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A ÉTICA DEONTOLÓGICA

DE KANT
A ética do dever
O que é a lei moral?
▪ Lei da consciência do ser racional que lhe diz como se cumpre corretamente o dever.

▪ As ações feitas por dever são ações em que o cumprimento do dever


é um fim em si mesmo.

▪ Agimos segundo princípios que se exprimem em máximas - que são adotadas quando
realizamos as nossas ações

▪ o valor moral das ações reside nos motivos e estes revelam-se nas máximas
▪ por isso, para avaliar a ação devemos conhecer a máxima que esteve na sua origem.
subjetivos da ação.
⮚ éMáximas
nelas que se erevelam
açõesos
motivos dos agentes.
⮚ por isso, é decisivo conhecer as
máximas das ações para
podermos concluir se os agentes
têm uma motivação moral ao
realizá-la e, assim, avaliar
moralmente a ação. ▪ Perante uma regra como «Sê
honesto», a vontade respeita-
⮚ A avaliação moral das máximas a sem qualquer outra
baseia-se no imperativo intenção.
categórico.
A questão essencial é esta:
Como cumprir de forma moralmente correta o dever?

▪ Onde encontramos essa resposta?

▪ Numa lei presente na consciência de todos os seres racionais (a


lei moral).
▪ Essa lei diz-nos de forma muito geral o seguinte:
▪ Deves em qualquer circunstância cumprir o dever pelo dever
▪ Normas morais:
▪ “Não deves mentir”; “Não deves roubar”; “Não deves matar”.
▪ A lei moral, segundo Kant, diz-nos como cumprir esses deveres.
Em que consiste o imperativo categórico?

Imperativo categórico: Imperativo hipotético:


▪ Obrigação absoluta e incondicional. ▪ Obrigação condicional - porque a
▪ Exige que a vontade seja exclusivamente realização da ação depende de desejarmos
motivada pela razão, que seja o que com ela podemos obter.
independente em relação a desejos e
interesses particulares. ▪ As ações em conformidade com o dever
são ações que encaram o cumprimento do
▪ Ordena que uma ação seja realizada pelo
seu valor intrínseco, que se queira por ser dever como útil e não um fim em si – o
boa em si e não pelos seus efeitos. seu valor é extrínseco.
▪ Ex: «Diz a verdade!» ▪ Ex: «Se queres ser respeitado, diz a
verdade»
O cumprimento do dever é um imperativo categórico

«Devesser honesto porque a honestidade


compensa» «Deves ser honesto!»
▪ Apresenta-se uma regra e a razão pela ▪ Apresenta-se uma regra cujo cumprimento
qual ela deve ser seguida. não depende de um interesse.

▪ O cumprimento da regra está associado ▪ Diz-nos que devemos ser honestos porque
a uma condição.
esse é o nosso dever e não porque é do
nosso interesse.
▪ Se queres ser compensado deves ser
honesto.
▪ Exige que ultrapassemos os nossos
▪ Ao cumprir o dever, estamos a fazê-lo por interesses e ajamos de forma
interesse. desinteressada.
A fórmula da lei universal (imperativo categórico): como uma máxima se pode
tornar lei universal
Age apenas segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que ela se torne lei universal

▪ Como posso saber que a máxima da minha ação é moralmente correta ou incorreta?

▪ Submetendo-a a uma prova que teste a possibilidade de a universalizar: de a fazer valer não só para
mim, como para todos os seres racionais.

▪ Uma máxima é moralmente aceitável se puder ser universalizada: que possa valer para todos
transformando-se em princípio universal de conduta: «todos devem agir assim»
▪ Textos das pág. 140-142
O imperativo categórico
A fórmula do dever, o «imperativo categórico», manda obedecer à lei, sem
qualquer condição, e implica que a máxima que orienta a conduta possa ser
transformada em lei universal.
Situação:
■ Imagina que recebeste dinheiro inesperado que te permite viver bem e ter tudo o que queres.
■ Passas na rua por um jovem que está a pedir com um cartaz “Por favor, ajude-me! Preciso
de pagar as propinas do meu último ano de curso.”
■ Ponderas dar-lhe algum dinheiro. Porém, pensas: nada lhe tirei e nada lhe invejo, porque hei
de contribuir para o seu bem-estar?
■ Decides, então, continuar o teu caminho e não partilhar algum do teu dinheiro com o jovem.
Poderá esta ação ser moralmente boa?

■ Qual a máxima da ação que orientou a decisão da


vontade?
Poderá esta ação ser moralmente boa?
■ Qual a máxima da ação que orientou a decisão da vontade?

■ “Não devemos preocupar-nos com as dificuldades alheias”

■ Poderá esta máxima tornar-se um princípio universal?


Que ensinamento concreto - para as nossas ações do dia-a-dia -
podemos retirar da primeira fórmula do imperativo categórico?
■ Fundamentalmente este: só devemos praticar as ações que todos os outros podem imitar

■ Os seres humanos têm a capacidade de agir segundo o imperativo


categórico, essa jóia que dentro de nós brilha como um céu estrelado (Kant);

■ Capacidade que envolve o esforço de nos distanciarmos das nossas


inclinações e de nos dispormos a agir por dever.
Síntese final

■ O agente moral é autónomo quando age por dever, ou


seja...

■ Quando a sua máxima passa o teste do imperativo categórico e se


torna regra segundo a qual todos podem agir
■ Kant vai pôr à prova os teus
conhecimentos
■ Por isso, responde…
Qual dos imperativos enunciados abaixo é um
imperativo categórico?

a) «Deves ser honesto se quiseres ficar bem visto perante os vizinhos do teu
bairro.»

b) «Deves ser honesto porque esse é o teu dever!»


Qual dos imperativos enunciados abaixo é um
imperativo categórico?

a) «Deves ser honesto se quiseres ficar bem visto perante os vizinhos do teu
bairro.»
⮚ Esta máxima é um imperativo hipotético: apresenta-se uma regra (deves ser honesto) e a
razão pela qual deve ser seguida (para ficar bem visto pelos vizinhos) – tem a seguinte
forma: “Se A então B” – o cumprimento da regra está associado a uma condição.

«Deves ser honesto porque esse é o teu dever!»


⮚ Ao contrário de a), é um imperativo categórico – estamos perante uma ordem
incondicionada, na medida em que não se submete a qualquer condição para
realizar a ação (devo ser honesto porque é o meu dever ser honesto em todas
as circunstâncias possíveis e não por causa de qualquer interesse).
Alguma das máximas seguintes é um imperativo
categórico?
1. «Não roubes para não defraudares as expectativas de quem em ti confiou.»

2. «Não mintas por melhores que possam ser as consequências desse ato.»

3. «Preenche corretamente a declaração de IRS porque podes ter dinheiro a


receber.»

4. «Quando beberes demasiado não conduzas.»


Alguma das máximas seguintes é um imperativo
categórico?
1. «Não roubes para não defraudares as expectativas de quem em ti confiou.»

2. «Não mintas por melhores que possam ser as consequências desse ato.»

3. «Preenche corretamente a declaração de IRS porque podes ter dinheiro a


receber.»

4. «Quando beberes demasiado não conduzas.»

⮚ As alíneas 2 e 4 correspondem a imperativos categóricos, pois ordenam uma boa


ação pelo seu valor intrínseco.
Considera a seguinte máxima:

«Sempre que não me sentir preparado para um


exame, irei usar cábulas ou copiar»

Pode esta máxima ser universalizada sem


contradição?
«Sempre que não me sentir preparado para um exame,
irei usar cábulas ou copiar»

Pode esta máxima ser universalizada sem contradição?

- Não, porque se essa máxima fosse universalizada,


nenhum teste realizado mereceria confiança por parte
dos avaliadores. Os próprios testes deixariam de ser
objeto de confiança e de nada serviriam as avaliações,
dado que se tornaria generalizada a suspeita.
Considera a seguinte máxima:

«Nunca digas Amo-te a alguém a não ser que


essa pessoa se declare primeiro.»

O que implicaria universalizar m esta máxima?


Considera a seguinte máxima:

«Nunca digas Amo-te a alguém a não


ser que essa pessoa se declare
primeiro.»

O que implicaria universalizar m esta


máxima?

- Que ninguém mais se declararia e que


as declarações de amor acabariam.
TIPOS DE IMPERATIVOS
Imperativo hipotético Imperativo categórico ou da moralidade
Uma ação é boa porque é um meio para Uma ação é boa se, e apenas se, for realizada
conseguir algum fim ou propósito por puro respeito à lei moral, por si mesma.
Assume geralmente a forma «Se queres X, Assume geralmente a forma «Deves fazer X,
então deves fazer Y» sem mais.»
Ordena incondicionalmente, valendo
É condicional, isto é, depende da existência de
independentemente das circunstâncias. É uma lei
determinadas circunstâncias empíricas (que
a priori (anterior e independente de toda e
derivam da experiência).
qualquer experiência).

É particular (vale apenas em determinadas É uma lei universal (válida para todos os seres
condições e para alguns indivíduos) e racionais, quaisquer que sejam as circunstâncias)
contingente (de um ponto de vista lógico, pode e necessária (de um ponto de vista lógico, tem de
ser verdadeiro ou falso) ser verdadeira)
Rege as ações conforme ao dever (legalidade) Rege as ações por dever (moralidade)
É a lei da moralidade, dado o seu caráter
É o enunciado típico das éticas materiais.
exclusivamente formal. A obediência a este
Traduz uma moral heterónoma (imposta a
princípio apodítico (que vale por si mesmo) deriva
partir do exterior).
apenas da autonomia da vontade.

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