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430 Laurence BonJour & Ann Baker

Concepções deontológicas:
a moralidade depende
de deveres e direitos

Immanuel Kant
O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) foi um dos filósofos mais importantes
e mais influentes de todos os tempos. Kant fez importantes contribuições para a episte-
mologia, a metafísica, a ética, a filosofia da religião, a estética e muitas outras áreas. Sua
preocupação central foi explicar e defender a autoridade e a autonomia da razão, tanto a
razão teórica (que pertence ao conhecimento factual e especialmente ao conhecimento
científico do mundo) quanto à razão prática (que pertence à ação e à moralidade).
Na seleção de textos que segue, da primeira de suas obras éticas mais importantes,
Kant tenta derivar e defender o que ele considera ser o princípio fundamental da morali-
dade: o imperativo categórico. O ponto de partida é a ideia de que a moralidade não deve
depender de qualquer motivo ou fim que podemos compartilhar com outros, mas antes
ser válida para qualquer ser racional. Kant tenta, com efeito, mostrar que esse requeri-
mento pode por si mesmo levar ao princípio da moralidade que ele está procurando. Ele
oferece várias formulações desse princípio, que supõe resultarem na mesma coisa, mas
não é evidente que esse seja realmente o caso.

Fundamentação da Metafísica dos Costumes8

Primeira Seção: Transição do inclusive arrogância, se não há uma von-


conhecimento racional comum tade boa para corrigir a sua influência
dos costumes para o filosófico sobre a mente e sobre os seus princípios
de ação para torná-la universalmente
Nada neste mundo – com efeito conforme ao seu fim. 2 Não seria pre-
nada além dele – pode ser concebido que ciso mencionar que a visão de um ser
1 possa ser chamado bom sem qualificação sem traço algum de uma vontade pura e
exceto uma vontade boa. 1 Inteligência, boa, mas com uma ininterrupta prosperi-
Por “vontade boa”, Kant
entende uma vontade perspicácia, julgamento e outros talentos dade, não poderia ser aprovada por um
que está motivada somente pelas da mente, seja lá como podem ser nome- observador imparcial. Assim, a vontade
exigências do dever moral (não ados, ou coragem, resolução e perseve- boa parece constituir-se numa condição
uma vontade que é benevolente indispensável para sermos dignos de fe-
rança como qualidades do temperamen-
ou generosa, como a frase é mais
comumente usada). to, são sem dúvida bons e desejáveis. Eles licidade.
podem, todavia, tornar-se extremamente Algumas qualidades parecem levar
ruins e danosos se a vontade, que fará a essa vontade boa e podem facilitar a
2 sua ação, mas, apesar disso, elas não pos-
uso desses dons da natureza e que pela
Todas essas coisas podem, sua constituição especial chama-se cará- suem valor intrínseco incondicional. Em
na ausência de uma vonta- ter, não for boa. É a mesma coisa com os vez disso, elas pressupõem uma vontade
de boa, levar a ações e resultados
dons da fortuna. Poder, riqueza, honra e boa, a qual limita a autoestima que se nu-
que são moralmente maus.
até mesmo saúde, bem-estar geral e con- tre por elas e não permite que as consi-
tentamento com a própria condição que é deremos absolutamente boas. Moderação
chamada felicidade tornam-se orgulho e nas emoções e nas paixões, autocontrole

8 Extraído de Foundations of the Metaphysics of Morals, editado por Robert Paul Wolff (New York:

Bobbs-Merrill, 1969).
Filosofia: textos fundamentais comentados 431
e deliberação calma não são apenas boas mesmo que elas sejam úteis sob esse ou
em muitos aspectos, mas parecem consti- aquele aspecto, pois nelas nem sequer se
tuir uma parte do valor íntimo da pessoa. põe a questão de saber se foram pratica-
Porém, conquanto fossem incondicional- das por dever, visto que elas conflitam com
mente estimadas pelos antigos, elas estão ele. Também deixarei de lado as ações
longe de serem boas sem qualificação. que são verdadeiramente conformes ao
Com efeito, sem os princípios de uma dever, mas a que alguém não sente uma
vontade boa, elas podem tornar-se ex- inclinação direta, porém as executa por-
tremamente más, e o sangue-frio de um que é impelido por outras inclinações. É
facínora não só o torna muito mais peri- facilmente decidido se uma ação de acor-
goso, como também o faz imediatamente do com o dever é executada por dever
mais abominável ainda a nossos olhos do ou por algum propósito egoísta. É muito
que o julgaríamos sem isso. 3 mais difícil ver essa diferença quando a 3
A vontade boa não é boa por causa ação está de acordo com o dever e, além Novamente, o ponto é que
de seus efeitos, pelo que promove ou pela disso, o sujeito é levado a realizá-la por os vários traços de caráter
aptidão para alcançar qualquer finalida- inclinação imediata. Por exemplo, está de podem levar a resultados que são
de proposta, mas só pelo próprio querer, acordo com o dever que um comerciante moralmente bons ou maus se
não são acompanhados de uma
isto é, é boa em si mesma. Considerada não suba os preços ao comprador inex- vontade boa.
em si mesma, ela deve ser estimada em periente, e o comerciante prudente não
grau muito mais alto do que tudo o que faz tal coisa, mas tem um preço fixo para
por seu intermédio possa ser alcançado todos; assim, uma criança pode comprar
em proveito de qualquer inclinação ou dele tão barato quanto qualquer outro.
mesmo da soma de todas as inclinações. Dessa forma, o consumidor é servido ho-
Mesmo que acontecesse, por um desfa- nestamente. Todavia, isso está longe de
vor especial do destino ou pelo arranjo ser suficiente para justificar a crença de
avarento de uma natureza madrasta, que que o comerciante agiu desse modo por
faltasse a essa vontade o poder de fazer dever e por princípios de honestidade. A
vencer as suas inclinações, mesmo que sua própria vantagem exigia esse com-
nada pudesse alcançar a despeito dos portamento. Contudo, não se pode pres-
seus maiores esforços e só afinal restasse supor que, para além disso, ele tinha uma
a vontade boa (é claro que não se trata inclinação direta pelo comprador e que,
aqui de um simples desejo, mas do em- por amor dele, por assim dizer, não tenha
prego de todos os meios de que as nossas dado um preço maior do que para outro.
forças disponham), ela ficaria brilhando Portanto, a ação não foi feita por dever
por si mesma como uma joia, como al- nem por inclinação direta, mas só por um
guma coisa que em si mesma tem o seu propósito egoísta. 4 4
pleno valor. A utilidade ou a inutilidade A ação do dono da loja
nada podem acrescentar ou tirar a esse ... conforma-se com as exi-
valor. (...) gências do dever moral (isto é, ele
cumpre o dever exigido), mas a
Temos, então, de desenvolver o Ser caridoso quando se pode é um ação ainda não possui valor moral
conceito de uma vontade altamente es- dever, e, além disso, há muitas pessoas se é praticada devido ao interesse
timável em si mesma e sem relação com constituídas tão compassivamente que, próprio. O dono da loja fez a coisa
qualquer outra coisa. Esse conceito já re- sem qualquer motivo de vaidade ou in- certa pela razão errada.
(Contrariamente ao que a
side no bom senso natural e não precisa teresse, encontram uma satisfação íntima ordem da última sentença
ser ensinado, mas apenas ser esclareci- em espalhar a alegria e podem alegrar-se está sugerindo, Kant não está
do. Esse conceito está sempre presente com o contentamento dos outros que elas dizendo que esse sempre deve ser
no cume da apreciação de todo valor e tornaram possível. Mas digo que tal ação, o caso.)
é a condição de todo o resto. Para mos- por mais conforme ao dever, por amável
trar isso, tomaremos o conceito de dever. que seja, não tem nenhum verdadeiro va-
Ele contém em si o de uma vontade boa, lor moral. Ela vai estar no mesmo nível 5
embora com algumas limitações e obs- [no sentido de as ações originarem-se]
Uma máxima é o
táculos subjetivos. Contudo, esses estão das outras inclinações, tais como a incli- princípio prático que
longe de ocultar e tornar irreconhecível nação à honra que, quando por feliz aca- um agente está subjetivamente
a vontade boa, pois eles apenas ressaltam so está dirigida àquilo que efetivamente seguindo: fazer certo tipo de coisa
e, por contraste, a fazem brilhar com uma é de interesse geral e conforme ao dever, em determinada situação por
algum tipo de razão. Com efeito,
luz mais clara. é por isso honrosa e merece louvor e es- é uma versão generalizada da
Omitirei aqui todas as ações que são tímulo, mas não estima. À sua máxima intenção consciente da pessoa em
reconhecidas como contrárias ao dever, 5 falta o conteúdo moral que ordena praticar a ação.
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que tais ações sejam praticadas não por qualquer valor moral incondicional. Em
inclinação, mas por dever. Todavia, admi- que reside, então, esse valor se ele não
ta que a mente desse filantropo estivesse está na vontade considerada em relação
velada pelo desgosto pessoal, que apaga com o efeito esperado dessas ações? Ele
toda simpatia pela sorte alheia, e que ele não pode estar em nenhum outro lugar
continuasse a ter a possibilidade de fa- senão no princípio da vontade, abstrain-
zer bem aos outros na desgraça, mas que do dos fins que possam ser realizados por
a desgraça alheia não o tocasse porque tal ação. 7 ...
6 estava bastante preocupado com a sua A terceira proposição, como conse-
As pessoas que ajudam própria. E agora suponha que nenhuma quência das duas anteriores, expressarei
ou beneficiam os outros inclinação o estimulasse e que ele saísse da seguinte maneira: dever é a necessida-
porque têm inclinação espontâ- dessa insensibilidade mortal e praticasse de de uma ação por respeito à lei. Posso
nea em direção à compaixão (ou à
benevolência ou à generosidade) a ação por dever e sem qualquer inclina- certamente ter uma inclinação por um
estão, assim como o dono da loja, ção – então, pela primeira vez, a sua ação objeto como efeito de determinada ação,
fazendo o que querem fazer, e não teria valor moral genuíno. Além disso, mas nunca posso ter respeito por ele pre-
agindo por dever. Assim, as suas se a natureza colocou pouca simpatia no cisamente porque é um mero efeito e não
ações, embora sejam dignas de
louvor e encorajamento, não têm coração desse homem e se ele, embora uma atividade da vontade. Do mesmo
valor moral real. A pessoa que é sendo um homem honesto, é por tempe- modo, não posso ter respeito por qual-
digna de estima moral é aquela ramento frio e indiferente ao sofrimento quer inclinação, seja minha, seja de outra
que não tem inclinação ou desejo dos outros, talvez porque está dotado dos pessoa. No primeiro caso, posso no máxi-
de ajudar alguém, que “é por
temperamento fria e indiferente”, talentos especiais da paciência e fortaleza mo aprová-la e, no último caso, posso até
mas que ajuda os outros somente e espera ou até mesmo exige que os ou- mesmo amá-la, isto é, vê-la como favorá-
a partir do dever. (Ver a Questão tros também o tenham – e tal homem por vel aos meus interesses. Porém, aquilo que
para Discussão 1.) certo não seria o mais mesquinho pro- (...) não serve à minha inclinação, mas
duto da natureza –, não encontraria ele tem prevalência sobre ela ou ao menos a
7
dentro de si uma fonte a partir da qual exclui de ser considerada ao fazer a esco-
Kant conclui que o valor pudesse dar a si um valor muito mais lha – em uma palavra, a própria lei – pode
moral deve derivar do prin-
cípio de ação que não depende de
elevado do que o que poderia ter obtido ser um objeto de respeito e, portanto, um
nenhum propósito ou fim em rela- por ter um temperamento de boa índole? mandamento. Ora, na medida em que um
ção ao qual possamos ter alguma Isso é inquestionavelmente verdadeiro, ato do dever exclui totalmente a influência
inclinação. (Isso é muito estranho: mesmo que a natureza não o tenha fei- da inclinação e, com ela, todo objeto da
como é possível que um princípio
tenha qualquer teor definitivo se
to um filantropo, pois é exatamente aqui vontade, nada mais resta que possa deter-
não em relação a algum propósito que o valor do caráter é expresso, que é minar a vontade objetivamente a não ser
ou objetivo?). moralmente e incomparavelmente o mais a lei e nada subjetivamente senão o puro
alto de todos: ele é benevolente não por respeito por essa lei prática. Esse elemen-
8 inclinação, mas por dever. 6 to subjetivo é a máxima de que tenho de
Assim, uma ação obrigató- seguir tal lei mesmo em prejuízo de todas
ria deve derivar do respeito ... as minhas inclinações. 8
pela lei (moral), e não de quais-
quer inclinações específicas que a [Assim, a primeira proposição da ...
pessoa possa ter. (Mais uma vez,
como essa lei moral ou prática moralidade é que, para ter valor moral,
chega a ter qualquer conteúdo uma ação deve ser praticada a partir do Mas que tipo de lei pode ser essa,
específico?) dever]. A segunda proposição é: uma cuja representação deve determinar a
ação praticada por dever não tem seu vontade sem referência ao resultado es-
valor moral no propósito que com ela se perado? Sob essa condição, apenas a
9
quer atingir, mas na máxima que a deter- vontade será chamada absolutamente
Faltando qualquer propósi- mina. Portanto, seu valor moral não de- boa sem qualificação. Visto que despojei
to, o conteúdo da lei moral
pode somente derivar do fato
pende do objeto da ação, mas meramente a vontade de todos os impulsos que pode-
de que ela é considerada uma lei do princípio do querer* a partir do qual a riam advir da obediência a qualquer lei,
universal, uma lei que governa ação é praticada abstraindo de todos os nada permanece para servir de princípio
todos os entes racionais. Assim, objetos da faculdade de desejo. Com base da vontade exceto a conformidade uni-
a exigência moral fundamental
(elaborada mais adiante de
na discussão precedente, fica claro que os versal dessa ação com a lei como tal. Isto
forma mais aprofundada) é que propósitos que temos para nossas ações é, nunca devo agir de tal modo que não
a máxima de minha ação deve e seus efeitos como fins e incentivos da possa querer que minha máxima seja uma
ser capaz de ser uma lei universal vontade não podem atribuir às ações lei universal. 9 A mera conformidade à
que um ente racional possa sus-
lei como tal (sem assumir qualquer lei
tentar. (Não está ainda claro neste
ponto como isso resultará em um particular aplicável a certas ações) serve
­conteúdo definido.) * N. de R.T. No original, principle of volition. como princípio da vontade e deve servir
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como um princípio se o dever não é uma primeiros apresentam a necessidade prá-
vã ilusão e um conceito quimérico. (...) tica de uma ação possível como um meio
de atingir outra coisa que se deseja (ou
que é possível desejar-se). O imperativo
Segunda Seção: Transição da categórico seria aquele que apresenta
Filosofia Moral Popular para uma ação como sendo objetivamente ne-
a Metafísica dos Costumes cessária, sem relação com qualquer outra
finalidade. 12
... Visto que toda a lei prática apresen-
ta uma ação possível como boa e então
Tudo na natureza funciona de acor- como necessária para um sujeito pratica- 10
do com leis. Somente um ser racional mente determinável pela razão, todos os
Ou seja, a vontade é a facul-
tem a capacidade de agir de acordo com imperativos são fórmulas da determina- dade existente em nós de
a representação de leis, isto é, de acor- ção da ação, que é necessária pelo prin- derivar resultados práticos (ações)
do com princípios. Essa capacidade é a cípio de uma vontade que é de qualquer das exigências da razão.

vontade. Visto que a razão é necessária modo boa. Se a ação é boa somente como
para derivar as ações a partir das leis, a um meio para outra coisa, o imperativo é 11
vontade nada é senão razão prática. 10 hipotético; porém, se a ação é represen-
Um imperativo, sendo
Se a razão infalivelmente determina a tada como boa em si mesma e, por con- um mandamento da
vontade, as ações que tal ser reconhece seguinte, como necessária para em uma razão, vale para qualquer ser ra-
como objetivamente necessárias são tam- vontade que é de si mesma conforme à cional. Quando o prazer influencia
razão como sendo o princípio dessa von- a vontade, isso normalmente não
bém subjetivamente necessárias. Ou seja, envolve qualquer mandamento
a vontade é a faculdade de escolher ape- tade, o imperativo é categórico. da razão e deve variar de pessoa
nas o que a razão, independentemente da para pessoa, porque diferentes
inclinação, reconhece como praticamente ... pessoas encontram prazer em
diferentes coisas.
necessário, isto é, como bom. (...)
A concepção de um princípio obje- O imperativo hipotético, portanto,
tivo, à medida que ele obriga uma von- indica somente que a ação é boa para 12
tade, chama-se mandamento (da razão), algum propósito, possível ou real. No
Os imperativos hipo-
e a fórmula de tal comando é chamada primeiro caso, ele é problemático; no téticos dependem de
imperativo. último, ele é um princípio assertórico, desejos reais ou possíveis (inclina-
Todos os imperativos são expressos prático. O imperativo categórico, que de- ções), ao passo que os imperativos
categóricos não dependem. (Dada
por um “dever” e mostram assim a relação clara a ação como objetivamente neces-
a discussão anterior, segue-se que
de uma lei objetiva da razão com a von- sária em si mesma, sem fazer qualquer um imperativo de moralidade
tade, que não é em sua constituição sub- referência ao propósito, isto é, sem ter deve ser categórico em vez de
jetiva necessariamente determinada por qualquer outro fim, vale como princípio hipotético, porque ele não opde
(prático) apodítico. 13 depender de qualquer desejo
essa lei. Essa relação é uma obrigação. Os específico ou inclinação)
imperativos dizem que seria bom praticar Podemos pensar que aquilo que só é
ou deixar de praticar algo, mas dizem a possível pelas forças de um ser racional é
também intenção possível para qualquer 13
uma vontade que nem sempre faz algo só
porque lhe é representado que seria bom vontade e, por isso, são de fato infinita- Um princípio prático
fazê-lo. Bem prático é o que determina a mente numerosos os princípios da ação, “problemático” diz que
enquanto esta é representada como ne- uma pessoa deve praticar alguma
vontade por meio de representações da ação particular se aquela pessoa
razão e, por conseguinte, não por causas cessária para alcançar qualquer intenção tem o propósito ou o fim para o
subjetivas, mas, em vez disso, objetiva- possível de atingir por meio deles. (...) qual aquela ação é de fato um
mente, isto é, por princípios que são vá- Há um fim, todavia, que podemos meio. Um princípio prático “asser-
pressupor como real para todos os seres tórico” diz de uma pessoa que de
lidos para todos os seres racionais. Ele se fato tem um propósito particular
distingue do agradável, pois este só influi racionais na medida em que imperativos ou um fim que ela definitivamente
na vontade por meio da sensação em vir- aplicam-se a eles, isto é, na medida em deve fazer a ação que é um meio
tude de causas puramente subjetivas, que que são seres dependentes. Há um pro- para tal propósito ou fim. (Isso
pósito não só que eles podem ter, mas que admite que há apenas um meio
valem apenas para a sensibilidade deste relevante ou que é claramente
ou daquele, e não como princípio da ra- podemos pressupor que de fato têm como melhor do que qualquer outro.)
zão que é válido para todos. 11 necessidade da natureza. Esse propósito é Um propósito prático “apodítico”
a felicidade. O imperativo hipotético que diz que uma ação (que pode ser a
... nos representa a necessidade prática de “ação” de não fazer alguma coisa
particular) deve necessariamente
uma ação como meio na promoção da fe- ser feita por qualquer ser racional,
Todos os imperativos comandam ou licidade é um imperativo assertórico. Não não importando que propósitos
hipoteticamente ou categoricamente. Os se deve propor apenas como necessário ou fins específicos ele possa ter.
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14 para um propósito incerto e meramente que estão em seu poder. Contudo, infe-
Visto que não há propósitos
possível, mas como necessário para um lizmente, o conceito de felicidade é tão
específicos ou fins em ques- propósito que podemos a priori e com indeterminado que, muito embora toda
tão, um imperativo categórico não segurança assumir para todos, pois per- pessoa deseje alcançá-la, ela nunca pode
diz respeito à relação da ação com tence à sua essência. Ora, a habilidade na afirmar de modo definitivo e em consis-
tal fim. Kant conclui que ele pode
somente dizer respeito à forma
escolha dos meios para atingir o bem-es- tência consigo o que ela realmente quer e
da ação: o tipo geral de ação que tar maior pode ser chamada de prudência deseja. 16 (...)
é. (Mas ainda não está claro nesse no mais estrito sentido. Assim, o impera- Ver como o imperativo da moralida-
ponto o que isso significa.) tivo que se relaciona com a escolha dos de é possível, então, é sem dúvida a única
meios para alcançar a felicidade própria, questão que precisa de uma resposta. Ele
ou seja, o preceito da prudência, é ainda não é hipotético e, por isso, a necessida-
15 somente hipotético; a ação não é abso- de objetivamente concebida não pode ter
lutamente comandada, mas comandada apoio em qualquer pressuposição, como
Não faria sentido querer um
fim sem querer um “meio
apenas como meio para outro fim. era o caso com os imperativos hipotéti-
necessário indispensável”. Então, Por fim, há um imperativo que co- cos. Mas é preciso não perder de vista
qualquer ser racional que quer o manda diretamente uma certa conduta que não se pode demonstrar por qualquer
fim quer também os meios – é o sem fazer de sua condição algum pro- exemplo (isto é, não se pode mostrar
que afirma a “regra da habilidade”
(um princípio problemático).
pósito a ser alcançado através dele. Esse empiricamente) se existe ou não um tal
imperativo é categórico. Ele não diz res- imperativo. (...) Não podemos mostrar,
peito à matéria da ação e aos seus resul- com certeza, por qualquer exemplo, que
tados procurados, mas somente à forma a vontade é determinada somente pela
16
e ao princípio do qual ela deriva. 14 O lei, sem quaisquer outros incentivos, em-
Um ponto análogo vale que é essencialmente bom nela consiste bora assim pareça. Sempre é possível que
para a maioria dos “con-
selhos da prudência” (princípios
na atitude, seja lá qual for o resultado. o receio da vergonha e talvez também a
assertóricos). Porém, para o caso Esse imperativo pode ser chamado de im- obscura apreensão de outros perigos te-
principal cujo fim é a felicidade, a perativo da moralidade. nham influenciado a vontade. Quem é
incerteza relativa tanto à natureza O querer segundo esses três princí- que pode provar pela experiência a não
da felicidade quanto aos meios
exigidos para alcançá-la torna
pios distingue-se também pela diferença existência de uma causa, uma vez que a
possível que um ser racional de obrigação imposta à vontade. Para es- experiência nada mais nos ensina senão
queira o fim e, ainda assim, falhe clarecer essa diferença, creio que o mais que não a descobrimos? Todavia, no caso
em querer os meios – como nós, conveniente seria denominar esses prin- do chamado imperativo moral, que como
lamentavelmente, descobrimos
cípios por sua ordem, dizendo que eles tal parece categórico e incondicional, não
muitas vezes mais tarde.
são ou regras de habilidade, ou conselhos passaria de uma prescrição pragmática
de prudência, ou mandamentos (leis) da que chama a nossa atenção para as van-
moralidade, respectivamente. (...) tagens e apenas nos ensina a tomá-las em
17
A questão que surge agora é a se- consideração. 17
A possibilidade de impera- guinte: como são possíveis todos esses Teremos de investigar, então, pu-
tivos categóricos não pode imperativos? Essa questão não requer ramente a priori a possibilidade de um
ser estabelecida empiricamente
citando-se casos reais de ações
uma resposta relativa a como pode ser imperativo categórico, pois não temos
nas quais não há fim específico ou pensada a execução de uma ação orde- aqui a vantagem que a experiência pode
propósito, visto que sempre é pos- nada pelo imperativo, mas sim como oferecer-nos da realidade desse imperati-
sível que haja algum fim (como pode ser pensada a obrigação da vonta- vo, tal que [a demonstração] de sua pos-
o medo da desgraça) do qual o
agente está inconsciente.
de que o imperativo exprime na tarefa a sibilidade seria necessária somente para
cumprir. Não é necessária uma discussão a sua explicação, e não para o seu esta-
sobre como é possível um imperativo de belecimento. Enquanto isso, ao menos
habilidade. Quem quer o fim, na medida podemos provisoriamente ver o seguinte:
em que a razão tem influência decisiva o imperativo categórico tem o caráter de
sobre suas ações, quer também os meios uma lei prática, enquanto todos os outros
necessários indispensáveis que estão em podem ser chamados princípios da von-
seu poder. 15 (...) tade, mas não de leis. Isto é assim porque
Se fosse igualmente fácil oferecer o que é necessário meramente para a ob-
um conceito determinado de felicidade, tenção de um propósito arbitrário pode
os imperativos de prudência correspon- ser visto como sendo contingente. Pode-
deriam completamente aos da habilida- mos em qualquer momento livrar-nos da
de. (...) Seria possível dizer, nesse caso prescrição renunciando à intenção, ao
como no anterior, que quem quer o fim passo que o mandamento incondicional
quer também (necessariamente de acor- não deixa à vontade a liberdade de esco-
do com a razão) os únicos meios para isso lha relativamente ao contrário do que or-
Filosofia: textos fundamentais comentados 435
dena. Só ele tem em si, portanto, aquela Vamos agora enumerar alguns de- 18
necessidade que é exigida de uma lei. veres, adotando a divisão usual deles em Aqui está a ideia principal,
deveres para consigo mesmo e deveres já abordada anteriormente
... para com os outros e em deveres perfei- (ver a Anotação 9 e a passagem
tos e imperfeitos. 20 correspondente): a própria ideia
de um imperativo categórico,
Ao enfrentarmos esse problema, aquele que não deriva de qual-
investigaremos primeiramente se o mero 1. Um homem que é reduzido ao deses- quer fim ou propósito, também
conceito de um imperativo categórico pero por uma série de males sente um determinará (de algum modo) o
não fornece também a fórmula que con- aborrecimento com a vida, mas ainda conteúdo desse imperativo.
tém a proposição que só por si seja um está suficientemente de posse da sua
imperativo categórico. 18 (...) razão para perguntar se não seria con-
Se penso em um imperativo hipoté- trário ao seu dever para consigo tirar a 19
tico como tal, não sei de antemão o que própria vida. Então, ele pergunta se a De acordo com a ideia de
ele poderá conter até que a condição seja máxima da sua ação poderia tornar-se um imperativo categórico,
enunciada [sob a qual é um imperativo]. uma lei universal da natureza. A sua a máxima de uma ação deve
conformar-se com a lei univer-
No entanto, se penso em um imperativo máxima, contudo, é a seguinte: por sal, válida para todos os seres
categórico, penso imediatamente no que amor a mim mesmo, torno meu prin- racionais. Como não há base para
ele contém. Ora, não contendo o impe- cípio encurtar a minha vida, quando, um conteúdo mais específico,
rativo, além da lei, senão a necessidade por uma duração mais longa, ela ame- o imperativo categórico pode
dizer somente que a máxima da
de que a máxima9 deveria concordar com aça com mais males do que satisfação. ação de alguém deve ser tal que
essa lei, embora a lei não contenha ne- Porém, é questionável se esse princí- torne isso possível: algo que pode
nhuma condição que a limite, nada mais pio de amor-próprio poderia tornar-se ser uma lei universal e pode ser
resta senão a universalidade de uma lei uma lei universal da natureza. Vê-se desejado pelo agente como tendo
esse estatuto. Essa é a primeira
em geral à qual a máxima da ação deve imediatamente uma contradição em formulação de Kant acerca do
ser conforme. Com efeito, essa conformi- um sistema da natureza cuja lei se- imperativo categórico.
dade só o imperativo categórico represen- ria destruir a vida pelo sentimento
ta-nos propriamente como necessária. cujo encargo especial é o de impelir
Há, portanto, somente um impe- a melhoria da vida. Nesse caso, ele 20
rativo categórico. É este: age apenas se- não existiria como natureza; portanto,
Um dever perfeito é
gundo aquela máxima pela qual possas aquela máxima não pode estabelecer- aquele que exige estri-
ao mesmo tempo querer que ela se torne se como uma lei da natureza e, assim, tamente certas ações específicas,
uma lei universal. 19 ela contradiz totalmente o princípio sem que haja nenhuma escolha
ou liberdade. Um dever imperfeito
supremo de todo dever. 21
é aquele que pode ser cumprido
... 2. Um outro homem vê-se forçado pela de modos diferentes, entre os
necessidade a tomar dinheiro em- quais o agente pode escolher, e
A universalidade da lei de acordo prestado. Ele bem sabe que não será assim nenhum é exigido estrita-
mente.
com os efeitos produzidos constitui aqui- capaz de restituí-lo, mas também vê
lo que se chama propriamente de natu- que nada lhe será emprestado se ele
reza em seu sentido mais geral (quanto não prometer firmemente devolvê-lo
em determinado momento. Ele deseja 21
à forma), isto é, a existência de coisas
à medida que são determinadas por leis fazer tal promessa, mas tem consciên­ pare A alegação de Kant é de
universais. [Por analogia], então, o im- cia o bastante para perguntar a si que a máxima dessa ação
proposta não poderia ser uma lei
perativo universal do dever pode ser ex- mesmo se não é impróprio e oposto universal, porque ela é contradi-
presso da seguinte maneira: age como ao dever aliviar-se de suas angústias tória quando é tornada uma lei
se a máxima da tua ação fosse pela tua dessa maneira. Então, supondo que universal. Você consegue ver uma
vontade tornar-se uma lei universal da ele de fato decide agir dessa maneira, clara contradição? (Ver a Questão
para Discussão 2.)
natureza. a máxima da sua ação seria tal como
segue: quando creio estar em neces-
sidade de dinheiro, tomarei dinheiro
9 Uma máxima é um princípio subjetivo de ação e
emprestado e prometerei devolvê-lo,
deve ser distinguida do princípio objetivo, isto é, embora saiba que jamais farei isso.
da lei prática. O primeiro contém a regra prática Agora, esse princípio de amor-próprio
que a razão determina em conformidade com as ou do seu próprio benefício pode mui-
condições do sujeito (muitas vezes a sua ignorân- to bem ser compatível com todo o seu
cia ou suas inclinações) e é, portanto, o princí- bem-estar futuro, mas a questão é se
pio segundo o qual o sujeito age. A lei, por outro
lado, é o princípio objetivo, válido para todo ser ele é correto. Ele muda a pretensão de
racional, princípio segundo o qual ele deveria amor-próprio em uma lei universal e
agir, ou seja, um imperativo. coloca então a pergunta: como seria se
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22 a minha máxima se tornasse uma lei a sua assistência em tempos de neces-


universal? Ele vê imediatamente que sidade, eu não tenho nenhum desejo
pare Aqui, mais uma vez, a ale-
gação é de que a máxima ela jamais poderia valer como uma de contribuir”. Se tal modo de pensar
da ação torna-se contraditória lei universal da natureza e ser con- fosse uma lei universal da natureza,
quando tornada universal. Esse sistente consigo mesma; ao contrário, certamente a raça humana poderia
é um caso mais plausível no
sentido de que há um modo em
ela deve necessariamente contradizer existir, e sem dúvida até mesmo me-
que a máxima universalizada seria a si mesma. Ora, a universalidade de lhor do que em um estado no qual to-
(provavelmente?) autorrefutadora. uma lei que afirma que qualquer um dos falam de simpatia e boa vontade,
Mas ela é realmente contraditória? que crê a si mesmo como estando em e até se esforçam em ocasionalmente
(Ver a Questão para Discussão 2.)
necessidade poderia prometer o que praticá-las, embora, por outro lado,
bem quisesse torna impossíveis a pró- trapaceiam quando podem, traem ou
23 pria promessa e o fim a ser realizado violam os direitos do homem. Embora
O problema alegado é dife- por ela; ninguém acreditaria no que seja possível que uma lei universal da
rente nesse caso: a máxima lhe foi prometido, mas apenas darias natureza possa existir de acordo com
pode ser tornada universal sem risadas diante de qualquer asserção aquela máxima, é impossível querer
contradição, mas (assim é alega- desse tipo como vã pretensão. 22 que tal princípio tenha validade em
do) a pessoa não pode querer que
essa máxima universalizada seja 3. Um terceiro encontra em si mesmo todos os lugares como uma lei da na-
uma lei, porque qualquer ente um talento que poderia, por meio de tureza. Uma vontade que tivesse essa
racional necessariamente quer algum cultivo, torná-lo em muitos as- resolução estaria em conflito consigo
alguma coisa que a contradiz (de pectos um homem de utilidade. No mesma, uma vez que, com frequência,
modo que o problema ainda é
a contradição, mas dessa vez no entanto, ele se encontra em circuns- podem surgir exemplos nos quais ele
âmbito da própria vontade, e não tâncias confortáveis e prefere indul- precisaria do amor e da simpatia dos
da máxima universalizada). gência em prazeres a incomodar-se outros e em que ele se teria furtado,
(Há qualquer razão clara com a ampliação e a melhoria dos por tal lei da natureza surgindo da
por que um ente racional
deva querer que todas as suas
seus dons naturais afortunados. Ago- sua própria vontade, de toda esperan-
faculdades sejam desenvolvidas – ra, deixemos que ele se pergunte se ça de ajuda que ele desejasse. 24
com efeito, isso sequer é possível? a sua máxima de negligenciar os seus
Ver a Questão para Discussão 3.) dons, além de concordar com a sua Os deveres precedentes são um pe-
propensão a entretenimentos ociosos, queno número dos muitos deveres reais,
também concorda com o que é cha- ou pelo menos dos deveres que acredita-
24 mado de dever. Ele vê que um sistema mos serem reais, cuja derivação a partir
de natureza poderia de fato existir de daquele princípio afirmado é clara. De-
pare O segundo caso de um
alegado conflito no âmbito acordo com tal lei, muito embora o vemos ser capazes de querer que uma
da própria vontade é novamente homem (como os habitantes das Ilhas máxima da nossa ação torne-se uma lei
mais plausível. Mas é realmente dos Mares do Sul) devesse deixar que universal; esse é, em geral, o cânone da
verdadeiro que alguém poderia
deixar de querer que fosse ajuda- os seus talentos enferrujassem e resol- estimação moral da nossa ação. Algumas
do quando em necessidade? (Ver ver dedicar a sua vida meramente à ações são de tal natureza que a sua má-
a Questão para Discussão 3.) ociosidade, à indulgência e à propaga- xima não pode sequer ser pensada como
ção – em resumo, ao prazer. Todavia, uma lei universal da natureza sem con-
não é possível que ele possa querer tradição, longe de ser possível que al-
25 que isso se torne uma lei universal da guém pudesse querer que ela fosse tal.
natureza ou que isso seja implantado Em outras, essa impossibilidade interna
Kant resume os dois modos
em que o imperativo em nós por um instinto natural. Como não é encontrada, embora ainda seja im-
categórico pode falhar em ser sa- um ente racional, ele necessariamen- possível querer que a sua máxima seja
tisfeito pela máxima de uma ação. te quer que todas as suas faculdades erguida à universalidade de uma lei da
O primeiro corresponde a deveres
desenvolvam-se, na medida em que natureza, porque tal vontade contradi-
perfeitos, e o segundo a deveres
imperfeitos: na concepção de elas lhe são dadas para todos os tipos ria a si mesma. Vemos facilmente que a
Kant, jamais se pode cometer de propósitos possíveis. 23 primeira máxima entra em conflito com
suicídio em face ao infortúnio 4. Um quarto homem, para quem as coi- o dever mais estrito e mais estreito (im-
ou fazer uma promessa mesmo
sas estão indo bem, vê que outros (a prescritível), enquanto a última entra em
sabendo que não se será capaz
de mantê-la; contudo, alguém quem ele poderia ajudar) têm de lu- conflito com o dever mais amplo (meri-
tem a escolha de quais talentos tar com grandes esforços e pergunta: tório). 25 Portanto, todos os deveres, até
desenvolver (ele agora parece re- “Que tenho eu a ver com isso? Que onde o tipo de obrigação (não o objeto da
conhecer que nem todos podem cada um seja tão feliz como os céus ação deles) está em questão, foram com-
ser plenamente desenvolvidos) e
de quais pessoas ajudar (ninguém o permitirem, ou como conseguir fa- pletamente exibidos por esses exemplos
pode ajudar a todos). zer por si mesmo; eu não tirarei dele em sua dependência daquele princípio.
coisa qualquer ou mesmo o invejarei; Quando observamos a nós mesmos
porém, para o seu bem-estar ou para em qualquer transgressão de um dever,
Filosofia: textos fundamentais comentados 437
descobrimos que não queremos em reali- fins subjetivos; eles são materiais quando
dade que a nossa máxima deva tornar-se têm fins subjetivos e, assim, certos estí-
uma lei universal. Isso nos é impossível; mulos como a sua base. Os fins que um
antes, o contrário dessa máxima deve- ente racional propõe arbitrariamente a si
ria permanecer como uma lei em geral, mesmo como consequências da sua ação
e apenas tomamos a liberdade de fazer são fins materiais e são sem exceção ape-
uma exceção a ela para nós mesmos, ou nas relativos, pois somente a relação de-
por causa da nossa inclinação, e para essa les com uma faculdade de desejo consti-
ocasião específica. Consequentemente, se tuída particularmente no sujeito dá a eles
pesássemos todas as coisas a partir de um o seu valor. E esse valor não pode, por-
e do mesmo ponto de vista, a saber, a ra- tanto, proporcionar quaisquer princípios
zão, chegaríamos a uma contradição em universais para todos os entes racionais
nossa própria vontade, ou seja, que um ou princípios válidos e necessários para
certo princípio é objetivamente necessá- todas as volições. Isto é, eles não podem
rio como uma lei universal e, contudo, dar vez a quaisquer leis práticas. Todos
subjetivamente não é válido universal- esses fins relativos, portanto, são motivos
mente, mas, em vez disso, admite exce- para imperativos hipotéticos somente.
ções. (...) No entanto, suponha que existisse
Estabelecemos assim, portanto, alguma coisa cuja existência em si mesma
pelo menos que, se o dever é um conceito tivesse valor absoluto, alguma coisa que,
que deve ter importância e legislação real como um fim em si mesmo, pudesse ser
para as nossas ações, ele deve ser expres- um fundamento de leis definitivas. Nela
26
so somente em imperativos categóricos, e somente nela poderia residir o funda-
e não em imperativos hipotéticos. Para mento de um imperativo categórico pos- A razão para a incerte-
za expressa aqui não é
todas as aplicações dele, também exibi- sível, isto é, de uma lei prática. 27 inteiramente clara. A ideia parece
mos claramente o conteúdo do imperati- Agora, eu digo, o homem e, em ser a de que o ponto último da
vo categórico que deve conter o princípio geral, todo ente racional existem como lei moral ainda não está clara.
de todo dever (se houver tal dever). Isso um fim em si mesmos e não meramente Propósitos ou fins específicos, op-
cionais, foram excluídos, mas Kant
é em si muita coisa. Contudo, ainda não como um meio para ser usado arbitraria- sugerirá que há um determinado
avançamos longe o suficiente para pro- mente por essa ou por aquela vontade. fim incondicional que qualquer
var a priori que aquele tipo de imperativo Em todas as suas ações, não importa se ente racional deve ter.
realmente existe, que há uma lei prática elas são direcionadas a si mesmo ou a ou-
que de si mesma comanda absolutamen- tros entes racionais, ele sempre deve ser 27
te e sem quaisquer incentivos e que a considerado ao mesmo tempo como um
Pense novamente sobre
obediên­cia a essa lei é um dever. 26 fim. Todos os objetos das inclinações têm a ideia de um imperativo
somente um valor condicional, já que, se categórico: um imperativo que é
... as inclinações e as necessidades encon- obrigatório a qualquer ente racio-
tradas neles não existissem, o objeto de- nal, não importa que propósitos
específicos ele possa ter ou não.
A vontade é pensada como uma fa- las não teria valor. Contudo, as próprias Um fim que tivesse valor absoluto
culdade de determinar a si mesma à ação inclinações como as fontes de necessida- funcionaria como tal imperativo;
de acordo com a concepção de certas leis. des são tão carentes de valor absoluto e, assim Kant está dizendo, somen-
Tal faculdade pode ser encontrada ape- que o desejo de todo ente racional deve te um fim com tal valor poderia
oferecer essa base. No que segue,
nas em entes racionais. Aquilo que ser- ser realmente o de libertar-se comple- Kant proclama (há algum argu-
ve à vontade como o motivo objetivo da tamente delas. 28 Portanto, o valor de mento real?) que entes racionais
sua autodeterminação é um fim e, se ele quaisquer objetos a serem obtidos pelas são eles mesmos fins com valor
é dado somente pela razão, ele deve va- nossas ações é, em todas as vezes, condi- absoluto em oposição a um valor
meramente condicional.
ler do mesmo modo para todos os entes cional. Entes cuja existência não depende
racionais. Por outro lado, aquilo que con- da nossa vontade, mas da natureza, se
tém o motivo da possibilidade da ação, não são entes racionais, têm somente um 28
cujo resultado é um fim, é chamado de valor relativo como meio e são, por isso, pare Essa alegação reflete o
meio. O motivo subjetivo de desejo é o chamados de “coisas”; por outro lado, caráter realmente austero
do pensamento moral de Kant: se-
estímulo, enquanto o motivo objetivo da entes racionais são designados de “pesso-
gundo ele, um ente racional dese-
volição é o motivo. Assim, pois, surge a as” porque a sua natureza indica que eles jaria não ter quaisquer inclinações
distinção entre fins subjetivos, que repou- são fins em si mesmos, isto é, coisas que contingentes – quaisquer desejos
sam em estímulos, e fins objetivos, que não podem ser usadas meramente como por qualquer coisa que não tenha
valor absoluto. Como seria a vida
dependem de motivos válidos para todo meios. Tal ente é, pois, um objeto de res-
para tal ente? (Quantos, se é que
ente racional. Os princípios práticos são peito e, até esse ponto, restringe toda es- algum, dos seus desejos presentes
formais quando desconsideram todos os colha [arbitrária]. Tais entes não são me- satisfariam esse padrão?)
438 Laurence BonJour & Ann Baker

29 ramente fins subjetivos cuja existência, Portanto, não posso dispor do homem em
A existência de um ente
como um resultado da nossa ação, tem minha própria pessoa de modo a mutilá-
racional é um fim em si um valor para nós, mas são fins objetivos, -lo, corrompê-lo ou matá-lo. 31 (Perten-
mesmo. É, pois, um engano fun- ou seja, entes cuja existência em si mes- ce à ética propriamente definir de forma
damental considerar ou tratar tal ma é um fim. Tal fim é um fim para o qual mais acurada esse princípio básico, de
ente como meramente um meio
para alguma outra coisa (que só
nenhum outro fim pode ser substituído, maneira a evitar todo mal-entendimento,
poderia ser alguma coisa com para o qual esses entes serviriam mera- por exemplo, quanto à amputação de
valor meramente contingente, mente como meios. 29 Sem eles, nada de membros no intuito de preservar a mim
condicional). valor absoluto poderia ser encontrado e, mesmo, ou de expor a minha vida ao pe-
se todo valor é condicional e contingente, rigo no intuito de salvá-la; devo, portan-
30 não poderia ser encontrado em nenhum to, omiti-los aqui.)
lugar nenhum princípio prático supremo Em segundo lugar, no que concerne
Aqui está a segunda
formulação do imperativo para a razão. aos deveres necessários ou obrigatórios
categórico, supostamente apenas Assim, se deve haver um princípio para com os outros, aquele que tem em
uma outra formulação da mesma prático supremo e um imperativo cate- vista uma promessa enganosa a outros
lei moral universal. É importante górico para a vontade humana, ele deve vê imediatamente que ele tem a intenção
enfatizar que as pessoas jamais
devem ser tratadas “somente ser tal que forme um princípio objetivo de fazer uso de outro homem meramente
como um meio”, isto é, jamais me- da vontade a partir da concepção daquilo como um meio, sem que o último conte-
ramente como um meio – não que que é necessariamente um fim para todos nha ao mesmo tempo o fim em si mesmo.
elas jamais possam ser tratadas porque é um fim em si mesmo. Portanto, Ora, aquele a quem eu quero usar para
em qualquer aspecto como um
meio (o que faria da maior parte esse princípio objetivo pode servir como os meus próprios propósitos por meio de
das formas de interação humana uma lei prática universal. O fundamento tal promessa não pode possivelmente as-
impossíveis). desse princípio é o seguinte: a natureza sentir ao meu modo de agir contra si e
racional existe como um fim em si mes- não pode conter nele mesmo o fim dessa
31 mo. O homem necessariamente pensa a ação. Esse conflito contra os princípios de
sua existência dessa maneira; até aqui, outros homens fica até mesmo mais cla-
À primeira vista, essa é
uma razão diferente para a
trata-se de um princípio subjetivo das ro se citamos exemplos de ataques à sua
inaceitabilidade moral do suicídio ações humanas. Portanto, qualquer outro liberdade e propriedade. Nesses casos, é
em face do infortúnio: ela trata ente racional pensa a sua existência por claro que aquele que transgride os direi-
uma pessoa (a pessoa que comete meio do mesmo princípio racional que tos dos homens tem a intenção de fazer
o suicídio) como um meio para o
fim de escapar do infortúnio em
tem validade também para mim mesmo; uso das pessoas de outros meramente
questão. (Mas isso é realmente então, ele é ao mesmo tempo um princípio como meio, sem considerar que, como
assim? Ver a Questão para Discus- objetivo a partir do qual, como um funda- entes racionais, elas devem sempre ser
são 4.) mento prático supremo, deve ser possível estimadas ao mesmo tempo como fins, ou
derivar todas as leis da vontade. O impe- seja, apenas como entes que devem ser
32
rativo prático, portanto, é o seguinte: age capazes de conter em si mesmos o fim da
de tal modo que trates a humanidade, na mesmíssima ação. 32
Esse é o exemplo mais claro tua própria pessoa ou naquela de outra Em terceiro lugar, no que diz respei-
da aplicação da segunda
versão do imperativo categórico pessoa, sempre como um fim e nunca so- to ao dever contingente (meritório) para
– e provavelmente o melhor e o mente como um meio. 30 Vejamos agora consigo mesmo, não é suficiente que a
mais claro de todos os exemplos se isso pode ser atingido. ação não entre em conflito com a humani-
específicos de Kant. Para retornar aos nossos exemplos dade na nossa pessoa como um fim em si
anteriores: mesmo; deve também estar em harmonia
33
Em primeiro lugar, de acordo com o com ela. Na humanidade, há capacidades
conceito de dever necessário para consigo para maior perfeição que pertencem ao
pare Quão claro é o raciocínio de mesmo, aquele que contempla o suicídio fim da natureza com relação à humanida-
Kant nesse caso? Por que
tratar a sua própria humanidade perguntará a si mesmo se a sua ação pode de em nossa própria pessoa; negligenciar
como um fim em si mesmo requer ser consistente com a ideia da humani- essas capacidades poderia, talvez, ser
desenvolver os próprios talentos? dade como um fim em si mesmo. Se, no consistente com a preservação da huma-
(Ver a Questão para Discussão 5.) intuito de escapar de circunstâncias afliti- nidade como um fim em si mesmo, mas
vas, ele destrói a si mesmo, ele faz uso de não com a promoção daquele fim. 33
uma pessoa meramente como um meio Em quarto lugar, com relação ao
para manter uma condição tolerável até dever meritório para com outros, o fim
o fim da vida. O homem, contudo, não natural que todos os homens têm é a sua
é uma coisa e, assim, não é uma coisa a própria felicidade. Com efeito, a huma-
ser usada meramente como um meio; ele nidade poderia existir se ninguém con-
deve sempre ser considerado, em todas tribuísse para a felicidade dos outros,
as suas ações, como um fim em si mesmo. considerando que não depreciasse inten-
Filosofia: textos fundamentais comentados 439
cionalmene essa felicidade; porém, essa tante frutífero, a saber, o conceito de um
harmonia com a humanidade como um reino dos fins.
fim em si mesmo é só negativa em vez Por “reino” entendo a união sistemá-
de positiva se todos não fazem também a tica de diferentes entes racionais através
tentativa, até o ponto em que podem, de de leis comuns. Como as leis determinam
promover os fins alheios. Os fins de qual- os fins com relação à sua validade univer-
quer pessoa, que é um fim em si mesma, sal, se abstraímos da diferença pessoal dos
devem ser tanto quanto possível também entes racionais e, por conseguinte, de todo
o meu fim se aquela concepção de fim em conteúdo dos seus fins privados, podemos
si mesmo deve ter o seu pleno efeito so- pensar em uma totalidade de todos os fins
bre mim. 34 em conexão sistemática, uma totalidade 34
de entes racionais como fins em si mes-
Por que o fato (supondo
... mos, bem como nos fins particulares que que é um fato) de que
cada um pode estabelecer para si mesmo. uma outra pessoa é um fim em
Se agora olhamos para trás, para Esse é o reino dos fins, que é possível se- si mesma significa que os seus
todas as tentativas anteriores que jamais gundo os princípios anteriormente men- fins também devem ser os meus
fins? Portanto, quão forte é essa
foram feitas, no intuito de descobrir o cionados. Ora, todos os entes racionais
exigência? (Ver a Questão para
princípio da moralidade, não devemos encontram-se sob a lei de que cada um de- Discussão 6.)
admirar-nos do fato de que todas tinham les deveria tratar a si mesmo e a todos os
de fracassar. O homem era visto como es- outros jamais meramente como um meio,
tando ligado a leis pelo seu dever, mas não mas em todos os casos também como um 35
era visto como estando sujeito somente à fim em si mesmo. Assim, surge uma união Esse é um modo diferente
sua própria legislação, embora fosse uni- sistemática de entes racionais através de de estabelecer o ponto de
versal, e que está apenas obrigado a agir leis objetivas comuns. Esse é um reino que que apenas uma lei moral que
surge da vontade de um ente
de acordo com a sua própria vontade, a pode ser chamado de um reino dos fins racional como tal (e assim é um
qual é, contudo, designada por nature- (certamente apenas um ideal), porque o princípio de autonomia) pode ser
za a ser uma vontade que outorga leis que essas leis têm em vista é apenas a rela- incondicionalmente obrigatória.
universais. Se alguém pensou nele como ção desses entes uns com os outros como Basear princípios morais em
qualquer outra coisa (princípios
sujeito à lei somente (não importa o que fins e meios. 36 de heteronomia – literalmente,
ela fosse), isso necessariamente implica- estar sob o domínio de um outro)
ria algum interesse como um estímulo ... fracassará em mostrar por que os
ou uma compulsão à obediência, porque entes racionais são obrigados a
segui-los.
a lei não surgiu de sua vontade. Em vez A moralidade, portanto, consiste
disso, a sua vontade estava constrangida na relação de todas as ações com aque-
por alguma coisa outra, de acordo com la legislação através da qual somente um 36
uma lei de agir de certa maneira. Toda- reino de fins é possível. Essa legislação, Aqui se encontra mais uma
via, por essa consequência estritamente contudo, deve ser encontrada em todo formulação, supostamen-
necessária, todo o labor de descobrir um ente racional. Ela deve ser capaz de sur- te equivalente, da ideia moral
fundamento supremo para o dever foi ir- gir a partir da sua vontade, cujo princí- central de Kant, a qual leva a mais
uma formulação do imperativo
revogavelmente perdido e jamais se che- pio, então, é não realizar nenhuma ação categórico.
gou ao dever, mas apenas à necessidade de acordo com qualquer máxima que Contudo, o que exatamen-
de ação a partir de um certo interesse. seja inconsistente com o fato de ser ela te essa versão adiciona às
Esse poderia ser o seu próprio interesse uma lei universal e, assim, agir apenas duas anteriores não fica particu-
larmente claro.
ou aquele de outro, mas em ambos os ca- de modo que a vontade através das suas
sos o imperativo sempre tinha de ser con- máximas possa considerar a si mesma
dicional e não poderia em absoluto servir ao mesmo tempo como universalmente
como um mandamento moral. Esse prin- legisladora. Se agora as máximas não
cípio eu chamarei de princípio da autono- se conformam por sua natureza já ne-
mia da vontade, em contraste com todos cessariamente a esse princípio objetivo
os outros princípios que, de acordo com dos entes racionais como universalmen-
isso, classifico sob heteronomia. 35 te legisladores, a necessidade de agir de
O conceito de cada ente racional acordo com aquele princípio é chamada
como um ente que deve considerar a si de obrigação prática, ou seja, de dever. O
mesmo como estabelecendo uma lei uni- dever pertence não ao soberano no reino
versal através de todas as máximas da de fins, mas sim a cada membro, e a cada
sua vontade, de modo que pode julgar a um no mesmo grau.
si mesmo e as suas ações a partir desse A necessidade prática de agir de
ponto de partida, leva a um conceito bas- acordo com esse princípio, ou seja, o de-
440 Laurence BonJour & Ann Baker

ver, não repousa em absoluto em senti- 3. Uma determinação completa de todas


mentos, impulsos e inclinações; repousa as máximas pela fórmula de que todas
meramente na relação dos entes racio- as máximas que provêm de legislação
nais uns com os outros, na qual a vontade autônoma devem harmonizar-se com
de um ente racional deve sempre ser con- um reino possível de fins tal como
siderada como legisladora, pois de outro com um reino da natureza.
modo ele não poderia ser pensado como
um fim em si mesmo. A razão, portanto, Há uma progressão, aqui, como
relaciona todas as máximas da vontade aquela através das categorias da unidade
como conferindo leis universais a todas da forma da vontade (a sua universalida-
as outras vontades e também a todas as de), a pluralidade da matéria (os objetos,
ações com respeito a ela mesma; ela o faz ou seja, o fins) e a abrangência total ou a
não por causa de qualquer outro motivo totalidade do sistema de fins. Porém, na
prático ou de qualquer vantagem futura, avaliação moral é melhor seguir o méto-
mas sim por causa da ideia da dignidade do rigoroso e fazer da fórmula universal
de um ente racional que não obedece a do imperativo categórico a base: age de
nenhuma lei, exceto àquela que ele mes- acordo com a máxima que pode, ao mes-
mo também estabelece. mo tempo, tornar-se uma lei universal.
Contudo, se alguém deseja obter uma au-
... diência para a lei moral, é muito útil tra-
zer uma e a mesma ação sob os três prin-
Os três modos anteriormente men- cípios afirmados e, tanto quanto possível,
cionados de apresentar o princípio da trazê-la para mais perto da intuição.
moralidade são fundamentalmente ape- Podemos agora terminar como co-
nas tantas fórmulas da mesmíssima lei, e meçamos, com o conceito de uma vontade
cada uma delas une as outras em si mes- incondicionalmente boa. É absolutamen-
ma. Contudo, há nelas uma diferença; te boa aquela vontade que não pode ser
essa diferença é mais subjetivamente do má, ou seja, é uma vontade cuja máxima,
que objetivamente prática, pois ela tem quando tornada uma lei universal, jamais
a intenção de trazer uma ideia de razão pode entrar em conflito consigo mesma.
para mais perto da intuição (por meio de Portanto, esse princípio é também a sua
uma certa analogia) e, assim, para mais lei suprema: age sempre de acordo com
perto do sentimento. Todas as máximas aquela máxima cuja universalidade como
têm: uma lei podes ao mesmo tempo querer.
Essa é a condição única sob a qual uma
1. Uma forma, que consiste na univer- vontade jamais pode entrar em conflito
salidade; nesse sentido, a fórmula do consigo mesma, e tal imperativo é cate-
imperativo moral requer que as má- górico. Porque a validade da vontade,
ximas sejam escolhidas como se de- como uma lei universal para ações pos-
vessem valer como leis universais da síveis, tem uma analogia com a conexão
natureza. universal da existência das coisas sob leis
2. Uma matéria, a saber, um fim; nesse universais, que é o elemento formal da
sentido, a fórmula afirma que o ente natureza em geral, o imperativo categó-
racional, enquanto é por na natureza rico também pode ser expresso como se-
um fim e, pois, enquanto é um fim em gue: age de acordo com as máximas que
si mesmo, deve servir em todas as má- podem ao mesmo tempo ter a si mesmas
ximas como a condição que restringe por seu objeto, como leis universais da
todos os fins meramente relativos e natureza. Essa é então a fórmula de uma
arbitrários. vontade absolutamente boa.

Questões para Discussão

1. Kant está certo em afirmar que uma pes- dever é moralmente superior a alguém
soa que ajuda as outras apenas a partir do que age a partir de uma inclinação à sim-

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