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Cap. 2: emigração do pai de Chiquinho (o pai partiu para os EUA pela seca de
1915, apesar da distância física emocionalmente sentem-no perto pelos
objetos (como os móveis) e cartas (lidas por Chiquinho) que ele envia.
Chiquinho sente admiração e respeito pelo pai. O pai volta por um período de
6 meses e depois nasce outra criança.)
Cap. 13: Praia Branca, Apoio do tio Joca nos estudos do sobrinho, que tem
boas notas. Chiquinho valoriza a formação, os estudos, histórias da mãe e da
avó, etc. Fala português e não o crioulo. Chiquinho fica responsável de Guida,
afilhada, envolvendo-se até à porrada para a proteger.
Cap. 27: Muda de escola e começa as Aulas no seminário, mas com saudades
da vida anterior tenta escapar-se para andar livremente pelo campo. Nas suas
brincadeiras (batalhas de Carlos Magno) procura ser um herói, o que em terra
é complicado.
Cap. 31: Reflexão: “Eu era matéria plástica que se submetia a todas as
experiências. E todas iam-me deixando seu deposito de sabedoria e perversão”
(p. 115) “S. Vicente era para mim a terra em que a civilização do mundo passa
em desfile” (p.116) sabedoria que lhe transmitiram (como Totone menga
menga) e a perversão (lato): condições de vida, pobreza, clima, etc. ou a perda
da inocência com a adolescência.
Ponto de situação:
Formação da alma de crioulo de Chiquinho
O imaginário da ilha de São Nicolau nestes tempos
Histórias contadas por pessoas mais velhas
Contraste terra/ mar
Ausência física de personagens que estão presentes através de recordações
Atividades de plantação de hortas, agricultura
Chiquinho ingressa no seminário (ele considera-o como prisão)
2ª parte, S. Vicente:
Abre-se um mundo novo (quase insignificante) em São Vicente (ilha também de
barlavento), com maior contacto com a Europa. Para Chiquinho um passo decisivo na
sua formação. Ao ingressar no seminário ele vai viver para Alto de Miramar (bairro de
Mindelo) com Nha Cidália (parente distante) casada com Eusébio (ausente na
Argentina), Tia Alzira (irmã de Cidália) casada com Amâncio (ausente, talvez
divorciados) e com os filhos de Nha Cidália: Andrèzinho (referente para Chiquinho, 20
anos, 2 anos mais velho que ele), Nuninha (17 anos, primeiro grande amor de
Chiquinho) e Nené (criança). Esta raiz familiar é repetitiva, pais ausentes, em que as
crianças crescem com as mães, avós e tias.
A associação operária
Cap. 18: Os jovens além dos movimentos culturais, preocupam-se com as
condições de trabalho dos operários (política), criando assim sindicato para
falar em nome dos operários (portos, vapores, carvão, etc.). Pedem ajuda a um
homem mais velho, Zeca Araújo, para que criasse um elo entre os jovens
intelectuais e os operários. Referem uma associação anterior, que adormeceu/
morreu. Aos poucos entendemos o porquê de as pessoas não terem o espírito
de lutar por melhores condições.
Cap.22: Porém as ações iniciais vão ser as últimas, por um lado Zeca Araújo o
grémio para se dedicar a 100% ao seu novo trabalho (pertencer a um sindicato
pode custar o emprego) e por outro, pela falta de conhecimentos na vida
política não conseguem levar a cabo a sua ideia. Pois, os jovens ao não serem
operários, não têm as ferramentas necessárias para os representar.
O governador
Cap. 12 e 14: O governador vindo de Portugal, passou pela ilha Praia e visitou
Mindelo, suscitando expectativas no povo. Andrèzinho quis organizar uma
conferencia para o governador os poder ouvir relatando os problemas da
terra, porém pela inércia, sem atitude político-cultural, do povo e até dos
estudantes não conseguiu. Os políticos dão importância a ouras coisas. Dakar
relacionado com prostituição. Las Palmas estão integradas geograficamente, e
com mais importância para Espanha que estas ilhas perdidas para Portugal.
Doença e morte do amigo Parafuso (Cap. 16, 19, 21, 23): Encaixam-se aqui as
amizades, com Andrèzinho e Parafuso. Parafuso fica muito doente, os amigos
prestam-se a ajudá-lo, mas a família pela dignidade não aceitava. Ele acaba por
morrer de tuberculose e pobreza (sem condições de se curar). Esta morte é
uma preparação para Chiquinho das que virão na 3ª parte.
C – Pobreza:
Prostituição/Dakar (Cap. 9, 13, 17)
Declínio do Porto Grande (Cap. 10, 13, 24).
3ª parte – As águas
Chiquinho ao voltar a casa sente-se diferente, distante, já não é o rapaz da aldeia igual
aos outros. Agora tratam-no como uma pessoa de estatuto superior destinado a
exercer trabalhos diferentes dos outros. A ideia da aventura tem outro sabor
(desilusão). Consegue fazer outras interpretações das narrativas que absorveu na
infância. A terceira parte localiza-se na casa de família do Caleijão, na casa dos
parentes em Ribeira Brava (onde faz amizade com Sr. Euclies Varanda e José Lima) e
na casa de Morro Braz onde mora sozinho (isolamento num lugar afastado do mundo
rural, longe das amizades e da família). Estas duas terras ficam a nordeste do Caleijão,
mais próximas do litoral.
A - Vida privada:
Regresso a S. Nicolau (cap. 1): Desencaixado, solitário, já não pertence àquele
mundo.
Sr. Euclides Varanda (cap. 4): Chiquinho tem conversas interessantes com um
Ex administrativo da alfândega. Este novo amigo tem o desejo de escrever
poesia e um romance - ponto de ligação com a personagem – e conta-lhe com
muito orgulho que publicou no almanaque luso-brasileiro um poema que usa a
religião como evasão espiritual, bucólico, universalista, que não finca os pés
na terra – oposto ao grémio dos jovens e da revista claridade – numa corrente
literária mais antiga. Escreve também uma obra intitulada de
“Arrependimento”, sentimento frequente neste romance. Chiquinho não se
identifica com a sua escrita, mas sente admiração por ele.
José Lima: outro amigo novo, com uma biografia complicada, de certa forma
também arrependido, pois ele embarcou, mas agora tem um problema com o
álcool “mind yourself” – cuidado com o caminho que segues.
B – Vida pública/profissional:
Escrever um ensaio sobre S. Nicolau (cap. 10): Chiquinho quer escrever um
ensaio sobre a sua ilha, assente na ideia de “cabo-verdianidade”, de forma a
disseminar o conhecimento ao povo. Retoma as histórias que ouvia, mas com
uma atenção diferente de análise, um ponto de vista científico sobre a
oralidade do seu povo. Porém será mais um fracasso que Chiquinho irá sofrer.
Ser professor
C – Pobreza:
Estiagem, Mortes sucessivas, Rebelião e Emigração (cap.13): Aqui, Chiquinho é
professor e tem uma relação de camaradagem com os alunos. Porém devido à
fome, seca e doença, estes vão morrendo (e os animais também) ou
emigrando com as famílias. Isto teve impacto na sua vida (desolação,
desespero) abandonou a escrita do ensaio, preferia a vida rotineira de antes e
viu-se sem rumo.
Caráter regionalista, naturalista e neorrealista: o narrador autodiegético (1ª
pessoa) descreve de forma lenta e minuciosa (proximidade) uma
problemática permanente de Cabo Verde, a seca dessa época do ano, morre o
primeiro aluno, fogem as pessoas, morrem os animais (solidariedade,
episódios dolorosos).
Criatividade linguística: meninência, tamanhinho, agorinha, colhetar,
porquidade, jardinol, corpo queixoso, lágrima comovida, etc. (analogismos,
aproximação entre o crioulo e o português padrão)
D - Desenlace: Chiquinho decide emigrar para os EUA, mas ainda assim o seu objetivo
é estudar numa universidade americana.
Reflexões:
Reforça o retrato inóspito destas ilhas, mas também a persistência em
ultrapassar todas as adversidades (condições de vida, da política, etc.)
Os motivos para emigrar mudam segundo gerações (antes era em busca de
trabalho, agora os mais jovens procuram formação)
Nuninha, questão emocional diferente
Taxa de emigração
Historicamente elevada, sobretudo dos homens, o que leva à baixa taxa de
crescimento populacional, ao elevado número de famílias chefiadas por mulheres e à
dependência das remessas dos homens emigrados.
Desde 2010 a taxa de emigração tem diminuído, porque a procura de trabalho
pouco qualificado diminuiu na Europa e nos EUA.
Em contrapartida, a taxa de emigração das mulheres tem aumentado pela
procura de empregadas domésticas e cuidadoras de infância na Europa.
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Independência são-tomense:
A população era miscigenada: negros, mestiços, europeus, indianos e o orientais. A 3
de fevereiro de 1953, as tropas coloniais cometeram o Massacre de Batepá, torturas e
afogamentos, com aproximadamente 1000 mortos, hoje feriado nacional. Em 1960 é
fundado o Comité pela libertação de são Tomé e Príncipe (CLSTP), no Gabão, onde
participam, entre outros, Miguel Trovoada, Francisco José Tenreiro (desfiliou-se),
Leonel Mário d´Alva. Não houve uma luta pela independência, mas sim movimentos
a 12 de julho de 1975 é declarada a independência. O partido para Movimento de
libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) é renomeado, com Manuel Pinto da Costa
como presidente e Miguel Trovoada como primeiro-ministro no primeiro governo.
Com a nova constituição de 1990 é introduzido o sistema multipartidário e
renomeado o partido para Movimento de libertação de São Tomé e Príncipe – partido
social-democrata (MLSTP-PSD). Em 1994 é fundado o partido ação democrática a
independente (ADI). A taxa de alfabetização tem sido uma história de sucesso, pois
enquanto em 1975 80% da população era analfabeta, fizeram-se grandes campanhas
de alfabetização no pós-independência e em 2017 já 90% dos são-tomenses com mais
de 15 anos sabem ler e escrever. Em 2018, a população conclui uma média de 6,3 anos
de escolaridade.
Algumas palavras importantes de Cabo Verde são: Moradores (colonos brancos),
Filhos-da-terra (mestiços do cruzamento entre europeus e negros escravizados do
período da 1ª colonização), que criaram uma aristocracia mestiça, governante do
território durante o “grande pousio”), Forros (pessoas de origem africana livres -
confundem-se com os filhos da terra), Angolares, Tonga (pessoa natural de São tome
independente de origem étnica), Moncó (pessoa natural da ilha de Príncipe) e Leve
leve (Expressão popular - atitude perante a vida, ritmo de vida, sabedoria, resignação).
O português é a língua oficial, o forro é o crioulo da ilha de são Tomé, o Lunguyé é o
crioulo de ilha de Príncipe, o cabo-verdiano é o crioulo falado pelos contratados
(emigrantes cabo-verdianos) e o angolar tem uma base controversa, forte influência
do kimbundo e de outras línguas africanas (a mais afastada do português). Durante o
colonialismo, as línguas crioulas não foram reivindicadas como base identitária. A
população alfabetizada costuma expressar-se em português (pelo menos na vida
profissional). Hoje o crioulo forro é falado por 83% dos habitantes da ilha de S. Tomé,
língua de força social e mobilização popular, p. ex. captação de votos e, campanhas
eleitorais. A São tomensidade é a matriz mestiça; o Socopé (“só com o(s) pé(s)”) é
uma dança e música típicas; o Tchiloli ou Tragédia do Marquez de Mantua e do
Imperador Carloto Magno (São Tomé) é um auto representando ao ar livre com
música, dança e diálogos, que dura mais de cinco horas, todos os papeis são
representados por homens, uma apropriação sincrética de uma peça de matriz
europeia, envolvendo ciúme, amor, traição e morte; por último, o Auto de Floripes,
são Lourenço do Príncipe (Príncipe) é uma história de cristãos e mouros, Floripes é
uma donzela moura apaixonada por um cavaleiro cristão. Quanto à gastronomia
destacam-se: fruta pão, matabala, vinho de palma e calulu. A rosa de porcelana é
uma planta característica de São Tomé e Príncipe.
Literatura são-tomense:
Em 1857, sai a primeira edição do Boletim oficial o governo da província de S. Tomé e
Príncipe. A elite de filhos-da-terra cria uma imprensa de carácter não governamental,
onde foram publicadas revistas, jornais e boletins de associações, p. ex. O Africano, A
Voz d´África, O Negro, A Verdade, O Correio d´África, ainda sem carácter anticolonial,
apenas denunciando e pedindo reformas. Poemas dispersos, p. ex. de Francisco
Stockler, António Lobo de Almada negreiros (pai do pintor Almada Negreiros).
Construção de um sentimento unitário, protonacionalista (ainda sem o ímpeto de
pedir a independência da nação). Numa perspetiva colonialista, há uma literatura
escrita portugueses sobre estes territórios, o “ciclo-da-roça” (roça = fazenda de café
ou cacau), uma literatura romântico-realista novecentista, visão idílica. Exalta-se a
compaixão paternalista dos colonos e a macro etnicidade lusitana (sentimento de
identidade portuguesa, que na verdade existe muito pouco). Por exemplo: Viana de
Almeida, Maiá Poçon (1937); Fernando Reis: Roça (1960), História da Roça (1970); Luís
Cajão: A Estufa (1964). A literatura são-tomense nasce em grande medida fora das
ilhas, nomeadamente em Portugal, por pessoas que estudam fora porque é difícil
adquirir formação nas ilhas para se tornarem poetas. O sistema económico é rural, o
que não favorece a formação de movimentos culturais e literários. Dos filhos da terra
surgem uns poucos intelectuais e escritores, formados em Portugal, que criam a
consciência como africanos e nacionalistas em contacto com africanos e outras
colónias. A Casa dos Estudantes do Império (Francisco José Tenreiro, Marcelo de
Veiga, Tomás Medeiros, Maria Manuela Margarido, Alda Espírito Santo) acabou por se
tornar num espaço com ideologias anticoloniais (oposto à ideia do estado novo).
Caetano da Costa Alegre (1864-1890) é considerado um caso isolado, começa a
escrever antes de todo o movimento em prol da independência. Francisco José
Tenreiro (1921-1963) é considerado um intermediário entre a negritude e o luso-
tropicalismo. Alda Espírito Santo (1926-2010) mestiça, professora, ativista política e
autora do hino nacional.
Massacre de Batepá
A 3 de fevereiro de 1953 na praia Fernão Dias, um grupo de pessoas foi acusada de
fazer uma conspiração comunista levando a mortes por tiros, queimadas, asfixiadas,
chicotadas, cadeiras elétricas (repressão). A própria PIDE veio negar a existência da
conspiração referida pelo governador. Está na origem deste massacre a tentativa de
forçar a população nativa de São Tomé e Príncipe a trabalhar como serviçais
contratados nas roças de cacau e café. E este episódio é tido como estando na origem
do nacionalismo são-tomense. Não se sabe quantos morreram, se centenas ou mais
de mil. Os corpos foram enterrados em valas comuns ou deitados ao mar. O dia 3 de
fevereiro passou a ser feriado nacional em memória das vítimas da brutalidade
colonial, heróis pela liberdade da pátria. Conclui-se que não dava para ir
simplesmente pelas reformas, havia que lutar pela independência.
Conceição Lima
Poema Mátria:
Título: muito expressivo, nos dicionários o adjetivo mátrio está registado como
tendo sido criado pelo Padre António Vieira no século XVII. Porém não está
registado mátria como substantivo, apenas pátria.
Tema: vínculo à terra mãe. A pátria que se confunde com casa, pois têm a
mesma propriedade e ambientação do útero materno (metáfora).
Nos primeiros versos, o SP está fora da ilha, retornando a ela porque quer estar
desperta. Este regresso dá-se a partir de uma perspetiva feminina.
Sabemos que a construção da identidade nacional é feita para representar
todos, assim é mencionado de forma muito subtil o patriarcado.
“Diurna penumbra”, “dias subterrâneos fora do passado”: as falhas do templo
colonial (e também do pós-independência)
O verbo “crer” e a ambientação “praias” podem representar algo positivo como
negativo
A metáfora de “chuva” pode representar o alívio de uma situação difícil que
regenera a vida: mais prosperidade, sair da pobreza, etc.
Interrogação dolorosa e inconformada por perdas da própria África (demora
da chuva, tristeza da mata, perda dos imbondeiros, desaparecimento da praça,
etc.)
“imbondeiros” (árvores tropicais): metáfora para o passado que morreu
Carga imagética: “Um degrau de basalto emerge do mar” / “e nas danças das
trepadeiras reabito/ o teu corpo” / “o teu corpo/ templo mátrio/ meu castelo
melancólico” etc.
Castelo: ideia de um São Tomé inabalável, forte, protetor, defensivo
O país esta numa melancolia e numa situação de abandono
Poema A Herança:
O SP dirigindo-se à mátria faz um monólogo
Anuncia a persistência na luta de emancipação plena para São Tomé e
Príncipe e a esperança num novo cenário (profecia que não se cumpriu)
Reflexão sobre o passado colonial (memórias das atrocidades portuguesas
presentes - “herança saqueada”), mas também aborda o passado mais
recente.
As promessas feitas pelos novos governos e a esperança que o povo tinha de
ter uma vida melhor, algo que nunca aconteceu
Ainda assim a situação atual sempre é melhor que antes
Ainda se pode “reescreve(r) uma longa profecia” caso essa seja uma
aspiração coletiva (esperança)
Poema Heróis:
Celebração dos heróis que se sacrificaram pela causa de São Tomé e Príncipe:
memoração, homenagem, enaltecimento, louvação pública.
Os ossos deles servem de alicerce ao mastro e ao obelisco (símbolos da
representação dos mártires)
Visível sofrimento nacional
Os heróis retornam zoomificados dotados de asas crucificadas
Chá do príncipe (2017) de Olinda Beja (1946 - ... de São Tomé)
A obra Chá do Príncipe retrata a situação de São Tomé e Príncipe nos anos 80 (a
experiência da autora quando regresso às ilhas em 1985). Ao lermos recordar-nos-
emos de “Mornas eram as noites” de Dina Salústio, pela grande proximidade entre
narradora e autora em ambos os livros. Estes 22 contos são um pouco mais longos,
todos eles antecipados por sábios provérbios/ ditados, e com um sentido de crítica/
denúncia retratam o quotidiano de mulheres, crianças ou sobre o patriarcado e
machismo. Tem assim um leque temático mais amplo que se prende com a
construção da identidade nacional de São Tomé e a dificuldade dessa época, como a
pobreza continuada. Os contos são de leitura fácil, porém o livro acaba por
romantizar um pouco a ilha, pois transparece a imagem exótica e paradisíaca da ilha,
que não corresponde à realidade daquelas pessoas, que vivem no seu quotidiano a
dureza daquele espaço. Segue uma análise sucinta de três contos da obra:
“Rosas de porcelana” (p.121) (planta que caracteriza a flora de São Tomé e Príncipe)
Caracterização dos anos 80: década difícil (pobreza e pessoas sem formação) e
dececionante em que as promessas da independência não se cumpriram.
Os estudantes que recebiam bolsas para a RDA ao regressar não encontravam
trabalho por falta de infraestruturas.
Assim, uma alentejana vai a São Tomé e Príncipe como professora de língua
portuguesa, um sonho que ela vê ser realizado.
Este conto assenta numa perspetiva de olhar português, estereótipo
colonialista, destoando dos restantes contos: “o karma do povo lusitano é
andar de mala na mão e regressa com especiarias” (ódio aos colonizadores)
Ainda assim a história é positiva: o trabalho da professora foi valorizado,
construiu uma relação afetiva com os alunos e ficou encantada pela ilha.
No regresso a Portugal ela leva rosas de porcelana (símbolo de São Tomé) na
mala, desembocando num mal-entendido/ desconhecimento da mãe sobre a
realidade são-tomense: acha que as rosas são mesmo feitas de porcelana
(ironia)
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Guiné-Bissau
Literatura da Guiné-Bissau:
Em 1879 é criada a primeira tipografia em Bolama (arquipélago de Bijagós), iniciando
assim a imprensa da Guiné-portuguesa, em mãos dos portugueses radicados no
território. Em 1930-31 é editado O Comércio da Guiné, o primeiro jornal editado por
um guineense, Armando António Pereira em colaboração com Juvenal Cabral (pai de
Amílcar Cabral), entre outros. Onde se mantém um discurso luso-tropicalista e
colonialista, porém reformista, defendendo os interesses do guineense dentro do
sistema colonial. O boletim cultural da Guiné Portuguesa (1946-73), órgão oficial,
publica amostras traduzidas da tradição oral e também havia literatura etnográfica
(p. ex. sobre as etnias bijagó, balanta, manjaco, fula, mandinga) e ficção colonial
escritas por não-guineenses. Foram publicadas algumas coletâneas de lendas, mitos e
contos de diferentes grupos étnicos. Da literatura colonial destacam-se: Fausto
Duarte (cabo-verdiano) e Fernanda de Castro (portuguesa) na ficção e Terêncio
Anahory (cabo-verdiano) na poesia. A poesia, de facto, guineense inicia com António
Baticã Ferreira (1939 - ...), um guineense, influenciado pela tradição francesa e com
uma ligação secreta contra o PAIGC. Deste autor temos apenas poemas incluídos
nalgumas coletâneas. No seu poema “País Natal”, o autor num tom saudosista
recorda o tempo de paz (era do colonialismo), denunciando a violência da guerra. Já
o poeta Vasco Cabral (1926-2005) participou nas atividades da casa dos estudantes do
império. A matriz independentista e os jovens poetas emergem dentro da militância
política, motivados pelo passado recente. O ano 1977 é considerado o início da
produção literária e editorial com a antologia poética “Mantenhas para quem luta”
como marco da geração de poetas nascida nas décadas de 1940 e 1950 que viveram a
guerra enquanto crianças. Em 1978 sai a “Antologia dos jovens poetas” e no ano
seguinte “Os continuadores da revolução e a recordação do passado recente”. Esta
geração demonstrava uma grande preocupação com a função social da poesia e com
o processo revolucionário, usavam uma linguagem clara e direta, por vezes eufórica e
panfletária, alguns poemas eram escritos em crioulo. Abordava temas como:
antinacionalismo, alienação cultural, precariedade social, repressão política (p. ex.
Pidjiguiti), consagração da vitoria e da liberdade, Mão África, identidade negra, etc.
Apesar da inexperiência destes poetas, estas obras foram importantes por serem as
primeiras depois da independência num sistema literária praticamente inexistente,
depois destas outras antologias se seguiram. O escritor e professor Hélder Proença
(1956-2009) lutou pela independência e foi político na pós-independência,
coorganizou a antologia “Mantenhas para quem luta” e publicou o livro “Não posso
adiar a palavra” (1982), que reúne poemas da luta pela independência, tendo sido
assassinado a mando de um candidato à presidência em 2009.
Massacre de “Pindjiguiti
Os estivadores e marinheiros no cais do Pindjiguiti, em Bissau, maioritariamente
empregados pela Casa Gouveia, fizeram uma greve exigindo aumento salarial. Este
movimento foi duramente reprimido pela polícia com prisões e interrogatórios,
resultando em dezenas de mortes. Este acontecimento serviu como fator de
aglutinação da libertação bissau-guineense, utilizado pelo próprio partido PAIGC.
Apresentação (camaleões)
O parágrafo que antecede este capítulo mostra a imagem de um camaleão, animal
que no imaginário guineense representa o mistério, a incerteza e a instabilidade, e
constantes mutações (várias caras), adaptando-se a qualquer uma delas tendo em
conta as suas conveniências. A realidade sociopolítica de Guiné-Bissau tem sido
marcada pela imprevisibilidade e constantes alterações, esta realidade desembocou
na fórmula do desenrasque para ganhar a vida. A corrupção generalizou-se a todas as
camadas sociais, pois tudo era feito com o propósito de “safar a mistida”.
Capítulo 1 – Madjudho
Epígrafe: “one love” Bob
Personagens:
Comandante: ex-combatente na guerra pela independência que se resigna por
se sentir impotente
Madjuoho: jovem escravo de 17 anos transportado no armamento
Não são parentes, o jovem é resgatado pelo comandante
Lugar:
Posto de sentinela dos portugueses que foi conquistado durante a luta perto
de Bissalanca (zona do Aeroporto de Bissau)
O Comandante ficará “Até ao dia”, pois “Eu é que libertei e ele foi-me
confiado”, desta forma o posto simboliza a luta e os sonhos de esperança nela
inerentes
Ao não abandonar o posto, o Comandante acredita que os sonhos ainda não
foram atingidos
Lembrança da luta pela independência “Era o orgasmo ...” sentido da nação
O comandante nega-se a abrir os olhos durante o dia: claridade VS. escuridão
O comandante valoriza muito uma medalha, que tirou de um avião abatido
Madjudho pela sua ingenuidade, falta de experiência e formação decide
comemorar a vida
O comandante com os olhos fechados, durante o dia pelo sol, pergunta ao
miúdo se a sua cor mudou, mas Madjudho não via nada de diferente no sol, até
à medalha se transformar no novo sol (símbolo da época colonialista que
resiste a não ir embora)
O sol simboliza a renovação. A escuridão sombria vivida no colonialismo e a
claridade experimentada no pós-independência (metáfora).
Capítulo 4 – Timba
animalização do ser humano quanto à sua sexualidade, utilização de
expressões como cio, fecundação, etc.
Protagonistas: Amambarka, o que mente e come suas próprias fezes, e Nham-
Nham, o rei do lixo. Não são um casal gay, mas sim uma luta pelo poder, que
cria uma sensação de nojo.
Amambarka: opressor, usurpador e hipócrita, impõe e engana, faz de tudo
para apossar-se do poder. Desmistifica o opressor e imputa a responsabilidade
àqueles que usam o poder para roubar a razão, para castrar e afundar o país na
extrema pobreza material e psíquica, aqueles que negando o direito à
instrução, a saúde, a habitação condigna e a alimentação conseguem manipular
o povo mantendo-o preso e dependente.
Nham-Nham: considera-se grande inteligente, o único que merece o trono,
mas come merda, é oportunista, calculista, cobiçoso, cheio de ódio.
Ambas as personagens são inspiradas em pessoas reais, mas transformam-se
em criaturas monstruosas: caricaturas grotescas de políticos, nojentas,
repulsa.
Capítulo 6 – Muntudu
Protagonista: personagem feminina não-nomeada, a qual, no capítulo X,
descobrimos ser Ndani, a protagonista de A última tragédia.
Ndani: Jovem mulher que vende uma serie de produtos na esquina, após uma
molha à chuva, esteve uns dias sem ir trabalhar por ter adoecido, mas quando
regressa o seu posto de trabalho estava possado de lixo.
Ela tenta negociar com o lixo (símbolo do governo, corrupto e decadente) –
personificação (fala e dá gargalhadas) – pede ajuda a outras pessoas para
remover o lixo, mas estas não ajudam ou vão se embora (falta de
solidariedade).
Leitura literal: a câmara municipal não recolhe o lixo
Leitura metafórica: todo o comportamento é de lixo, desinteressado com o
povo, por mais pequeno que fosse o lugar da rapariga para viver.
Após ficar desalojada, começa uma guerra contra o lixo: “Tinha chegado ao
limite da sua canseira, por isso ela tinha que acabar. A bem ou a mal, tinha que
acabar nesse dia”
A protagonista retira um kambletch (pedaço de cabaça em forma de cesto) e
envia-o pela corrente de água com uma mensagem para o seu homem que está
longe “Diz-lhe que temos muitas saudades dele” / “(...) diz-lhe que tudo está a
transformar-se em lixo. Tudo. As pessoas já não têm coração. No seu lugar está
agora só lixo. Tal como nas cabeças ..." (127)
Comparação: medalha (cap.1) – o kambletch (cap. 6)
Capítulo 8 – Yem-Yem
Protagonista: Yem-Yem, o carrasco = torturador, polícia ao serviço de um
regime ditatorial, o regime de Nham-Nham.
Afirma ter um problema por causa de uma palavra
Embebeda-se num klandô (bar), inspirando medo nas pessoas presentes (era
conhecido como o carrasco), mas transforma-se numa pessoa positiva que
inspira confiança. À porta do bar é morto por uma metralhadora (regime
opressor de Nham-Nham).
Parece ter dupla personalidade: “ficaram só com a dúvida se o animal era
aquele que viam e que estava permanentemente a rugir, ou o outro, o invisível,
que se escondia e crescia dentro do primeiro.” (161)
Reflexão: como subir na carreira política num país corrupto? Yem-Yem aceitou
o jogo desonesto e hipócrita dos favores, da corrupção, das falsas promessas,
do engano do povo (162-165)
Desta forma chegou a ter um couro na política, mas refletiu sobre um amigo
seu de infância (este salvou-lhe a vida, mas depois veio a política), que não
aceitou esse jogo.
Política: Cenário desolador, sem esperança. Manipulação do povo para
alcançar outro objetivo (manutenção do poder), como as promessas (nunca
realizadas) para acumular votos
Na política não há amizades, os favores são sempre cobrados, ninguém faz
nada por bem, necessita-se de dividir inimigos, todos trabalham contra todos
Objetivo: Unidade nacional – unir a Guiné-Bissau como um povo que se
identifica com a ideia de nação (algo muito difícil)