música e pintura.

 Mas a cultura inclui também a forma como as pessoas se vestem, os costumes de casamento e
de vida familiar, as formas de trabalho, as cerimónias religiosas, os valores e tradições, as
máquinas e computadores, etc…

 Povos de lugares ou épocas diferentes têm culturas diferentes. Possuem práticas e valores
distintos.

À forma característica de conduta cultural própria de uma sociedade particular chamamos padrões
de cultura.
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ATITUDES FACE À DIVERSIDADE CULTURAL

Como poderão conviver diferentes culturas, que à partida defendem princípios, valores e critérios
valorativos distintos?

Perante a existência de seres humanos com normas e hábitos culturais diferentes, as pessoas podem
assumir atitudes e condutas muito variadas:

Etnocentrismo Relativismo Interculturalismo

Visão centrada ou egocêntrica Aceita e respeita a diversidade


de uma cultura em relação às cultural. Respeita as outras culturas,
outras. defendendo o encontro em pé de
igualdade entre todas elas.
Avalia as outras culturas a partir Cada cultura só pode ser
de si própria, dos seus valores e avaliada a partir de dentro, isto
padrões de comportamento. é, dos seus valores, ideias e
padrões de comportamento.

Promove a assimilação Promove a separação Promove o diálogo

As culturas dominantes tendem Há diferentes culturas que se Para levar a cabo o diálogo é
a impor os seus valores e toleram, mas que vivem de necessário ter como base um
modelos de comportamento às costas voltadas, sem contacto conjunto de valores partilhados:
culturas minoritárias. entre si, e que tendem e separar-
se ou isolar-se. Respeito pelos direitos humanos

Possíveis consequências: Possíveis consequências: Apreço pela liberdade


Racismo, xenofobia, patriotismo Podem ocorrer fenómenos de
ou nacionalismo exagerados. segregação. Atitude dialogante

Tolerância
Ex: Descobrimentos; Nazismo. Ex: Os guetos ou grupos
isolados.
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A tolerância defendida pelo relativismo é, por vezes, classificada como passividade. Se tudo for
igualmente aceitável, não há tolerância, mas apenas indiferença.

Consideremos um exemplo:

Sociedades diferentes têm códigos de comportamento diferentes.

A pena de morte é defendida por alguns estados norte-americanos como um meio penalizador e
justo ao serviço da comunidade.

Outros estados entendem que a pena de morte não é uma prática moralmente correta, porque
desrespeita o valor da vida humana.

Logo, a pena de morte não é uma prática correta nem incorreta. Trata-se apenas de uma prática
que varia de grupo cultural para grupo cultural.

Assim, embora discordando da pena de morte, teríamos que respeitar aqueles que a defendem, ser
tolerantes.

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