Você está na página 1de 3

Desconstruindo o “descobrimento” do Brasil

Quando se trata da História do Brasil, é comum encontrarmos


versões que começam com a chegada dos portugueses nas terras
tupiniquins, em todo seu heroísmo, com o propósito de civilizar
os povos indígenas – fazendo-os aderir aos costumes europeus e
os catequizando com todo seu amor cristão. Mas a verdade é
que as coisas não aconteceram dessa forma. Inclusive, é
incorreto pensar que os portugueses chegaram para civilizar os
indígenas, uma vez que esses povos já possuíam cultura, língua e
organização social como qualquer outra civilização. São esses
conceitos (e alguns outros que envolvem o “descobrimento” do
Brasil) que esse texto se propõe a discutir.

Por trás da nada “heroica” chegada dos portugueses ao Brasil,


havia uma Europa que passava por diversas crises (desde o
século XIII): problemas com terras para agricultura; adversidades
na saúde da população, como a Peste Negra; e muitas tensões
políticas, como a revolução de 1383, por exemplo, que reforçou
e centralizou o poder monárquico e fez com que setores sociais
se agrupassem, dividindo-se entre nobreza, comerciantes, e
outras categorias.

Diante desse cenário, a Coroa portuguesa se viu obrigada a


encontrar alternativas para lidar com tantas crises, e diversos
fatores serviram de incentivo para investir em navegações e na
Expansão Marítima, tais quais sua posição geográfica (com uma
enorme costa litorânea), o movimento econômico com o Mundo
Islâmico; e a proximidade à costa da África e ilhas do Atlântico.

A Expansão Marítima despertou grande interesse em várias


classes e instituições na sociedade portuguesa da época.
Comerciantes viam oportunidades de negócios, nobres e
membros da Igreja vislumbravam chances de prestígio ao servir
o rei, enquanto o monarca via a expansão como uma forma de
criar novas fontes de receitas. Para o povo, essa empreitada
representava a oportunidade de recomeçar longe da opressão
da Coroa, tornando-se um projeto nacional amplamente
apoiado.

O contexto por trás da Expansão Marítima é crucial para


compreender que a chegada dos portugueses ao Brasil não foi
um mero acaso. Apesar de teorias sugerirem a busca
por uma rota às Índias, a presença de Colombo nas Américas
antes dos portugueses indica que não foi uma descoberta
acidental. A desconstrução da ideia de "descobrimento" é vital,
pois o Brasil já era habitado há milênios, desmentindo a
concepção de terra desconhecida.

Estudos arqueológicos revelam que populações paleoíndias


ocupavam o Brasil há cerca de 12 mil anos, desmistificando a
noção de uma terra desabitada. Diversas culturas e povos
coexistiam, com evidências de sociedades complexas. A chegada
dos portugueses representou uma invasão em um território
ocupado por povos com distintas culturas e organizações sociais.

Os povos originários, conhecidos como ameríndios, eram


divididos em dois blocos principais: os tupis (tupinambás) e os
guarani. Algumas regiões eram ocupadas por diferentes grupos,
e padres, em cartas, descreviam pejorativamente alguns como
"Tapuios". A diversidade entre esses povos gerava conflitos,
permitindo aos portugueses formar alianças estratégicas.

Os povos originários que se submeteram aos portugueses


enfrentaram violência cultural, sexual, genocídio e doenças
europeias. Para sobreviver, muitos se deslocaram para regiões
mais remotas. Os primeiros anos da colonização foram marcados
pela extração do pau-brasil, realizada majoritariamente pelos
indígenas, em troca de bens europeus.

Em resumo, os portugueses não descobriram o Brasil, que já era


habitado por diversas culturas. A chegada dos europeus resultou
em epidemias, brutalidade, expropriação de terras e morte. A
história não mostra um povo civilizando outro, mas sim
aculturação, troca de costumes ou, em casos como a colonização
do Brasil, subjugação por meio de violência e imposição cultural.

Você também pode gostar