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AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS DE MIRANDA DO DOURO

Filosofia -10º Ano


Ficha de Trabalho

VALORES e VALORAÇÃO

A ação humana implica a existência de valores que orientam as escolhas - as nossas ações,
as decisões que tomamos não são por acaso ou à deriva. Os valores influenciam a forma como
nos relacionamos com o que nos rodeia. Perante as coisas, os factos, os acontecimentos, as
pessoas não nos limitamos a descrever e a explicar, assumimos posições valorativas;
paralelamente a uma atitude explicativa, temos uma atitude valorativa: apreciamos as coisas que
nos cercam em termos de bom ou mau, justo ou injusto, belo ou feio, útil ou prejudicial…
A atitude valorativa leva-nos a tomar posição perante os factos, apreciando-os como algo
valioso. Assim, a realidade deixa de ser neutra porque o sujeito a valoriza como positiva ou
negativa.

Os valores, como entendê-los?


* São qualidades que só se concretizam numa realidade, são uma espécie de suplemento
que torna algo um bem, isto é, estimável. Estas qualidades são de um tipo muito especial, porque
se distinguem de outras que também são reconhecidas nos objetos, como sejam o peso, a forma,
a cor, o sabor. Os valores são aquelas qualidades que não se referem à estrutura dos objetos, mas
que fazem que esses não sejam indiferentes para nós: a não indiferença é a essência do valor.
Então, o valor não consiste em ser, mas em valer, a estrutura do valor consiste em comprometer-
nos exigindo de nós uma tomada de posição; funcionam como um ponto de referência ou critério
em função do qual julgamos e decidimos.
* A oposição de contrários é inseparável da natureza do valor - a esta característica chama-
se polaridade. A polaridade dos valores significa que qualquer valor nos surge sempre
desdobrado. Ao lado de um valor aparece sempre o seu contrário, por isso, obriga-nos a uma
atitude de adesão ou rejeição. Em termos de valores, a realidade aparece desdobrada num polo
positivo e num polo negativo, tal como uma face e a sua contraface. Então tudo o que tem valor
para o homem é considerado preferível, estimável, prefere-se a sua existência à não existência.
* Caracterizam-se pela estima e não coincidem necessariamente com o prazer ou o desejo -
há valores que estimamos mesmo que numa determinada situação nos obriguem às opções
menos agradáveis.
* Funcionam como princípios orientadores da ação, uma vez reconhecidos, impõem-se ao
sujeito como referências ou critérios que o levam a estimar, a preferir determinadas opções em
detrimento de outras. Assim, os valores são ideais que exigem ser realizados.
Os valores éticos aparecem como imperativos de consciência ao agente. O facto de não serem,
ocasionalmente, respeitados não invalida a exigência da sua realização.

“Introduzir o valor no mundo é introduzir nele diferenças que estão sempre relacionadas
com preferências” (L. Lavelle) - é porque valorizamos a realidade que não há neutralidade.

Assumir valores implica cortar com a indiferença. Então, os valores não estão diante de
nós como um facto, mas são referências que nos obrigam a uma atitude de rejeição ou de
aceitação.

Importa aqui distinguir juízo de facto de juízo de valor. Os juízos de facto procuram
exprimir o que é ou como é a realidade, explicamos o seu ser. Quando emitimos um juízo de

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valor, apreciamos, avaliamos reconhecendo ou retirando valor, mas não acrescentando nada à sua
estrutura.

“Quando dizemos de algo que vale, não descrevemos o que esse algo é, mas que ele não é
indiferente”. (García Morente)

“Um juízo de valor não é arbitrário (tal como o não pode ser um juízo de facto), refere-se
a seres ou condutas julgados à luz de certos valores. É um juízo que supõe a adesão de um
sujeito a um ideal, uma referência com o qual compara as coisas ou acontecimentos.”
(Guy Rocher)
O valor é portanto anterior ao juízo de valor e faz com que julguemos a realidade em
termos do que deve ser, em termos do seu grau de estima.
A hierarquia de valores que assumimos influencia a forma como agimos e julgamos o que nos
rodeia, podemos, assim, dizer que os valores funcionam como princípios orientadores da nossa
ação e dos nossos juízos valorativos. Então, o nosso querer, as nossas ações e juízos têm que ter
uma referência para não serem à deriva, ao acaso, ao sabor das circunstâncias. Se os valores do
homem fossem diferentes, o mundo seria julgado de modo diferente e a nossa atuação teria uma
diferente orientação.

* Os valores têm uma estrutura hierárquica: os valores são múltiplos (éticos, estéticos,
religiosos, económicos, intelectuais, vitais) mas não nos aparecem como um amontoado, antes
como uma certa ordem de prioridades, quer isto dizer que, nas diversas situações ou
circunstâncias, há valores que consideramos superiores e outros inferiores, isto é, uns parecem-
nos mais nobres, mais elevados, outros mais baixos, menos nobres; há uns que nos aparecem
com maior força e exigência e, como tal, uns que preferimos e outros que preterimos. Esta
hierarquia não é rígida sendo influenciada por fatores pessoais e histórico-culturais, mas admitir
flutuações na hierarquia de valores não significa que todas as hierarquias tenham a mesma
legitimidade.

QUESTIONÁRIO:

1. a) O que são os valores? Fundamenta a tua resposta tendo em conta os textos


estudados.
b) Dá exemplos de valores e de bens.
2. Em que consiste a polaridade dos valores?
3. Caracteriza juízos de facto e juízos de valor. Dá exemplos que não sejam extraídos dos
textos.
4. Explica de que forma os valores influenciam a ação do homem.
5. a) Os valores são hierarquizáveis. Porquê?
b) Explica a frase do texto de apoio que se encontra sublinhada.

Questão a debater:
- Os valores são referências diferentes de indivíduo para indivíduo ou de sociedade para
sociedade ou existem valores comuns a todos os homens?

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