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CULTURA E LITERATURA AFRICANA E INDÍGENA

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Sumário
CULTURA E LITERATURA AFRICANA E INDÍGENA ................................................................ 1
NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................................................. 3
1. CULTURA E LITERATURA NOS ARQUÍPELAGOS LUSÓFONOS E NA GUINÉ-
BISSAU ............................................................................................................................................... 4
1.1-Cabo Verde: história, cultura e literatura. ........................................................................... 4
1.2-São Tomé e Príncipe: história, cultura e literatura. ........................................................... 8
1.3-Guiné-Bissau: história, cultura e literatura. ...................................................................... 10
2. CULTURA E LITERATURA EM ANGOLA .......................................................................... 13
2.1-Angola: a história da sua colonização .............................................................................. 14
2.2-Angola: o inicio das atividades literárias ........................................................................... 16
2.3-Angola: literatura e cultura a partir de 1950 ..................................................................... 17
2.4-Angola: literatura e cultura após a independência .......................................................... 19
3. CULTURA E LITERATURA EM MOÇAMBIQUE ............................................................... 23
3.1-Moçambique: sua história ............................................................................................................ 25
3.2-Moçambique: cultura e literatura durante o século XX e antes da libertação ............ 28
4. SITUAÇÃO CONTEMPORÂNEA DOS POVOS INDÍGENAS ............................................. 31
4.1-Diversidade linguística e cultural ....................................................................................... 31
4.2-Formas de organização social e parentesco ................................................................... 33
4.3-Economia indígena .............................................................................................................. 34
4.4-Religiões indígenas .............................................................................................................. 37
5. REFERÊNCIAS: ........................................................................................................................ 39

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em


atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em
nível superior.
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conheci-
mento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvi-
mento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a
divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de
comunicação.
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável
e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética.
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do
serviço oferecido.

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1. CULTURA E LITERATURA NOS ARQUÍPELAGOS LUSÓFONOS E
NA GUINÉ-BISSAU

1.1-Cabo Verde: história, cultura e literatura.

O arquipélago de Cabo Verde, formado por um conjunto de dez ilhas – Ilha de Santa
Antão, Ilha de São Vicente, Ilha de Santa Luzia, Ilha de São Nicolau, Ilha do Sal, Ilha da
Boa Vista, Ilha do Maio, Ilha de São Tiago, Ilha do Fogo, Ilha Brava –, em uma extensão de
4.033 quilômetros quadrados, foi descoberto pelos portugueses por volta do ano de 14603.
Na época, todas as suas ilhas estavam desabitadas.

Figura: 1
Mapa de cabo verde

Dispersos pelas ilhas, a estimativa segundo o site português de demografia e a pá-


gina oficial do governo de Cabo Verde é de que o arquipélago continha, em 2018, aproxi-
madamente 543.242 habitantes.

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Quando os europeus lá aportaram, perceberam que o clima da região favorecia a
agricultura. Por conta da exploração agrícola, iniciaram o processo de colonização das
ilhas por meio do sistema de capitanias hereditárias. Porém, se nos Açores e na Madeira
a colonização foi feita por imigrantes vindos de Portugal, nas ilhas de Cabo Verde o povo-
amento se realizou com os negros trazidos do continente africano, especialmente da
Guiné. Os africanos trazidos do continente destinavam-se especialmente às plantações
de algodão. Artesãos africanos também foram trazidos da África para ensinar aos demais
as técnicas de tecelagem. Logo, uma “indústria têxtil”, alimentada pela mão de obra afri-
cana, tornou-se capaz de se perpetuar de modo autônomo (BIRMINGHAM, 2003).
A produção têxtil que teve lugar nas ilhas de Cabo Verde era de grande importância
para a Metrópole. Segundo Birmingham (2003), Portugal tinha quase tanta falta de têxteis
como tinha de trigo. Nas ilhas foram estabelecidas plantação de algodão para tecer e tingir.
Porém, logo outro negócio concorria com a produção de algodão nas ilhas: a plantação de
cana-de-açúcar, que também teve lugar no arquipélago de São Tomé e Príncipe e depois
se estendeu ao Brasil.
Paralelamente a essa produção, nos séculos seguintes, as ilhas de Cabo Verde ocu-
param posição estratégica nas rotas de caravelas de Portugal ao Brasil e ao restante da
África. As ilhas serviam de entreposto comercial e de aprovisionamento para as naus de
passagem.
Com a entrada dos africanos nas ilhas de Cabo Verde, a mestiçagem tornou-se
comum e formou-se nas ilhas uma população de cabo-verdianos descendente de portu-
gueses e africanos. Essa miscigenação também resultou na criação de uma língua crioula
que se enraizou em Cabo Verde.
Hoje, a língua oficial desse país é o português, no entanto, paralelamente, o crioulo
cabo-verdiano é usualmente falado pela população e segue reconhecido como língua pro-
movida à oficialização do Estado, segundo informa o site do governo de Cabo Verde.
Durante os séculos de exploração colonial, a situação nas ilhas não se modificou.
No entanto, nos fins do século XIX, já é possível assistir nas ilhas a uma tímida manifesta-
ção cultural. A publicação do romance O escravo (1856), do português José Evaristo de
Almeida, habitante durante muitos anos do arquipélago, é vista por alguns como o marco
inicial da literatura de ficção de Cabo Verde.

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A instalação do prelo (imprensa) em Cabo Verde, no ano de 1842, e a criação de
um liceu na Ilha de São Nicolau em 1886, certamente contribuíram para um impulso nas
letras do país, possibilitando a formação de uma classe de letrados. No início do século XX,
alguns escritores ganham visibilidade com sua produção escrita. São eles: José Lopes,
Eugénio Tavares e Pedro Cardoso. Esse último lança ainda o jornal Manduco, primeiro
veículo aberto à colaboração em crioulo.
Porém, é com a revista Claridade, lançada em 1936, que se pode falar de uma lite-
ratura de feição cabo-verdiana. Com o lançamento desta importante revista, inicia-se o pri-
meiro movimento cultural-literário nativista da África lusófona, protagonizado por um grupo
de intelectuais cabo-verdianos, em sua maioria composto de mestiço. Entre os nomes im-
portantes desse movimento destacam-se Baltasar Lopes da Silva, Jorge Barbosa, Manuel
Lopes, entre outros.
O movimento da revista Claridade reivindicava o respeito aos valores cabo-verdia-
nos, a valorização da língua crioula e uma sociedade cabo-verdiana biológica e natural-
mente híbrida em sua formação. No campo literário, os poetas reivindicavam uma literatura
nascida do próprio húmus, com uma poesia telúrica e social de raiz e de renovação esté-
tica.
O nativismo do movimento que lançou a revista Claridade também se manifestou
nos modelos que os poetas vão seguir. Abandonando a referência literária e cultural do
colonizador português, os “claridosos” vão buscar na literatura brasileira com Manuel Ban-
deira, Jorge Amado, José Lins do Rego, entre outros, as identidades possíveis, especial-
mente no que diz respeito à cultura mestiça que Cabo Verde e Brasil apresentam e que é
resultante de um percurso histórico marcado pelo processo de colonização.
Manuel Lopes, um dos fundadores da revista Claridade, já afirmou que era neces-
sário fincar os pés na terra para escrever e pensar naquilo que os pés pisavam. Essa cons-
ciência para com a terra não dispensará um cuidado com a renovação estética. A geração
da Claridade tinha o propósito de “fincar os pés na terra” para representar a imagem mais
próxima da realidade antropológica, social e cultural crioula. Essa imagem se configura por
meio de uma ruptura literária com relação a tudo que anteriormente havia sido feito.
Alguns críticos consideram a existência de três fases na literatura cabo-verdiana.
Observe o Quadro 1 a seguir.

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FASES COMPOSIÇÃO
Geração Pré-claridosa – Primeira geração Constituída pelos nativistas.
Geração Claridosa – Segunda geração Constituída em torno da revista Claridade.
Geração Pós-Claridosa – Terceira Geração Constituída pelos escritores e poetas que
iniciaram sua produção em 1960.
Quadro:1

Em fins da década de 1950 até meados de 1960, a poesia cabo-verdiana intensificou


a associação entre a cabo-verdianidade e a negritude. Nesse tempo, as ideias do Movi-
mento da Negritude, criado na década de 1930 por Aimé Césaire (Martinica/Antilhas), Léo-
pold Sédar Senghor (Senegal) e Léon Damas (Guiana Francesa), que preconizava a valo-
rização do negro e da negritude, já haviam se disseminado também pela África de língua
portuguesa.
Nos anos seguintes, a literatura cabo-verdiana sublinhou a sua insularidade, carac-
terizada pelas imagens do mar e de um modo de ser próprio dos povos das ilhas. Além
disso, enveredou, no campo da ficção, por caminhos próprios, inspirada no realismo má-
gico. Na prosa ficcional, há de se destacar a contribuição do claridoso Baltasar Lopes, com
sua obra Chiquinho (1947), em cuja introdução o autor já manifesta o espaço que dará ao
crioulo como língua de expressão literária.
Em 1947, Claridade reaparece no cenário cabo-verdiano em forma de livro, mas a
sua periodicidade será irregular. Nessa segunda fase da revista, a colaboração é diversifi-
cada. Além de poesia e prosa ficcional (contos e noveletas), há artigos de etnografia, fol-
clore, estudos sobre crioulo etc.
Entre os anos de 1958-1966, outro importante veículo literário e cultural é o Suple-
mento cultura l. A geração que se forma em torno dessa importante publicação busca erra-
dicar de vez a influência do colonialismo. Entre os principais colaboradores do Suplemento
cultural destacam-se Gabriel Mariano, Ovídio Martins, Aguinaldo Fonseca, entre outros.
Para alguns estudiosos, como Pires Laranjeira (1995), os anos que vão de 1966 a
1982 são marcados por um universalismo na produção literária, com o aparecimento do
intimismo, do abstracionismo e do cosmopolitismo. Segundo o autor, essa universalização
da temática literária cabo-verdiana é anterior ao universalismo que se manifesta mais tarde
nas literaturas de Angola e Moçambique pós-independência.

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1.2-São Tomé e Príncipe: história, cultura e literatura.

O arquipélago de São Tomé e Príncipe, localizado no golfo da guiné, é formado por


duas ilhas principais: Ilha de São Tomé e Ilha de Príncipe (ilhas vulcânicas) e por algum
ilhéus, alguns dos quais desabitados. O arquipélago contava, em 2018, segundo a página
oficial do governo de São Tomé e Príncipe e o site português de informações demográficas,
com uma população de aproximadamente 205.734 habitantes distribuídos em uma área de
mais ou menos 1.001 quilômetros quadrados. Essas ilhas eram desabitadas quando os
portugueses lá aportaram em fins de 1470 ou início de 1471 (ENDER, 1997).
A condição favorável do solo e a chuva abundante propiciaram a introdução da plan-
tação de cana-de-açúcar no arquipélago. Para empreender essa plantação, em 1493 teve
início o povoamento do arquipélago com portugueses oriundos da Ilha da Madeira e degra-
dados vindos da Metrópole. Na “indústria” açucareira, a mão de obra foi trazida dos reinos
vizinhos da Guiné, do Benin, do Gabão e do Congo. Nesse arquipélago, a plantação da
cana-de-açúcar prosperou e o negócio com o açúcar foi estendido para outras colônias
portuguesas, especialmente para o Nordeste do Brasil (BIRMINGHAM, 2003).
Em razão da necessidade de mão de obra escrava, muitos negros do continente
foram levados às ilhas desse arquipélago. Segundo Enders (1997), por volta de 1560, São
Tomé tinha cerca de 4.000 habitantes, sendo que a metade deles era composta de escra-
vos. Em virtude da escassez de mulheres brancas nas ilhas, africanas escravizadas foram
levadas para São Tomé e Príncipe para gerarem filhos dos portugueses que lá viviam, a
fim de povoarem o território. Os filhos gerados dessa união receberam carta de alforria e
mais tarde se tornaram os forros (corruptela de alforros), um dos grupos étnicos mais re-
presentativos na região.
No entanto, a produção de cana-de-açúcar no Brasil, mais produtiva que a do arqui-
pélago africano, e as constantes revoltas dos negros nas ilhas propiciaram um decréscimo
na produção açucareira. Essa decadência da economia das ilhas acabou por transformá-
las em entrepostos do “comércio” de escravos.

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Somente no século XIX, com as pressões externas pela extinção do tráfico negreiro,
Portugal investiu em outro tipo de produção nas ilhas, incentivando nelas o cultivo do café
e do cacau.
No início do século XX, a situação político-econômica do arquipélago de São Tomé
e Príncipe não diferiu muito da que se encontrava em Cabo Verde ou na Guiné Portuguesa.
À exceção de Cabo Verde, cuja Ilha de São Nicolau possui um liceu desde o ano de 1866,
as demais colônias não têm como propiciar aos jovens uma escolarização. No entanto, o
discurso colonial valorizava a política de assimilação, cobrando da população das colônias
comportamentos europeus e o uso da língua portuguesa em detrimento do crioulo. O índice
de analfabetismo era grande nas três regiões e a pobreza grassava nas colônias, pois a
exploração das matérias-primas não as beneficiava. (ENDERS, 1997).
O arquipélago de São Tomé e Príncipe não ficou imune aos movimentos de valori-
zação da cultura negra, especialmente em meados do século XX, quando os jovens da
Casa dos Estudantes do Império divulgaram as ideias do Movimento da Negritude.
Assim como nas outras colônias de Portugal, a difusão das ideias do Movimento da
Negritude, a insatisfação dos santomenses com as péssimas condições de vida no arqui-
pélago e a repressão política da ditadura salazarista, extensiva às colônias, desencadea-
ram a formação do Movimento pela Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) que, por
vias diplomáticas, conseguiu negociar a independência do arquipélago em fins de 1974.
Mesmo em terreno adverso, uma prática jornalística e uma literatura nativista come-
çam a ganhar força na primeira metade do século XX. No final do século XIX, alguns poe-
mas dispersos são registrados nas páginas de alguns dos periódicos santomenses criados,
graças ao prelo. Entre os nomes que contribuem para esses periódicos, destacam-se os
poetas Francisco Stockler e Almada Negreiros. Alguns desses periódicos são O africano,
A voz d'África e O negro. Na literatura do início do século XX, o mais importante nome é o
de Francisco José Tenreiro.
Natural de São Tomé, o poeta Francisco José Tenreiro, filho de um administrador
português com uma africana, ganha visibilidade em Lisboa como professor universitário e
organiza em 1953, com Mário Pinto de Andrade, poeta e militante angolano, a primeira
antologia de poesia africana. O caderno da poesia negra de expressão portuguesa, publi-
cado na Metrópole e nas colônias, reuniu uma série de poemas de escritores da África de
língua portuguesa em que se observava a valorização da terra africana e do negro.

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Após a morte de Tenreiro, Alda do Espírito Santo, Maria Manuela Margarido e Tomaz
Medeiros, todos ex-estudantes da CEI de Lisboa, são alguns dos escritores que revitalizam
a literatura santomense.
A poesia de Alda do Espírito Santo tem um lugar especial entre as demais. Em sua
poesia se inscreve a afirmação identitárias santomense, pois em sua obra é notável sua
forte ligação com a história de seu país, deixando um legado inegável aos poetas santo-
menses mais jovens. Entre esses mais novos, destaca-se Conceição Lima, que também
desenha em suas obras as questões abordadas por Alda do Espírito Santo, mas vivendo
uma outra época.
A poesia de Conceição Lima adquire um viés de crítica ao contexto em que a poesia
emerge.
No contexto da valorização educacional, escritores indígenas começaram a produzir
textos e materiais didáticos bilíngues, para auxiliar no processo educacional. Além disso,
alguns escritores começaram a produzir obras literárias – de circulação mais ampla – cujo
objetivo é resgatar as narrativas míticas orais das culturas indígenas.

1.3-Guiné-Bissau: história, cultura e literatura.

O território da Guiné-Bissau, no ocidente da África, com suas fronteiras atuais tem


hoje, aproximadamente, 36.125 quilômetros quadrados e em 2018, segundo o site portu-
guês de indicação demográfica e a página oficial do governo da Guiné-Bissau, possuía
cerca de 2.011.935 habitantes. Porém, antes da chegada dos portugueses, a Guiné-Bissau
era parte de uma extensa região conhecida como Terra d a Guiné, pertencente ao Reino
de Mali. Em 1446, os portugueses aportaram na região e a nomearam Guiné Portuguesa.
Embora o litoral da região tenha sido explorado desde essa época, somente em 1630 es-
tabeleceu-se no território a Capitania Geral da Guiné Portuguesa, que visava à administra-
ção da região, embora a Guiné Portuguesa continuasse administrativamente ligada às ilhas
de Cabo Verde.

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Em 1697, devido à ameaça de ocupação da região, especialmente por parte dos
franceses e ingleses, a Coroa portuguesa fundou nessa região uma vila, Bissau, que cres-
ceu e se constituiu em um importante posto fornecedor de escravos, especialmente para o
continente americano nos séculos seguintes (ENDERS, 1997).
Porém, no século XIX, com a abolição da escravatura, a Guiné Portuguesa, sem
qualquer recurso para sobrevivência material, passou por uma crise econômica e, para sair
dela, investiu na produção de novas culturas como a da borracha e a da mancarra (amen-
doim).
As condições extremamente pobres da região propiciaram também que as popula-
ções locais se rebelassem contra o governo português, que reage enviando militares à
Guiné para sufocar as revoltas populares. Para inibir os conflitos, o governo português in-
centivou a exploração agrícola da região por parte de colonos portugueses ou de seus des-
cendentes que iniciaram a produção da mancarra.
Já no início do século XX, as forças coloniais reprimiram fortemente as rebeliões
locais e objetivavam eliminar os africanos mais combativos, impor o pagamento de impos-
tos à administração colonial e controlar os recursos econômicos no território.
Em meados do século XX, a Guiné Portuguesa amargou uma situação de extrema
pobreza, com um grande índice de analfabetos. Nessa mesma época, as ideias indepen-
dentistas se difundiram especialmente nos meios urbanos. A difusão dessas ideias e a in-
dependência de outros países da África, colonizados por outras nações europeias, estimu-
laram a fundação, em 1956, do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC), criado por Amílcar Cabral. Em suas constantes viagens a Cabo Verde, Guiné e
Portugal, onde se graduou em Agronomia, Amílcar Cabral tomou contato com os poetas,
escritores e estudantes dos outros países africanos colonizados por Portugal. Desse con-
tato, nascerá mais adiante um processo de luta dos países africanos lusófonos pela inde-
pendência.
Devido às condições socioculturais da Guiné-Bissau, a literatura guineense só flo-
resceu muito tardiamente em relação às literaturas das outras colônias portuguesas na
África. O fato de a Guiné ser basicamente uma colônia de exploração e também o fato de
ter ficado, por um longo período, administrativamente atrelada ao governo geral da colônia
de Cabo Verde foi decisivo para que não houvesse, mesmo na capital Bissau, as condições
necessárias para uma produção literária e artística.

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A imprensa também chegou muito tarde à Guiné. Os jornais oficiais só apareceram
na região por volta de 1880, sendo que nas outras colônias africanas já havia uma circula-
ção de jornais desde 1843.
Os primeiros textos produzidos em território guineense tiveram lugar na primeira me-
tade do século XX. Em 1930, é editado o primeiro jornal dirigido por um guineense. Trata-
se de O comércio da Guiné, editado por Juvenal Cabral, pai de Amílcar Cabral.
Entre os escritores e poetas, Fausto Duarte se destacou como romancista e Maria Archer
como poetisa. João Augusto Silva, ganhador de um prêmio literário no período colonial, e
Fernanda Castro são, com Fausto Duarte e Maria Archer, os nomes mais importantes da
literatura guineense que, nesse período, não se afasta muito da referência portuguesa.
Vale destacar ainda a produção de Marcelino Marques de Barros, que em sua obra
Cantos, canções e parábolas reúne um grupo de contos e canções guineenses tradicionais
e populares, valorizando a cultura da região.
Depois de 1945, surge na Guiné uma literatura de combate que denunciava a domi-
nação e a miséria a que os negros estavam submetidos em suas terras e os incitava à
libertação e à valorização da cultura negra. Entre os escritores dessa época, destacam-se
Vasco Cabral, António Baticã Ferreira e Amílcar Cabral.
Após a independência da Guiné, a literatura guineense ganha novo vigor. Nessa
época, surge um grupo de jovens poetas, cujas obras manifestam um caráter social, foca-
lizando a defesa da liberdade, a questão da identidade nacional, entre outras coisas. Agnelo
Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwarz, Francisco Conduto
de Pina e Félix Sigá são alguns dos nomes mais significativos desse período.
Na década de 1990, novos autoress e somam ao grupo atuante da Guiné-Bissau, já
independente, e uma escrita de cunho mais intimista se desenha nesse momento. Entre os
autores desse período, destacam-se Hélder Proença, Tony Tcheca, Carlos Vieira e Odete
Semedo. A utilização da língua crioula na literatura ganha força e valoriza a cultura mestiça
do arquipélago.

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2. CULTURA E LITERATURA EM ANGOLA

Este capítulo apresenta as características históricas, culturais e literárias de Angola,


país cujos limites foram estabelecidos após a chegada à região do navegador português
Diogo Cão, por volta de 1483. Com a vinda do colonizador branco, o território foi demarcado
e as diversas etnias que viviam na região estiveram sob o jugo português até a indepen-
dência do país, em 1975. Mesmo após a independência, o país adotou oficialmente a língua
portuguesa. No entanto, em Angola, existem muitos dialetos e línguas locais, entre as quais
se destacam o umbundo, falado pelo gr upo Ovimbundu (parte central do país); o quicongo,
falado pelos Bacongo, ao norte; e o chokwe-lunda e o kioko-lunda, ambos correntes no
nordeste do país. Há ainda o quimbundo, falado pelos Mbundos, Mbakas, Ndongos e Mbon-
dos, grupos aparentados que habitam o litoral de Luanda e arredores até o Rio Cuanza.
No século XX, a luta armada pela independência das colônias portuguesas na África
começou em 1961, em Angola, e depois se disseminou pela Guiné Portuguesa (atual
Guiné-Bissau) em 1963 e chegou a Moçambique em 1964. Os arquipélagos de Cabo Verde
e São Tomé e Príncipe, que juntamente com os três primeiros territórios aqui citados cons-
tituem a chamada África portuguesa, engrossaram a luta armada iniciada no continente,
enviando guerrilheiros para as regiões em conflito. Em Angola, a guerra foi mais longa e
durou exatamente 13 anos.
De todas as colônias portuguesas na África, Angola foi a que mais recebeu atenção
de Portugal. Essa atenção foi bastante perniciosa, pois do seu território muitas riquezas
foram extraídas, os povos locais foram submetidos à escravidão e à diáspora até o século
XIX, quando Portugal, por pressões externas, foi obrigado a extinguir o tráfico negreiro e a
escravidão. Em contrapartida, a colônia portuguesa mais extensa na África foi a que rece-
beu um número maior de colonos e sua capital, Luanda, acabaram por apresentar, no sé-
culo XIX, um estatuto que as outras cidades das colônias portuguesas não possuíam.
No século XX, após a conquista da independência, Angola convocou eleições gerais
e, com a vitória do candidato do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) en-
frentou, por cerca de duas décadas, uma guerra interna entre os diversos grupos que riva-
lizavam pelo comando do país.

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2.1-Angola: a história da sua colonização

O território de Angola, no sudoeste da África, possui aproximadamente 1.246.700


quilômetros quadrados e contava, em 2004, segundo a página oficial do governo do país,
com cerca de 14.767.655 habitantes. Foi a mais extensa das colônias portuguesas na África
e fazia parte de uma antiga região conhecida no século XV como Reino do Congo, quando
os portugueses lá chegaram. O nome angola é oriundo da palavra banto ngola, com a qual
se designava o governante de uma região que se localiza hoje a leste da capital Luanda.
A história da colonização de Angola começa em 1483, quando Diogo Cão, um na-
vegador a serviço da Coroa portuguesa, chegou à foz do Rio Zaire (o segundo maior rio
da África), situado no Reino do Congo, e fixou no local um padrão de pedra com o brasão
português. O Reino do Congo era uma extensa região que compreendia os atuais territó-
rios da República do Congo, Cabinda, República Democrática do Congo, o centro-sul do
Gabão e o noroeste de Angola.
No Reino do Congo havia um chefe local, denominado Mani Congo, que governava
os diversos grupos étnicos bantos da região, especialmente os Bacongo. Após o contato
com os portugueses, o monarca, Mani Congo, converteu-se ao catolicismo e a capital do
reino, Mbanza Congo, recebeu o nome de São Salvador do Congo.
O Reino do Congo era uma região com grandes mercados regionais, nos quais se
comercializavam produtos como sal, metais, tecidos e derivados de animais por meio de
escambo ou de uma moeda local – uma concha (nzimbu), coletada na região de Luanda.
Com a chegada dos portugueses, o comércio regional se intensificou. A Coroa portuguesa
visava nesse comércio ao controle das minas e ao negócio com escravos que, aliás, foi um
dos mais rentáveis para Portugal. A colônia de Angola forneceu um grande número de es-
cravos para a América durante o século XVIII.
A região apresentou também inúmeras revoltas contra a invasão portuguesa, todas
reprimidas pelo poderio bélico europeu. A primeira rebelião de que se tem notícia ocorreu
em 1491 e foi liderada por Panzo-a-Nginga, que se recusou a receber o batismo e não
aceitou as novas leis impostas pelos missionários e conquistadores portugueses. A mais
conhecida resistência ao domínio português, porém, foi a da rainha Jinga, que no século
XVII resistiu ao domínio europeu, comandando os povos da região contra os invasores,
com o auxílio também de holandeses.

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Após a perda do Brasil no início do século XIX, Angola se tornou a colônia portu-
guesa mais importante para o reino português do ponto de vista econômico. A atenção
dispensada pela Metrópole à maior colônia portuguesa na África resultou, apesar da intensa
exploração das riquezas, em importantes mudanças sociais no território, verificáveis, so-
bretudo, na capital Luanda. Nessa época, a sociedade angolana já apresentava uma elite
local, constituída por funcionários públicos, juristas, jornalistas e alguns pequenos comer-
ciantes, quase todos mestiços.

A população europeia que no último quartel do século XIX habitou a cidade era es-
sencialmente constituída, diz-nos o historiador Júlio de Castro Lopo, por africanistas
de permanência incerta no território, aventureiros, colonos forçadamente amarrados
por necessidades econômicas e contrariedades diversas à vida colonial, missionários
e clérigos, militares e degredados. Numericamente inferior – um censo de 1889 dá-
nos conta de 5.000 europeus para 23.000 africanos –, [...], o português, dado o re-
duzido número de mulheres de sua raça [...] aproximou-se intimamente do agregado
africano, com o qual se cruzou e constituiu família, determinando uma sociedade em
que o mestiço, no declinar do século, gozou duma certa relevância. (ERVEDOSA,
1979, p. 23-24)

Com a crescente expansão da indústria europeia durante o século XIX, Portugal, por
pressões externas, especialmente de países como a Inglaterra, se viu obrigado a extinguir
o tráfico negreiro em todas as colônias ultramarinas. Ainda sob pressão estrangeira, o país
estabeleceu uma data-limite, 1878, para extinguir a escravatura. No entanto, mesmo com
essas medidas, uma forma de escravatura persistia nas colônias africanas de língua portu-
guesa sob a forma de trabalho forçado.
Durante o século XIX, as colônias de Angola e São Tomé e Príncipe sustentaram a econo-
mia da Metrópole, fornecendo importantes produtos tropicais como o café e o cacau, que
se transformaram em dividendos para a Coroa portuguesa, uma vez que ela exportava
esses produtos para outros países europeus.

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2.2-Angola: o inicio das atividades literárias

A importância de Angola para Portugal resultou necessariamente em algumas mo-


dificações na vida da colônia, especialmente na capital Luanda. Assim, na segunda metade
do século XIX, Angola já possuía um pequeno grupo de africanos que frequentava as pou-
cas escolas criadas na região. Com essa medida, Portugal pretendia investir em uma “ação
civilizadora”, tornando o africano um assimilado.
A existência desse grupo de africanos escolarizados e descendentes, em geral, de
portugueses, possibilitou o incremento de atividades jornalísticas na capital de Angola. Na
segunda metade do século XIX, alguns jornais circulavam pela região, como O echo de
Angola e o Jornal de Loanda, fundado por Alfredo Troni, que já marca a transição de um
jornalismo colonial para um jornalismo que evidenciava as questões africanas.
No campo literário, destacam-se na poesia Maia Ferreira, que publica o primeiro livro
de poemas em solo angolano (Espontaneidades de minh’alma), e Joaquim Dias Cordeiro
da Matta, colaborador dos jornais da época, aponta a necessidade de se perceber a dife-
rença cultural em relação ao colonizador e valorizar a cultura africana. Assim, Cordeiro da
Matta escreve seus poemas incluindo palavras em quimbundo. Além disso, o escritor pre-
parou uma gramática da língua quimbundo e um dicionário quimbundo-português. Assis
Júnior foi outro nome importante no cenário intelectual angolano. Autor de estudos sobre o
quimbundo e o português, o advogado, escritor e jornalista Assis Júnior escreveu ainda O
segredo da morta, obra ficcional publicada primeiramente em periódicos angolanos e pos-
teriormente pelo autor.
Essas primeiras manifestações jornalísticas e literárias em Angola, reivindicando as
questões da terra, foram significativas. Porém, no quadro geral, a colônia vivia uma precária
situação de analfabetismo, por exemplo, que se prolongou até a primeira metade do século
XX. Essa situação se repetia drasticamente nas outras colônias que Portugal possuía na
África. Como destaca Enders (1997, p. 89): “Em 1950, a população africana da Guiné tem
99% de analfabetos, a de Angola 97%, a de Moçambique 98%. É verdade que, na mesma
época, a taxa de analfabetismo na Metrópole eleva-se a 44%”.
Malgrado as dificuldades, na primeira metade do século XX, Assis Júnior e Castro
Soromenho, este último moçambicano de nascimento e angolano de vivência, assinalaram

16
o arranque da ficção angolana. E com Castro Soromenho, observa-se uma profunda mu-
dança no romance angolano.
Sofrendo significativas mudanças durante a primeira metade do século XX, a sociedade
angolana, por volta dos anos 1950, apresentava uma geração de estudantes angolanos,
geralmente mestiços, que deixava o país para formalizar seus estudos nas universidades
portuguesas. Nessa época, o contato dos estudantes angolanos com estudantes portugue-
ses, brasileiros e de outros países africanos de língua portuguesa foi decisivo para o des-
pertar da consciência política e cultural dos jovens angolanos

2.3-Angola: literatura e cultura a partir de 1950

A partir de 1950, novos caminhos político-literários se desenham em Angola. Como


afirma Laura Cavalcante Padilha (2007 p. 17-18):

A segunda metade do século XX vê acirrar-se em Angola um movimento de proble-


matização e resistência cultural pelo qual se procura reafirmar a diferença da ango-
lanidade por tanto tempo marginalizada pelos aparatos ideológicos do colonizador e,
naquele momento histórico, pensada como um absoluto. Nesse movimento mais am-
plo, cabe às produções literárias o papel fundamental de difundir e sedimentar essa
busca de alteridade na cena simbólica angolana. Articula-se, então, uma fala literária
que tenta superar a fragmentação do dilacerado corpo nacional, restabelecendo-se,
assim, não uma unidade perdida, já que esta nunca existiu, mas uma espécie de
unificação em torno de ideais comuns que movessem a engrenagem da história em
outro sentido.

Animados também pelas ideias do Movimento da Negritude – que na década de


1960 se engajava “na missão pela libertação das colônias africanas” (BERND, 1988, p. 30)
– e pelos poemas dos grandes nomes do Movimento, como Aimé Césaire (Martinica), Lé-
opold Sédar Senghor (Senegal) e Léon Damas (Guiana Francesa), alguns jovens angola-
nos se organizaram e criaram o Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, e em 1951
foi publicada a revista Mensagem – a voz dos naturais de Angola, que pretendia ser o veí-
culo de uma mensagem literária e ideológica.
Nessa mesma época, publicava-se a Antologia dos novos poetas de Angola, coletâ-
nea poética na qual colaboraram Viriato da Cruz, António Jacinto, Lília da Fonseca, entre

17
outros. Essa antologia constituiu um “impulso do Movimento dos Novos Intelectuais de An-
gola, criado em 1948, que tinha por lema: ‘Vamos descobrir Angola!’” (FERREIRA, 1977, p.
18).Paralelamente às movimentações literárias de valorização de uma escrita ango-
lana, inicia-se no país um movimento político pela independência, inspirado na iniciativa
dos intelectuais cabo--verdianos e guineenses que, com o p oeta Amílcar Cabral, haviam
fundado o Partido Africano pela Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC). Nos
moldes do PAIGC, é criado por intelectuais e poetas angolanos o Movimento Popular de
Libertação de Angola (MPLA), que será decisivo, mais tarde, para a deflagração da luta
armada na colônia.
A criação desses partidos na África lusófona é inspirada, por sua vez, nas lutas pela
independência engendradas por países da África, colonizados outrora por outros países
europeus, como França e Inglaterra.
Desde a sua criação, o MPLA recebe pronta adesão do poeta Agostinho Neto, na
época preso em Lisboa, em razão de sua luta contra a ditadura salazarista. Preso de 1955
a 1957 pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) em Portugal, onde estudava
Medicina, Agostinho Neto é escolhido, no ano em que sai da prisão, o Prisioneiro Político
do Ano pela Anistia Internacional. Sua liberdade, ainda no período ditatorial, é consequên-
cia, entre outras ações, da campanha internacional que se articulou, sob a liderança de
Jean-Paul Sartre, para a anistia dos presos políticos. Após a independência do país, em 11
de novembro de 1975, Agostinho Neto foi eleito o primeiro presidente do país.
A década de 1960 foi para Angola um tempo de muitos problemas na área da criação
literária e da cultura em geral. A repressão se torna mais forte. Além do fechamento da
Casa do Estudante do Império, o governo salazarista proíbe a circulação da revista ango-
lana Mensagem e são amordaçadas as Edições Imbondeiro, que seriam responsáveis, en-
tre outras publicações, pela edição da Antologia poética angolana (1963). Além disso, es-
critores e intelectuais angolanos são perseguidos, presos e exilados.
Enquanto a ditadura salazarista em Portugal cerceava a liberdade e perseguia os
intelectuais de esquerda no seu país, nas colônias a repressão contínua e a atuação da
PIDE tornavam insustentável a articulação política e literária dos intelectuais. No início dos
anos 1960, a situação colonial se agrava em todas as colônias, abrindo caminho para a luta

18
armada, o que se efetiva no início de 1961 em Angola, quando colonos algodoeiros quei-
mam plantações de algodão no norte do país em protesto contra a política econômica por-
tuguesa para as colônias.
Em represália a essa atitude, o governo de Salazar age rapidamente, enviando sol-
dados para Angola a fim de reprimir energicamente a revolta. Após a ação do governo
português, membros do MPLA invadem a prisão de Luanda para libertar prisioneiros políti-
cos detidos pela PIDE. Estoura a Guerra Colonial, que se estende depois às colônias da
Guiné-Bissau (1963) e Moçambique (1964).
A guerra pela independência durou 13 anos em Angola e, como nas outras colônias,
resultou em muitas mortes e mutilações tanto do lado português quanto do lado africano,
sendo que as perdas do lado africano foram significativamente maiores.
A guerra nas colônias, a crise financeira portuguesa e a ausência de apoio interna-
cional aceleram a queda do regime fascista português que se dá no dia 25 de abril de 1974,
com o levante dos jovens oficiais (tenentes e capitães do Movimento das Forças Armadas).

2.4-Angola: literatura e cultura após a independência

Com a queda da ditadura portuguesa, abriu-se o caminho para a independência dos


países africanos colonizados por Portugal, o que ocorre logo a seguir. Porém, em 1975,
conquistada à independência, Angola vive um curto período de paz para, logo em seguida,
mergulhar em outra guerra. Os conflitos no país passam a evidenciar a disputa pelo poder,
travada pelas duas principais forças políticas que se formaram durante a luta pela indepen-
dência: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a
Independência Total de Angola (Unita).
Logo após o processo de independência, a ala de Agostinho Neto do MPLA ganha
às eleições, mas acaba formando com a Unita um governo de coalizão que fracassa em
seguida. Em 1976, a Unita trava uma luta com o governo de Angola, cujos integrantes eram
em sua maioria do MPLA, e tem início a guerra civil, que durou até 2002, com a morte de
Jonas Savimbi, líder da Unita. Nesse ano, comandantes das Forças Armadas de Angola e

19
guerrilheiros da Unita assinaram um acordo de paz que prometia o fim da guerra e o res-
peito aos termos de um acordo anterior, firmado em 1994, mas abandonado nos anos se-
guintes.
Após a independência de Angola, mesmo com as lutas internas no país, a literatura
alcança repercussão internacional e surgem muitas obras relacionadas à experiência da
luta armada. Escritores como Mendes de Carvalho, Manuel Pacavira, Manuel Rui, entre
outros, trazem para a literatura textos produzidos, inclusive, na prisão em Tarrafal (Cabo
Verde). Arthur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido como Pepetela, foi membro
do MPLA e tornou-se, após a vitória do seu partido, vice-ministro da educação em Angola,
consagra-se na literatura com uma obra que tematiza a guerra pela independência, mas
também se reporta à história e à cultura ancestral de Angola.
Entre os grandes romancistas e poetas angolanos representativos desse período,
destacam--se: Agostinho Neto, Luandino Vieira, Orlando Távora (António Jacinto), Mário
Pinto de Andrade, Hélder Neto, Ernesto Lara Filho, Lília da Fonseca, António Cardoso,
Costa Andrade, Arnaldo Santos e Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (Pepetela).
O primeiro romance de Pepetela foi Muana Puó (1978), mas é com Mayombe
(1980), escrito nos anos da guerra pela independência, que o autor chamou atenção da
crítica, exatamente no mesmo ano em que ganhava o Prêmio Nacional Angolano de Lite-
ratura.

20
Figura: 2

Além de Mayombe (1980) e Muana Puó (1978), escrito em 1969, Pepetela escreveu
mais um romance durante a Guerra Colonial. Trata-se de As aventuras de Ngunga, escrito
e publicado em 1973. Esse texto, porém, tinha, a princípio, uma destinação não literária.
Pepetela continuou publicando especialmente romances durante as décadas se-
guintes. Entre as suas principais obras, destacam-se: Yaka (1984), Lueji, o nascimento de
um império (1990), A geração da utopia (1992), O desejo de Kianda (1995), Parábola do
cágado velho (1996), A gloriosa família (1997), Jaime Bunda, o agente secreto (2001),
Jaime Bunda e a morte do americano (2003), Predadores (2005), O planalto e a estepe
(2009), Crônicas com fundo de guerra (2011), O tímido e as mulheres (2013), Se o passado
não tivesse asas (2016). Em 1997, foi agraciado com o Prêmio Camões, pelo conjunto de
sua obra.
O fato é que escritores e poetas angolanos, vivendo o processo de descolonização,
produziram e ainda produzem escritas que retomam as tradições culturais angolanas, as
estórias africanas predominantemente ágrafas, valorizando o processo de “griotização” na
produção narrativa.
É por meio da literatura oral africana que ocorre a transmissão de conhecimentos de
uma geração para outra e essa transmissão oral de estórias (oratura) foi, durante muitos
anos, considerada de menor valor. A valorização dessa literatura oral tem lugar ainda nas
décadas de 1950/1960, antes da independência, quando poetas angolanos tematizaram
em suas obras, entre outras coisas, as memórias ancestrais veiculadas pela literatura oral,
pelos griots.
Outro importante escritor angolano é Luandino Vieira, cuja produção literária se
torna conhecida a partir de 1957, com a revista Cultura. Nascido em Portugal, José Mateus
Vieira da Graça foi levado ainda criança para Angola com os pais colonos. Morando nos
bairros populares de Luanda, o jovem José Mateus identificou-se tanto com o lugar que, ao
iniciar-se na literatura, adotou o nome Luandino Vieira a fim de homenagear a cidade em
que viveu. O escritor, que ficou 11 anos na prisão em razão de suas atitudes anticolonialis-

21
tas, escreveu ainda no cárcere o livro de contos Luuanda (1964), em que adota uma lin-
guagem africanizada para refletir o bilinguismo da capital de Angola, onde a população fala
o português e o quimbundo.

Figura: 3

Conquistada a independência, a liberdade de expressão e os novos rumos do país


encorajavam os escritores angolanos a buscar novas formas expressivas para um conteúdo
menos panfletário. A produção literária amadurecia e cultivavam-se novas formas de ex-
pressão.
Além de Pepetela, que talvez seja o escritor angolano de maior visibilidade fora de
Angola, e Luandino Vieira, cuja obra também ultrapassou as fronteiras da nação angolana,
há outros nomes igualmente importantes na literatura angolana contemporânea, como
Paula Tavares, Manuel Rui, Ruy Duarte de Carvalho, Boaventura Cardoso, João Maimona,
Adriano Botelho de Vasconcelos, Agostinho Mendes de Carvalho (Uanhenga Xitu – nome
quimbundo do autor), José Luís Mendonça, João Melo, José Eduardo Agualusa, Ondjaki,
entre outros.

22
As décadas de 1980 e 1990 foram bastante produtivas para a ficção angolana, que
enveredou pelo caminho da reformulação da história a partir da ficção. Como produção
literária nessa linha de revisão da história, temos, por exemplo, José Eduardo Agualusa
com A conjura (1989), Henrique Abranches com Misericórdia para o Reino do Kongo
(1996) e Pepetela com A gloriosa família, o tempo dos flamengos (1997).

3. CULTURA E LITERATURA EM MOÇAMBIQUE

Neste capítulo apresentaremos as características históricas, culturais e literárias de


Moçambique, país em cujo território os portugueses aportaram em 1498 e que conquistou
a independência somente em 1975. Após o processo de independência, Moçambique ado-
tou oficialmente a língua portuguesa, embora atualmente ela seja falada por apenas 50,4%
da população do país, sendo a língua materna de apenas 10,7% dos falantes, segundo
observa o estudioso Feliciano Chimbutane, da Universidade Eduardo Mondlane (Moçam-
bique) (CHIMBUTANE, 2011).
A história de Moçambique encontra-se registrada em documentos desde o século X,
quando um viajante árabe relatou haver no território uma importante atividade comercial
entre algumas nações da região do Golfo Pérsico e os negros das terras de Sofala. As
terras de Sofala incluíam grande parte da costa norte e centro do atual Moçambique.
No final do século XV, com o avanço das naus portuguesas pela costa oriental da
África, a região foi objeto de atenção da Coroa de Portugal, em razão especialmente do
comércio do ouro já existente no território. Os portugueses edificaram na região duas forta-
lezas: uma em 1505, em Sofala, e a segunda, em 1507, na Ilha de Moçambique. Quando
os portugueses aportaram em Moçambique, os árabes já estava há muito no território e
haviam fundado entrepostos comerciais na região. Além de Sofala, referida desde o século
X, havia os entrepostos Quelimane, Angoche e a da Ilha de Moçambique (ENDERS, 1997).
Durante os cinco séculos que permaneceram no local, os portugueses encontraram
muita resistência por parte dos povos da região, essa ocupação não foi de modo algum
pacífica. No entanto, o comércio do ouro e do marfim e, mais tarde, o comércio de escravos
faziam valer para a Coroa portuguesa a empreitada.

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No século XX, porém, Moçambique travou contra Portugal, seguindo o exemplo de
Angola e da Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), uma luta pela independência. Após a
conquista da independência, Moçambique mergulhou em uma guerra interna que durou
cerca de 16 anos e arrasou o já combalido país, destruindo sua precária infraestrutura, sem
contar o número de mortos resultante de uma disputa pelo poder impetrada pelas frentes
que lutaram pela independência da nação.
Em 1992, com a assinatura do Acordo Geral de Paz entre o Governo da Frente de
Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional de Moçambique (Renamo)
– os dois principais movimentos políticos do país –, a guerra chegou ao fim, mas o saldo
desse conflito bélico foi extremamente nocivo para a jovem nação.

Para melhor conhecermos Moçambique, uma das cinco ex-colônias portuguesas na


África, será necessário primeiramente visualizar seu território.

Figura: 4
Moçambique

24
3.1-Moçambique: sua história

O território de Moçambique, na costa oriental da África, possui uma área de 799.380


quilômetros quadrados e uma população de aproximadamente 28, 8 milhões de habitantes,
distribuído entre as províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula (norte do país), Tete,
Zambézia, Manica, Sofala (centro) e Inhambane, Gaza, Maputo (sul do país).
Após a independência, em 1975, o país adotou oficialmente o português como idi-
oma, embora existam muitas línguas nacionais como o cicopi, cinyanja, cinyungwe, ci-
senga,cishona, ciyao, echuwabo, ekoti, elomwe, gitonga, maconde (ou shimakonde),
kimwani, macua (ou emak huw a ), memane, suaíli (ou kisw ahi li ), suazi (ou swazi), xi-
changa, xironga, xitswa e zulu. A realidade cultural de Moçambique é um exemplo de vari-
edade etno-linguística. Salinas Portugal (1999) fala da existência de nove grupos bantos
na região que representam 99% da população moçambicana e que, sem dúvida, têm al-
guma das línguas desse grupo como língua materna (primeira língua).
Antes da chegada dos portugueses à região de Moçambique, havia um importante
reino no local que administrava a extração de ouro e cobre das minas da região, o Reino
do Monomotapa. Esse reino ocupava a região do Zimbábue, estendendo-se até a costa de
Sofala e Moçambique. Na Ilha de Moçambique havia um xeque árabe, cujo nome era Mussa
Ben Mbiki ou Mussa A’lBik, que deu origem ao nome da Ilha (Moçambique) em que apor-
taram os portugueses e, depois, à região na costa oriental da África colonizada pelos lusos.
O Reino do Monomotapa é considerado por arqueólogos e historiadores um dos
mais interessantes exemplos da cultura africana e tornou-se conhecido para os europeus
por meio das viagens portuguesas pela costa oriental da África.
No início do século XVI, a Coroa portuguesa viu a importância da ocupação do litoral
de Moçambique como ponto estratégico de apoio para as viagens à Índia. Com o estabe-
lecimento do comércio com a Índia, a Ilha de Moçambique tornou-se um dos lugares de
ancoragem para as naus que se perdiam ou ficavam danificadas pela longa viagem impe-
trada pelos navegantes.
Muitas vezes, as naus aportavam para aguardar a monção (tempo favorável) para
seguir viagem. Em razão dessas necessidades, a Coroa portuguesa construiu uma forta-
leza e um hospital (ENDERS, 1997).

25
A Ilha de Moçambique foi a primeira cidade importante da região, antes da instituição
de Lourenço Marques como capital durante o período colonial. Para ela confluíram diferen-
tes povos, anteriormente à dominação portuguesa. É possível verificar, não só na arquite-
tura, nas manifestações artísticas locais, a influência dos vários povos que habitaram a
ilha, como também na constituição física de seus habitantes. Pela ilha passaram e estabe-
leceram-se árabes, persas, indianos e chineses, além dos portugueses. Ainda hoje se en-
contram a mesquita e o minarete árabes, um templo islâmico, além de igrejas católicas e
templos hindus. Segundo os biógrafos de Luís de Camões, o poeta português também teria
vivido por 2 anos na ilha, depois de ter deixado Goa (Índia) em seu regresso a Portugal.
Dizem os biógrafos e historiadores que, durante sua estada na ilha, Camões trabalhou em
sua epopeia, Os lusíadas (1572), refazendo alguns versos.
Após a construção da fortaleza da Ilha de Moçambique em 1507 e da de Sofala,
ocorrida dois anos antes, os portugueses iniciaram movimentos de reconhecimento do in-
terior da região, onde estabeleceram duas feitorias: Sena (1530) e Quelimane (1544). O
escopo de adentrar o território já não era simplesmente o controle do escoamento do ouro,
mas o de dominar o acesso às zonas que o produziam (ENDERS, 1997).
A essa fase de incursão para o interior com fins comerciais, que será conhecida mais
tarde como fase de ouro, seguiram-se duas fases de grande exploração mercantil: a fase
do marfim e a fase dos escravos. O marfim e os escravos saíam da região por meio das
feitorias e prazos da Coroa. Os prazos eram uma espécie de feudo com atividades comer-
ciais dirigidos por senhores locais.
Embora fossem autônomos em relação às autoridades portuguesas, os senhores
dos prazos reinavam sobre terras supostamente portuguesas e deviam à Coroa o paga-
mento de um foro. As feitorias e os prazos constituíram a forma inicial da colonização por-
tuguesa em Moçambique.
No entanto, na primeira metade do século XIX, Moçambique não é mais do que um
conjunto de feitorias isoladas e a autoridade portuguesa se restringe às aldeias onde havia
alguns poucos funcionários portugueses ou mestiços mal remunerados, militares e repre-
sentantes da administração das alfândegas que buscavam exercer o controle do comércio
na colônia, que já apresentava um déficit orçamentário significativo.
A exploração comercial continuava, mas o “comércio” negreiro já sofria restrições.
Porém, mesmo com a abolição oficial da escravatura em 1836, muitos negros da região

26
continuaram a ser levados para outras regiões. Na Ilha de Moçambique, onde desde o sé-
culo XVII havia muitos negreiros estabelecidos, esse negócio já não era mais tão lucrativo,
especialmente após a independência do Brasil.
Durante o período áureo do tráfico negreiro, os negros do Zambeze e de Moçambi-
que foram levados especialmente para as ilhas Mascarenhas e Madagáscar, para a região
do Golfo Pérsico, para o Brasil e para Cuba. Os negros capturados em Moçambique eram
principalmente da etnia banto e os que vieram para o Brasil desembarcaram, em sua mai-
oria, em Pernambuco, Minas Gerais e no Rio de Janeiro (ENDERS, 1997).
A exploração do território transcorreu continuamente, porém, foi somente em 1885,
quando as principais potências europeias, na Conferência de Berlim, decidiram partilhar a
África, que os portugueses, desistindo de seu intento de tomar posse do território interme-
diário entre Moçambique e Angola a fim de estabelecer uma comunicação por terra entre
as duas colônias, resolveram ocupar militarmente o território moçambicano e instituir na
região uma administração colonial que defendesse suas fronteiras ante a ameaça das in-
tenções de ocupação dos outros países europeus.
Em razão da incapacidade de ocupar completamente o território, Portugal arrendou
sua soberania sobre vastas extensões territoriais, cedendo-as a grandes companhias.
A Companhia de Moçambique e a Companhia de Niassa, as duas maiores em Mo-
çambique, dedicaram-se a uma economia baseada em plantações no norte do país e no
tráfico de mão de obra para países vizinhos. As províncias de Inhambane, Gaza e Maputo
(parte sul de Moçambique) ficaram sob a administração direta de Portugal e a economia da
região se pautou na exportação de mão de obra para as minas da África do Sul e na insti-
tuição do transporte ferro-portuário pelo porto de Lourenço Marques (atual Maputo).
Mesmo com todas essas dificuldades há, no século XIX, em Moçambique, uma im-
prensa incipiente e ligada às questões coloniais. Em 1857, circula o periódico Boletim oficial
do governo geral da província de Moçambique, convertido praticamente um século depois
(1951) no Boletim oficial da colônia de Moçambique.
Outras publicações circulam durante o século XIX, como O progresso (1877-1881),
O gato (1880), O vigilante (1882), Clamor africano (1892).

27
3.2-Moçambique: cultura e literatura durante o século XX e antes da liberta-
ção

As publicações de maior relevância só ocorreram em Moçambique no século XX.


Em 1909, os irmãos José e João Albasini fundam O africano e em 1918 fundam ainda
O brado africano. Esse último, na década de 1950, adquire grande importância cultural por
reunir em seus suplementos literários as contribuições de Virgílio Lemos, Fonseca Amaral,
Rui Noronha, Noêmia de Sousa, entre outros.
Assim, algumas mudanças do ponto de vista da cultura e da estrutura social se fa-
zem sentir apenas no início do século XX, quando Moçambique deixa de ser somente uma
colônia de exploração para constituir também, pelo menos no centro e no sul, uma colônia
de povoamento. A colônia e especialmente a sua capital, Lourenço Marques, ou a Pérola
do Índico, como ficou conhecida entre os portugueses a partir dessa época, modificava-se
sensivelmente. O norte do país, zona rural, ia se diferenciando cada vez mais do sul (zona
mais urbanizada).
Desse modo, é somente no século XX, diferentemente do que acontecera em An-
gola, que se pode falar de uma literatura com características moçambicanas, de uma mo-
çambicanidade. Como sublinha Francisco Salinas Portugal (1999), segundo todos os críti-
cos, João Albasini com a obra O livro da dor (1925), será o precursor de uma moçambica-
nidade literária na poesia. Da mesma maneira que, na prosa, Godido e outros contos, de
João Dias, antecipa uma literatura própria de Moçambique. Rui de Noronha é outro poeta
da primeira metade do século XX que apresentou, segundo Ferreira (1977), certa sensibi-
lidade aos valores africanos, ao sofrimento e à injustiça sofrida p elos negros em sua labuta
cotidiana.
Após a Segunda Guerra Mundial, sem dúvida já se pode falar de um período de
formação da literatura moçambicana. Para Pires Laranjeira (1995), a poetisa Noêmia de
Sousa é um importante nome desse período de formação. Com o seu Sangue negro, “ca-
derno policopiado que circulou, numa espécie de viagem iniciática e clandestina de Mo-
çambique a Portugal, passando por Angola” (PORTUGAL, 1999, p. 92), Noêmia de Sousa
fala da mulher negra para além da denúncia, fugindo dos estereótipos da cultura/literatura
colonial x cultura/literatura local, além de usar estilemas oralizantes, tão importantes na
tradição cultural dos países africanos.

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Além de temas que tratavam da condição do negro e da negritude, a literatura pro-
duzida em Moçambique incorporava os aspectos da tradição cultural africana, como a ora-
tura8, que resgata a dimensão “griótica” do texto africano.
Segundo Francisco Salinas Portugal (1999, p. 35), “nas literaturas africanas (não só
as de língua portuguesa) encontramos um uso extraordinário dos recursos da oralidade
como técnica singularizante destas literaturas”.
Outros escritores importantes dessa época são: Fonseca Amaral, Orlando Mendes,
Virgílio de Lemos, Rui Guerra, Alberto Lacerda, Reinaldo Ferreira, Domingos de Azevedo,
Augusto dos Santos Abranches, Cordeiro de Brito, Rui Knopfli e José Craveirinha, este
último, sem dúvida, o poeta nacional por excelência.
A década de 1950 foi decisiva para todas as colônias portuguesas na África. Foi um
período em que a condição dos povos africanos alcançou dimensão mundial. Muitas colô-
nias iniciaram seu processo de independência, conquistando-a seguidamente, em especial
as colônias francesas e inglesas. As lutas dos negros norte-americanos contra o racismo
nos Estados Unidos da América ganharam o mundo e escritores negros, especialmente
poetas, divulgam em suas obras a cultura negra. Além disso, há uma ampla difusão das
ideias do Movimento da Negritude, criado em fins da década de 1930 por Aimé Césaire,
Leopold Senghor e Léon Damas. Na esteira dessa efervescência política e cultural da dé-
cada de 1950, as movimentações pela independência ganham força na chamada África
negra.
Somando-se a isso, a situação nas colônias se agrava diante da política ditatorial de
Salazar. O exemplo do que acontecera em Angola, Salazar institui o trabalho forçado em
Moçambique, com a Introdução das colheitas mercantis como o algodão e o arroz, obri-
gando todos os homens acima de 15 anos a trabalhar nas plantações públicas ou de pro-
priedade dos grandes colonialistas durante a metade do ano.
Em 1960, em Moçambique, mais de 800 mil pessoas eram submetidas ao regime de
trabalho forçado nas obras públicas e nas plantações de algodão. As manifestações contra
o regime salazarista cresceram nas colônias, mas foram duramente reprimidas. Abria-se o
espaço para a criação de movimentos nacionalistas, impulsionados pelo apoio dos países
vizinhos.

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Em meados de 1950, organizou-se o PAIGC (Partido Africano pela Independência
da Guiné e de Cabo Verde), liderado por Amílcar Cabra l, em Cabo Verde, e o MPLA (Mo-
vimento Popular pela Libertação de Angola), com o apoio do poeta angolano Agostinho
Neto, preso pelo regime salazarista na Ilha de Tarrafal (Açores). Muitos dos membros des-
ses movimentos são poetas e intelectuais africanos que participaram ativamente do pro-
cesso de luta armada que teve início em 1961 em Angola e se disseminou também pelas
colônias da Guiné Portuguesa e por Moçambique.
Em 1962, quando a Guerra Colonial já havia iniciado em Angola, foi criada em Mo-
çambique a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), dirigida por Eduardo Chivambo
Mondlane. Dois anos mais tarde, Moçambique aderiu à luta armada contra Portugal e essa
guerra se estendeu até 1974, quando em Portugal a Revolução dos Cravos derrubou o
regime de Antônio de Oliveira Salazar/Marcello Caetano que havia dirigido com mão de
ferro não só o país, mas todas as “províncias do ultramar”.
Eduardo Mondlane acabou sendo assassinado em 1969, e Samora Machel, que o
sucedeu na presidência da Frelimo, proclamou a independência de Moçambique a 25 de
junho de 1975, após dez anos de guerra.
Do início da guerra de libertação até a independência, a literatura moçambicana am-
pliava sua existência. Apareceram os prosistas, que foram uma espécie de divisor de águas
na literatura do país. Os poetas e escritores da geração anterior continuaram a produzir,
mas a ficção ganhou força com autores como Luís Bernardo Honwana, Orlando Mendes e,
em 1971, são publicados os cadernos Caliban (1971-1972) que só tiveram três números e
foram dirigidos por Garabato Dias (pseudônimo de Antônio Quadros) e Rui Knopfli. Nesses
números colaboraram diferentes autores moçambicanos e portugueses como Eugénio Lis-
boa, Jorge de Sena, Jorge Viegas, Glória de Sant’Ana, Craveirinha, Orlando Mendes, Rui
Nogar, Herberto Hélder, Fernando Assis Pacheco.
Nesses cadernos já se encontram uma vocação cosmopolita e uma complexidade
na abordagem das relações sociais em Moçambique.

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4. SITUAÇÃO CONTEMPORÂNEA DOS POVOS INDÍGENAS

O objetivo deste capítulo é apresentar a heterogeneidade das formas e condições


de vida desses povos, a riqueza de suas práticas culturais e de suas vinculações com o
território e o meio ambiente, compreendendo o valor que elas têm e sua contribuição à
diversidade sociocultural de nosso país.
É importante destacar que vamos desenvolver um panorama geral das condições
atuais de vida dos povos indígenas brasileiros. Mas deve-se ter claro que cada grupo ou
etnia apresenta diferenças significativas em relação a outros grupos indígenas. O índio ge-
nérico que os livros didáticos de antigamente apresentavam não existe. Portanto, compor
um quadro geral se apresenta como um desafio diante da diversidade de culturas, línguas,
formas de organização social, sistemas econômicos, cosmologias e rituais que os grupos
indígenas expressam.
Também cabe chamar a atenção para o fato de que os povos indígenas contempo-
râneos são muito diferentes daqueles que os portugueses conheceram na sua chegada.
Não apenas no tamanho populacional (os estudos históricos e demográficos estimam que
a população autóctone eram de entre 1 a 8 milhões de pessoas em 1500), mas nas formas
de organização social e visões de mundo houve importantes mudanças, muitas delas de-
correntes da violência física e simbólica impostas pelos colonizadores.
Os povos indígenas, como qualquer grupo humano, são sociedades dinâmicas, que
se transformam, intercambiam e incorporam objetos e práticas de outras sociedades.
Porém, mantêm e atualizam importantes vínculos ancestrais com suas tradições e
território.

4.1-Diversidade linguística e cultural

Existe uma enorme diversidade cultural entre os povos indígenas do Brasil, ex-
pressa, entre outras formas, nas artes, na música, na tecnologia, na medicina, nos conhe-
cimentos, nas tradições orais e nos rituais. Essa diversidade é produto das formas particu-
lares como cada povo foi se relacionando com o território com o meio ambiente e com os

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demais grupos, conforme suas crenças e visões de mundo. Também são significativos os
processos de contato com agentes e agências do Estado e da sociedade nacional, que
influenciaram nas formas como hoje os indígenas assumem e mostram suas diferenças
culturais.
As línguas expressam também essa rica diversidade, porque elas representam mo-
dos distintos de classificar e compreender o mundo e de expressar conhecimentos muito
valiosos. São transmitidas de geração em geração por meio da tradição oral. Apesar de
muitas terem sido extintas, ao longo dos anos da colonização, ainda se falam em torno de
180 línguas nativas.
Algumas delas são faladas por mais de 20 mil pessoas (é o caso das línguas guarani,
tikuna, terena, macuxi e kaingang). Outras são consideradas em risco de extinção pelo
número reduzido de falantes. Certos povos já perderam suas línguas e falam as de outros
povos ou falam o português como língua materna. Alguns deles estão levando a cabo um
processo de resgate de suas línguas, com o apoio de organizações não governamentais e
de especialistas vinculados à academia. São realizadas, para isso, pesquisas e estudos
com os falantes mais idosos ou se recorre a estudos linguísticos e antropológicos do pas-
sado.
Outras línguas indígenas permanecem vitais e ativas e são amplamente utilizadas
não apenas no âmbito doméstico, mas crescentemente no espaço escolar, público e até
nas cidades. Em alguns municípios, como em São Gabriel da Cachoeira, no estado do
Amazonas, têm sido reconhecidas, junto com o português como oficiais (as línguas baniwa,
nheengatu e tukano).
Os linguistas classificam as línguas indígenas em troncos, famílias, línguas e diale-
tos: há dois grandes troncos (Tupi e Macro-Jê) e 19 famílias linguísticas que não apresen-
tam graus de semelhança suficientes para poderem ser agrupadas nesses troncos. Há,
também, mais de dez “línguas isoladas”, chamadas assim por não se revelarem parecidas
com nenhuma outra língua conhecida (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2018).
Sugere-se consultar o site do Instituto Socioambiental para conhecer qual a classifi-
cação vigente e reconhecida pelos linguistas brasileiros nos dias de hoje.

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4.2-Formas de organização social e parentesco

Cada povo tem uma forma própria de organizar suas relações sociais, políticas e de
parentesco. As relações de parentesco são a base da estrutura social dos povos indígenas.
Em geral, constituem-se com base na família extensa, que é uma unidade social articulada
em torno de um patriarca ou de uma matriarca por meio de relações de parentesco con-
sanguíneas e de afinidade política ou econômica com outros grupos aliados. Uma família
indígena extensa geralmente reúne a família do patriarca, as famílias dos filhos, genros,
noras, cunhados e outras famílias afins, que se filiam à grande família por interesses espe-
cíficos (LUCIANO, 2006).
Também são significativas as relações de aliança econômica e política que cada
povo ou grupo familiar estabelece com outros. As alianças se estabelecem por meio de
interesses comuns que, em geral, vinculam-se ao compartilhamento de espaços territoriais,
à troca comercial e ao casamento. Os grupos de parentesco e de aliados costumam se
reunir tanto para a produção de certos bens e empreendimentos quanto para a distribuição
desses bens para rituais e festas.
Alguns povos indígenas vivem em grandes malocas comunitárias, em casas sepa-
radas e dispersas ao longo dos rios e das florestas. Outros têm se organizado em gran-
des aldeias, com casas contíguas e nas que vêm se operando um processo de urbaniza-
ção. Também há os que vivem na cidade, mas isso não significa que tenham perdido vín-
culos com as suas comunidades de origem.
Existem papéis de liderança que são chamados tradicionais porque seguem as con-
dições e regras herdadas dos seus pais ou ancestrais e aceitas pelo grupo. Sua função é
aconselhar, organizar e articular os membros de sua aldeia ou grupo e também representá-
los diante de outros povos. Em alguns casos, essa figura de liderança política coincide com
a figura de liderança religiosa (ser cacique e xamã ao mesmo tempo). Em outros casos,
trata-se de funções separadas. Também há as novas lideranças, que são novos papéis
surgidos por meio do contato com o Estado, principalmente com o órgão indigenista: capi-
tães, professores indígenas, agentes indígenas de saúde, dirigentes de organizações indí-
genas, entre outros.

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Eles funcionam como intermediários e interlocutores com a sociedade não indígena
e adquiriram seus cargos por formas e critérios de escolha diferentes dos das lideranças
tradicionais, como o de ter educação escolar e falar bem o português. As lideranças tradi-
cionais e as “novas lideranças” coexistem no espaço das aldeias e tentam coordenar suas
ações e representações de maneira conjunta (LUCIANO, 2006).
Em geral, os caciques – diferentemente do uso do poder nas chamadas sociedades
ocidentais – carecem de um poder autoritário e de uma estrutura repressiva. O chefe indí-
gena adquire seu poder por prestígio, capacidade de aconselhamento e posse de determi-
nadas virtudes valorizadas pelo grupo. Mas seu poder vai se circunscrever a determinadas
esferas ou circunstâncias. Não tem poder soberano sobre o grupo e as decisões que ele
tome deverão ser resultado de um consenso coletivo. É comum hoje as deliberações serem
realizadas em assembleias comunitárias.
De acordo com a posição que se tenha no grupo (em relação à idade, gênero, gera-
ção), serão outorgadas as tarefas, as funções e as responsabilidades aos indivíduos.
Existem papéis especializados como os pajés ou xamãs, responsáveis pela segu-
rança espiritual e pela cura dos membros de seu grupo.
Certos povos indígenas tinham papéis especializados de guerreiros, de caçadores
e pescadores, de contadores de histórias e cantores, entre outros. Alguns deles continuam
a existir e outros têm se ressignificado.

4.3-Economia indígena

Os índios que residem dentro das terras indígenas vivem dos recursos oferecidos
pela natureza, da pesca, da caça, da agricultura e da coleta de frutos silvestres. Nelas
encontra-se uma diversidade de ecossistemas – matas de várzea, matas de igapó, savanas
de terra firme, florestas de terra firme, serrado, Mata Atlântica etc. Cada um desses ecos-
sistemas enseja aos índios uma forma particular de manejo, de modo a otimizar a obtenção
dos recursos que são necessários ao seu bem-estar.
O território é a base da vida dos povos indígenas, não apenas por ser o meio onde
se encontram os recursos naturais que lhes garantirão sua subsistência econômica, mas

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também por ele estar vinculado a seres, espíritos, valores e conhecimentos de funda-
mental relevância para sua reprodução cultural.
O território representa o vínculo com a ancestralidade, com os antepassados, com
os mitos de origem e tem uma significação que transcende o sentido capitalista de entender
e de se apropriar desse espaço.
Os povos indígenas brasileiros classificam e entendem a relação entre os humanos
e os seres vivos e não vivos de uma forma diferenciada dos não indígenas. Apesar de existir
diferenças muito significativas na visão de mundo entre as etnias, existe uma perspectiva
comum de considerar que todos os seres vivos e não vivos, reais ou imateriais possuem
suas dimensões espirituais. Nos mitos, fala-se que existem espíritos protetores ou guardi-
ões. Assim, por exemplo, quando um animal é caçado sem respeito a regras ou tabus vin-
culados à sua captura, o espírito protetor desse animal reagirá vingando tal violação, pro-
vocando doença ou morte da pessoa que o caçou.
Em geral, a origem das doenças se explica como resultado de relações de desequi-
líbrio com a natureza (LUCIANO, 2006, p. 190).
As condições territoriais serão determinantes para as economias e formas de vida
praticadas. Assim, por exemplo, os que vivem em terras mais extensas e abundantes em
recursos naturais têm a possibilidade de continuar praticando valores importantes para a
organização social de muitos povos indígenas, como a reciprocidade e a generosidade na
distribuição de alimentos, principalmente em ocasiões de celebração. Já os que vivem em
terras reduzidas e com escassos recursos naturais estão expostos a conflitos maiores e a
não poder praticar rituais ou festas que requerem abundância de alimentos. Contudo, isso
não significa necessariamente que abandonem essas práticas. Há muita diversidade nas
respostas e estratégias que os povos vêm construindo para lidar com a problemática de
escassos recursos e terras.
A economia dos índios urbanos é diferente da dos índios aldeados. Não dependem
das condições do território para sobreviver e sim do mercado de trabalho e da assistência
social. Contudo, em muitos casos não existe uma fronteira rígida entre essas formas de
economia e, crescentemente, os que vivem em terras indígenas dependem do mercado e
comerciam os produtos de sua roça por objetos manufaturados, além de alguns terem tra-
balho assalariado e, ao contrário, alguns indígenas que vivem na cidade conservam roças
na aldeia e se deslocam para cuidar delas nos períodos necessários do ano.

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Figura: 5
Indígena carregando bananas para comercializar na cidade de Tabatinga, Amazonas.

Nas universidades, cada vez mais se criam grupos, núcleos e laboratórios de pes-
quisa integrados por especialistas de diversas áreas que estudam as práticas socioeconô-
micas dos povos indígenas para aprender novos conhecimentos e técnicas de sustentabi-
lidade e manejo ambiental, defendendo a perspectiva de que diante do dito desenvolvi-
mento, que exaure os recursos naturais, os povos indígenas têm muito a ensinar sobre um
bem viver, em harmonia com a natureza.
Assim, contra a ideia de senso comum de que conhecer as culturas indígenas é
importante para conhecer as raízes ou o passado do povo brasileiro, as pesquisas atuais
mostram que elas têm muito a contribuir para a construção de respostas para o futuro.

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4.4-Religiões indígenas

Figura: 6

Os modos de vida indígenas seguem princípios e orientações cosmológicas e an-


cestrais fortemente marcados pelos mitos. Há princípios culturais cruciais para a existência
étnica que não podem ser rompidos, uma vez que possibilitam equilíbrio e bem-estar. Rom-
per com esses princípios e valores poderá significar a desestruturação da ordem social
indígena (LUCIANO, 2006).
Como Lopes da Silva (1995) chama a atenção, os mitos se articulam à vida social,
aos rituais, à história, à filosofia própria do grupo e expressam modos peculiares de conce-
ber a pessoa humana, o tempo, o espaço e o cosmos. Na vida cotidiana, as concepções
cosmológicas orientam, dão sentido, permitem interpretar acontecimentos e ponderar deci-
sões. Elas se expressam pela linguagem simbólica dos rituais – música, ornamentos cor-
porais, entre outros –, permitem o contato com outras dimensões cósmicas, com momentos
outros do mundo e do processo da vida e da morte.
Os mitos são parte da tradição de um povo, no entanto a tradição é continuamente
recriada e as experiências passadas são tornadas referências vivas para o presente e para
o futuro. Os mitos mantêm com a história uma relação de intercâmbio (SAHLINS, 1989).
Para Sztutman (2008), os mitos contam como as coisas chegaram a ser o que são.
Contam como as divindades, os homens, os animais e as plantass e diferenciaram. Os
rituais, por sua vez, fazem o caminho inverso dos mitos. Eles contam e recriam o mito,

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promovendo uma espécie de retorno a um tempo de indiferenciação geral em que divinda-
des, homens, animais e plantas se comunicavam entre si.
Sabe-se hoje (e isto é tema atual de inúmeras pesquisas) que as culturas humanas desen-
volvem variadas lógicas históricas, maneiras de pensar, relacionar-se e viver os processos
históricos. Também existem diversas interpretações da alteridade e das formas de se rela-
cionar com os brancos e de entender o processo de contato com eles. Assim, alguns povos
indígenas têm aderido a religiões cristãs de base ocidental, sobretudo católica e evangélica.
Os motivos são complexos e merecem pesquisas aprofundadas.
Alguns casos mostram a influência de certos agentes que os contataram com fins de
catequese, sendo valorizados por suas características e/ou atuação. Também está em jogo
o fato de a “conversão” ter possibilitado o acesso a bens materiais e simbólicos valorizados.
A presença de missões tem suscitado muita controvérsia e oposição, tendo em conta
os processos de mudança e perda cultural que algumas tentam promover. Outros estudio-
sos relativizam o poder que têm as religiões de origem ocidental na transformação dos
modos de vida dos povos indígenas e assinalam que, ao contrário, opera-se uma acomo-
dação ou apropriação de ideias, símbolos e valores que elas veiculam segundo as lógicas
indígenas.
Também é importante considerar a existência de um segmento de indígenas que se
identifica como cristão e que defende a possibilidade de ter simultaneamente essa identi-
dade e valorizar sua cultura.
De fato, algumas lideranças importantes do movimento indígena contemporâneo re-
ceberam durante sua infância e juventude uma educação missionária, mas se apropriaram
criticamente de algumas ferramentas úteis que essa formação lhes proporcionou, como o
domínio do português e da escrita, utilizando-as mais tarde em prol de suas demandas e
processos de luta.

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5. REFERÊNCIAS:

BEND, Zilá. Introdução á literatura negra. São Paulo: Brasiliense, 1988.


BIRMINGHAM, David, Portugal e África. Trad. De Arlindo Barbeitos. Lisboa: Veja
Editora, 2003. (Coleção Documenta Histórica,28).
CHIMBUTANE, Feliciano. Rethinking bilingual Education in postcolonial contexto.
Bristol: Multilingual Matters, 2011.
ENDERS, Armelle, História da África lusófona. Trad. De Mário Matos Lemos. Lisboa:
Editorial Inquérito, 1997.
ERVEDOSA, Carlos. Roteiro da literatura angolana. 2 ed. Lisboa: Edições 70, 1979.
FERREIRA, Manuel, Literaturas africanas de expressão portuguesa II. Lisboa: bibli-
oteca Breve, 1977. (série Literatura, 7).
LOPES DA SILVA, Aracy; AGRUPIONI, Luís Donisete Benzi. A temática indígena na
escola: novos subsídios para professores de 1° e 2° graus. Brasília, DF: MEC; Mari;
UNESCO, 1995.
LUCIANO, Gerson dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os
povos no Brasil de hoje. Brasília; MEC; Museu Nacional, 2006.
PORTUGAL, Francisco Salinas. Entre Próspero e Caliban: literaturas africanas de
língua portuguesa. Santiago de Compostela: Laiovento, 1999.
SAHLINS, Marshall, Ilha de história. São Paulo: Cultrix, 1989.

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