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INTRODUÇÃO
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Graduando no curso de Bacharelado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria.
Endereço eletrônico: vinicius.fulas@acad.ufsm.br
Para se ter uma boa compreensão dessa noção, é necessário advertir
contra as ideias de que 1) os estádios são fases que se passam de modo
necessário em um tempo linear, 2) que os estádios são bem delimitados e que 3)
demarcam transformações completas nos indivíduos.
Os estádios devem ser compreendidos como âmbitos da existência
humana, caracterizados pela faculdade dominante perante as outras. A própria
origem do conceito de estádio, como uma unidade de medida antiga grega,
refere-se a algo de modo espacial e não temporal. Assim sendo, um estádio é uma
categoria que demarca como se está levando a existência, qual é a faculdade
norteadora de suas ações.
Quando compreendemos a noção de estádio como fase, referindo-se
assim a uma estrutura linear e temporal de progresso, cometemos o equívoco de
pensá-los como necessários a cada vida subjetiva, como momentos que serão
ultrapassados naturalmente. O problema aqui é que se anula a liberdade,
pressuposta por Kierkegaard na própria existência, de se manter em um dos
estádios se assim o indivíduo quiser, por exemplo. A passagem de um estádio para
outro é, portanto, possível, e não necessária, pois deve-se ter em mente que ela
depende da vontade de um indivíduo dotado de liberdade.
Os estádios não possuem suas fronteiras entre si muito bem delimitadas.
Ao contrário, se mesclam e se confundem na existência. Um indivíduo pode
carregar em si características do estádio estético e ético ao mesmo tempo, por
exemplo. O que irá definir em qual deles um indivíduo está é o elemento que
prevalece diante de outro em um momento de sua vida. É por esse motivo também
que os estádios não demarcam transformações completas na vida dos indivíduos.
Na verdade, eles são reflexos concretos das faculdades naturais do ser humano,
tais como o desejo, o dever e a fé. Por isso, não se trata de abandonar os traços do
estádio anterior, mas de ressignificá-los tendo por base as características do estádio
em que se está. Oliveira e Cremonezi concluem essa questão:
Falar em esfera da existência é apontar o ponto de vista, o horizonte, a
preocupação pelo qual se examina e se quer participar na existência. Na
medida em que há faculdade e necessidades estéticas, éticas e religiosas
na existência humana, não se pode conceber o abandono puro e simples
de uma ou duas dessas faculdades para nos enclausurarmos em uma
esfera a despeito de todo o resto. Trata-se antes de privilegiar um desses
aspectos e de relacioná-lo com o todo com base nessa decisão. (2008, p.2)
Mesmo que Kierkegaard tenha criticado essencialmente o pensamento
de Hegel, não pôde deixar de ser tocado por ele, e naturalmente adotou a estrutura
dialética em sua concepção basilar do Homem, como vimos na unidade anterior
(corpo, alma e espírito). Aqui não é diferente. Se é verdade que os três estádios não
se regulam por uma estrutura linear e necessária do tempo, se regulam, ao
contrário, por uma estrutura dialética. Os estádios estético e ético compõem tese e
antítese, enquanto que o religioso a síntese. A partir deste ponto de vista, fica claro
também que os estádios possuem uma hierarquia entre si, tendo como o ápice da
existência o encontro com Deus, como veremos mais adiante. Outra coisa que fica
salientada a partir desta visão é a liberdade: a síntese (o ápice da existência) deve
ser realizada pelo próprio indivíduo, e não ocorre de maneira natural, mas por
vontade e necessidade do próprio indivíduo de se construir.
2 ESTÁDIO ESTÉTICO
3 ESTÁDIO ÉTICO
4 ESTÁDIO RELIGIOSO
[...] apesar da vida religiosa ser consequência dos dois primeiros estágios,
requer-se por ela uma decisão. Kierkegaard entende que teve que fazer
uma escolha, muito clara, pela vida religiosa. Entre as várias vocações que
estavam diante de si, ele escolheu a vida religiosa, que para o filósofo
torna-se a forma de vida mais difícil, entre outras coisas, por ser marcada
pela solidão e pelo olhar atento de Deus. (OLIVEIRA; CREMONEZI, 2008,
p. X)
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A verdadeira moral zomba da moral, disse Pascal no século XVII. O amor está além do bem e do
mal, disse Nietzsche poucas décadas depois de Kierkegaard. Em outras palavras, o amor
desconhece regras universais de conduta.
impulsionado a realizar um salto no escuro, o salto da fé. Por isso, é também o
estádio do risco e das incertezas.
Na visão de Kierkegaard, o indivíduo no estádio religioso tem o poder de
se colocar diante de Deus, do Absoluto. Portanto, neste estádio, em última
instância, não se impera nem a sensação nem a razão, mas o amor.
Aqui é preciso tomar um certo cuidado. Novamente, não se trata de
subsumir a liberdade individual perante a grandeza de Deus, e como que obedecer
os ideais de Deus (e do cristianismo) de acordo com isso. Ao contrário, o indivíduo
que passou pelos três estádios quer regular suas ações pelo amor, pela fé, e se
aproxima de Deus na medida em que este é o sujeito e representação máxima do
amor. Trata-se, portanto, de uma identificação de sua vontade com a vontade de
Deus, e não uma adequação aos ideais Dele.
O estádio religioso é, portanto, o estádio adulto da existência humana, a
síntese entre os contraditórios. É também o estádio da vida autêntica: o indivíduo se
regra de maneira subjetiva, carregando em si a vontade de Deus.
5 CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA SECUNDÁRIA
Estádio estético, Wikipedia. Disponível em Estádio estético – Wikipédia, a
enciclopédia livre. Data de acesso: 29 mai 2022.