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RAFAEL LANDU LAU (2005)

A Dimensão Axiológica

Criada a filosofia dos valores, a qual estabelece a distinção entre o ser e o


dever-se procurou-se compreender em seguida o modo como o Homem cria as
qualidade nas coisas. Nestes termos, a resposta vem-nos de Immanuel kant.
Este filósofo esclarece: que as qualidades resultam do juízo de valor
estabelecido na passagem das coisas do facto ao dever-se. O que é um juízo
de valor? É o raciocínio ou ideia que uma ciência normativa emite sobre as
coisas. Foi então que, no século XIX, a axiologia se autonomiza da filosofia e
passa a ser a ciência que estuda os valores das coisas em todas as vertentes
da ciência.

3.2 Os valores e a sua classificação

O que é o valor? Quais são as suas características? A estas perguntas dar-se-


iam, vários tipos de respostas; mas a doutrina filosófica, dividida entre
racionalistas (idealistas ou subjectivistas) e empiristas (materialistas ou
objectivistas), obriga-nos a seguir este dualismo gnosiológico. E para o nosso
estudo solicita-se, a priori, uma síntese pedagógica.

Distinguindo o valor, tanto na metafísica dos valores como na própria axiologia,


as ideias problematizam o objecto de uma tal maneira que nos leva à procura
de uma posição consensual sobre a matéria em alusão. Genericamente, valor
é uma qualidade atribuída a uma coisa, a partir da avaliação ou juízo de valor
feito sobre ela. Como características observa-se um valor atribuído a urna
coisa que pode ser positivo ou negativo. Os tipos de valores seguirão urna
classificação própria.

Sobre o valor, podemos destacar dois exemplos: 1.º a independência de


Angola em 1955_ Este facto ou acontecimento tem um valor; neste caso, o
valor corresponde à importância que o facto tem para o povo angolano, data e
acontecimento que não marca os outros povos do mundo {e pode ver-se desde
já o carácter relativo dos valores – para uns é e para outros não é); 2.º qual é o
valor de um carro e de um avião? Aqui podemos avaliar os objectos pela sua
utilidade, pela sua importância, preço ou custo, peso, qualidade, etc.
No primeiro caso, podemos compreender um tipo de valor diferente do
segundo exemplo. Na definição do valor, dois sentidos se destacam: o primeiro
é o objectivo, pois nada se valora sem que tenha urna existência real e, por
isso, certos autores fazem entender que a qualidade depende intrinsecamente
da existência da coisa; então, é necessário que o objecto tenha consigo o seu
valor; exemplo: entendemos que o carro é útil porque traz consigo a sua
utilidade (o valor do carro) para o Homem. O segundo é o subjectivo, o qual
explica que o Homem, no uso das suas faculdade psíquicas, estabelece o valor
de cada coisa e, por isso, deve-se pensar a externalidade dos valores dos
objectos; aliás, não é por acaso que algo seja belo para alguém e feio para
outro.

O facto é sempre um acontecimento sucedido e observável num determinado


espaço e tempo. Daí que a qualificação valorativa aplicável aos objectivos ou
facto esteja intrinsecamente adaptada a duas características que identificam
necessariamente aquilo que devem valer: a primeira é a característica que
determina que toda a qualidade atribuída a um objecto ou facto deve ser
positiva. Esta característica agrupa consigo todas as qualidades racionais do
sentido positivo que devem ser atribuídas aos objectos, independentemente da
área desse objecto - a verdade, o bem, a paz, a alegria, o belo ou o bonito, o
agradável, o útil, etc. A segunda é a característica negativa, a qual determina
racionalmente as qualidades de tipo desagradável (negativo) que qualquer
Homem atribui às coisas: falsa, mentirosa, maldosa, azeda, amarga, feia,
conflituosa, inútil, não agradável, etc.

Portanto, toda a qualidade atribuída a um objecto pode ser positiva ou negativa

Exercício

1. Elabora dois exemplos aos quais aplicarás uma qualidade positiva e


negativa.

O valor de um objecto será positivo quando agrada aos sentidos e ao espírito e


será negativo quando não causa no nosso espírito e nos nossos órgãos dos
sentidos uma harmonia agradável.
Como se forma a ideia de valor? É preciso notar que o Homem está diante de
uma tripla dimensão existencial: primeiro, o Homem vive num meio natural e
social que permite a sua realização na utilização das coisas; segundo, o
Homem é possuidor de uma esfera de racionalidade, cuja consciência está
capacitada para a formulação de conceitos; terceiro, tem a ver com a
formulação de juízos de valores sobre a realidade. Desta forma, a consciência
(moral e psicológica) forma o valor a partir da vivência que: estabelece com as
coisas, a qual origina uma certa consciência psicológica; a ideia do valor como
uma fonte ontológica, reflexo espiritual das coisas e o juízo de valor ou
formação das próprias qualidades que, por sinal também devem existir para
que possam ser apreendidas.

Portanto, para a formação do valor, três elementos se destacam: a vivência


com e com objecto; a ideia desse objecto e a qualidade em si a ser atribuída ao
objecto.

Hoje, os valores multiplicaram-se tal qual se multiplicaram os conhecimentos


sobre as diversas partes que compõem o nosso mundo. Tem sido um dos
motivos que torna difícil precisar os seus conceitos, pois a sua hierarquia e
pluralidade já não facilita tal processo. A filosofia dos valores estabeleceu duas
classificações básicas dos grupos de valores:

A primeira classificação agrupa os valores da ordem material dos objectos e a


segunda classificação agrupa os valores de ordem espiritual ou ideal. Por sua
vez, os valores agrupados na ordem material integram os valores utilitários,
estéticos, simbólicos, económicos e alguns de âmbito social, etc. e a ordem
espiritual ou ideal integra os valore: éticos, religiosos, etc.

A Dimensão Axiológica nnado espaço e .::s valores utilitários adaptam-se às


qualidades positivas e negativas que influenciam steja íntrínseca-.r -=-~ ou
utilização consumível de todo o bem sócio-natural; característica paralela aos
trilo que devem=z. ::e económicos, os quais incidem mais precisamente nas
qualidades ou proprieda,.i.i.ribuída a um ..:...:5 ze duração, importância, peso,
preço, efeito de utilização, perfeição de fabrico ~, as qualidades ~-=-rrlade),
resultantes fundamentalmente das relações económicas. Exemplo: um ?
endentemente ~-=- ·:::: OJ.Sta 10,00 Kz; será que o montante pago em
dinheiro corresponde exactamente .w, o agradável, .::...."'5- ::::.stos do objecto
(tempo que levou a ser fabricado, matéria prima, transporte da unente as qualí-
-.,.-;-fu, taxas comerciais, etc.)? .sas: falsa, men- .::s valores estéticos retratam
as qualidades e categorias adaptáveis à beleza dos :::::""-os: o bonito, o feio, o
sublime, etc. Já os valores éticos se prendem às qualidades -::--- orais do
comportamento humano: o bem e o mal, a verdade e a falsidade, o ---::- e o
ódio, etc. Os valores simbólicos referem-se à importância atribuída às pren-
------ .:...,::_ .:-:ertas que podendo ser simplíssimas, mas que concentram e
assumem em si qua- _ .;,- -:c-=?S valiosas em razão da intimidade dos
sujeitos. ::.u negativa. ~ negativa.

A teoria dos valores - a axiologia - provoca grandes controvérsias teóricas


dentro da acção valorativa das coisas. Pois, por um lado, versa-se a teoria
subjectiva, a qual faz crer que a qualificação do valor das coisas acontece
através de um processo que começa na consciência e o sujeito. Este observa
um objecto, elabora nele uma qualidade é aplica-a ao mesmo objecto: E neste
contexto, como observámos atrás, deve-se distinguir a coisa, a idade e a
qualidade.

Logo, qualquer qualidade predicável a um objecto depende do sujeito. Por


outro lado, destaca-se a teoria objectiva, que defende que a qualidade é
própria do objecto e, por isso, não depende da elaboração do sujeito. Enquanto
a teoria relativa salta os extremos da avaliação dos objectos, sustenta-se que a
qualidade aplicável às coisas depende apenas do contexto e, por isso, nunca
homogénea para todos e todas as épocas. E a teoria unitária que vê no valor
aquilo que é substancial, por isso, analisa a inseparabilidade entre o objecto, a
consciência e a qualidade, isto é, não haverá qualidade sem consciência que a
apreenda, o objecto que a tem e a própria qualidade.

ara que possam :;_ência com e 3..3 Historicidade e perenidade dos valores
ecímentos sobre A multiplicidade dos valores é resultado da contínua evolução
do Homem e do pró:,tivos que torna .=--:Jl mundo, das experiências naturais e
sociais em fluxo no processo revelativo das :: não facilita tal -==Srobertas. E as
novas experiências pressupõem, quando muito, uma renovação do '." dos
grupos de ~ento, que em certa medida implica a revogação de alguns valores
antigos para

Neste contexto, surge sempre uma pergunta: novos. e: será que as antigas
experiências já não têm nenhuma utilidade e, por isso, não valem? E não mais
sendo válidas devem ser rejeitadas? A história da antiguidade já não tem
nenhuma importância para o Homem novo? Se não, então como se poderá
saber das nossas origens e daquilo que nos identifica com os outros?

Destas questões se vê a necessidade de enquadrar os valores no tempo e no


espaço (historicidade), com vista a calcular a sua duração e permanência
(perenidade) cultural.

As consciências eruditas entendem que os valores novos são a consequência


dos antigos: o valor da independência, do racismo, das tecnologias antigas
sobre as novas, os princípios científicos dos antigos para as ciências modernas
e contemporâneas, etc. Significa que se analisarmos o problema por um ângulo
subjectivo dir-se-á que tudo muda; mas visto numa perspectiva objectiva ver-
se-á que houve apenas uma evolução e não necessariamente uma mudança,
pelo menos ao nosso entendimento. Pois, diz-se certamente que mudam o
tempo, as sociedades, a utilidade das coisas Não Rigorosa mente não mudam,
mas evoluem. O sistema de comunicação é só um e não mudou mas que
devemos admitir a evolução de várias modalidades e meios de comunicação
em torno do sistema tradicional é inquestionável.

Podemos ter como exemplos o valor do meio de transporte no passado, que


pensa-mos não ter mudado; mas evoluíram vários meios e modos de
transportar as coisas. o valor da vida no passado obriga a que façamos evoluir
outras formas de fazer respeitar as nossas vidas com elevada eficácia.

Tudo isto só concorre com a ideia segundo a qual há antigos valores que
permanecem na história dos novos. Não há valor que não resulte da história do
Homem e, por isso, caminham com ele, no seu processo evolutivo, de geração
em geração. Os valores estão intimamente ligados a um processo histórico e
cultural de um povo, visando, em cada tempo e espaço, expressar um certo
modus vivendi desse mesmo povo sobre aquilo que acha das coisas.
Doutrinalmente, o problema da historicidade e perenidade dos valores é
complexo, assim como o é na própria sociedade. A razão é que assume
respostas diversas, mas constatando que o valor não é o objecto nem é a
consciência, porque são realidades diferentes. Uma das preocupações
formuladas pela doutrina consiste em saber se a qualidade a ser predicável a
um objecto está ou não nesse objecto? Por outro, se está no objecto, por que
tem sido notório que sobre o mesmo objecto se vejam duas qualidades opostas
por sujeito diferentes? Neste caso, não será que tal qualidade está na
consciência de cada sujeito? E se estiver, já não poderá estar no objecto? Mas
que a qualidade exista numa relativa independência entre o sujeito e o objecto,
isto é algo irrefutável. É neste aspecto que se verifica a verdadeira ontologia e
a dialéctica dos valores em filosofia.

3.4 Os valores do mundo contemporâneo

A valoração filosófica das coisas assente na ideia de «preferência ou escolha»,


provoca, nos nossos dias, inúmeras perturbações sociais. O receio, a respeito
do passado sobre a propriedade é considerado nulo. Os mais velhos só dizem:
«o mundo de hoje está perdido». Estimam frequentemente o seu passado e
blasfemam o comportamento: dos jovens dos nossos dias. 40

O lapso dos adultos sobre os jovens, nas histórias do seu passado, consiste
em não conseguirem notar os erros nelas constantes, pois vários erros da
juventude do presente são fruto passado: a poligamia é um facto matrimonial
valorizado pelos antigos que ainda influi no mundo contemporâneo; o roubo, as
guerras, etc. são acontecimentos do passados persistentes até hoje. Ora
dissemos que não se trata fundamentalmente hoje determinada
acontecimentos e valores que continuam a ser defendidos. Dito de outro modo,
o Homem do passado defendeu e protegeu protegidos no mundo certo
contemporâneo. Tais são os casos, por exemplo, do poder familiar, até hoje
dirigido maioritariamente pelo sexo masculino, embora em ora com excepções,
dai a razão da emancipação; da poligamia; da preferência pelas coisas bonitas,
etc. De uma forma geral, tanto no passado como no presente, defende-se o
bem em detrimento do mal; a verdade em detrimento da falsidade e da mentira;
do bonito em detrimento do feio; do conhecimento em detrimento da
ignorância, etc.

Os avanço da ciência e da tecnologia permitem ao Homem ostentar os seus


valores, as suas qualidades estéticas, psíquicas, morais, etc. A política e o
direito, emancipados do absolutismo monárquico, evoluíram do Iluminismo, que
mostrou como é bom viver livre e em democracia, permitindo a defesa dos
direitos humanos e de outros princípios básicos da harmonia humana.

De Ponto de vista moderado admite-se que o campo dos valores morais ou


éticos, visando, era muito mais actuante no passado do que no presente. A
consequência desta dinâmica, da multiplicidade de valores negativos, permite
hoje observar o aperfeiçoamento da juridicidade para restituir ao povo o
respeito pela propriedade alheia, pelos princípios morais, políticos, sociais,
culturais, científicos, etc. A tecnologia evoluiu de tal modo que algumas
pessoas aproveitaram o seu relativo poderio e o carácter desarmado, da moral
para a destruição do mundo. Por isso, vai sendo comum em todo mundo, à luz
da própria globalização, a criação de várias instituições para controlarem tas
situação, pois estando a moral desermada no seio do povo, a acção do direito
deve medir todos os comportamento.

Admite-se que muitos valores e bons costumes se encontram deteriorados nos


nossos dias. Quais são as causas? Que moral terá um cidadão diariamente
com fome? Que moral terá um cidadão sem emprego? Que moral terá ele sem
um salário compatível às exigências do mercado? Que moral poderá ter com
os atrasos de salários? Que consciências terá o cidadão comum da protecção
e preservação do bem comum quando sabe que os seus dirigentes são os
primeiros a devastarem o bem comum? Que consciência terá um cidadão
cidadão que observa a falta de alternância política?

porém, o Homem moderno não só destrói mas também constrói e protege. O


direito protege o Homem através das leis que cria35; as ciências elaboram as
teorias e os princípios que ajudam à harmonia dos homens; o aperfeiçoamento
da medicina está a contribuir para a tentativa de se prolongar a saúde de um
certo organismo; a tecnologia facilita hoje, incalculavelmente, as deslocações e
a comunicação entre os homens, etc.
José Ndala (2011)

A formação de valores: sua caracterização gnoseológica

Definição

Alguns autores definiam os valores humanos absolutizando-os na esfera


subjectiva do ser humano. Assim, a primeira etapa importante do nascimento
do conhecimento de valores surge com o pensamento dos estóicos nos
séculos IV e III antes da nossa era, os quais definiam os valores humanos
como toda a contribuição à vida Sobre a base da razão. Falava-se, nesse caso,
de valores da virtude, honestidade, etc; sempre desde a subjectividade
humana.

Outro momento importante que faz referência aos valores, é o do pensamento


filosófico dos séculos XVII e XVIII em que se desenvolve o conceito de valores
humanos sobre a base de que o valor de todas as coisas é o seu preço dado
pelo próprio homem, o qual pressupõe a persistência de uma concepção
subjectiva do fim, tal como sustenta o filósofo materialista Thomas Hobbes
(primeira metade do século XVII).

Outra etapa que dá a continuidade à evolução de conceitos de valores


humanos encontramo-la no pensamento clássico alemão dos finais do século
XVIII e princípios do século XIX, onde este conceito se eleva sobre a noçáo do
bem, vinculando-o à significações económicas mas sempre :f-Etenninadas pela
posição do homem como ponto de partida, o qual lhe dá a. pennanência num
enfoque subjectivista do problema.

Com o o surgimento do Marxismo na segunda metade do século XIX, o


conceito de valores humanos vulgariza-se e assenta sobre a base da relação
entre o factor objectivo e o factor subjectivo na consciência humana, quer dizer,
da correlação entre a vida material e a vida espiritual da (14) sociedade. Foi
nesta linha de pensamento que o pedagogo alemão Scholz sustenta a tese de
que os valores são uma relação sujeito - objecto resultante das valorizações de
um processo de reflexo específico. na consciência, que expressa a importância
e a significação da realidade para o homem.
A enciclopédia da Filosofia contemporânea propõe uma definição conceptual
de valores humanos da seguinte maneira": Valores humanos são as
determinações sociais dos objectos circundantes que põem de manifesto a sua
significação positiva ou negativa para o homem e a sociedade". E alguns textos
da literatura filosófica contemporânea aprofundam na essência dos valores
humanos destacando o pressuposto da significação da realidade objectiva para
as necessidades humanas, ê precisando o carácter positivo desta significação,
definem os valores humanos como propriedades funcionais dos objectos
consistentes na sua capacidade ou possibilidade de satisfazer determinadas
necessidades humanas e de servir a prática do homem. É a significação
socialmente positiva que adquiriram os objectos a serem incluídos na
actividade de prática humana.

Fabelo (1996), assinala que: "o · valor humano é a significação essencialmente


positiva que possuem os fenómenos e os objectos da realidade, não é qualquer
significação, senão aquela que joga um papel positivo no desenvolvimento da
sociedade."

JO que se expõe aqui sobre a evolução histórica do conceito de valor humano


permite destacar dois momentos importantes: primeiro, desde os Estóicos até à
primeira metade do século XIX que sustentava uma interpretação subjectiva do
conceito, e o segundo, e mais profunda etapa, é a partir da segunda metade do
século XIX até aos nossos dias que sustenta a tese de analisar o conceito dos
valores humanos desde a óptica da relação recíproca e dialéctica do subjectivo
e objectivo, isto é, vê-lo com a unidade e diversidade da vida espiritual e
material de toda a sociedade.

Este novo enfoque tem contribuído para esclarecimento do problema e tem


inspirado a importantes e prestigiosos pedagogos, psicólogos, sociólogos, ao
estudo desta poderosa esfera da acção humana (15).

Segundo Guzman (2003), sobre o conceito de valor humano assinala o


seguinte:

"Ao que mais se parece o conceito de "valores" é ao de "fins," entendidos como


a causalidade que produz qualquer actividade essencial dos sujeitos
dinâmicos." Outra interessante interpretação é de Acosta (1998), que define os
valores humanos como:

"ideais que actuam ao modo de causas finais, isto é, são, por um lado, o motor
que põe em marcha a nossa acção e, por outro, a meta que queremos
alcançar, uma vez postos os meios adequados. Portanto, os valores são
finalidades e não meios e, por isso, estimados por si mesmos e não com vista a
uma outra coisa".

Ao tentar definir a categoria de valor, existe o problema de que este termo tem
várias significações desde o ponto de vista semântico, pelo que se torna
necessário determinar os limites nos quais se utiliza o conceito.

Pelo que se conhece, o valor associa-se ao preço das coisas, a importância de


algo, a utilidade de um objecto ou fenómeno da realidade. Para definir este
conceito há que partir da relação entre o objectivo e o subjectivo. Ao tocar a
essência desta relação, é indispensável encontrar um nexo entre tudo aquilo
que exista independentemente da nossa consciência e tudo aquilo que
depende da nossa consciência. A teoria acerca dos valores não escapa desta
relação.

Tendo em conta estes elementos todos, podemos entender por valores


humanos, juntando-nos ao critério que oferece (Fabelo, 1996).

"Valor humano é a significação socialmente positiva que possuem os


fenómenos e objectos da realidade, não qualquer significação, senão aquela
que joga um papel essencialmente positivo no desenvolvimento da sociedade.
(16).

Sua evolução

O termo valor na sua evolução histórica apresenta três conotações diversas: do


ponto de vista económico quer significar dinheiro, custo, como refere o
economista inglês A. Smith. Foi nesse sentido que Marx na segunda metade do
século XIX, usou o termo valor na discussão sobre a mais - valia do trabalho...
Eticamente, o termo quer indicar a virtude moral com a qual e pela qual se
afrontam grandes perigos e se realizam grandes proezas, ou a nobreza duma
pessoa. No aspecto ontológico o conceito valor é estudado na sua totalidade,
em si mesmo como a categoria que ilumina todos os aspectos da vida pessoal
e social do homem.

O valor é um conceito de difícil definição pela complexidade do seu carácter e


porque constitui objecto de estudo de diferentes ciências tais como a Filosofia,.
em seus ramos da Ética, (da qual faz parte a Axiologia) e a Estética, a
Sociologia, Psicologia e a Pedagogia. O conceito de valor tem sido comparado
com um poliedro, que tem muitas faces, que pode ser analisado de diferentes
ângulos e visões.

De modo geral, o valor pode caracterizar' - se como um conceito cuja essência


é o seu valer (o que vale), o ser valioso, quer dizer, o valor refere - se àqueles
objectos e fenómenos que têm uma significação social positiva e jogam uma
dupla função: como instrumento cognoscitivo e como meio de regulação e
orientação da actividade humana. A estas funções se tem chamado: função
cognitiva e função pragmática.

O valor tem um carácter relacional, é a função de duas variáveis: o sujeito e o


objecto, mas o carácter relacional do valor não se reduz à relação sujeito -
objecto vista antes, mas a sua génese, expressão e desenvolvimento têm lugar
nas relações sociais e nos vínculos inter - subjectivos.

Existem diferentes classificações dos valores, a mais frequente faz referência


ao conteúdo de distintas esferas nas quais se manifesta o valor: :eórico -
cognoscitivo, ético - morais, estéticos, económicos, sócio - políticos e religiosos
(17).

Em análise filosófica do conceito de valor têm - se distinguido duas posições


contrapostas (opõem - se): a da filosofia burguesia e a da filosofia marxista. Os
filósofos Fabelo (1996) e Suárez (1995), fazem uma valiosa caracterização de
ambas as posições, marcadas pela presença de grandes polémicas, acerca de:

 O carácter objectivo ou subjectivo dos valores e a sua possibilidade ou


não de se submeter a análise científica.
 A origem social e transcendente dos valores.
 O carácter universal e imutável ou histórico concreto e dinâmico dos
valores.

Ao longo deste capítulo se examinarão as distintas posições assumidas acerca


destes três eixos interpretativos da problemática dos valores desde a óptica
filosófica.

O estudo de valores desde a óptica pedagógica e psicológica

A ciência pedagógica auxiliada pela psicologia aborda o estudo dos valores


fundamentalmente desde a sua expressão subjectiva, buscando a explicação
acerca de origem e regularidade do desenvolvimento daquelas formações
psíquicas, da sua estrutura e funcionamento, que possibilitam a orientação do
homem e a sua valorização com relação ao mundo que o rodeia, em particular,
produz as relações humanas e produz - se a si mesmo, (faz - se a si mesmo)
como parte desse sistema de relações.

O estudo dos valores morais, como sistema de valores ou princípios que


caracterizam a esfera moral da personalidade do indivíduo, tem - se
desenvolvido desde as distintas ópticas conceptual e metodológica pela
Pedagogia.

Para enfrentar as dificuldades educativas e da formação de valores não há


respostas prontas, daí a necessidade de descortinar (enxergar) o acto
educativo mediante uma perspectiva Freiriana de educação: é necessário
problematizar os abrigos mediante uma relação dialógica (dialogal), horizontal,
contextualizada, interactiva e participativa. Todos os actores sociais devem ser
chamados em suas responsabilidades para que (18). colaborem neste
processo, com destaque para: os abrigados, seus familiares, equipa de
profissionais, comunidade, comunidade local e redes de apoio.

É através de uma postura ideologicamente orgânica que emergirá de


ambientes que possibilitem a dinamização das relações entre os pares sociais,
contribuindo activamente para a melhoria das condições dos abrigos, no
planeamento de políticas públicas, na oferta de novos serviços, no
reordenamento dos actuais abrigos e no investimento em formas alternativas
de· convivência que evitem a necessidade de abrigo. O sucesso de um olhar
educativo problematizador sobre o quotidiano dos abrigos é ter a utopia
agenciadora do oeseio de um dia falir a necessidade de que eles existam.

Os valores no contexto angolano

"Cada vez mais nota - se na nossa sociedade a desestruturação dos valores


humanos em Angola. Diariamente através das mídias ouve - se vários relatos
de violência, furtos, sequestros, matanças entre outros casos. Daí a
preocupação em querer que os indivíduos em geral e os estudantes de
Pedagogia em particular tomem consciência dos seus actos e busquem cada
vez mais a razão e pautem suas vidas nos valores humanos conforme a
estratégia segundo o pensamento de Agostinho Neto" (Ngueve, 2011 ).

A mesma autora coincidindo com Buxarrais (1997), Asmann (2001) e Barradas


(2005), afirma que as ciências educativas devidamente organizadas dentro da
sua metódica permitem que se constitua uma sociedade amplamente com os
princípios da moral. As ciências educativas são certamente promotoras da
moral social por encarregarem - se da educação, dando contributo e
continuidade aos princípios básicos dados pelos pais.

Os valores abordados e conjugados 19ncerram em si outros valores já que a


responsabilidade e o patriotismo são os pilares da educação que se exige para
qualquer indivíduo (19).

As ideias da autora e os autores citados vão ao encontro do trabalho


apresentado para a dissertação já que a situação adual dos valore em Angola
constitui uma problemática muito importante e necessária de atender como
refere a autora das ciências educativas como é a História.

Segundo Goergen (2003) e Grespan (2004), resultado do acelerado processo


cientifico - técnico o domínio da educação, enfrenta vários desafios dirigidos a
formação integral dos educandos. Um destes desafios é conceber

- o processo de ensino - aprendizagem onde o estudante transforme a sua


atitude receptiva de informação numa atitude activa para a busca de
conhecimento que constitui uma via na transformação da sua posição;
transformação de si próprio sempre que esta o motive, estimule a pensar, e
valorizar um trabalho intelectual ao seu alcance e progressivamente exigente.

No trabalho apresentado por Mateus (2011), este afirma que o educando tem
de estar consciente do seu papel como protagonista bem como dos seus
avanços e erros, e de como orientar-se perante as dificuldades para continuar
o seu progresso, de como valorizar - se a si mesmo e os demais.

Assim a importância social e actualidade do tema definido pelo autor, estão


expressas nas palavras de Sua Excelência Engenheiro José Eduardo nos seus
discursos dirigidos à Nação Angolana, no período compreendido de 1995 a
2009, visando resgatar os valores ético, morais, cívicos, culturais e religiosos
que não vão em choque com os princípios universais. Em sua obra o autor
refere as ideias fundamentais do presidente da República de Angola referente
ao tema dos valores tais como: Exemplo de valores extraídos da obra política
(valores) do Presidente da República de Angola Eng. José Eduardo dos Santos
que pode ser utilizada pelos professores. "Os pais e os professores são os
principais responsáveis pela formação do futuro do país" (dos Santos, 1998).

CABANAS (2002)

A dimensão moral da formação

Todos os autores são unânimes em considerar que a formação não atinge


apenas o plano intelectual ou racional da pessoa, mas afecta também as zonas
mais humanas e dinâmicas da mesma. Por isso, e de acordo com W. Rein,
"uma aprendizagem que tenha por finalidade a formação espiritual apenas se
pode realizar em liberdade; se esta for anulada através de prescrições
restritivas e de um rigoroso controlo, a aprendizagem perde alegria e força,
convertendo-se num adestramento forçado" ( 1895, p. 421). Continuando, W.
Rein queixa-se de que, neste século, as autoridades académicas retiraram
liberdade aos professores, pelo que - afirma - "o ensino deixou de ser uma
actividade livre e converteu-se num trabalho de fábrica, não sendo de estranhar
que dessas fábricas de formação saiam produtos manufacturados e não
Homens formados".
Assim, há que ter em conta "quão importante é para toda a questão da
formação o momento moral. A sua importância assenta no facto de a formação
ser essencialmente assunto da personalidade, configuração das disposições
naturais do Homem mediante uma apropriação do precedente tesouro de
formação ( ... ), pois a forma básica da personalidade é o carácter",
dependente sobretudo do uso da linguagem (K. A. Schmid, 1876, p. 706).

Diz-nos W. Rein ( 1895, p. 417) que se partirmos do esquema platónico das


três partes do Homem (razão, vontade e sentimento), a formação correcta
consiste na unidade de três virtudes: prudência, fortaleza e temperança. "Um
Homem correctamente formado é aquele no qual a razão cumpre o seu papel
de reflectir sobre os grandes pensamentos divinos da realidade e de determinar
a vida por si; aquele em quem, além disso, se desenvolveram nobres
sentimentos, de modo que o valor, a honra, a piedade e o respeito pelo que é
comum se converteram em determinações da sua vontade; aquele, finalmente,
para quem a vida instintiva e sensitiva ficou tão reduzida que, longe de ser um
obstáculo para a vida superior ou de a impedir, antes lhe serve de instrumento
e de representação".

IMBAMBA

CULTURA DO VALOR DA PESSOA HUMANA

A nossa tese fundamental é: o homem é sempre o ponto de partida e de ia de


toda e qualquer inovação cultural, e não só, que pretende ser autêntica e
proficua, Homem-cultura é um binómio inseparável: tal homem, tal cultura, e-
versa, tal cultura, tal homem.

Em consequência de tudo quanto vimos sustentando ao longo da nossa:


acção, a convicção que se cimenta é que o futuro de Angola depende,
sobremaneira, da redescoberta do homem como espírito, isto é, como pessoa:
conhecer a este pequeno espírito um valor absoluto, uma dignidade
incomparável, a quem é preciso subordinar qualquer outro valor excogitado
pela :t e pela tecnologia, é a condição essencial para assegurar a justiça, a paz
liberdade [ ... ]» à sociedade angolana do terceiro milénio.
Falar da cultura do valor da pessoa, significa falar da cultura da vida, do -io, do
respeito, do diálogo, da tolerância, da liberdade, da dignidade, etc., ntraposição
à cultura da morte, da instrumentalização, da prepotência, galomania, do
egoísmo, do individualismo, do vandalismo, da irraciode, etc., que inundou, e
de que maneira, a nossa sociedade. Eis porque é que a mudança deve ser
radical e corajosa: é o próprio homem, mediante um esforço titânico de auto-
reeducação, que deve renovar-se a partir de dentro, que audar drasticamente
as suas convicções e mentalidade caducas, arcaicas, ndas e mortíferas, para
revestir-se, assumir e promover aquelas que pondem à sua verdadeira e
autêntica vocação existencial, tendo em conta uanto vimos no capítulo
precedente.

É preciso, para o efeito, vencer aquela cultura tendente a votar o outro


insignificância total, reduzindo-o a puro objecto de manipulação, anulando
etamente as suas capacidades intelectivas e volitivos, muntcndo-o (222)
perenemente na ignorância e longe da civilização e considerando-o um
'inferno', e, por isso, algo a abater... Todavia, com Mondin, reafirmamos
veementemente que «sendo dotada dum valor absoluto, a pessoa humana não
pode ser tratada como um objecto, uma coisa, um instrumento de produção e
de troca, nem sujeita aos projectos económicos, políticos, culturais que só lhe
oferecem coisas »

Hoje, para Angola, mais do que nunca, urge trabalhar pela qualidade do
homem e da sua personalidade; em outros termos, urge recuperar e relançar a
dimensão espiritual do homem que, ao longo dos anos, foi e continua a ser
espezinhada, esvaziada de dignidade e valor e massacrada sem piedade. Por
isso, a nova cultura do homem novo deve ser uma cultura do espírito, uma
cultura do ser:

Uma cultura verdadeiramente humanística deve ter de mira, sobretudo e antes


cio mais nada, a promoção da dimensão espiritual do homem, o crescimento
do seu ser interior. A meta mais importante para a pessoa é crescer em
sabedoria e bondade, Todos os demais desenvolvimentos devem servir para
este escopo. Toca [por conseguinte] à sociedade [Estado] criar as condições
que facilitem a todos os homens a realização do seu desenvolvimento pleno,
satisfazendo, na justa medida, as necessidades de todos e oferecendo a todos
um nível de educação que os torne mais conscientes e responsáveis na
conquista duma personalidade mais rica

Esta verdade sacrossanta deve empenhar-nos em todos os sentidos, no


pensar e no agir, pois o ser pessoa não é um acto de convenção jurídica, como
quer dar a entender certa corrente filosófica, em que o homem é pessoa não
por causa do seu ser, mas por causa do reconhecimento externo, benevolente,
arbitrário, caprichoso e condescendente dos outros ( os mais poderosos)
membros da sociedade. Por causa desta postura estamos a viver numa cultura
assassina, onde a vida humana (embrionária ou adulta) não conta para nada,
as pessoas são matemática e tranquilamente despersonalizadas, embrutecidas
e reduzidas a simples números, sem nome nem identidade: é o sentido do
humano que está a desaparecer diante dos nossos próprios olhos! A verdade é
que não compete a nenhum homem, por mais potente que seja, dar ou negar
aquilo que alguém é por natureza.

Estamos convencidos que se restituirmos ao homem a dignidade e o valor que


lhe cabem, respeitando a sua inviolabilicladc, integridade, sacralidade, (223)
individualidade e personalidade, esta podridão cultural que nos asfixia, deixará
o lugar para uma cultura promotora do valor-homem, uma cultura criadora
duma nova forma espiritual para a sociedade, mediante o. cultivo das pessoas,
cujas relações não serão mais massificadas, mas sim personalizadas; das
relações numéricas passar-se-á às relações nominais, interpessoais: todos se
respeitarão como valores absolutos, incentivando e emanando, desta feita,
aquela cultura que todos almejamos e reclamamos com urgência, a cultura do
humano, a cultura da comunhão :fraterna, enfim, a cultura da convivência
pacífica.

JAMBA

Na vida prática, parece que temos os conceitos ou pelo menos as ideias bem
nítidas das palavras que usamos frequentemente. Mas acontece que uma
palavra que conhecemos aparentemente (porque conhecer algo
superficialmente não é conhecê-lo) e usamos com frequência, pode levar-nos a
dificuldades em defini-la. Por exemplo, o caro leitor conhece a palavra fome e
tem uma ideia do que ela exprime; mas se alguém lhe pedir uma definição ou
conceito dessa mesma palavra, que por sinal lhe é familiar, certamente
precisaria de alguns minutos mais para reflectir.

Daí que, antes de avançarmos, precisamos de nos situar ao nível dos


conceitos das palavras que fazem o nosso tema: RESGATE de VALORES
MORAISA

CONCEITO DE RESGATE

A palavra resgate - derivação regressiva, isto é, passagem de um verbo para


um substantivo - provém do Latim Remoto «RECAPTARE, RE-
CAPERE=tornara ter». Mais tarde evoluiu para «RESGATAR» (Latim posterior
- REEXCAPTARE) (12).

Em todas essas versões vê-se a ideia de «LIVRAR», «RE-HAVER».

Como se pode notar, a palavra LIVRAR pressupõe um movimento em direcção


à essência, aquilo que se «Foi» e ainda «É», embora de forma opaca; a
palavra RE-HAVER (voltar a possuir) é outra cujo substrato não foge a
primeira, já que esta palavra também nos remete naquilo que já foi visto (que já
é). Esta revisão não é dos elementos adicionais, mas sim daqueles que
sustentam os adicionais, o que quer dizer, re-haver a essência; a natureza da
coisa. Por isso, diz-se que Cristo veio resgatar o Homem decaído; veio
devolver ao Homem a sua verdadeira natureza, a natureza da graça.

Assim, RESGATAR é salvar, buscar aquilo que se era e que se perdeu; é


devolver a verdadeira natureza de uma determinada realidade, muitas vezes,
oculta; é ir buscar aquilo que se perdeu

CONCEITO DE VALOR

Valor é uma palavra também de origem Latina; proveniente do Latim tardio:


«VALORIS», que significa: «aquilo que uma coisa vale; qualidade de uma coisa
fundada sobre a utilidade» (13)

Como se pode notar a partir da etimologia, não e fácil criar um conceito muito
claro desta palavra; repare que entre as palavras que tentam descrever a
etimologia, ainda encontramos a palavra "VALE" que é da natureza de VALOR
tal como afirma R. Cabral:

"Rigorosamente falando, o valor é indefinível; apenas podemos descrevê-lo


mais ou menos fielmente".

Não obstante a essa realidade, pode-se encontrar dois elementos ligados ao


valor: A OBJECTIVIDADE E A SUBJECTIVJDADE, já que o valor é a qualidade
(SUBJECTIVIDADE) que encontramos nas coisas, e esta qualidade aponta
para um fim, para uma utilidade, uma prática (OBJECTIVIDADE).

Quer dizer que os valores são valores, ou seja, valem na medida em que estão
ligados a ,existência humana (directa ou indirectamente), tal como afirmam
Frandizí, (1999) e lbanez (1976):

"Os valores estão :ligados a existência humana possuindo dimensão objectiva


e subjectiva: objectiva na medida em que os valores são metas, objectivos, fins
que apontam a conduta humana; subjectiva porque estão ihi11t1imamente
lldrgadlos às motivações e aos des,ejos, dependendo da ,en,ergia emocional e
sentimental que :impulsiona as acções"(14)

Podemos então dizer que o VALOR é a força, energia, que reside nas coisas
ou seres e que as orienta para um fim POSITIVO OU NEGATIVO. Daí a
existência de valores positivos e negativos.

CONCEITO DE MORAL

É comum o uso desta palavra no quotidiano,; mas nem sempre ela é usada
segundo a realidade que ela exprime. Muitas vezes é confundida com a Ética.
Ora, a Moral é uma palavra vinda também do Latim: «MOS; MOAIS», com
significado de «MODO DE PROCEDER», «COSTUMES»,
«PROCEDIMENTO», «COMPORTAMENTO»

Se tivermos que simplificar estas palavras teremos apenas uma: HÁBITO, igual
a MORAL, ou seja, MORAL igual a HÁBITO.

O hábito normalmente surge e é sustentado por uma obrigação, regra, norma


ou lei; isto é, quando o indivíduo por força da lei ou norma, ou ainda uma regra
(objectiva - subjectiva), percebe ou se sente impelido a proceder de uma e não
de outra maneira, com o tempo, esta prática passa a ser um hábito.

Por exemplo, na região Sul do país, mais propriamente nas províncias de


Benguela e Huambo, quando morre alguém os familiares e outras pessoas
próximas são obrigadas (NORMA) de forma objectiva ou subjectiva a darem
uma contribuição para suster as despesas do óbito. Esta prática (15) enraizou-
se de tal maneira que hoje muita gente nesta região preocupa-se mais com as
contribuições depois da morte do paciente - CONDOLÊNCIA-, do que pela cura
do mesmo enquanto se encontra doente (HÁBITO).

Mas atenção! antes de mais vale lembrar que toda a norma ou lei, tem por
fonte a lei maturai, a lei divina, a lei da consciência, que orienta o homem a
fazer o BEM e a evitar o MAL. Isto implica que a Moral não seja apenas um
conjunto de práticas que o indivíduo assimilou e que manifesta no seu dia-a-dia
- HÁBITO OU COSTUME- como no-lo diz o Pe. Estêvão Binga:

"Isto levou muitas vezes a equívocos: reduzindo a Moral em chave linguística


simplesmente ao costume, esquecendo o seu sentido autentico e próprio de
«CARÁCTER»

Quer dizer que a Moral aponta para o conjunto de práticas habituais - HÁBITO
OU COSTUME-POSITIVOS que se convertem no carácter da pessoa. Por isso,
dizemos que uma determinada prática é imoral (por exemplo um pai que viola a
filha) e que outra prática é moral ( como por exemplo ajudar o necessitado).

"Será também neste sentido que o carácter moral virá a coincidir com o
predicado «bom» aplicado a uma pessoa de maneira global.

Podemos então concluir com Fernando Savater, que:

"«Moral» é o conjunto de condutas e normas que tu, eu e alguns dos que nos
rodeiam costumamos aceitar como validas;

A Moral é um conjunto de hábitos e costumes assentes em valores objectivos,


isto é, valores universais ou absolutos; é uma forma habitual de proceder de
acordo a lei natural; É agir com base na orientação da consciência.(17).
NATUREZA DO VALOR

A natureza do valor é muito discutida, pois, alguns como Perry e Meinong,


defendem a sua subjectividade, vendo nele algo que só é valioso (só tem valor)
quando apreciado por alguém. Perry afirma que uma coisa qualquer tem valor
quando é objecto de interesse. Na mesma senda, Meinong afirma que o valor
das coisas está no agrado que tais coisas produzem no suJeitoª. Mas note-se
que nem sempre as coisas que produzem agrado valem e vice-versa. Por
exemplo: um acto de delinquência é agradável para quem o pratica, ou seja, o
delinquente vangloria-se do seu acto. No entanto, este acto não é valioso. O
contrário também acontece. Assim, um acto valioso nem sempre é agradável:
para curar a ferida (acto valioso) é preciso lavar a mesma ferida, o que não é
agradável

Outros, entre eles LOUIS LAVELLE {1951 ), MAX SCHELER (1941) e


MANUEL KANT {1724 - 1804), defendem a objectividade do valor,
exactamente porque ele é o pai da moralidade. Para si, embora o valor possua
dimensão subjectiva, ele é essencialmente objectivo. Por isso, Louis Lavelle
{1951) diz mesmo que o valor é uma experiência do absoluto. Na mesma
corrente de ideias, Max Scheler ( 1941) encara os valores como sendo
independentes dos seus (20 )deposltártos". Enfim, Manuel Kant considera os
valores como imutáveis e absolutos, como a seguir citamos:

"[os valores] são imutáveis porque não variam com os seus depositários, já que
são independentes deles; são absolutos, porque não estão condicionados
pelos factos: o que é relativo é o conhecimento dos valores pela pessoa, mas
não os valores em sim".

Com este argumento, Kant supera o pensamento de Perry, segundo o qual, o


silêncio do deserto carece de valor até ao momento em que um caminhante se
encontre desolado e aterrado, já que este caminhante não criou o valor,
apenas contempla aquilo que já era antes de o observar. Podemos então dizer
que o valor é de natureza objectiva, embora possua dimensão subjectiva.
Portanto, a subjectividade do valor não anula a sua objectividade, mas sim,
completa-a. Daí resulta que apreciar um valor somente na dimensão subjectiva
é subestimar tal valor. O valor vale enquanto valor e não porque é apreciado;
ele é como a luz do sol que existe, embora ignorado e não apreciado pelos
cegos.

TIPOS DE VALORES

Os valores, enquanto adjectivos, podem ser positivos ou negativos. São


positivos quando apontam para um fim ético ou moralmente aceite: visitar, por
exemplo, um enfermo; pagar o salário justo ao trabalhador... É negativo quando
é (21) contrário ao primeiro. Cito como verbum gratiae, o divórcio, ét
eutanásia...

Vamos debruçar-nos um pouco mais sobre os valores positivos. Estes podem


ser:

Valores Morais: são uma gama de virtudes que a pessoa capta e/ou descobre
de forma consciente ou inconsciente e se manifestam na sua conduta: o amor
a compaixão, a justiça, a misericórdia, a hospitalidade, o respeito, a
responsabilidade, a liberdade...

Valores Vitais e Materiais: apontam para a nossa realização enquanto seres


vivos e humanos: a alimentação, o descanso, a saúde, a roupa, os calçados, o
dinheiro...

Valores Estéticos: exprimem a qualidade, a beleza ou a ordem que


encontramos nas coisas, objectos ou seres: a graciosidade, a harmonia, o belo,
a elegância...

Valores Sociais: correspondem à interacção do indivíduo com o outro ou com


a sociedade ou seja, apontam para o conjunto de qualidades ou virtudes
socialmente aceites: o diálogo, a amizade, a coesão, a co-responsabilidade, a
camaradagem...

Valores Religiosos: são aqueles que exprimem a relação transcendental


(sobretudo na dimensão vertical) do homem para o ser supremo: a fé, a
meditação, a contemplação 22
CARACTERÍSTICAS DOS VALORES MORAIS

Dentro dos valores positivos citados e omitidos, que certamente o leitor já


conhece, vamos reflectir um pouco mais nos VALORES MORAIS (suas
características), na perspectiva do Pe. António Gomes Barbosa, pois, são estes
(valores) que fazem a espinha dorsal do nosso tema.

Segundo este autor, os valores morais possuem duas características. A


primeira característica indica um dever ser; este ( dever ser) traduz-se em
normas morais obrigatórias. Estas normas morais estão orientadas para dois
pólos: concreção jurídico-política e critério de valoração.

Aquela possui uma dimensão global obrigatória e esta exprime um conjunto de


princípios pessoais que nos levam para uma auto - realização. Quer dizer que
os primeiros têm a ver com as questões de justiça, referente, a emancipação e
os segundos têm a ver com o bem-estar, não só do ponto de vista físico, mas
sobretudo psicológico e social {bem estar com o próximo/sociedade e consigo
mesmo) e quiçá espiritual.

Estes dois pontos mostram os valores morais como qualificação da conduta


humana na sua totalidade. Para Aderito Barbosa, o dever ser expressa o poder
ser (se devo ser bom para com o meu próximo e comigo mesmo, é porque
posso ser bom para o próximo e comigo mesmo), tal como dizia Manuel Kant:
23

“O dever remete para um poder. Se devo é porqu posso”

A segunda característica dos valores morais é a universalidade. Para o nosso


autor, é moralmente válido o que é digno de ser universalizado. Em
conformidade com ele Manuel Kant dizia:

1 . "Age como se a máxima da tua acção se devesse tornar pela tua vontade,
em lei universal da natureza.

2. Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na
pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca
simplesmente como meio.
3. Age de tal maneira que a tua vontade se possa considerar como sendo a
autora da lei universal a qual se submete".

Quer dizer que um acto é moralmente válido quando pode ser generalizado,
embora devamos ter presente que o valor moral pertence mais à ordem
pessoal do que social; isto é, o valor moral em si mesmo não exprime a
interacção do indivíduo com a sociedade, mas consigo mesmo. Daí que o
santuário da moralidade é a CONSCIÊNCIA e não as estruturas sociais.

"Pode então dizer-se que o valor moral corresponde a relação da pessoa


consigo mesma, a sua responsabilidade, interioridade, intencionalidade e
dignidade". 24

O valor moral classifica-se pela bondade da acção do ponto de vista objectivo e


não subjectivo. Quer dizer, uma acção é boa e aceite moralmente não porque é
admirada e aprovada (socialmente), mas porque está em conformidade com a
dignidade da pessoa humana.

"A moralidade de um acto não está no seu conteúdo, nem no seu resultado,
mas no princípio que a determina, na racionalidade do motivo que está na sua
base"

CLASSlflCACÃO DOS VALORES

Eis que certo dia, estando eu a falar a um auditório acerca do tema em


questão, um dos presentes colocou a seguinte questão: «Se os valores são de
natureza objectiva, isto é, são universais, imutáveis e eternos, como perceber o
que Kant disse ao afirmar que é preciso enquadrar os valores no tempo
( contextualizar os valores)»?

Talvez esta questão também inquiete o caro leitor, pelo que importa respondê-
la. Todas as coisas ou seres (animados ou inanimados) pertencem a uma
determinada classe, grupo ou espécie ... Assim também acontece com os
valores. Eles classificam-se em RELATIVOS e/ou ABSOLUTOS.

Quer isto dizer que Manuel Kant, ao fazer tal afirmação, referia-se aos valores
relativos, pois, só estes obedecem a mutações ou à variabilidade. Prova disso
é que ele mesmo diz, ao referir-se aos valores absolutos: 25
"São imutáveis porque não variam com os seus depositários, já que são
independentes deles; são absolutos, porque não estão condicionados pelos
factos[...]

Para uma melhor compreensão do assunto procuremos analisá-los


separadamente.

1.3.1. VALORES RELATIVOS

Os valores relativos são aqueles que apenas têm expressão num determinado
espaço geográfico (continente, país, província, município...), numa determinada
sociedade, tribo, nação, grupo étnico ou cultura e que se sujeitam à diversidade
de circunstâncias. Exemplos disso são os costumes da circuncisão, da
poligamia, da forma de saudar, da forma de expressar o amor, a dor, dentro do
mosaico cultural presente no universo. "Cada indivíduo, cada sociedade,
determina os seus próprios fins e, assim, os valores são relativos."

Quero aclarar este assunto buscando ainda um exemplo de valor relativo na


cultura do povo umbundu: a saudação com o aperto de mão e olhar desviado,
principalmente do mais novo em relação ao adulto, para demonstrar respeito e
reverência. Uma saudação entre os povos umbundu não dispensa o aperto de
mão. Saudar um mais velho, sem apertar-lhe a mão, na cultura deste povo, é
menosprezar tal mais velho. No entanto, esta regra não se impõe em outras
culturas ou na actualidade.26

Quer dizer que actualmente parece ser um valor saudar sem o aperto de mão,
talvez por causa da dimensão higiénica, e não só.

Quanto ao diálogo com os olhos fixos nos olhos, se para a cultura do povo
umbundu quem concentra o seu olhar no interlocutor (principalmente se for o
mais novo) é considerado enganador, gatuno, muito esperto (no sentido
negativo), para as sociedades modernas, ou noutros lugares esta prática é um
valor social muito apreciável e exprime grande carácter para quem o pratica.

Logo, estamos em presença de valor relativo, visto que a aplicação destes


valores depende de sociedade para sociedade, de povo para povo.
VALORES ABSOLUTOS

Estes são o inverso dos anteriores, isto é, são valores caracterizados pela
universalidade, eternidade ( estão fora do tempo) e imutáveis (não mudam com
as circunstâncias). Como exemplo temos o amor, a pessoa humana, a
responsabilidade, a liberdade, o respeito pela vida. Os valores absolutos são os
que exprimem ou pertencem à ordem dos valores morais, uma vez que brotam
do ser humano, da essência humana e, por isso, são valores autónomos.

"Se o homem é o fim último do mundo, ele não o é a título de sujeito


cognoscente, nem a título de ser sensível, mas a título de ser moral"27.

Talvez o leitor se interrogue: qual é a diferença entre os tipos de valores já


vistos no ponto 1.2. e os valores relativos e absolutos? Todos os tipos de
valores que vimos, e não só, pertencem a estas duas classes: relativos e/ou
absolutos. Explicamo-nos melhor. Num mesmo tipo de valores (valores
estéticos, sociais, religiosos, culturais, morais... ), podemos encontrar valores
relativos e absolutos ou apenas uma classe. Vamos descer um pouco mais ao
âmago da questão, buscando exemplos ligados à cultura.

VALORES CULTURAIS: dentro desse pacote encontramos valores relativos e


absolutos. No caso da cultura bantu buscamos como exemplo de valor
absoluto, a vida ou o respeito pela vida. Para o bantu existe apenas uma vida,
a que todos participam, embora cada ser vivo participe a seu nível; esta vida é
Deus. Daí que dificilmente o bantu mata um animal, para não falar de uma
pessoa, sem motivos razoáveis e profundos; prova desta afirmação é que o boi
só é morto em grandes cerimónias, festas ou rituais como óbito, casamento ... ;
a galinha só é morta quando chega um hóspede, e assim por diante; é por isso
que embora haja muita criação animal nas comunidades ou aldeias, ainda
assim consomem mais verduras do que carne.

Repara que em conformidade com esta veneração a vida na cultura, no caso,


cultura bantu, a lei positiva ou objectiva também condena a degradação da
fauna (reino animal) e da flora (reino vegetal). Na Lei constitucional de Angola,
artigo nº 24, lemos que:
" 1. Todos os cidadãos têm o direito de viver num meio ambiente sadio e não
poluído. 28

2. O estado adapta as medidas necessárias a protecção do meio ambiente e


das espécies da flora e da fauna nacional em todo o território nacional e a
manutenção do equilíbrio ecológico.

3. A lei pune os actos que lesam directa ou indirectamente ou ponham em


perigo a preservação do meio ambiente".

Que estará na base desta veneração? Será que é apenas para manter intacto
o ambiente e aprimorar o turismo? Embora estes elementos não estejam de
fora, acredite que na base não está uma simples protecção do ambiente (até
porque ninguém protege algo, só por proteger, e toda lei tem porfim o bem
estar do ser humano); é que o ser humano, tal como o bantu acredita, pertence
à mesma cadeia vital; e ferir um dos elementos desta cadeia é ferir também o
próprio Homem, tal como canta o Pe. Gorge Trevisol, no álbuní «A dança do
universo», musica nº 4 com o título olhares diferentes: ... se você no universo é
um ser fundamental, não há nada que aconteça que não toque o seu astral.

"A teia da vida demonstra, exactamente, as relações existentes entre todos os


elementos dos sistemas e que qualquer alteração em qualquer elemento
poderá interferir em todas essas relações."23 Além do mais, é evidente que as
plantas para além de purificarem o ar, proporcionarem refresco ao caminhante,
e não só, também produzem uma grande influência no estado emocional do ser
humano (29).

NATUREZA DA MORAL

A sociedade moderna reduz as coisas positivas a coisas que agradam. Isto é,


tudo que é apreciado por todos ou pela maioria automaticamente é positivo e
aceite socialmente. Repara como se condena o uso de drogas como a liamba,
a morfina, a cocaína... depois repara o jeito come ss minimiza o uso de bebidas
alcoólicas, o adultério, a fornicação, o aborto, etc. Isto significa que para muitos
é moralmente aceite e bom o que é socialmente aceite. Isto não é verdade,
como observa Ortega Gaisán:
"Quanto a parte moral, falta o carácter, a segurança e o aprumo. Mas
facilmente arrastam as coisas brilhantes e sugestivas sem tempo para pensar
se a sua beleza aparente assenta numa bondade positiva. Festas, vestidos,
modas doutrinas, ideias [...] Mais facilmente seduz o exterior brilhante do que a
verdade real23"

Todas as coisas são o que são, independentemente daquilo que se possa


pensar sobre elas. A pessoa humana nunca será animal, ainda que alguém
assim o qualifique ou o considere. Isto implica uma orientação de toda a
criação para um fim e nada chega a sua plenitude se não tiver potencialidades
ou inclinação para sê-lo. 32

O agir de acordo a ordem intrínseca, ou a orientação da consciência, constitui a


essência da moral

Assim, seria ridículo e infantil julgar um cão por ter mordido alguém, já que a
razão não faz parte da natureza dos animais; mas não se aceita liberar um
homem que tenha praticado um homicídio voluntário, principalmente se este
está no pleno uso de suas faculdades mentais.

A Moral, tal como outras realidades, possui a sua os-fera, a sua órbita, a sua
natureza. Esta órbita ou natureza é o BEM enquanto BEM, independentemente
de ser aceite ou não, do ponto de vista social; a moral é o cumprimento do
dever, na percepção de Kant:

"Por isso, enquanto as outras concepções éticas são chamadas teleológicas,


porque têm o bem como fim nupremo, a moral é chamada deontológica, porque
o seu fundamento único é o dever.

Estamos em face do dever de agir segundo os ditames da consciência, do


dever de praticar a caridade, o amor ao próximo, como se estivéssemos nós
em seu lugar. Por isso, Paulo, escrevendo aos romanos, diz: «O amor não faz
mal ao próximo. 33

De sorte que o cumprimento da lei é o amor. É importante salientar que o


cumprimento deste dever moral não é de carácter extrínseco mas intrínseco.
Quer dizer que eu não devo cumprir o dever ou praticar o bem para evitar o
castigo ou para ser premiado, mas porque cumprindo-o, não firo o meu
próximo, uma vez que o amor não faz mal ao próximo. O amor pode superar a
legislação "porque não tem limites, e quem ama, pode também ver-se obrigado
a não cumprir o que está legislado: ou porque a lei em causa é imoral ou
porque as circunstancias assim o exigem. Se, num caso e no outro, cumprir a
lei limita ou destrói o bem do próximo, então, por consciência, não o devo fazer.

Daí que, quando o ser humano pratica uma acção imoral a voz da consciência
persegue-o (você errou, porque fizeste isto?), provocando nele o remorso e/ ou
o arrependimento. Quando falamos do bem moral, referimo-nos a tudo aquilo
que dignifica o ser humano na sua essência e no seu todo.

A CONSCIÊNCIA MORAL

Toda pessoa, em pleno uso da razão, sente dentro de si uma força que o
impele a praticar o bem e a evitar o mal; e a obediência a esta ordem - que soa
no íntimo de cada homem - produz uma auto-satisfação, quer dizer, a pessoa
sente algo dentro de si a aprovar o seu acto, a parabenizá-lo pela adesão e/ou
decisão feita, expressa pelo acto realizado.

Mas quando esta (pessoa) desobedece tal orientação, isto é, toma uma
direcção contrária ou inversa a que vem do seu íntimo, ela sente, ao contrário
do primeiro caso, uma auto-punição, algo a julgá-lo: porque fizeste isso?
tomaste um caminho errado. É esta auto-punição que vai gerar o remorso, e/ou
a vergonha. Por isso, lemos em Génesis que Adão e Eva depois de terem
desobedecido, viram-se nus. Esta nudez não foi só do ponto de vista físico
mais acima de tudo psíquica, moral, uma nudez de alma. Por isso,
esconderam-se de Deus, como a criança que quando sabe que não cumpriu o
trabalho que a mãe, o pai ou um dos que lhe são superiores, mandou -
sobretudo se for por negligência - sente medo ou receio de chegar a casa e,
por isso, esconde-se. Quem pratica um acto de delinquência, por exemplo, um
homicídio voluntário, mesmo sem ser perseguido, põe-se em fuga,
exactamente porque é um ser que se deve orientar pela moral, porque:
"O ser humano é um ser moral por natureza. A maior prova disso é o
sentimento de culpa. A sociedade pode mudar todas as regras do jogo da
moral.35

Pede modificar a conduta. Pode criar todo um novo sistema moral. Contudo,
nunca eliminará a consciência da culpa que o homem sempre leva consigo
quando comete actos imorais.

Agora uma pergunta: que presença misteriosa é essa esquartelando o mais


íntimo de cada homem? É a Consciência Moral.

Certo dia parou-me nas mãos um caderno já em estado de degradação (sem


capa e com muitas folhas soltas, pelo que ficou difícil buscar-lhe a referência
bibliográfica); mas encontrei nele algo interessante sobre a consciência moral:

"É a faculdade pela qual a pessoa humana, sem que ninguém lho diga
reconhece a qualidade moral dos actos que vai praticar, que está prestes a
realizar ou que já realizou. Pode-se ainda dizer que é a testemunha que,
proferindo no íntimo de cada pessoa, distingue,entre o bem e o mal moral e
tende a levar cada qual a praticar o bem e a evitar o mal.

Todo o homem, por mais primitivo e rude que seja possui uma consciência
moral como possui uma consciência psicológica.36

Assim fica claro inferir que a consciência moral é a capacidade que o ser
humano - em pleno uso da razão - possui e que o permite analisar ou julgar as
suaspróprias acções como boas ou más sem a intervenção de alguém; é a
faculdade que todo homem «são» possui, cujo papel é orientá-lo a fazer o bem
e a evitar o mal ( dimensão imperativa da consciência moral= faz o bem; evita o
mal) e no fim de cada acção realizada ela reprova ou aprova ( dimensão
judiciária da consciência moral= fizeste bem; fizeste mal).

Dom Anacleto considerou a consciência como sendo "a última e decisiva


instância para saber o que devo fazer e como ajuizar a responsabilidade moral
dos meus actos: a consciência, iluminada pela fé que actua pela caridade"
2.3. lEI MORAL E PRINCÍPIOS MORA!S

Já imaginou uma cidade em que não haja sinais de lránsíto? Uma cidade onde
os automobilistas entram e saem em sentido que bem entenderem? Onde cada
condutor circula à velocidade que quiser, pára onde quiser parar, usa a buzina
quando, como e onde quiser e do jeito que quiser buzinar? quanto tempo de
existência teria esta cidade e que nível de harmonia teriam experimentado os
habitantes da mesma? É por isso que existem os sinais de trânsito, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Convenção dos direitos ela
criança... para impor ordem e criar harmonia social. Almerinda Dinis adverte:
(37)

"Contudo, a convivência em sociedade sóé possível se existir um elenco


mínimo de princípios ou regras que pautem as condutas humanas, pelo que a
existência de normas capazes de as definir é um dado inerente a própria vida
em sociedade. Daí que os especialistas em direito acertam quando dizem que
onde há sociedade tem de haver direitos. Mas não nos podemos esquecer de
que o direito pressupõe dever e portanto lei, norma ou regra:

"O dever pesa sobre todos; corresponde ao posto que na criação ocupamos e
pressupõe uma lei moral, corno os outros seres pressupõem uma lei física que
regula e dirige o seu número, peso e medida.

Como tudo, a Moral também possui as suas leis e princípios que lhe permitem
atingir o seu fim, o seu objectivo: criar harmonia do ser humano consigo
mesmo e concomitantemente com a sociedade. O rio só-atinge o seu fim
quando não se desvia do seu leito; o mar se compraz nos seus limites
(natureza). Assim, a lei Moral impele o homem a fazer o Bem e a evitar o mal -
faz o bem, evita o mal - e ele não se realiza, senão quando faz desta lei o
semáforo de sua vida.

"O homem tem uma missão a cumprir; tem uma regra a seguir, leis a observar
e que estão inscritas na sua natureza. Recordemos que estas leis não são
impostas do exterior; são a expressão das necessidades mais fundamentais,
mais essenciais da nossa natureza, e não se pode encontrar a felicidade fora
da obediência a estas leis"38
Só o ser humano é capaz de distinguir o bem e o mal, como já dissemos antes.
Significa dizer que o ponto de partida e de chegada da lei moral é a pessoa
humana, não como a vejo (suas !imitações, estrutura física, seu potencial
económico...) mas como a sinto cá dentro de mim (um ser dotado de alma
vivente); por isso se diz que não faças ao outro o que não queres que te façam.

Muitas vezes a lei parece ser ou estar abstracta, isto é, muito além da
aplicação prática. É daí que surgem os princípios morais que não contradizem
a lei moral mas sim a ratificam, como acontece com as ondas radiofónicas que
precisam do rádio/receptor para cumprir a sua missão. A lei moral precisa dos
princípios morais para a sua aplicação prática, para o alcance do seu fim ou
objectivo.

"Mas, cônscio de que a norma do imperativo categórico é muito abstracta e


indeterminada para constituir uma orientação válida e eficaz para a vida moral,
Kant apresentou algumas fórmulas (princípios) que permitem a quem age
distinguir se a sua ação se conforma com imperativo categórico ou não.
Formula (princípios) baseada na universalidade da lei: "Age de tal modo que a
máxima da tua ação possa sempre valer também como princípio universal de
conduta". Formula (princípios) baseada na humanidade como fim: “age de
modo que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na dos outros, como
fim e nunca como meio": Formula (princípios) baseada na vontade legisladora
universal: “Age de tal modo que a tua vontade possa considerar a si mesma
como instituidora de 39 uma legislação universal", isto é, age segundo
máximas tais que a vontade de qualquer homem, enquanto vontade legisladora
universal, possa aprová-las.

Como vimos quando falamos da natureza da moral, não existe moralidade no


mundo animal, nem no mundo vegetal para não falar do mundo mineral, porque
estes são totalmente determinados pela natureza, quer dizer, tudo o que
podem fazer é o que devem fazer, não têm livre escolha, não são livres; e
porque não há moralidade sem liberdade, no reino animal, vegetal e mineral
não existe moral.

"Os animais (para já não falamos nos minerais e nas plantas) não podem evitar
ser como são e fazer aquilo que naturalmente estão programados para fazer.
Não se lhes pode censurar pelo que façam nem aplaudi-los pelo que fazem,
porque não sabem comportar-se de outro modo De facto, como falar de
moralidade sem liberdade? Se não somos livres como poderíamos sentir a
consciência a repreender-nos ou aplaudindo-nos, já que o nosso mundo não
possui outro pólo, outra forma de agir? Podemos então observar que a moral
pressupõe liberdade 40

2.4. UBERDADE E RESPONSABIUDAD!E MORAL

Não se pode falar de liberdade sem falar de responsabilidade. Por isso


desejamos juntar estes dois itens no mesmo pacote.

O homem é o único ser, de entre todos os seres, capaz de tomar decisões ou


escolher o que deve e não deve fazer, o que pode e não pode fazer. Esta é a
faculdade que o difere do animal, pois assenta o seu poder sobre a razão pura
que é a LIBERDADE.

Com muita pena, ainda é comum nos nossos dias confundir-se a.natureza da
liberdade, pois, muitos reduzemna na simples escolha, isto é, pará muitos a
liberdade assenta pura e simplesmente na escolha daquilo que querem,
daquilo que lhes apraz, independentemente daquilo que se quer ser bom
(positivo) ou mau (negativo). Numa palavra, diríamos que para estes a
liberdade é cedência aos caprichos, Instintos. Eis o que nos diz Evely:
995299674

"Se eu posso escolher dois bens, aqui está a prova Indubitável e que nenhum
dos dois me determinà mas também que, no fundo, nenhum dos dois me
convém. Deixam-me indiferente! Não me permitem o uso pleno da minha
faculdade de querer. E concluo então que a minha liberdade de eleição não era
senão um fracasso da minha liberdade de determinação41

Está, pois claro que a liberdade é essencialmente a capacidade de escolher o


bem, pelo que sou livre quando entre dois bens ou coisas opto pelo bem maior,
o bem moralmente aceite, o bem absoluto, porque como diz Evely, "a nossa
liberdade assenta, direi melhor consiste nesta profunda orientação para o bem
absoluto. É ele quem desperta toda a nossa capacidade de querer; e nunca
quisemos coisa alguma senão em relação e por semelhança com Aquele que
andamos a procurar através da sua obra.

O maior homem que já viveu nesta terra, Jesus Cristo, foi livre enquanto
homem neste mundo, porque fez o que devia fazer: cumprir a vontade de seu
pai. «O meu alimento é fazer a vontade do meu pai que esta no céu». «Por que
é que me procuráveis? Não sabíeis que me convém tratar dos negócios de
meu Pai?»

Quer dizer que, mesmo sobre pressão de alguém ( obrigado a praticar uma
acção a que não deve ou não quer) ou sob pressão das situações da vida, o
homem ainda pode e deve seguir o critério da liberdade expresso em si
mesmo. Daí a verdade do provérbio umbundu: «ukwene kakulongisa uveke;
wakusiñga lawo ele»Por mais intensa que for a pressão, para o homem de
carácter a obrigação nunca atinge a sua dimensão intrínseca, aquela região
onde ele se encontra a sós consigo mesmo. Um grande homem faz o 42 que
deve fazer mesmo contra a vontade dos demais, ou sob pressão de outrem.
Eis por que Gaisán disse:

"[...] a alma cheia de convicções e segura da sua constância é como um


formoso transatlântico moderno. Naturalmente, a travessia é mais agradável se
o vento e o mar ajudam. Mas, mesmo quando estes não ajudem, o grande
transatlântico continua, seguro, a sua rota, porque leva as suas caldeiras
acesas. E o fogo interior produz o seu movimento e avança. Quase totalmente,
possui dentro de si mesmo a força que lhe permite marchar e bem pouco
depende dos elementos exteriores.

Dissemos que falar de liberdade é falar Intrinsecamente de responsabilidade,


isto é, a liberdade e a responsabilidade são duas faces da mesma moeda. É
praxe que quando as crianças (os filhos) cometem erros graves, como por
exemplo danificação dos bens alheios, furtos, normalmente é aos pais que se
responsabiliza o acto. Isto acontece porque elas ainda não são totalmente
livres; quer dizer, as suas acções são controladas e atribuídas aos pais e as
suas decisões dependem da aprovação dos pais ou encarregados de
educação.
Com os adultos acontece o contrário: cada um responde pelos seus actos,
porque o adulto, a princípio sabe ou deve saber o que fazer e o que querer.
Logo, se somos livres de fazer o que queremos, então somos responsáveis por
aquilo que fazemos. 43

Achamos engraçado quando um amigo nos falou de alguém que, comprando


um produto, primeiro o consome, depois é que verifica a data de caducidade do
mesmo. Por engraçado que pareça é o que muitas vezes temos feito, quando
descartamos a voz da consciência, praticando primeiro para depois avaliar. 43

"O que há de sério na liberdade é que ela tem efeitos indubitáveis, que não se
podem apagar quando isso· nos convém, uma vez que tenham sido
produzidos. Se tiver uma pedra na mão, sou livre de ficar com ela ou de deitá-
la fora, mas se a atirar para longe jánão poderei ordenar-lhe que volte para que
eu continue com ela não mão. E se com a pedra partir a cabeça de alguém…

Assim, que vem a ser a.responsabilidade senão a capacidade de responder


pelos nossos actos ou acções? Como conceber uma liberdade que libere a
responsabilidade? Como falar de liberdade para seres incapazes de reflectirem
na moralidade dos seus actos?

Quer queiramos quer não, somos seres livres; portanto, responsáveis.

Há liberdade, e. responsabilidade moral lá onde as pessoas amam e cumprem


o seu dever e concomitantemente assume asconsequências ( quando falamos
de consequência referimo-nos aos resultados das nossas acções, sejam elas
positivas ou negativas) dos seus actos,

“Diante do homem está o pecado ·e a virtude; ele escolherá o caminho que


preferir. Mas, uma vez escolhido, torna-se responsável pela escolha feita,
precisamente porque ninguém o obrigava e era livre para preferir o caminho
oposto44

Importa, pois, saber ou conhecer plenamente o que estamos a fazer para não
ficarmos surpreendidos com os resultados das nossas próprias acções. Assim
nunca é de mais uma palavra acerca das «nossas acções».
4.3. CAUSA PRÓXIMA DA PERDA DOS VALORES

Quando alguém falha e não reconhece ou não aceita que falhou, o seu erro
toma proporções assustadores a ponto de vir a chamar bem ao mal e mal ao
bem. É o que se verifica nos nossos dias.

"Quando a consciência, esse luminoso olhar da alma (cf. Mt 6, 22-23), chama


bem ao mal e mal ao bem (Is 5, 20), está já no caminho da sua degeneração
mais preocupante e da mais tenebrosa cegueira moral.

O homem actual relativizou tudo inclusive a própria vida. Destruiu a ordem dos
valores naturais tal como afirma Battista Mondin, citado pelo Pe. Santos
Cassanji, no seu livro, «Como Ser Feliz?»:

"Todos os observadores: históricos e literatos, escritores e jornalistas, filósofos


e teólogos, sociólogos e psicólogos, homens políticos e eclesiásticos, todos
reconhecem que a razão fundamental, porque a nossa sociedade se está
precipitando no caos, consiste no facto do abandono dos valores espirituais e
morais que a formaram e a inspiraram ao longo de séculos: Deus, a pátria, a
família, o estado, a Igreja, a escola, o direito, a pessoa, a solidariedade, a
filantropia, a justiça, etc.

Para o homem actual, o importante é o aqui e agora. Procura apenas o seu


bem-estar. Até certo ponto, talvez dê para admitir. Mas quando na execução
deste objectivo se esquece do outro, tomando-o por meio ou como meio para
alcançar tal objectivo (...) é a pior desgraça que se pode atingir na vida, já que
o outro é parte de mim, como o braço é parte do corpo. Não se pode castigar o
braço sem castigar o corpo.

"O mito do "outro que não sou eu" foi responsável por guerras, pela violação do
planeta e por todas as formas e expressões da injustiça humana. Afinal de
contas, quem no uou perfeito juízo faria mal a outrem se considerasse esse
nutrem como fazendo parte de si próprio? Por isso, os “Afro man" cantaram: «o
que te faz mal, a mim também me faz».

O desejo de viver segundo os nossos instintos, o desprezo do próximo, tendo-


o como coisa e não como parte activa de mim Uá que o homem é um ser
social) são causas próximas da crise moral. São outras razões ou causas
secundárias do problema em questão. 61

"Se a promoção do próprio eu é vista em termo de autonomia absoluta, chega-


se inevitavelmente à negação do outro, Visto como um inimigo de quem é
necessário defenderse. Deste modo, a sociedade torna-se um conjunto de
indivíduos, colocados uns ao lado dos outros mas sem laços recíprocos.

Esta ignorância da lei moral e a afirmação concupiscente do «eu» em


detrimento do «tu» afectou acima de tudo os valores que formam os alicerces
da natureza humana 62.

VALORES MORAIS

Muitos falam de resgate de valores morais, mas contam-se pelos dedos os que
percebem o que são valores morais; que valores vamos ou precisamos
resgatar; e porque, "quando não se sabe o que se procura não se compreende;
o que se encontra", talvez seja por isso que embora se fale muito em resgate
de valores morais, parece que pouco se alcança.

Bem, a lista dos valores morais a resgatar é enorme.

Citamos apenas alguns que nos ocorrem neste momento: a dignidade da


pessoa humana, o amor ao próximo, a compaixão, a fraternidade, a verdade, a
temperança, a , hospitalidade, a humildade, o sentido ou espírito de trabalho, a
justiça, a caridade, o espírito de sacrifício, a responsabilidade, o respeito pelo
erário público, a tolerância, o amor a pátria, o respeito pelos mais velhos, o
sentido da família, o sentido religioso ou a consciência da presença de Deus
em nossas vidas, etc. Dentre esses valores e outros não mencionados aqui,
daremos uma palavra aos valores que achamos que foram mais afectados...

A PESSOA HUMANA COMO VALOR FUNDAMENTAL

«Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que
preparaste; Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do
homem, para que o vlnltos? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de
lllt'll'IU e de honra o coroastes» 64•
O valor da pessoa humana é indubitável, pois desde tempos remotos e em
culturas diferentes o ser humano ocupou um lugar relevante na ordem de todos
os seres. Daí que na antiga Grécia chamavam-no de Microcosmos, quer dizer
resumo de tudo que existe. Nele reside e confluem todos os valores. Que vale
ao homem ganhar o mundo se perder a sua alma? Significa que tudo o que o
ser humano possui tem valor na medida em que o dignifica como pessoa
humana, já que sem ele o resto não subsiste, não só do ponto de vista de
valoração, como também a nível de resistência. Basta pensar no estado de
conservação de casas desabitadas, dos meios não utilizados, das roupas
esquecidas nos guarda-fatos, enfim.

O valor é valor por referência ao ser humano. Daí que a relação entre os
valores e a sua hierarquização tem de se fazer, tendo em conta a pessoa
humana e a humanidade em geral.

Quando falamos da falta de subsistência do valor, na Inexistência da pessoa


humana (apreciador), parece que nos contradizemos no tema "Natureza do
valor''. Mas isto não é verdade porque o valor de um determinado objecto,
coisa ou ideia reside no comprimento do fim a que foi concebido, e neste caso
o Homem, não o homem enquanto indivíduo mas enquanto ser universal. 65

No tema «natureza do valor», falamos do apreciador especificado e aqui


falamos do apreciador, generalizado, universalizado. Quer dizer que existe um
apreciador universal. Na .ausêncla deste ser pelo qual as coisas foram feitas,
tudo q que se fez para ele automaticamente deixa de ter valor e paulatinamente
deixa de existir. Por isso se diz que a pessoa humana é um direito subsistente.
"Por isso convém dizer que a pessoa do homem é o direito subsistente e
portanto essência do direito, visto que a essência de uma coisa é também o
princípio e a fonte de todas as outras da mesma espécie

Com muita pena e tal como diz São Paulo, onde abundou o pecado
superabundou a graça, o homem actual no usufruto da sua plenipotência
natural tem-se esquecido ou tem ignorado a sua unicidade. Quer dizer, tem-se
interessado apenas pela sua dimensão corpórea. Basta ver as áreas mais
exploradas: são sobretudo de ordem materiais.
"Afinal é sempre a mesma coisa: o mundo cresceu, como um tumor, no
progresso e na ciência. intelectual, e continua subdesenvolvido no seu rosto
moral e ético. A chave pode estar nessa educação queesquacs o essencial e
que logo se admira quando os jovens a mandam passear''.

Deu um salto (o homem) enorme e magnífico, mas não atingiu o seu objectivo:
ser feliz.

“Só quando o meu mundo exterior reflecte verdadeiraménte o meu mundo


interior, é que _eu atinjo o sentido da autenticidade como pessoa, que se
realiza no «encontro» com o outro.66

O AMOR AO PRÓXIMO

O amor; realidade misteriosa, força incontida, também foi desprovido da sua


originalidade. Hoje, quando se fala de amor, geralmente é ao sentimento
concupiscente 67 característico das paixões doentias frequentes na
adolescência, a que as pessoas se referem; referem-se àquele sentimento
egoísta que, longe de ser amor, se preocupa acima de tudo em buscar a pura
satisfação pessoal fazendo do seu próximo um objecto de prazer. Confundir o
amor com a paixão é anular não só a essência do amor, mas-também do seu
depositário: o homem. Porque o homem é um ser em relação; ele não se
completa senão na autodoação.

A ninguém devas coisas alguma senão o amor; amaivos uns aos outros, pois,
quem ama o outro cumpre a lei, . visto que o amor não faz mal ao próximo". É
dando que se recebe, é morrendo que se ressuscita. Na 'i.erdade, na verdade
vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas
se morrer, dá muito fruto.

Esta doaçãonão é possível fora da corrente vital do amor.

"Não existe programa, plano, talento, 'status quo', ideias ou ideais que
constituam um valor permanente numa célula familiar estabelecida por Deus,
se esta não for fundada no amor: «o tipo de amor que foi derramado nos
corações através do Espírito Santo que nos foi dado.
Certo dia falando aos alunos sobre o amor concupiscente dissemos-lhes: se
diante da mulher (no caso dos homens) que dizes amar, normalmente te
sentes excitado, talvez o que sentes por ela não.

Seja amor mas puro egoísmo. E nesses casos, depois e umacto sexual,
geralmente não sentes aquela força afectiva que sentias antes da realização do
acto, até ao desejo seguinte. A coisa funciona mais ou menos como um
indivíduo com fome, antes e depois de comer. Daí os dizeres com relativa
frequência: já não a amo; aquela relação já faz parte passado. Tudo porque
falta aquele olhar interior, vulgaemente chamado por sexto sentindo, o único
capaz de ver o que os olhos não vêem e levar o coração a vivencia o que a
razão não pode fazer.

“No nosso mundo profundamente socializado, não há possibilidade alguma de


alguém se refugiar numa ilha româmtica: EU- TU. O homem deve estruturar o
seu mundo de modo permitir que surjam comunidades mais pessoais como
amizade, o matrimónio, a família; mas que permita humana permanecer capaz
de reciprocidade de amor numa relação EU-TU-NÓS.

Noutro lugar, disse Melo:

O cientista que investiga pode ir longe na descoberta das leis do universo. Mas
sem o conhecimento que vem do amor e da intuição, pode não entender uma
pessoa que sofre nem compreender a alegria de quem é feliz 69

A tendência de destronar o amor verdadeiro «o ágape» gerou problemas sérios


na sociedade, pois, só este (o amor ágape) é capaz de suscitar
relacionamentos · saudáveis e duradoiros, não só do ponto de vista conjugal
mas também social. Assim, urge aprender e re-aprender o que significa amar,
não tanto com-palavras mas sobretudo com o nosso ser, porque "as palavras
muitas vezes servem mais para impedir do que para implementar a
comunicação ·· e a intimidade. O silêncio - de palavras e pensamento - pode,
muitas vezes ser a forma mais poderosa de comunicação e união quando os
corações estão cheios de amor.
A COMPAIXÃO

Todo ser humano normal não se sentiria bem diante do sofrimento ou dor de
um ser humano, principalmente se tiver de ser o amado. Daí o provérbio
umbundu: «otchilyangu kutchilili l'utanhã; l'uteke olila». Esta faculdade que nos
permite sentir a dor do outro como se fosse nossa é a que chamamos de
compaixão.

A compaixão é, por assim dizer, a capacidade de sentir o outro em mim. A


palavra próxima pela qual podemos, explicar a compaixão é a empatia, embora
esta seja mais envolvente. Infelizmente, além da queda paulatina que esta
virtude vai conhecendo, a própria palavra, sobretudo o sufixo, também foi
desviado do seu significado intrínseco. 70

5.4. A FRATERNIDADE

O homem é um ser social, isto é, um ser em relação. Não é bom que o homem
viva só, disse Deus. De facto ele não subsiste por si. Ele necessita tanto do
outro quanto precisa de si. A sua natureza face aos desafios naturais o impele
a isso. 71

"A súplica que brota do coração do homem no confronto supremo com o


sofrimento e a morte, especialmente quando: é tentado a fechar-se no
desespero e como que a aniquilarse nele, é sobretudo uma petição de
companhia, solidariedade e apoio na prova. Tudo quanto faz é um apelo à
fraternidade; basta pensar no amor para dar, no, sorriso que só tem maior
sentido na presença de alguém, na dor que perde sua força quando enfrentada
em Koinonia. Mesmo aquelas acções que ele faz a sós fá-las em relação a
alguém. Buscamos dentre vários exemplos, a contemplação, as revisões ou
estudos, a oração, a meditação, os treinos diversos, enfim, incluindo até as
acções bárbaras. Daí a verdade da frase conhecida: a batalha ganha-se dias
antes do embate. Dito por outras palavras: a corrida ganha-se nos treinos e
não na pista - acção solitária cuja expressão está no encontro com o outro.

"O homem enquanto "pessoa", criado à imagem e semelhança de Deus, é um


ser em relação: em relação com Deus, seu Criador e Pai, com os outros,
homens e mulheres, seus irmãos e irmãs, e com a criação inteira. Por isso,
desde o começo, como nos diz a Bíblia, o homem não estava sozinho, mas em
relação: "Não é bom que o homem esteja só.

Quebrar esta realidade fraternal a que o homem está chamado por natureza é
construir homens robôs, seres inumanos. Com muita dor esta é a opção de
muitos. Para eles o pensamento de Maquiavel, expresso na obra «O Príncipe»,
72" é a regra inquebrantável: é preciso portanto ser raposa reconhecer as
armadilhas e leão para afugentar os lobos.

E porque a impressão que temos de alguém normalmente desperta nele a


mesma reacção, vivemos como reposas a procura de armadilhas, ou como
leão amedrontando os lobos; vivemos mais com a mente do quecom o
coração, pelo que dificilmente nos entregamos plenamente ao presente: se não
estamos no passado viajamos para o futuro. E porque a vida desenrola-se no
preswnte vivemos ou deprimidos pelas marcas do passado, ou agitados por
aquilo que ainda não é.

É verdade que o mundo moderno aspira pela integração do outro. O fenómeno


globalização é uma prova evidente desta sede de integração e talvez até de
humanização. Mas será que todos podem seguir a marcha da globalização?

Quando estivemos a fazer o terceiro ano do ICRA, vimos certo dia um livro nas
mãos do meu professor de comunicação social, cujo título me fascinou
bastante, pelo que pede para lê-loi. Ele aceitou, mas disse que o devia buscar
em sua casa porque na altura precisava dele. E como não conhecíamos a casa
pedimos o endereço... Então ele respondeu com muita naturalidade e sem
intenção de me ferir, dizendo: "é só ligares para mim a manhã .

Na altura, além de não ter telemóvel, estavam longe as possibilidades de tê-lo.


Queremos com Isto dizer que nem sempre as regras globais são acessíveis
para aqueles que mais precisam integrados.73

"É verdade que, a época actual, é profundamente humanista. «O humano


transpira, hoje, por todos os poros da sociedade; e este ressurgimento torna a
nossa época enormemente apaixonante», como diz Domenach. Mas, que
mundo estamos a construir e a produzir? Que tipo de vida e de homem sairá
desta marcha uniformemente acelerada para a automação, para o consumo, o
conforto, a evasão, a intranscendência e a dominação?

A TEMPERANÇA

A vida, esta dádiva incomensurável, deve ser vivida plenamente em cada


instante, em cada segundo como se fosse o último. Mas é preciso perceber
que esta plenitude não é sinónimo de excesso, mas sim de medidas certas, em
lugar certo e em circunstância certa. Temos dito muitas vezes aos alunos que
sorrir é bom e faz bem; chorar também faz bem. Mas sorrir num velório ou
numa cerimónia fúnebre, ou ainda chorar em pleno ambiente festivo, já não é
correcto. Nos nossos dias as fronteiras do consumo foram derrubadas. Para
quase tudo, o limite é o chão. Principalmente quando se trata de bebidas
espirituosas. Normalmente, este tlpo.ds bebida não dispensa o prazer sexual
(promiscuidade). Em todo lado ouvem-se cenas de traição, adultério,
gravidezes indesejadas, abortos provocados, filhos abandonados, enfim, uma
série de coisas tristes. 74

Se ao menos aplicássemos também a mesma lei do consumismo às coisas


úteis como o estudo, o amor benevolente, a contemplação e tantas outras
coisas que dão mais sentido à vida, talvez o homem fosse mais capaz de pôr a
render os seus talentos.

"O homem deveria procurar realizar conscienciosamente todas as suas


potencialidades a fim de desenvolver o que nele há de melhor: a sua
consciência, o seu sentido de plenificação, a sua inteligência na busca da
verdade, sobretudo daquelas verdades que o levam a uma melhor
compreensão do seu destino e do seu serviço de amor a favor dos irmãos”.

A ausência de auto-controlo no consumo, quer dizer, o consumo exagerado


das coisas materiais, sentimentais ou afectivas provam a quebra da
temperança.

“Temperança é a virtude que consiste em dominar os desejos e as paixões


humanas". 75
FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA E DO CARÁCTER

Ninguém pode dar o que não tem, nem se pode esperar um comportamento
condigno de um desviado. No entanto é imperioso mudar o quadro dramático a
que se tem assistido nos últimos dias.

Talvez o caro leitor nos tenha por utópicos e pense consigo: sociedade sã?
Nem no sonho. Até Jesus não baniu o sofrimento, como muitos dizem. É
verdade que o sofrimento possui a sua dimensão redentora na vida do homem,
de tal sorte que enquanto este (o homem) não atingir o seu fim último, a dor
estará sempre presente. Aliás, o próprio Cristo, disse: «no mundo tereis
aflições». No entanto, as coisas caminham para um fim, que é a perfeição. É
por isso que Jesus disse aos discípulos: sede perfeitos, como é perfeito o
vosso Pai celestial. Reparemos que a forma verbal está num imperativo
(sede)e não no conjuntivo.

"Deus é um grande educador; ele não pede aos seus filhos que se tornem
santos de um dia para o outro, mas exige que não contemporizem com a
mediocridade; pedelhes que tendam activamente a perfeição".

Alem do mais, não precisa ser religioso para admitir esta verdade. A natureza
possui leis e as leis pressupõem ordem. Ora se a natureza inspira ordem,
então ela é um apelo à perfeição de tudo o que nela reside ou existe. Logo, não
fazer nada contra o sofrimento é lutar contra a própria 78 natureza; é não saber
o que se quer quando se grita por um socorro.

"Nós nunca atingiremos, sobre a terra, uma perfeita harmonia, uma síntese
perfeita, mas é fundamental obrigação moral do homem lutar por conseguir um
equilíbrio e uma harmonia maiores."

Daí o surgimento da pergunta: que fazer e por onde começar? Claro que se
pode fazer muita coisa. Entretanto é importante primar pela formação da
consciência, "o primeiro e fundamental passo para realizar esta viragem
cultural consiste na formação da consciência moral acerca do valor
incomensurável e inviolável de cada vida humana.
Vale lembrar que a consciência é a guardiã e como se não bastasse a
orientadora da acção humana. Quando ela não está iluminada a probabilidade
de inspirar acção imorais é maior. Por isso, diz Jesus: «A candeia do corpo são
os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz;
se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto,
a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!».

"A lei natural é conhecida pela consciência, luz da nlma que nos faz distinguir o
bem como devendo ser praticado, e o mal como devendo ser evitado ou
reparado". quer dizer que uma consciência sã ou bem edificada produz 79
boas atitudes. Ora, se cada um procurar edificar na medida do possível, já que
tudo é possível ao que crê, teremos uma sociedade sã, porque a sociedade é
composta por indivíduos…

Toda acção, por pequena que seja, produz reacção. Queremos com isto dizer
que o investimento que se fizer a nível da consciência produzirá traços
individuais e até mesmo indeléveis no ser humano - é a formação do carácter.

PAPEL DA FAMÍLIA

A formação do ser humano, sobretudo a nível da consciência e do carácter,


não é tarefa fácil. Envolve um conjunto de instituições. E nós preferimos
começar pela família, nesta nobre tarefa.

A família, como já é sabido, é a célula básica da sociedade. Quando um corpo,


cujas células que a constituem não estão puras, este corpo de modo algum
estará perfeito. Significa dizer que a perfeição das células básicas é
imprescindível para o equilíbrio perfeito do corpo. Sendo a família célula básica
da sociedade é importante que ela (a família) seja fundada no amor, na
legalidade e na responsabilidade, consciente e capaz de cumprir
principalmente as quatros funções básicas da mesma: função procriactiva,
função educativa, função emocional e função económica. Isto exige preparação
não só do ponto de vista material, mas sobretudo espiritual, moral e religioso
80.

"Eis alguns critérios que os pais deveriam ter presentes para chegar a uma
decisão de paternidade responsável: a profundidade e grandeza do amor e da
harmonia conjugal, a saúde dos esposos, especialmente da mulher; as
capacidades educadoras dos dois esposos e as possibilidades de dar aos
filhos o grau de instrução técnica e profissional exigida pela sociedade em que
vivem"

De entre as já conhecidas, acrescemos a função religiosa. Não basta procriar,


educar para a sociedade, amar e sustentar os filhos ou a casa. É preciso
despertar e ir regando nos filhos, inclusive no parceiro (caso este sentido esteja
adormecido), o sentido religioso, pois nem só de pão vive o .nomem.
Outrossim, uma sociedade sem Deus é uma sociedade perdida, perversa. Para
que tal não aconteça exigene que a consciência acerca do divino comece
também em casa, isto é, no seio familiar... 81

PAPEL DA SOCIEDADE

Lembramo-nos do tempo em que éramos pequenos, em que a criança que


praticasse uma acção negativa na rua, podia ser repreendida por qualquer
adulto, ainda que tal adulto não ttvesse laços de parentesco com a dita criança.
Era uma época em que todos se preocupavam com todos, onde o lema era:
«tchaveta upindi mbumbwangolo katchosile». Na verdade era raro constatar
cenas caricatas, como as que se verificam nos nossos dias.

O resgate de valores morais envolve também o contributo da sociedade, palco


da acção moral, isto é, cada indivíduo, membro da sociedade! tem que sentir-
se responsável pelo bem do próximo e do meio em que se encontra, porque "à
semelhança do corpo humano, uma sociedade é feliz quando todos os seus
membros cooperam para a realização do bem comum que não é senão o bem
de cada membro em particular, dentro dos parâmetros da virtude que é a sua
finalidade última já que o que é de todos envolve a participação de todos, não
tanto na perspectiva do dito popular: o que a todos pertence ninguém
pertence», mas na perspectiva da analogia do corpo humano.

PAPEL DA IGREJA

A Igreja enquanto comunidade santa - Ekklesia -, embora esteja na terra, a sua


missão é sobrenatural. A Igreja é aquela comunidade que, estando no mundo,
testemunha as coisas do alto, com o objectivo de atrair todas as coisas do
mundo para o alto, como sublinhou Lelotte:

"A igreja tem por missão propriamente dita dar a conhecer aos homens o seu
destino sobrenatural e darlhes os meios para o alcançarem. A única missão da
igreja é a de ajudar o homem a realizar o seu destino sobrenatural; não pode e
não deve ocupar-se do temporal, senão nas suas relações com o eterno.

É verdade que não se pode falar de vida eterna a pessoas que nem sequer
descobriram o gozo ou o sentido da vida terrena. Para tal, a Igreja tem vindo a
colaborar com o estado na instauração do bem temporal, são exemplos desta
afirmação, secundário e até universitário, os centro de formação profissionais,
os 83 postos e centros médicos. Enfim, todos estes' empreendimentos visam
despertar e contribuir para a grandeza e dignidade da pessoa humana. Dito por
outras , palavras, elas servem de antecâmara do verdadeiro bem- o bem eterno
- a que o homem está chamado a usufruir: · «Na casa de meu Pai há muitas
moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E
quando' eu for, e vos preparar um lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim
mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também». A Igreja não existe
para ser mais uma instituição entre tantas outras; ela tem uma missão especial:

"Por conseguinte, a missão especial da igreja inclui a de lembrar aos homens o


seu destino natural e de vigiar por que respeitem a ordem temporal
estabelecida por Deus.

Lembre-se que, não é missão primordial da igreja instalar o bem temporal, mas
indicar aos homens o caminho que os orienta para o bem eterno. Daí a
importância de cada cristão saber realmente o que é ser cristão e o que deve
fazer para que a Igreja (comunidade santa), da qual ele é membro, cumpra a
sua missão: dar testemunho da verdade, aquela verdade que liberta e conduz à
vida eterna, fazendo da terra - desde agora - um pequeno céu.

"Quem conhece a verdade e o bem não pode fazer o mal, pois o mal é feito por
ignorância" (Sócrates).

Do que fica dito se pode inferir que não compreendeu o que é ser cristão quem
vai à Igreja somente para receber: rieuezas, afecto ou consolo na hora da dor
ou na perda de um ente querido; quem vai à Igreja só para buscar serviços e
nada mais... Com isto não estamos a querer dizer que é errado buscar estes
valores subjectivos; queremos dizer sim, que ir à Igreja pura e simplesmente
para este fim, é confundir o fim com o meio, é diminuir o mistério e a vocação
da igreja.

O cristão autêntico é aquele que vem para servir, não para ser servido, como
ensinou e fez o mestre. Só este é que dá muitos e bons frutos na comunidade,
pois torna-se, sal e luz que, com Cristo e em Cristo, ilumina e dissipa as trevas,
aquelas trevas que ofuscam a consciência do homem. É nesta ordem de ideias
que I. Leseur afirma: «toda a alma que se eleva, eleva o mundo». A partir daí
podemos muito bem dizer que a salvação do outro passa também por mim,
porque à medida que nos salvamos edificamos a Igreja:

"A mútua influência que temos uns nos outros, a participação de cada membro
é considerada e designada por paulo ospecificamente para a «edificação» uns
dos, outros e do corpo. Esta «edificação» não deverá ser uma influência
etérea. Ela é real e visível. Os membros sabem disso; todos mudam,
desenvolvem-se, amadurecem e as outras pessoas e o mundo vêem tudo
isto.85

Quer dizer que é nobre o papel da Igreja, já que ela ilumina a consciência e a
purifica, para que esta não chame bem ao mal nem mal ao bem. Portanto, a
Igreja peregrina deve ter sempre presente em cada membro, a sua missão,
para que cada um, seguindo os preceitos do Evangelho, influencie o mundo.

PAPEL DO ESTADO

Desde tempos remotos, o homem, com o objectivo de realizar as suas


aspirações de viver condignamente, constituiu pequenos grupos, pequenas
comunidades que com o tempo e em função das circunstâncias foram tomando
proporções largas. Assim, a história nos fala da comunidade primitiva, dos clãs,
das tribos e outros. É nesta ordem de buscas progressivas que surge o Estado;
"no seu sentido primário, o Estado é uma sociedade composta de grande
número de indivíduos que, vivendo no mesmo território, unem os seus esforços
para obterem, sob uma única direcção e com leis comuns, uma maior
prosperidade temporal de todos os membros ou, como se diz, para procurarem
o bem (portanto uma vantagem) comum (para todos) temporal (e não de ordem
eterna)'?".

A missão do Estado é garantir o bem comum, tal como o referiu Pio XI 1, na


mensagem de 24 de Dezembro de 1942, que ora citamos: "Toda a actividade
do Estado serve para a realização durável do bem comum, isto é, das
condições exteriores que são necessárias ao conjunto 86 dos cidadãos para
desenvolverem as suas qualidades e as suas condições de trabalho, a sua vida
material, intelectual e religiosa.

Ora se o Estado visa a implementação do bem comum, ele não pode ficar à
margem do processo de recuperação dos valores morais, uma vez que estes
também entram na ordem do bem comum, embora numa dimensão imaterial,
tal como ninguém pode eliminar a fome (abstracta), sem utilizar alimento
(concreto) - pelo menos em vias normais. Quer dizer que o resgate dos valores
morais passa também pela garantia das condições mínimas e necessárias
como: saúde, educação, habitação, emprego sem espezinhar, claro, a
purificação das estruturas existentes.

"O bem-estar económico e social envolve por parte do estado a promoção das
condições de vida dos cidadãos, através do acesso a bens e serviços
considerados fundamentais para a colectividade, bens que permitam a
satisfação normal das necessidades materiais de estratos sociais cada vez
mais amplos e de serviços considerados essenciais, tais como a Educação, a
Segurança Social, etc."109_

É verdade que as coisas não se conquistam de um dia para o outro. Além do


mais, edificar uma sociedade de direito é um trabalho árduo e que pode durar
anos, porque a transformação social requer mudanças de atitudes em
estruturas. Para alcançar essas mudanças são precisos anos.
MORENO

SOBRE A EDUCAÇÃO EIVl VALORES

A vinculação dos valores com a educação é um tema clássico em pedagogia,


já que os valores estão efetivamente incluídos na problemática relacionada aos
fins da ação educativa. Pelo lugar que ocupam na realização da pessoa e no
desenvolvimento da personalidade humana, os valores devem ser
considerados de maneira central e sistemática na ação educativa.

Nos últimos -anos, os educadores tomaram mais consciência do significado e


da transcendência da relação valores-pedagogia. O V Congresso ·Mundial de
ClênclasHa Educação, celébrado no mês de julho de 1981, em Ouebec
(Canadá), teve como tema A escola e os valores, em resposta ao crescente
interesse por esse problema tanto no plano político quanto no científico e
pedagógico. Palestrantes das. mais diferentes culturas e países expuseram
suas idéias em torno do sentido profundo dos valores para a educação e seu
significado diante da crise de identidade que sofre o ser humano
contemporâneo. Em vários momentos, destacou-se o fracasso da civilização
ocidental devido à limitação e à insuficiência de valores produzidos pelo
progresso científico e tecnológico. Constatou-se a necessidade de buscar a
sabedoria, que não é a mesma coisa que acumular conhecimentos, pois
consiste na busca de respostas para as indagações mais profundas do ser
humano, ou seja, nos valores que precisam ser realizados na vida para esta
não cair no vazio e no absurdo.

No campo das ciências da educação, hoje em dia não se questiona mais se


existe relação entre educação e valores ou se é preciso educar em valores,
pois ninguém pode viver sem valores, e tampouco é possível educar sem eles.
Segundo Landsheere, nenhuma educação é possível sem que a noção de
valores seja central nela é nenhum projeto educativo pode ser realizado sem
que um plano de educação em valores ocupe um lugar central.

O questionamento nuclear é: Em que valores educar? Como educar em


valores? Em quais princípios e fundamentos baseiam-se os critérios de escolha
dos valores e da metodologia para educar em valores?
Em que valores educar

A questão "Em que valores educar?" remete necessariamente ao tipo de ser


humano que se deseja formar, pois a escolha de um ou de outro valor
determinará personalidades diferentes. A resposta a essa pergunta representa
uma opção ideológica entre as diversas teorias antropológicas, que oferecem
um mundo extremamente complexo de idéias, impossível de sintetizar. 111

EDUCAR EM VALORES

É um fato que existe uma "verdade do humano": existem alguns valores do


homem e da vida humana. A própria definição de valor, no sentido
antropológico, faz menção ao que aperfeiçoa ou faz ser mais um determinado
ser. Valores humanos são aqueles que fazem o homem ser mais
autenticamente homem. Mas nem todos os indivíduos chegam à mesma
captação de valores. O conhecimento humano está condicionado por
circunstâncias históricas e culturais que determinam boa parte de seus
processos. No que se refere ao processo de valorização, A. Korn descreve
assim esse condicionamento:

A valorização é um processo complexo, no qual participa o conjunto das


atividades psíquicas, em proporções variáveis até sintetizá-lo em volição. A
análise psicológica pode apontar a participação dos impulsos biológicos mais
elementares, das apetências mais instintivas, da sensibilidade mais refinada,
da reflexão mais prudente, das reminiscências mais remotas, da fé mais
obstinada, da visão mais idealista ou mística; ao fim, tudo se resume no ato de
valores, no movimento àa vontade que aprova ou repudia. Influem no ato de
valorização o momento histórico que nos coube viver. o .ambiente coletivo -
gremial, étnico, cultural - que nos envolve, os traços de nosso caráter mais ou
menos Qí6Qário; finalmente, na valorização intervém um fator pessoal.
escorregadio, inacessível a qualquer coerção lógica.

A sistematização de um conjunto valorativo próprio de um grupo ou de uma


cultura dá lugar às ideologias que, relacionadas ao homem, são os diferentes
humanismos ou antropolo, gias. Assim, qualquer instituição educativa trabalha
implícita ou explicitamente sob a inspiração de determinadas idéias ou
princípios que pressupõem um conceito de valor e a adesão a alguns valores.

É importante que os professores e as escolas conscientizem-se do que estão


fazendo em sua prática educativa com relação aos valores. Queira-se ou não,
educa-se sempre sob o signo de um conceito determinado do ser humano e de
um modelo social. Existe, a priori, um conjunto de valores implícitos na
organização, no sistema e na metodologia escolar utilizada. É preciso
reconhecer o sentido da própria ação, isto é, do projeto histórico ao qual se
está servindo.

No momento presente, as grandes maiorias exigem uma educação orlen tada


para as mudanças. E os sistemas as educativos precisam responder a essa
necessidade na perspectiva da educação em valores, estabelecendo prposta
postas básicas voltadas para a realização destas duas linhas de ação:

Que característica deverá ter a educação em valores para que possa ser um
fator efetivo de mudança pedagógica e social? Em que aspectos a reflexão
filosófica sobre a libertação, feita pelos pensadores, pode contribuir para isso?
112

Como alguns observadores já expressaram - até mesmo em termos mundiais-,


estamos em uma corrida entre a força e a educação. Se a educação não
cumprir seu papel, a mudança virá pela força. Uma escola orientada para a
formação de cidadãos, para uma sociedade justa e solidária, tem de estar
consciente dos meios que utiliza para formar adequadamente maioria, de
maneira que dela possam emergir os melhores, como agentes política, e de
MANEIRA que todos possam ter atitudes de participação e critérios para
julgar o poder e avaliar o panarama social e educativo de cada pais.

Os critérios para exercer o poder com justiça ou para julgar o poder são
determinados por valores como a liberdade, a participação, a paz, a concórdia,
a solidariedade e outros comumente aceitos. Mas uma educação para a
mudança não requer apenas formacão em valores relacionados com o político-
social. É preciso pensar novos sistemas educativos nos quais os valores da
pessoa e da cornunldade sejam finalidades e objetivos realmente alcançáveis;
sistemas que levem em consideração os valores gerados na própria
organização e que estabeleçam princípios metodológicos coerentes com as
disposições, atitudes e qualidades que se deseja alcançar.

A liberdade é um dos valores mais importantes no ser humano. Educação e


liberdade também são duas palavras que costumamos empregar juntas.
Com razão, também. Porque expressam duas ações intimamente relactonadas,
parcialmente coincidentes, dicalmente idênticas. O ser humano pode ser
educado porque é livre e pode ser livre porque foi educado; só se educa o
homem libertando-o; só se liberta o homem educando-o.

Libertar-se é possuir-se de forma mais completa, ter uma personalidade


melhor, com a qual se atinge um ser mais pleno, mais firme e mais seguro.
Talvez o conceito mais profundo de educação seja o que a apresenta como um
processo de ajuda ao ser humano, a fim de capacitá-lo para formular e realizar
seu projeto pessoal. Se a educação é, em sua forma mais perfeita, a realização
de si mesmo, só é possível nas situações nas quais a consciência moral é
ativa. O fundamento real de educação está juntamente no ser pessoal do
homem, nessa situação de dignidade com relação aos simples objetos, que o
tornam um ser singular, solidário e livre.

Do ponto de vista social, os valores podem ser considerados uma conquista


histórica que os seres humanos foram deduzindo no decorrer de sua própria
história, de suas experiências e das relações interpessoais, para depois
formulá-los de maneira categórica e com caráter de universalidade. A história
não é um sistema racional e sim a vivência intensa que se tem de estar
existindo com os outros e em determinada situação. E entre nós e o absoluto
ao qual nos inclinamos há mediações, maneiras de ser e de agir que nos
transcendem. Os valores exercem essa função mediadora de aproximações ao
absoluto. Os subjetivistas afirmam que o valor está relacionado com o
agradável-desagradável mas, 113sempre que esse critério torna-se exclusivo,
mostra-se insuficiente.

A escola fenomenológica de Max Scheler e Nicolai Hartmann, em sua tentativa


de transformar os valores em utopia alcançável, considera-os ideais de vida e
objetivos na busca de plenitude. Assim, a fidelidade conjugal será sempre um
valor, mesmo que as pessoas concretas não o considerem como tal. É
significativa a afirmação de Spranger de que os valores são os alvos para os
quais os seres humanos dirigem os dardos de suas ações.

Como sducar em valores

A educação em valores requer uma metodologia complexa que leva em conta


desde os estímulos valorativos que se oferecem ao estudante até a . reflexão
sobre o ser humano e o seu destino.

Estudos da antropologia cultural demonstraram que muitos dos


comportamentos da pessoa têm origem em sistemas subconscientes que o
indivíduo forma ao longo da vida, cujos componentes são o valor e a atitude, e
sua origem, em grande parte, é determina- da pela cultura.

Processos e sistemas

Enquanto elementos dinâmicos do comportamento tomados em conjunto, os


sistemas valor-atitude formam uma configuração estímulo-resposta que pode
servir de fundamento para muitos modelos de comportamento explícito,
proporcionando a cada um deles uma motivação. A importância funcional
desses sistemas valor-atitude provém essencialmente do seu conteúdo afetivo.
Os comportamentos podem satisfazer ou produzir rejeição conforme estejam
ou não de acordo com o sistema pessoal.

Nessa mesma linha expressa-se G. Simpson, ao afirmar que os valores têm


um significado nas histórias vitais dos indivíduos, e que as reações de valor
dos indivíduos em uma cultura não podem ser analisadas de modo adequado
sem se levar em conta as histórias vitais. Os valores, como expressões de
histórias vitais, têm profundas raízes na estrutura da personalidade.

O profundo significado dos valores na personalidade obriga-nos a fazer muitas


considerações antes de decidir sobre o modo de contribuir na formação para
uma mudança a partir dos valores.

O meio ambiente cultural - que inclui os sistemas educacionais vigentes - influi


de modo inexorável sobre 114
Estratégias e técnicas

O método de esclarecimento dos valores difundiu-se amplamente no mundo


escolar. Entre suas contribulções está a de destacar a necessidade de que o
estudante identifique e reconheça os valores que vivencia e os que deseja
vivenciar, ou seja, que esclareça quais são seus valores e que desenvolva
outros; além disso, contribui para preparar uma série de exercícios ou
estratégias viáveis para a educação em valores. A colocação em prática desse
método, entretanto, corre o risco de induzir ao relativismo, caso o educador não
leve para a reflexão e para o confronto com a experiência humana global. É um
método válido do ponto de vista de que a consciência reflexiva, como
destacado pelo personalismo, leva à apreciação de valores comuns, mas tem
um caráter parcial, no sentido de que não atende por si mesmo a todos os
aspectos envolvidos na educação em valores.

Salvos os riscos indicados, consideramos que a técnica de esclarecimento dos


valores pode contribuir muito para a formação do homem novo postulada pela
filosofia da libertação e que responde a profundas exigências destacadas pela
antropologia personalista e pela psicologia existencial humanista, porque:

 representa um subsídio direto para o processo de valorização e,


portanto, para a busca da própria identidade;
 responde à necessidade de interaçãu e de diálogo na busca de valores;
 fundamenta-se num profundo respeito à dignidade e ao valor da própria
pessoa;
 é um caminho de aproximação entre os homens, e ao mesmo tempo
favorece a atitude de dar sentido e valor às mediações oferecidas pelo
meio, o que leva a uma atitude crítica e criativa.

As estratégias e técnicas de esclarecimento dos valores estão orientadas


prioritariamente para promover o autoconhecimento e a auto-estima pessoal,
aspectos que não podem ser desprezados nos processos de educação moral.
Orientando e apoiando cada decisão, cada ato volitivo, cada atltu. de está a
convicção, presente no interior de cada ser humano, de que algo tem ou não
importância, vale ou não vale. Chamamos a essa realidade interior, prévia a
cada ato, seja ele rotineiro, meritório ou heróico, de "atitude, crença, valor".
Trata-se de um substrato, de um pano de fundo que se to, ,0rmando dentro de
nós, desde a infância, e que nos predispõe a pensar, sentir e agir de maneira
previsível, coerente e estável.

Valor é, portanto, a convicção pensada e firme de que algo é bom e que nos
convém em maior ou menor grau. Mas essas convicções ou crenças
organizam-se em nosso psiquismo em forma de uma escala de preferências
(escala de valores). 116

Princípnos e fundamentos

Os valores refletem a personalidade dos indivíduos e são a expressão do


legado cultural, moral, afetivo, social e espiritual conferido peta família, pela
escola, pelos pares, pelas instituições e pela sociedade em que nos coube
viver.

A situação atual convida-nos a refletir sobre nossas concepções a respeito dos


valores; sobre o lugar que a educação em valores ocupa em nossas propostas
e em nossos projetos educativos e familiares; sobre os enfoques da educação
moral que adotamos e que influenciam a orientação escolar e familiar.
Devemos aproveitar o clima favorável que nos abre a um projeto de futuro, não
isento de incertezas, desafios e riscos, mas carregado de esperança; projeto
esse que necessariamente teremos de acolher, se quisermos participar, de
maneira responsável, na tarefa educativa de nosso tempo e colaborar
ativamente nos processos coletivos de construção ética de nossa sociedade.

Hoje é moda falar dos valores, mas a moda está relacionada com a fugacidade
e algumas vezes com a futilidade. Quero acreditar que essa moda não nasceu
da futilidade, mas sim do desejo de se encarar com mais seriedade a vida
humana. O tema dos valores é sugestivo e fascinante pela importância que
vem adquirindo no mundo atual. Algumas vezes fala-se nos valores por
conveniência, mas uma coisa é estar na moda e outra muito diferente é estar
atualizado. A reflexão sobre os valores e sobre a educaçãomoral superou o
silêncio em que esteve submersa durante muito tampo para emergir como uma
questão de grande relevância social.
O tema dos valores faz parte do nosso ser mais profundo, da nossa íntima
realidade, é um componente indispensável do nosso ser pessoas. Os valores
morais são elementos constitutivos de nossa realidade pessoal. Um aumento
de moralidade é a mesma coisa que um crescimento em humanidade. Com
base nos valores morais, podemos ordenar os outros valores de maneira
ajustada às exigências do nosso ser enquanto pessoa, uma vez que os valores
morais agem como integradores e não como substitutos.

· Os valores dinamizam nossa ação e nossa vida. Dignificam e enobrecem a


pessoa humana e inclusive a própria sociedade. Servem de apoio para
organizar o "bem-ser" em uma sociedade que concentra toda sua atenção nos
valores do "bem-estar". De acordo com Bertrand Russel, sem moralidade cívica
as comunidades perecem; sem moralidade pessoal a existência carece de
valor.

Nunca se falou tanto em educação como em nossos dias, multiplicam-se os


inventores de novas teorias peda- gógicas. Métodos e meios próprios, não só
para facilitar a educação como também para criar uma educação de eficácia
infalível, capaz de preparar as novas gerações para a tão cobiçada felicidade
terrena, são imaginados, propostos, discutidos. Estamos diante de um início,
bastante promissor, que poderia afetar decisivamente a educação do terceiro
milênio. 117
Lau R.L ( ) O ROSTO DA FILOSOFIA.

Pessanha B., Barros S., Sampaio R., Serrão C., Araújo S. C. BINDÉ J. (2004)
Para onde vão os valores?

Imbamba J. M. (2010) Uma nova cultura.

Cabanas J. M. Q. (2002) Teoria da educação.

Ndala J. (

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