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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Originalidade Crioula Cabo-Verdiano

Deolinda José Manuel, 708209153

Curso: Licenciatura em Ensino de Português


Disciplina: Literaturas Africanas em Língua Portuguesa I
Ano de Frequência: 3º Ano
Turma: B

Nampula, Maio de 2022

Deolinda José Manuel, 708209153

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Originalidade Crioula Cabo-Verdiano

Trabalho de carácter avaliativo da


Cadeira de Literaturas Africanas em
Língua Portuguesa I, Curso de Português
a ser apresentado ao dr Isidoro Mendes
Momade

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Instituto de Educação à Distância

Nampula, Maio de 2022

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Índice
Introdução........................................................................................................................................4

Originalidade Crioula Cabo Verdiano.............................................................................................5

A história do povoamento...............................................................................................................6

É pouco provável que o crioulo tenha nascido no continente!........................................................7

Como se formou o crioulo nas ilhas de Santiago e Fogo................................................................8

Epílogo: o crioulo na Guiné e no seio da diáspora caboverdeana...................................................9

Classificação interna......................................................................................................................10

Conclusao......................................................................................................................................13

Referencias Bibliograficas.............................................................................................................14

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Introdução

O presente trabalho visa abordar sobre o tema de “Originalidade Crioulo Cabo verdiano” o
forro, crioulo são-tomense (como o angolar, menos falado), tem como substrato africano os
falares dos povos do delta do Níger, não se confundindo com o crioulo de Cabo Verde. Nos
finais do século XVI o império do Mali foi-se desagregando em pequenos reinos, sendo o
principal o Gabu (leste da Guiné-Bissau) onde os Mandingas se tinham fixado desde o século
XIII. Mandingas e Fulas, vivendo mais para o interior (no planalto do Gabu, de resto ainda
hoje), negociavam com os portugueses que os demandavam a partir das suas feitorias e
portos. O mesmo acontecia com as outras etnias. Diz o Dr Mendes que “o crioulo foi
desenvolvido pelo contacto entre os portugueses e povos do Golfo da Guiné (…) ainda antes
da chegada ‘oficial’ de Portugal ao território da actual Guiné-Bissau, sendo depois levado
para as ilhas de Cabo Verde pelos escravos guineenses”… mas eis que de seguida contradiz-
se: – “foram os escravos guineenses que deram origem à atual população de Cabo Verde e,
por consequência, ao crioulo”.

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Originalidade Crioula Cabo Verdiano

Por agora pego na segunda. O Dr Mendes, “sociólogo-politicólogo africano/guineense” com


obras publicadas, despertou a minha curiosidade ao assumir “a responsabilidade de
desconstruir a ‘narrativa’ sobre o crioulo” (refutando assim os estudos que dão o Crioulo
como originário das ilhas de Cabo Verde). Li, curioso e interessado, duas crónicas de
Livonildo Francisco Mendes, a primeira sobre “A descoberta de Cabo Verde e o surgimento
dos ‘caboverdianos”, a segunda sobre a “Origem da língua crioula falada na Guiné-Bissau e
em Cabo Verde ”. Gosto de aprender com quem sabe, mas neste caso fiquei mais perplexo
que esclarecido!

O Crioulo é uma temática muito séria para ser tratada de ânimo leve, e certas afirmações
demandam, a meu ver, mais cuidada verificação documental. Era de esperar um estudo com
fundamento em fontes, factos e evidências credíveis que, pelos vistos, faltaram ao ilustre
“sociólogo-politicólogo africano/guineense” ao “atacar em diagonal para descodificar os
possíveis ‘embustes” e evitar aos incautos “comprar gato por lebre”. Por “embuste”,
subentende-se andarem os Caboverdeanos a reivindicar um património que não é deles, que
não inventaram língua nenhuma, já que foi da Guiné que lhes chegou o crioulo!

Ora ainda que assim fosse, não é com cruzadas patrióticas que se “descodifica” a história!
Não é numa antinomia telúrica Guiné/Cabo Verde que vamos investigar a paternidade do
Crioulo que comungamos, mutatis mutandis, no continente e nas ilhas. Muito menos com
ideias preconcebidas, mal dissimuladas nas entrelinhas do que li, fazendo passar os
caboverdeanos por uma nação degenerada, de escravos guineenses assimilados em contacto
com os europeus!

Então seja permitido a este vosso humilde servidor, investigador diletante da história dos
nossos países e povos, “descodificar” – também – alguns sofismas. E pouco importa aqui se
sou caboverdeano, africano das ilhas – fosse guineense de nascença, contaria a mesma
“história”! Se acredito que a língua crioula nasceu nas ilhas de Santiago e Fogo, não é por
nacionalismo compulsivo – é porque factos e evidências dificilmente contestáveis da nossa
história comum apontam nessa direção.

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A história do povoamento

Foram, lembra o Dr Mendes, “os escravos guineenses que deram origem à atual população de
Cabo Verde”. Afirmativo – porém demasiado simplista por falta de um simples advérbio!
“Descodificando”: os primeiros escravos, essencialmente da atual Guiné-Bissau, provieram
de diferentes regiões. Por carta régia de 1466, D. Afonso V autorizava aos primeiros colonos
os “tratos e resgates” num perímetro costeiro que se estendia da Senegâmbia até à Serra-Leoa
(da Senegâmbia vieram, por exemplo, os Jalofos…) Ainda “descodificando”, como diz o
Outro, os africanos não eram todos escravos, havendo entre eles homens livres (e porventura
mulheres… como a jovem Brízida, filha de Beca Caia que era o chefe de uma etnia Sape da
Serra-Leoa. Consta que veio estudar para Santiago e por cá ficou).

O Dr Mendes sabe que não vieram unicamente africanos povoar as ilhas, ou não fossem elas
a primeira nação nascida da coabitação entre africanos e europeus nos trópicos! Os
caboverdeanos, nação mestiça de matriz africana, fizeram a síntese das suas diferenças
irmanando-as no sangue e na cultura. E não têm mea culpa a fazer por terem criado uma
cultura própria! O crioulo, nascido nas ilhas de Santiago e Fogo, exprime e veicula essa
cultura, gerada por povos de díspares origens e feitios.

Curiosamente o Dr Mendes só menciona os escravos, “esquecendo” que uma língua crioula é


gerada – como uma criança – por, pelo menos, dois progenitores, dois idiomas! Línguas
crioulas emanam de populações “crioulizadas”, passe a expressão, e não de simples feitorias
ou colonatos temporários! Senão, vejamos: os portugueses também tinham feitorias em
Angola e Moçambique, mas crioulo undi ki fica? Fundaram importantes entrepostos no Golfo
da Guiné (como São Jorge da Mina em 1484) mas, curiosamente, foi em S. Tomé-e-Príncipe
– outro arquipélago povoado por africanos e portugueses – que se formou um crioulo de base
lexical portuguesa!

O forro, crioulo são-tomense (como o angolar, menos falado), tem como substrato africano os
falares dos povos do delta do Níger, não se confundindo com o crioulo de Cabo Verde.

Desde o século XV, a ladinização dos escravos (baptismo e aprendizagem da língua dos
colonos) mudou o rosto da sociedade caboverdeana, se calhar mais do que em outras partes
do Império. Por efeito de um acelerado processo de miscigenação, os filhos da terra,
mestiços, foram herdando dos seus progenitores, os brancos da terra. Escravos alforriados

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investiram a sociedade livre como rendeiros, negociantes, marinheiros, profissionais
liberais… Em 1522 já havia uma vintena de padres mestiços e negros na Ribeira-Grande. O
padre António Vieira, célebre jesuíta de passagem em 1652, lavrou rasgados elogios à
intenção dos cónegos negros que encontrou na então capital do arquipélago, tão instruídos e
doutos que “fariam inveja nas nossas catedrais”! Das agruras da servitude emerge esta
realidade caboverdeana que a muitos incomoda reconhecer: muitos escravos encontraram na
sociedade emergente e na Igreja, oportunidades que os seus irmãos do continente lhes
negaram, vendendo-os que nem alimárias a estrangeiros!

É pouco provável que o crioulo tenha nascido no continente!

Diz (acha) o Dr Mendes que “na Guiné-Bissau, a língua crioula resulta de contactos (…)
entre os portugueses e os povos do Golfo da Guiné (principalmente os Mandingas e os Fulas)
desde a época do Grande-Império do Mali, no século XIII” (Deveras espantoso! Mandingas e
Fulas no Golfo da Guiné! E portugueses, no século XIII!)

Numa coisa calha bem esta referência “imperial”: como outras civilizações africanas, o
grande império malinké (ou do Mali) deveria deitar por terra o estereótipo de uma África
“sem história”, por ignorância ou preconceito. Reduzir a história africana à colonização, é
uma presunção euro-centrífuga que infelizmente ainda impera em muitas mentes colonizadas!
Certo presidente francês declarou em Dakar que o homem africano perdeu o comboio da
história! Fez-lhe falta um bom conselheiro para lhe lembrar que estava nas terras do antigo
império Wolof, e que o império do Mali precede de dois séculos a chegada dos portugueses!

Mas vamos ao que nos interessa, que é onde e quando nasceu o Crioulo! No século XIII não
podia ser, já que os portugueses só chegaram à África no século XV! É em 1434 que Gil
Eanes passa o enigmático cabo Bojador. Dez anos mais tarde, navegando à vista com o
deserto a bombordo, Dinis Dias e Lançarote avistam a embocadura do rio Senegal e o
promontório a que chamam cabo Verde. Os portugueses não se aventuraram muito terras
adentro, deixando-se ficar pela orla marítima ou fluvial com seus entrepostos e feitorias. Nos
primeiros tempos enviavam emissários e socorriam-se de intérpretes africanos a quem
chamavam “línguas”.

Não há notícia de povos Mandingas e Fulas no Golfo da Guiné, por isso não foi no Golfo que
viram chegar os portugueses, mas sim na costa ocidental (Senegâmbia/Rios da Guiné). Aliás,

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que nos diz história? Diz que o império (mandinga) do Mali, no seu apogeu, estendia-se em
latitude através da cintura do Sahel até à Senegâmbia marítima, com epicentro no Alto-Niger.
Nenhuma cartografia o apresenta como um território litorâneo por definição, e nunca se
propagou até ao Golfo da Guiné (a menos que o articulista tenha confundido, por descuido,
Golfo com Costa… da Guiné)! Nos finais do século XVI o império do Mali foi-se
desagregando em pequenos reinos, sendo o principal o Gabu (leste da Guiné-Bissau) onde os
Mandingas se tinham fixado desde o século XIII. Mandingas e Fulas, vivendo mais para o
interior (no planalto do Gabu, de resto ainda hoje), negociavam com os portugueses que os
demandavam a partir das suas feitorias e portos. O mesmo acontecia com as outras etnias.

Como se formou o crioulo nas ilhas de Santiago e Fogo

Diz o Dr Mendes que “o crioulo foi desenvolvido pelo contacto entre os portugueses e povos
do Golfo da Guiné (…) ainda antes da chegada ‘oficial’ de Portugal ao território da actual
Guiné-Bissau, sendo depois levado para as ilhas de Cabo Verde pelos escravos
guineenses”… mas eis que de seguida contradiz-se: – “foram os escravos guineenses que
deram origem à atual população de Cabo Verde e, por consequência, ao crioulo”.

Não disse onde, mas subentende-se: em Cabo Verde! Aliás é pouco provável que o crioulo
tivesse sido gerado no continente! Menos provável ainda, portugueses falando crioulo no
Golfo da Guiné quando ainda nem tinham avistado o rio Cacheu! A hipótese de alegado
“contacto entre os portugueses e povos do Golfo da Guiné (…) ainda antes da chegada
‘oficial’ de Portugal ao território da atual Guiné-Bissau” é um absurdo, porquanto os
portugueses aportaram à atual Guiné-Bissau (em 1446) bem antes de dobrarem o cabo das
Palmas e navegarem no Golfo da Guiné (em 1471). Estranho seria o percurso inverso, tendo
em conta a geografia peri-africana e a rota norte-sul das caravelas.

Assim sendo, convinha “descodificar”, para quem não sabe, este mistério: como é que o
crioulo foi obra dos povos do Golfo à conversa com os portugueses, “sendo depois levado
para as ilhas de Cabo Verde pelos escravos guineenses”! Como explicar um tal prodígio?

Admitindo que fosse nos Rios da Guiné, negociar não é conviver! As naus portuguesas
(como, mais tarde, os galiões espanhóis, os navios franceses, ingleses e holandeses) não se
atardavam nos portos mais do que o tempo de descarregar e embarcar mercadorias (sobretudo
os escravos ao que vinham), e toca a desfraldar velas! Assim terá sido até ao século XIX.

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António Carreira, autor de prolíficos estudos sobre a costa africana e Cabo Verde, escreveu: –
“A permanência do branco nos portos fluviais da costa africana foi durante largo tempo
precária – quando não fugaz”. Daí a ausência de “relações susceptíveis de dar lugar à
formação de uma língua”, conclui o conceituado historiador caboverdeano.

Ainda “descodificando”, o crioulo não foi “levado para as ilhas de Cabo Verde pelos
escravos guineenses”! Os escravos chegaram com as suas línguas de origem, contribuindo
estas para a emergência do crioulo. Carreira confirma o “evidente domínio das línguas
Mandinga e Fula”, do ponto de vista lexical e fonológico, mas acha que a simbiose não podia
ter-se produzido no continente. Assaz pertinente, esta reflexão: em que momento as
populações africanas e os portugueses puderam comunicar duravelmente (e não apenas para
negócios esporádicos) a ponto de adotarem uma linguagem comum? Em que lugar podia ter
ocorrido essa síntese, a não ser num espaço de coabitação permanente?

Na ilha de Santiago, ora essa! Santiago, ilha-berço de Cabo Verde, povoada essencialmente
por escravos trazidos dos Rios da Guiné. Foi nas ilhas de Santiago e Fogo que, pela primeira
vez, os dialetos africanos foram levados a comunicar – socialmente, entenda-se – com a
língua portuguesa, daí resultando um idioma intermédio: o crioulo.

Epílogo: o crioulo na Guiné e no seio da diáspora caboverdeana

Através das migrações e dos negócios (e sem dúvida da ação missionária), o crioulo seria
levado para a Casamansa e a Guiné “portuguesa”, evoluindo como uma espécie de língua
franca nas trocas comerciais. Eram conhecidos nessas lides os “lançados”, na maioria
cristãos-novos, perseguidos por contrabando de “mercadorias defesas” (cujo exclusivo era
reservado à Coroa) e por negociarem com potências estrangeiras. Não obstante as severas
penas em que incorriam tais “crimes” (traição, concorrência ilegal, e ainda “crime” de
heresia), “lançados” houve que ficaram ricos. Como Bibiana Vaz, riquíssima proprietária e
negociante de Cacheu, que em 1684-85 liderou um movimento de comerciantes contra a
Companhia do Estanco do Maranhão e Pará (luso-brasileira) pelo direito ao free trade com os
ingleses (Bibiana Vaz foi trazida para Santiago e metida na cadeia juntamente com outros co-
acusados).

Mas acredito que ninguém é dono da verdade, muito menos da verdade histórica! O mais
arguto dos investigadores é também o mais prudente e o mais humilde, sobretudo quando

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“ataca” fenómenos societais cujas raízes se perdem no tempo e nas “brumas da memória”.
Não sejamos, pois, categóricos: e se a nossa língua crioula tivesse sido gerada na Guiné e em
Cabo Verde, simultaneamente?

A verdade é que o crioulo é hoje, por assim dizer, um idioma internacional! Os


caboverdeanos, ao emigrarem, levaram-no pelo mundo, e a nossa música fez o resto – mas
isso, já é outra história…

Classificação interna

Apesar da pequenez territorial, a situação de insularidade fez com que cada uma das nove
ilhas desenvolvesse uma forma própria de falar crioulo. Cada uma dessas nove formas é
justificadamente um dialecto diferente, mas os académicos em Cabo Verde costumam chamá-
las de «variantes», que é o termo que passaremos a empregar neste artigo.

Essas variantes podem ser agrupadas em duas grandes variedades. A Sul temos a dos crioulos
de Sotavento que engloba as variantes de Brava, Fogo, Crioulo de Santiago e Maio. A Norte
temos a dos crioulos de Barlavento que engloba as variantes de Boa Vista, Sal, São
Nicolau, São Vicente e Santo Antão. Para mais pormenores, consultar os artigos referentes a
cada uma das variantes.

As autoridades linguísticas em Cabo Verde consideram o crioulo como uma língua única, e
não como línguas diferentes. Seguindo a política da Wikipédia, neste artigo não será
favorecido, nem se incidirá sobre uma variante específica. O crioulo cabo-verdiano será
tratado como uma língua única conforme tem sido a política da Wikipédia.

Como algumas formas lexicais do crioulo cabo-verdiano podem ser diferentes conforme as
variantes, por convenção, as palavras e as frases serão apresentadas num modelo lexical de
compromisso, numa espécie de «crioulo médio» de forma a poder ser apreendido por um
falante de qualquer das variedades e para não ferir suscetibilidades. Sempre que necessário
será apresentada, imediatamente depois da palavra, a transcrição fonémica (ou por vezes,
a transcrição fonética) segundo o AFI. Quando as formas lexicais forem demasiadamente
diferentes será apresentado depois da palavra (entre parêntesis) de que variante é originária a
respectiva palavra.

Em alguns casos, o modelo lexical intermédio que será apresentado pode não existir, mas será
usado por motivos de comparação linguística. Aqui vão dois exemplos:

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Para o ortografia que será usada neste artigo ver a secção Sistema de escrita.

De um ponto de vista linguístico as variantes mais importantes são as de Fogo, Santiago, São


Nicolau e Santo Antão, e qualquer estudo profundo do crioulo deve ter em conta pelo menos
estas quatro variantes. São as únicas ilhas que receberam escravos directamente do continente
africano, e são as ilhas que possuem características linguísticas mais conservadoras e mais
distintas entre si[carece de fontes].

De um ponto de vista social as variantes mais importantes são as de Santiago e São Vicente, e


qualquer estudo ligeiro do crioulo deve ter em conta pelo menos estas duas variantes. São as
variantes dos dois principais núcleos urbanos (Praia e Mindelo), são as variantes com maior
número de falantes e são as variantes que têm uma tendência glotofagista sobre as variantes
vizinhas[carece de fontes].

O crioulo de São Vicente foi divulgado através dos poemas de Sérgio Frusoni. Por seu lado, o
crioulo da Brava é conhecido através das mornas de Eugénio Tavares, o crioulo de Santo
Antão pelos contos de Luís Romano de Madeira Melo e o crioulo do Fogo pela colectânea de
contos de Elsie Clews Parsons.

Diferenças entre os crioulos:

Crioulo do Crioulo de Crioulo de Crioulo de Crioulo de


Português
Fogo Santiago São Nicolau São Vicente Santo Antão
Eles
Ês frâ-m’. Ês flâ-m’. Ês fló-m’. Ês dzê-m’. Ês dzê-m’.
disseram-
[es fɾɐ]̃ [es flɐ]̃ [es flɔm] [eʒ dzem] [eʒ dzem]
me.
Bú câ ê
Bú câ ê bunítu. bunítu. Bô câ ê b’nít’. Bô câ ê b’nít’. Bô n’ ê b’nít’. Tu não és
[bu kɐ e buˈnitu] [bu kɐ e bu [bo kɐ e bnit] [bo kɐ e bnit] [bo ne bnit] bonito.
ˈnitu]
M’ câ sabê. M’ câ sâbi. M’ câ sabê. M’ câ sabê. Mí n’ séb’.
Eu não sei.
[ŋ kɐ sɒˈbe] [ŋ kɐ ˈsɐbi] [m kɐ saˈbe] [m kɐ saˈbe] [mi n sɛb]
Cumó’ qu’ ê bú ’Módi qu’ ê Qu’ manêra Qu’ manêra Qu’ menêra qu’
nômi? bú nómi? qu’ ê bô nôm’? qu’ ê bô nôm’? ê bô nôm’? Como é o
[kuˈmɔ ke bu [ˈmɔdi ke bu [k mɐˈneɾɐ ke [k mɐˈneɾɐ ke [k meˈneɾɐ ke teu nome?
ˈnomi] ˈnɔmi] bo nom] bo nom] bo nom]
Bú pôdi Bô podê j’dó- Bô podê j’dá-
Bú podê djudâ- Bô podê j’dé-
djudâ-m’? m’? m’? Podes
m’? m’?
[bu ˈpodi ʤu [bo poˈde [bo poˈde ajudar-me?
[bu poˈde ʤuˈdɐ]̃ [bo poˈde ʒdɛm]
ˈdɐ]̃ ʒdɔm] ʒdam]
Spiâ lí! Spía li! Spiâ li! Spiá li! Spiá li!
Olha cá!
[spiˈɐ li] [spˈiɐ li] [spiˈɐ li] [ʃpiˈa li] [ʃpiˈa li]

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Ê’ cantâ.
Ê’ cánta. Êl cantâ. Êl cantá. Êl cantá. Ele/ela
[e kɒ̃ˈtɐ] [e ˈkãtɐ] [el kɐ̃ˈtɐ] [el kɐ̃ˈta] [el kãˈta] cantou.
Bú tâ cantâ.
Bú tâ cánta. Bô tâ cantâ. Bô tâ cantá. Bô tâ cantá.
Tu cantas.
[bu tɐ kɒ̃ˈtɐ] [bu tɐ ˈkãtɐ] [bo tɐ kɐ̃ˈtɐ] [bo tɐ kɐ̃ˈta] [bo tɐ kãˈta]
M’ sâ tâ
M’ stâ cantâ. cánta. M’ tâ tâ cantâ. M’ tí tâ cantá. M’ tí tâ cantá. Eu estou a
[ƞ sta kɒ̃ˈtɐ] [ƞ sɐ ta [m tɐ tɐ kɐˈ̃ tɐ] [m ti tɐ kɐˈ̃ ta] [m ti tɐ kãˈta] cantar.
ˈkãtɐ]
Screbê Scrêbi Screbê Screvê Screvê
Escrever
[skɾeˈbe] [ˈskɾebi] [skɾeˈbe] [ʃkɾeˈve] [ʃkɾeˈve]
Gossím Góssi Grinhassím Grinhassím Grinhessím
Agora
[ɡɔˈsĩ] [ˈɡɔsi] [ɡɾiɲɐˈsĩ] [ɡɾiɲɐˈsĩ] [ɡɾiɲeˈsĩ]
Pôrcu Pôrcu Pôrcu Tchúc’ Tchúc’
Porco
[ˈpoɾku] [ˈpoɾku] [ˈpoɾku] [ʧuk] [ʧuk]
Conxê Cônxi Conxê Conxê Conxê
Conhecer
[kõˈʃe] [ˈkõʃi] [kõˈʃe] [kõˈʃe] [kõˈʃe]
Dixâ Dêxa D’xâ D’xá D’xá
Deixar
[diˈʃɐ] [ˈdeʃɐ] [ʧɐ] [ʧa] [ʧa]
Dexâ-m’
Dixâ-m’ quétu! D’xó-m’ quêt’! D’xá-m’ quêt’! D’xé-m’ quêt’! Deixa-me
quétu!
[diˈʃɐ̃ ˈkɛtu] [ʧɔm ket] [ʧam ket] [ʧɛm ket] quieto!
[deˈʃɐ̃ ˈkɛtu]
Dôci Dóxi Dôç’ Dôç’ Dôç’
Doce
[ˈdosi] [ˈdɔʃi] [dos] [dos] [dos]
Papiâ Pâpia Papiâ Falá Falá
Falar
[pɒˈpjɐ] [ˈpɐpjɐ] [pɐˈpjɐ] [fɐˈla] [faˈla]
Cúrpa Cúlpa Cúlpa Cúlpa Cúlpa
Culpa
[ˈkuɾpɐ] [ˈkulpɐ] [ˈkulpɐ] [ˈkulpɐ] [ˈkulpɐ]
O vosso
Nhôs amígu Nhôs amígu B’sôt’ amígu B’sôt’ amíg’ B’sôt’ emíg’ amigo
[ɲoz ɒˈmigu] [ɲoz ɐˈmigu] [bzot ɐˈmiɡu] [bzot ɐˈmiɡ] [bzot eˈmiɡ] (O amigo de
vocês)
Scúru Sucúru Scúr’ Scúr’ Scúr’
Escuro
[ˈskuru] [suˈkuru] [skur] [ʃkur] [ʃkur]
Cárru Cáru Córr’ Córr’ Córr’
Carro
[ˈkaru] [ˈkaɾu] [kɔʀ] [kɔʀ] [kɔʀ]
Lébi Lébi Lêb’ Lêv’ Lêv’
Leve
[ˈlɛbi] [ˈlɛbi] [leb] [lev] [lev]

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Conclusão

A permanência do branco nos portos fluviais da costa africana foi durante largo tempo
precária – quando não fugaz”. Daí a ausência de “relações susceptíveis de dar lugar à
formação de uma língua”, conclui o conceituado historiador cabo-verdiano. Carreira confirma
o “evidente domínio das línguas Mandinga e Fula”, do ponto de vista lexical e fonológico,
mas acha que a simbiose não podia ter-se produzido no continente. Santiago, ilha-berço de
Cabo Verde, povoada essencialmente por escravos trazidos dos Rios da Guiné. Foi nas ilhas
de Santiago e Fogo que, pela primeira vez, os dialetos africanos foram levados a comunicar –
socialmente, entenda-se – com a língua portuguesa, daí resultando um idioma intermédio: o
crioulo.

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Referencias Bibliográficas
António, C. (1983). Formação e extinção de uma sociedade escravocrata.

A Guiné (1974). Ilhas de Cabo Verde, PAIGC, ed Afrontamento.

Atlas (1983). Civilisations africaines, ed Fernand Natthan.

Christiano, S. B. (1984). Subsídios para a História.

Frei, F. C. (1983). História da Igreja de Cabo Verde.

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