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FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE

FAFIRE

EXISTENCIALISMO:
SOREN KIERKEGAARD

Matrizes Fenomenológico-Existenciais

Prof. Severino Souza

Alunos: Diego Silva, Eduarda Ferreira, Hannah Duarte, Larissa Maria Pinheiro, Mariana Paiva,
Mariana Fasoli, Marcela Ferreira Lima, Maria Augusta Lacerda, Maria da Glória Almeida,
Fernanda Feitosa.

3º A

Recife, Pernambuco
29/04/2019
1. SOBRE KIERKEGAARD
Soren Kierkegaard nasceu como o mais novo de sete irmãos numa família rica em
Copenhagen, na Dinamarca, em 1813. Sua vida o pôs face-a-face com a morte diversas vezes; na
altura em que atingiu a idade de 22 anos, apenas um de seus irmãos permanecia vivo. Estudou
Teologia, Filosofia e Literatura na Universidade de Copenhagen; concentrando-se intensamente na
produção de suas obras durante 15 anos, e em 1843, num único dia, publicou três livros. Ele
escrevia na tentativa de salvar a si mesmo e a humanidade.
Tendo recebido uma educação cristã bastante ortodoxa do pai, e passando pelo
rompimento do seu noivado com Regina Olsen na fase adulta, Kierkegaard vivencia, em sua
condição humana, a sensação de falta de liberdade, a busca por um propósito em um contexto que
não o oferecia perspectiva de futuro, além do desespero diante da existência, e angústias e choques
entre as instituições religiosas e sua própria noção de fé e espiritualidade, estruturando estes como
alguns dos temas mais abordados em sua teoria existencialista. Além disso, Kierkegaard ataca os
principais pilares da vida moderna: a fé na família, a confiança no trabalho e os senso comum e
generalizado de sentido do existir.
Kierkegaard é frequentemente descrito como o pioneiro do movimento filosófico
conhecido com Existencialismo, sendo ele o primeiro a investigar temas que, anos mais tarde,
viriam a ser o centro do interesse filosófico para pensadores como Camus, Heidegger e Sartre. O
Existencialismo é considerado um movimento por não possuir um pensamento universal; ou seja,
cada filósofo existencialista apropria-se da sua própria existência para formular uma teoria.

2. ANGÚSTIA, DESESPERO E LIBERDADE

A angústia é uma condição em que nós entendemos as muitas opções que temos e quão
pouco entendimento jamais teremos para exercitar essas escolhas com sabedoria. Como já dizia
Kierkegaard, “A vida só pode ser compreendida para trás mas deve ser vivida para frente”. Nossa
angústia constata que a infelicidade é mais ou menos escrita no roteiro da vida.
Esse filósofo traz uma supervalorização da subjetividade do indivíduo e da condição
absoluta de liberdade de escolha, desse modo, segundo o autor somos o que escolhemos ser, mais
ninguém além do próprio sujeito dará sentido a sua existência. É somente se projetando para frente
e dando sentido a suas marcas dentro da história, que esse ser consegue auto-atualizar-se.
Entretanto, essa liberdade absoluta, que deveria ser motivo de felicidade, é
acompanhada por desesperos: de não ser si- próprio; não ser consciente de ter um “eu”; de ser si
próprio. Essas experiências para o autor são imprescindíveis, segundo suas palavras: “Aquele que
tem afetação, reconhece o fato de estar no desespero, já conseguiu dar um passo mais perto de ser
curado”. Entretanto, a busca pela cura é tornar-se um ser concreto, e isto é irrealizável. Desse modo,
a existência humana é pura liberdade, angústia e desespero, pois o sujeito busca pelo concreto,
sendo que esse é um espírito em movimento até a morte.

3. RELIGIÃO, FÉ E VERDADE

Obteve muito conhecimento do evangelho de Cristo através do seu pai e, para ele, o
Cristianismo era uma religião de extrema rendição a uma teologia de pura simplicidade, quem
acreditasse, deveria estar pronto para morrer por Cristo, a desistir de todo o apego às coisas
mundanas e amar todos os seres humanos como os próprios irmãos. Kierkegaard não estava
interessado em justificar seu apego ao Cristianismo através de meios racionais; em vez disso ele
recomendou um “salto de fé”, em que não se utilizaria da mente para tentar explicar a existência de
Deus, iria-se apenas desligar as faculdades racionais defeituosas e aceitar a ideia de Deus como
solução total. Segundo suas próprias palavras: “Ter fé é perder a mente e ganhar Deus”. Em sua
obra “Temor e Tremor”, o Cristianismo institucionalizado e repleto de dogmas foi duramente
criticado pelo autor, pois a relação mais significativa que se pode ter com Deus é uma relação
absolutamente pessoal, que só se pode chegar a ela através de uma livre escolha individual, ou seja,
não pode ser uma relação criada e ditada por instituições, mas por paixão.
Ademais, a verdade, segundo Kierkegaard, não pode ser ensinada por argumentos
lógicos, ela precisa ser vivida. No campo da religiosidade, quando tentamos entender a Deus de
forma objetiva, nossos pensamentos começam a se contradizer e a encontrar becos sem saída. A
racionalidade não dá conta de explicar o que está além da razão. Para nos relacionarmos com Deus,
segundo Kierkegaard, precisamos aceitar que existem coisas que nós nunca vamos entender
racionalmente.

4. AS TRÊS DIMENSÕES DA EXISTÊNCIA HUMANA

Tendo Soren Kierkegaard fundamentado sua obra a partir da busca por uma existência
autêntica, baseada na verdade, concebeu uma tríade que, em estágios, organizava o movimento
humano pela vida na busca pela existência baseada na verdade do ser. Tais estágios foram
organizados como estético, ético e espiritual. Esses estágios poderiam ser comparados à uma grande
subida, na qual o alcance do estágio espiritual representaria o passo final em relação à
transcendência do material.
O primeiro estágio existencial é, então, o estético, onde podemos visualizar três modos
de ser: o estágio sensual, o da dúvida e do desespero. Kierkegaard afirma que, nesse estágio, a vida
do sujeito está continuamente voltada para a busca de satisfazer os seus prazeres imediatos, fazendo
com que o indivíduo viva no mundo dos sentidos e estímulos. Aqui, aquilo que é considerado bom é
tudo aquilo que é agradável e prazeroso para o sujeito conforme seu contexto e possibilidades do
momento. A busca por esses prazeres imediatos eventualmente leva o sujeito a um estado de
desânimo existencial, tendo em vista sua insatisfação em relação à sua vida. A verdade é que, ao
satisfazer apenas suas necessidades imediatas, nessa busca pelo prazer, o indivíduo se anula em sua
verdade pessoal, vivendo numa esfera de sensações fugidias ao invés de reconhecer seu potencial
humano; o indivíduo busca um sentido para si, mas percebe que o que tem vivido não supre suas
necessidades de sentido.
Prendendo-se à essa esfera do existir, o homem se prende a uma existência vazia,
caindo, então no desespero; mas para Kierkegaard, é justamente esse desespero, o ápice da angústia
existencial, que exerce um papel de possibilidade de cura, ou de expansão. Esse desespero o conduz
a novas reflexões acerca de sua condição, e o que o possibilita um amadurecimento existencial
suficiente para comprometer-se mais com o seu ser, a sua autenticidade; no entanto, ainda é
necessário mediar as paixões imediatas e o compromisso com sua elaboração de sentido e verdade,
e é nesse ponto em que o sujeito transita para o estágio ético.
O estágio ético, o segundo estágio existencial, é onde o sujeito transfere o centro de sua
realização pessoal de fora de si (a razão, mesmo que num nível inconsciente, de sua angústia no
estágio anterior), para dentro de si. Esse estágio se sobressai ao estético, pois não se trata mais da
busca incessante por essas experiências imediatas para satisfazer os prazeres desse sujeito. No
estágio ético, temos um homem que organiza sua vida cada vez consciente de sua responsabilidade
por si, compromissado com seu existir. Assim, através dessa nova forma de manejar a si e seu
entorno material, surge um novo conflito na busca pela realização existencial: o grande choque
entre as exigências da interioridade e da universalidade. O indivíduo conscientiza-se de sua
responsabilidade existencial, mas ao mesmo tempo, sente também o peso do universal, já que vive,
na matéria, sua individualidade e as normas e leis sociais.
Esse conflito é o que lhe possibilita transitar até o terceiro estágio existencial: o
espiritual. Este último estágio é superior aos anteriores em essência, simbolizando o movimento de
ascensão existencial do homem alcançando a plenificação. Para Kierkegaard, é aqui que o sujeito se
coloca ante a Deus, ou melhor, transcende as configurações materiais, encontrando-se num
momento do existir onde já não mais existe um limite de possibilidades.
O alcance desse estágio fala de fé religiosa, ou, ao menos, de um sentido existencial
cabido de religiosidade e espiritualidade que transcende instituições e formatos limitantes para o
ser-em-si. Somente esse estágio último nos põe em contato direto com a eternidade e a plenitude
existencial. Essa fé transcendente nos move com leveza no caminhar do existir, pois nos oferece a
eternidade, ou seja: estamos caminhando para o nosso fim, sentimos a angústia dos momentos
vividos, mas a plenitude existencial nos toma, sabendo que alcançamos o estado de apenas
“sermos”. Aqui, o homem apenas “é”.
Logo, compreendemos o discurso de Kierkegaard acerca da dialética do eu: esse “eu”,
concebido como pura dialética, não é dado; mas as possibilidades para o “eu” são dadas, sendo elas
infinitas, ilimitadas. O palco do existir para o sujeito existencial é, então, o próprio “eu”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GILES, Thomas Ransom. História do existencialismo e da fenomenologia. Brasil. EPU, 1989.

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