Você está na página 1de 59

i

Direitos de autor (copyright)


Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Centro de Ensino à
Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação e/ou reprodução deste
manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos,
mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade
Católica de Moçambique – Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é
passível a processos judiciais.

Elaborado Por: Kombo Ernesto Kombo

Mestrado (MSc) em Ciências Educacionais e Tecnologias

pela Universidade de Twente, Enschede - Holanda

Universidade Católica de Moçambique (UCM)


Centro de Ensino à Distância (CED)
Rua Correia de Brito No 613 – Ponta-Gêa
Beira – Sofala

Telefone: 23 32 64 05
Cell: 82 50 18 440
Moçambique

Fax: 23 32 64 06
E-mail: ced@ucm.ac.mz
Website: www.ucm.ac.mz
ii

Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique (UCM) – Centro de Ensino à Distância (CED) e o autor do
presente manual, Kombo Ernesto Kombo, agradecem a colaboração de todos que directa ou
indirectamente participaram na elaboração deste manual. À todos sinceros agradecimentos.
iii

Índice
Visão geral 1
Benvindo a Ética Profissional ........................................................................................... 1
Objectivo do curso ............................................................................................................ 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................... 2
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 2
Ícones de actividade .......................................................................................................... 3
Acerca dos ícones .......................................................................................... 3
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 3
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 4
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)................................................................................. 4
Avaliação .......................................................................................................................... 5

Unidade N0 01-A0019 7
Tema: Ética Profissional é Compromisso Social............................................................. 7
Introdução................................................................................................................ 7
Sumário ............................................................................................................................. 7
Exercícios........................................................................................................................ 11

Unidade N0 02-A0019 12
Tema: Individualismo e Ética Profissional ..................................................................... 12
Introdução.............................................................................................................. 12
Sumário ........................................................................................................................... 12
Exercícios........................................................................................................................ 14

Unidade N0 03-A0019 15
Tema: Vocação para o Colectivo .................................................................................... 15
Introdução.............................................................................................................. 15
Sumário ........................................................................................................................... 15
Exercícios........................................................................................................................ 16

Unidade N0 04-A0019 17
Tema: Classes Profissionais............................................................................................ 17
Introdução.............................................................................................................. 17
Sumário ........................................................................................................................... 17
Exercícios........................................................................................................................ 18

Unidade N0 05-A0019 19
Tema: Virtudes Profissionais .......................................................................................... 19
Introdução.............................................................................................................. 19
iv Índice

Sumário ........................................................................................................................... 19
Exercícios........................................................................................................................ 24

Unidade N0 06-A0019 25
Tema: Fundamentos Teóricos para uma Deontologia Profissional ................................ 25
Introdução.............................................................................................................. 25
Sumário ........................................................................................................................... 25
Exercícios........................................................................................................................ 26

Unidade N0 07-A0019 27
Tema: O Problema Moral ............................................................................................... 27
Introdução.............................................................................................................. 27
Sumário ........................................................................................................................... 27
Exercícios........................................................................................................................ 30

Unidade N0 08-A0019 31
Tema: O Problema Ético................................................................................................. 31
Introdução.............................................................................................................. 31
Sumário ........................................................................................................................... 31
Exercícios........................................................................................................................ 37

Unidade N0 09-A0019 38
Tema: Deontologia ou Ética Profissional: a excepção das profissões da educação. ...... 38
Introdução.............................................................................................................. 38
Sumário ........................................................................................................................... 38
Exercícios........................................................................................................................ 47
1

Visão geral

Benvindo a Ética Profissional


Muitos autores definem a ética profissional como sendo um conjunto de
normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício de
qualquer profissão. Seria a acção "reguladora" da ética agindo no
desempenho das profissões, fazendo com que o profissional respeite seu
semelhante quando no exercício da sua profissão.

Objectivo do curso

Quando terminar o estudo de Ética Profissional, o estudante terá:

 Uma formação sobre a dimensão deontológica ou ética do


exercício das respectivas profissões.
2 Visão geral

Quem deveria estudar este


módulo
Este módulo foi concebido para todos aqueles que frequentam os cursos à
distância, oferecidos pela Universidade Católica de Moçambique (UCM),
através do seu Centro de Ensino à Distância (CED).

Como está estruturado este


módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos por UCM - CED encontram-se
estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os


aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo

O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma


introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem , um resumo da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista


de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto -avaliação

Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de cada


unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do módulo.

Comentários e sugestões

Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários


sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / módulo.
3

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones


Os icones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por
adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África
Ocidental, datam do século XVII e ainda se usam hoje em dia.

Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada


um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao
longo deste módulo.

Habilidades de estudo
Caro estudante, procure olhar para você em três dimensões
nomeadamente: o lado social, profissional e estudante, daí ser importante
planificar muito bem o seu tempo.

Procure reservar no mínimo 2(duas) horas de estudo por dia e use ao


máximo o tempo disponível nos finais de semana. Lembre-se que é
necessário elaborar um plano de estudo individual, que inclui, a data, o
dia, a hora, o que estudar, como estudar e com quem estudar (sozinho,
com colegas, outros).

Evite o estudo baseado em memorização, pois é cansativo e não produz


bons resultados, use métodos mais activos, procure desenvolver suas
competências mediante a resolução de problemas específicos, estudos de
caso, reflexão, etc.

O manual contém muita informação, algumas chaves, outras


complementares, daí ser importante saber filtrar e apresentar a
informação mais relevante. Use estas informações para a resolução das
exercícios, problemas e desenvolvimento de actividades. A tomada de
notas desempenha um papel muito importante.

Um aspecto importante a ter em conta é a elaboração de um plano de


desenvolvimento pessoal (PDP), onde você reflecte sobre os seus pontos
fracos e fortes e perspectivas o seu desenvolvimento.

Lembre-se que o teu sucesso depende da sua entrega, você é o


responsável pela sua própria aprendizagem e cabe a ti planificar,
organizar, gerir, controlar e avaliar o seu próprio progresso.
4 Visão geral

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza de que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacte-o pessoalmente.

Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o


estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interação, em caso de


problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for da natureza
geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.

Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de


expediente.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem


a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar dúvidas, tratar questões administrativas, entre outras.

O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque


apoio com os colegas, discutam juntos, apoiem-me mutuamnte, reflictam
sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu
próprio saber e desenvolva suas competências.

Juntos na Educação à Distância, vencedo a distância.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto-
avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante
que sejam realizadas.As tarefas devem ser entregues antes do período
presencial.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrga, e o não


cumprimento dos prazos de entrega , implica a não classificação do
estudante.

As trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser


dirigidos ao tutor/docentes.
5

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os


mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor.

O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito)


palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade ,
humildade cintífica e o respeito pelos direitos autorais devem marcar a
realização dos trabalhos.

Avaliação
Vocé será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação.

Os trabalhos de campo por si desenvolvidos , durante o estudo individual,


concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.

Os testes são realizados durante as sessões presenciais e concorrem para


os 75% do cálculo da média de frequência da cadeira.

Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões


presenciais, eles representam 60% , o que adicionado aos 40% da média
de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de: (a) admissão ao exame,


(b) nota de exame e, (c) conclusão do módulo.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar: 3 (três) trabalhos; 2 (dois)


testes escritos e 1 (um) exame escrito.

Não estão previstas quaisquer avaliação oral.

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizadas


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações , os estudantes devem ter em


consideração: a apresentação; a coerência textual; o grau de
cientificidade; a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
indicação das referências utilizadas, o respeito pelos direitos do autor,
entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual.


Consulte-os.

Alguns feedbacks imediatos estão apresentados no manual.


7

Unidade N0 01-A0019

Tema: Ética Profissional é


Compromisso Social.

Introdução
Nesta unidade vai se evidenciar três aspectos que são distintos e que no
entanto tem entre si grandes vínculos, ate mesmo sobreposição. Estamos
nos referindo de conceitos da Ética, da Moral e do Direito.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conceitualizar a Ética Profissional.

 Reflectir sobre vários aspectos ligados a Ética Profissional.

Objectivos

Sumário
Conceituação: O que é Ética Profissional?
Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam
estabelecer uma certa previsibilidade para as acções humanas. Ambas,
porém, se diferenciam.

A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma
forma de garantir o seu bem-viver. A Moral depende das fronteiras
geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se
conhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral comum.

O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada


pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, elas valem
apenas para aquela área geográfica onde uma determinada população ou
seus delegados vivem. Alguns autores afirmam que o Direito é um sub-
conjunto da Moral. Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda a
lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações demonstram a existência
de conflitos entre a Moral e o Direito. A desobediência civil ocorre
quando argumentos morais impedem que uma pessoa acate uma
determinada lei. Este é um exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de
referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas
discordantes.

A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo


ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é a busca
de justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é
diferente de ambos - Moral e Direito - pois não estabelece regras. Esta
reflexão sobre a ação humana é que caracteriza a Ética.

Ética Profissional: Quando se inicia esta reflexão?

Esta reflexão sobre as acções realizadas no exercício de uma profissão


deve iniciar bem antes da prática profissional.
A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência muitas vezes,
já deve ser permeada por esta reflexão. A escolha por uma profissão é
optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de deveres profissionais passa a
ser obrigatório. Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua carreira
sem conhecer o conjunto de deveres que está prestes ao assumir
tornando-se parte daquela categoria que escolheu.

Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências e


habilidades referentes à prática específica numa determinada área, deve
incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos. Ao
completar a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento, que
significa sua adesão e comprometimento com a categoria profissional
onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da chamada
Ética Profissional, esta adesão voluntária a um conjunto de regras
estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício.

Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de estudar ou
paralelamente aos estudos, e inicia uma atividade profissional sem
completar os estudos ou em área que nunca estudou, aprendendo na
prática. Isto não exime você da responsabilidade assumida ao iniciar esta
atividade! O facto de uma pessoa trabalhar numa área que não escolheu
livremente, o facto de “pegar o que apareceu” como emprego por precisar
trabalhar, o facto de exercer actividade remunerada onde não pretende
seguir carreira, não isenta da responsabilidade de pertencer, mesmo que
temporariamente, a uma classe, e há deveres a cumprir.

Um jovem que, por exemplo, exerce a actividade de auxiliar de


almoxarifado durante o dia e, à noite, faz curso de programador de
computadores, certamente estará pensando sobre seu futuro em outra
profissão, mas deve sempre refletir sobre sua prática actual.
Ética Profissional: Como é esta reflexão?

Algumas perguntas podem guiar a reflexão, até ela tornar-se um hábito


incorporado ao dia-a-dia.
Tomando-se o exemplo anterior, esta pessoa pode se perguntar sobre os
deveres assumidos ao aceitar o trabalho como auxiliar de almoxarifado,
como está cumprindo suas responsabilidades, o que esperam dela na
actividade, o que ela deve fazer, e como deve fazer, mesmo quando não
há outra pessoa olhando ou conferindo.

Pode perguntar a si mesmo: Estou sendo bom profissional? Estou agindo


adequadamente? Realizo correctamente minha actividade?

É fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que não
estão descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são comuns a
todas as actividades que uma pessoa pode exercer.

Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, mesmo


quando a actividade é exercida solitariamente em uma sala, ela faz parte
de um conjunto maior de actividades que dependem do bom desempenho
desta.

Uma postura pró-activa, ou seja, não ficar restrito apenas às tarefas que
foram dadas a você, mas contribuir para o engrandecimento do trabalho,
mesmo que ele seja temporário.

Se sua tarefa é varrer ruas, você pode se contentar em varrer ruas e juntar
o lixo, mas você pode também tirar o lixo que você vê que está prestes a
cair na rua, podendo futuramente entupir uma saída de escoamento e
causando uma acumulação de água quando chover. Você pode atender
num balcão de informações respondendo estritamente o que lhe foi
perguntado, de forma fria, e estará cumprindo seu dever, mas se você
mostrar-se mais disponível, talvez sorrir, ser agradável, a maioria das
pessoas que você atende também serão assim com você, e seu dia será
muito melhor.

Muitas oportunidades de trabalho surgem onde menos se espera, desde


que você esteja aberto e receptivo, e que você se preocupe em ser um
pouco melhor a cada dia, seja qual for sua atividade profissional. E, se
não surgir, outro trabalho, certamente sua vida será mais feliz, gostando
do que você faz e sem perder, nunca, a dimensão de que é preciso sempre
continuar melhorando, aprendendo, experimentando novas soluções,
criando novas formas de exercer as atividades, aberto a mudanças, nem
que seja mudar, às vezes, pequenos detalhes, mas que podem fazer uma
grande diferença na sua realização profissional e pessoal. Isto tudo pode
acontecer com a reflexão incorporada a seu viver.

E isto é parte do que se chama empregabilidade: a capacidade que você


pode ter de ser um profissional que qualquer patrão desejaria ter entre
seus empregados, um colaborador. Isto é ser um profissional eticamente
bom.
Ética Profissional e relações sociais:
O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de escoamento de
água da chuva, o auxiliar de almoxarifado que verifica se não há umidade
no local destinado para colocar caixas de alimentos, o médico cirurgião
que confere as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia,
a atendente do asilo que se preocupa com a limpeza de uma senhora idosa
após ir ao banheiro, o contador que impede uma fraude ou desfalque, ou
que não maquia o balanço de uma empresa, o engenheiro que utiliza o
material mais indicado para a construção de uma ponte, todos estão
agindo de forma eticamente correta em suas profissões, ao fazerem o que
não é visto, ao fazerem aquilo que, alguém descobrindo, não saberá quem
fez, mas que estão preocupados, mais do que com os deveres
profissionais, com as PESSOAS.

As leis de cada profissão são elaboradas com o objectivo de proteger os


profissionais, a categoria como um todo e as pessoas que dependem
daquele profissional, mas há muitos aspectos não previstos
especificamente e que fazem parte do comprometimento do profissional
em ser eticamente correto, aquele que, independente de receber elogios,
faz A COISA CERTA.

Ética Profissional e actividade voluntária:

Outro conceito interessante de examinar é o de Profissional, como aquele


que é regularmente remunerado pelo trabalho que executa ou actividade
que exerce, em oposição a Amador. Nesta conceituação, se diria que
aquele que exerce actividade voluntária não seria profissional, e esta é
uma conceituação polêmica.

Em realidade, Voluntário é aquele que se dispõe, por opção, a exercer a


prática Profissional não-remunerada, seja com fins assistenciais, ou
prestação de serviços em beneficência, por um período determinado ou
não.

Aqui, é fundamental observar que só é eticamente adequado, o


profissional que age, na actividade voluntária, com todo o
comprometimento que teria no mesmo exercício profissional se este fosse
remunerado.

Seja esta actividade voluntária na mesma profissão da actividade


remunerada ou em outra área. Por exemplo: Um engenheiro que faz a
actividade voluntária de dar aulas de matemática. Ele deve agir, ao dar
estas aulas, como se esta fosse sua actividade mais importante. É isto que
aquelas crianças cheias de dúvidas em matemática esperam dele!

Se a actividade é voluntária, foi sua opção realizá-la. Então, é eticamente


adequado que você a realize da mesma forma como faz tudo que é
importante em sua vida.

Ética Profissional: Pontos para sua reflexão:


É imprescindível estar sempre bem informado, acompanhando não
apenas as mudanças nos conhecimentos técnicos da sua área profissional,
mas também nos aspectos legais e normativos. Vá e busque o
conhecimento. Muitos processos ético-disciplinares nos conselhos
profissionais acontecem por desconhecimento, negligência.
Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas,
confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade,
envolvimento, afectividade, correcção de conduta, boas maneiras,
relações genuínas com as pessoas, responsabilidade, corresponder à
confiança que é depositada em você...

Comportamento eticamente adequado e sucesso continuado são


indissociáveis!

Exercícios

1 – Embora a Moral e Direito se diferenciem em seus conceitos, ambos


têm mesmos princípios que regem as suas actividades. Diga quais?

Resposta: Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam


Auto-avaliação estabelecer uma certa previsibilidade para as acções humanas.
12 Unidade N0 02-A0019

Unidade N0 02-A0019

Tema: Individualismo e Ética


Profissional

Introdução
A Ética baseia-se em uma filosofia de valores compatíveis com a
natureza e o fim de todo ser humano, por isso, "o agir" da pessoa humana
está condicionado a duas premissas consideradas básicas pela Ética: "o
que é" o homem e "para que vive", logo toda capacitação científica ou
técnica precisa estar em conexão com os princípios essenciais da Ética.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicar o valor ético do esforço humano.


Objectivos  Descrever as funcionalidades da Ética Profissional.

Sumário
Parece ser uma tendência do ser humano, como tem sido objecto de
referências de muitos estudiosos, a de defender, em primeiro lugar, seus
interesses próprios e, quando esses interesses são de natureza pouco
recomendável, ocorrem seríssimos problemas.

O valor ético do esforço humano é variável em função de seu alcance em


face da comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir renda, em
geral, tem seu valor restrito. Por outro lado, nos serviços realizados com
amor, visando ao benefício de terceiros, dentro de vasto raio de acção,
com consciência do bem comum, passa a existir a expressão social do
mesmo.

Aquele que só se preocupa com os lucros, geralmente, tende a ter menor


consciência de grupo. Fascinado pela preocupação monetária, a ele pouco
importa o que ocorre com a sua comunidade e muito menos com a
sociedade.

Para ilustrar essa questão, citaremos um caso, muito conhecido, porém de


autor anônimo.

Dizem que um sábio procurava


encontrar um ser integral, em relação a
seu trabalho. Entrou, então, em uma
obra e começou a indagar. Ao primeiro
operário perguntou o que fazia e este
respondeu que procurava ganhar seu
salário; ao segundo repetiu a pergunta e
obteve a resposta de que ele preenchia
seu tempo; finalmente, sempre repetindo
a pergunta, encontrou um que lhe disse:
"Estou construindo uma catedral para a
minha cidade".

A este último, o sábio teria atribuído a qualidade de ser integral em face


do trabalho, como instrumento do bem comum.

Como o número dos que trabalham, todavia, visando primordialmente ao


rendimento, é grande, as classes procuram defender-se contra a
dilapidação de seus conceitos, tutelando o trabalho e zelando para que
uma luta encarniçada não ocorra na disputa dos serviços. Isto porque
ficam vulneráveis ao individualismo.

A consciência de grupo tem surgido, então, quase sempre, mais por


interesse de defesa do que por altruísmo.

Isto porque, garantida a liberdade de trabalho, se não se regular e tutelar a


conduta, o individualismo pode transformar a vida dos profissionais em
reciprocidade de agressão.

Tal luta quase sempre se processa através de aviltamento de preços,


propaganda enganosa, calúnias, difamações, tramas, tudo na ânsia de
ganhar mercado e subtrair clientela e oportunidades do colega, reduzindo
a concorrência. Igualmente, para maiores lucros, pode estar o indivíduo
tentado a práticas viciosas, mas rentáveis.

Em nome dessas ambições, podem ser praticadas quebras de sigilo,


ameaças de revelação de segredos dos negócios, simulação de
pagamentos de impostos não recolhidos, etc.

Para dar espaço a ambições de poder, podem ser armadas tramas contra
instituições de classe, com denúncias falsas pela imprensa para ganhar
eleições, ataque a nomes de líderes impolutos para ganhar prestígio, etc.

Os traidores e ambiciosos, quando deixados livres completamente livres,


podem cometer muitos desatinos, pois muitas são as variáveis que
existem no caminho do prejuízo a terceiros.

A tutela do trabalho, pois, processa-se pelo caminho da exigência de uma


ética, imposta através dos conselhos profissionais e de agremiações
classistas. As normas devem ser condizentes com as diversas formas de
prestar o serviço de organizar o profissional para esse fim.
Dentro de uma mesma classe, os indivíduos podem exercer suas
atividades como empresários, autônomos e associados. Podem também
dedicar-se a partes menos ou mais refinadas do conhecimento.

A conduta profissional, muitas vezes, pode tornar-se agressiva e


inconveniente e esta é uma das fortes razões pelas quais os códigos de
ética quase sempre buscam maior abrangência.

Tão poderosos podem ser os escritórios, hospitais, firmas de engenharia,


etc, que a ganância dos mesmos pode chegar ao domínio das entidades de
classe e até ao Congresso e ao Executivo das nações.

A força do favoritismo, acionada nos instrumentos do poder através de


agentes intermediários, de corrupção, de artimanhas políticas, pode
assumir proporções asfixiantes para os profissionais menores, que são a
maioria.

Tais grupos podem, como vimos, inclusive, ser profissionais, pois, nestes
encontramos também o poder econômico acumulado, tão como conluios
com outras poderosas organizações empresariais.

Portanto, quando nos referimos à classe, ao social, não nos reportamos


apenas a situações isoladas, a modelos particulares, mas a situações
gerais.

O egoísmo desenfreado de poucos pode atingir um número expressivo de


pessoas e até, através delas, influenciar o destino de nações, partindo da
ausência de conduta virtuosa de minorias poderosas, preocupadas apenas
com seus lucros.

Sabemos que a conduta do ser humano pode tender ao egoísmo, mas,


para os interesses de uma classe, de toda uma sociedade, é preciso que se
acomode às normas, porque estas devem estar apoiadas em princípios de
virtude.

Como as atitudes virtuosas podem garantir o bem comum, a Ética tem


sido o caminho justo, adequado, para o benefício geral.

Exercícios

1 – Explica, como varia o valor ético do esforço humano?

Resposta: O valor ético do esforço humano é variável em função de seu


alcance em face da comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir
renda, em geral, tem seu valor restrito. Por outro lado, nos serviços
realizados com amor, visando ao benefício de terceiros, dentro de vasto
Auto-avaliação raio de acção, com consciência do bem comum, passa a existir a
expressão social do mesmo.
Unidade N0 03-A0019

Tema: Vocação para o Colectivo

Introdução
O progresso de uma vida inculta, desorganizada, baseada apenas em
instintos, o homem, sobre a Terra, foi-se organizando, na busca de maior
estabilidade vital. Foi cedendo parcelas do referido individualismo para
se beneficiar da união, da divisão do trabalho, da protecção da vida em
comum.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Descrever a organização social do ponto de vista espacial e contextual.

 Comparar a sociedade actual da sociedade primitiva.

Objectivos

Sumário
A organização social foi um progresso, como continua a ser a evolução
da mesma, na definição, cada vez maior, das funções dos cidadãos e tal
definição acentua, gradativamente, o limite de acção das classes.

Sabemos que entre a sociedade de hoje e aquela primitiva não existem


mais níveis de comparação, quanto à complexidade; devemos reconhecer,
porém, que, nos núcleos menores, o sentido de solidariedade era bem
mais acentuado, assim como os rigores éticos e poucas cidades de maior
dimensão possuem, na actualidade, o espírito comunitário; também, com
dificuldades, enfrentam as questões classistas. A vocação para o colectivo
já não se encontra, nos dias actuais, com a mesma pujança nos grandes
centros.
16 Unidade N0 03-A0019

Parece-me pouco entendido, por um número expressivo de pessoas, que


existe um bem comum a defender e do qual elas dependem para o bem-
estar próprio e o de seus semelhantes, havendo uma inequívoca interação
que nem sempre é compreendida pelos que possuem espírito egoísta.

Quem lidera entidades de classe bem sabe a dificuldade para reunir


colegas, para delegar tarefas de utilidade geral.

Tal posicionamento termina, quase sempre, em uma oligarquia dos que se


sacrificam, e o poder das entidades tende sempre a permanecer em mãos
desses grupos, por longo tempo.

O egoísmo parece ainda vigorar e sua reversão não nos parece fácil,
diante da massificação que se tem promovido, propositadamente, para a
conservação dos grupos dominantes no poder.

Como o progresso do individualismo gera sempre o risco da transgressão


ética, imperativa se faz a necessidade de uma tutela sobre o trabalho,
através de normas éticas.

É sabido que uma disciplina de conduta protege todos, evitando o caos


que pode imperar quando se outorga ao indivíduo o direito de tudo fazer,
ainda que prejudicando terceiros.

É preciso que cada um ceda alguma coisa para receber muitas outras e
esse é um princípio que sustenta e justifica a prática virtuosa perante a
comunidade.

O homem não deve construir seu bem a custa de destruir o de outros, nem
admitir que só existe a sua vida em todo o universo.

Em geral, o egoísta é um ser de curta visão, pragmático quase sempre,


isoladao em sua perseguição de um bem que imagina ser só seu.

Exercícios

1 – Quais são os riscos que a humanidade corre com o progresso do


individualismo?

Resposta: Como o progresso do individualismo gera sempre o risco da


Auto-avaliação transgressão ética, imperativa se faz a necessidade de uma tutela sobre o
trabalho, através de normas éticas.
Unidade N0 04-A0019

Tema: Classes Profissionais

Introdução
Uma classe profissional caracteriza-se pela homogeneidade do trabalho
executado, pela natureza do conhecimento exigido preferencialmente
para tal execução e pela identidade de habilitação para o exercício da
mesma. A classe profissional é, pois, um grupo dentro da sociedade,
específico, definido por sua especialidade de desempenho de tarefa.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de classe profissional.


Objectivos  Caracterizar a classe profissional.

Sumário
A questão, pois, dos grupamentos específicos, sem dúvida, decorre de
uma especialização, motivada por seleção natural ou habilidade própria, e
hoje constitui-se em inequívoca força dentro das sociedades.

A formação das classes profissionais decorreu de forma natural, há


milênios, e se dividiram cada vez mais.

Historicamente, atribui-se à Idade Média a organização das classes


trabalhadoras, notadamente as de artesãos, que se reuniram em
corporações.

A divisão do trabalho é antiga, ligada que está à vocação e cada um para


determinadas tarefas e às circunstâncias que obrigam, às vezes, a assumir
esse ou aquele trabalho; ficou prático para o homem, em comunidade,
transferir tarefas e executar a sua.
18 Unidade N0 04-A0019

A união dos que realizam o mesmo trabalho foi uma evolução natural e
hoje se acha não só regulada por lei, mas consolidada em instituições
fortíssimas de classe.

Exercícios

1 – Diga, quando começam a surgir as primeiras classes sociais?

Resposta: As primeiras classes sociais surgem na Idade Média com a


organização das classes trabalhadoras, notadamente as de artesãos, que se
Auto-avaliação reuniram em corporações.
Unidade N0 05-A0019

Tema: Virtudes Profissionais

Introdução
Não obstante os deveres de um profissional, os quais são obrigatórios,
devem ser levadas em conta as qualidades pessoais que também
concorrem para o enriquecimento de sua actuação profissional, algumas
delas facilitando o exercício da profissão.

Muitas destas qualidades poderão ser adquiridas com esforço e boa


vontade, aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer
de sua actividade profissional, consegue incorporá-las à sua
personalidade, procurando vivenciá-las ao lado dos deveres profissionais.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Identificar os deveres de um profissional dentro de sua profissão.


Objectivos  Caracterizar as virtudes que vão guiar o futuro de uma carreira.

Sumário
Em artigo publicado na revista EXAME o consultor dinamarquês Clauss
MOLLER (1996, p.103-104) faz uma associação entre as virtudes
lealdade, responsabilidade e iniciativa como fundamentais para a
formação de recursos humanos. Segundo Clauss Moller o futuro de uma
carreira depende dessas virtudes. Vejamos:

O senso de responsabilidade é o
elemento fundamental da
empregabilidade. Sem responsabilidade
a pessoa não pode demonstrar lealdade,
nem espírito de iniciativa [...]. Uma
pessoa que se sinta responsável pelos
resultados da equipe terá maior
probabilidade de agir de maneira mais
favorável aos interesses da equipe e de
seus clientes, dentro e fora da
20 Unidade N0 05-A0019

organização [...]. A consciência de que


se possui uma influência real constitui
uma experiência pessoal muito
importante.

É algo que fortalece a auto-estima de


cada pessoa. Só pessoas que tenham
auto-estima e um sentimento de poder
próprio são capazes de assumir
responsabilidade. Elas sentem um
sentido na vida, alcançando metas sobre
as quais concordam previamente e pelas
quais assumiram responsabilidade real,
de maneira consciente.

As pessoas que optam por não assumir


responsabilidades podem ter
dificuldades em encontrar significado
em suas vidas. Seu comportamento é
regido pelas recompensas e sanções de
outras pessoas - chefes e pares [...].
Pessoas desse tipo jamais serão boas
integrantes de equipes.

Prossegue citando a virtude da lealdade:


A lealdade é o segundo dos três
principais elementos que compõe a
empregabilidade. Um funcionário leal se
alegra quando a organização ou seu
departamento é bem sucedido, defende a
organização, tomando medidas
concretas quando ela é ameaçada, tem
orgulho de fazer parte da organização,
fala positivamente sobre ela e a defende
contra críticas.

Lealdade não quer dizer


necessáriamente fazer o que a pessoa ou
organização à qual você quer ser fiel
quer que você faça. Lealdade não é
sinônimo de obediência cega. Lealdade
significa fazer críticas construtivas, mas
as manter dentro do âmbito da
organização. Significa agir com a
convicção de que seu comportamento vai
promover os legítimos interesses da
organização. Assim, ser leal às vezes
pode significar a recusa em fazer algo
que você acha que poderá prejudicar a
organização, a equipe de funcionários.

No Reino Unido, por exemplo, essa idéia


é expressa pelo termo "Oposição Leal a
Sua Majestade". Em outras palavras, é
perfeitamente possível ser leal a Sua
Majestade - e, mesmo assim, fazer parte
da oposição. Do mesmo modo, é possível
21

ser leal a uma organização ou a uma


equipe mesmo que você discorde dos
métodos usados para se alcançar
determinados objetivos. Na verdade,
seria desleal deixar de expressar o
sentimento de que algo está errado, se é
isso que você sente.

As virtudes da responsabilidade e da lealdade são completadas por uma


terceira, a iniciativa, capaz de colocá-las em movimento.

Tomar a iniciativa de fazer algo no


interesse da organização significa ao
mesmo tempo, demonstrar lealdade pela
organização. Em um contexto de
empregabilidade, tomar iniciativas não
quer dizer apenas iniciar um projecto no
interesse da organização ou da equipe,
mas também assumir responsabilidade
por sua complementação e
implementação.

Gostaríamos ainda, de acrescentar outras qualidades que consideramos


importantes no exercício de uma profissão. São elas:

Honestidade:
A honestidade está relacionada com a confiança que nos é depositada,
com a responsabilidade perante o bem de terceiros e a manutenção de
seus direitos.

É muito fácil encontrar a falta de honestidade quanto existe a fascinação


pelos lucros, privilégios e benefícios fáceis, pelo enriquecimento ilícito
em cargos que outorgam autoridade e que têm a confiança coletiva de
uma colectividade. Já ARISTÓTELES (1992, p.75) em sua "Ética a
Nicômanos" analisava a questão da honestidade.

Outras pessoas se excedem no sentido de


obter qualquer coisa e de qualquer fonte
- por exemplo os que fazem negócios
sórdidos, os proxenetas e demais
pessoas desse tipo, bem como os
usurários, que emprestam pequenas
importâncias a juros altos. Todas as
pessoas deste tipo obtêm mais do que
merecem e de fontes erradas. O que há
de comum entre elas é obviamente uma
ganância sórdida, e todas carregam um
aviltante por causa do ganho - de um
pequeno ganho, aliás. Com efeito,
aquelas pessoas que ganham muito em
fontes erradas, e cujos ganhos não são
justos - por exemplo, os tiranos quando
saqueiam cidades e roubam templos,
não são chamados de avarentos, mas de
maus, ímpios e injustos.
22 Unidade N0 05-A0019

São inúmeros os exemplos de falta de honestidade no exercício de uma


profissão. Um psicanalista, abusando de sua profissão ao induzir um
paciente a cometer adultério, está sendo desonesto. Um contabilista que,
para conseguir aumentos de honorários, retém os livros de um
comerciante, está sendo desonesto.

A honestidade é a primeira virtude no campo profissional. É um princípio


que não admite relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais.

Sigilo:
O respeito aos segredos das pessoas, dos negócios, das empresas, deve
ser desenvolvido na formação de futuros profissionais, pois trata-se de
algo muito importante. Uma informação sigilosa é algo que nos é
confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória.

Revelar detalhes ou mesmo frívolas ocorrências dos locais de trabalho,


em geral, nada interessa a terceiros e ainda existe o agravante de que
planos e projetos de uma empresa ainda não colocados em prática possam
ser copiados e colocados no mercado pela concorrência antes que a
empresa que os concebeu tenha tido oportunidade de lançá-los.

Documentos, registros contábeis, planos de marketing, pesquisas


científicas, hábitos pessoais, dentre outros, devem ser mantidos em sigilo
e sua revelação pode representar sérios problemas para a empresa ou para
os clientes do profissional.

Competência:
Competência, sob o ponto de vista funcional, é o exercício do
conhecimento de forma adequada e persistente a um trabalho ou
profissão. Devemos buscá-la sempre. "A função de um citarista é tocar
cítara, e a de um bom citarista é tocá-la bem." (ARISTÓTELES, p.24).

É de extrema importância a busca da competência profissional em


qualquer área de atuação. Recursos humanos devem ser incentivados a
buscar sua competência e maestria através do aprimoramento contínuo de
suas habilidades e conhecimentos.

O conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas


porfissionais é pré-requisito para a prestação de serviços de boa
qualidade.

Nem sempre é possível acumular todo conhecimento exigido por


determinada tarefa, mas é necessário que se tenha a postura ética de
recusar serviços quando não se tem a devida capacitação para executá-lo.

Pacientes que morrem ou ficam aleijados por incompetência médica,


causas que são perdidas pela incompetência de advogados, prédios que
desabam por erros de cálculo em engenharia, são apenas alguns exemplos
de quanto se deve investir na busca da competência.

Prudência:

Todo trabalho, para ser executado, exige muita segurança.

A prudência, fazendo com que o profissional analise situações complexas


e difíceis com mais facilidade e de forma mais profunda e minuciosa,
contribui para a maior segurança, principalmente das decisões a serem
23

tomadas. a prudência é indispensável nos casos de decisões sérias e


graves, pois evita os julgamentos apressados e as lutas ou discussões
inúteis.

Coragem:
Todo profissional precisa ter coragem, pois "o homem que evita e teme a
tudo, não enfrenta coisa alguma, torna-se um covarde" (ARISTÓTELES,
p.37). A coragem nos ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a nos
defender dignamente quando estamos cônscios de nosso dever. Nos ajuda
a não ter medo de defender a verdade e a justiça, principalmente quando
estas forem de real interesse para outrem ou para o bem comum. Temos
que ter coragem para tomar decisões, indispensáveis e importantes, para a
eficiência do trabalho, sem levar em conta possíveis atitudes ou atos de
desagrado dos chefes ou colegas.

Perseverança:
Qualidade difícil de ser encontrada, mas necessária, pois todo trabalho
está sujeito a incompreensões, insucessos e fracassos que precisam ser
superados, prosseguindo o profissional em seu trabalho, sem entregar-se a
decepções ou mágoas. É louvável a perseverança dos profissionais que
precisam enfrentar os problemas do subdesenvolvimento.

Compreensão:

Qualidade que ajuda muito um profissional, porque é bem aceito pelos


que dele dependem, em termos de trabalho, facilitando a aproximação e o
diálogo, tão importante no relacionamento profissional.

É bom, porém, não confundir compreensão com fraqueza, para que o


profissional não se deixe levar por opiniões ou atitudes, nem sempre,
válidas para eficiência do seu trabalho, para que não se percam os
verdadeiros objetivos a serem alcançados pela profissão.

Vê-se que a compreensão precisa ser condicionada, muitas vezes, pela


prudência. A compreensão que se traduz, principalmente em calor
humano pode realizar muito em benefício de uma atividade profissional,
dependendo de ser convenientemente dosada.

Humildade:

O profissional precisa ter humildade suficiente para admitir que não é o


dono da verdade e que o bom senso e a inteligência são propriedade de
um grande número de pessoas.

Representa a auto-análise que todo profissional deve praticar em função


de sua atividade profissional, a fim de reconhecer melhor suas limitações,
buscando a colaboração de outros profissionais mais capazes, se tiver esta
necessidade, dispor-se a aprender coisas novas, numa busca constante de
aperfeiçoamento. Humildade é qualidade que carece de melhor
interpretação, dada a sua importância, pois muitos a confundem com
subserviência, dependência ? quase sempre lhe é atribuído um sentido
depreciativo. Como exemplo, ouve-se freqüentemente, a respeito
determinadas pessoas, frases com estas: Fulano é muito humilde, coitado!

Muito simples! Humildade está significando nestas frases pessoa carente


que aceita qualquer coisa, dependente e até infeliz.
24 Unidade N0 05-A0019

Conceito errôneo que precisa ser superado, para que a Humildade adquira
definitivamente a sua autenticidade.

Imparcialidade:
É uma qualidade tão importante que assume as características do dever,
pois se destina a se contrapor aos preconceitos, a reagir contra os mitos
(em nossa época dinheiro, técnica, sexo...), a defender os verdadeiros
valores sociais e éticos, assumindo principalmente uma posição justa nas
situações que terá que enfrentar. Para ser justo é preciso ser imparcial,
logo a justiça depende muito da imparcialidade.

Optimismo:
Em face das perspectivas das sociedades modernas, o profissional precisa
e deve ser otimista, para acreditar na capacidade de realização da pessoa
humana, no poder do desenvolvimento, enfrentando o futuro com energia
e bom-humor.

Exercícios

1 – As virtudes da responsabilidade e da lealdade são completadas por


uma terceira virtude. Diga qual é essa virtude?

Resposta: As virtudes da responsabilidade e da lealdade são completadas


Auto-avaliação por uma terceira, que é a iniciativa, capaz de colocar a responsabilidade e
a lealdade em movimento.
Unidade N0 06-A0019

Tema: Fundamentos Teóricos para


uma Deontologia Profissional

Introdução
Após uma análise de fonte teórica, boa quanto a Ética e Moral, mas muito
reduzida quanto à Deontologia, optamos por uma abordagem paralela de
Moral, Ética e Deontologia, na hipótese e na esperança de que uma
exposição suscinta e clara das primeiras duas servisse de base e
justificação para a terceira, ou em outras palavras, partindo da
fenomenologia do Mundo da Moral, quisemos encontrar seus
fundamentos e justificação – isso constitui – a Ética – para que ela, a
Moral, por seu turno, pudesse, se isso se mostrasse possível, fundamentar
a Deontologia que, a uma primeira análise, se nos apresenta como uma
casa sem alicerces. Será que a Moral, (fundamentalmente pela Ética), é,
sozinha, suficiente para basear validamente a Deontologia? Ou teremos
de pedir também a ajuda de outras Ciências Sociais?

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Compreender os fundamentos teóricos de Ética Profissional


Objectivos  Fazer uma abordagem paralela de Moral, Ética e Deontologia.

Sumário
Cabe sempre, quando se fala em virtudes profissionais, mencionarmos a
existência dos códigos de ética profissional.

As relações de valor que existem entre o ideal moral traçado e os diversos


campos da conduta humana podem ser reunidos em um instrumento
regulador.

É uma espécie de contrato de classe e os órgãos de fiscalização do


exercício da profissão passam a controlar a execução de tal peça magna.
26 Unidade N0 06-A0019

Tudo deriva, pois, de critérios de condutas de um indivíduo perante seu


grupo e o todo social.

Tem como base as virtudes que devem ser exigíveis e respeitadas no


exercício da profissão, abrangendo o relacionamento com usuários,
colegas de profissão, classe e sociedade.

O interesse no cumprimento do aludido código passa, entretanto a ser de


todos. O exercício de uma virtude obrigatória torna-se exigível de cada
profissional, como se uma lei fosse, mas com proveito geral.

Cria-se a necessidade de uma mentalidade ética e de uma educação


pertinente que conduza à vontade de agir, de acordo com o estabelecido.
Essa disciplina da actividade é antiga, já encontrada nas provas históricas
mais remotas, e é uma tendência natural na vida das comunidades.

É inequívoco que o ser tenha sua individualidade, sua forma de realizar


seu trabalho, mas também o é que uma norma comportamental deva reger
a prática profissional no que concerne a sua conduta, em relação a seus
semelhantes.

Toda comunidade possui elementos qualificados e alguns que


transgridem a prática das virtudes; seria utópico admitir uniformidade de
conduta.

A disciplina, entretanto, através de um contrato de atitudes, de deveres,


de estados de consciência, e que deve formar um código de ética, tem
sido a solução, notadamente nas classes profissionais que são egressas de
cursos universitários (contadores, médicos, advogados, etc.)

Uma ordem deve existir para que se consiga eliminar conflitos e


especialmente evitar que se macule o bom nome e o conceito social de
uma categoria.

Se muitos exercem a mesma profissão, é preciso que uma disciplina de


conduta ocorra.

Exercícios

1 – Quando se fala em virtudes profissionais, mencionmos a existência de


elementos que regulam a nossa actividade como pessoa humana e como
profissional dentro de uma empresa. Quais são esses elementos?

Resposta: Quando se fala em virtudes profissionais, mencionamos a


Auto-avaliação existência dos códigos de ética profissional.
Unidade N0 07-A0019

Tema: O Problema Moral

Introdução
Em geral, as profissões apresentam a ética firmada em questões muito
relevantes que ultrapassam o campo profissional em si. Questões como o
aborto, pena de morte, sequestros, eutanásia, HIV/SIDA, por exemplo,
são questões morais que se apresentam como problemas éticos - porque
pedem uma reflexão profunda - e, um profissional, ao se debruçar sobre
elas, não o faz apenas como tal, mas como um pensador, um "filósofo da
ciência", ou seja, da profissão que exerce. Desta forma, a reflexão ética
entra na moralidade de qualquer actividade profissional humana.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicar os seguintes conceitos:

(a) actos morais

(b) juízos morais

Objectivos (c) normas morais

(d) traços essenciais da moral

Sumário
ACTOS MORAIS: As relações entre as pessoas, entre os grupos e entre
as nações não são lineares. Apresentam problemas, são complexas.

Por vezes não sabemos como agir. E sentimos necessidade de saber como
agir. Vejamos alguns exemplos da nossa realidade real ou da realidade
fantástica tão insistente, maciça, brilhante, subreptícia ou descaradamente
veiculada por nossa maior pregadora de princípios "Morais", a TV Globo,
com suas novelas:
 Pode uma gestante com rubéola abortar?
 Devia o Roque Santeiro ir armado ou desarmado ao encontro de
Navalhada?
 A Lulu podia ou não podia abandonar o José das Medalhas?
28 Unidade N0 07-A0019

JUÍZOS MORAIS: Nós continuamente julgamos os actos dos outros e


somos por eles julgados. Às vezes, raramente, até nos julgamos a nós
mesmos. Aprovamos, desaprovamos, condenamos, somos aprovados e
desaprovados. Isto é, emitimos continuamente juízos morais, dando aos
actos humanos (livres e conscientes) os atributos de bom ou de mau.

Ex:

 O Senhorzinho Malta é um criminoso, um arbitrário, um prepotente e


devia ser condenado à prisão perpétua, ou mesmo à morte.

 O Partido X não tinha o direito de gastar rios de dinheiro em São Luís


para eleger seu candidato. Mesmo que fosse dinheiro deles, teria sido
abuso do poder económico. Portanto ilegal e imoral.

NORMAS MORAIS: Ora a dúvida quanto a como devemos agir e o facto


que julgamos e somos julgados pressupõem que haja:

 princípios

 normas

 regras

 leis

– parâmetros de comportamento que nos dizem ou indicam o que se pode


ou não pode, deve ou não deve fazer e que, de certo modo, nos obrigam e
em base aos quais nós julgamos, sem ser considerados levianos,
incompetentes ou intrometidos.
. Mas quais são ou devem ser essas normas?
. Quem as pode ou deve fazer e modificar?
. São mesmo obrigatórias ou deixam liberdade (moral!) de acção?
. São gerais (para todos) ou só para alguns?

Ex:
 Todos os moçambicanos são iguais perante a lei.
 O preconceito racial é crime.
 Devemos fazer o bem e evitar o mal
Apesar das normas existentes (jurídicas, morais etc.), muitas vezes ainda
ficamos na dúvida sobre como agir retamente. Isso porque ou não
existem normas ainda, ou nós não as conhecemos, ou não as sabemos
interpretar bem.

Ex: de situações que exigem normas ou deixam dúvidas:


 A polícia pode matar os criminosos?
 Será que constitui quebra de sigilo e é imoral a Assistente Social
entregar às Autoridades um toxicômano?
 Deve um "Código de Ética" procurar defender os interesses e os
direitos da Classe ou, pelo contrário, preocupar-se em procurar
modos de ser, de pensar e de agir que tornem mais moral e mais
eficiente a acção da Classe em prol da Sociedade?
29

Em poucas palavras, na nossa vida real e concreta do dia-a-dia, estamos


sempre às voltas com problemas morais práticos semelhantes a estes: seja
de actos, seja de juízos, seja de normas morais. E isto vale para todos: as
pessoas, os grupos, as sociedades, as nações. Não podemos escapar aos
problemas concretos e muitas vezes não fáceis da MORAL. Moral não
representa, sozinha, a VIDA TODA. Mas é da VIDA uma parte
importante. É com ela, com a Moral, que tentamos nos construir, nos
aperfeiçoar, melhorar nossas relações vitais e melhorar o tempo, as
instituições e o Mundo em que vivemos.

Mas o que é concretamente a Moral, quais suas características


fundamentais?

TRAÇOS ESSENCIAIS DA MORAL: Resumidamente são os seguintes


os traços essenciais da moral.

 é uma forma de comportamento humano que compreende tanto um


aspecto normativo (regras de acção) quanto um aspecto factual
(necessidade de adequação dos atos humanos às normas)

 a Moral é um facto social: tende a ajudar os grupos e as sociedades a


organizarem suas acções em base a valores e fins e assim a solucionar
suas necessidades.

 é um facto individual, de cada pessoa, pois exige a interiorização, a


adesão íntima, o reconhecimento interior das normas estabelecidas
pela comunidade ou descobertas pessoalmente.

 o acto moral, manifestação concreta do comportamento moral de


pessoas reais, é complexo, e é síntese indissolúvel de:

motivação

intenção a perfeição deles todos,

decisão em sínteses, forma a perfeição

meios do normal

resultados

1. o acto moral, como acto consciente e voluntário, supõe uma


participação livre do sujeito em suas realizações; é portanto
incompatível com a imposição forçada de normas.

Podemos agora tentar uma definição:

A Moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual


são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes
e as comunidades, de tal maneira que estas normas, dotadas de um
carácter histórico e social, sejam acatadas livremente e conscientemente,
por uma convicção íntima e não de uma maneira mecânica, externa ou
impessoal.
30 Unidade N0 07-A0019

Exercícios

1 – Apresente uma definição mais detalhada de MORAL.

Resposta: A Moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo


o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou
entre estes e as comunidades, de tal maneira que estas normas, dotadas de
um carácter histórico e social, sejam acatadas livremente e
Auto-avaliação conscientemente, por uma convicção íntima e não de uma maneira
mecânica, externa ou impessoal.
Unidade N0 08-A0019

Tema: O Problema Ético

Introdução
Uma coisa porém é o Problema Moral outra coisa é o Problema Ético.
Nós não só agimos moralmente (acção, decisão, normas, juízos morais),
mas também reflectimos sobre nosso comportamento moral e o tomamos,
portanto, como objecto de nossa reflexão, buscando os como, porquê,
para quê e demais relações dos actos morais. E assim, parando para
aprofundar uma reflexão sobre o mundo da Moral, sobre os actos
humanos sob o aspecto de bem ou de mal, nos estamos dando um passo
importante: (a) saímos do campo da Moral e (b) entramos no campo da
Ética.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de Ética e seu objecto de estudo.

 Identificar os problemas básicos da Ética.

Objectivos  Explicar a questão ligada ao problema Deontológico.

Sumário
1. DEFINIÇÕES E OBJECTO DA ÉTICA: Para começar, podemos
definir Ética como:

"Teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade"

ou

"Ciência de uma forma específica de comportamento humano que é


exactamente o comportamento moral".

Destas definições se deduz, então, que o Mundo Moral é o campo ou o


objecto da Ética. Não para entrar em pormenores, estabelecer normas e
códigos, dizer como deves ou não deves agir em tal ou tal situação
32 Unidade N0 08-A0019

concreta, mas para refletir sobre os fundamentos, princípios, ideologias


subjacentes, valores, termos e conceitos usados pela Moral.

"A Ética, como muito bem diz Sanchez Vásquez, depara com uma
experiência histórica-social no terreno da Moral, ou seja, com uma série
de práticas morais e, partindo delas, procura determinar:

 a essência da Moral

 sua origem

 as condições objetivas e subjetivas do ato moral

 as fontes de avaliação moral

 a natureza e a função dos juízos morais

 os critérios de justificação destes juízos

 o princípio ou princípios que regem a mudança e a sucessão dos


diferentes sistemas morais, nos diversos tempos e nos diversos
lugares".
33
34 Unidade N0 08-A0019

Restringindo-nos aos códigos "éticos" ou melhor, morais, vemos que eles


prescrevem deveres, estabelecem leis, ditam normas que devem ser
obedecidas por determinadas pessoas, grupos ou nações. Deixando de
lado as "tábuas da Lei" ou o alcorão que segundo o Judeu – Cristianismo
e o Islamismo foram ditados pela autoridade incontestável de Deus,
Senhor Absoluto, todos os outros códigos morais têm origem humana,
lugar e data e autor certos ou presumíveis.
35
36 Unidade N0 08-A0019
2.2 – O PROBLEMA TEÓRICO: Quer responder, como vimos acima a
dois tipos de perguntas:

 Quais as condições e os pressupostos essenciais para que um ato


humano seja moral.

 Qual o critério supremo para diferenciar o bem do mal, o moral do


imoral

a) Condições de moralidade

*) Liberdade – Sem liberdade não se pode falar de moralidade. Nisto


todos os filósofos estão de acordo. Entendemos por liberdade a
possibilidade de escolha consciente, convicta, íntima e pessoal de valores
que, a seu juízo, servem para sua valorização ou para a valorização dos
outros.
37
38 Unidade N0 08-A0019
Contradição? Não! Dialética. Aspectos diferentes de um mesmo ser que
tem de procurar um bom equilíbrio entre os diferentes aspectos para
realizar no seu agir, o seu ser total, no tempo, no espaço e demais
circunstâncias da vida.

Eu tanto digo que aceito as normas que julgo justas e boas (só porém o
mínimo indispensável!!) como afirmo que odeio todas as normas não
indispensáveis ou muito necessárias, pois minha vocação maior é a
liberdade, a autonomia para construir pessoalmente a minha história.

Normas, então, sim. São necessárias. Mas a quais normas eu devo sujeitar
um de meus maiores valores – a liberdade? Só se for a uma norma que
garanta a minha maior realização, que seja caminho seguro para meu ser-
mais e para o BEM SUPREMO.

Qual seria então essa norma suprema ou o critério máximo de


normalidade, o 1º princípio moral do qual se podem deduzir logicamente
todos os outros e que a eles dá força, ânimo e sentido?

b) Critério Supremo de moralidade – Aqui os filósofos se dividem em


duas grandes fileiras:
39
40 Unidade N0 08-A0019 De morais relativistas são exemplos:

 na antigüidade, os Sofistas, os Céticos, Nominalistas.

 na Modernidade, o materialismo histórico de Marx e Engels, o


Neopositivismo e os Analistas da Linguagem.

3. O PROBLEMA DEONTOLÓGICO

O vocabulário grego "déon" significa

 o obrigatório

 o justo

 o adequado

A partir deste particípio e da palavra loghia, Jeremias Bentham cunhou o


termo deontologia, em 1834. Como ciência de normas que são meios para
alcançar certos fins.

Após Bentham tornou-se comum considerador a Deontologia não só


como uma disciplina normativa, mas também descritiva e empírica que
tem como finalidade a determinação dos deveres que devem ser
cumpridos em determinadas circunstâncias sociais e de modo todo
especial dentro de uma determinada profissão.
41
42 Unidade N0 08-A0019

Se do ponto de vista técnico o pedido é menos seguro ou menos bom ou


tem conseqüências não previstas pelo solicitante, deve o profissional
esclarecer o cliente mostrando as inconveniências existentes e os
procedimentos para melhor execução, após o que pode deixar o cliente
decidir e assumir toda a responsabilidade pelas conseqüências, exceto, se
houver prejuízos ao bem comum ou a terceiros.

b) a remuneração justa: nunca por motivo algum, deve ser excessiva.


Nada impede que se prestem serviços a menor preço ou mesmo
gratuitamente, em casos de necessidade financeira do usuário.

Se há o dever da solidariedade com os colegas, porque não o deve ou pelo


menos o pode haver com os usuários? Dado o baixo nível de renda de
43
Resposta: Deontologia é a ciência que estabelece normas directoras das
actividades profissionais sob o signo de retidão moral ou honestidade
Auto-avaliação estabelecendo o bem a fazer e o mal a evitar no exercício da profissão.
38 Unidade N0 09-A0019

Unidade N0 09-A0019

Tema: Deontologia ou Ética


Profissional: a excepção das
profissões da educação.

Introdução
A ética é indispensável ao profissional, porque na acção humana "o fazer"
e "o agir" estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à
eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua
profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de
atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Descrever a situação paradoxal das profissões da educação.

 Explicar a visão redutora da profissionalidade das profissões da


educação.
Objectivos
 Compreender a carência deontológica das profissões da educação.

Sumário
1. Situação paradoxal das profissões da educação

As profissões da educação são geralmente consideradas entre as mais


importantes funções sociais, mas o seu prestígio não é, de um modo geral,
elevado. A função docente, designadamente, deixou de ter o prestígio que
já teve e de ser atraente como foi. Entre nós, pelo menos, porque noutros
países a situação é diferente. Por exemplo, nos EUA, segundo inquéritos
à opinião pública (feitos em 2006) sobre a percepção social de 23
ocupações e profissões, realizados anualmente pelo The Harris Poll, (cf.
www.harrispollonline.com):
- A única profissão que subiu em prestígio, desde o primeiro destes
inquéritos (1977), foi a dos professores, que passou de 29% para
52%.

- As seis ocupações ou profissões mais prestigiadas são os


bombeiros (63%), os médicos (58%), os cientistas (54%), os
professores (52%) e os militares (51%).

- Os profissionais mais dignos de crédito são os médicos (85%) e


os professores do ensino não superior (83%), seguidos dos
cientistas (77%), dos polícias (76%) e dos professores do ensino
superior (75%). Entre as profissões menos dignas de crédito,
encontram-se os advogados (27%) e os sindicalistas (30%).

O paradoxo das profissões da educação compreende-se, se distinguirmos


entre:

- o reconhecimento do valor social do serviço que prestam

- e o conhecimento da sua desvalorizada condição profissional.

O valor social do serviço que prestam é o valor da educação como direito


fundamental de todo o ser humano e recurso vital das sociedades
humanas, chave do motor do desenvolvimento social e fonte da vitalidade
democrática. A causa da sua desvalorizada condição profissional está na
visão redutora da sua profissionalidade.

2. Visão redutora da profissionalidade das profissões da educação

A análise e compreensão do conceito de profissionalidade implicam a


distinção entre três conceitos de profissão. Todo o tipo de trabalho tem a
sua inerente dignidade, fundada na subjectiva dignidade da pessoa que
trabalha, independentemente da objectiva realidade do objecto do seu
trabalho. No entanto, sociologicamente, pode-se distinguir três conceitos
de profissão: um amplo, um intermédio e um restrito.

- No conceito amplo, meramente económico, profissão é o


trabalho, ocupação ou actividade habitual de alguém, fonte
principal do seu rendimento e subsistência, de natureza
predominantemente física, empírica e mecânica, exercido sem
qualquer habilitação específica e de modo dependente. Não é
mais do que um emprego.

- No conceito intermédio, não meramente económico, profissão é o


trabalho, ocupação ou actividade habitual de alguém, fonte
principal do seu rendimento e subsistência, que consiste num
saber-fazer-bem de natureza principalmente técnica, adquirido
através de uma aprendizagem formal ou apenas por experiência,
exercido de modo dependente e independente. A este nível, já
pode falar-se de profissional e profissionalismo, isto é, de um
trabalho que se distingue pela aplicação dos saberes e o respeito
das normas de uma arte ou função.
- No conceito restrito, mais forte e selectivo, profissão é o trabalho,
ocupação ou actividade habitual de alguém, fonte principal do
seu rendimento e subsistência, que consiste num saber-fazer-bem
de natureza principalmente intelectual, teoricamente
fundamentado e muito reflexivo, adquirido através de mais ou
menos longa e superior preparação, de grande relevância e
responsabilidade, podendo ser exercido de modo independente e
dependente. É o conceito a que melhor se aplica a ideia de
profissionalidade ou ideal profissional, com os atributos que a
caracterizam.

Este terceiro conceito de profissão tem, portanto, uma denotação elitista,


patente, por exemplo, na utilização do termo ‘honorários’ em vez de
pagamento, remuneração, vencimento ou ordenado, e uma forte
conotação de serviço público. Por isso, o exercício das profissões que lhe
correspondem é enquadrado e controlado pelo poder público,
directamente ou através de órgãos profissionais de Direito Público.

A distinção ou identidade de uma profissão funda-se na natureza do seu


objecto e na especificidade do seu acto profissional típico. No seu
conceito restrito, reside numa composição dos atributos seguintes:

 Relevância social do serviço que presta


 Nível de especialização dos saberes que requer
 Normas deontológicas a que publicamente se obriga
 Qualidades pessoais que potenciam a excelência dos seus
profissionais
 Independência e autonomia científico-técnica no seu exercício
 Poder de auto-regulação colectiva que lhe é reconhecido
 Estatuto económico e prestígio social que propicia

O grau de profissionalidade é função do nível destes atributos. As


profissões com profissionalidade mais densa são as tradicionais
‘profissões liberais’.

Os atributos fundamentais da profissionalidade são os quatro primeiros,


por serem aqueles que respondem à questão da sua essência e dos quais
dependem os outros. A questão essencial é esta: Que deve saber fazer
bem um profissional que um não profissional não sabe nem deve ser
autorizado a fazer? Com efeito, na expressão ‘Que deve saber fazer bem’
estão compreendidos aqueles primeiros atributos da profissionalidade, a
saber: valor do objecto e ciência da profissão, consciência e excelência
dos seus profissionais.

Na tela de fundo desta concepção da profissionalidade, as profissões da


educação, em geral, perfilam-se com uma profissionalidade reduzida por
uma visão redutora da sua complexidade e responsabilidade. A
profissionalidade dos professores, em particular, é redutora quando a sua
formação:
 não vai muito além do saber o que e como ensinar,
 negligencia a dimensão deontológica do seu agir educacional
 e não cuida, desde a sua selecção, do factor pessoal da excelência da
profissão.

Como consequência, e falando de um modo geral, as profissões da


educação:

 têm uma identidade profissional fraca e um baixo nível de


profissionalismo;
 são menos autónomas, no plano individual e colectivo, do que
poderiam ser;
 e mesmo quando o seu estatuto económico é aceitável, o seu prestígio
social não é invejável.

A concepção da plenitude da profissionalidade das profissões da


educação deve partir da compreensão da natureza do seu objecto e
caracterização do seu acto profissional típico. Trata-se de responder à
questão já formulada: Que deve saber fazer bem um profissional da
educação que um não profissional não sabe nem deve ser autorizado a
fazer?

Compete-nos, aqui, examinar apenas um dos factores da menoridade


profissional das profissões da educação: a sua carência deontológica.

3. Carência deontológica das profissões da educação

Embora tendo uma semântica e um uso filosóficos precisos, o termo


Deontologia designa, na sua acepção mais corrente, uma Ética ou Moral
Profissional, ou seja, uma Ética aplicada ao exercício de uma profissão,
formulando os respectivos deveres profissionais. Há, por isso, alguma
redundância pragmática na expressão ‘Deontologia Profissional’ utilizada
nos Estatutos das principais profissões, em Portugal.

Uma Deontologia é, pois, um quadro normativo regulador do


comportamento dos membros de uma profissão, proclamando os seus
valores fundamentais, formulados em princípios e operacionalizados em
deveres, dos quais decorrem direitos. Define, essencialmente, a
responsabilidade profissional, relativa às competências que a profissão
requer e à integridade com que deve ser exercida, para ser digna, honrada
e prestigiada. É a quinta-essência de uma cultura profissional. É uma
insígnia de profissionalidade. Aprender uma Deontologia é, portanto,
aprender a pensar, decidir, agir e reagir profissionalmente, isto é,
responsavelmente.

Todo o tipo de trabalho tem uma dimensão deontológica, na medida em


que há sempre um contrato implícito que implica a observância de
valores morais relativos, por exemplo, à palavra dada, ao trabalho bem
feito e ao preço justo. Por isso, toda a actividade laboral comporta
direitos e deveres, designadamente quando há um contrato de trabalho
escrito. Por exemplo, a Secção VII do Código de Trabalho português tem
como título “Direitos, deveres e garantias das partes”, que são enunciados
em oito Artigos (119-126), com numerosas alíneas. E tem mesmo uma
cláusula de salvaguarda da «autonomia técnica inerente à actividade para
que o trabalhador foi contratado, nos termos das regras legais ou
deontológicas aplicáveis» (Artigo 112).

Com efeito, os direitos e deveres, no exercício de uma actividade


profissional juridicamente enquadrada, não são apenas uma questão de
relação de trabalho, mas também de valores e relações no trabalho, de
relações humanas, principalmente nas profissões de serviços. Por isso, o
Decreto-Lei 184/89 de 2 de Junho, que «estabelece princípios gerais em
matéria de emprego público, remunerações e gestão de pessoal da função
pública» tem um Artigo (Artigo 4) intitulado “Deontologia do serviço
público”, que dispõe: «No exercício das suas funções, os funcionários e
agentes do Estado estão exclusivamente ao serviço do interesse público,
subordinados à Constituição e à lei, devendo ter uma conduta responsável
e ética e actuar com justiça, imparcialidade e proporcionalidade, no
respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos».
E o “Estatuto disciplinar dos agentes da administração pública” (Decreto-
Legislativo 8/97 de 8 de Maio de 1997) dedica o Artigo 3 aos “Deveres
gerais”, que são enunciados em 17 alíneas. Há, ainda, a “Carta Ética da
Administração Pública”, que substituiu uma “Carta Deontológica do
Serviço público” adoptada em 1993 (Resolução do Conselho de Ministros
n.º 18/93, publicada no DR – I Série-B, n.º 64, a 17 de Março). A Carta
Ética foi objecto de uma Resolução do Conselho de Ministros (47/97 de
27 de Fevereiro de 1997), que se lhe refere nestes termos:

Em cumprimento do acordo salarial para 1996 e dos


compromissos de médio e longo prazo, foi discutida e
consensuada com as associações sindicais subscritoras do
acordo um texto designado “Carta ética – Dez princípios éticos
da Administração Pública”. Entende o Governo que não deve
aprovar o referido documento, mas dele tomar conhecimento
como órgão superior da Administração Pública; tal facto, porém,
não afasta a necessidade de revogar uma anterior resolução do
Conselho de Ministros sobre esta matéria, o que constitui o
exclusivo objecto da presente resolução.

Como também salvaguardava expressamente a revogada “Carta


Deontológica do Serviço Público” (1993), a sua observância não impedia
«a aplicação simultânea das regras de conduta próprias que respeitem à
actividade de grupos profissionais específicos» (ponto 2). De facto, entre
os serviços públicos, alguns são tão específicos e de tão elevado interesse
para os indivíduos e para as sociedades, que o poder público tem o direito
e a obrigação de controlar a competência e comportamento de quem os
presta, para garantir a sua qualidade. É o caso, nomeadamente, das
profissões liberais, cujo objecto são serviços indispensáveis à satisfação
de direitos do ser humano que um Estado de Direito se obriga a garantir,
como o direito à saúde, o direito à educação e o direito à justiça. A sua
regulação pode, no entanto, ser delegada num órgão auto-regulador, de
composição exclusivamente profissional ou mista. É um órgão que, em
Portugal, tem a designação clássica de Ordem. Uma Ordem tem a
qualificação constitucional de “associação pública” (Artigo 267, com a
revisão constitucional de 1982), cuja natureza é simultaneamente pública
e privada. Como se lê nos instrumentos legais que publicaram os
Estatutos da Ordem dos Arquitectos, da Ordem dos Biólogos e da Ordem
dos Economistas, a sua natureza é «pública, enquanto prossegue
atribuições públicas relativas ao exercício de profissões onde o interesse
público está especialmente patente, privada, porque associação
representativa dos profissionais inscritos».

As normas deontológicas das profissões liberais podem estar integradas


apenas no respectivo Estatuto ou ser objecto de desenvolvimento em
texto separado. Estão formuladas no Estatuto da Ordem respectiva no
caso das Ordens dos Advogados, dos Engenheiros, dos Arquitectos e dos
Economistas, por exemplo. Mas os Estatutos da Ordem dos Médicos e da
Ordem dos Biólogos remetem para as Ordens o seu posterior
desenvolvimento (Artigo 80 do Estatuto da Ordem dos Médicos e Artigo
15.5 do Estatuto da Ordem dos Biólogos). O Código Deontológico da
Ordem dos Médicos é o mais extenso (tem cerca de 150 Artigos). No
caso da Ordem dos Biólogos, a “Deontologia profissional” está integrada
no “Regulamento interno da Ordem dos Biólogos” (Capítulo III) e tem
apenas 5 Artigos (15-19). No entanto, há deveres e direitos dispersos ou
repetidos em todos os Estatutos.

Apesar da sua equivalente relevância social, as profissões da educação


são uma excepção, nesta matéria: têm uma carência deontológica que é
um dos factores da sua menoridade profissional, como se disse. A
consciência deontológica dos profissionais da educação é, em geral,
muito elementar, subjectiva e empírica. Os professores, nomeadamente,
tendem a acomodar-se à mera condição de funcionários, assumindo como
única responsabilidade ‘dar o programa’ e ‘manter a disciplina’. E as suas
organizações profissionais têm subestimado a importância da
Deontologia.

O Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos


Ensinos Básico e Secundário adoptado em 1990 (Decreto-Lei 139-A/90,
de 28 de Abril) dedica o Capítulo II aos “Direitos e deveres”, onde se
afirma:

Artigo 4

Direitos profissionais

1 São garantidos ao pessoal docente os direitos


estabelecidos para os funcionários e agentes do Estado em geral,
bem como os direitos profissionais decorrentes do presente
Estatuto.

[...]
Artigo 10

Deveres profissionais

1 O pessoal docente está obrigado ao cumprimento dos


deveres estabelecidos para os funcionários e agentes do Estado
em geral e dos deveres profissionais decorrentes do presente
Estatuto.

[...]

Contudo, o Estatuto não utiliza o termo ‘deontologia’, nem estabelece


nenhum órgão para controlar e sancionar a violação dos deveres. Note-se
também que nunca menciona o direito à educação, ao contrário do
Estatuto e do Código Deontológico da Ordem dos Médicos, invocam o
direito à saúde. É o Estatuto de um corpo especial de funcionários
públicos (como as profissões da saúde), cuja função é reconhecidamente
especial mas sem reconhecimento de um estatuto verdadeiramente
profissional, consagrando os referidos atributos da distinção de uma
profissão.

É verdade que as profissões da educação são diferentes de outras. O seu


objecto é mais complexo, não são exercidas de modo tão privado,
autónomo e independente, e têm uma ressonância cultural, moral,
ideológica e política que explicam o seu forte enquadramento público. É
por isso que a profissão docente é frequentemente qualificada como
“quase-profissão”, “semi-profissão” e se realça a necessidade e
importância da sua profissionalização. Ora o conceito de
profissionalização implica o de profissionalidade ou ideal profissional,
cuja concepção compreende a determinação de uma identidade e a
identificação dos factores internos e externos da sua construção. Um
desses factores é a vinculação pública a uma Deontologia. No caso das
profissões da educação, o imperativo deontológico é ainda mais forte do
que noutras, porque são as mais éticas das profissões, principalmente no
caso dos educandos mais jovens, por várias razões, a principal das quais é
esta: nelas não está apenas em causa a Ética do sujeito, isto é, o respeito
da dignidade e direitos do educando, mas está essencialmente em jogo o
Sujeito ético, ou seja, a formação da consciência moral e o
desenvolvimento da capacidade de autonomia e responsabilidade das
crianças, adolescentes, jovens e eventualmente adultos. É por isso que a
responsabilidade dos profissionais da educação – a responsabilidade
pedagógica – pode ser considerada como a maior responsabilidade do
mundo.

Uma Deontologia válida, na sua generalidade, para todas as profissões e


profissionais da educação, deve definir a sua responsabilidade
profissional segundo os seus diferentes vectores, isto é, formular os
deveres profissionais na relação com os educandos, os colegas, outros
trabalhadores e profissionais, a instituição, as famílias e a comunidade, a
profissão e na investigação. Embora alguns dos seus princípios possam e
devam ser enunciados no seu Estatuto, deve ser desenvolvida em texto
autónomo, à semelhança da Deontologia Médica.
Não é oportuno, aqui, propor formulações de normas deontológicas. É
mais pertinente e útil abordar uma questão prévia: Como elaborar uma
Deontologia válida, na sua generalidade, para todas as profissões e
profissionais da educação, que seja vinculativa, representativa,
reconhecida e efectiva?

4. Necessidade de um órgão profissional de novo tipo

Uma Deontologia válida, na sua generalidade, para todas as profissões e


profissionais da educação, para ser vinculativa, representativa,
reconhecida e efectiva, carece da intervenção do poder público para
conferir-lhe a força normativa do Direito. Mas não pode ser
unilateralmente imposta pelo Estado, nem ter uma origem exclusivamente
profissional. Com efeito:

 O Estado, por um lado, é geralmente a principal entidade patronal dos


profissionais da educação, posição que lhe retira a neutralidade
exigível nesta matéria; por outro, são os profissionais que melhor
podem cuidar dos valores da sua profissão, através das suas
organizações.

 As organizações profissionais, de natureza sindical ou não, também


não concentram todos os interesses legítimos no campo da educação,
que tem um profundo lastro cultural, moral, ideológico e político.
Muito menos uma só organização, quando há várias, por mais
representativa que seja.

Sendo assim, a elaboração, adopção e aplicação de uma Deontologia das


profissões da educação requer a criação de um órgão profissional
adequado. Não pode ser uma Ordem, de tipo europeu, cuja natureza
corporativa é inadequada à especificidade das profissões da educação.
Deve ser um órgão de novo tipo, de base maioritariamente profissional,
mas de composição multilateral. A iniciativa da sua criação deve partir do
Estado, como órgão do Interesse Geral e da produção do Direito escrito.
Embora tendo como missão inaugural organizar o processo de gestação
das normas deontológicas, deve permanecer como órgão de controlo do
seu respeito e com um mandato alargado a outras funções.

Esta é a solução adoptada no mundo anglo-saxónico, desde há quatro


décadas, com a criação dos General Teaching Council. O primeiro a ser
criado no Reino Unido, e um dos primeiros no mundo foi o General
Teaching Council for Scotland, criado em 1965 pelo Teaching Council
Scotland Act como órgão regulador da profissão docente. A sua
finalidade principal é «contribuir para melhorar a qualidade do ensino e
da aprendizagem; e manter e elevar as normas de competência
profissional dos professores» (2A). É formado por cinquenta membros,
trinta dos quais são professores eleitos pela profissão. Os restantes são
representantes de numerosas entidades e do Governo. Tem vários
Comités.
Um órgão semelhante foi proposto em Itália, em 2001, por uma Comissão
criada pelo Ministério da Educação, Universidade e Investigação, «para
definir os critérios para um código deontológico das profissões escolares,
com vista a proteger a sua dignidade, tanto pessoal como profissional, e
aumentar a qualidade do sistema escolar» (DM nº 3146/MR of 2-11-
2001). A Comissão recomendou a criação de um Consiglio Superiore
della Docenza, que poderia ser semelhante ao Conselho Superior da
Magistratura, considerando que o ensino tem dignidade constitucional,
como a administração da justiça.

Em Portugal, poderia ser um Conselho Superior das Profissões da


Educação, com uma composição maioritariamente representativa dos
profissionais, mas incluindo representantes do interesse público e de
outros legítimos interesses sociais. Os representantes das profissões
seriam propostos pelos sindicatos e outras associações profissionais,
tendo em conta a respectiva e comprovada representatividade e
procurando salvaguardar uma representação proporcional das diferentes
categorias profissionais. Os representantes dos sectores não profissionais
poderiam ser também eles próprios profissionais da educação, na medida
do possível, reforçando assim a natureza profissional do Conselho.

A missão de um Conselho Superior das Profissões da Educação seria


proteger os destinatários dos seus serviços e garantir a sua qualidade, no
interesse dos educandos e no interesse público. Compreenderia as
seguintes competências:

 Organizar a elaboração e adopção de normas de competência e de


conduta profissionais.
 Certificar a qualificação profissional e manter o registo dos
profissionais qualificados.
 Acreditar programas de formação contínua.
 Criar mecanismos de aceitação e exame, de um modo objectivo,
eficaz e credível, das queixas relativas à competência e conduta
profissionais.
 Difundir informação com interesse para os profissionais da educação,
através de todos os meios apropriados.
 Elaborar recomendações e pareceres sobre a política de educação.

Para o desempenho destas funções poderiam ser criadas comissões


especializadas, como:

 Comissão de Certificação e Acreditação


 Comissão de Deontologia
 Comissão de Informação
 Comissão de Estudos

Um órgão desta natureza poderia absorver as funções do Conselho


Científico-Pedagógico da Formação Contínua e até do Conselho Nacional
da Educação.
Exercícios

1 - Sociologicamente, pode-se distinguir três conceitos de profissão: um


amplo, um intermédio e um restrito. Defina o conceito de profissão no
sentido mais amplo.

Resposta: No sentido mais amplo, profissão é o trabalho, ocupação ou


actividade habitual de alguém, fonte principal do seu rendimento
Auto-avaliação e subsistência, de natureza predominantemente física, empírica e
mecânica, exercido sem qualquer habilitação específica e de
modo dependente. Não é mais do que um emprego.
EXERCÍCIOS A RESOLVER
Faça uma reflexão em cinco (5) páginas no mínimo sobre os seguintes
temas:

 Trabalho1 para primeira sessão presencial – Código: T-EP-01

O Professor e a Ética Profissional:


(a) Inclinação do profissional para a necessidade da formação ampla e
isenta
(b) Culto à verdade
(c) Honestidade
(d) Capacidade
(e) Julgamento próprio
(f) Abertura ao debate
(g) Aprimoramento constante

 Trabalho2 para segunda sessão presencial – Código: T- EP -02

Ética e Relações Pessoais no Ambiente de Trabalho:


(a) Os limites entre seus direitos e deveres e os direitos e deveres da
empresa.
(b) Ética no trabalho (utilização do telefone, e-mail, comportamento em
reuniões, fofocas no corridor, etc.)
(c) Exercícios do cargo/função
(d) Relacionamentos (entre colegas, coordenadores, gerentes, etc.)
(e) Intimidações
(f) Feedback

 Trabalho3 para terceira sessão presencial – Código: T- EP -03

Suponha que você trabalha numa congregação religiosa. Um dia uma


senhora te conta que o marido dela descobriu que ele está infectado com
HIV. Ela está aflita e cheia de medo de também apanhar o virus da morte.
(a) O que você vai explicar a ela sobre a transmissão do HIV?
(b) O que você vai explicar a ela sobre a prevenção de transmissão de
HIV?
(c) Que conselho dará quando souber que ambos querem continuar a ter
relações sexuais?
(d) O que dizer quando ela quiser abandonar o doente?
(e) Que conselho dará se ela quiser fazer também o teste?
(f) O que vai fazer para prevenir que o senhor espalhe o vírus no seu
grupo de casais?
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 FIGUEIREDO, Luis Cláudio. Da epistemologia à ética das práticas


e discursos psicológicos. 2ª edição revista e ampliada. Petrópolis,
Vozes, 1996.


FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, política. Ditos e Escritos V.
Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2004.


NARDI, Henrique C. e SILVA, Rosane Neves. Ética e subjetivação:
as técnicas de si e os jogos de verdade contemporâneos. IN:
GUARESCHI, Neuza e HÜNNING, Simone (orgs). Foucault e a
Psicologia. Porto Alegre, Abrapso Sul, 2005.


ROMARO, Rita. Ética na psicologia. Petrópolis, Vozes, 2006.


SOUZA, Ricardo Timm. Ética como fundamento: uma introdução
à Ética contemporânea. São Leopoldo, Nova Harmonia, 2004.

 COSTA, Jurandir Freire. A Ética e o espelho da cultura. Rio de


Janeiro, Rocco, 1994.


DEL NERO, Carlos. Problemas de ética profissional do psicólogo.
Vetor Editora Psicopedagógica, 1997.

Você também pode gostar