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Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho – Filosofia – 10.

º Ano – 2018/2019

A Dimensão ético-política – Análise e compreensão da experiência convivencial.


A necessidade de fundamentação da moral – Análise comparativa de duas
perspetivas filosóficas (Mill e Kant).

2. A ética deontológica de Kant (1724-1804).

Turmas F, G e H (Professora Elisa Matos) 1


Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho – Filosofia – 10.º Ano – 2018/2019

O problema filosófico que vai ser analisado é:


Qual o fundamento da moral?
Perguntar pelo fundamento da moral é procurar saber duas coisas:
1. Qual é o bem último?
2. O que faz uma ação ser correta?

Ética Deontológica de I. Kant


A ética deontológica kantiana responde ao problema da fundamentação da moral da
seguinte forma:
1. O bem último é a boa vontade.

2. O que torna uma ação moralmente correta é o facto de ser executada por uma
boa vontade, isto é, é o facto de esta ter sido motivada pelo cumprimento do
dever.

Boa Vontade

Nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação a não
ser uma só coisa: uma boa vontade.

Argumento da Boa Vontade

Discernimento, argúcia de espírito, capacidade de julgar e como quer que possam


chamar-se os demais talentos do espírito, ou ainda coragem, decisão, constância de
propósito, como qualidades do temperamento, são sem dúvida em muitos respeitos
coisas boas e desejáveis; mas também podem tornar-se extremamente más e
prejudiciais se a vontade, que haja fazer uso destes dons naturais (…) não for boa.

O mesmo acontece com os dons da fortuna. Poder, riqueza, honra, mesmo a saúde,
e todo o bem-estar e contentamento com a sua sorte, sob o nome de felicidade,
dão ânimo que muitas vezes desanda em soberba, se não existir também a boa
vontade que corrija a influência sobre a alma e fundamente todo o princípio de agir
e lhe dê utilidade geral;

(…) Isto sem mencionar o facto de que um espectador razoável e imparcial em face
da prosperidade ininterrupta duma pessoa a quem não adorna nenhum traço duma
pura e boa vontade, nunca poderá sentir satisfação, e assim a boa vontade parece
constituir a condição indispensável do próprio facto de sermos dignos da felicidade.

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Boa Vontade

A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para
alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão-somente pelo querer, isto é, em si
mesma, e, considerada em si mesma, deve ser avaliada em grau muito mais alto do
que tudo o que por seu intermédio possa ser alcançado em proveito de qualquer
inclinação ou mesmo, se se quiser, da soma de todas as inclinações.

Ainda mesmo que for um desfavor especial do destino (…), faltasse totalmente a
esta vontade o poder de fazer vencer as suas intenções, mesmo que nada pudesse
alcançar a despeito dos seus maiores esforços, e só afinal restasse a boa vontade
(…) ela ficaria a brilhar por si mesma como uma joia, como alguma coisa que em si
mesma tem o seu pleno valor. A utilidade ou inutilidade nada podem acrescentar ou
tirar a este valor.

Argumento da Boa Vontade

Para Kant, a única que tem valor intrínseco, isto é, que tem valor por si mesma, e
não em virtude daquilo que por seu intermédio possa ser alcançado, é a boa
vontade.

Segundo Kant, a inteligência, a coragem, a perseverança e outros talentos que


habitualmente consideramos positivos só são bons se a vontade que fizer uso deles
for boa, caso contrário – podem vir a ser muito prejudiciais.

Além disso, a própria felicidade não possui valor intrínseco, pois só pode ser
considerada boa se estiver associada a uma boa vontade, caso contrário, pode, não
só ter uma má influência sobre o nosso comportamento, como também ser
profundamente imerecida.

Boa Vontade

Quando Kant afirma que é em si mesma que ela é boa, quer dizer que aquilo que a
torna boa não é a sua capacidade para alcançar certos fins, mas sim o facto de
querer a coisa certa, ou seja, o facto de querer cumprir o dever por si mesmo e não
por qualquer interesse ou inclinação pessoal (ex: tetraplégico que ao ver uma
criança a afogar-se à sua frente quer salvar a criança por reconhecer que essa seria
a coisa certa a fazer, embora não seja capaz de o fazer).

Argumento da Boa Vontade

(1) Se a boa vontade não é a única coisa com valor intrínseco, então os dons
naturais têm valor intrínseco, ou os dons da fortuna têm valor intrínseco.

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(2) Os dons naturais só têm valor se estiverem associados a uma boa vontade.
(3) Os dons da fortuna só têm valor se estiverem associados a uma boa
vontade.
(4) Se (1) e (2), então nem os dons naturais, nem os dons da fortuna têm valor
intrínseco.
(5) Logo, a boa vontade é a única coisa que tem valor intrínseco.

Avaliação crítica do argumento da boa vontade

Objeção à premissa (1)


A premissa (1) parece supor que, além da boa vontade, os dons naturais e os dons
da fortuna são as únicas alternativas que podem ter valor intrínseco.
Mas alguns autores consideram que existem outras possibilidades, como a beleza, o
conhecimento, etc.
Assim, sendo, a premissa um pode ser encarada como um falso trilema.

Objeção à premissa (3)


A premissa (3) afirma que os dons da fortuna (honra, saúde e felicidade) só têm
valor se estiverem associados a uma boa vontade, mas um uti9litarista como Mill,
poderá defender que a felicidade tem valor intrínseco independentemente do facto
de estar associada a uma boa vontade ou não.
De acordo com esta perspetiva, a infelicidade é sempre intrinsecamente má (ainda
que possa ser instrumentalmente boa). Mesmo a infelicidade de um criminoso na
melhor das hipóteses, terá um valor meramente instrumental, pois pode dissuadir
outras pessoas de forma semelhante.

A Noção de Dever

Para desenvolver, porém, o conceito de boa vontade altamente estimável em si


mesma e sem qualquer intenção ulterior (…), este conceito que está sempre no
cume da apreciação de todo o valor das nossas ações e que constitui a condição de
tudo o resto, vamos encarar o conceito do Dever que contém em si o da boa
vontade (…).

Deixo aqui de parte todas as ações que são logo reconhecidas como contrárias ao
dever, posto possam ser úteis sob este ou aquele aspeto, pois nem sequer se põe a
questão de saber se foram praticadas por dever, visto estarem em contradição com
ele.

Ponho de lado também as ações que são verdadeiramente conformes ao dever,


mas para as quais os homens não sentem imediatamente nenhuma inclinação,
embora as pratiquem porque a isso são levados por outra tendência. Pois é fácil

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então distinguir se a ação conforme ao dever foi praticada por dever ou com
intenção egoísta.

Sustento, todavia, que no caso de uma tal ação, por mais conforme ao dever, por
mais estimável que seja, não há qualquer verdadeiro valor moral, e equivale a
outras inclinações , à ambição, por exemplo, que, se se focalizar por feliz acaso
naquilo que realmente se conforma com o interesse público e o dever, no que é,
por conseguinte, digno de ser honrado, merece louvor e encorajamento, mas não
respeito, pois à sua máxima falta valor moral, isto é, que estas ações se tenham
produzido não por inclinação mas por dever.

O dever é a necessidade de consumar uma ação por respeito para com a lei moral.

Tipos de ações

Kant distingue três tipos de ações e estabelece esta distinção para demonstrar que apenas um
tipo de ações tem valor moral: aquelas que são realizadas por dever.

Ações contrárias ao dever Ações meramente conformes ao Ações por dever


dever
São as que violam o dever, que são São as que cumprem o dever não São as únicas que têm valor moral
impermissíveis ou proibidas (como porque é correto fazê-lo, mas intrínseco, uma vez que são realizadas
por exemplo, roubar, matar, porque daí resulta um benefício por si mesmas, e não por aquilo que
torturar, mentir, quebrar promessas) ou a satisfação de um interesse por seu intermédio possa vir a ser
ou inclinação pessoal (como por alcançado, simplesmente porque
exemplo, não roubar por receio correspondem àquilo que deve ser
de ser apanhado, não mentir por feito, isto é, são motivadas pelo
medo de ser castigado). cumprimento do dever (como por
exemplo, não mentir para cumprir
para cumprir a obrigação moral, não
roubar porque é correto fazê-lo).

Imperativos hipotéticos e categóricos

Kant considera que ao agir é como se estivéssemos a seguir uma máxima, isto é, uma regra ou
princípio que nos manda agir de uma determinada forma. Assim, as máximas traduzem-se em
imperativos que seguimos quando agimos, como por exemplo:

“Não mintas, se não quiseres perder a credibilidade”


Imperativos Hipotéticos
“Não copies no exame, se correres o risco de ser apanhado”

“Ajuda os amigos em necessidade”


Imperativos Categóricos
“Cumpre as tuas promessas”

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Ao agir podemos seguir dois tipos de imperativos:

- Imperativos hipotéticos: Faz x, se queres y!

- Imperativos categóricos: Faz x!

Representam a ação
Ex: A ação é realizada
como subjetivamente
A ação não é tendo em vista um
Não copies. se não contingente, isto é.
Imperativo Hipotético executada/valorizada determinado fim (o que
queres que a tua ficha como aquilo que deve
por si mesma é aquilo que o agente
seja anulada! ser feito no caso de
efetivamente valoriza).
termos certos desejos.

Representam a ação
como objetivamente
Ex: A ação é A ação é realizada sem
necessária, isto é, como
Imperativo Categórico executada/valorizada outra finalidade em vista
Não copies! aquilo que deve ser feito
por si mesma .
independentemente
dos nossos subjetivos.

Existe uma diferença entre os dois primeiros e os dois últimos imperativos.

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Nos dois primeiros casos, a ação (ou omissão mais propriamente) não é executada (ou
valorizada) por si mesma, mas sim tendo em vista um determinado fim (que é aquilo que o
agente efetivamente valoriza).

Nos dois últimos casos, a ação é realizada por si mesma, sem qualquer outra finalidade em
vista.

Aos imperativos do primeiro tipo dá-se o nome de “imperativos hipotéticos”, pois só os


subscrevemos se tivermos adotado certos desejos ou se tivermos certos fins em vista. Aos
imperativos do segundo tipo dá-se o nome de “imperativos categóricos”, pois são
absolutamente incondicionais, isto é, representam a ação como objetivamente necessária e
independentemente do tipo de pessoa que somos, dos desejos que temos ou dos fins que
procuramos alcançar.

A ação prescrita pelos imperativos hipotéticos pode, quando muito, aspirar a ser uma ação
conforme o dever (quando aquilo que é prescrito coincide com o nosso dever), contudo,
apenas os imperativos categóricos podem levar a ações por dever, isto é, ações motivadas
pelo cumprimento do dever e não porque delas resulta um benefício ou a satisfação de um
interesse ou inclinação pessoal.

Imperativo categórico

Uma vez que agir por dever é agir somente em função de imperativos que representam a ação
como objetivamente necessária, independentemente do tipo de pessoa que somos, dos
desejos que temos ou dos fins que procuramos alcançar, Kant considera que este padrão deve
ser o princípio fundamental da moralidade e servir de guia para toda a nossa conduta.

Assim, quando queremos agir corretamente devemos abstrair-nos dos nossos desejos e
inclinações pessoais e perguntar se podemos querer que a máxima subjacente à nossa ação se
converta em lei universal. Em caso afirmativo, a ação pode ser realizada. Em caso negativo, a
ação não deve ser realizada.

Deste modo, o que torna uma ação correta é o facto de esta seguir o imperativo categórico, o
que significa que, para Kant, o imperativo categórico é o único critério válido que devemos
seguir para decidir quando é que uma ação é moralmente correta, apresentando-se como uma
obrigação absoluta. A boa vontade é aquela que adota o imperativo categórico como guia da
sua conduta.

Kant formula este princípio fundamental de toda a moralidade (Imperativo Categórico) nos
seguintes termos:

Primeira fórmula (ou fórmula da lei universal)


Age sempre segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne
lei universal.

A ideia é a que devemos agir apenas de acordo com as regras que podemos querer que
todos os agentes adotem.

De forma mais prática, o teste para determinar a moralidade de uma ação é o seguinte:

1) Que regra (máxima) estamos a seguir se realizarmos esta ação?


2) Estamos dispostos a querer que essa regra (máxima) seja seguida por todos e em

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todas as situações?
Isto não consiste em ver se seria bom ou mau que todos agissem de acordo com uma
determinada regra. Consiste, antes, em tentar perceber:

i) se é possível todos agirem segundo essa regra; e, caso isso seja possível;
ii) se uma vontade pode querer que isso aconteça sem cair forçosamente em
contradição consigo mesma, isto é, se podemos consistentemente querer que
assim seja.

Por exemplo:

A máxima “Faz promessas que não tencionas cumprir” não passa o primeiro requisito, pois
se existisse uma lei universal que fizesse essa recomendação, as pessoas deixariam de
acreditar em promessas e estas deixariam simplesmente de existir.
A máxima “Não ajudes um amigo em necessidade”, embora não colida com o primeiro
requisito, viola o segundo, viola o segundo, pois uma vontade que agisse segundo essa
máxima entraria em contradição consigo mesma, visto que isso não só a impediria de poder
ajudar os amigos, como também a deixaria privada de qualquer hipótese de obter ajuda da
sua parte em caso de necessidade.

Autonomia
Ao caraterizar a ação moralmente correta nestes termos, Kant está a dizer-nos que para agir
moralmente devemos ser autónomos, isto é, não devemos ceder aos impulsos dos nossos
desejos imediatos e das nossas inclinações naturais, mas antes:

1) devemos formular leis que qualquer agente racional estaria na disposição de


aceitar;
2) e de livre e espontânea vontade optar por nos submeter a elas.

A liberdade da vontade é aqui entendida como uma vontade que age segundo leis que esta
formula para si mesma. Daí que Kant tenha apresentado diversas formulações alternativas
do seu imperativo categórico, como por exemplo a fórmula da humanidade e a fórmula da
autonomia.

Segunda fórmula (ou fórmula da humanidade)

Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim em si e nunca simplesmente como
meio.

Terceira fórmula (ou fórmula da autonomia)

Age de tal forma que encares a vontade de todo o ser racional como uma vontade
legisladora universal.

Kant considera que todas estas diferentes formulações têm subjacente uma e a mesma
ideia e, consequentemente, as mesmas implicações práticas. No fundo, aquilo que está
aqui a ser dito é que devemos sempre respeitar as pessoas e a sua racionalidade, o que
implica tratá-las sempre como seres autónomos, capazes de legislar para si mesmos, e não
como meros instrumentos ao serviço de inclinações naturais e interesses pessoais

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imediatos.

O argumento de Kant a favor do imperativo categórico

(1) Ou a máxima subjacente à nossa ação corresponde a um imperativo hipotético ou


corresponde a um imperativo categórico.
(2) Se a máxima subjacente à nossa ação corresponde a um imperativo hipotético, então a
nossa ação não tem valor por si mesma, mas apenas devido ao fim que pretendemos
alcançar por seu intermédio.
(3) Para que a nossa ação tenha valor por si, a máxima subjacente à nossa ação deve
corresponder a um imperativo categórico. (De 1 e 2)
(4) Os imperativos categóricos representam a ação objetivamente necessária.
(5) Logo, para que a nossa ação tenha valor em si, temos de querer representá-la como
objetivamente necessária. (De 3 e 4)

Deveres perfeitos e deveres imperfeitos

De acordo com Kant, os deveres que resultam da adoção do imperativo categórico podem ser
divididos de acordo com dois critérios: 1 – temos deveres para connosco próprios e deveres
para com os outros; 2 – temos deveres perfeitos e imperfeitos.

A primeira distinção é óbvia. A segunda distinção separa deveres perfeitos – que decorrem das
restrições deontológicas e, por conseguinte, estabelecem de uma forma perfeitamente
delineada certas ações como absolutamente proibidas – dos deveres imperfeitos – que
estabelecem certos fins como obrigatórios, isto é, dizem-nos que devemos perseguir certas
coisas, designadamente, o nosso aperfeiçoamento e a felicidade dos outros mas não
especificam de forma clara o que nos é exigido fazer na sua persecução.

A tabela que se segue ilustra a articulação entre estes dois critérios e exemplifica alguns destes
deveres:

Deveres para connosco Deveres para com os outros


Deveres perfeitos Não acabar com a própria vida Não matar
Deveres imperfeitos Desenvolver os nossos talentos Beneficiar os outros

Objeções

O problema da indeterminação

Um dos problemas que a ética kantiana enfrenta é o facto de uma mesma ação poder estar
associada a várias máximas diferentes. Algumas dessas máximas podem levar-nos a classificar
a ação como moralmente correta, outras como moralmente errada. Contudo, na ausência de
um procedimento preciso que permita determinar em cada caso qual dessas máximas motivou
efetivamente a ação, não estaremos nunca em condições de fazer uma avaliação conclusiva da
mesma.

Conflito de deveres

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Kant diz-nos que existem deveres absolutos. Isto significa que nunca é permissível fazer o que
estes deveres proíbem (por exemplo, matar, roubar, mentir, etc.). No entanto, esses deveres
podem entrar em conflito.

Por exemplo: Posso ter de mentir para evitar matar. Contudo, se aceitarmos que esses valores
são absolutos, seremos conduzidos a um conflito irresolúvel, pois não temos nenhuma
maneira de hierarquizar dois deveres absolutos e estabelecer uma prioridade entre eles.

Só se resolveria este problema se admitíssemos a existência de deveres prima facie, isto é,


poder considerar que, embora os nossos deveres nos forneçam razões para agir de uma
determinada maneira, essas razões podem, em certas ocasiões, ser suplantadas por razões
mais fortes para agir no sentido contrário, ou seja, por outros deveres. Por exemplo, à partida,
mentir é errado, mas, em certas circunstâncias excecionais, pode justificar-se fazê-lo.

Além das pessoas

De acordo com a ética Kantiana, uma pessoa 1 é um agente racional, dotado de autonomia e
dignidade, pelo que é nossa obrigação respeitá-la em todas as nossas ações (ética
antropocêntrica). Contudo, os recém-nascidos, os deficientes mentais e alguns animais não
humanos não são pessoas e, no entanto, sentimos que temos obrigações morais para com
eles e que não é permissível trata-los de qualquer forma.

O lugar das emoções

Ao considerar que para agir moralmente temos de nos abstrair de todas as nossas inclinações
e seguir o imperativo ditado pela razão, a ética kantiana parece esvaziar a moralidade de
algumas emoções que lhe estão frequentemente associadas, como a compaixão, a simpatia e
o remorso. Parece inegável que os nossos sentimentos, desejos e emoções também têm um
papel a desempenhar no domínio da moralidade.

1
Pessoa é uma entidade que tem certas capacidades ou atributos como: autoconsciência, a noção de
passado e futuro, consciência da dor e do prazer e a posse de poder deôntico, entre outros.

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