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Sumário

Introdução ..................................................................................................................................................... 3

Objectivo geral .......................................................................................................................................... 3

Objectivos específicos .............................................................................................................................. 3

2. O Pensamento Político Medieval: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino .......................................... 4

2.1. Pensamento Político em Santo Agostinho ......................................................................................... 5

2.2. Pensamento Político de São Tomás de Aquino.................................................................................. 7

Considerações finais ..................................................................................................................................... 9

Referências Bibliográficas .......................................................................................................................... 10

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Introdução
Para falar do pensamento político no período medieval, é imperioso, primeiro, debruçar um pouco
sobre o período medieval.
A idade Média ou Idade das Trevas como é comumente reconhecido, foi um período de dominação
religiosa, que teria impedido o desenvolvimento da razão, criando uma era de atraso e
primitivismo. Para os iluminados do Renascimento, a Idade Média era o tempo da escuridão, das
sombras, era a Idade das Trevas. r
Assim sendo, neste período da idade média, surgiram vários padres pensadores que procuravam
debruçar sobre os vários acontecimentos daquele período, claro, procurando colocar o divino
acima de tudo e todos.
Dentre os vários pensadores daquela época, os que mais se destacaram foram Santo Agostinho e
São Tomás de Aquino, o primeiro tendo pertencido a Patrística e o segundo a Escolástica, onde o
primeiro seguia os passos do Platão e o segundo os passos do Aristóteles.
Daí que o presente trabalho foi elaborado com o intuito de abordar sobre os pensamentos políticos
desses grandes pensadores e como eles influenciaram na construção da Política em todas as
sociedades até os dias de hoje.

Objectivo geral
 Debruçar sobre o pensamento político medieval;

Objectivos específicos
 Apresentar o pensamento político do Santo Agostinho;
 Apresentar o pensamento político do São Tomás de Aquino.

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2. O Pensamento Político Medieval: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino
Para falar da Política na era Medieval é preciso primeiro saber que as ideias políticas naquele
período eram impregnadas e reproduzidas com concepções religiosas, sendo que as origens e os
fundamentos do poder respondiam a uma ordem e hierarquia de representação divina.
Para falar de alguns traços caracterizados do pensamento político medieval, importa destacar três
momentos significativos:
a) A formação do cristianismo como doutrina política e o papel dos Padres da Igreja como
canais de ligação entre o mundo clássico antigo e a cultura da idade média;
b) As aspectos da obra do Santo Agostinho e São Tomás de Aquino que influenciaram e foram
extremamente importantes na construção da filosofia política medieval;
c) O declínio do teocentrismo no período de transição política e o processo de secularização
do poder estatal.
Durante a Idade Média, na Europa Ocidental os cristãos vivenciaram uma concepção comum de
mundo: as formas de saber e de verdade estavam expostas no Novo Testamento, nas Escrituras
Sagradas e nos ensinamentos dos Padres da Igreja. Tanto a filosofia política quanto as outras áreas
da cultura e do conhecimento científico estavam sob o controle e sob a ingerência da teologia
oficial e das doutrinas da Igreja Romana. Porém, a herança da antiguidade c1ássica não havia sido
abandonada ou esquecida, pois se fez presente na interpretação e na obra dos grandes pensadores
cristãos que souberam adaptar para a teologia cristã a obra de Platão, Aristóteles, Séneca, Cícero,
Plotino e outros.
A Alta Idade Média tem a fase mais representativa de seus fundamentos filosóficos no período
conhecido como Patrística. A Patrística expressa o momento em que os padres apologistas,
conhecedores do pensamento antigo, mas voltados para um modo santo de viver, uma postura
intelectual, ortodoxa e uma incorporação rígida à tutela da Igreja, buscam desenvolver,
sistematicamente, uma doutrina apologética (com implicações na Sociedade, na Política, no
Direito e na Ética) que sirva de fundamento filosófico à teologia, procurando criar novas verdades
para a religião cristã, impondo e explicando dogmas que regulamentam a institucionalizam a fé
católica.
Segundo TRUYOL y SERRA (1976) apud WOLKMER (2001) “dentro da Patrística podemos
encontrar dois grandes grupos de Padres, constituídos por pensadores cristãos de inspiração grega
(…) e pensadores cristãos latinos (…); onde os primeiros eram formados no pensamento helênico
e eram os mais especulativos, ocupando-se de preferência de questões mais elevadas e profundas
da teologia. Os segundos, familiarizados com o Direito romano, e tinham uma maior inclinação
para questões políticas, práticas e sociais”. As duas tendências se conciliavam em Santo
Agostinho.

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2.1. Pensamento Político em Santo Agostinho
Possivelmente, o mais destacado pensador cristão da Patrística e de toda a primeira fase da Idade
Média foi Santo Agostinho. Sua obra reproduz uma síntese admirável da cultura clássica antiga
com o legado judaico-cristão através da interpretação pauliniana. Além disso, na sua juventude,
antes de sua conversão ao Cristianismo (relatada em suas Confissões), recebeu influências do
neoplatonismo (Plotino), do ceticismo e do maniqueísmo, revelando-se, ao lango de sua vasta
produção (acima de 200 cartas, mais de 500 serm6es e 113 tratados), um profundo e eloquente
filósofo-teólogo.
A filosofia de Platão e os ensinamentos de São Paulo foram decisivos para a estruturação filosófica
de sua doutrina teológica. Suas principais ideias se tornaram num repositório inesgotável que
serviu de orientação filosófica e espiritual para todo o pensamento cristão (doutrinas da
predestinação e da salvação), quer entre pensadores católicos, quer entre autores protestantes. Seus
trabalhos mais conhecidos e de forte presença em todo o pensamento medieval foram: As
Confissões e A Cidade de Deus.
Em sua célebre As Confissões, Santo Agostinho narra a trajetória de sua infância, juventude,
maturidade, formação intelectual, relações com a progenitora Mônica e fundamentalmente sua
conversão e auto penitência diante das seduções, devassidões e incertezas do mundo pagão.
Em seu livro maior, A Cidade de Deus, escrito entre 412 e 427, procura defender o cristianismo
da acusação feita pelos pagãos de ter sido responsável, ao abandonar a proteção dos deuses antigos,
pela tomada e saque de Roma (410), feita por Alarico. Santo Agostinho argumenta que a
fragilidade e a desgraça do Império Romano frente aos godos se deviam muito mais à dissolução
dos costumes e ao culto do politeísmo.
A reflexão proposta pelo Bispo de Hipona em sua mais significativa obra é a de que a história
humana tem percorrido um eterno dualismo entre a cidade de Deus (Civitas Dei, Civitas coelestis),
fundada por Abel e integrada por entes libertos do pecado, em peregrinação ao céu e muito
próximos do ser divino, e a cidade terrena (por vezes chamada de civitas diaboli), formada por
homens descendentes de Caim, marcados pelo pecado, que não vivem na fé, comungam com os
valores e exigências do mundo pagão.
Assim, está presente no pensamento Agostiniano, o dualismo maniqueísta da cidade celestial que,
corporificada pela Igreja, se ocupará dos interesses espirituais e reinará soberana sobre seus
inimigos, e da cidade civil identificada com o Estado temporal que se encarregará das coisas
materiais. As duas cidades existem, lado a lado, e continuarão até o final dos tempos, quando então
a cidade de Deus subsistirá para constituir a eternidade dos santos. Tal distinção das duas cidades
que partilham a existência humana entre si fica bem expressa quando ele divide a humanidade "cm
dois grandes grupos: um, o dos que vivem segundo o homem; o outro, o daqueles que vivem
segundo Deus. Misticamente, damos aos dais grupos o nome de cidades, que é o mesmo que dizer
sociedades de homens. Urna delas está predestinada a reinar eternamente com Deus; a outra, a
sofrer eterno suplício com o diabo.

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Ainda que Agostinho não tenha sido um teórico ou filósofo da política. sua obra oferece ricos
subsídios para a interpretação sobre as relações entre Estado e Igreja, os fundamentos da lei natural
e da lei positiva, a questão da legitimidade do poder dos governantes, a formulação crista da ideia
de justiça e a discussão acerca do significado da guerra justa. Portanto, as ideias agostinianas de
matiz política devem ser buscadas numa leitura atenta da eloquente, determinista e apologética "A
Cidade de Deus". Certamente, essa notável obra do século V, que aglutina teologia, filosofia,
história e política, e se revela "ardente e grandiosa", no dizer de Jean Touchard:
“não expõe propriamente urna doutrina; toda ela é recheada de sentimentos
contraditórios; representa acima de tudo a meditação apaixonada de um adepto do
cristianismo, romano pela cultura, que, ante o desmoronamento de um império
agonizante. se sente dilacerado entre a desorientação, o desejo de enfrentar as
contingências imediatas e a certeza profunda de que tal derrocada irá originar algo de
eterno. Esta rneditação acerca da história universal encontrou um duradouro eco, mas
deformante, em toda a Idade Média. Serviu para alicerçar urna doutrina política que, (...)
programatizará a absorção do Direito do Estado pelo da igreja."

Desse modo, a teologia política agostiniana traça os marcos iniciais de urna doutrina do Estado e
fornece os elementos teóricos para a justificação política da Igreja ocidental. Não só o Estado
apresenta limites que a Igreja não conhece, como só poderá integrar-se a Cidade de Deus
subordinando-se a Igreja em todos assuntos ou gestões espirituais.
O "agostinismo político" engendrado na Cidade de Deus defende urna concepção teocrática de
poder, em que a Igreja Crista tem toda a legitimidade de jurisdição sobre a sociedade política. Por
conseguinte, a autoridade que exerce o poder terreno só será perfeita se for um governante cristão.
No contexto de um mundo marcado pelo pecado, qualquer que seja a forma de ser do governo,
este deverá contribuir na "tarefa espiritual de ajudar a igreja na sua luta contra a maldade ¡nata do
homem, por meio de ordens s e castigos". Por fim, outro aspecto da filosofia política de Santo
Agostinho é sua conhecida doutrina da guerra justa entre impérios e repúblicas. Justifica-se, assim,
a utilização das armas e da guerra quando for a última possibilidade para a autoridade legítima
enfrentar a injustiça e castigar os inimigos extemos.

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2.2. Pensamento Político de São Tomás de Aquino
Uma nova etapa da Idade Média na Europa Ocidental se descortina entre os séculos XI e XIV.
O século XI começa a registrar uma certa crise e declínio do feudalismo, novas ordens religiosas
são criadas, a Igreja Romana passa por profunda reforma, tendo passado pelo Cisma do Oriente (a
Igreja Oriental rompe com a Igreja Ocidental) e pela disputa conhecida como a "questão das
investiduras".
No século XII, além do conflito permanente entre o papado e o império ocorreram também as
primeiras cruzadas e depois emerge a Escolástica.
É no século XIV que começa a dissolução das instituições até então hegemónicas (igreja e Sacro
Império), o aumento do poder real com o aparecimento das monarquias nacionais (França,
Inglaterra), o desgaste e eclipse do papado, a emergência do reformismo filosófico e da
secularização na política.
Se a Patrística foi o momento cultural mais significativo da primeira fase da Idade Média
Ocidental, a Escolástica representou o ápice da produção intelectual, filosófica e teológica da
Europa crista nos séculos XII e XIII, como corrente filosófica hegemónica dominada pela forte
presença dos dominicanos:
“(…) seu principal objetivo era demonstrar, por um raciocínio lógico formal, a autenticidade dos
dogmas cristãos. A filosofia devia desempenhar um papel auxiliar na realização deste objetivo; por
isso, a tese de que a filosofia está ao serviço da teologia foi o princípio básico da Escolástica. Esta
procurava, também, utilizar para a fundamentação dos dogmas cristãos, as teorias dos pensadores
antigos, em especial de Aristóteles que, a partir do século XII, chega a ser urna autoridade
inapelável, na filosofia e na ciência. Deste modo, a Escolástica medieval procurava colocar um
fundamento filosófico sob todo o edifício da fé."

São Tomás de Aquino, dominicano nascido na Itália, foi não só o nome mais expressivo da
Escolástica, como, sobretudo, um dos mais importantes pensadores do Ocidente Medieval. Após
estudar com seu mestre Alberto Magno e tornar-se professor de teologia em Paris, São Tomás
procurou realizar a grande síntese entre a cultura pagã antiga (a "razão" aristotélica) e os
ensinamentos e os dogmas da Igreja Católica (a teologia crista da "revelação" e da "fé"). Assim,
"diante das ideias pré-cristãs de Aristóteles sobre Deus, o universo e o homem, Tomás de Aquino
insistia que um bom pagão poderia mostrar que as opiniões do filósofo não conflituavam com as
da Escritura. Achava também que ele e sua geração tinham muito o que aprender com Aristóteles"
Enquanto Santo Agostinho se embasava em Platão, proclamando a “fé” como instrumento de
compreensão teológica, São Tomás de Aquino recuperava Aristóteles através das versões árabes e
judaicas, apregoando a qualidade e o uso humano da “razão”, distanciando-se da visão pessimista
agostiniana sobre a natureza humana, pois mesmo que o homem tenha caído no pecado, é capaz
de discernir o bem e o mal e praticar a virtude.
Mesmo tendo se consagrado como teólogo e filosofo, o São Tomás não deixou de ser também um
competente pensador político que, ao seguir e trazer para o cristianismo as formulações
aristotélicas da natureza politica do homem, discorre com profundidade sobre uma teoria do Estado

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e o bem comum, uma teoria da natureza das leis, uma teoria da resistência à injustiça e, por fim,
uma teoria das formas de governo. Nesse ponto as suas principais ideias politicas aparecem com
destaque na monumental Suma Teológica e no ensaio inacabado Do Reino ou do Governo dos
Príncipes ao Rei de chipre.
Partindo de premissas aristotélicas, São Tomás constrói uma doutrina teológica do poder e do
Estado. Primeiramente, compreende que a natureza humana tem fins terrenos e necessita de uma
autoridade social. Se o poder em sua essência tem uma origem divina, é captado e se realiza através
da própria natureza do homem, capaz de seu exercício e sua aplicação.
Certamente, tanto o poder temporal quanto o poder espiritual foram "instituídos por Deus. Deus é
o criador da natureza humana e, como O Estado e a Sociedade são coisas naturalmente necessárias,
Deus é também o autor e a fonte do poder do Estado, (...) o Estado não é uma necessidade do
pecado original". Enquanto o homem necessita do Estado, este deve servir a comunidade dos
cidadãos, promovendo a moralidade e o bem-estar públicos, efetivando sua plena missão de
incentivar urna vida verdadeiramente boa e virtuosa, e criando as condições satisfatórias do bem-
comum. Por consequência, os fins do Estado são fins morais (o bem-estar de toda comunidade),
senda que os cidadãos estão comprometidos com um fim temporal (representado pela autoridade
estatal) e com um fim espiritual (corporificado pela Igreja, que atua como instancia maior.
O poder do Estado não fica subordinado de forma absoluta ao poder da igreja (como defendia
Santo Agostinho), mas sim de modo relativo; a autoridade da Igreja é superior em matéria
espiritual.
Em suma, da confluência de elementos extraídos de Aristóteles, dos estoicos e de Santo Agostinho.
Santo Tomás elabora urna notável e precisa filosofia político-jurídica da natureza das leis. Assim
sendo, é inegável, portanto, a contribuição de São Tomás de Aquino para o mundo medieval e para
a modernidade ocidental, ao adequar harmoniosamente a cultura clássica aristotélica com o
cristianismo. Mais do que sua teologia e sua filosofia, suas ideias políticas influenciaram na
construção de modernas teorias acerca do Estado, dos limites da obrigação civil, do bem comum,
da legitimidade do Governo e da lei natural como fundamento do Direito internacional (influencia
em autores como Francisco de Vitória, Francisco Suarez, Hugo Grócio e outros).

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Considerações finais
Depois do trabalho feito, pudemos concluir que as bases da política surgiram no período medieval
com os dois grandes pensadores Santo Agostinho e o São Tomás de Aquino, apesar de não terem
se dedicado complemente na filosofia política. Para santo Agostinho, as obras As Confissões e A
Cidade de Deus foram cruciais para que a forma de política pudesse ser consolidada, pois,
apresentou aspectos muito relevantes concernentes a estrutura da sociedade naquele período. E
para o São Tomás, a obra Suma Teológica, pois construiu uma doutrina teológica do poder e do
Estado.

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Referências Bibliográficas
WOLKMER, António Carlos; O Pensamento Político Medieval: Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino – Revista Crítica Jurídica, 2001.

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