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KANT

O valor moral da ação: A intenção de cumprir o dever, o


facto de ser realizada apenas por dever, independentemente de quaisquer fins, interesses ou
inclinações (como a compaixão) que possamos satisfazer com a ação. - Teoria da obrigação

A ação por dever e ação conforme ao dever:


a 1ª é desinteressada: resulta do por puro
respeito ao dever/ à lei moral;
a 2ª é interesseira: resulta do egoísmo – beneficia o agente – ou
da compaixão.
Exemplo: Um comerciante que não engana os clientes pode agir segundo a máxima
“Devemos ser honestos”, sendo motivado pela honestidade, mas também pode agir segundo a
máxima “Não enganes os outros se não queres perder clientes”, sendo neste caso motivado
pelo interesse pessoal; só no primeiro caso o ato do comerciante tem valor moral.

A Vontade boa: age apenas por respeito à lei moral, desejando o que a razão
determina como boa, contrariando até desejos e inclinações sensíveis (Teoria do valor).

O imperativo moral
Imperativo hipotético ou condicional – a ação é boa para outra coisa “Se queres ser
respeitado, diz a verdade” ; “se não queres ir para a prisão, não deves matar ninguém” –
não matar não é uma ação absolutamente boa, mas condicionalmente boas: são
boas para atingir um fim (ser respeitado, evitar a prisão); se não se desejar o fim, a
ação já não será necessariamente boa.

Imperativo categórico ou incondicional – a ação é boa em si, sem condições; é


formal: não indica ações concretas boas, apenas diz como é que qualquer ação pode
ser moral. “Faças o que fizeres, fá-lo por respeito à lei moral”.

Máxima de ação – princípio ou regra subjacente à ação; corresponde à intenção.

Lei moral – máxima universalizável.

Fórmulas do imperativo categórico: fórmula da universalização (teste da


passagem da máxima a lei moral) e fórmula do fim em si ou da humanidade.
Autonomia – a lei moral é autónoma: resulta da vontade (não é uma lei que se
imponha de fora); a lei moral está dentro do homem: cada um dá a si próprio a lei a
que livremente se submete. O homem é simultaneamente legislador e obedece-lhe
livremente.

Fórmula da universalização – age sempre segundo uma máxima tal que ao mesmo
tempo possas querer, sem contradição, que ela se torne lei universal da natureza.
Fórmula do fim em si – age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua
pessoa como na de qualquer outra, sempre e simultaneamente como um fim e
nunca como um meio.

Os deveres perfeitos - São proibições absolutas e apresentam um respeito total pelos direitos fundamentais das pessoas
(direito à vida, à liberdade, à integridade física e psicológica...); são geralmente formulados na negativa (“Não mates!”,
“Não roubes!”...).

Os deveres imperfeitos - Corresponde a fins louváveis, mas não absolutamente obrigatórios.


Exemplo: ajudar os outros de necessidade, desenvolver os nossos talentos, contribuir para a felicidade pessoal ou dos
outros...
O que faz com que uma ação tenha valor moral?
A moralidade de uma ação está na intenção de cumprir o dever: é originada pela vontade de cumprir o dever,
independentemente de interesses, impulsos, inclinações pessoais ou benefícios ou consequências proveitosas que
a ação possa trazer.

Devemos realizar ações que os outros reconheçam como morais, segundo Kant?

Kant só diz que, se queremos agir moralmente (já que podemos agir imoralmente), então devemos agir apenas por
queremos cumprir o dever, não que devemos fazer estas ou aquelas ações.

O que é agir heteronomamente?


Quando nos guiamos por interesses, desejos ou sentimentos, as nossas ações são heterónomas.

Porque é que a lei moral deve ser autónoma?


Tem que ser uma lei da nossa vontade (não uma lei que se impõe de fora à nossa vontade): se somos
agentes morais, então a lei moral deve estar dentro das nossas capacidades–criamos a lei a que
livremente nos submetemos.

Porque é que a lei moral é formal?


A moral kantiana é formal, não material: não tem conteúdo – ou seja, não dá exemplos de normas, deveres
ou ações boas: só diz como é que as nossas ações terão valor moral. Se indicasse normas, definições ou
exemplos de bem, bastaria observarmos uma ação para sabermos se estava ou não de acordo com a
definição ou exemplo dados e podermos classificá-la como moralmente boa. Mas assim a lei moral não
seria autónoma

Porque é que a lei moral é categórica?


O imperativo não pode ser condicional, porque então só quereríamos realizar a ação por ser boa em
função de um fim, não por ser boa em si – isto é, seria boa apenas como um meio. Por isso, o
imperativo moral ordena sem condições.
Um contraexemplo de Gettier
Smith trabalha num escritório. Ele sabe que alguém será promovido em
breve. O patrão, que é uma pessoa em quem se pode confiar, diz a Smith
que Jones será promovido. Smith acabou de contar as moedas no bolso de
Jones, encontrando aí 10 moedas. Smith tem então boas informações para
acreditar na seguinte proposição:
a) Jones será promovido e Jones tem 10 moedas no bolso. Smith deduz,
então, deste enunciado o seguinte:
b) O homem que será promovido tem 10 moedas no bolso. Suponha-se
agora que Jones não receberá a promoção, embora Smith não o saiba. Em
vez disso, será o próprio Smith a ser promovido. E suponha-se que Smith
também tem dez moedas dentro do bolso. Smith acredita em b, e b é
verdadeira. Gettier afirma também que Smith acredita justificadamente em b,
dado que a deduziu de a. Apesar de a ser falsa, Smith tem excelentes razões
para pensar que é verdadeira. Gettier conclui que Smith tem uma crença
verdadeira justificada em b, mas que Smith não sabe que b é verdadeira.
Contra-exemplo de Bertrand Russell

Contra-exemplo de Bertrand Russell


O relógio do átrio da escola é fiável (no passado, tem dado horas certas sem
falahas). Marcava 8,20h quando entrei; formei a crença justificada de que
eram 8,20h (não trazia relógio). O facto de o relógio da escola ser fiável
justifica a minha crença. Eram de facto 8,20h. Porém, eu não sabia que o
relógio estava avariado; quando eu olhei para ele e vi 8.20h, ele estava
parado. Ou seja, estamos perante uma crença verdadeira e justificada
que não é conhecimento: a justificação não é adequada (falta-me uma
informação relevante).

Que têm os contraexemplos vistos em comum?


Em todos estes casos, o sujeito tem dados para acreditar na proposição em
causa, que são altamente credíveis, mas não infalíveis. O patrão está
geralmente certo sobre quem vai ser promovido, o relógio está geralmente
certo quanto às horas. Mas é claro que geralmente não é sempre. As fontes
da informação que os sujeitos exploraram nestes exemplos são altamente
credíveis, mas não são perfeitamente credíveis. Todas as fontes de
informação eram suscetíveis de erro, pelo menos até certo ponto, visto que
faltava ao sujeito informação relevante: se este a tivesse em seu poder, não
teria feito a inferência que — apesar de ser uma crença verdadeira e
justificada — não constitui conhecimento).

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