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1.1. Conceito
De acordo com Cunha (2015) a palavra “Moral” deriva do Latim Mores, que
significa “costume”. Aquilo que se consolidou ou se cristalizou como sendo
verdadeiro do ponto de vista 12
da ação. A Moral é fruto do padrão cultural vigente e incorpora as regras eleitas
como necessárias ao convívio entre os membros dessa sociedade, regras
estas determinadas pela própria sociedade. Para o autor, Moral define o modo
de ser das pessoas, transmite regras, conceitos, valores a serem seguidos ou
não. Esses conceitos são adquiridos por meio da convivência com os outros
nas relações diárias. (CECHINEL, 2018)
O espaço social pode ser compreendido como sistema de posições sociais que
se definem uma em relação às outras, que se faz em determinado espaço e
tempo físicos, e que tendencialmente se reproduz pela conformação
consensual, em geral inconsciente, de seus agentes. (Almeida, 2013).
Assim como as posições das quais são o produto, o habitus são diferenciados;
mas são também diferenciadores. Distintos, distinguidos, eles são também
operadores de distinções: põem em prática princípios de diferenciação
diferentes ou utilizam diferenciadamente os princípios de diferenciação comuns
(BOURDIEU, 1996, p. 22). Porém, ao estabelecer essa diferenciação e ser ele
próprio diferenciador o habitus estabelece, segundo Bourdieu (1996), a noção
de diferença entre o que é bom e mau, entre o bem e o mal, mas acrescenta
que essas diferenças dependem de quem está na posição de julgador. O que
pode ser bom para um, pode não ser para outro e assim por diante. O que
influencia esse julgamento são os valores que estão presentes na formação do
julgador. Essa formação se dá nos espaços sociais em que foi formado e boa
parte dela se dá na escola(Almeida, 2013).
De uma forma geral, dizemos que valor é tudo aquilo que uma ou mais
pessoas, grupos ou culturas acham digno de ser perseguido, alcançado e
desenvolvido. O valor não é simplesmente uma preferência, mas uma
preferência que se crê e/ou se considera justificada — quer seja moralmente
como fruto de um raciocínio, quer como consequência de juízo estético, se bem
que em geral se componha de dois ou três desses critérios ou da combinação
de todos eles (PAIS, 1999 citado por Almeida, 2013: 18).
O termo ‘valor’, de acordo com o autor acima, sofre, ao longo da sua trajetória
histórica, várias formatações interpretativas, pois, como está ligado a costumes
e preferências, é natural que as suas definições sofram essas mesmas
influências e mantenham essa circularidade que ele expressa. Buscando
encontrar uma posição mais coerente em torno do ‘valor’, o autor apresenta a
forma como se deve perceber este termo:( Almeida, 2013: 18).
Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que
são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os
juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de valor -
avaliações sobre coisas, pessoas e situações - são proferidos na moral, nas
artes, na política, na religião. Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações,
experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e
decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis. (Chaui, 2000: 429).
Tudo aquilo que desperta nas pessoas repúdio ou interesse, impedindo-as de
ficar indiferentes (Siqueira, 2010: 5).
Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.
Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em
sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo
cotidiano. Já a palavra Ética, Motta (1984) define como :“um conjunto de
valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros
homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”,
ou seja, Ética é a forma como o homem deve se comportar no seu meio social.
A maioria dos dicionários define Ética como ciência da Moral e como arte de
dirigir a conduta humana tanto no âmbito individual quanto no coletivo, contudo,
ainda se questiona bastante em qual dessas dimensões estaria mais centrada
a eticidade. Primeiramente para Campos et all. (2002) a ética é um conjunto de
regras, princípios e maneiras de agir e de pensar que guiam um grupo de
pessoas, uma sociedade, um ser humano(Almeida, 2013).
Para Silva (2016) a Ética é uma parte da Filosofia prática também conhecida
por Filosofia Moral. Os problemas principais da Ética estão relacionados com
os fundamentos do dever e com a natureza do bem e do mal, ou seja, tudo
aquilo que está relacionado com o modo como devemos viver. Não por acaso,
a palavra “Ética” vem do grego éthikos e significa “modos de ser”. Em outras
palavras, esse termo pode ser entendido como a reflexão sobre o
comportamento Moral ou sobre os costumes. (CECHINEL, 2018)
Diante do exposto digo, pois, que a Ética trata de hábitos (virtudes), atitudes
(caráter) e ações, sendo que para identificarmos um comportamento ético em
um indivíduo, seria necessário também que identificássemos qualidades morais
indispensáveis para a presença do mesmo, entre as quais: Prudência,
temperança, coragem, fortaleza, justiça, generosidade, compaixão, humildade,
tolerância, misericórdia, fidelidade, solicitude e entusiasmo. (Almeida, 2013).
Neste sentido, idéia da Ética como uma ciência tem sido aceita por diversos
autores, muitos dos quais tomam o conceito de Vasquez (1992), o qual
considera a Ética como sendo a teoria ou ciência do comportamento humano,
tanto do indivíduo como da sociedade (Almeida, 2013).
O mesmo autor nos diz que a Moral, enquanto objeto da Ética, representa as
normas e recomendações quanto à conduta humana assimiladas pelo hábito
ou pela prática, as quais serão estudadas pela Ética. Portanto, a Ética, quando
no status de ciência, não pode ser confundida com as normas e
recomendações, mas, deve estudá-las, a fim de que possa incidir nas ações
morais, isto é, avaliar quando a conduta ou comportamento social de indivíduos
ou grupos de indivíduos é moral ou não. Desse modo, apesar dos conceitos
etimológicos tão próximos e do trato conjunto que quase sempre a Ética e
Moral têm, seus conceitos e funções são diferentes no que diz respeito à
conduta humana (VASQUEZ, 1992) (Almeida, 2013)..
Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes
ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para
todos os seus membros. Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e
com diferenças muito profundas de castas ou de classes podem até mesmo
possuir várias morais, cada uma delas referida aos valores de uma casta ou de
uma classe social (Chaui, 2000: 436).
Ética- É uma ciência prática e normativa que estuda a moral, e determina o que
é bom e, a partir deste ponto de vista, como se deve agir. Ou seja, é a teoria ou
a ciência do comportamento moral. Na prática, agir eticamente, é agir de
acordo com os preceitos da moral instituída (Brasil, s/d).
No entanto, poderia acontecer que para forçar alguém à lealdade seria preciso
fazê-lo sentir medo da punição pela deslealdade, ou seria preciso mentir-lhe
para que não perdesse a confiança em certas pessoas e continuasse leal a
elas. Nesses casos, o fim – a lealdade – não justificaria os meios – medo e
mentira? A resposta ética é: não. Por quê? Porque esses meios desrespeitam
a consciência e a liberdade da pessoa moral, que agiria por coação externa e
não por reconhecimento interior e verdadeiro do fim ético. (Chaui, 2000: 435).
No caso da ética, portanto, nem todos os meios são justificáveis, mas apenas
aqueles que estão de acordo com os fins da própria ação. Em outras palavras,
fins éticos exigem meios éticos. A relação entre meios e fins pressupõe que a
pessoa moral não existe como um fato dado, mas é instaurada pela vida
intersubjetiva e social, precisando ser educada para os valores morais e para
as virtudes (Chaui, 2000: 435).
Ocorre que a língua grega, idioma mais rico em matizes que o latim e que o
português, oferece também outra grafia – êthos – significando caráter. Há uma
nuance histórica que deve ser considerada na diferenciação de uma expressão
da outra. Trata-se da influência da filosofia analítica em princípios do século
passado, induzindo a compreensão da “ética” como sinônimo de “filosofia
moral”. (Siqueira, 2010: 20).
Essa concepção vigora até os dias de hoje, sobretudo nos meios acadêmicos.
Ética seria o mesmo que filosofia moral, significando a parte da filosofia que
estuda o comportamento humano, do ponto de vista do bem e do mal (moral).
E a moral, por sua vez, significando o conjunto de normas, princípios e valores
que norteiam o comportamento das pessoas e da comunidade ou sociedade na
qual elas vivem. Segundo o filósofo espanhol, José Luís Lopez Aranguren
(1909 – 1996), a ética 21 corresponde à “moral pensada”. Enquanto a moral
propriamente dita corresponde à “moral vivida” (Siqueira, 2010: 20).
A ética apresenta pelo menos duas grandes divisões. Uma, voltada para os fins
que o ser humano busca alcançar com suas ações. Outra, que focaliza os
meios utilizados para alcançar os mesmos fins. No primeiro caso, tem-se a
teleologia (do grego, télos = fim). E, no segundo, a deontologia (do grego,
deontos = dever-ser). Os valores integram o conjunto dos fins buscados por
qualquer pessoa em sua ânsia de ser feliz, conforme já observado
anteriormente (dinheiro, poder, prazer, etc.). Haverá diferenças significativas
entre esses valores, dependendo da singularidade da história tanto pessoal
quanto social de cada indivíduo, contribuindo para a defesa de certo relativismo
moral. (Siqueira, 2010: 20).
Na mesma linha, diz Cortella: A ética é o conjunto dos seus princípios e
valores. Portanto, é muito mais do campo teórico. A moral é a prática, é o
exercício das suas condutas. Eu tenho uma conduta no dia-a-dia, chama-se
conduta moral. A ética são os princípios que orientam a minha conduta. Do
ponto de vista teórico, ética e moral não são a mesma coisa. Estão conexas.
Eu posso dizer que algo é imoral, mas não posso dizer que é aético. É imoral
quando colide com determinados princípios que uma sociedade tem.
(CORTELLA, 2003, p. 110). (Siqueira, 2010: 21).
Valor é aquilo que pode ser adjectivado como bom, desejável, digno de
imitação, verdadeiro, justo, responsável etc. Digo, por exemplo, que ser
honesto é bom. Portanto, a honestidade é, para mim, um valor. Ao contrário, a
desonestidade eu qualifico como um mal. Isso quer dizer, um contravalor. Digo
também que pensar nas gerações futuras, preservando o meio ambiente, é
uma atitude louvável, responsável, eticamente correta, e assim por diante. Ao
contrário, destruir o meio ambiente ou adoptar um estilo de vida que não leve
em conta o futuro da humanidade é agir de forma irresponsável e, portanto,
contrária à ética (Oliveira, 2012: 409).
Para tanto, a ética se ocupa com a figura do agente ético e de suas ações e
atitudes, tendo como referência seus motivos e os valores conforme aos quais
uma ação ou uma atitude são consideradas eticamente corretas (Chaui, 2011:
379).
Toda moral é normativa, pois cabe-lhe a tarefa de inculcar nos indivíduos os
padrões de conduta, os costumes e valores da sociedade em que vivem, mas
nem toda ética precisa ser normativa. Uma ética normativa é uma ética dos
deveres e obrigações e se assemelha à moral; uma ética não-normativa é uma
ética que estuda as ações e as paixões humanas em vista da felicidade, e que
toma como critério as relações entre a razão e a vontade no exercício da
liberdade como expressão da natureza singular do indivíduo ético que aspira
pela felicidade. No entanto, quer a ética seja ou não normativa, não há ética
enquanto investigação filosófica se não houver uma teoria que fundamente as
ideias de agente ético, ação ética e valores éticos( Chaui, 2011: 379).
Sob essa perspectiva geral, podemos dizer que uma ética procura definir, antes
de mais nada, a figura do agente ético e de suas ações e o conjunto de noções
(ou valores) que balizam o campo de uma ação que se considere ética (Chaui,
2011: 379).
O agente ético é pensado como sujeito ético, isto é, como um ser racional e
consciente que sabe o que faz, como um ser livre que decide e escolhe o que
faz, e como um ser responsável que responde pelo que faz. A ação ética é
balizada pelas ideias de bom e mau, justo e injusto, virtude e vício, isto é, por
valores cujo conteúdo pode variar de uma sociedade para outra ou na história
de uma mesma sociedade, mas que propõem sempre uma diferença intríseca
entre condutas, segundo o bem, o justo e o virtuoso. Assim, uma ação só será
ética se for consciente, livre e responsável e só será virtuosa se for realizada
em conformidade com o bom e o justo (Chaui, 2011: 379).
A ação ética só é virtuosa se for livre e só será livre se for autônoma, isto é, se
resultar de uma decisão interior ao próprio agente e não vier da obediência a
uma ordem, a um comando ou a uma pressão externos. Como a palavra
autonomia indica, é autônomo aquele que é capaz de dar a si mesmo as regras
e normas de sua ação. Evidentemente, isso leva a perceber que há um conflito
entre ética e moral, ou seja, entre a autonomia do agente ético e a heteronomia
dos valores morais de sua sociedade: com efeito, esses valores constituem
uma tábua de deveres e fins que, do exterior, obrigam o agente a agir de uma
determinada maneira e por isso operam como uma força extrema que o
pressiona a agir segundo algo que não foi ditado por ele mesmo. Em outras
palavras, o agente não age em conformidade consigo mesmo e sim em
conformidade com algo que lhe é exterior e que constitui a moral de sua
sociedade. Enfim, a ação só é ética se a realização for de natureza racional, li-
vre e responsável do agente e se o agente respeitar a racionalidade, liberdade
e responsabilidade dos outros agentes, de sorte que a subjetividade ética é
uma intersubjetividade e a intersubjetividades éticas são ações e a ética existe
pela e na ação dos sujeitos individuais e sociais, definidos por laços e formas
de sociabilidade criados também pela acção humana em condições históricas
determinadas (Chaui, 2011: 379).
Segundo Goldim (2003) é importante saber diferenciar Ética e Moral. Estas áreas de
conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até mesmo sobreposições
de conceitos. A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa ou conjunto de
pessoas, como uma forma de garantir a felicidade. A Moral independe das fronteiras
geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas
utilizam este mesmo referencial comum. Ainda para Goldim (2003) a Ética é o estudo
geral do que é bom ou mau e um dos objetivos da Ética é a busca de justificativas para
as regras propostas pela Moral. A ética é diferente da Moral, pois, não estabelece regras.
Esta reflexão sobre a ação humana é que a caracteriza. (CECHINEL, 2018: 11)-
Cabe ressaltar, contudo, que a escola não pode arcar sozinha com essa tarefa,
a família e a sociedade não se podem omitir, deixando a responsabilidade só
para a escola, nem a escola deve aceitar a tarefa da formação moral à margem
da realidade familiar e social. A educação, então, necessita ser baseada em
responsabilidades partilhadas, que exigem alta dose de compreensão,
interação, discernimento e colaboração (SAVIANI, 2002). (Almeida, 2013).
A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência moral que o
leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. A ética investiga e
explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição,
educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Vásquez
(1998) diz que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente
prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas,
pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis (Mehanna, s/d).
A educação moral não é uma ideia nova. É tão antiga quanto a própria
educação. Com efeito, a educação tem tido, e continua a ter, dois grandes
objectivos: (1) desenvolver a inteligência e os conhecimentos, e (2)
desenvolver a moral, dos alunos. São muitos os autores (Sócrates, Platão,
Dewey, Piaget, Kohlberg, Lickona, Kamii, entre outros) que consideram que a
autonomia moral e a autonomia intelectual constituem os objectivos
educacionais prioritários. Defendem que não só se devem formar cidadãos que
usem a sua inteligência em benefício dos outros, e de si próprios, mas,
também, que contribuam para a construção de um mundo mais justo
(Lickona,1991 citado por Marchand, s/d: 1).
O sujeito ético ou moral não se submete aos acasos da sorte, à vontade e aos
desejos de um outro, à tirania das paixões, mas obedece apenas à sua
consciência – que conhece o bem e as virtudes – e à sua vontade racional –
que conhece os (Chaui, 2000: 440). meios adequados para chegar aos fins
morais. A busca do bem e da felicidade são a essência da vida ética (Chaui,
2000: 441).
A educação moral, para Piaget, não constitui uma matéria especial de ensino,
mas um aspecto particular da totalidade do sistema, dessa maneira, as
crianças e os jovens não devem ter “aulas” de educação moral, mas vivenciar a
moralidade em todos os aspectos e ambientes presentes na escola. Nesse
sentido, os trabalhos em grupo são uma atividade facilitadora para a
construção da autonomia, pois as crianças, ao trabalharem juntas, podem
trocar pontos de vista, discutir, ganhar em algumas idéias e perder em outras,
enfim, podem exercer a democracia. Do ponto de vista de Piaget, educar
moralmente, é proporcionar à criança situações onde ela possa vivenciar a
cooperação, a reciprocidade e o respeito mútuo e assim, construir a sua
moralidade (Mahenna,s/d).
Kohlberg (1992) sugere que há três níveis de raciocínio moral, em que cada
nível pode ser subdividido em dois, perfazendo um total de seis estágios.
Baseando – se em Fini (1991) em linhas que se seguem analisam – se
sumáriamente:
1 - Nível pré-convencional
De acordo com esta teoria este nível é característico da maioria das crianças
até por volta dos 9 anos de idade, baseado em necessidades individuais. Neste
nível a criança responde à regras culturais e rótulos de bom e mau, certo ou
errado, mas interpreta estes rótulos em termos das conseqüências físicas ou
hedonistas da acção (punição, prêmio) ou em termos do poder físico daqueles
que mandam. Este nívem compreende os seguintes os estágios:
Em harmonia com o autor que vem sendo citado, este nível é baseado no
desempenho correcto de papéis e no atendimento de expectativas. Assim,
manter as expectativas da família, do grupo, ou da nação é considerado valioso
em si mesmo, sem se levar em conta outras consequências óbvias e imediatas.
A atitude não apenas revela conformismo à ordem social, mas envolve também
um engajamento activo em manter essa ordem social e justificá-la. Este nível
subdividem – se em:
Ainda conforme o citado autor, o bom comportamento é aquilo que agrada aos
outros ou ajuda aos outros e recebe aprovação. Há muito conformismo a
noções estereotipadas do que é «natural» ou «de se esperar». Assim, o
comportamento é frequentemente julgado de acordo com a intenção. A idéia de
«a intenção foi boa» pela primeira vez se torna importante na avaliação de um
comportamento. Ganha-se aprovação por «ser bonzinho»
Este estágio refere – se ao grande respeito que existe pela autoridade, por
regras fixas e pela manutenção da ordem social. Entende – se que se deve
cumprir o dever. Esta é a orientação para «a lei e a ordem». Apela – se que
haja um grande respeito à autoridade, a regras fixas e à manutenção da ordem
social. O comportamento moralmente correcto consiste em cumprir o dever,
mostrar respeito pela autoridade e manter a ordem social vigente.
Fini (1999) destaca que neste nível relaciona – se a moralidade por princípios
universalizantes. Consequentemente, há um esforço nítido para definir valores
morais e princípios que tenham validade e aplicação independente da
autoridade. Os estágios subjacentes a este nível são os que abaixo se seguem:
Como se pode verificar, neste estágio o «certo» é definido por uma decisão de
consciência individual, isto é, de acordo com princípios éticos escolhidos pela
própria pessoa, princípios esses que apelam para a lógica, a universalidade e a
consistência (Braghirolli et al. 1995: 157).
Os alunos podem entender um nível mais alto de julgamento moral desde que
alguém os explique.Todo indivíduo é potencialmente capaz de transcender os
valores da cultura em que ele foi socializado, ao invés de incorporá-las
passivamente. Este é o ponto central na teoria de Kohlberg e que representa a
possibilidade de um terreno comum com teorias sociológicas cujo objetivo é a
transformação da sociedade. O pensamento pós convencional, enfatizando a
democracia e os princípios individuais de consciência, parece essencial à
formação da cidadania (Mahenna,s/d).
No que diz respeito aos objetivos desse tipo de formação, Piaget (1930/1996)
considera que sejam os que levam a constituir personalidades autônomas. Por
sua vez, Araújo (2000) aponta que devem ser os que propiciem aos sujeitos as
ferramentas necessárias à construção de sua competência cognitiva, afetiva,
cultural e orgânica, de forma a torná-los capazes de agir moralmente (Alencar,
2014).
Ainda no que tange aos objetivos da EVM, Puig (2007) defende que a
formação moral deve proporcionar aprendizagens éticas, ou seja, deve
possibilitar ao sujeito aprender a viver: aprender a ser, aprender a conviver,
aprender a participar e aprender a habitar o mundo. Aprender a ser (autoética)
significa construir uma ética pessoal, uma ética de si mesmo, que inclui a
formação de um pensamento autônomo e crítico que torne o indivíduo capaz
de construir os próprios critérios de conduta. Aprender a conviver (alterética)
equivale à tarefa formativa para superar a tendência à separação e contribuir
para que os indivíduos estabeleçam vínculos pessoais baseados na
compreensão do outro. Por sua vez, aprender a participar (socioética) é
aprendizagem da vida em comum, é trabalhar por uma ética que torne os
indivíduos cidadãos ativos, participativos. Finalmente, aprender a habitar o
mundo (ecoética) é a proposta de um trabalho educativo reflexivo sobre a
responsabilidade pelo planeta, pela humanidade (Alencar, 2014).
Vistos os objetivos da EVM, passemos agora aos ambientes onde ela pode
ocorrer. Diversos espaços sociais são apontados, como a escola, a família e
outros. No tocante à escola, alguns autores (Araújo, 2000, 2001, 2007; Delors,
1996; Dias, 2005; Goergen, 2007; Kohlberg, 1992; La Taille, 2009; Menin,
1996; Piaget, 1930/1996; Puig, 2007) ressaltam a importância desse contexto
para a formação em EVM. Por outro lado, a família também é um importante
espaço. Dessen e Polonia (2007) destacam a relevância da família e da escola
como contextos de desenvolvimento humano em que todos trabalham em
conjunto para facilitar a aprendizagem e o desenvolvimento dos indivíduos.
(Alencar, 2014).
Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é,
aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e
proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais diferenças,
mas também reconhece-se como capaz de julgar o valor dos atos e das
condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso
responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências do que
faz e sente. Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da
vida ética (Chaui, 2000: 433)..
? ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus
sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que
o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade
não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder para
autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta .
Quando éramos pequenos, nossos pais sabiam muito bem quais valores
deveriam nos ensinar: ser honestos, verdadeiros, procurar fazer sempre o bem
etc. O que era o bem ou o mal pareciam estar bem definidos e ninguém tinha
dúvida sobre os valores morais. Hoje, contudo, nós que crescemos e somos
pais e mães, nos sentimos por vezes perdidos. Vivemos, sem dúvida, um
momento de crise ética. O que significa dizer que vivemos um momento de
crise de valores? Em primeiro lugar, refere-se a uma mudança cultural que está
redefinindo os valores de nossa sociedade. (Chaui, 2000: 434):
Para a autora, está ocorrendo mudanças evidentes nos valores morais, pela
falta de qualidade na mídia televisiva efetivamente integrada aos lares e
relações familiares, pela ausência de valores a serem perpetuados pela família,
pelas alterações culturais e econômicas resultando em ‘valores em crise’ que
precisam ser trabalhados (Monteiro, 2013: 86).
Para muitos, essa redefinição pode parecer um fato comum e, talvez, sem
grandes consequências. Porém, creio que se trata de algo muito grave a que
devemos dar atenção. Em nossa opinião, trata-se de uma crise profunda, ou
seja, de uma crise que muda o nosso modo de ser e de se posicionar diante da
vida. Em termos gerais, pode-se dizer que a crise ética de nosso tempo
corresponde a uma inversão de valores e não a uma ausência de valores
(Oliveira, 2012: 421).
A conclusão dos autores foi de que não há uma falência nos valores morais; há uma
mudança na forma como estão sendo vivenciados, inclusive como estão se dando as
relações interpessoais. Justamente por entender a contemporaneidade deste tema que os
interlocutores percebem que os valores devem ser objeto permanente de reflexão e
trabalho da escola como um todo, visando uma educação para a autonomia e moral nas
escolas, priorizando os aspectos como dignidade, solidariedade, respeito mútuo, justiça,
de modo que as aprendizagens sejam vivenciadas, exploradas, discutidas e reflectidas
(Monteiro, 2013).
Ryan propõe que a escola deverá proclamar sem receio os valores adultos
consensuais da comunidade, tais como: a honestidade, a justiça, a
solidariedade com os mais fracos, a responsabilidade pelo ambiente, etc.,
assim como deve claramente transmitir o repúdio radical da violência, dos
comportamentos destrutivos, da promiscuidade sexual, etc., assumindo--se
como referência da própria comunidade e como espaço de cidadania activa
(Silva,1999).
Considere-se o seguinte elenco de valores: cortesia, respeito, boa-fé, gratidão,
honestidade, integridade, generosidade, solidariedade, justiça e fraternidade.
Pouca gente declararia publicamente sua discordância quanto à sua validade e
importância. No entanto, e na prática, é possível verificar o descaso social com
relação à sua aplicação. Tomemos como exemplo o comportamento das
pessoas no trânsito, o maior e mais sistemático exemplo de desrespeito à vida
e às pessoas. Portanto, da chamada “crise de valores”. O discurso ético de
muitos nem sempre coincidirá com sua atitude como condutores. Seu veículo
termina sendo uma arma. Adeus à cortesia, com relação aos demais
motoristas, e ao respeito, com relação aos pedestres, que dificilmente
conseguem atravessar a rua, sequer na faixa que lhes é reservada (Siqueira,
2010: 11).
A situação atual lança uma reflexão sobre nossas concepções a respeito dos
valores; sobre o lugar que a educação em valores ocupa em nossas propostas
e em nossos projetos educativos e familiares; sobre os enfoques da educação
moral que adotamos e influenciam a orientação escolar e familiar. Podemos
afirmar até que a preocupação com a educação em valores e com a educação
voltada para a formação ética tornou-se universal e está presente em todos os
âmbitos da vida humana (Almeida, 2013)
Por sua vez Saviani (2002, p. 35) destaca que toda e qualquer “reflexão sobre
os problemas educacionais inevitavelmente nos levará à questão dos valores”.
A vinculação dos valores com a educação é um tema bastante referendado nas
ciências da educação, já que os valores estão efetivamente incluídos na
problemática relacionada aos fins da ação educativa. Pelo lugar que ocupam
na realização da pessoa e no desenvolvimento da personalidade humana, os
valores são considerados de maneira central e sistemática na ação educativa
(Almeida, 2013).
Há, desde as duas últimas décadas, um certo consenso - nos cidadãos, nas
famílias, nos partidos da maior parte dos países - quanto à necessidade de que
a escola desempenhe um papel mais activo no desenvolvimento dos valores
nos alunos. Esta tendência está claramente manifesta nas conclusões da Iª
Conferência Este-Oeste de Educação Moral, que se realizou no Verão de 1987,
no Japão. Oradores de 15 países, depois de descreverem os problemas morais
com que se confrontavam, e de que modo tentavam combatê-los, chegaram à
conclusão de que as causas para tais problemas eram comuns, a saber: a crise
na família; o impacto negativo da televisão nas crianças; o aumento do
egocentrimo, do materialismo e da delinquência, nos jovens. Face a esta
situação, apelaram a que o sistema educativo interviesse mais activamente na
educação moral dos educandos (Marchand, s/d).
Existem, ainda, (cf. Lickona, 1991), importantes razões para que a escola
eduque para os valores: (1) a transmissão de valores é, e sempre tem sido,
uma tarefa da civilização; (2) as grandes questões com que se confrontam as
pessoas individuais e a raça humana são questões morais ( a grande questão
individual é: "de que modo devo viver a minha vida?"; duas grandes questões
da humanidade são: "de que modo viver com os outros?", "de que modo viver
com a natureza?"); (3) as democracias, na medida em que são regimes
políticos em que as pessoas exercem um papel determinante, sentem especial
necessidade de desenvolverem os valores dos cidadãos; e (4) o papel da
escola na promoção dos valores torna-se particularmente importante numa
época em que milhões de crianças recebem muito pouca educação moral na
família, e em que a Igreja perde gradualmente influencia. A estas razões, é
importante acrescentar uma outra que, embora apresentada em último lugar, é,
porventura, uma das mais importantes, a saber, nenhuma forma de educação
é neutra ou independente de valores (Beltrão & Nascimento, 2000).
(Marchand, s/d).
Esta abordagem defende: (1) que existem princípios universais (sendo o mais
forte a justiça), que constituem os critérios por excelência de avaliação moral (é
de salientar que este universalismo se situa no domínio do dever ser e não do
ser) , (2) que as pessoas constróem tais princípios activamente, e regulam a
sua acção de acordo com esses princípios, (2) que existem diversos níveis de
moralidade, sendo os mais elevados mais diferenciados, mais integrados e
mais universais. Propõe, ainda, que a educação moral se centre na discussão
de dilemas morais - hipotéticos e reais - em contexto da sala de aula,
chamando, porém, a atenção de que as pessoas só evoluem moralmente se
estiverem inseridas numa "atmosfera moral" (Kohlberg, 1976, p.50), ou numa
"comunidade justa" (Power, Higgins e Kohlberg, 1989). Os efeitos da
estimulação do desenvolvimento moral serão necessariamente 8 limitados se
as pessoas viverem em ambientes em que prevalece uma moral de obediência
e de respeito unilateral (moral heterónoma) (Marchand, s/d).
Com o objectivo de superar tais críticas surgiu, nos últimos anos, uma
abordagem do desenvolvimento e educação moral, que se baseia nas
teorizações de Bruner, Day e Tappan, entre outros, designada "abordagem
pela narrativa" ( the narrative approach). A abordagem pela narrativa centra-se
nas histórias pessoais, ou colectivas, nas quais se colocam - e se vivem -
conflitos e escolhas morais. Esta abordagem advoga que a vivência de tais
situações implica as três dimensões de moralidade, assim como os factores
acima descritos (Marchand, s/d).
Diante do tempo cada vez mais exíguo que muitos pais dispõem para conviver
com seus filhos, educando-os adequadamente, e também diante do papel por
vezes deletério que os meios de comunicação de massa, particularmente a
televisão, assumem na formação das personalidades das crianças e
adolescentes, a criação de um componente curricular para a abordagem de
questões éticas e cívicas se reveste de inequívoca importância (Simon, 1997
citado por Amaral, 2007).
Uma escola quase exclusivamente orientada para o saber não pode garantir
que os sujeitos dessa escolarização sejam simultaneamente competentes no
desempenho de tarefas profissionais e socialmente aptos para gerirem o
espaço de direitos e deveres que a sociedade lhes proporciona. Daí a lacuna
sentida por todos quanto a outras competências que urge desenvolver nos
jovens ao nível moral, de uma educação do carácter, ao nível socio-politico, em
suma, de uma educação para os valores nos quais se integra a formação para
a cidadania (Silva,1999: 27).
A educação em valores supõe algo mais que a mera afinidade com um tipo de
literatura que estimule esse tipo de reflexão. Implica a tentativa de adequação
das expectativas da organização e de seus respectivos servidores. Um esforço
de ambas as partes a fim de demonstrar permanente abertura para o alcance
de objetivos práticos, associados à excelência. O que significa chamar a
atenção para a reeducação de procedimentos operacionais e atitudinais,
priorizando a qualificação de “relações interpessoais pautadas em valores
vinculados à democracia, à cidadania e aos direitos humanos” (ARAÚJO, 2007,
p. 35). (Siqueira, 2010).
Daí que a posição do professor deva ser a de criar e gerir conflitos, estimular o
aluno à reflexão, criar um ambiente democrático, para que, em plena liberdade,
ele adquira uma capacidade de reflexão e de crítica perante os problemas da
vida que o levem a adoptar atitudes, a tomar decisões. "A perspectiva
pedagógica é a perspectiva própria ao professor reflexivo, que pondera as
achegas das várias disciplinas, dos vários métodos e das várias didácticas e as
aplica criteriosamente aos seus alunos, de acordo com a sua situação,
necessidades e contextos" (Cunha, 1993).
A Escola contribui então para a construção da identidade do adolescente, quer
através de toda a área curricular, quer através do chamado currículo oculto. Ε
na participação, na acção reflectida que o educando desenvolve as suas
capacidades e competências, na educação cívica e no raciocínio (e no juízo)
moral (Martins, 1998).
Bibliografia