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Teologia Moral Teologia Marcus Vinícius

APRESENTAÇÃO

Alguns pensam, nos dias atuais, que a moral já era. Que o Código moral
dos moralistas já está ultrapassado, outros que a ética é boa na teoria, mas
inútil na prática. Outros ainda que ética é um conjunto de proibições a respeito
do sexo.

Entendo que a moral restritiva e a ética baseada em regras


fracassaram, porém não constituem o fracasso da ética como um todo.

A ética de maneira cientifica ou empírica se impõe e se faz presente


na vida de cada um, seja através do bom senso, do escrúpulo, do caráter ou de
princípios morais.

Ética Cristã ou Teologia Moral é uma disciplina e um campo de


conhecimento da Teologia que nada tem de homogenia e é muito ligada a vida
concreta de cada um. Dedica-se ao estudo e pesquisa do comportamento
humano em relação a princípios ético-religiosos.

Não obstante ser inerente ao convívio de cada grupo social, pergunta-


se, o que é moral? O que é ética? Como ensinar ética? Quem ensina ética? O
que ensinar sobre ética? São perguntas que procuraremos responder no decorrer
de nosso encontro.

Nosso trabalho não tem a presunção de esgotar o tema, visto ser muito
dinâmico e, por ser nosso objetivo o tão somente comunicar um conhecimento
básico sobre ética cristã ou teologia moral. A Teologia Moral pretende tão
somente debater e consolidar os preceitos morais. Visto ser própria dela
tematizar, desenvolver e sistematizar o universo de reflexão e compreensão da
moral cristã.

Havendo por alguém interesse maior pela disciplina, ofereço uma vasta
bibliografia, que se encontra desde já a sua disposição.

Na certeza de que melhoraremos como pessoa e, cresceremos no


conhecimento da vontade de Deus,
Seu professor e amigo
Marcus Vinícius

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BIBLIOGRAFIA

VIDAL, M. Moral de atitudes. Vol. I. São Paulo: Santuário, 1999.

HARING, B. Livres e fiéis em Cristo. Vol. I. São Paulo: Paulinas, 1998.

BOCKLE, F. Moral fundamental. São Paulo: Loyola, 1997.

MOSER, A. & LEERS, B. Teologia Moral: impasses e alternativas, Petrópolis:


Vozes,1987.

FROMM, E. Ter ou ser. Rio de janeiro: Zahar, 1980.

KISNERMAN, N. Ética para o serviço social. Petrópolis: Vozes, 1978.

MACEDO, U. Metamorfose da liberdade. São Paulo: Ibrasa, 1978.

VASQUEZ, A. Ética. Rio de janeiro, Ed. Civilização brasileira, 1975.

WAER, T. Os valores começam no lar. Rio de janeiro: Juerp, 1981.

LIMA, Alceu A. Tudo é mistério. Petrópolis: Vozes, 1983.

DEMMEN, K. Introdução à Teologia Moral. São Paulo, Loyola, 2007

MOSER, A. Teologia moral: questões vitais. Petrópolis: Vozes, 2004

VIDAL, M. Sentido e moral e função da moral cristã em uma época secular. São Paulo:
Duas Cidades, 1978.

MOTTA, N. Ética e vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito cultural, 1984.

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REFLEXÃO SOBRE AXIOLOGIA

O que são valores: podemos afirmar que os valores são qualidades (Bom, Justo,
Feio, Belo, Venerável, Verdadeiro, Saudável, Útil), que resultam de certas disposições
das propriedades dos objetos de conhecimento (forma, peso, proporção, cor,
tamanho, propriedades imateriais e insensíveis, etc.) que tem o poder de tirar-nos
da posição de indiferença perante eles. “Essa não-Indiferença pode ser uma
tendência, um desejo ou uma apreciação de nossa parte diante de uma obra de arte
ou de uma bela ação, por exemplo”. (Ney Kobo)

“Valor é a propriedade ou qualidade de tudo aquilo que é desejado ou desejável”.


(Moschini ET AL).

Classificação

Classificação de J. Hessen:
a) Valores sensíveis
1. Valores hedônicos: o agradável é o prazer.
Abrangem não só todas as sensações de prazer e satisfação como tudo
aquilo que é apto a provocá-las: vestiário, comida, bebida, etc.
2. Valores Vitais: A força, a saúde.
3. Valores úteis: Coincidem como os valores econômicos.
Referem-se a tudo aquilo que serve para a satisfação, das nossas
necessidades da vida (comida, vestiário, habitação) e ainda os valores que
servem para a criação destes bens.
b) Valores espirituais
1. Valores lógicos: do desconhecimento.
2. Valores éticos: ou bem moral.
3. Valores estéticos: ou do belo.
4. Valores religiosos: ou do sangrado.

Classificação de Siles:
a) Valores econômicos
b) Valores éticos
c) Valores estéticos

Classificação de Joseph de Finance:


a) Valores infra-humanos: de sensibilidade e vitais ou biológicos.
b) Valores infra-morais: econômicos, noéticos, estéticos, volitivos e sociais.

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c) Valor moral
d) Valor religioso

Infra-humanos são os valores comuns com os animais, inexistindo neles qualquer


ato intelectivo ou volitivo, daí o nome. Exemplos: prazer, desprazer, mal-são.

Infra morais são valores humanos, pois suas consecuções implicam numa atuação
das faculdades próprias do homem: razão e vontade, mas situam-se num plano
neutro em relação à ética. Podem ser bem ou mal usados.
Ex.: dos econômicos: prosperidade e miséria. Dos noéticos, quanto ao objeto,
verdade e falsidade, quanto ao sujeito superficialidade e profundidade. Quanto aos
estéticos temos no objeto, o belo e o feio; no sujeito, bom ou mau gosto. Exemplos
de valores volitivos: Constância, inconstância, energia e fraqueza. Sociais: quanto
ao sujeito, prestigio e autoridade, e no objeto, entre outros, ordem e anarquia,
união e desunião.

Polaridade: a todo valor se opõe um contra-valor.

Sagrado / Profano
Bom / Mau
Belo / Feio
Verdadeiro / Falso

Critério para determinar a altura dos valores (Max Scheler)

1. Os Valores são tanto mais altos quanto maior for a sua duração.
2. Os valores são tanto mais altos quanto maior divisíveis forem.
3. Os valores são tanto mais altos quanto mais profunda é a satisfação
que a sua realização produz em nós.
4. O Valor que serve de Fundamento a outros é mais alto que
aqueles que se alicerçam nele.

Inversão de Valores

A expressão de Valores “inversão de valores” indica justamente a troca ou preferência


de um valor mais elevado por outro que lhe é inferior de acordo com escala
apresentado previamente. Casos clássicos de inversão:

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1. Esaú trocando o seu direito de primogenitura (Valor ético) por um prato de


lentilhas (valor sensível, hedônico).
2. A venda de José (valor ético) pelos seus irmãos, por vinte dinheiros (valor útil
inferior).

Observação:
Casos de correta estimativa de valores:
 José do Egito, Jesus e Tiradentes.

Difícil estimativa de valores:


 Vida de criança ou da genitora, quando se tem de escolher uma das duas.

 Luis de Camões. Naufrago na foz do rio Mecom no atual Vietnã quando


retornava a Portugal, nadou para costa com uma das mãos agarrada aos
originais do seu poema “Os Lusíadas”. Arriscou assim a sua própria vida para
transmitir uma inestimável obra literária (valor estético).

O jogo dos valores na vida cotidiana

Na nossa vida de todos os dias nos encontramos frequentemente em situações de


Opções Morais. Exemplos:

Estudar (valor lógico) Ou divertir-se (valor sensível)


Orar (valor religioso) Ou dormir (valor vital)
Ser honesto (valor ético) Ou lucrar indevidamente (contra valor útil)

Trabalhar (valor ético) Ou recrear-se (valor sensível)


Perdoar (valor religioso) Ou vingar-se (contra - valor vital)
Defender a honra (valor ético) Ou acomodar-se (contra - valor vital)
Pagar impostos (valor ético) Ou sonegar (contra – valor útil)

Observação:
Para alcançarmos e formularmos uma correta escala de Valores precisamos de:

 Vigiar os impulsos da vontade


 Ponderar todos os atos
 Recorrer às luzes de nossa religião
 Orar a Deus

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Hierarquia dos Valores

VALORES VALORES DERIVADOS OU


ESCALA
PRIMITIVOS CORRELATOS

Santidade, caridade, amor,


RELIGIOSOS SAGRADO
ORDEM DE PREFERÊNCIA

OU DE NÃO INDIFERENÇA

esperança, fé, perdão.


POSITIVA CRESCENTE
VALORES POSITIVOS

ÉTICOS BOM Virtude, justo, honra misericórdia.

Poesia, sublime, drama, música,


ESTÉTICOS BELO
harmonia.

LÓGICOS Conseqüência, o conhecimento


VERDADEIRO
(INTELECTUAIS) lógico, correto, coerente.

Saúde, força, Mocidade, coragem,


VITAIS SAUDÁVEIS
vitalidade.
SENSÍVEIS AGRADÁVEL Alimento, prazeres, utensílios,
(UTEIS) (ÚTIL) habitação, volúpia.

PONTO ZERO
ÁREA DE INDIFERENÇA
DE INDIFERENÇA

DESAGRADÁVEL, Inadequado, inconveniente,


SENSÍVEIS desprazer, fome, dor.
INÚTIL
Velhice, angustia, morte, covardia,
VITAIS PREJUDICIAL
POSITIVA CRESCENTE
VALORES NEGATIVOS

doença, vingança.
ORDEM DE AVERSÃO
OU INFRA - VALORES

OU DE INDIFERENÇA

LÓGICOS Falsidade, incorreto, contraditório,


FALSO inconseqüente.
(INTELECTUAIS)
Cacofonia, ruído, ridículo,
ESTÉTICO FEIO dissonância.

Perverso, maligno, injusto.


ÉTICOS MAU

Descrença, irreverência, sacrilégio.


RELIGIOSOS PROFANO

Hierarquia ou escala de valores significa que alguns valores se apresentam como


superiores a outros. Exemplos: A Hierarquia de valores de Max Scheler.

1.Valores religiosos (supremos)


2.Valores morais
3.Valores estéticos
4.Valores lógicos
5.Valores vitais 6. Valores sensíveis (úteis)

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ÉTICA E MORAL

Ética, ou filosofia moral, é uma reflexão sistemática sobre o comportamento moral. Ela
investiga, analisa e explica a moral de uma determinada sociedade. A ética não diz o que
deve ser feito, isso é competência da moral.

DEFINIÇÃO DE ÉTICA

1. De acordo com o dicionário da língua portuguesa a ética é o estudo dos juízos de


apreciação referente à conduta humana do ponto de vista do bem e do mal.
2. Ética pode ser definida como o estudo crítico da moralidade, consiste na análise da
natureza da vida social humana, incluindo os padrões de certo e de errado, pelos quais
suas condutas passam a ser guiadas e dirigidas.
3. Ética é a ciência dos deveres do homem, isto é, uma ciência que nos ensina como proceder
neste mundo. É uma ciência, porque tem por fim descobrir, classificar e explicar certos
grupos de fatos. Há diversas ciências, e os que as distinguem uma das outras não são os
métodos adotados no seu estudo, mas os fatos procurados e classificados
4. A ciência da Ética difere das outras por tratar de fatos concernentes ao procedimento do
homem em todas as suas relações.
5. De todas as ciências, a Ética é a mais importante, porque trata dos deveres do homem.

Moral. É o conjunto de normas, prescrições e valores que regulamentam o comportamento


dos indivíduos na sociedade. Não existe vida social sem a presença de regras ou normas
de conduta. Etimologicamente a palavra moral, vem do latim “mos, moris”(costumes),
corresponde em significado, quer ao termo “ethos”(hábito, costumes), quer a
“êthos”(caráter, modo de ser). É tida como a normatização moral dos atos humanos
práticos, dos costumes, dos deveres do homem individual e grupal.

A ação realizada será moral ou imoral, conforme esteja de acordo ou não com a norma
estabelecida. Moralidade é, então, a capacidade de agir segundo a consciência bem
informada e de tomar decisões concretas, com uma atitude integra visão clara e muito
discernimento.

Definição de moral
1. É a ciência que define as leis da atividade livre do homem.
2. É a ciência que trata do uso que o homem deve fazer de sua liberdade, para atingir o seu
fim último.
3. É a ciência do bem e do mal.
4. É a ciência dos deveres e da virtude.
5. É a ciência da felicidade.

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Ética e moral são dois campos diferentes. A ética é a teoria ou ciência do comportamento
moral dos homens em sociedade. A missão da ética é explicar a moral.

Deontologia. Etimologicamente provém do grego “deon, deontos”(dever) e


“logos”(tratado). Atualmente é qualificada como sendo o estudo dos deveres de um grupo
profissional. Ou seja, é uma teoria da moralidade que se baseia no imperativo do dever.

Bioética. Do grego “bios” (vida) e “ethos” (ética). É a abordagem dos problemas éticos
ocasionada pelo avanço extraordinário das ciências biológicas, bioquímicas e médicas.
Questões como: Engenharia genética, fecundação artificial, transplantes, etc.

Modelos éticos. Os conceitos, a análise e a prática das questões morais teleológicas,


deontológicas, situacionais e bioéticas sempre nos levará a uma direção ético-filosofica, o
que podemos denominar de modelo ético. Destacamos, entre outros, os seguintes:
1. O tradicional. Que apresenta-se como legalista, normativo, objetivo. Define a ética como
sendo “o conjunto de normas que regem os atos humanos”. É “Teocêntrico”, religioso,
isto é, o centro das conceituações certas ou erradas em ética é o ser superior, a
divindade. O certo ou errado passa a ser o que esta conforme ou em desacordo com a
vontade divina.
2. O legitimador. Que transforma em norma moral e profissional aquilo que não passa de
simples constatação de práticas usuais consolidadas. Exemplo: a violência no trânsito,
aos poucos, passa a ser aceita como algo que não tem solução e lentamente é
incorporada (legitimada) como aceitável.
3. O Renovador. Personalista, existencial. Houve o deslocamento da lei, da norma, para a
pessoa. A grande preocupação passou a ser a pessoa, com sua potencialidade, com
seu bem-estar, com sua realização existencial. A preocupação central e única passou a
ser o bem-estar da pessoa, com pouca ou praticamente nenhuma relação com a
coletividade.
4. O idealizante. Que apresenta um mundo maravilhoso, de princípios idealistas, irreais,
formulados de maneira geral, abstrata, que impede qualquer conclusão prática. É nesta
modalidade que se situam as normas dos Códigos de Ética.
5. O social. Que se apresenta altamente preocupado com o bem-estar da pessoa. O pólo
de sua preocupação se desloca da pessoa individual para a coletividade. Ética neste
ponto de vista é “a preocupação e a luta pelo bem-estar, não só individual, mas também
social e coletivo”. A Ética, aqui, é definida como sendo “a ciência do comportamento
humano em sociedade”.
6. O estético. Que busca recuperar os valores humanos, os valores do vivido, do cotidiano,
perdidos pelo homem racional que privilegia a razão, pelo homem econômico que
supervaloriza o “ter”, a técnica, a robotização. Busca trazer, à reflexão e vivência do
homem, a sensibilidade, a emoção, a estética.

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ÉTICA CRISTÃ OU TEOLOGIA MORAL

Muitos escritores consideram a ética (Gr. Ethos) como qualquer tratamento cientifico de
ordem moral e a dividem em ética teológica ou cristã (teologia moral) e ética filosófica
(filosofia moral). É no primeiro sentido que iremos considerar o assunto: teologia moral ou
ética cristã.
ÉTICA CRISTÃ = ÉTICA TEOLOGICA = TEOLOGIA MORAL
Quando dizemos EC estamos afirmando que a vida e os ensinos de Jesus serão o elemento
principal para decidirmos entre uma e outra atitude. Isso quer dizer que nosso padrão de
comportamento será baseado naquilo que diz a Bíblia. O principio fundamental da EC é a
regra de ouro do cristianismo: “Façam aos outros aquilo que vocês querem que eles façam
a vocês” (Mt. 7:12).

Definição de Ética Cristã.

1. “Ciência que trata das origens, princípios e práticas do que é certo e do que é errado à
luz das Sagradas Escrituras, em adição á luz da razão da natureza” – (L.S.
Keyser/Erudito luterano americano).
2. “A ciência da conduta humana, determinada pela conduta divina” – (Emil
brunner/Teólogo Suíço).
3. “Um estudo sistemático do modo de viver exemplificado e ensinado por Jesus, aplicado
aos múltiplos problemas e decisões da existência humana” – (Georgia Harkness/
Teóloga Metodista americana).
4. “Ética cristã é uma explanação sistemática do exemplo e ensino morais de Jesus
aplicados á vida total do indivíduo na sociedade e realizados com o auxilio do Espírito
Santo” – (H.H. Barnette/Professor de EC no Seminário Batista de Louisville).
5. A Teologia Moral é um ramo da ciência teológica que tematiza, desenvolve e sistematiza
o universo de reflexão e compreensão da moral cristã – (M. Vinícius/ Professor.)

Objeto da Ética Cristã. Trata do conjunto de regras de conduta consideradas como


validas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa
determinada sob a perspectiva cristã. Juízos de apreciação referentes à conduta humana
suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a
determinada sociedade, seja de modo absoluto.

Divisões da Ética Cristã. O campo da EC envolve sistematização, defesa e


recomendação de conceitos de comportamento certos e errados. Os teólogos morais
dividem atualmente as teorias da EC em três áreas gerais:
1. A meta-ética. Investiga de onde vêm nossos princípios éticos e o que significam. São
invenções sociais? Envolvem mais que a expressão de emoções individuais? A meta-
ética responde a essas questões, focalizando as questões das verdades universais, a

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vontade de Deus, o papel da razão nos julgamentos éticos e o significado da própria


terminologia ética.
2. A ética normativa. Envolve uma tarefa mais prática que consiste em atingir os padrões
morais que regulam a conduta certa ou errada. Devo emprestar o carro do meu pai sem
falar com ele primeiro? Devo roubar alimento para evitar que minha família morra de
fome? Idealmente, essas questões morais devem ser imediatamente respondidas
consultando as diretrizes morais fornecidas pelas teorias normativas.
3. A ética aplicada. Envolve o exame de questões controversas, tais como aborto,
infanticídio, direitos animais, preocupações ambientais, homossexualismo, pena de
morte ou guerra nuclear, pedofilia, planejamento familiar, biotecnologia, pecado, etc.
Servindo-se das ferramentas conceituais da meta-ética e da ética normativa, as
discussões em ética aplicada tentam resolver essas questões controversas e polêmicas.

Tarefa da Ética Cristã. A Ética cristã tem uma dupla função:


1. Definir o “supremo bem”.
2. Declarar os princípios de ação humana necessários para se alcançar essa meta.
2.1. Na Ética filosófica a busca pelo supremo bem da vida tem levado a numerosas
teorias, tais como a do prazer e da felicidade, a do poder, a do cumprimento do
dever sem segundas intenções, e a da realização própria.
2.2. Contrastando-se com a Ética filosófica, a revelação bíblica estabelece a vontade de
Deus como à meta ética do homem.

Dessa forma, a EC é bifocal, olhando para a Bíblia em busca de normas e princípios de


conduta, e para outras disciplinas em busca de dados baseados em fatos para uma adição
inteligente.

Objetivo da Ética Cristã.

1. Alguns tendem a limitar a esfera da EC ao indivíduo, excluindo a sociedade em que vive.


2. Outros se preocupam tanto com os problemas de origem social, que tendem a
negligenciar as necessidades espirituais do indivíduo. Daí o cristianismo ser reduzido a
um programa social. Esse foi o erro da ala esquerdista da teologia liberal norte-
americana, segundo a qual o reino de Deus tendia a identificar-se com a perfectibiladade
do homem e com o progresso social. É artificial a divisão do evangelho em evangelho
social e individual. O evangelho, de acordo com as Escrituras possui os dois aspectos
que não devem ser dissociados.

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Ética teológica e ética deontológica.

1. Ética Teológica começa com o problema da meta ou fim do homem. Assim, a visão de
Deus, a perfeição humana, o Reino de Deus, são postos como metas éticas do homem.
2. Ética Deontológica é uma e ética de obediência. Os que seguem esse método se
preocupam mais com as exigências de Deus do que a meta do homem. É uma ética de
obediência radical a vontade de Deus.
É obvio que a EC é tanto deontológica quanto teológica em natureza. A ética de Jesus tem
ambos os elementos de dever (representado pela vontade de Deus), e fim (a realização do
Reino de Deus). Considere a oração modelo.

Ética Cristã contemporânea:


1. Liberais (Evangelho social). Elaboração do Reino de Deus como uma realidade social
na terra.
2. Fundamentalistas. Ética legalista: vê a ética/moralidade como códigos e regras de
conduta.
3. Conservadores. Considera a Bíblia como uma fonte mais rica da revelação da vontade
de Deus. Reconhecem, por outro lado, o valor de uma consciência iluminada na
interpretação de problemas não discutidos nas Escrituras.

A ÉTICA CRISTÃ E OUTRAS DISCIPLINAS

A Ética Cristã e a Teologia.

1. Estão orgânica e inseparavelmente relacionadas.


2. Deus é à base de toda a moralidade cristã. Assim, ética e teologia só podem ser
separadas para fins de estudo.
3. Quando dissociada de sua base teológica, a EC se torna em nada mais do que um ideal
humanístico.

A Ética Cristã e os ramos da Teologia.

1. Na Teologia bíblica: coopera com estudos bíblicos em estabelecer o conteúdo ético da


Bíblia.
2. Na História Eclesiástica: coopera examinando a ênfase ética da Igreja através dos
séculos.
3. Na Homilética: coopera proclamando mensagens de caráter ético.
4. No aconselhamento Pastoral: coopera reduzindo ansiedades e frustrações (ao tratar do
senso de culpa moral).
5. Na Missiologia: coopera preparando homens para enfrentar questões morais nos
campos missionários.

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6. Na Educação Religiosa: coopera inculcando e levando à realização das verdades éticas.

A Ética Cristã e a Psicologia.

1. As faculdades morais do homem são uma parte básica de sua constituição mental.
2. Questões essenciais à ação moral tais como caráter, consciência e vontade, envolvem
estados da mente do indivíduo.
3. Nenhum julgamento adequando pode ser feito de um ato, certo ou errado, bom ou mau,
até que o motivo de toda a conduta seja conhecido.
4. Psiquiatras e psicólogos estão cientes da conexão vital entre psicologia e ética.
5. Ética e psicologia se necessitam reciprocamente para entenderem o homem mais
completamente.

Erich Fromm, eminente psiquiatra, descobriu que “Neurose”, em si mesma, em última


análise, é sintoma de fracasso moral. Desse modo, ética está relacionado não somente
com a correção da conduta, os motivos que a põem em ação e a determinam, mas também
com o fracasso moral da pessoa que está agindo.

A Ética Cristã e as ciências sociais.

A ética busca nessas disciplinas elementos concernente a fenômenos sociais e


conhecimento fidedigno de condições sociais que outras pessoas vivem. Em outras
palavras, a ética volta-se para as ciências sociais à procura de dados que revelam a
“situação reinante”, volta-se para as normas da revelação bíblica à procura de elementos
que digam “como a situação deve ser”, trazendo-os a um principio coerente e exeqüível.

A Ética Cristã e a Filosofia.

1. Ambas tem interesse na base fundamental da conduta, na natureza do que é certo ou


errado, valores, epistemologia, dever, felicidade, homem e sociedade.
2. A ética cristã, contudo, deve resguardar-se de se desviar para “o terreno da lei moral
racional”.
3. A ética cristã, dessa maneira, poderá lançar mão dos “insights” filosóficos, que
contribuem para a compreensão desses problemas.
4. Obviamente, uma completa síntese da moralidade cristã e filosófica é impossível, devido
à transcendente natureza da EC. A EC começa com a revelação enquanto que a ética
filosófica começa com a razão; a primeira possui a verdade, ao passo que a última a
procura.
5. Os eticistas cristãos podem provavelmente, apropriar, transformar e usar os válidos
“insights” dos moralistas filosóficos, ressalvando que a singularidade da EC não seja
empanada ou perdida. A EC nunca deve perder sua natureza “transformal” através de
excessiva amalgação com idéias filosóficas ou de acomodação com essas idéias.

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Precisa sempre permanecer mais do que meramente outro ensino ético, ainda que
esplêndido, ao lado de Platão, Sêneca, Aristóteles e Kant.

A ÉTICA DO DECÁLOGO

Os dez mandamentos ocupam um lugar central na vida moral do povo de Israel. “Os
dez mandamentos são a pedra angular da ética hebraica, ocupando o mesmo lugar na
religião de Israel que o sermão do monte ocupa no cristianismo” (Adrew Osborn).

As leis do decálogo são mandamentos divinos; constituem valores eternos e universais


indispensáveis ao indivíduo e à sociedade. O dever do homem para com Deus é
resumido nos quatros primeiros mandamentos; os restantes dizem respeito aos deveres
de uma pessoa para consigo mesma e com o próximo.

O decálogo encontra-se em Êxodo 20:1-17 e, iremos neste nosso trabalho, dar


particular atenção à sua parte ética ou moral. Faremos uma tentativa para estabelecer
os princípios morais básicos encarados em cada uma dessas dez leis.

DEVERES PARA COM DEUS

1º Mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim” (v.3).


Verdade central: A unicidade de Deus

1. Este mandamento é básico para a ética bíblica, pois a obediência requerida é


a um Deus Santo.
2. Este mandamento é básico para uma conduta correta. Se Deus fosse
considerado como um, teríamos idolatria ou seria como uma força cósmica.
Seria impossível dar a Lei moral uma posição de supremacia sobre a
consciência.
3. Este mandamento foi dado para o próprio bem do povo de Israel:
 Obediência a este mandamento guardaria Israel de todos os males do politeísmo,
tais como a superstição, o medo e a injustiça.
 Obediência a este mandamento livraria Israel da traição e ingratidão.

2º Mandamento: “Não farás para ti imagens de escultura” (v.4).


Verdade central:

1. Este mandamento requer um conceito correto da natureza de Deus.


 Representar a Deus por meio de imagens seria nivelá-lo aos deuses pagãos.
 Representando-o assim corria o adorador o perigo de ter uma ideia muito limitada
de um ser que é infinito.
2. A desobediência a este mandamento resultaria em um severo castigo. Deus
é zeloso pela afeição de homem, justamente porque ele o amou com amor
eterno. Não permitirá que um inimigo se interponha entre si e seu povo.

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3. A obediência a este mandamento resulta em grandes bênçãos.

 As misericórdias de Deus são mais ampla e mais duradoura que seus castigos.
 Este mandamento revela muito do caráter de Javé. Prova sobretudo que ele
deseja amor e a confiança de seus filhos.

3º Mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão...” (v.7)


Verdade central: Reverência para com Deus.

1. O mandamento se refere mais a uma atitude de coração do que uma ação de língua.
2. Pode referir-se também ao pecado do perjúrio (Lv. 19:21).
3. Quando o coração está cheio do amor de Deus a boca reverentemente proclamará
seu louvor.

4º Mandamento: “Lembra-te do dia do sábado para o santificar” (V.8).


Verdade central: Descanso.

1. Há toda a probabilidade que o Decálogo não criou o dia do descanso, apenas


o instituiu formalmente.
2. No livro de Deuteronômio a razão apresentada para se guardar o sábado é
diferente da que se encontra no Êxodo (Dt. 5:15). Ali a referência ao trabalho
está ausente, o mandamento está relacionado com a grandiosa libertação de
Israel, da escravidão egípcia. Isso deveria criar um sentimento de gratidão
pela liberdade e descanso após um período de duro trabalho.
3. Tenha-se em mente que o Decálogo nesta altura apresenta injunções: Uma
de trabalho, outra de descanso. “Seis dias trabalharás”.
4. Observe que o mandamento inclui também os servos. Nos dias atuais há
grande desrespeito a esse mandamento.
5. Inclui o mandamento, semelhantemente, os animais (v.10). Nenhuma outra
religião daquela época continha semelhante provisão para os animais de
carga.
6. O sábado deve ser um dia de descanso tanto para o físico como para a alma.
O dia de descanso é profanado quando nenhum descanso é concedido à
mente e à alma, bem como ao corpo cansado.
7. Ao estabelecer o dia de domingo como dia de descanso e culto, não há dúvida
de que a primitiva igreja foi guiada por verdadeiro instinto espiritual da
mesma maneira como o foi na determinação dos livros que agora formam o
cânon do Novo Testamento.

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DEVERES PARA COM O PRÓXIMO

5º Mandamento: “Honra a teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus
dias na terra que o Senhor teu Deus te dá” (v. 12)

Verdade central: Respeito pela autoridade dos pais.

1. Esse mandamento marca a transição entre os mandamentos que se referem


aos deveres do homem para com Deus e aqueles que dizem respeito ao
próximo
2. Honrar os pais significa tê-los seriamente em consideração. Isso inclui
cuidados a pais idosos ou necessitados.
3. A promessa anexada ao mandamento refere-se à nação e não aos indivíduos
(O apóstolo a individualiza, Ef. 6:3)
 A fidelidade aos pais é um grande fator decisivo na continuidade da existência
de um país. Quando os laços familiares são fortes, a sociedade será estável
e com possibilidade de uma longa vida.
 A solidariedade entre os israelitas tem sido uma das razões de sua
sobrevivência através de grandes sofrimentos.
 O reverso também é verdade, uma sociedade que destrói a família, destrói-
se a si mesma.
 É digno de nota que o mandamento inclui, na honra a ser prestada, a pessoa
da mulher, que revela a alta consideração tida para com o sexo feminino.

6º Mandamento: “Não matarás” (v.13)


Verdade central: A santidade da vida humana.

1. Não assassinarás, é o sentido da expressão no original hebraico.


2. Morte acidental, homicídio justificado, morte na guerra e pena capital,
portanto, não eram considerados como assassínios.
3. A mais valiosa possessão do homem é sua própria vida, o crime mais
aterrador é roubá-la.
4. Esse mandamento incorpora o princípio universal da santidade da
personalidade humana.
5. O princípio fundamental dessa lei está na inerente natureza do homem, feito
a imagem e semelhança de Deus. Essa imagem impressa no homem, por
ocasião da criação e desfigurada e destruída pelo assassínio. O Todo-
poderoso é ferido na pessoa de sua criatura. A vida que ele dera para fins

Dignos é de repente cortada por meio de violência... é um ato de rebeldia


contra o governo divino no mundo

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7º Mandamento: “Não adulterarás” (v.14).


Verdade central: proteção da família como instituição

1. Depois da própria vida, a mais valiosa possessão para o homem é sua esposa.
Nada lhe é mais caro do que a felicidade e a paz no seu lar, o adultério desfaz
tudo isso.
2. Além do mais, a infidelidade conjugal faz cessar a autoridade, possível
perigando a própria estabilidade nacional. Torna impossível a obediência dos
filhos ao 5º mandamento. Na verdade, Israel devia compreender que lares
fortes significam uma nação forte.

 Lares infiltrados pelos vícios, contribui para o desmoronamento de uma nação


que não pode oferecer resistência diante do inimigo. Desse modo, adultério
é considerado como crime tão nefando que ambos os ofensores eram posto
à morte.
 Nenhum castigo seria severo demais para proteger a santidade do lar e a
continuidade da família.

8º Mandamento: “Não furtarás” (V.15)


Verdade central: Proteção ao direito da propriedade pessoal.

1. Do ponto de vista ético, propriedade é uma externalização e prolongamento


da própria personalidade do homem.
2. Roubo implica em toda a sorte de exploração tanto da parte do rico como do
pobre, implica também em qualquer método de roubo.
3. Salários devem ser pagos devidamente, medidas honestas devem ser usadas.

9º Mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (V. 16)
Verdade central: Verdade para com o próximo.

1. Primeiramente, o mandamento proíbe falso testemunho contra alguém


perante o tribunal, mas inclui também a ideia de calúnia, mexerico,
tagarelice, adulação, “assassínio de caráter”.
2. Este mandamento é uma aplicação do anterior. A lei da verdade está
intimamente relacionada com a lei da honestidade. Aquele que é desonesto
nos feitos o é também no coração e no pensamento, aquele que quebra o
nono, também em um sentido, quebra o oitavo mandamento.

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DEVER DE UMA PESSOA PARA CONSIGO MESMA

10º Mandamento: “Não cobiçarás...” (v.17).


Verdade central: Interiorização da lei

1. Este último mandamento diz respeito ao dever de uma pessoa para consigo
mesma.
2. Proíbe um desejo desordenado pelo alheio: a esposa do próximo, gado,
servos, etc. Diz um dicionário que cobiçar é apetecar com veemência.
3. É um motivo interno que faz conhecer pecados externos. Todo o vício tem
como uma de suas raízes a cobiça.
4. Assim, o amor é o cumprimento de toda a lei, a cobiça é a violação de cada
mandamento do Decálogo.
5. A promessa deste mandamento no Decálogo é uma prova manifesta da
intenção espiritual e caráter ético do referido código. O 10º mandamento está
completamente fora dos limites da jurisprudência civil.
6. Na verdade o amor é o cumprimento de toda a lei. Veja-se por exemplo, que
havendo amor não há cobiça no coração humano.
7. A lei dos dez mandamentos só pode ser cumprida através de uma renovação
e santificação na vida íntima do homem.

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