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Valores – Análise/Compreensão da Experiência Valorativa

Vulgarmente, aplica-se o termo valor a propósito de objectos materiais. Uma jarra, um relógio, uma casa, uma
quantia em dinheiro são valores, sendo aquele que os possui detentor de um certo número de bens. Porém, na
perspectiva filosófica, valor possui uma significação diferente, não se referindo a coisas materiais. O seu
significado ultrapassa esta interpretação materialista, referindo-se antes, a um certo grau de atractividade. Deste
modo, um relógio, não é um valor, mas um objecto a que se pode atribuir valor por ser bonito, por ser útil por
ser caro ou por ser uma recordação de família.

Se os valores não são coisas, eles também não se identificam com qualidades das coisas. Portanto, o valor não
reside nos objectos, antes lhe é conferido pelas estruturas do sujeito. O facto, é que os objectos determinam nas
pessoas sentimentos que as levam a rejeitar uns, preferir outros e nunca permanecer neutros. Mas ao dizermos
que os valores não residem nas coisas, não pretendemos significar que eles se nos apresentam num mundo alheio
aos objectos e situações. Os valores não se intuem desligados das coisas, pois que o acto de valorar só se exerce
na presença de objectos, dos actos ou das situações reais. Isto leva a aperceber-nos do seu papel na vida das
pessoas. Eles são uma espécie de eixos orientadores que definem o rumo das nossas atitudes e
comportamentos.

A reflexão sobre os valores faz-se na Axiologia, área também designada por Filosofia dos Valores. A palavra
Axiologia deriva de “axios”, que significa em grego, o que é precioso, o que é digno de ser estimado, o que tem
valor e consiste, segundo a etimologia, num estudo, saber ou disciplina que tem por objecto os valores.

A expressão Filosofia dos Valores é relativamente recente. Ela apenas surgiu na primeira metade do séc. XX, no
contexto do descrédito em que caíram os valores tradicionais da sociedade ocidental, na sequência das teses
anunciadas por pensadores como Marx, Nietzsche e Freud. No seu conjunto, estes filósofos, puseram em causa
o carácter objectivo, universal ou absoluto dos valores até então admitidos. A crise instalada origina reacções,
levando alguns filósofos a reflectir de modo específico na temática axiológica com o intuito de encontrar critérios
objectivos capazes de orientar as formas de actividade humana.

Preocupam-se então, em chegar a conclusões que contribuam para solucionar questões como as seguintes: Tudo
será permitido? Tudo será legítimo? Tudo será relativo? Não haverá limites? Como traça-los? Como gerir os
conflitos entre as pessoas? Como solucioná-los? Que valores poderemos seguir? Terão todos igual importância?
Quais os que são verdadeiramente importantes?

Estamos constantemente a formar juízos acerca do que se passa á nossa volta. Tais juízos podem ser
considerados juízos de facto ou juízos de valor. Quando nos referimos às coisas, aos acontecimentos e a nós
mesmos, relatando ou descrevendo objectivamente aquilo que vemos, ouvimos ou sabemos, estamos a
formular juízos de facto.
Assim, são exemplo de juízos de facto:
. Lisboa é a capital de Portugal.
. Hoje está um dia de sol.
. Portugal tem a maior taxa de analfabetismo da União Europeia.
Neste caso, trata-se de afirmações referentes a coisas ou acontecimentos reais que podem ser verificadas e que,
portanto, são susceptíveis de ser aceites pela generalidade das pessoas.
JUÍZOS DE FACTO – Afirmações que descrevem objectivamente a realidade sem acrescentar qualquer
interpretação, comentário ou opinião pessoal.

No âmbito em que nos colocamos, utilizamos a palavra facto para nos referirmos às coisas em si mesmas,
desprovidas de qualquer conotação afectiva ou interpretação subjectiva. O mundo como realidade de facto é o
real constituído por tudo o que é susceptível de ser descrito externa e objectivamente.

Porém, todos assumimos uma atitude valorativa em face das coisas, o que nos leva a formular juízos de valor. O
mundo encarado em termos de valor torna-se mais colorido e mais humano, mas perde objectividade. Por isso, os
juízos que formulamos a seu respeito deixam transparecer o calor da opinião, o sabor do comentário, em suma, a
preferência que temos por umas coisas em relação a outras.

JUÍZOS DE VALOR – Enunciados que traduzem o que valem as coisas para determinado sujeito, seja em função
da utilidade, da estética, da moral ou de qualquer outro critério valorativo.
Como exemplos de juízos de valor, poderemos apresentar
. As “fugas” de Bach são sublimes.
. É preferível ler um livro a ver televisão.
. A descriminação racial é a pior das atitudes.
. Copiar nos testes é mau.
CARACTERÍSTICAS ESSÊNCIAIS DOS VALORES
Especialmente quando tomamos decisões, somos forçados a julgar em termos valorativos .O valor que
atribuímos a umas coisas em detrimento de outras, é que decide o sentido das nossas escolhas. Assim,
apreciamos a benevolência, o amor e a justiça, a que contrapomos a maldade, o ódio e a injustiça.
Bipolaridade – Circunstância de cada valor oscilar entre dois polos, isto é, de um valor positivo se colocar
simetricamente em relação a um valor negativo que é o seu contrário. Todo o valor transporta em si mesmo um
contravalor. Ex: Justiça/Injustiça, Verdade/Falsidade, Amor/Ódio, etc.

Hierarquia – Propriedade dos valores segundo a qual se subordinam uns aos outros em função da valiosidade que
cada um tem para o sujeito. Os valores apresentam-se com valências diferentes, o que permite colocá-los numa
escala hierarquizada de preferências. E, ao agir, cada um de nós vai-se orientando por essa escala, o que nos
leva a preferir pessoalmente isto àquilo, a realizar este acto em vez daquele. Cada pessoa estabelece a sua
própria escala ou tábua em função das suas prioridades, pelo que a organização hierarquizada dos valores pode
mudar ao longo da vida e de acordo com as circunstâncias.

Os valores não são coisas nem propriedade das coisas.

Os valores são diversos e classificáveis, a tábua de valores de Max Scheler:


Valores religiosos: santo /profano; divino/demoníaco; milagre/mecânico..
Valores éticos ou morais: bom/mau; justo/injusto; leal/ desleal…
Valores lógicos: verdade/falsidade; conhecimento/erro…
Valores vitais: forte/fraco, enérgico/inerte; são/enfermo…
Valores úteis: caro/barato; capaz/incapaz; abundante/escasso…
Valores Estéticos: belo/feio, sublime/grotesco, elegante/deselegante

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