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1 ­ INTRODUÇÃO

Os relés diferenciais são a mais importante forma de proteção de transformadores de potência,
e   podem   estar   submetidos   a   diferentes   fatores   que   propiciam   uma   operação   indesejada   do
disjuntor, ou seja:
 correntes de magnetização transitória do transformador;
 defasamentos angulares;

 diferenças de corrente em função dos erros introduzidos pelos transformadores de
corrente;

 diferenças   de   correntes   no   circuito   de   conexão   do   relé   em   função   dos   tapes   do


transformador de potência.

I cc
TC P T CS
69KV
 13,8KV

Y
F
Y

Ip Is
Ip BR BR
Is
A B

Ip Is
BO
I = 0

Relé diferencial

Fig. 10.46 – Relé diferencial na condição de não­operação

I cc
I cc TCP TCS

Y F

I1 I2

I1 BR BR I2
A B

I1 I2
I = Is - I p

BO

 
Fig. 10.47 – Relé diferencial na condição de operação
Os   esquemas   de   proteção   dos   transformadores   variam   de   equipamento   para   equipamento,
conforme o número de enrolamentos, disposição no sistema e esquema de proteção utilizado.
Os relés utilizados para representar o esquema de operação da proteção do transformador são:
• 1) Proteção Própria do Transformador:
– 63 T – relé Buchholz do autotransformador;
– 63 VS – válvula de segurança;
– 63 C – relé de pressão do comutador sob carga.
• 2) Proteções instaladas em painel na casa de controle:
– 86 – relé de bloqueio;
– 94 – relé de desligamento;
– 87 – relé diferencial;
– 51 D – relé de sobrecorrente de fase, temporizado, do lado D;
– 51 P – relé de sobrecorrente de fase, temporizado, do lado P;
– 51 N ­ relé de sobrecorrente de neutro, temporizado;
– alimentação CC da proteção.
1.1 – Relés diferenciais de indução

a) É importante notar que as correntes de uma mesma fase que circulam no relé diferencial
não devem possuir diferenças angulares.

b) Os transformadores de corrente não devem apresentar erro superior a 20% até uma corrente
correspondente a oito vezes a corrente do tape a que o relé está ligado, a fim de evitar uma
atuação intempestiva do disjuntor.

c) A ligação do transformador de corrente deve ser executada de forma que, para o regime de
operação normal, não circule nenhuma corrente na bobina de operação. 

d)   Quando   um   transformador   é   energizado,   flui   uma   corrente   de   magnetização   de   efeito


transitória,   também   denominada   de   corrente   de   excitação,   cujo   valor   é   significativamente
elevada, visto pela proteção diferencial como um defeito interno ao equipamento. O valor de
pico   dessa   corrente   pode   atingir   valores   compreendidos   entre   8   a   10   vezes   a   corrente   do
transformador a plena carga. Alguns fatores atenuam a magnitude dessa corrente, ou seja:

 impedância equivalente do sistema de alimentação do transformador;

 potência do transformador;
 fluxo residual;

 maneira pela qual é energizado o transformador;
 

 Se   o   transformador   for   energizado   quando   a   tensão   está   passando   pelo   zero


natural, obtém­se a máxima corrente de magnetização, o que, por probabilidade, é
uma situação difícil de ocorrer.

1.2 – Relés aplicados na proteção diferencial

1.2.1 ­ Relés de sobrecorrente
Os   relés   de   sobrecorrente   constam   normalmente   de   uma   unidade   de   sobrecorrente
instantânea,   além   da   unidade   temporizada   que   o   caracteriza.   A   unidade   instantânea   é
normalmente   ajustada   para   um   elevado   valor   de   corrente.   São   de   aplicação   limitada   por
favorecer operações intempestivas do sistema, de acordo com as seguintes causas:
 corrente de magnetização do transformador durante a sua energização;

 saturação   dos   transformadores   de   corrente   em   diferentes   níveis,   provocando


correntes circulantes no circuito diferencial.

1.2.2 ­ Relés diferenciais com restrição percentual

 Esse tipo de relé é dotado de uma bobina de restrição cuja função é restringir a
operação do relé, além da bobina diferencial, conforme Fig. 10.47.

 A   corrente   da   bobina   de   restrição   é   proporcional   a   ( I p  I s ) / 2 ,   já   que   a   bobina   de


operação é conectada no centro da bobina de restrição. Assim, a relação da corrente
diferencial  I p  I s  para a corrente média de restrição  ( I p  I s ) / 2  mantém um valor
fixo, sem contar, é claro, com o pequeno efeito da mola de controle, no caso dos relés
eletromecânicos.

 O valor da restrição imposto aos relés é estabelecido como uma percentagem da
corrente solicitada pela bobina de operação BO para vencer o conjugado resistente
ou de restrição, o que é denominado normalmente inclinação característica, cujo
valor pode variar entre 15 a 50%. A inclinação percentual aumenta quando o relé
se aproxima do limite de operação devido ao efeito cumulativo de restrição da mola
e da restrição elétrica.

1.2.3 ­ Relés diferenciais com restrição percentual e por harmônica
Esses relés são os mais empregados nos esquemas de proteção diferencial, independentemente
da grandeza do sistema ou de sua responsabilidade. Utilizam, além da restrição percentual, as
harmônicas   presentes   na   corrente   de   magnetização   dos   transformadores   durante   a   sua
energização, a fim de bloquear a sua operação ou elevar o valor da corrente de acionamento,
tornando­se viável o ajuste de corrente de baixo valor e tempos de retardo reduzidos, sem o
inconveniente de se ter uma operação indesejada.
 
Os relés diferenciais são também dotados de um determinado número de derivações para se
ajustar o balanceamento da corrente. Além disso, há outro número de derivações para o ajuste
da inclinação característica entre 15 a 50%.
O emprego desses relés é justificado pelas seguintes razões:
 elimina   a   possibilidade   de   operação   do   disjuntor   durante   a   energização   do
transformador ou mesmo durante o seu período de funcionamento normal;

 apresenta um tempo de operação cerca de cinco vezes maior do que os relés sem
restrição;

 apresenta   corrente   de   operação   cerca   de   2,5   vezes   menor   do   que   os   relés   sem
restrição.
A bobina de restrição, BR, do relé apresenta, em geral, os seguintes valores de percentagem de
harmônicos que consegue restringir, ou seja:
  2ª harmônica: 24%;

  3ª harmônica: 23%;
  5ª harmônica: 22%;

  7ª harmônica: 21%.
A   restrição   da   2ª   harmônica   inibe   a   atuação   do   disjuntor   durante   a   energização   do
transformador. Já a restrição das 3ª e 5ª harmônicas é empregada para inibir o disparo do
disjuntor durante um processo de sobreexcitação do transformador, como, por exemplo, quando
ele está submetido a uma carga de elevado efeito capacitivo.
Quando   houver   uma   diferença   de   10   a   15%   entre   as   correntes   dos   secundários   dos
transformadores   de  correntes   instalados   em   ambos   os   lados   do  transformador   de  força   em
condições normais de operação, deve­se empregar transformadores de corrente auxiliares.  É
aconselhável aterrar os secundários comuns dos transformadores de corrente em um só ponto
para evitar falsa operação do relé diferencial.
A corrente de acionamento do relé diferencial é diretamente proporcional ao tape escolhido.
Quando o circuito de restrição estiver desenergizado, a corrente de acionamento ocorre, em
média, a 40% do valor da corrente do tape utilizado, observando que, em geral, a unidade
instantânea quando existir não oferece nenhuma restrição à sua operação.
 

TCp

D I S J U N T O R - 52 - H

Transformador
BR

Relé diferencial
BO

D I S J U N T O R - 52 - L

TCs

A B C

TC p

TC auxiliar
D I S J U N T O R - 52 - H
TRANSFORMADOR

Relé
diferencial

BO
D I S J U N T O R - 52 - L

TCs

TC auxiliar

      Fig. 10.48 – Esquema trifilar       Fig. 10.49– Ligação diferencial com TC auxiliar
 

F F F

87.1
87.2
URH 87.3 86.2 86.3
AUX

125 OU 220 Vcc


87.2 87B 87C
B.87
URH

52 - H 52 - L
86.1

B.86 52 - H 52 - L

10
9
Declividade
8
Corrente de Operação

7 40%
(Múltiplos da Nominal)

6
30%
5
4
20%
3
2
1

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Corrente de Restrição I r (Múltiplos da Nominal)

         Fig. 10.50 – Ligação de um relé diferencial             Fig. 10.51 – Curva de um relé
diferencial
Os relés diferenciais eletromecânicos são fabricados em unidades monofásicas, enquanto os
mesmos relés na versão eletrônica são normalmente comercializados em unidades contendo a
proteção das três fases.
Em geral, são disponíveis três tapes de inclinação percentual da corrente de restrição, ou seja:
20, 30 e 40%, conforme se observa na Fig. 10.51. Tanto a corrente de restrição como a corrente
diferencial nesse gráfico são dadas em função do múltiplo da corrente do circuito.
Para se determinar a percentagem da corrente de restrição de acordo com o gráfico da Fig.
10.51, deve­se proceder da seguinte forma:
 Determinar o valor médio da corrente que circula pela bobina de restrição, ou seja:

Is  I p
Im 
2
I p ­  corrente   que  entra  no   relé   pelo  terminal   ligado  ao TC   instalado no   lado  de  alta

tensão;
 
I s ­ corrente que entra no relé pelo terminal ligado ao TC instalado no lado de baixa

tensão;

 Determinar o valor da corrente diferencial, isto é, a corrente que circula na bobina
de operação do relé:
I d  I s  I p

 Determinar o ajuste da declividade percentual do relé:

I d
Ad   100
Im
Para facilitar a escolha das derivações do relé diferencial pode­se calcular a matriz da Tab.
10.12, que corresponde à relação entre os valores nominais das correntes dos tapes disponíveis.
As Figs. 10.53, 10.54 e 10.55 demonstram os esquemas trifilares de proteção diferencial para
diferentes tipos de conexão de transformadores de potência.
Tab. 10.11 – Cargas dos relés diferenciais – GE
Tapes Acionamento Circuito de operação Circuito de restrição
mínimo sem Cargas Impedância Cargas Impedância
restrição VA  VA 
2,9 0,87 3,2 0,128 1,3 0,052
3,2 0,96 2,7 0,108 1,2 0,048
3,5 1,05 2,4 0,096 1,1 0,044
3,8 1,14 2,0 0,080 1,0 0,040
4,2 1,26 1,9 0,076 0,9 0,036
4,6 1,38 1,6 0,064 0,8 0,032
5,0 1,50 1,5 0,060 0,7 0,028
8,7 2,61 0,7 0,028 0,5 0,020

TC

Transformador

RD
TC TC

Carga Carga

      
 
Fig. 10.52 – Transformadores com 3 enrolamentos
Tab. 10.12 – Matriz de relação das derivações

Tapes Tapes disponíveis no relé lado de BT


lado AT 2,9 3,2 3,5 3,8 4,2 4,6 5,0 8,7
2,9 1,000 1,103 1,207 1,310 1,448 1,586 1,724 3,000
3,2 1,000 1,094 1,188 1,313 1,438 1,563 2,719
3,5 1,000 1,086 1,200 1,314 1,429 2,486
3,8 1,000 1,105 1,211 1,316 2,289
4,2 1,000 1,095 1,190 2,071
4,6 1,000 1,087 1,891
5,0 1,000 1,740
8,7 1,000

Transformador
TCP TCS
Ih Ie
Ip Is

BR BR

BO

BR BR

BO
Relé diferencial
BR BR

Ip BO Is

Relé diferencial

Fig. 10.53 – Esquema diferencial: conexão triângulo­estrela

Fig.   10.54   –   Esquema   diferencial:   conexão   estrela   aterrada­triângulo­estrela


aterrada
 

Ie
TCP Transformador TCS
Ih

Ip Is
Transformador
de aterramento

BR BR

BO
BR BR

BO
BR BR

BO Is

Relé diferencial

Fig.   10.55   –   Esquema   diferencial:   conexão   estrela   aterrada­triângulo   com


transformador de aterramento

EXEMPLO DE APLICAÇÃO (1)

Determinar os parâmetros principais dos transformadores de corrente e os ajustes necessários
do relé de corrente diferencial para a proteção de um transformador de potência de 20/26 MVA,
na tensão de 69/13,8 kV, ligado em triângulo no primário e estrela no secundário. As Figs.
10.46 e 10.47 ilustram o diagrama de ligação e as condições em que ocorrem os defeitos. A
corrente de curto­circuito monopolar próxima às buchas secundárias é de 2.100A.
a) Corrente nominal primária do transformador em condição de ventilação máxima
26.000
I np   217,5 A
3  69

b) Corrente nominal secundária do transformador em condição de ventilação máxima
26.000
I ns   1.087,7 A
3  13,8

c) Relações nominais dos TCs (RTC)

 TC do lado primário (ligação Y)
I tcp  I np  217,5 A
 
RTC = 250 ­ 5A = 50

  TC do lado secundário (ligação   )
I tcs  3  I ns  3  1.087,7  1.883,9 A

RTC: 2.000 ­ 5 = 400

d) Corrente nos terminais secundários dos TCs

 TC do lado primário
I tpc 217,5
Ip    4,35 A
RTC 50

 TC do lado secundário
I tcs 1.883,9
Is    4,70 A
RTC 400

e) Erro percentual na relação
Is  I p 4,70  4,35
I   100   100  8,0%
Ip 4,35

f) Relação  I s / I p
Is 4,70
  1,080
I p 4,35

Para   se   calcular   o   tape   do   relé   mais   adequado,   basta   entrar   na   matriz   da   Tab.   10.12,
escolhendo­se a relação mais próxima do valor anteriormente calculado. Dessa forma, o valor
da Tab. é 1,086, que corresponde a ligar o terminal B do relé na derivação 3,8, e o terminal A
na derivação 3,5.
g) Erro percentual da ligação
I b 3,8
  1,085
I a 3,5

1,085  1,080
I   100  0,46%
1,080

h) Ajuste da declividade percentual
O valor médio da corrente que circula pela bobina de retenção vale:
 
4,70  4,35
Im   4,52
2

O valor da corrente diferencial é:
I d  4,70  4,35  0,35 A  (corrente que circula na bobina de operação, BO)

O ajuste da declividade percentual do relé deve ser de:
I 0,35
Ad  d  100   100  7,7%
Im 4,52

O ajuste nominal deve ser feito em 20% no caso de se utilizar um relé cuja característica é
dada   na   Fig.   10.51.   Tratando­se   de   um   defeito   fase­terra   no   enrolamento   secundário   do
transformador, dentro da zona protegida, com uma corrente de intensidade igual a 2.100 A
pode­se constatar a operação do relé, ou seja:
A corrente de defeito refletida para o lado primário vale:
2.100  13.800 / 69.000
I cp   242,4 A
3

I cp 242,4
Ip  
RTC 50

I p  4,84 A (veja esquema da Fig. 10.47)

Is  0

  I d  I p  I s  4,84  0  4,84 A (corrente na bobina de operação)

I p  Is 4,84
Im    2,42 A  (corrente na bobina de retenção)
2 2

I d 4,84
  100  200%  20% (o relé opera)
I m 2,42

Considerando agora que o ponto de defeito para a terra fosse no circuito secundário, fora de
zona protegida, conforme Fig. 10.46, ter­se­ia:
2.100 2.100
Is    5,25 A
RTCs 400

242,4 242,4
Ip    4,84 A
RTCp 50

I d  5,25  4,84  0,41 A  (corrente na bobina de operação)

5,25  4,84
Im   5,0 A  (corrente na bobina de retenção)
2
 
I d 0,41
  100  8,2%  20% (o relé não opera)
Im 5,0

EXEMPLO DE APLICAÇÃO (2)

É dado um transformador trifásico, de dois enrolamentos, com comutador de tapes colocado do
lado de menor tensão. São conhecidos:
Potência,   20MVA;   tensão,   150/42­60   kV;   grupo   de   conexão,   Yd5;   relação   dos   TC,   80/5   A   e
250/5A. Classe de exatidão dos TC, ABNT B2,5 F20 C100.
Pede­se: traçar os esquemas trifilar e vetoriais para um relé tipo DMS, da Brown­ ­Boveri.

SOLUÇÃO

O relé DMS é do tipo diferencial percentual compensado contra a corrente de magnetizaçao,
capaz de proteger contra curto­circuitos em geral, inclusive entre espiras. Opeia entre 20­50
ms.

A solução está  mostrada  na  Fig. 11,10, onde foi  julgado conveniente  o emprego de um  TC


­auxiliar de relação 4,81/2,66.

EXEMPLO DE APLICAÇÃO (3)

É   dado   um   transformador   trifásico   de   dois   enrolamentos,   conectado   em   triângulo­estrela


aterrado (alta e baixa­tensão), que deve ser:
 

Fig. 10.51 – esquema trifilar da proteção diferencial
protegido por um relé diferencial percentual tipo HU, da Westinghouse. Do tr
ansformador conhece­se:
Lado estrela (L­baixa)                       Lado triângulo (H­alta)

                                   

                                   

 (máxima)      (máxima)

Do relé conhece­se

tapes (TH = TL):'2,9;3A3,5;3,8;4(2;4,6;5,0 e 8 ,7A, 

erro de ajuste (mismatch), 15%, sensibilidade, 30%.

Pede­se escolher os ajustes do relé. 
 
SOLUÇÃO

a) Escolha dos TC

As correntes nominais primárias do transformador são.

Logo, as RTC escolhidas serão.

,  .

Escolha dos tapes do relé,

As correntes nos secundários dos TC são:

As correntes nos relés serão:

Então, fixando­se o tape TL = 8,7 A, resulta para TH.

Cálculo do erro de ajuste (mismatch)

Segundo   o   catálogo   do   relé,   tal   erro   deve   ser   inferior   a   15%,   e   é   calculado   pela   fórmula
seguinte:
 
Onde Sé o menor dos dois termos do numerador. Logo,

Os relés diferenciais protegem os geradores elétricos contra  as seguintes anormalidades no
sistema:
 defeitos internos nos geradores, com exceção para defeitos entre espiras;
 defeitos nos condutores primários, dentro da zona de proteção;

 defeitos monopolares em praticamente qualquer ponto do enrolamento do estator.
Os relés diferenciais não garantem a proteção do gerador para as seguintes anormalidades do
sistema:
 defeitos entre as espiras dos enrolamentos;

 rompimento dos enrolamentos do estator originando circuitos abertos;
 defeitos externos à zona de proteção;

 defeitos monopolares entre os enrolamentos e a carcaça, no caso de o sistema não
ser aterrado.
O relé diferencial deve efetuar o disparo do disjuntor principal e do disjuntor de campo do
gerador.   Adicionalmente   o   relé   diferencial   pode   atuar   sobre   o   regulador   de   velocidade   da
turbina e ainda efetuar a operação de alarme sonoro ou visual.
A aplicação de relés diferenciais é mais eficiente no caso de geradores com neutro solidamente
aterrado, pois fica garantida a abertura do disjuntor principal para defeitos monopolares. Se o
gerador   opera   isolado,   o   relé   diferencial   somente   será   eficiente   para   defeitos   tripolares   ou
bipolares com terra.
Recomenda­se a aplicação de proteção diferencial em geradores com os seguintes requisitos:
 geradores com capacidade nominal igual ou superior a 1.000 kVA, independente
da tensão nominal;

 geradores com tensão igual ou superior  a 5.000 V, independente  da capacidade


nominal;

 geradores com tensão igual ou superior a 2.200 V e capacidade nominal superior a
500 kVA.

1.4 – Relés diferenciais digitais
As principais funções de proteção dos relés diferenciais digitais são:
 proteção contra curto­circuito para transformadores de dois e três enrolamentos;

 proteção contra curto­circuito para motores e geradores;
 
 proteção de sobrecarga com característica térmica;

 proteção de sobrecorrente de retaguarda de tempo definido e/ou tempo inverso;
 entradas   binárias   parametrizáveis,   relés   de   alarme   e   disparo,   além   sinalização
através de LEDs;
 medição de corrente operacional;

 relógio de tempo real e indicadores de falha e de operação;
 registro de falha.
Todos os parâmetros de ajuste podem ser introduzidos através do painel frontal com  display
integrado   ou   via   computador   pessoal   sob   o   controle   do   usuário.   Os   parâmetros   são
armazenados em memória não volátil, evitando que sejam deletados durante a ausência da
tensão de alimentação. 
O   automonitoramento   de   falha   do   relé   é   realizado   continuamente   sobre   o  hardware  e   o
software, indicando quaisquer irregularidades dectadas.
Os   relés   diferenciais   digitais   podem   ser   comercializados   em   unidades   monofásicas   ou
trifásicas. A Fig. 10.62 mostra um relé digital trifásico da ABB.

Unidades de fases A, B e C

Fig. 10.62 – Relé diferencial ABB
Na proteção de transformadores, motores e geradores, os relés diferenciais digitais apresentam
as seguintes particularidades:
 

Tem poemsegundos
Tempo emsegundos 1.000
1.000

100
100

10
10
Índices
1
0,9
0,8
0,7
Índices
1
0,6
0,5 1
0,4
1
0,3
0,9
0,8
0,2 0,7
0,6
0,5
0,4
0,1 0,3

0,2

0,1
0,05
0,1
0,1

0,05

0,01 0,01
0,1 0,1
Vezes a corrente ajustada Vezesacorrenteajustada

Fig. 10.63 – Característica inversa     Fig. 10.64 – Característica muito inversa

 proteção   de   retaguarda   através   da   proteção   de   sobrecorrente   temporizada


utilizando   as   características   de   tempo   definido   ou   de   tempo   inverso,   sendo   um
estágio   para   sobrecorrente   (I>)   e   outro   para   corrente   alta   (I>>),   podendo   serem
bloqueadas. As Figs. 10.63 e 10.64 são exemplo das curvas de tempo inverso dos
relés de fabricação Ziv, de procedência espanhola.
 restrição de corrente de inrush;

 restrição adicional para um defeito externo à zona de proteção com saturação do
transformador de corrente (detector de saturação de TC).
Em geral, os relés diferenciais digitais apresentam réplica térmica, avaliando a maior corrente
de   fase   e   comparando­a   com   o   valor   ajustado   no   relé.   O   tempo   de   disparo   durante   uma
condição de sobrecarga deve considerar a carga anterior à sobrecarga, podendo­se selecionar
um alarme antes de atingir a condição de disparo. A curva da Fig. 10.65  é um exemplo de
curva de atuação de réplica térmica para relés diferenciais digitais da Ziv.
 

Fig. 10.65 – Curvas de característica de tempo da unidade térmica
A seguir serão declarados os principais dados para ajuste dos relés Ziv.
a) Entrada de corrente

 valor nominal: 5 ou 1 A;

 capacidade térmica:  4  I n (em regime permanente)

 limite dinâmico:  240  I n ;

 carga do circuito de corrente: < 0,2 VA para  I n  5A e < 0,05 VA para  I n  1 A .

b) Ajuste da proteção

 Unidade diferencial
 habilitação: sim ou não

 valor de tape para os enrolamentos 1, 2 e 3:  (0,5 a 2,5)  I n , em passos de 0,01


A;

 sensibilidade diferencial: 0,5 a 1 A, em passos de 0,01 A;

 declividade: 15 a 50%, em passos de 1%;

 restrição do 20 harmônico: 0,10 a 0,50, em passos de 0,01;

 restrição do 50 harmônico: 0,10 a 0,50, em passos de 0,01;
 
 temporização: 0 a 300 s, em passos de 0,01 s.

 Unidade instantânea
 habilitação: sim ou não;

 partida da unidade: (1 a 10)  tape, em passos de 0,01;

 temporização: 0 a 300 s, em passos de 0,01 s.

 Unidade térmica
 habilitação: sim ou não;

 constante de tempo (com ventilação): 0,5 a 300 min, em passos de 0,01 min;

 constante de tempo (sem ventilação): 0,5 a 300 min, em passos de 0,01 min;

 corrente máxima:  (1 a 1,5)  I n , em passos de 0,01 A;

 nível de alarme: 50 a 100%, em passos de 1%;

 memória térmica: sim ou não.

 Unidade de tempo de neutro sensível
 habilitação: sim ou não.

 partida da unidade:  (0,01 a 0,24)  I ns , em passos de 0,01 A;

 curvas características: tempo fixo e inversa;

 índice de tempo de curva: 0,01 a 1, em passos de 0,01;

 controle de partida: sim ou não; 

 Unidade instantânea de neutro sensível
 habilitação: sim ou não;

 partida da unidade:  (0,05 a 3)  I ns , em passos de 0,01 A;

 temporização: 0 a 100 s, em passos de 0,01 s;

 controle de partida: sim ou não.
 
EXEMPLO DE APLICAÇÃO (4)

Determinar os ajustes de um relé de proteção diferencial digital instalado no transformador de
20 MVA, tensões nominais de 69/13,8 kV, de acordo com a Fig. 10.66. O transformador não tem
sistema de ventilação forçada e é dotado dos seguintes tapes: 67,2 kV –   69 kV – 72,5 kV. O
lado de alta tensão (69 kV) está ligado em estrela e o lado de média tensão (13,80 kV) está
ligado triângulo. Utilizar um relé digital de fabricação Ziv de 5A de corrente nominal. Serão
utilizados transformadores de corrente 10A200. 

Sistema

CS

52

CS

TCp

Y
20 MVA  87 86
69/13,8 KV

TCs
CS

52

CS

Cargas

Fig. 10.66 – Diagrama unifilar simplificado

a) Corrente de nominal
20 MVA
I up  = 167,3 A
3  69kV

a) Determinação dos tapes

 Lado de alta tensão
 Posição do tape médio: 69kV
20 MVA
I ame  =167,3 A
3  69kV
 
 Posição do tape máximo: 72,5kV
20 MVA
I ama   159,2 A
3  72,5kV
 Posição do tape mínimo: 67,2kV
20 MVA
I ami  =171,8 A
3  67,2kV

 Lado de média tensão
20 MVA
Ib   769,8 A
3  15kV
b) Relação de transformação

 Lado de alta tensão
200 A
RTCa   40
5A
 Lado de média tensão
1000 A
RTCb   200 A
5A
c) Correntes vistas pelo relé através do TC de alta tensão

 Posição de tape médio
167,3 A
I arme   4,18 A
40
 Posição de tape máximo
159,2 A
I arma   3,98 A
40
 Posição de tape mínimo
171,8 A
I armi   4,30 A
40
d) Correntes vistas pelo relé através do TC de média tensão
769,8 A
I br   3,85 A
200
Como o secundário do transformador está conectado em triângulo a corrente vista pelo relé
vale:
3,85 A
I br   2,22 A
3
e) Ajuste do tape do relé

 Lado de alta tensão (tape médio)
 
I atap I at 4,18 A
 
In 5A 5A

I atap  0,836  I n

 Lado de média tensão
I atap I bt 2.22 A
 
In 5A 5A

I atap  0,444  I n

f) Corrente diferencial

 Lado de alta tensão
 Posição do tape médio: 69 kV

I ame   4,18 – 4,18 = 0A
 Posição do tape máximo: 72,5 kV

I ama  4,18 – 3,98 = 0,2A
 Posição do tape mínimo: 67,2 kV

I ami = 4,30 – 4,18 = 0,12A

 Lado de média tensão
I b  2,41 – 2,41 = 0A 

g) Erro de ajuste: é a relação entre a corrente diferencial e a corrente vista pelo relé.

 Posição de tape médio
0
E ame   100  0%
4,18

 Posição de tape máximo
0,2
E ame   100  5,025%
3,98

 Posição de tape mínimo
0,12
Eame   100  2,8%
4,30

i) Cálculo da inclinação
Deve­se considerar os erros dos transformadores de correntes, a corrente a vazio e o erro de 
ajuste, ou seja:
 erro dos TCs: 10%
 corrente a vazio: 2%
 
 erro de ajuste: 4,7% (máximo valor)
A soma dos erros vale 16,7%. Recomenda­se ajustar o relé entre 20 a 25%.
j) Sensibilidade
Recomenda­se ajustar a sensibilidade diferencial em 30% do valor do tape do enrolamento de
referência, ou seja:
30%   4,18A = 1,25A
k) Unidade instantânea
Recomenda­se um ajuste de 8 vezes a corrente nominal do tape do enrolamento de referência e
um tempo de 20 ms, ou seja:
I ai  8  4,18  33,4 A     I ai  35 A

l) Restrição do 20 e 50 harmônico
Recomenda­se um ajuste de 20%.
m) Filtro de seqüência zero
Recomenda­se ajustar em sim.
n) Grupo de conexão

 enrolamento 1: conexão em estrela (E);
 enrolamento 2: conexão em triângulo (D);

1.3.1 – Proteção diferencial de geradores síncronos
Os curtos­circuitos trifásicos e bifásicos são considerados os defeitos que mais proporcionam
danos a uma máquina, em função dos altos valores de corrente envolvidos. O fluxo magnético
residual   do   enrolamento  de   campo  faz   com   que,   mesmo  após   o  desligamento  da   excitação,
circulem correntes de falta no enrolamento de armadura.  É necessária, portanto, uma ação
imediata da proteção no sentido de desligar, o quanto antes seja possível, o gerador e o seu
respectivo disjuntor, minimizando, assim, os danos causados pelas correntes de curto­circuito.
As principais condições anormais de operação de um gerador são:
 curto­circuito nos enrolamentos;

 operação em sobrecarga;
 sobreaquecimento dos enrolamentos e mancais;

 perda de sincronismo.
 sobrevelocidade;
 
 operação com correntes desequilibradas;

 perda de excitação;
 motorização do gerador;

A   proteção   principal   contra   curtos­circuitos   trifásicos   e   bifásicos   no   gerador   é   a   proteção


diferencial, que utiliza o princípio da comparação das correntes de cada um dos enrolamentos
no lado do fechamento do neutro e no lado dos terminais de saída da máquina.

TCp TCp TCp

Disjuntor / Chaves
Relé
diferencial

G BO
~

BR
TCs TCs TCs

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