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Søren Kierkegaard

MSc. Priscila Tomasi Torres


Søren Kierkegaard

➔ Kierkegaard se opõe ao modo como a filosofia moderna impõe seus


critérios.

➔ A verdade constitui-se no fundamento do pensamento moderno e é


definida como a adequação entre sujeito e objeto.
Søren Kierkegaard

➔ Se afasta da explicação metafísica do homem ao afirmar que a existência (eksistenstsen)


assume no prisma humano um estar-aí (vaere til) que se identifica com o sujeito (subjekt),
com o indivíduo como tal, alcançando a singularidade (enkelten).

➔ Opõe-se, radicalmente, à idéia de tomar o homem como objeto, afirmando: "Um homem
individual existente não é uma idéia".

➔ O existente humano não é equiparável aos seres não pensantes. Afirma, ainda: "Existir como
tal não é ser no sentido que uma batata é". Uma batata jamais poderá interrogar-se sobre si
mesma. A existência é a única coisa que não existe de forma abstrata.
Søren Kierkegaard

Kierkegaard se opõe à busca da origem, acredita que o conhecimento e a existência se dão


por saltos e que toda verdade alcançada pelos sistemas não se dá no imediato, pois ocorre em um
ato de reflexão. Daí propõe os estágios da vida: estético, ético e religioso, para substituir a dialética
da tese, antítese e síntese tal como propostos por Hegel.
Nessa perspectiva, o surgimento da antítese substitui o da tese e, por fim, a antítese
constitui-se no terceiro termo, que afinal é uma abstração. Kierkegaard utiliza-se da idéia de
retomada (repetição) na qual (estético, ético e religioso) se dão na concretude da existência de
modo não exclusivo.
Søren Kierkegaard

Kierkegaard é o primeiro filósofo/pensador que retoma a existência


humana como um processo em que os estágios estético, ético e religioso são
vividos de forma não exclusiva e no qual cada estágio traz em si mesmo o germe
do outro.
Søren Kierkegaard

Kierkegaard enumera três estágios que se correspondem de diversos modos:


1. estético;
2. ético;
3. religioso.

Refere-se a zonas intermediárias desses estágios: a ironia que se situa entre o


estético e o ético, o humor que se dá entre o ético e o religioso e o absurdo que se instaura
entre o religioso e a fé.
Søren Kierkegaard

➔ Os estágios de vida não podem ser entendidos como etapas do desenvolvimento


do homem, como se uma vez alcançada uma etapa a outra estivesse totalmente
superada.

Ex.: Kierkegaard não deixa de lembrar a validade estética do matrimônio, sem


considerar a importância do ético e do religioso na relação de casamento. Destaca,
também, o equilíbrio entre o estético e o ético na formação da personalidade.
Estágio: estético
Søren Kierkegaard

Estágio estético:

Normalmente se descreve o estágio estético apenas pela obra Diário de um Sedutor, que se
remete ao aspecto egoísta desse estágio, porém Kierkegaard em diferentes obras se refere à
importância da vivência estética na existência humana.
A ilusão do esteta consiste em se acreditar eterno ou crer que aquele momento se eterniza.
Junto a isso acredita na juventude eterna e na dilatação do prazer. No entanto, como o instante só
se eterniza na fé, o projeto do esteta fica fadado ao fracasso.
Søren Kierkegaard

Estágio estético:

Sem reflexão, funda o sentido de sua vida nas sensações sob o domínio do
prazer. Em uma vivência de subjetivismo extremo e a vontade exercida no presente
imediato, esse homem torna-se determinado pelos impulsos, pela indiferença ante o
outro
Søren Kierkegaard

Estágio estético:

Na medida em que a busca do imediato eternizado fracassa, o esteta torna-se


melancólico e aprisionado em um grande vazio. À procura do instante efêmero, que
nunca se realiza, torna-se melancólico. Em desespero, abre-se a possibilidade que se
dê o salto para o estágio posterior. A transparência no estágio estético relaciona-se
com a satisfação, com as sensações, com a visão, na experiência imediata.
Søren Kierkegaard

Estágio estético:

Na contemporaneidade, o estético se revela pela incessante busca do prazer, deliciando-se com o êxtase do
dia-a-dia pela busca de novidade. Esse homem corre atrás do consumo de objetos e de sensações. Move-se pelos
sentidos, deixa-se levar pelos impulsos que lhe dão prazer no imediato. A vida só tem importância no presente
imediato. Vive o desejo incessante por perpetuar o prazer, a juventude, a vida. A falta de compromisso com o outro
constitui-se no modo como se relaciona, já que o outro é tomado como uma coisa, relaciona-se com total
indiferença pela existência do outro, anestesia-se perante a fome, a pobreza, enfim, a dor do outro. Afinal, junto ao
outro o que funciona é a sedução para logo depois descartá-lo. Assim como se descartam o índio, o pobre, o velho,
as crianças de rua, o estrangei-ro. A lei que predomina no social é a da maior vantagem.
Søren Kierkegaard

Zygmunt Bauman descreve tal situação: a passagem do colecionador de coisas para o


colecionador de sensações:

Para os consumidores da sociedade de consumo, estar em movimento, procurar, buscar, encontrar ou,
mais precisamente, não encontrar não é sinônimo de mal-estar, mas promessa de bem-aventurança, talvez a
própria bem-aventurança. Seu tipo de viagem esperançosa faz da chegada uma maldição (...) não tanto a avidez
de adquirir, de possuir, não o acúmulo de riqueza no seu sentido material, palpável, mas a excitação de uma
sensação nova, ainda não experimentada, este é o jogo do consumidor. Os consumidores são primeiro e acima de
tudo acumuladores de sensações, são colecionadores de coisas apenas num sentido secundário e derivativo.
Estágio: ético
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

As obras éticas são denominadas por Kierkegaard como psicológicas. Há


estudiosos desse pensador que chegam a afirmar que esses escritos são verdadeiras
teorias psicológicas. Nessa etapa, Kierkegaard cria uma terminologia com significado
muito próprio. Tais significados vão estar presentes em muitas teorias psicológicas da
atualidade, em pensamentos filosóficos e na literatura.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

Na reflexão reside a questão do psicológico, ao qual se chega por meio do refletir acerca de
si mesmo: atos e escolhas, pois para se chegar ao religioso muitas pessoas primeiramente
precisam do maior conhecimento de si mesmas. Esse estágio se caracteriza pelo movimento de
exterioridade e interioridade, daí a indecisão, a dúvida, o temor das conseqüências, do
imprevisível e do futuro. A angústia, o desespero, o temor aparecem com maior relevância nesse
estágio.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

No ético, o homem vive a ilusão de que pode alcançar a verdade absoluta, o perfeito, e daí
não ter do que se arrepender. Quer a qualquer preço livrar-se da culpa e não ter do que se
arrepender. Diz Kierkegaard tratar-se de um puro engodo, pois, qualquer que seja sua escolha,
esse homem vai sempre ter do que se arrepender. Daí poder-se compreender a indecisão, a
dúvida, o medo de arriscar-se e ter de pagar um preço muito alto pela sua ousadia, que inquieta a
vivência no estágio ético.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

Kierkegaard considera que suas obras que caracterizam o estágio ético são
descrições psicológicas. Esses escritos contemplam a formação da personalidade no
estágio ético. Afirma, ainda, a impossibilidade de se alcançar a fé sem uma vivência
ética profunda e abrangente. Com essa afirmativa, deixa claro a importância que esse
filósofo atribui aos estudos da psicologia.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

➔ Em 1844, Kierkegaard publica O Conceito de Angústia, no qual investiga a temática do pecado.


➔ A psicologia como matéria científica deve, então, definir e delimitar o que pretende estudar acerca
do pecado.
➔ Afirma que cabe a essa área de estudo não o conteúdo do pecado, mas a sua possibilidade, já que é
psicologicamente fora de contestação que a natureza do homem contém a possibilidade do pecado.
➔ Afirma que a questão a ser investigada pela psicologia é a angústia diante da possibilidade do
pecado.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

A carência de interioridade, pronunciada pela angústia, possibilita que se alcance a


consciência do eu. Exercitar a consciência do eu consiste em uma atividade que se dá em
um processo de compreensão e não em um processo mecânico. Quanto mais concreto o
conteúdo da consciência, mais concreta se faz a compreensão e, desde que falte a
consciência, tem-se o fenômeno da não-liberdade.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

➔ A realidade tem sua morada no reino do ético;

➔ Com isso, pretende recuperar a importância do ético e ressaltar seu valor


indiscutível para o indivíduo.

➔ Mostra toda sua preocupação com o desprezo que os sistemas abstratos davam
às questões éticas.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

Na contemporaneidade, a ética é exercitada pelas mães da Acari, no


movimento dos sem-terra, mães e avós dos desaparecidos políticos na
Argentina. Movimentos traçados pela revolta e solidariedade e não indiferença e
individualismo.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

No ético, está aquele que se dilacera pelos modos de subjetivação da modernidade e a capacidade
de refletir a partir de uma consciência moral, que clama por ver, respeitar e considerar a existência do
outro.
O estágio ético se caracteriza pela mediação da exterioridade com a interioridade, o homem ético
se dá conta que não é possível ignorar as exigências, as normas e convenções do externo. Aprisiona-se, no
entanto, aos limites estabelecidos pelo social. Vivencia a dúvida, questiona-se sobre a verdade e a
não-verdade. A dúvida e as obrigações a que ele próprio se condena tornam a vivência desse estágio
fatigante e a grande angústia, enquanto ambiguidade, se dá entre o prazer e o dever.
Søren Kierkegaard

Estágio ético:

Na ética, o pecado é tratado de forma a postular que é possível se viver sem pecado.
Isso não é possível pelo fato de esta pretender "o ideal no real, porém se mostra incapaz do
movimento inverso, elevar o real até o ideal. A ética põe como fim o ideal, no prejuízo de
que o homem tem meios para o alcançar, porém, exatamente porque salienta a
dificuldade e a impossibilidade desse encontro, cria no seu proposto a contradição".
Estágio religioso
Søren Kierkegaard

Estágio religioso:

Para chegar ao religioso é necessário que se reflita na esfera do psicológico, a


fim de atingir a transparência, o autoconhecimento. No entanto, o salto para a fé se
dá na paixão. Para Kierkegaard, a razão e a fé entram em choque, portanto não é
possível chegar à fé por meio da razão.
Søren Kierkegaard

Estágio religioso:

Kierkegaard retoma então a fé como algo que se dá no paradoxo, situação inaceitável


pela via da razão. A ilusão na fé se dissipa, pois aí se dá a transparência plena. Sob o signo da
fé, o religioso conhece a sua condição mais própria: sua temporalidade. Ao reconhecer-se
na sua condição de mortal, e aceitá-la, torna-se eterno. Na fé o religioso, não mais preso ao
seu eu, mas ao nós, transparece a si mesmo, e ao olhar para si ou para o mundo vê o Divino.
Søren Kierkegaard

Estágio religioso:

Em Kierkegaard, ocorre em uma tentativa existencial concreta, na qual se


assume um estilo de vida que se relaciona com o eterno. Pode-se encontrar tal estilo
na vivência poética. Afirma que viver poeticamente é viver infinitamente, e assim não
se afiança o prazer e, sim, a serenidade.
Søren Kierkegaard

Estágio religioso:

Na fé, na relação consigo mesmo, o religioso volta-se para si próprio, se reconhece em


liberdade. O futuro não o angustia, não o amedronta, nenhum medo lhe infunde, já que em
si mesmo é liberdade. Com força igual à que o induz a descobrir a liberdade, apodera-se
dele a angústia, no estado do possível. Não teme nada, apenas a culpa, porque apenas a
culpa pode privá-lo da liberdade.
Os estágios: estético, ético e
religioso
Søren Kierkegaard

A partir dos três estágios da existência, de acordo com Kierkegaard: o estético, o ético e o
religioso, conclui-se, que nos escritos de Kierkegaard havia três tipos de peregrinos
correspondendo a todos esses três estágios:
"O tipo estético estava preocupado com o divertimento, deliciando-se com os prazeres
pitorescos e culturais do caminho; o tipo ético via a peregrinação como um desafio à sua
capacidade de resistência e à autodisciplina." Esse tipo tem uma noção exata do que é o
comportamento correto de um peregrino e é muito competitivo com relação aos outros na
estrada; o peregrino religioso, que Kierkegaard denomina pelo absurdo: "Se fosse inteiramente
racional, não haveria mérito em se ter fé".
Søren Kierkegaard

➔ O peregrino estético não finge ser um peregrino de verdade, nem sequer questiona acerca
do que é um peregrino, vive o prazer da diversão, a maioria formada por jovens que
caminham sob o pretexto de peregrinação, mas que na verdade livram-se da tutela dos pais
e então fazem contatos com outros jovens para os quais tudo aquilo não passa de uma
grande diversão.

➔ O peregrino ético está sempre se questionando se é ou não um peregrino verdadeiro.

➔ O peregrino verdadeiro simplesmente caminha.


Søren Kierkegaard

As referências acerca dos estádios da existência só estão esclarecidos nos


post-scripta de Kierkegaard, quando este quer se fazer entender com relação a
sua verdadeira intenção. O grande projeto de sua vida foi ajudar o homem a
desfazer os laços da ilusão – acreditar que se é o que em ato não se é.
Conceitos em Kierkegaard
Søren Kierkegaard

Ironia:

A inspiração fundamental de Kierkegaard para combater o mal-entendido de sua


época, ele encontrará na Antiguidade, na figura de Sócrates. Kierkegaard se ocupou longa e
profundamente com o pensador grego, especialmente em seus anos de estudante, e acabou
por defender sua tese em 1841, intitulada Sobre o conceito de ironia constantemente
referido a Sócrates.
Søren Kierkegaard

Ironia:

A ironia constitui-se como um auxílio negativo, aquilo que corrói as certezas de uma
existência excessivamente segura de si mesma e deixa o indivíduo só, na insegurança de sua
dúvida. Como Kierkegaard escrevera em seus Diários, “mas permanecer só – pela ajuda de
um outro, esta é a fórmula para a ironia”. Esta ideia atravessa O conceito de Ironia: “nos
gregos [...] o silêncio da ironia tinha de ser aquela negatividade que impedia que a
subjetividade fosse tomada em vão”
Søren Kierkegaard

Angústia:

“Sentimento que ocorre diante da possibilidade, caracterizando a situação de


liberdade. O homem é livre para o pecado. "Estabelecido o pecado, ele corresponde, sem
dúvida, à extinção de uma possibilidade; porém é concomitantemente uma realidade
abusiva." O pecado como possibilidade fica intimamente relacionado com a angústia. À
Psicologia cabe, então, abandonar o pecado e estudar a angústia”.
Søren Kierkegaard

Desespero:

“Desespero é utilizado por Kierkegaard no sentido da verdadeira constituição da


subjetividade humana, vai servir de alerta à ameaça do homem de perder a própria
identidade, na tentativa de encontrar seu eu absoluto ou na tentativa de se tornar o eu
inventado pelo impessoal. Trata-se do absurdo que consiste no paradoxo da existência
humana. O absurdo consiste na aceitação da razão da condição do homem: a queda”.
Søren Kierkegaard

Fé e subjetividade:

Em linhas gerais, a superação do problema do desespero não pode se dar pela via do conhecimento
apenas, uma vez que a pessoa que conhece o faz a partir de sua finitude e, portanto, não tem em si
condições de abarcar a infinitude e realizar a síntese de modo puramente racional.
Nessa perspectiva, a razão, quando levada a seu máximo, percebe justamente seu limite, sua
incapacidade de conceber a infinitude e realizar a síntese adequadamente a partir de si mesma.
Kierkegaard percebe que não há saída para a superação ou cura do desespero sem um voltar-se para a
subjetividade, sem uma atitude subjetiva específica. Essa atitude é pensada a partir do cristianismo e
entendida como fé, embora a fé não seja apenas uma atitude subjetiva.
Søren Kierkegaard

Paradoxo:

O maior paradoxo do pensamento consiste em querer descobrir algo que o


próprio pensamento não consegue alcançar. "O paradoxo é a paixão do pensamento, e
um pensador sem um paradoxo é como um amante sem paixão, um tipo medíocre."
(1995, p. 61) O paradoxo consiste no impensável, para a razão é o absurdo.
Søren Kierkegaard

Amor:

A reflexão sobre o amor é fundamental na obra de Kierkegaard como um todo. Embora tenha escrito um
volume com mais de quatrocentas páginas sobre o assunto, As Obras do Amor – Algumas considerações cristãs
em forma de discurso (1847), a questão do amor não se restringe a esse livro, mas atravessa o conjunto da obra.
Essa centralidade do amor está ligada ao entendimento do ser humano como síntese.
Kierkegaard se insere numa longa tradição que entende que o amor é justamente o que vincula o temporal
e a eternidade. Segundo As Obras do Amor: “Pois o que vincula o temporal e a eternidade, o que é, senão o amor,
que justamente por isso existe antes de tudo, e permanece depois que tudo acabou”. Justamente por ser o que
vincula o temporal e a eternidade, o amor é a condição sem a qual a síntese não se efetiva corretamente.
Søren Kierkegaard

Repetição:

A repetição só é compreendida na esfera da liberdade, e a liberdade, por sua vez, só é


compreendida na esfera do amor. Nesse ponto, algumas elaborações de As Obras do Amor ajudam a
lançar luz sobre o conceito de repetição. Na perspectiva dessa obra a liberdade somente emerge a partir
de uma relação corretamente estabelecida com o amor. Ao se assumir o dever de amar o próximo, como
vimos, a regra de ação passa a encontrar-se na interioridade do indivíduo, de modo que ele vem a ser
independente em relação às mudanças no objeto de seu amor.
A relação primeira com o amor é o pressuposto fundamental de toda outra relação, seja com o
outro, seja consigo mesmo. O eterno, assim, é o fundamento da continuidade na relação para com aquilo
que se modifica no tempo. É exatamente por isso que ele fundamenta a liberdade, a liberdade de
permanecer amando quando tudo se modifica, de manter o vínculo com o eterno e simultaneamente
assumir radicalmente a vida na temporalidade. Isso é a realização da síntese, é liberdade, e é condição de
possibilidade da verdadeira repetição (Gjentagelse).
Søren Kierkegaard

Culpa:

“A angústia e sua dialética diante da culpa consistem, ao surgir a culpa, em desaparecer a


angústia e emergir o remorso. A angústia que está no judaísmo é a da culpa. Na tentativa de
resolver tal angústia o judeu recorre ao sacrifício. No entanto, para se resolver esse
equívoco angústia e culpa, teria de se estabelecer o arrependimento.
Søren Kierkegaard

Dialética:

“Para Hegel, a dialética do ser se dava em um processo triádico, em que a tese é o ser, a antítese é
o não-ser (o nada) e a síntese é o vir-a-ser (devir). Assim tudo se move em direção a uma
auto-consciência maior até atingir o Espírito Absoluto, capaz de contemplar a si mesmo em plena
transparência. A dialética de Kierkegaard se caracteriza pela ausência de síntese, o que
permanece é a incerteza última que jaz na incerteza. Substitui o Espírito absoluto pela
Subjetividade. Esta não é racional, é o eu: dialética do finito e infinito, eterno e temporal. Daí
descreve os estágios da existência: estético, ético e religioso. E é na fé que o homem por um ato de
paixão e não de razão encontra-se a si próprio”.
Søren Kierkegaard

Existência:

O conceito de existência é central na obra de Kierkegaard, a ideia de que nossa existência não está
pronta ou determinada, mas que temos de nos tornar nós mesmos num processo que envolve esforço,
risco, decisão, fé, responsabilidade. Todos os grandes temas e conceitos de sua obra gravitam em torno
da questão do tornar-se si mesmo ou tornar-se cristão e, nesse sentido, de o que significa existir.
O conceito de angústia auxilia a compreender o sentimento ambíguo diante da possibilidade de
realização da síntese de finitude e infinitude, o conceito de desespero clarifica o que é essa relação
mal-efetivada, e os conceitos de fé, paradoxo, amor e repetição lidam com o que seria a correta efetivação
da síntese e seus efeitos. Assim, para compreendermos o que Kierkegaard entende por existência, é
preciso ter em mente sua concepção do ser humano como síntese e, consequentemente, que a realização
dessa síntese se dá por um processo constante.
Søren Kierkegaard

Indivíduo:

O conceito de indivíduo (Den Enkelte), ou indivíduo singular, é paralelo ao conceito de si-mesmo


(Selv). A partir desse paralelo compreende-se que tornar-se um indivíduo significa exatamente efetivar a
síntese de infinitude e de finitude, do temporal e do eterno, de possibilidade e de necessidade, que
constitui o ser humano. Todos nascemos humanos, mas temos de nos tornar um si-mesmo, ou seja, temos
de nos tornar um indivíduo. Cada pessoa tem em sua existência vários elementos que não podem ser
modificados (o polo da necessidade) e, ao mesmo tempo, tem possibilidades em aberto. O modo dessa
relação é universal. Entretanto, o conteúdo da necessidade e da possibilidade é algo próprio de cada
pessoa.
Síntese final
Søren Kierkegaard

Síntese sobre Kierkegaard:

O que nos constitui se dá por decisão, salto, e não está baseada em conhecimento objetivo. Não
podemos saber, objetivamente, como realizar uma síntese. Ninguém pode ensinar outra pessoa a ser si
mesma. O processo de tornar-se si mesmo se dá, assim, no limite da razão e da filosofia. As decisões mais
importantes são justamente aquelas para as quais não há informações objetivas ou critérios claros.
Contudo, se a percepção disso é fundamental, ela também pode levar a equívocos. Do fato de que
não se possa saber objetivamente como tomar decisões existenciais não segue que elas não possam ser
pensadas. Elas podem e devem ser pensadas. O pensamento de Kierkegaard opera na tensão desses dois
pressupostos, e isso parece ser especialmente importante para o nosso tempo.
Søren Kierkegaard

Síntese sobre Kierkegaard:

➔ Mesmo sem saber tudo, podemos pensar as consequências de se viver deste ou daquele modo,
seja: os modos de se comunicar questões existenciais;
➔ o que é angústia e como nos relacionamos com ela;
➔ o desespero e seu disfarce em vidas bem ajustadas; a importância de relacionar finitude e
infinitude em uma atitude subjetiva;
➔ o enfrentamento do paradoxo diante da necessidade de realizar a síntese;
➔ o amor como o que une finitude e infinitude;
➔ a necessidade de encaminhar o desejo de repetição a partir da interioridade e não dos objetos e
eventos externos;
➔ a existência como tarefa de realização de si mesmo; o indivíduo como o construir a relação da
própria síntese etc.
Søren Kierkegaard

Síntese sobre Kierkegaard:

Por fim, Kierkegaard nos fornece conceitos e ideias que nos ajudam a
compreender a nós mesmos. E deixa claro que esses conceitos devem ser vividos,
experimentados, encarnados. Sua inspiração para este modo de pensar é o paradoxo
de Cristo, como exposto pelo pseudônimo Anti-Climacus: “Pois Cristo é a verdade no
sentido de que ser a verdade é a única verdadeira explicação do que a verdade é”
Referências bibliográficas

ROOS, Jonas. 10 lições sobre Kierkegaard. 1. ed. São Paulo: Vozes, 2021. E-book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br.

ANGERAMI, Valdemar A. Vanguarda em psicoterapia fenomenológico-existencial. [Digite o Local da


Editora]: Cengage Learning Brasil, 2003. E-book. ISBN 9788522128471. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522128471/.

FARAGO, France. Compreender Kierkegaard. 3. ed. São Paulo: Vozes, 2011. E-book. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br.

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