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ESTÁGIO TECNO-CIENTÍFICO.

RELATÓRIO DE ESTÁGIO TECNO-CIENTÍFICO DO ESTAGIÁRIO


AMILTON DE JESUS MONTEIRO
Tema. O SURGIMENTO E O PROCESSO DE EVOLUÇÃO DA LITERATURA
CABOVERDIANA

I. CONTEXTO HISTÓRICO DA DESCOBERTA DE CABO VERE

Localizado na costa da África Ocidental, Cabo Verde é um arquipélago constituído por


nove ilhas habitadas (Brava, Fogo, Santiago, sendo a primeira ilha a ser habitada em
1462, Maio, Boa vista, Sal, São Nicolau, Santo Antão) e uma desabitada (Ilha de Santa
Luzia) e por alguns ilhéus.

Cabo verde foi descoberto pela frota portuguesa, devido a explanação marítima
europeia, em 1460, por navegadores italianos e portugueses1, a saber; Antoni de Noli,
Diogo Gomes e Diogo Afonso, ao serviço do Infante D. Henrique, O Navegador. No
entanto

Perante a hipótese colocada por alguns investigadores de uma


anterior ocupação humana, muito embora não se tenha
encontrado vestígios culturais ou quaisquer outras
manifestações que atestem a presença humana anterior à
chegada dos portugueses, nada permite concluir que a uma ou
outra ilha não tivessem ido, por motivos ainda não esclarecidos,
povos africanos da orla marítima próxima (CARREIRA, 1983;
França, 1992).

Por esse motivo Cabo verde foi colónia portuguesa durante 500 anos juntos com alguns
outros países africanos, como por exemplo Angola e Guiné-Bissau. Cabo verde, durante
a colonização/escravização por parte dos colonos portugueses, serviu de “Terra de
experimentação” 2, não só a nível da agricultura mas também a nível social.
1
Há outras teses que defendem que não foram os portugueses os primeiros a descobrir as ilhas de Cabo
Verde.
2
Cabo Verde serviu de “Terra de experimentação” devido à sua posição estratégica-geográfica (um
exemplo bem prático, Cabo Verde servia de rota entre Europa, África e Brasil). Devido à seca eram
testadas plantas de diferentes espécies que melhor se adaptassem ao clima, uma das principais é a “cana
de açúcar”. Entretanto, a nível demográfico, como não era um país habitado eram trazidos africanos
escravos e portugueses para o processo de habitação e desenvolvimento da sociedade. Não como Cabo
Verde alguns países africanos já tinham uma sociedade formada; cultura, educação, tradição, uma
Com várias tentativas, o povoamento das ilhas inicia no ano 1462 e a ilha de Santiago
receber os seus primeiros habitantes.

Em 1466, o rei de Portugal, após quatro anos de tentativas


falhadas para povoar Santiago através de distribuição de terras
em sesmaria a casais portugueses, doa ao donatário (Infante D.
Fernando) e aqueles que se aventurassem a residir na ilha,
tornando-se seus vizinhos, facilidades fiscais e outros
privilégios, incentivando, assim, a vinda de reinóis capacitados
a investir na armação de navios para o comércio com a Costa da
Guiné. (CABRAL, 1)

Devido ao seu clima o país enfrenta secas prolongadas e outras crises ambientais e
socioeconômicas. Esse é um dos fatores que dificultaram, no início da época colonial, o
povoamento das ilhas.

Cabo verde apresentou-se, desde sempre, como um caso à parte


me relação às outras colónias portuguesas, decorrente, quer de
fatores estruturais (condições geológicas e climatéricas), quer
de fatores conjunturais (condições demográficas, políticas e
econômicas) (FERREIRA,15).

Com o desvio da rota de escravos de Cabo Verde e com a


transformação de Cacheu, (no lugar da Cidade Velha), no
principal depósito português de mercadorias africanas nesta
zona do Atlântico, os ― “homens brancos honrados e
poderosos” – que compõem a primeira elite cabo-verdiana – já
não têm razões para residirem nesta ilha longínqua, sem
nenhuma riqueza natural e com um clima doentio. Os reinóis
deixam de ter vantagens em se tornarem vizinhos de Santiago e
por isso é cada vez menor a contribuição europeia na economia
da ilha e na sua estrutura social (CABRAL, 2).

Esses problemas Cabo Verde ainda enfrenta.

Cabo Verde lutou pela sua independência juntamente com outros países africanos que
eram colónias portuguesas, entre os quais destaco Angola e Guiné-Bissau,
principalmente Guiné-Bissau por ter fundado o primeiro partido político com Cabo
Verde, o PAIGC (Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde). Não
atendendo ao pedido de Amilcar Cabral foi necessário a luta armada para que o país

sociedade desenvolvida. Daí, feitos escravos pelos portugueses eram trazidos para Cabo Verde.
Entretanto, vinham também os ingleses, os franceses, entre outros povos. Então temos uma fusão (um
cruzamento entre os povos) de Europeus livres e africanos escravos que resultou na chamada
“mestiçagem” ou cruzamento entre as raças.
conseguisse a sua independência. Cabo verde conquista-a em 5 de julho de 1975 3. Nessa
época o país inicia com o “governo de transição”. Afasta-se de Guiné e principia o seu
próprio regime e constituição, torando a República de Cabo Verde. Em 1990 Cabo
Verde deixa de ser unipartidário, apenas o PAICV, e para ser pluripartidário. Em 1991,
na mesma data da sua criação, MPD (Movimento para a Democracia) ganha as eleições
legislativas. O então «Estado procurou subsistir através do estabelecimento de relações
de ajuda e cooperação económica internacional com diversos países ocidentais
(nomeadamente Portugal, os Estados Unidos, a Holanda, os Países Escandinavos, entre
outros), a par da criação de medidas de combate ao subdesenvolvimento» (ibidem,15).

Cabo Verde conta com aproximadamente 500 habitantes4 distribuídos pelas nove ilhas
sendo que a maioria da população se concentra nas ilhas de Santiago e S. Vicente.

II. GENESE DUMA SOCIEDADE MESTIÇA

III. A FORMAÇÃO DA LÍNGUA CABO-VERDIANA, O CRIOULO

Ao falar da formação da língua crioula de Cabo Verde como conhecemos hoje é


“indispensável (...) ter em conta as características endógenas do arquipélago de Cabo
Verde, tais como: a geografia, o clima e o território, permitindo que, no universo dos
países colonizados pelo Império Português, a Nação se apresentasse como única e
singular, e a identidade nacional se estruturasse em torna de várias subestruturais como:
a língua, a música, a gastronomia, a literatura entre outras” (MADEIRA, 2015: 77).

O crioulo falado pelos caboverdianos sofreu várias transformações até se aperfeiçoar no


crioulo que atualmente os caboverdianos falam. Sendo fruto de mestiçagem “o crioulo
3
Em 19 de Setembro de 1956, os combatentes africanos, Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral,
Júlio de Almeida, Fernando Fortes e Elissé Turpin criaram o PAIGC com a intenção de unirem-se e lutar
contra a colonização portuguesa que escravizava o povo africano. Esse partido ainda mantém-se, mesmo
com a separação dos dois países autores. Cabo Verde passou a apelidar-lhe de PAICV (Partido africano
para a Independência de Cabo Verde).
4
Dados conseguidos segundo o estudo da INE em 2010
aparece como língua de tipo específico, produto do encontro de várias línguas, em que
uma delas, europeia, se assume como dominante, e as restantes africanas, passam à
condição de dominados” (Duarte 2003: 35). Como os africanos escravos trazidos para
Cabo Verde tinham língua e cultura própria e os colonos também, no princípio, a
comunicação foi muito difícil, quase impossível. Mesmos entre os africanos escravos a
comunicação era difícil, pois esses eram trazidos de diferentes países do continente
africano. Então, era necessário uma única língua, compreensível tanto para os escravos
como para os colonos, que vigorasse entre eles. Dessa forma o crioulo sofre
transformação até chegar a essa meta.

O crioulo cabo-verdiano atravessou um processo de evolução


até se tornar a língua que hoje identifica a Nação cabo-verdiana.
A sua formação e evolução deve-se a três fases importantes: (i)
o pidgin; (ii) o proto crioulo e (iii) o crioulo, ou seja, a língua
cabo-verdiana (MADEIRA,2015: 79).

Carreira explica-nos cada uma dessas fases ao afirmar que

O pidgin que é a forma mais rudimentar de comunicação verbal,


ou seja, a linguagem veicular que surgiu como forma de
resolver todo um embaraço social na comunicação nas
primeiras décadas da colonização de Cabo Verde; O proto-
crioulo, que corresponde ao aperfeiçoamento do pidgin pelo
acrescento de vocábulos e pelo uso de um sistema gramatical
mais estruturado que o do pidgin; (iii) O crioulo propriamente
dito, resultante de uma soma considerável de vocábulos
originários de uma língua em que se apoiou, adaptado aos
órgãos articulatórios do grupo de aprendiz, e de formas
gramaticais corretas mais complexas do que as utilizadas no
proto-crioulo (CARREIRA 1982: 87).

IV. A LITERATURA CABOVERDIANA. (SURGIMENTO DA LITERATURA


CV)

Fruto da mestiçagem e do ensino do séc. XIX nasce a Literatura caboverdiana nas mãos
de alguns intelectuais, sobretudo escritores, como Eugénio Tavares (1867-1930),
Baltazar Lopes (1907-1989), Manuel Lopes (e)

Síntese
Portanto, se Cabo Verde é um país que nasceu dentro de um contexto histórico e passou
por todos os “contextos históricos socioculturais”, podemos dizer sem sombras de
dúvida que também a sua língua, cultura (música, literatura, tradição), sociedade
população nasceram e lhe acompanharam em todas essas fases de transformação. Cabo
Verde é uma criança que foi amamentada por mães negras e brancas.

V. REFERENCIAS BIBIOGRÁFICAS

CARREIRA, António
(1982): O Crioulo de Cabo Verde: Surto e Expansão. Lisboa: Mem Martins Gráfica.
CARREIRA, António
1983 – Migrações nas ilhas de Cabo Verde, Praia, Instituto Caboverdiano do Livro.
1997 – Cabo Verde: Classes Sociais – Estrutura Familiar – Migrações, Lisboa,
Ulmeiro
DUARTE, Dulce Almada (2003): Bilinguismo ou Diglossia? As Relações de Força
entre
o Crioulo e o Português na Sociedade Cabo-verdiana. Praia: Spleen Edições.
FERREIRA, Manuel
1967 – A Aventura Crioula, Lisboa, Editora Ulisseia.
MADEIRA, João Paulo
2015 – Língua cabo-verdiana como elemento de identidade. Article in Revista de
Letras · December 2013

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