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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Psicologia

Lucas Tonello Gouvêa – T98258-8


Paulo Henrique Ferreira Felipe – C9675B-0

AS INFLUÊNCIAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO E DO
CONSUMISMO NA CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE
CONTEMPORÂNEA

Trabalho acadêmico relativo às disciplinas


de PEO – Plano de Estudos Orientados,
apresentado ao Curso de Psicologia do
Instituto de Ciências Humanas da
Universidade Paulista, Campus Ribeirão
Preto, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo
Eduardo Benzoni.

RIBEIRÃO PRETO
2021
CIP - Catalogação na Publicação

Gouvêa, Lucas
As influências da industrialização e do consumismo na construção da
subjetividade contemporânea / Lucas Gouvêa, Paulo Ferreira Felipe. -
2021.
47 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto


de Ciência Humanas da Universidade Paulista, Ribeirão Preto, 2021.
Área de Concentração: Subjetividade, Fenomenologia-existencial.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Benzoni.

1. O presente trabalho tem como objetivo compreender as influências


da industrialização e do consumismo na construção da subjetividade
contemporânea. 2. Gouvêa, Lucas. I. Ferreira Felipe, Paulo. II. Benzoni,
Paulo (orientador). III.Título.

Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Universidade Paulista


com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 5
1.1 Apresentação.................................................................................................................... 5
1.2 Levantamento bibliográfico .............................................................................................. 5
1.2.1 O conceito de subjetividade ........................................................................................... 5
1.2.2 Industrialização e consumismo .................................................................................... 10
1.2.3 A construção da subjetividade contemporânea ............................................................. 15
1.3 Objetivos........................................................................................................................ 19
1.4 Justificativa .................................................................................................................... 20
2 MÉTODOS ....................................................................................................................... 21
2.1 Fundamentação metodológica ........................................................................................ 21
2.2 Procedimentos para coleta de dados ............................................................................... 21
2.3 Procedimentos para análise de dados .............................................................................. 21
3 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 22
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 43
RESUMO

A industrialização e o consumismo são fenômenos sociais que estruturam não só a sociedade


ocidental mas também, cada vez mais, o mundo todo devido o crescente processo de
globalização. Tais fenômenos constituem-se portanto, vetores fundamentais para pensarmos a
existência humana. Nosso trabalho pretende compreender as influências da industrialização e
do consumismo na construção da subjetividade contemporânea. Para tal, foi realizada uma
revisão integrativa de literatura, onde 20 artigos científicos foram selecionados e
posteriormente discutidos.

Palavras-chave: Subjetividade, Industrialização, Consumismo, Contemporaneidade,


Modernidade.

AS INFLUÊNCIAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO E DO CONSUMISMO NA


CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE CONTEMPORNÂNEA. GOUVÊA, L. T.;
FERREIRA FELIPE, P. H.; BENZONI, P. E. (orientador). Curso de Psicologia. Instituto de
Ciências Humanas. UNIP – Universidade Paulista Campus Vargas. 2021.
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1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação
A ideia qual fez nascer este trabalho, é fruto de um encontro entre a psicologia e a
filosofia, mais especificamente a sociologia. Tal ideia, tem em sua gênese os pensamentos de
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês que nos fez refletir sobre as particularidades da
sociedade contemporânea, de maneira um tanto quanto crítica, e profunda. Crítica, pois
apontam problemáticas do que vem a ser um novo tipo de estrutura social, e profunda, porque
pensamos que tais apontamentos, muito tem que ver com o que há de mais íntimo na
existência humana. A fertilidade de tal encontro, só se fez possível a partir da psicanálise e da
fenomenologia-existencial, visões de mundo que vêm nos acompanhando já faz certo tempo,
evidenciando a singularidade de cada ser humano. Com isto, começamos a traçar um
caminho, que veio se fazer presente neste trabalho.

1.2 Levantamento bibliográfico

1.2.1 O conceito de subjetividade

Para o início de nossa reflexão, pensamos ser de suma importância, como em qualquer
outra que fosse, mas principalmente nesta, conceituar aquilo que será o centro da discussão
aqui proposta. Principalmente, como foi dito, pois o que está em jogo é a subjetividade, um
termo que abarca diferentes interpretações, advindas de visões muito próprias daqueles que se
incumbiram de estudá-la, visões estas, muitas vezes participantes de embates intrincados
devido suas perspectivas opostas, mas que também por vezes se encontram e entrelaçam-se
construtivamente.
Consoante com tal pensamento, está uma análise feita por Aita e Facci (2011), a partir
de diversos artigos que envolviam o tema da subjetividade. Tal análise relata a falta de
fundamentação teórica para conceituar a subjetividade, encontrada em alguns artigos, não
demonstrando assim, com clareza, o que se pretendia dizer com o termo. Fato este, que além
de deixar vago o contexto da narrativa, evidencia um descaso contemporâneo pela dimensão
rigorosa do conhecimento. Com isto, ressalta-se a crucialidade de se conceituar o termo
subjetividade, para garantir o rigor teórico, e para que o leitor possa compreender exatamente
a ideia que está sendo exposta. O fator interpretativo do termo também fica evidente nesta
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análise, pois encontra-se divergência sobre o significado inclusive nos artigos que estão
orientados pelo mesmo arcabouço teórico, psicologia histórico-cultural, e aqui por fim, fica
clara a importância de se conceituar a subjetividade. Constata-se que a divergência acontece,
pois alguns autores desta abordagem dão ênfase no funcionamento intrapsíquico como
construtor da subjetividade, funcionamento este, que pode ser compreendido como a instância
interna do ser humano, o eu, e outros dão prioridade ao relacionamento interpsíquico,
entendido como as relações externas, o social. Assim, compreende-se que ambas estas visões
são parciais e portanto, reducionistas, empobrecendo o entendimento sobre a construção da
subjetividade. Uma terceira via então, mais abrangente, na mesma abordagem, é encontrada
em tal análise, sendo proposta como solução, a visão dialética entre as duas instâncias citadas,
onde o eu e o social tem pesos equivalentes.
Ainda nesta perspectiva histórico-cultural, Mori e González Rey (2012) salientam a
subjetividade como representação da psique humana, em seu caráter inerentemente não
dicotômico, ou seja, a mesma é construída como processualidade, entre o ser humano e suas
relações sociais, engendrando assim, e este ponto cremos ser fundamental, sentido subjetivo
para tal vivência. Ressalta-se também, a pluralidade de entendimentos acerca da
subjetividade, evidenciando a importância de não criar movimentos segregativos teóricos,
mas sim por em debate tais divergências, para um possível enriquecimento do tema.
Vamos agora fazer um breve percurso histórico, da filosofia moderna, mais
precisamente de sua área epistemológica, à psicologia, para compreender onde surgem os
embates centrais acerca da subjetividade, que acabaram por nortear a maneira ocidental de
pensar o assunto, e como o termo acaba adentrando na ciência psicológica.
Segundo Feijoo (2011), a gênese do debate filosófico sobre a subjetividade encontra-
se em Descartes. O filósofo francês, a partir do princípio da dúvida, pretende chegar em
verdades absolutas e universais, com isto, Descartes eleva o ceticismo ao mais alto grau, e
chega à conclusão que a única coisa indubitável é a existência do pensando, proferindo assim,
sua máxima tão conhecida. Deste modo, o filósofo não só privilegia o pensamento racional
como aspecto superior, aspecto este, que em sua concepção encontraria as verdades
universais, como também cria uma dicotomia entre mente e corpo, e uma ideia de ser humano
autônomo por meio da razão, que reverbera até os dias de hoje. A subjetividade na
modernidade então, como representante da psique humana, começa seu percurso
demasiadamente desvalorizada, contraposta à objetividade da racionalidade e suas desejadas
verdades universais como norteadoras da existência.
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Kant neste sentido, para Prado Filho e Martins (2007), mesmo sendo um crítico do
racionalismo de Descartes, fez a mesma trajetória. O filósofo alemão entende o ser humano
como ser subjetivo, mas por também valorizar a razão como instância priori, recomenda a
extirpação da subjetividade, como meio de alcançar as cobiçadas verdades universais.
Pensamento também perdurado na epistemologia contemporânea, e que se mostra
problemático até mesmo nas ditas ciências naturais. Quase um século após a morte de Kant,
irrompe a figura de Freud, aquele que por influência de outra gama de filósofos, embarcaria o
termo subjetividade à psicologia, de maneira muito singular e subversiva aos racionalistas.
Sendo a psicanálise caminho por qual a subjetividade encontra a psicologia,
acreditamos ser fundamental discorrer acerca do termo nesta perspectiva teórica, a fim de
compreender como a subjetividade é concebida conceitualmente nesta visão. A psicanálise, de
acordo com Silva e Garcia (2011), logo em sua concepção, provoca uma ferida narcísica na
noção de humano da visão racionalista, em detrimento ao conceito de inconsciente proposto
por Freud. O ser soberano em busca das verdades universais, autorrealizável e sustentável por
meio da razão, agora terá que viver o paradoxo de suas fantasias e desejos inconscientes, que
se opõem às vontades racionais antes fundamentadas por si mesmas, e renunciar seu estatuto
de ser autônomo. A concepção de sujeito proposta por Freud, posiciona agora, a subjetividade
como representação da psique em lugar de destaque, pois a busca por verdades universais
como regras para a existência não faz mais sentido, já que o sujeito não tem sentido prévio, é
fruto de uma pulsão polimórfica, com sentido desencadeado por seus singulares paradoxos,
tornando-se assim, único, não universal, e portanto, subjetivo. Evidencia-se também, a
construção da subjetividade na psicanálise como movimento intrínseco entre sujeito e suas
relações sociais, sem dicotomia, pois Freud deixaria claro em seu discurso a essencialidade da
relação com o outro, como alicerce constitutivo, portanto irredutível, da construção do sujeito.
Contudo, leituras feitas através de um viés puramente biológico sobre a psicanálise tecem
críticas à mesma, propondo que a construção da subjetividade psicanalítica não comportaria
toda a pluralidade do fenômeno como deveria, entendendo que o complexo de édipo e sua
inerente sexualidade, seriam uma via exclusiva e excludente de outras instâncias nesta
construção, marginalizando o restante do contexto social. Sendo assim, enviesadas, tais
leituras são compreendidas como reducionistas, pois contrariam a integridade e complexidade
da obra freudiana.
Um breve parênteses se faz necessário. Contemporâneo ao movimento psicanalítico,
Feijoo (2011) nos salienta a empreitada de Husserl, filósofo que no campo da epistemologia,
também viu necessidade em romper com a tradição racionalista. Husserl se debruça sobre os
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fenômenos da consciência, se opondo a dicotomia racionalista e sua razão como fundamento


máximo, pois compreende uma relação intrínseca entre consciência e objeto de estudo. Desta
forma, contraria a noção de que o objeto teria uma verdade por si mesmo, pois este seria
sempre objeto da consciência, e vice-versa, evidenciando assim, a irredutibilidade da
subjetividade. As repercussões do pensamento fenomenológico de Husserl, mais adiante,
também impactarão fortemente a psicologia, e sua maneira de pensar a subjetividade.
Retomando a psicanálise, refletiremos sobre pontuais ideias de Lacan, pensador que
fez uma releitura de retomada à obra freudiana, gerando contribuições interessantes não só
para a psicanálise, mas também para a psicologia como um todo, pois cria reflexões acerca da
subjetividade. Elementos que já apareciam na obra de Freud, tomam destaque e se tornam
fundamentais para pensar a constituição do sujeito. Segundo Torezan e Aguiar (2011), a
linguagem, e sua instância simbólica, são centro das discussões propostas por Lacan, no
sentido de que é por meio da linguagem que o sujeito se relaciona com o outro, por isto, o
inconsciente seria efeito das particularidades da linguagem humana, e portanto, estruturado
justamente nos desdobramentos da mesma. Deste modo, Lacan move a psicanálise do debate
biológico herdado por Freud, devido à medicina, para o debate das ciências humanas. Esta
visão proposta pelo psicanalista francês, aponta de maneira contundente para uma psique
humana que se estrutura como subjetividade, fazendo aqui analogia ao pensador. O simbólico
é justamente a instância que demarca tal afirmação, por seu constituir subjetivo, e portanto,
singular. Com isto, amarrando tal reflexão, pensamos na importância da cultura em Lacan,
esta já discorrida também por Freud, que é parte fundamental da linguagem, e sendo assim,
crucial para se pensar a subjetividade humana.
Com objetivo de enriquecer nossa reflexão, discorreremos sobre outra visão que
consideramos ser interessante para o debate, visão esta, que se desdobra pela fenomenologia
de Husserl, e ganha grande expressão na psicologia, como já foi dito. Segundo Dutra (2004), a
psicologia desde sempre sofreu um impasse para conceituar seu objeto de estudo, o fenômeno
psicológico. Intitulamos até agora este fenômeno como psique, representado pela
subjetividade, e sua estrutura de processualidade dialética entre intrapsíquico e as relações
sociais no mundo. Devido o problema da não equivalência de peso entre as duas instâncias,
encontrado em algumas interpretações, e talvez também por tais visões, que inspiraram as
interpretações, já em sua gênese narrativa serem convidativas à uma dicotomia, Heidegger
propõe uma nova narrativa, que entre outras coisas, tenta resolver tal impasse. A ontologia de
Heidegger então, compreende o fenômeno psicológico como ser-no-mundo, hifens que dão
ênfase ao inseparável, apontando um modo de ser na existência que é junto com o mundo,
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indivisível, pois está em constante relação, gerando novos e singulares sentidos, e portanto, é
único, provisório e não universal. Na narrativa de Heidegger, os termos psique e subjetividade
caem em desuso, pois denotariam uma dicotomia com sobreposição do interior. Entretanto, a
vertente da psicologia que se entende por fenomenológica-existencial, não tem apenas como
referência a ontologia de Heidegger, e por isto, utiliza-se do termo subjetividade, como
importante meio de interlocução aos demais pensamentos, e forma de refletir o ser humano,
como existência singular e não universal, e que neste sentido vai de encontro à ontologia
heideggeriana.
Nesta perspectiva fenomenológica-existencial de se pensar a subjetividade, Ponte
(2016) nos conduz ao pensamento de Kierkegaard, filósofo dinamarquês considerado
precursor do movimento existencialista, que fez pontuações interessantes sobre o tema. O
filósofo entende a existência como uma abertura, que tem por fundamento a liberdade, esta
que não só nos convoca, mas nos impõe a tarefa de construir sentido. Em Kierkegaard, a
subjetividade como representação da psique humana, seria o caminho que somos obrigados a
seguir, devido à liberdade, para construir o sentido da existência, que não é prévio. A
construção da subjetividade então, pediria um ato de postura, de não se viver sob o signo do
racionalismo, não sintetizar verdades universais como norteadoras da existência, pois esta
seria uma forma de se alienar com teorias que não se aplicam ao singular. Deste modo, a
subjetividade em Kierkegaard, é pensada como inerente caminho da existência, que pede
postura para sua realização.
Diante de tudo que foi explanado nesta tentativa de compreender o conceito de
subjetividade, vemos que o ponto central, unânime entre as visões, e que faz completo sentido
para nós, é o processo dialético entre o ser humano e suas relações com o mundo em que
habitam os outros, como fator intrínseco, irredutível, para a construção da subjetividade.
Dialética esta, e isto é demasiadamente importante, que não privilegia nenhuma instância,
pois entendemos que o ser e o mundo só fazem sentido juntos, desta forma, as duas instâncias
são equivalentes e inseparáveis, um meio a meio que forma unicidade. A subjetividade é um
conceito, que utilizamos como representação para pensar o ser humano como modo de
existência subjetiva, pensá-lo como singularidade existencial, que não pode ser objetificada,
sintetizada, e universalizada, para ser aplicada como uma categoria. Portanto, existência
subjetiva única, concreta, que em última instância faz sentido só a si mesma, através de sua
estrutura simbólica, perpassada pela linguagem e seus fundamentos culturais, existência esta,
que sendo assim é paradoxal e pede uma postura frente à sua intrínseca liberdade para poder
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se realizar. Adiante, utilizaremos deste entendimento para compreender a subjetividade em


seu desdobrar com outros fenômenos.

1.2.2 Industrialização e consumismo

A industrialização e o consumo como centro das relações sociais, são fenômenos que
marcam não só a sociedade ocidental contemporânea, mas, cada vez mais, o mundo todo,
visto que passamos por um constante e acelerado processo de globalização. Com isto, para se
pensar a construção da subjetividade nos tempos atuais, necessariamente devemos levar em
consideração tais fenômenos, pois como já foi salientado anteriormente, as relações sociais e a
cultura que lhes permeia são constituintes irredutíveis da existência humana.
Desde a revolução francesa, a razão iluminista é o pilar dos desdobramentos da
sociedade ocidental, gerando fundamental influência para a consolidação da industrialização e
do consumismo. Muito se pensava em avanços por meio do racionalismo, pois ele
possibilitaria, em tese, a existência de um humano autônomo, dono de si, e portanto, mais
realizado e harmônico. De fato muitos progressos foram feitos em uma perspectiva
tecnológica, mas como evidencia Colombo (2012), seu discurso em nome da razão e das
verdades universais, não impossibilitou o ser humano de se encontrar novamente envolvido
em grandes catástrofes, como as duas grandes guerras. Pensamos ser importante esta
retomada histórica, a fim de enfatizar o berço do pensamento moderno, pois é a partir de seu
discurso que a sociedade contemporânea começa a emergir.
Importantes reflexões acerca do desenvolvimento da industrialização e do
consumismo, como aliados cruciais um do outro, são feitas por Lipovetsky, sociólogo francês.
De acordo com Caniato e Nascimento (2010), Lipovetsky divide o desenvolvimento destes
fenômenos em três etapas. A primeira aconteceria entre as duas últimas décadas do século
dezenove e a segunda grande guerra, onde as indústrias iniciaram um aumento significativo
nas produções, devido ao desenvolvimento tecnológico. Junto à isto, os grandes mercados
começaram a florescer, dando início ao consumo em massa, que tem as grandes marcas e as
técnicas de marketing, como fundamentais aliadas. A segunda etapa, seria entre a metade do
século vinte e suas três décadas seguintes, onde surgiu a linha de montagem fordista, que
favoreceu ainda mais a produção, ao mesmo tempo em que acresceu o poder de compra dos
trabalhadores, potencializando assim, o consumo em massa. A estratégia industrial desta
etapa, é da diversificação dos produtos com diminuição da vida útil dos mesmos, para que o
novo seja sempre o desejado, e a moda dite o rumo deste desejo. Simultaneamente, o
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individualismo começa a ganhar força, porém, o consumo ainda tem por característica a
relação com o outro, entende-se aqui, que ainda se consome para criar status frente ao outro.
Na terceira fase, iniciada nas últimas décadas do século vinte, e que perdura até hoje, os
extremos começam a imperar. Lipovetsky aponta para um consumo que é estritamente de
sedução, onde a mercadoria não é adquirida por sua funcionalidade, mas sim por sua
representação simbólica. Mercadoria esta, que já em sua gênese é produzida com intuito de se
tornar obsoleta perante a próxima. Tal etapa seria do hiperindividualismo, onde o ser humano
consome para si mesmo, ou seja, não consome mais para criar status perante o outro, mas sim
para gerar identidade para si mesmo, e aqui temos que deixar claro que, identidade não
corresponde à subjetividade, pois identidade diz respeito ao que nos torna identificáveis,
portanto, àquilo que em certo grau é idêntico ao outro, e por isto pode ser reconhecido. Cria-
se assim, um vínculo mais forte com a mercadoria do que com o outro, fazendo com que tal
humano se coloque em posição de mercadoria. Neste período, a queda das tradições culturais,
da religião e da política, como instâncias geradoras de identidade, favorece o consumo como
nova modalidade desta função. As marcas e suas representações simbólicas se tornam os
novos norteadores da existência.
Lipovetsky, como apontam Severiano, Rêgo e Montefusco (2010), cunha o termo
hipermodernidade para descrever a sociedade contemporânea, pois tudo residiria nos
excessos. Nos encontraríamos em um mundo que fomenta o excesso, ao mesmo tempo que
discursa elogios para com a moderação, onde flutuações entre mal-estar e bem-estar no ser
humano são constantes. Mal-estar este, que seria fruto, entre outras coisas, dos fracassos em
ser moderado, frente aos incessantes convites e incentivos ao excesso.
De encontro com Lipovetsky está Bauman, sociólogo polonês que também tem ideias
fundamentais para a compreensão da sociedade contemporânea, que ele denominou de
modernidade líquida. Segundo Colombo (2012), para Bauman não existem mais projetos
sólidos nos âmbitos das tradições culturais, da política, e da religião, como se tinha no início
dos tempos modernos. Todas estas esferas sociais se liquidificaram, se tornaram fluidas e
voláteis, favorecendo cada vez mais a ascensão do consumo como alicerce das relações
sociais. Deste modo, como também apontado por Lipovetsky, cria-se uma relação compulsiva
com as mercadorias, que cada vez mais são responsáveis pela produção da identidade
humana, minimizando assim, a participação do outro nesta relação. Neste processo, como já
foi dito, o consumidor passa a tratar si próprio como mercadoria, e o individualismo cresce.
Diante deste cenário, Bauman salienta que a felicidade e a moral humana começam a ser
medidas pelo poder de consumo, o mundo então, acabaria se dividindo prioritariamente entre
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quem pode consumir e quem não pode. O marketing faz seu papel de sedução, atingindo à
todos, em contrapartida, a maioria não consegue atender os desejos que são fomentados, e
consequentemente, são engendrados em um processo de marginalização. Para o sociólogo
polonês, neste mundo de consumo como norteador da existência, o que importa é consumir,
sem se preocupar com as consequências. Tal consumo então, é um processo completamente
alienado e alienante, onde não se questiona como foi fabricada a mercadoria, se trabalhos
análogos ao escravo estavam envolvidos, ou se tal mercadoria causa danos irreversíveis ao
meio ambiente, e portanto, à subsistência de nossa sociedade, ou até mesmo, não se questiona
nem se a mercadoria traz algum benefício funcional ao consumidor, além de sua
representação simbólica. Também não se preocupa como esta mercadoria será descartada, o
que importa é consumir, na sociedade do consumo e do desperdício, a produção gigantesca de
lixo é parte fundamental desta dinâmica. Não estamos dizendo que tais problemáticas não
existiam, mas que agora o consumismo se torna o novo condensador destas, o novo agente
perpetuador da alienação, em dimensões globais.
Nos tempos líquidos de Bauman, como salienta Basílio (2010), a insegurança seria a
sensação mais característica, fruto da liquefação das tradições culturais, da religião, da
política, e do concomitante enfraquecimento das relações sociais. Tais liquefações e tal
enfraquecimento, tiveram como desencadeador, segundo Bauman, a vontade excessiva por
liberdade, e aqui esta liberdade não tem que ver com a liberdade intrínseca à existência que
outrora explanamos, esta está mais para libertinagem, onde se esfacelam as relações e
responsabilidades consigo mesmo e com o outro. Bauman acrescenta que parte desta sensação
de insegurança, e o medo que ela provoca, são utilizados pelas indústrias em prol do lucro,
enquanto o governo, pequeno demais diante do poder e da arquitetura globalizada de tais
indústrias, não pode fazer nada para proteger a população, e nem quer.
Um rápido apontamento neste momento, a partir do que foi discorrido, se faz de fato
interessante. Como bem denunciam Caniato e Nascimento (2010), nossa contemporaneidade
consumista e individualista, é uma sociedade extremamente marcada pelas dinâmicas
narcisistas, ideia já vislumbrada por Lasch, historiador, que nas últimas décadas do século
vinte já falava sobre tal marca social.
Retornando à temática do poder operado pelas indústrias, Lazzarato, sociólogo
italiano, fala de um ser humano contemporâneo dominado e alienado pelos projetos
industriais, e com isto, interditado na construção de sua subjetividade. Segundo Pires (2015),
Lazzarato aponta para os discursos das mídias, da política, da ciência, e podemos aqui pensar
também no discurso religioso e de outras instituições, como linguagens que chegariam para
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nós, contaminadas pelo interesse das indústrias. No final, seria a lógica do mercado a vigorar,
e tais discursos acabariam se sujeitando e legitimando qualquer tipo de manobra lucrativa. É
claro que de certo modo o mercado é pilar fundamental da sociedade, porém o que Lazzarato
denuncia é a impossibilidade de subjetivação do ser humano, e consequentemente, de
transformações sociais, até que se entenda este duplo domínio, pela lógica do mercado e pelos
discursos que a sustentam de forma velada. Tal humano, como enfatiza o sociólogo italiano,
seria convidado constantemente para os debates sociais, porém, sem entender que seu próprio
discurso, espelho do ambiente que o circunda, estaria contaminado e enclausurado, sem
qualquer potencialidade diante da lógica do mercado. Em última análise, Lazzarato evidencia
que além de ser uma crise econômica e política esta o qual nos encontramos na
contemporaneidade, estamos antes de tudo, frente uma crise de construção da subjetividade
humana, e só a partir deste entendimento, que transformações serão possíveis.
Diante deste panorama, vemos várias particularidades que foram se desenvolvendo ao
longo da modernidade até a contemporaneidade, consolidando progressivamente a
industrialização e o consumismo como alicerces das relações sociais, consequentemente, tais
alicerces são cada vez mais importantes para se compreender a construção da subjetividade
em nossa sociedade. Deste modo, acreditamos ser crucial pontuar mais alguns elementos que
foram grandes impulsores deste movimento, a fim de obter uma compreensão mais completa
deste quadro.
O discurso científico faz parte da lógica do mercado como bem foi dito, porém, ele
tem uma característica que o torna especial nesta relação. Tal discurso, que tem sua origem no
iluminismo, se fundamenta no pensamento de que a partir da razão, utilizando principalmente
a matemática como linguagem, conseguiria comunicar o real tal como ele é. O problema deste
pensamento, como evidenciam Cougo e Vieria (2014), seria que todas as formas de
linguagem, até mesmo a matemática, são processos interpretativos, ou seja, elas comunicam
uma teoria, ou se preferir, uma noção do que seja o real, uma representação, pois entre o
caráter simbólico das linguagens e o real, existe uma lacuna intransponível apontada por
Lacan, que não permite a captura do real pelo discurso, o real portanto, é inominável. É claro
que muitos avanços são feitos a partir da ciência, porém, como falamos, a partir de uma
representação do real. Sendo assim, a falácia de se possuir o real em mãos, cria no ser humano
uma ideia de onipotência, um delírio, onde não existiriam mais limites para a existência.
Lembremos que o discurso consumista também é assim, o que importa é consumir, sem
limites, as consequências resolvemos depois, portanto, o consumismo sempre se apoiou no
discurso científico e seu espírito onipotente. Além disto, o discurso científico também é
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utilizado diretamente no marketing de mercadorias, para dar status de autoridade, como selo
de garantia, e assim, nada mais se questiona, a não ser pela ciência, que como já explanamos,
é passível de estar contaminada pela lógica do mercado.
Outro elemento aliado da industrialização e do consumismo, sempre foi a tecnologia.
Vamos focar aqui na última década, onde os seres humanos estão, cada vez mais, conectados
globalmente por dispositivos, imersos em redes sociais, tornando-se habitual viver o virtual.
De acordo com Barbosa (2013), este ambiente virtual acaba perpetuando ainda mais o
consumismo que já vigora, visto que o ser humano é seduzido a criar uma existência cada vez
mais lapidada, controlando as relações ao seu redor, com isto, tal humano não entra em
contato com outras formas de existência, ficando cada vez mais preso em uma bolha.
Potencializando este cenário está o marketing, que se aproveita das ricas informações geradas
pelos usuários, para engendrar a lógica do mercado nos algoritmos das redes. O virtual
passaria a ser a nova realidade, e por mais que conecte globalmente, paradoxalmente, diminui
o contato com outras formas de existência por reduzir as experiências de alteridade com o
outro, perpetuando assim, o já estabelecido consumismo.
Um terceiro elemento fundamental para nossa discussão é a cultura, na verdade, o
declínio das tradições culturais. Segundo Rodrigues e Caniato (2012), o termo indústria
cultural foi cunhado por Adorno e Horkheimer na metade do século vinte, para apontar o
domínio exercido pelo fetiche da mercadoria, e a transformação da cultura em mercadoria. O
fetiche da mercadoria é um conceito que se apoia na noção da perda de valor social das
mercadorias, ou seja, seu valor como produção humana não importa, quem ou como foi
produzida, não é significativo, o que vale é ela por si só. Junto à isto, a mercadoria como
fetiche possui status de produtora de felicidade, status este, gerado pelo marketing e suas
técnicas de sedução. Na mesma época, a cultura começa a ser transformada em mercadoria,
deixa então de ser cultura, fenômeno espontâneo, pertencente ao povo, para se tornar
mercadoria, controlada e planejada pela indústria. As consequências deste quadro são
impactantes, pois como evidenciam Adorno e Horkheimer, além de ter função construtora da
sociedade, a cultura é também ferramenta de crítica à própria sociedade que constrói, ou seja,
é instrumento fundamental para o ser humano gerar mudanças no que vai se estabelecendo,
como também apontava Freud. Com o advento da indústria cultural, o ser humano vai
perdendo a cultura como sua grande aliada de protesto, para ser alienado por uma mercadoria
que se passa por cultura, tornando-se um ser cada vez mais acrítico, dominado, e enquadrado
na lógica do mercado.
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Fomos discorrendo acerca da industrialização e do consumismo, para tentar


compreender estes fenômenos que se mostram tão evidentes na contemporaneidade. Não
queremos dar a entender, que tais fenômenos seriam os únicos responsáveis pelas
problemáticas atuais, o que pretendemos, como já foi dito, é evidenciá-los como vetores
estruturais para se pensar o mundo contemporâneo, e o ser humano que nele habita. O quadro
geral é grande e complexo. A diminuição das relações de alteridade com o outro e a busca
incessante por identidade, estimuladas pelo contato compulsivo com as mercadorias, pela
queda das tradições culturais, da política e da religião, e pelas lapidações do mundo virtual, se
mostram embrenhadas com o crescimento do individualismo e das dinâmicas narcísicas. Um
ponto que se revelou fulcral dentro do que foi levantado, é o desejo fomentado pela indústria,
a partir das técnicas de sedução do marketing, apoiado no discurso científico, desejo este,
sustentador da lógica do mercado, portanto, dominador e alienador social, que impacta
diretamente a construção da subjetividade. Partindo desta compreensão, o desejo que envolve
a mercadoria fetiche, se mostra um ponto promissor para se tecer algumas reflexões a seguir,
sobre as influências da industrialização e do consumismo na existência humana como projeto
subjetivo.

1.2.3 A construção da subjetividade contemporânea

A partir das considerações feitas até o momento, vamos refletir sobre a construção da
subjetividade contemporânea, que se revelou impactada pelos fenômenos da industrialização e
do consumismo na visão de diversos autores citados e pensadores que os acompanharam. Para
isto, seguimos compreendendo a subjetividade como o sentido singular inalienável de cada
existência humana.
O conceito de fetiche da mercadoria foi um ponto central para toda a discussão, tal
mercadoria, pelos seus caráteres de valer por si mesma, e de ser produtora da felicidade,
possui uma aura de objeto encantado. Aqui, faremos uma observação que se mostrará
importante, utilizando o conceito de fetiche da psicanálise. De acordo com Mello (2007),
Freud evidenciava que certo grau de fetiche, ou seja, de encantamento, é encontrado em todos
os objetos de desejo humano, devido à polimorfia da pulsão. Com isto, a grande problemática
da mercadoria fetiche não se encontraria necessariamente no fato de ela possuir os caráteres
encantados mencionados acima, mas sim por outra particularidade, que discorreremos agora.
Segundo Cougo e Vieira (2014), o problema do discurso industrial, seria que ele se diz
detentor do objeto de desejo humano, como se o mesmo fosse universal. A partir disto, o
16

objeto de desejo deixa de ser construído de maneira artesanal pelo sujeito, de maneira
singular, como deveria ser, devido sua inerência simbólica, para ser objeto de desejo
industrializado, universalizado, engendrando o sujeito em uma lógica que não se sustenta,
vazia, lógica de sofrimento, pois tal objeto industrial não tem raízes neste sujeito, e aqui se
encontraria a grande problemática da mercadoria fetiche. Em comorbidade, o discurso
científico acrescenta mais sofrimento nesta dinâmica, dizendo ao sujeito que a felicidade
realmente é atingível de forma universal, gerando uma espécie de delírio. O sujeito então, não
compreende o porquê de não ser feliz, já que dizem à ele que a felicidade está logo ali, ao
alcance de seus olhos, seria só seguir a fórmula, com isto, acaba culpabilizando si mesmo pelo
fracasso, como se fosse defeituoso em relação aos demais.
Discursar sobre soluções universais é um problema, a tentativa de encaixar um objeto
pré-fabricado na existência humana, subjetiva por excelência, não vai se sustentar. Como bem
evidenciam Silva e Garcia (2011), Lacan já apontava tal impossibilidade, visto que para o
pensador, como também viemos afirmando durante toda a reflexão, o sujeito se estrutura no
movimento de construção da subjetividade, movimento simbólico, construindo significação
própria, sentido singular, sendo assim, insere-se no mundo, mas sempre volta sobre si mesmo,
em uma permanente busca por sentido próprio.
Sobre esta problemática da mercadoria fetiche, e o discurso do universal que a
circunda, problemática esta, que se mostra um possível empecilho para a construção da
subjetividade humana, Torezan e Aguiar (2011) salientam, também de encontro com as
pontuações até aqui feitas, que o sujeito frente à angústia de se encontrar apenas como objeto
do outro, e portanto, de si mesmo, vai lutar para se colocar em posição de sujeito, ou seja, vai
lutar para se singularizar, encontrar seu sentido próprio, contra o vazio. Luta esta, que se
mostra marcante na contemporaneidade pela aparição crescente do sujeito em estado-limite,
ou se preferir, borderline.
Dando prosseguimento à nossa reflexão, pensamos ser fundamental entender os
movimentos da clínica contemporânea, a fim de compreender melhor os desdobramentos das
problemáticas atuais, no que diz respeito ao sofrimento que foi tomando forma aqui,
relacionado às interdições na construção da subjetividade, bem como para dar embasamento
ao que viemos falando até então.
Lazzarini e Viana (2010), fazem considerações importantes, apontando a clínica
contemporânea psicanalítica como uma clínica do vazio. Existiria uma modificação na
demanda, comparada ao início da psicanálise, final do século dezenove, onde os casos que
imperavam eram os neuróticos clássicos. Desde lá até hoje, os casos que aparecem e
17

começam cada vez mais ganhar força são os de ordem narcísica, tal progressão, se alinha
historicamente com o desenvolvimento da industrialização e do consumismo. A queixa dos
pacientes com problemáticas narcísicas, seria um mal estar não muito claro, sem sintomas
fixos, uma espécie de sentimento de vazio interior, vazio de sentido. Estes pacientes ditos
limites, entre a neurose e a psicose, sofrem de uma regressão comparado aos neuróticos
clássicos, um empobrecimento interior, já que o mito de narciso frente ao edípico, é anterior
na escala de desenvolvimento do sujeito, portanto, mais estrutural. Neste cenário, para levar o
paciente limite rumo à construção de sentido próprio, a visão de Winnicott, referente sua ideia
central de verdadeiro e falso self, se mostraria fundamental, pois aponta para um mundo que
não deve ser só reconhecido como algo que exige adaptação, mas mundo que também
possibilita experiências criativas, gerando sensação de uma existência digna de ser vivida,
existência própria e singular, conduzida pelo sujeito e não por outrem. A modificação da
demanda na clínica, se mostra então de acordo com as mudanças históricas-sociais, bem como
as medidas para tentar solucionar o sofrimento. A busca por uma pílula mágica para aliviá-lo,
como os antidepressivos, que apenas mascaram os problemas, é crescente na sociedade da
ciência e do consumo.
A clínica fenomenológica-existencial se posiciona no mesmo sentido, Dutra (2012)
evidencia também uma clínica do vazio, apontando o crescimento vertiginoso dos suicídios e
suas tentativas, iniciado nas últimas décadas do século vinte, coincidindo então, com a época
em que a industrialização e consumismo tomam proporções extremas. Pontua-se da mesma
maneira aqui, a problemática das verdades universais presente nos discursos industrial e
científico, esta que, engendra o ser humano em um duplo sofrimento que se auto alimenta e
interdita a construção subjetiva. Como já foi dito, sofrimento composto pela dinâmica da
mercadoria industrial, e pela falácia científica da felicidade universal. Como é possível ser
triste em um mundo que possui aquilo que você deseja, um mundo que dispõe de todas as
soluções para se conquistar a felicidade e banir o sofrimento. Este seria o questionamento
retórico que exemplifica tal círculo de sofrimento. O tédio profundo e o desinteresse pela
vida, são grandes marcas não só do fenômeno do suicídio, como de todo sofrimento
contemporâneo, devido à dificuldade de singularização da existência humana, de construção
de sentido próprio, em um mundo imperado pelo universal.
Pensando nesta problemática do universal, e gerando enriquecimento ao assunto,
estava Heidegger. De acordo com Lessa e Novaes de Sá (2006), o filósofo entendia a
existência como cuidado de si, onde o ser-no-mundo deveria buscar suas próprias respostas
frente às questões da vida, ou seja, construir seu sentido singular, de modo próprio, autêntico.
18

Heidegger aponta para um modo impessoal de lidar com tais questões, que seria justamente o
contrário, onde o ser-no-mundo age pautado em teorias apriorísticas da existência, universais,
e quando demasiado este tipo de conduta, seria ela causa de sofrimento. Diz-se aqui
demasiado, pois sempre haverá certo grau de impessoalidade na existência. Uma relação
terapêutica pautada neste entendimento, visa estimular o ser-no-mundo a reconhecer sua
impessoalidade, em prol de buscar uma experiência de autenticidade. Para isto, deve-se ter
uma preocupação com este ser-no-mundo, que Heidegger denominou de anteposição, ou seja,
não se deve tratá-lo de modo indiferente, muito menos substitutivo, e aqui entende-se
substitutivo como tentativa de resolver os problemas pelo outro, negligenciando sua
construção subjetiva. Sendo assim, a busca por autenticidade é o caminho, para as
experiências que se encontram empobrecidas.
Kierkegaard, em meados do século dezenove já fazia apontamentos neste sentido.
Segundo Ponte (2016), o filósofo dinamarquês traça um conceito de indivíduo em oposição à
multidão, e aqui indivíduo não se liga ao sentido individualista, mas sim ao de um ser humano
que busca traçar seu próprio caminho, construir sua singularidade na existência, sua
subjetividade, sendo esta justamente o que opõe, diferencia, tal indivíduo da multidão, da
massa inautêntica. Em Kierkegaard, o rumo para a existência é se fazer subjetiva, sem se
confundir com a multidão, criar algo próprio que valha a pena ser vivido, e não existência
apenas à espera da morte. A liberdade que permeia o pensamento de Kierkegaard sobre a
existência é estruturante, como outrora pontuamos, tal liberdade, acompanhada pelo senso de
responsabilidade, emerge no fato de a vida não ter sentido prévio, e isto geraria angústia, esta
que será impulsora do movimento subjetivo. Sendo a existência sem sentido a priori, para
Kierkegaard, em última análise, viver é um ato de fé.
Com o cenário que foi tomando forma em nossa reflexão, percebe-se que a
problemática das verdades universais é uma grande questão. Não pretendemos culpabilizar a
industrialização e o consumismo por todas as mazelas humanas, nem pintar aqui algum tipo
de paisagem apocalíptica, mas sim apontar grandes elementos contemporâneos que nos
permeiam, para uma melhor compreensão da construção da subjetividade atual. Vale ressaltar,
que este movimento da indústria não é novidade, visto que as instituições religiosas e os
regimes de governo sempre fizeram uso do discurso do universal, se dizendo detentores da
verdade e da felicidade, do caminho a ser seguido, os primeiros com narrativas teológicas,
como na inquisição católica, e os segundos com narrativas de utopias sociais, como no
nazismo. As instituições do poder, sempre permearam a existência. Porém, a industrialização
e o consumismo, apresentam algumas renovações, intensificadoras da opressão e da
19

alienação, como a tecnologia, que coloca o ser humano, de forma lapidada, em contato
permanente com a lógica do mercado, por meio dos smartphones. Como também o discurso
científico, que apoia e legitima tal lógica, e sua pretensão de onipotência. A jogada agora, não
é mais impositiva, como eram das antigas instituições dominantes que citamos, mas sim
sedutora, fato que cria um domínio, talvez, mais eficiente e difícil de ser constatado. Por fim,
a cultura que era o grande instrumento de batalha e resistência nos tempos antigos, se volta
em favor da indústria, que a suprime e vende uma mercadoria em seu lugar.
Nos encontraríamos, como nunca, frente uma crise da construção subjetiva. Os relatos
clínicos e epidemiológicos corroboram com isto, evidenciando que vivemos a era do vazio
existencial. O empobrecimento da subjetividade contemporânea, não é fenômeno de ordem
moral, no sentido de que seria mais virtuoso ser rico em diferenças, mas sim fenômeno da
ordem do sofrimento, portanto, de ruptura no amago da existência, pois negligencia a
inerência subjetiva do ser humano. A psicanálise e a fenomenologia-existencial,
compartilham deste entendimento, de um ser humano que se realiza na subjetividade,
contraposto ao cientificismo, e ambas apontam as problemáticas clínicas contemporâneas
como desdobramentos dos fenômenos históricos-sociais, evidenciando o impacto da
industrialização, do consumismo, e da universalização da existência, que se consolidaram
mais fortemente no período das políticas neoliberais. Fechando nossa reflexão, pensamos que
compreender o cenário atual, é um início para se pensar nas terapêuticas e modos de
resistência. Em conjunto, um ato de postura se mostra crucial, não só na clínica, mas também
no cotidiano, ato que não precisa ser de cunho ativista, mas que começa conosco e para com
os outros ao nosso redor. Um ato político, que visa estimular a existência como cuidado de si,
em busca de construção subjetiva, autenticidade, e responsabilidade por si mesmo, para que as
relações de alteridade com o outro não se percam, estas, tão fundamentais para a existência
humana. Ato que busca desmascarar o discurso universalizante, e as medidas paliativas para o
sofrimento, se constituindo então, antes de tudo, como uma postura ética perante a existência.
O sofrimento humano se modifica, e cabe aos cuidadores acompanhar o processo.

1.3 Objetivos
Nosso trabalho tem como objetivo compreender as influências da industrialização e do
consumismo na construção da subjetividade contemporânea, a partir de uma revisão
integrativa de literatura. Para tal, pontuar o conceito de subjetividade, traçar o panorama
social qual surgem e posteriormente habitam a industrialização e o consumismo, e refletir
20

sobre os entrelaçamentos de tais fenômenos sociais com a construção da subjetividade, se


mostram passos fundamentais para concluir o que foi proposto.

1.4 Justificativa
Pensamos a importância de nosso trabalho, primeiro, no sentido de que a subjetividade
como projeto inalienável da existência humana, sendo uma espécie então, de fulcro da
existência, é fundamentalmente importante não só nos debates psicológicos, ou filosóficos,
mas em qualquer que sejam eles, já que possuem os seres humanos como ponto de partida.
Sabendo-se então, que as trajetórias históricas-sociais são constituintes intrínsecos da
construção da subjetividade, entendemos que fenômenos tão dominantes da sociedade atual,
como a industrialização e o consumismo, se fazem peças fundamentais na compreensão de tal
construção na contemporaneidade, e aqui se faz nosso segundo ponto de importância.
Ademais, refletir sobre tal tema já seria demasiadamente importante em uma situação
qualquer, imagine então, na sociedade da produção e do consumo em qual vivemos, onde os
poucos que meditam, no sentido filosófico, são constantemente convidados e pressionados
para que não façam, sociedade esta, onde o ócio, este ato fundamental para o desenvolvimento
de nossa existência, cada vez mais é abafado e perde seu lugar. Existe também, é claro, uma
justificativa que se faz presente com a importância deste trabalho na nossa própria formação
como psicólogos, pois muito nos enriquece discutir um tema tão nobre de nossa área. Deste
modo, tanto fatores sociais como acadêmicos se mostram relevantes para a construção do
nosso trabalho, pois se cria contribuições no saber psicológico e nos exercícios da profissão,
já que compreender a subjetividade contemporânea e o sofrimento que lhe cerca é interesse de
ambos, bem como se cria contribuições sociais, no sentido de possibilitar reflexões críticas
sobre o mundo contemporâneo. No final, a sociedade e a academia se entrelaçam, e a
realização deste trabalho, se mostra interessante para a existência como um todo.
21

2 MÉTODOS

2.1 Fundamentação metodológica


Com intuito de cumprir com o objetivo de nosso trabalho, foi realizada uma revisão
integrativa de literatura. De acordo com Souza, Silva e Carvalho (2010), devido à crescente
quantidade de publicações científicas na área da saúde e a consequente complexidade que isto
gera, a revisão integrativa tem se mostrado um grande instrumento metodológico, pois a partir
da integração de estudos teóricos e de campo, ela permite sintetizar de maneira crítica o vasto
material científico disponível sobre um determinado tema, e fundamentar as práticas na área
da saúde a partir das evidências quais surgem.

2.2 Procedimentos para coleta de dados


Para a realização de nossa revisão integrativa de literatura, foram utilizados artigos
científicos encontrados nos indexadores SciELO - Scientific Electronic Library Online, e
PePSIC - Periódicos Eletrônicos em Psicologia, por serem estas, fontes amplas e rigorosas do
conhecimento, permitindo assim, um trabalho fidedigno.
Uma busca foi feita em tais indexadores a partir dos descritores “subjetividade”,
“contemporaneidade”, “modernidade”, “industrialização”, “indústria”, “industrial”,
“consumismo”, “consumo”, “consumir”, onde tais descritores foram buscados aos pares, em
todas as combinações possíveis entre eles.
Dos artigos encontrados nesta busca, nós selecionamos aqueles quais possuíam no
máximo dez anos, em língua portuguesa, e que estavam de acordo com o tema de nossa
reflexão, totalizando 76 artigos selecionados. Isto foi realizado através de uma leitura dos
títulos e resumos. Após esta primeira seleção, fizemos uma releitura dos resumos destes 76
artigos, e por fim selecionamos dentre eles 20 artigos quais corroboravam de maneira mais
enfática com nosso tema, onde o consumismo e a industrialização se mostravam entrelaçados
com a construção da subjetividade contemporânea.

2.3 Procedimentos para análise de dados


Na etapa da análise de dados, foram realizadas leituras na íntegra dos 20 artigos
selecionados na coleta, e após isto, fizemos resumos dos mesmos onde as principais ideias dos
autores foram discorridas para que pudessem ser discutidas posteriormente.
22

3 DISCUSSÃO

Para o início de nossa discussão, iremos fazer uma breve apresentação dos dados que
foram coletados, pois acreditamos ser importante o leitor compreender o processo. Em nossa
busca dentro dos indexadores Scielo e Pepsic, a partir dos descritores “subjetividade”,
“contemporaneidade”, “modernidade”, “industrialização”, “indústria”, “industrial”,
“consumismo”, “consumo” e “consumir”, apareceram 1157 artigos na Scielo, e 415 na Pepsic,
totalizando 1572 artigos. Temos que levar em consideração que, dentre este total levantado,
certos artigos se apresentam de maneira repetida, tanto porque alguns deles estão inseridos em
ambas as plataformas, como porque outros se repetem nas diferentes buscas que fizemos a
partir das diversas combinações de descritores. Vale ressaltar também, que muitos destes
artigos, principalmente os que apareceram na Scielo pois tal indexador abrange várias áreas
do conhecimento científico, não tinham relação com o tema de nosso trabalho.
Em conjunto de nossa busca, fizemos uma primeira etapa de seleção segundo os
critérios que traçamos em nossa metodologia, a saber, artigos publicados nos últimos 10 anos,
em português, e que estavam de acordo com o tema de nossa reflexão, onde o consumismo e a
industrialização se mostravam entrelaçados com a construção da subjetividade
contemporânea. Para compreender quais artigos se encaixavam neste último critério citado,
foram lidos os títulos e resumos dos artigos. Deste modo, a partir dos critérios descritos
acima, foram selecionados 76 artigos nesta primeira etapa de seleção. Após isto, fizemos uma
segunda etapa de seleção, a partir de uma releitura dos resumos, onde, dentre estes 76 artigos,
foram selecionados 20 que acabaram por corroborar de maneira mais enfática com nosso
tema. Estes 20 artigos foram selecionados, lidos na íntegra, e feitos seus respectivos resumos
onde discorremos as principais ideias dos autores, para que então, por fim, pudéssemos fazê-
los presentes na discussão aqui proposta.
Antes de começar a discussão dos dados propriamente dita, acreditamos ser
fundamental retomar o conceito de subjetividade que traçamos no decorrer de nossa
introdução, visto que a subjetividade humana é o centro de nossa reflexão, e que, como já
salientamos anteriormente, tal conceito apresenta acepções diversas, sendo então fundamental
delineá-lo para que nos façamos compreender.
Com grande frequência, costumamos escutar o termo subjetivo em nosso cotidiano,
fazendo referência antagônica à objetivo, tipo de uso este, que geralmente impõe sentido
pejorativo ao termo subjetivo, como se fosse algo da ordem do não real. Este tipo de uso, que
23

por vezes também encontramos no meio acadêmico, não tem relação com nossa visão de
existência aqui proposta, pelo contrário, nossa proposta é pensar a subjetividade como
representação da psique humana, denunciando o caráter singular de cada existência, o sentido
próprio que lhe perpassa, portanto, subjetividade da ordem do real, já que por fim, ao mesmo
tempo em que a existência tem caráter interpretativo, a interpretação acaba por ser algo
concreto que constrói tanto os seres humanos quanto o mundo qual habitamos. Como bem nos
evidencia Ponte (2016), a subjetividade é não só a psique em Kierkegaard, a alma humana no
sentido filosófico do termo, mas também o caminho que somos obrigados a seguir, diante da
liberdade que nos é imposta ao existir. Segundo Ponte (2016), para Kierkegaard a existência é
vivida paradoxalmente, sob tensões constantes, cabendo à nós nos realizarmos de maneira
própria, sem se confundir com a multidão, e para isto, um ato de postura diante da liberdade
se mostra fundamental, ato que visa não se universalizar, mas sim traçar seu próprio caminho
tomando para si a responsabilidade por si mesmo. Desta forma, em última instância, a
subjetividade acaba por ser senão aquilo qual a existência demanda por excelência. Vale
ressaltar, que como bem apontamos em nossa introdução, tanto a psicologia histórico-cultural,
quanto a psicanálise, e também a fenomenologia-existencial, compreendem a subjetividade
estruturada na relação dialética irredutível entre ser e mundo, qual não privilegia nenhuma das
duas instâncias. De todo modo, por fim, nossa compreensão da subjetividade acaba por se
encontrar mais próxima desta acepção proposta pela fenomenologia-existencial que reside em
Kierkegaard.
Agora que traçamos o conceito de subjetividade, iremos partir para a discussão dos
dados colhidos, com o intuito de compreender as influências da industrialização e do
consumismo na construção da subjetividade contemporânea. Queremos aqui salientar, que tal
discussão será feita em dois tempos, dando prosseguimento e aprofundamento
respectivamente aos dois últimos tópicos de nossa introdução. Sendo assim, primeiro iremos
discutir questões históricas sobre a ascensão da industrialização e do consumismo, apontando
para o panorama social qual foi se construindo na sociedade ocidental, e que foi se espalhando
pelo mundo devido o processo de globalização. No segundo momento, iremos discutir mais
especificamente sobre os impactos da industrialização e do consumismo sobre a construção da
subjetividade contemporânea, trazendo a reflexão mais próxima da psicologia clínica.
Como vimos anteriormente na introdução do trabalho, podemos considerar que a
gênese do pensamento que propiciou a industrialização e o consumismo reside no
racionalismo de Descartes, se consagrando por fim em Kant. Pensamento este, que se legitima
sócio-politicamente com o movimento iluminista do século dezoito e sua consequente
24

revolução francesa. Em conjunto neste período iluminista temos a revolução industrial, e


posteriormente, finalmente a passagem da sociedade de produção para a atual sociedade de
consumo no final do século vinte. Esta mudança paradigmática, da produção ao consumo,
bem como as problemáticas que resultaram disto, aparecem como temas caros nos dados
encontrados, principalmente sob o olhar crítico dos frankfurtianos, mais especificamente de
Adorno, Horkheimer e Marcuse, portanto, discorreremos a seguir sobre.
De acordo com Ribeiro e Abeche (2013), a partir da revolução industrial o trabalhador
é negado em seu processo criativo, em sua intimidade com aquilo qual produzia, pois tem
contato apenas de maneira fragmentada com a mercadoria, por exemplo sendo apenas um
apertador de parafusos. Com isto, tal trabalhador se encontra completamente alienado diante
do que produz. Em conjunto deste trabalho alienante, jornadas exaustivas acabam por gerar
trabalhadores cada vez mais cansados, e a crescente substituição do homem pelas máquinas
faz com que os mesmos se encontrem cada vez mais solitários dentro das fábricas. Cansado e
solitário, o trabalhador vai perdendo seu senso de comunidade, se encontrando por fim isolado
nas grandes cidades. A expressão máxima deste quadro, segundo Caniato e Rodrigues (2012),
teria sido o modelo de produção fordista, que subjuga os trabalhadores à meros objetos, ao
mesmo tempo em que tem por objetivo último a produção máxima de mercadorias no menor
período de tempo possível. O problema deste modelo que visava antes de tudo produzir,
residia no fato de que a população não conseguia adquirir toda a produção, ou seja, as
indústrias não conseguiam escoar suas mercadorias, e o desperdício bem como os custos de
armazenagem acabavam prejudicando a lucratividade. Com isto, de acordo com Caniato e
Rodrigues (2012), o toyotismo entra em cena, modelo importado do Japão devido à eficácia
que vinha tendo, e acaba por resolver tal problemática já que agora se pensa antes no consumo
do que propriamente na produção. Deste modo, sendo o consumo a principal preocupação
industrial, a lucratividade é aumentada não só pelo fim da produção em excesso, mas também
pelo incentivo ao consumo. Agora, o objetivo a priori é gerar demanda, e este fenômeno
acabaria por ser um dos pilares estruturais para o fim da sociedade de produção e o início da
sociedade de consumo qual nos encontramos na contemporaneidade.
Um fato interessante sobre esta ascensão do consumo ao centro das relações sociais e
que denuncia este planejamento adotado pelas indústrias, de acordo com Silva (2017), seria
que nos Estados Unidos haviam nesta época especialistas treinados que iam à casa dos
trabalhadores para dizer como deveriam gastar seu dinheiro e passar seu tempo livre,
escancarando para nós o intuito de adestrá-los ao consumismo almejado pela indústria. Vale
ressaltar aqui, outra estratégia primordial para a consolidação do consumismo qual tem o
25

marketing como um dos seus aliados fundamentais, a saber, a obsolescência planejada, onde
se visa fabricar uma mercadoria já com o intuito de que ela se torne disfuncional em um
determinado período de tempo planejado, dando espaço para vender outra coisa em seu lugar,
em um ciclo rápido e sem fim. Como bem nos denunciam Pereira et al. (2019), a
obsolescência planejada chegou inclusive a ser incentivada publicamente por um economista
norte americano como maneira de superar a crise estadunidense de 1929, e por fim, tal
estratégia acabou sendo implementada oficialmente pelo governo.
Pudemos ver que a indústria foi se reinventando para perpetuar sua dominação social.
Um dos fenômenos fundamentais de acordo com os frankfurtianos para que isto fosse
possível foi justamente o advento da indústria cultural. Segundo Morais, Pascual, e Severiano
(2011), os frankfurtianos apontam que a indústria cultural surgiu no momento qual a cisão
entre as noções de civilização e cultura não mais conseguia dominar os trabalhadores.
Entende-se aqui, que no início do século vinte, instaurou-se uma cisão entre os conceitos de
civilização e cultura na sociedade ocidental, onde civilização se designava à produção
material, e cultura dizia respeito à arte e religião. Isto teria sido uma jogada industrial, para
fazer com que os trabalhadores continuassem cooperando mesmo diante da miséria material
qual se encontravam, pois por fim, recebiam a promessa de serem felizes através do mundo
mental e espiritual. Porém, este sistema começou a não mais se sustentar, já que além da elite
possuir os bens matérias, ela também tinha o monopólio das grandes obras de arte. Desta
forma, precisou-se transformar a arte em mercadoria para aplacar a insatisfação social, e
continuar a exploração. Neste processo, a arte começa a perder sua função crítica, passando a
ser apenas perpetuadora do status quo, ou seja, não se trata mais de arte, mas sim mercadoria
travestida da mesma.
Como bem aponta Romão (2020), a obra de arte autêntica segundo Adorno e
Horkheimer é radicalmente oposta à mercadoria, pois carrega consigo o caráter não absoluto
da existência, diferente da mercadoria que visa criar consistência em prol de uma lógica. A
arte autêntica é subjetiva por excelência, cabendo a quem entra em contato com ela lhe
interpretar. Sua estrutura permite que suas partes possam ser contraditórias ao seu todo, ou
seja, ela não tem uma estrutura fechada de modo algum, não é homogênea, e não pretende
ditar verdades universais, mas sim criar abertura para possibilidades interpretativas. Deste
modo, a inerência da arte autêntica como instrumento de crítica social não reside no fato de
ser explicitamente crítica, como por vezes é, mas sim em sua própria estrutura dialética.
Adorno e Horkheimer, de acordo com Caniato, Cesnik e Rodrigues (2012), teriam
cunhado o termo indústria cultural justamente para denunciar esta mercantilização da cultura,
26

e deixar claro sua diferença em relação à cultura de massa, já que esta, seria construída
espontaneamente pelo povo e em prol dele mesmo, pois ao mesmo tempo em que gera
identidade social também gera crítica e possibilidade emancipatória sobre si mesma. É
demasiadamente importante ressaltar que um dos fatores estruturais da operação da indústria
cultural é o fetiche da mercadoria, apagando qualquer vestígio de valor social do que foi
produzido, e lhe concedendo o estatuto de objeto universal da felicidade humana segundo
Rodrigues e Caniato (2012). A fetichização da mercadoria foi um dos temas centrais de nossa
introdução devido sua relação intrincada com a construção da subjetividade, portanto, mais
adiante retomaremos tal questão. Romão (2020) por fim nos atenta ao fato de que a chave
para o sucesso da indústria cultural, o golpe final, foi justamente a colonização do tempo livre
dos trabalhadores, ou seja, foi compreendendo que deveria impor as atividades de lazer que
ela se arraigou na sociedade dominando a subjetividade humana de maneira mais efetiva. O
trabalhador cansado e entediado quer se divertir, porém, está cansado demais para entrar em
contato com arte autêntica, já que esta demanda esforço, reflexões próprias devido sua
estrutura aberta, e não passividade, sendo assim, opta pela mercadoria para aliviar seu tédio de
maneira qual não precise elaborar tais reflexões.
De acordo com Oliveira, Severiano e Pascual (2013), uma das questões fundamentais
que perpassam as reflexões de Adorno e Horkheimer, senão a maior, é o conceito de razão
instrumental qual eles elaboraram na obra Dialética do Esclarecimento. Tal razão teria sido
fundamental na consolidação da sociedade de produção, bem como da sociedade de consumo
posteriormente, sendo alicerce da indústria cultural. A razão instrumental, segundo Oliveira,
Severiano e Pascual (2013), é uma razão que se finda em si mesma, ou seja, não comporta
nenhum um tipo de crítica ética-social sobre aquilo que ela mesma atesta como verdade
universal, pois é uma razão que está em prol da lógica dominante, excluindo tudo aquilo que
lhe contrapõe, inclusive o próprio ser humano que por fim se torna mero objeto de seu
cálculo. Acaba por ser a velha política dos fins que justificam os meios, sem qualquer reflexão
sobre as mazelas sociais. Veja bem, não se trata de uma crítica à razão como faculdade
mental, pois por fim ela nos é necessária para lidar com a existência, mas sim crítica à razão
como instrumento de alienação e dominação que acaba por gerar uma ordem naturalizada.
Como bem evidenciam Oliveira, Severiano e Pascual (2013), a promessa iluminista de
emancipação da religião acabaria senão por criar um novo mito, o mito da mercadoria. Vale
ressaltar que a ciência moderna acaba por ser cumplice estrutural deste cenário, pois tem em
sua gênese tal racionalismo, e acaba por ser uma das grandes ferramentas da razão
instrumental.
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Apontamos algumas questões centrais qual permearam o fim da sociedade de


produção e que deram alicerce para o surgimento da sociedade de consumo, bem como
mecanismos de dominação do trabalhador que se fizeram presentes em ambos os períodos.
Agora, iremos discutir sobre a sociedade de consumo propriamente dita, evidenciando o
panorama contemporâneo que lhe permeia.
De acordo com Caniato, Cesnik e Rodrigues (2012), os frankfurtianos apontam para
um domínio exercido na sociedade de consumo que agora não mais é impositivo, por meio de
força e violência explícita, mas sim sútil e sedutor. Desta forma, homogeneízam os seres
humanos colocando-os na lógica do mercado e da perpetuação do status quo, ao mesmo
tempo em que os mesmos têm a sensação de liberdade, a ilusão de que seriam potentes
articuladores próprios do seu destino a despeito de qualquer coisa, ou seja, são dominados
completamente coniventes com sua dominação devido tal alienação, em uma estrutura
serviçal que agora habita a própria subjetividade humana. Como nos mostram Caniato, Cesnik
e Rodrigues (2012), esta violência simbólica a partir da linguagem acaba por ser uma
dominação que engendra culpabilidade extrema no trabalhador quando este fracassa, pois
acredita ser o exclusivo culpado por isto, e a consequência desta dinâmica é justamente o
direcionamento de sua agressividade apenas para com seus semelhantes, já que não enxerga
os macroproblemas que lhe assolam. Adorno, segundo Caniato, Cesnik e Rodrigues (2012),
enxergaria a grande mídia como principal aliada deste domínio simbólico exercido pela
indústria cultural, onde a estigmatização da população como algo perigoso para si mesma
acaba por ser frequente. Marcuse, segundo Silva (2017), vai dizer que esta nova modalidade
de domínio constitui a sociedade da docilização do homem a partir do consumo, em uma
ordem sedutora que vem de cima para baixo de maneira brutal, com a falácia de ser em nome
do interesse social em geral.
Sobre a grande mídia, Romão (2020) nos aponta que o papel da indústria cultural é
tanto a produção quanto a própria circulação de mercadorias, onde estas aparecem em forma
de entretenimento bem como de informação atualmente. Um grande monopólio seria feito
pela indústria cultural a partir da mídia, onde ela não só produz, cria o marketing e circula a
mercadoria, mas também por fim se impõe a tecer críticas sobre a mesma, ou seja, uma
pseudo-crítica é realizada endossando tudo o que ela mesma cria como algo bom, confiável e
venerável. Romão (2020) nos evidencia que aquilo qual aparece na sociedade e é diferente de
sua ordem autoritária acaba por ser rapidamente dado como algo negativo e perigoso para o
espectador, sendo então excluído do discurso que ela tenta emplacar, quando não, a grande
mídia incorpora em sua lógica a oposição transformando-a em mercadoria, como faz com
28

certos movimentos de resistência. A comercialização da mercadoria-cultura seria um dos


ramos de maior lucratividade atualmente, onde a pluralidade pregada não passa de ser sempre
mais do mesmo. Romão (2020) usa como exemplo os jornais policiais televisivos para
denunciar três estratégias da indústria cultural quais os frankfurtianos se atentavam, a saber, o
plugging, o glamour e a fala de criança. No plugging, notícias iguais são bombardeadas no
telespectador de maneira incessante e exaustiva, a fim de deixá-lo conectado com uma
narrativa homogênea. Tais notícias são sempre apresentadas de forma espetacular,
glamourosa, o que constitui a estratégia do glamour qual pretende dar status de verdade
universal e venerável ao que foi exposto. Por fim, a fala de criança entra em cena, uma
narrativa completamente superficial e pobre sobre as possibilidades de superação das
problemáticas, que no caso dos jornais policiais acaba sempre por suplicar ao estado mais
investimento em segurança e punição. Ou seja, neste caso, instaurasse um ambiente
claustrofóbico para a população, onde a única alternativa para a violência é mais violência.
Diante deste cenário, os frankfurtianos acabariam por apontar grandes semelhanças
entre a sociedade de consumo e o nazismo. De acordo com Caniato e Rodrigues (2012), uma
destas semelhanças seria a mentalidade do ticket. No movimento nazista os alemães
aceitavam a ideia de que os judeus eram todos inerentemente inimigos, portanto, deveriam ser
extirpados da sociedade. Uma ideia que não vem da relação propriamente com o outro, mas
que é acatada pela população em geral sem qualquer criticidade por um discurso que vem de
cima para baixo. Na sociedade de consumo não seria diferente, a não ser pelo fato de não se
possuir um grupo específico para se colar a etiqueta, mas sim vários quais vão se alterando de
acordo com o interesse do período, em decisões mais estratégicas e sedutoras, ou seja, menos
emocionais e impositivas comparado ao movimento nazista. Por fim, Caniato e Rodrigues
(2012) apontam que, segundo os frankfurtianos este jogo dicotômico entre o bem e o mal
acabaria por favorecer a administração do status quo.
Outra escola de pensadores qual nos deparamos nos dados colhidos e que vai ao
encontro dos frankfurtianos é o pós-estruturalismo francês. De acordo com Severiano e
Benevides (2011), ao mesmo tempo em que os frankfurtianos denunciam a passagem do
domínio industrial na sociedade de produção, para o domínio da indústria cultural na
sociedade de consumo, Deleuze aponta para o fim da sociedade disciplinar, conceituada por
Foucault, e para o início do que veio a chamar de sociedade de controle. Segundo Silva
(2017), Foucault já previra que o modelo disciplinar qual emergiu no final do século dezoito,
após uma antecessora sociedade explicitamente cruel, começou a ruir depois da segunda
guerra mundial dando inicio à uma nova modalidade de dominação. Vale ressaltar aqui, de
29

acordo com Silva (2017), a pontuação de Foucault qual diz que determinados saberes
surgiram em determinadas épocas senão pelo e para o poder vigente, para sua articulação e
manutenção. Na medida em que o poder foi deixando de ser calcado em crueldade explícita,
precisou necessariamente de um saber para poder se perpetuar, inclusive, as ciências humanas
teriam nascido permeadas por esta relação. Voltando ao tema da sociedade de controle,
Deleuze, segundo Rocha (2011), aponta para uma sociedade que não mais é controlada
através da disciplina, esta qual exercia imposições normativas principalmente sobre o corpo
usando a punição como recurso, mas sim uma sociedade que agora exerce controle a partir da
modulação da própria subjetividade humana, utilizando-se da sedução e da ideologia da
flexibilização. Ou seja, a sociedade se diz flexível, porém no fundo, só é de fato até onde
permite a ordem vigente. Desta forma, o discurso da liberdade propagado pela mídia, do seja
o que quiser, não seria um convite à novas formas de ser, mas sim a imposição de ser algo que
por fim enquadre em sua lógica.
Sobre o discurso da inclusão, como bem nos mostram Severiano e Benevides (2011),
os pós-estruturalistas denunciam o politicamente correto como sendo um engodo, pois os
termos utilizados não seriam construídos pela população de maneira espontânea de acordo
com reais contatos com a alteridade, mas sim meros eufemismos produzidos artificialmente
pela ordem dominante que são colocados de cima para baixo de maneira autoritária na
sociedade, sendo assim, não promovem debates francos sobre as reais problemáticas que
eventualmente poderiam ser transformativos, pelo contrário, acabam por abafá-las atuando
como paliativos, sedativos, que dão um conforto momentâneo por gerar um certo
reconhecimento ao diferente, mas que não solucionam nada pois por fim o mantem afastado,
cindido. Rodrigues e Caniato (2012) aparecem em concordância, denunciando que existe um
falso discurso de solidariedade pregado pelo estado permeando a sociedade e suas instituições
assistencialistas, estas que, acabam sendo assoladas pelos políticos com consentimento e até
mesmo ajuda da mídia em prol da manutenção da lógica dominante.
Por fim, aproveitando o gancho do pós-estruturalismo e suas reflexões sobre as formas
de dominação, Rocha (2011) nos aponta uma consideração interessante de Zizek, a saber, a
diferença de totalitarismo para autoritarismo. O totalitarismo seria a dominação através de
violências explícitas, onde o estado legitima tais ações através da lei, como no modelo
disciplinar da sociedade de produção. Já o autoritarismo operaria de maneira implícita na
própria constituição da subjetividade, como no modelo de controle da sociedade de consumo.
Desta forma, apesar das discordâncias de Zizek para com o pós-estruturalismo, ambos
estariam de acordo que a luta social agora se da no âmbito da construção da subjetividade
30

humana. Ademais, segundo Rocha (2011), Zizek aponta o consumismo não só como
desdobramento do mundo neoliberal, mas agora o grande sustentador do mesmo, e por fim,
denuncia que tal mundo impõe através do discurso social o dever de se obter prazer,
corroborando então para a lógica do mercado.
Diante deste cenário social qual foi tomando contorno, vamos agora acrescentar alguns
posicionamentos interessantes que apareceram nos dados colhidos, posicionamentos estes,
que de certo modo complementam tal quadro que discorremos até agora sobre a sociedade de
consumo. Alias, dois destes posicionamentos são provenientes de Bauman e Lipovetsky,
sociólogos quais foram estruturais para nossas reflexões na introdução do trabalho, e que se
mostram aqui também profícuos.
Casadore e Hashimoto (2012) nos apontam a contemporaneidade líquida descrita por
Bauman, onde a grande marca da estrutura social seria a fluidez, qual aparece entremeada
pelo individualismo e pelo hedonismo via consumo. Uma estrutura que se retroalimenta, já
que com a queda das instituições sociais sólidas geradoras de identidade, aparecem
fenômenos como o individualismo e o hedonismo, estes que, por fim, vão esfacelando os
vínculos afetivos mais sólidos e os projetos a longo prazo. Bauman, segundo Casadore e
Hashimoto (2012), denuncia que em última instância o ser humano passa a ser descartável
como a própria mercadoria qual persegue. O sentimento de desamparo então, seria gigantesco
na sociedade líquida, já que não existe qualquer sentimento de segurança, mas sim uma
fluidez imprevisível a todo vapor, se é que já não estamos em uma sociedade gasosa. A
sensação de vazio interior impera. Zanetti e Gomes (2011) acrescentam que, para Bauman, a
busca exclusiva pelo capital a qualquer custo, visando apenas a lógica do lucro através da
produção e do consumo, teria sido a responsável pela liquidificação da sociedade e as
consequências cada vez mais presentes que lhe permeiam, como a sensação de instabilidade, o
imperativo do descartável, a desconfiança generalizada, e a solidão humana. Lipovetsky
apareceria de acordo segundo Zanetti e Gomes (2011), apontando para uma sociedade que
não superou a modernidade racionalista, mas vive seu extremo, pregando o valor da novidade
acima de tudo. Zanetti e Gomes (2011) também apontam Gidens consoante, denunciando a
era da insegurança ontológica, onde a ansiedade, mas também o tédio, são suas características
mais profundas.
Sobre esta sociedade líquida de consumo, Silva (2017) nos acrescenta o espetáculo
denunciado por Debord como grande marca da mesma, onde a mídia bombardeia imagens
espetaculares, completamente maquiadas, com o intuito de que seu público adquira a visão de
mundo qual querem. Além disto, segundo Silva (2017), o narcisismo apontado por Lasch
31

seria dominante. Um narcisismo que não pretende apenas se legitimar na admiração, mas sim
que busca o tempo todo maquiar suas imperfeições, gerando então, seres humanos que não
aceitam críticas endossados pelos constantes e costumeiros aplausos do grande espetáculo
líquido. Por fim, Silva (2017) nos aponta o pensamento de Bollas, psicanalista que
denunciaria dentro deste cenário um quadro patológico qual denominou de doença normótica,
onde o ser humano não conseguiria mais olhar para dentro de si e do outro, portanto, sem
qualquer vínculo com a subjetividade humana, mas sim constantemente reificando a todos,
inclusive si mesmo. Porém, acreditaria ser normal já que se encaixa perfeitamente na
sociedade qual habita, sendo assim, acaba por encontrar-se em grande desafio quando tenta
lidar com seu próprio sofrimento, configurando por fim, um grande desafio não só para si mas
também ao trabalho da clínica psicanalítica.
Em nossa coleta de dados, algumas pesquisas de campo quais tinham que ver com
nossa discussão aqui proposta foram encontradas. Desta forma, vamos agora apresentá-las
aqui, com o intuito de nos aproximarmos do mundo concreto, criando um corpo mais robusto
de evidências sobre o que viemos refletindo até agora.
Hennigen, Walter e Paim (2017) realizaram uma pesquisa-intervenção com 35 jovens
de Porte Alegre quais tinham entre 14 e 17 anos, com o intuito de compreender a relação
jovem-consumo, mas também de abrir espaço de discussão e reflexão para os participantes.
Na fala dos jovens, percebe-se uma grande naturalização do consumismo, bem como de
posições socioeconômicas como rico e pobre. O rico, seria visto como humilde e poupador. Já
o pobre, pejorativamente enxergado como ostentador e endividado. Com isto, os jovens
teriam uma eterna preocupação em não parecerem pobres. Um maniqueísmo que nos remete
ao discurso neoliberal cínico da meritocracia pura, além de apontar para a mercantilização de
si mesmo. Ter filhos para estes jovens aparece relacionado com a perda do poder de compra,
sem refletirem sobre outras implicações, o que iria de encontro com o cálculo econômico do
capital humano foucaultiano, onde o ser humano enxerga si mesmo e os outros
prioritariamente como uma relação de investimento e retorno, constituindo o homem
empresário de si mesmo. O trabalho aparece não como meio de realização para os jovens, mas
sim como meio de obter poder de compra, poder este, vinculado intrinsicamente à concepção
de felicidade destes jovens qual aparece como puro hedonismo. É o hedonismo através do
consumo, pois acredita-se entre tais jovens que quem consome mais é mais feliz, e tal visão,
seria propagada inclusive por seus professores segundo os mesmos. Por fim, Hennigen,
Walter e Paim (2017) destacam a importância de, a psicologia incentivar a juventude não só à
educação financeira oferecida por instituições, pois esta mesmo que possa ajudar a habitar o
32

mundo estaria arraigada no modelo consumista, mas primordialmente incentivar a reflexão


filosófica dos mesmos para que se abra a possibilidade de novos modos de existir, reflexão
esta, que se mostrou acontecer durante a pesquisa-intervenção, apontando ao pensamento
foucaultiano de que toda estrutura de poder é imanente à possibilidades de libertação.
Acselrad e Vale (2018) propõem tornar público os resultados de uma pesquisa sobre a
representação do conceito de felicidade e as imbricações desta com a sociedade de consumo.
Tal pesquisa foi realizada com 17 jovens universitários de Fortaleza, dividindo os jovens entre
dois grupos, um de 8 e outro de 9, onde o modelo de grupo focal foi utilizado para que se
pudesse enxergar um padrão dominante ao mesmo tempo em que se respeita as vivências
diversas, a singularidade de cada um. Antes de apresentar os resultados da pesquisa, Acselrad
e Vale (2018) fazem reflexões teóricas sobre o conceito de felicidade, nos apontando que
desde a filosofia clássica até a psicanálise, apesar das discordâncias que aparecem, existe um
grande consenso sobre a felicidade estar atrelada à um projeto, algo a longo prazo, como uma
espécie de plano de fundo da existência. A psicanálise pontuaria uma felicidade extremamente
complexa e singular de cada existência, não possuindo uma forma universal, e vinculada ao
sofrimento. A sociologia contemporânea por fim, apontaria que o conceito de felicidade se
subverteu complemente ao hedonismo através do consumo. Nos resultados da pesquisa,
Acselrad e Vale (2018) mostram que as falas dos jovens vão de encontro a tal hedonismo
denunciado pela sociologia, apontando para uma felicidade que se realiza através da
satisfação imediata via consumo majoritariamente, e desvinculada do sofrimento. O consumo
é tido pelos jovens como algo da ordem do sagrado, estando presente em todas as
circunstâncias, até mesmo imprescindível para o assistir de um por do sol segundo um deles.
Vale a pena ressaltar, que segundo os jovens o imperativo de ter que ser feliz forçado pelo
discurso social acaba por impactar suas vidas, já que sentem que ser feliz não é mais um
direito, mas sim um dever deles.
Pretendendo compreender os impactos da indústria cultural na subjetividade
contemporânea, Morais, Pascual e Severiano (2011) realizaram uma pesquisa sobre a
campanha publicitária veiculada pela empresa de combustível Ipiranga qual diz que todo
brasileiro é apaixonado por carro, com intuito de compreenderem se tal afirmação reflete de
fato um sentimento construído espontaneamente pelo povo, ou se na verdade não passa de
uma estratégia da indústria cultural a serviço de sua lógica. Para isto, foram analisados
depoimentos de pessoas em 12 sites do meio automobilístico para compreender como as
mesmas enxergam esta afirmação da campanha. Os resultados da análise apontam que a
afirmação veiculada pela campanha não seria fruto da cultura espontânea do povo, mas sim
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mais uma das tentativas da indústria cultural de gerar fetiche e naturalizar a sociedade.
Inclusive, em um dos sites analisados, pessoas discutiam justamente a enquete “Sou brasileiro
e não sou apaixonado por carro”, e nesta discussão, 35 dos 45 depoimentos pessoais diziam
realmente não serem apaixonados.
Como foi exposto em nossa introdução, um dos grandes aliados fundamentais da
sociedade de consumo é a ascensão da tecnologia e do mundo virtual. Esta última pesquisa
que será dialogada agora, acaba também por apontar neste sentido. Lima et al. (2012)
apresentam os resultados parciais de uma pesquisa realizada com 50 comunidades do Orkut,
antecessor do Facebook. Tais comunidades eram formadas por adolescentes, e foi realizada
uma análise do discurso qual permeava tais ambientes virtuais, com o intuito de identificar se
o mundo virtual constitui um espaço emancipatório, de criatividade, criticidade, construção da
subjetividade, ou se funciona apenas como extensão da lógica consumista. Os resultados
apontam que tais ambientes são permeados por discursos padronizados e sem criatividade,
ambientes estes, onde não habitam realmente debates, mas sim muitas frases soltas como em
um monólogo coletivo. A multipluralidade de informações qual aparece nas comunidades
seria um engodo, pois fornece senão mais do mesmo. As campanhas publicitárias estão por
todo lugar, e o consumo acaba por significar felicidade para os adolescentes. Existiria por
parte dos mesmos grande falta de sentido a longo prazo, denunciando o hedonismo, e por fim,
o tédio seria uma grande marca deste ambiente. Lima et al. (2012) concluem que, mesmo que
haja resistência, majoritariamente a tecnologia e suas redes digitais se mostram consoantes
com a lógica do consumo e o empobrecimento da subjetividade, evidências que iriam ao
encontro das reflexões teóricas do artigo quais dizem que, a última revolução tecnológica, da
tecnologia da informação, teria sido acompanhada e fomentada pelo desenvolvimento
neoliberal globalizado, tendo então interesses privados como alicerces. Deste modo, mesmo
que exista uma possibilidade hipotética destes fenômenos como instrumentos emancipatórios
do povo, e mesmo que se democratizem as tecnologias, a defasagem socioeconômica dos
povos assolados não permitiria, em geral, que eles aproveitassem as informações da rede para
benefício próprio. Estaríamos diante de uma ascensão tecnológica que por mais que seja
compartilhada se encontra completamente desvinculada de uma possível ascensão
socioeconômica. Ademais, existiria certa resistência como já mencionado acima, cabendo
então às instituições educacionais apoiá-la, promovendo críticas sobre o mundo digital.
Aproveitando que falamos sobre estes alicerces da sociedade de consumo quais são a
tecnológica e o mundo virtual, discorremos sobre outro que talvez seja até mais fundamental,
pois acaba por estar nos primórdios de todos os desdobramentos do ocidente, residindo de
34

maneira extremamente arraigada na própria subjetividade, a saber, o pensamento científico


moderno. Tal modo racionalista de conceber a existência foi um dos temas centrais de nossa
introdução, mostrando sua cumplicidade crucial para com todas as problemáticas
contemporâneas, e agora, novamente acaba por se fazer presente nos dados coletados.
A partir de concepções lacanianas, Cougo e Vieira (2014) apontam que a ciência
moderna teria se iniciado com Galileu em seu pensamento de que todo o universo seria regido
por leis matemáticas absolutas, ou seja, um universo geométrico que caberia ao cientista
apenas desvendar esta verdade universal. A grande problemática deste tipo de pensamento
reside no fato de que, como bem denunciava Lacan, a linguagem humana é interpretativa, até
mesmo a matemática. Por mais que uma narrativa se aproxime do real, existe uma lacuna
intransponível entre o caráter simbólico da linguagem e o real, já que este acaba por ter
vetores que sempre nos escapam. Deste modo, atestando equivocadamente ter o real em mãos,
a ciência moderna se põe em um caráter onipotente, e o consumismo encontra seu parceiro
ideal. Pereira et al. (2019) apontam no mesmo sentido, denunciando que a sociedade atual,
diferente da sociedade de produção, se estrutura a partir da promessa de completude humana
através do consumo, em um mercado de caráter onipotente qual diz possuir a felicidade, e
sendo assim, o discurso científico seria o maior aliado do mercado e sua mercadoria fetiche.
Em última análise, Cougo e Tfouni (2011) dizem que a grande aderência do consumismo só
foi possível justamente pelo apoio desta mentalidade científica, criando uma dupla que se
autoalimenta e impacta diretamente de forma negativa a construção da subjetividade.
Discorremos sobre este impacto anteriormente na introdução, e mais adiante, no segundo
tempo de nossa discussão, retomaremos esta questão que muito nos interessa para a psicologia
clínica.
Santos e Sá (2013) mostram que Heidegger estaria de acordo com Lacan. O filósofo
alemão aponta que a modernidade trouxe a era da técnica, onde o pensamento calculante que
lhe rege acaba por romper com a postura das sociedades anteriores, quais deixavam em aberto
a relação entre os fenômenos da existência e os sentidos narrativos que brotavam deles, já que
tais fenômenos surgem na não linguagem, ou seja, na impossibilidade de descrição última.
Desta forma, na sociedade tecnicista, o silêncio narrativo de onde surgem os fenômenos não é
mais lugar de onde podem brotar interpretações diversas, tentativas parciais de apreensão,
mas sim tomado equivocadamente como tendo uma verdade última por si mesmo qual pode
ser revelada pelo cálculo de maneira absoluta e imparcial. O caráter simbólico da linguagem é
violado, e ela ganha equivocadamente estatuto de real. Veja bem, uma narrativa, bem como a
subjetividade humana, de certo modo são o real, pois são concretos e constroem os seres e o
35

mundo, porém, não podemos tomá-los como o real propriamente dito, são coisas diferentes. A
existência humana é simbólica e real ao mesmo tempo, mas não o real em sua descrição
última, pois neste caso apenas o compõe, questão esta, que acaba por ser um dos grandes
motivos da complexidade da existência. Desta forma, segundo Santos e Sá (2013), na era da
técnica denunciada por Heidegger, fenômenos mais complexos como a morte, o amor, a
angústia, que não se deixam mimetizar facilmente através da linguagem, são extirpados da
sociedade pela ciência com o uso de técnicas e medicamentos, muitas vezes de maneira
estratégica, para que ninguém constate sua impotência perante a existência humana.
Sobre esta questão do discurso científico, vale ressaltar, como bem nos apontam
Oliveira, Severiano e Pascual (2013), que a razão instrumental é fundamentada a partir deste
pensamento racionalista moderno oriundo de Galileu e Descartes, bem como legitimada pela
ciência como instituição. Ou seja, na sociedade contemporânea teríamos operando em
conjunto estes três fenômenos. O modelo racionalista de pensamento estruturando tanto a
razão instrumental, quanto a ciência institucional, esta que por fim, acaba por legitimar a
anterior a partir do status que comporta na sociedade. É importante pensar nestas distinções,
pois a razão instrumental não está presente apenas no discurso científico que lhe legitima, mas
também nos discursos morais, políticos, sociais, relações trabalhistas, entre outros. A razão
instrumental seria o único destes três a operar de maneira apenas intencional, de má fé, pois o
pensamento racionalista e a ciência institucional acabam não só residindo na má fé como por
vezes fazem, mas muito também na alienação, ou seja, na incapacidade de reconhecer o
próprio equívoco.
Chegamos aqui ao final do primeiro tempo de nossa discussão. Percebe-se que
estamos diante de um quadro extremamente complexo e profundo, desta forma, tentamos
jogar luz em algumas questões que acreditamos ser fundamentais. Uma das questões que nos
fica bem clara, sendo um consenso entre todos os autores citados e indo de encontro com a
introdução do presente trabalho, é a passagem da dominação social explícita e punitiva para
uma dominação implícita e sedutora, passagem esta, qual acompanha o declínio da sociedade
de produção e o surgimento da sociedade de consumo. Portanto, por mais que se seja pregado
atualmente os discursos de liberdade, pluralidade, flexibilidade, estamos senão diante de um
mundo completamente autoritário. Os movimentos de resistência, acabam por ser excluídos
rapidamente pelo mercado ou assimilados de maneira estratégica pelo mesmo que lhes
transforma em pautas rasas, intolerantes, e que só servem de paliativos, como o politicamente
correto e o discurso assistencialista. Para dar embasamento concreto ao que foi exposto
teoricamente sobre a sociedade de consumo, apresentamos dados de pesquisas de campo, que
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por fim, corroboraram com as questões apresentadas. Em última análise sobre o que
discorremos até aqui, o fetiche da mercadoria apoiado pelo discurso científico se mostra ponto
fulcral do consumismo, este que, acaba por ser o grande sustentador da lógica de dominação
vigente. A indústria cultural faz seu papel imprescindível neste cenário, apoiada pela razão
instrumental, pelo marketing, pela grande mídia, pela tecnologia e seu mundo virtual, tal
indústria acaba por quase eliminar um dos maiores instrumentos de emancipação social, a
cultura espontaneamente gerada pelo povo. Dito isto, iremos agora iniciar o segundo e último
momento de nossa discussão.
Uma das questões que levantamos em nossa introdução, e que se fez aqui presente
novamente, como um dos pontos centrais do impacto da industrialização e do consumismo na
construção da subjetividade contemporânea, é a problemática da mercadoria fetiche com seu
status de objeto universal de completude. Como bem evidenciam Cougo e Tfouni (2011) a
partir de Lacan, o conceito psicanalítico de falta denuncia que não existe um objeto de
completude qual tampona a falta existencial do sujeito, muito menos um objeto universal.
Desta forma, o que satisfaz o desejo humano é sempre um objeto transitório e completamente
singular qual aparece a partir do sentido que se constrói na existência. Este fenômeno reside
no fato do sujeito ser estruturado por uma lacuna qual já falamos anteriormente, entre o real e
o simbólico. A não inscrição desta lacuna no sujeito, ou seja, se o sujeito não obtém isto no
seu desenvolvimento, ele se encontrará em posição de foraclusão, mais conhecida como
posição psicótica. Segundo Pereira et al. (2019), Lacan aponta que a grande jogada do
mercado foi ter compreendido a existência desta falta, com isto, entendeu que antes do sujeito
querer seus desejos satisfeitos, o sujeito deseja desejar. Desta forma, o mercado
primordialmente tem como objetivo não satisfazer desejos, mas os criar. Interferem
diretamente na busca humana por sentido, e por fim, vendem uma solução para o problema
que eles mesmo induzem. Dizemos problema, pois como bem nos mostram Cougo e Vieira
(2014), não se trata de um desejo artesanal construído pelo sujeito, mas sim um desejo
industrializado este qual o mercado impõe prometendo sanar com sua mercadoria fetiche,
portanto, desejo frágil qual não vai se sustentar. O apelo do mercado para que a sociedade
entre neste movimento, acaba por ser justamente a promessa de completude, a promessa de
que o mercado possui a felicidade em mãos. Esta desconsideração da falta estrutural aponta
para o discurso foracluido do mercado, que vai encontrar seu parceiro ideal no discurso
científico, este que, também desconsidera a falta se dizendo detentor do real. Desta forma,
cria-se uma sociedade à beira do delírio, qual acredita na existência da felicidade como
fórmula através do consumo. Um sistema que se retroalimenta rapidamente de forma infinita,
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pois o sujeito se depara com o vazio constantemente, porém, quer a todo custo extirpá-lo. O
mais-de-gozar que Lacan conceitua para exemplificar este quadro social, é justamente a
roupagem do objeto de desejo, ou seja, o fetiche, porém, como elucidamos na introdução do
trabalho, a grande problemática não reside no fetiche em si, pois ele nada mais é do que a
estética do desejo, mas sim em sua industrialização e promessa de tamponamento definitivo
da falta humana.
Zanetti e Gomes (2011) vão pensar as problemáticas da sociedade contemporânea
através de Winnicott, apontando no mesmo sentido de interdição na construção subjetiva.
Para o psicanalista inglês a confiança é um dos elementos fundamentais para o
desenvolvimento humano. As relações de confiança se iniciariam com um holding materno
suficientemente bom na fase de dependência absoluta, onde as necessidades do bebê seriam
atendidas sempre em uma relação criativa dialética, ou seja, a mãe permite o bebê exercitar
sua criatividade ao mesmo tempo em que ela exercita sua própria. Caso contrário, ocorre uma
diminuição da confiança do bebê tanto em relação ao ambiente quanto em si mesmo, e
concomitantemente, sua capacidade criativa fica defasada, dando origem à uma existência
predominantemente adaptativa, ou seja, que funciona falso-self em sua maioria, já que este
acaba por ser justamente uma defesa ao ambiente não confiável. Sendo então a função de uma
sociedade suficientemente boa justamente ser a extensão do papel materno, Zanetti e Gomes
(2011) denunciam que a sociedade contemporânea não se mostra exercendo tal papel, pois
com sua fluidez visando a lógica consumista do mercado acaba por não oferecer um holding
adequado, resultando em um espírito contemporâneo de desconfiança e falta de criatividade,
além de laços sociais frágeis e superficiais onde habitam sujeitos predominantemente falso-
self. Neste sentido, segundo Zanetti e Gomes (2011), a insegurança ontológica denunciada por
Giddens, que outrora citamos, é posta em paralelo com este holding não adequado, e o tédio
apontado pelo mesmo encontra ecos em Winnicott, já que para o psicanalista este sentimento
é justamente um sintoma do abafamento da vida criativa. Podemos por fim pensar que, a
criatividade tão cara para Winnicott é justamente um dos alicerces para a construção de uma
subjetividade não pobre, senão a própria manifestação por excelência da subjetividade, quase
que como sinônimos. Aqui, reside um ponto de intersecção notável entre Winnicott e Lacan,
pois ambos apontam para a existência humana como inevitável rumo à construção subjetiva.
O pensamento fenomenológico-existencial de Heidegger vai ao encontro dos dois
psicanalistas. De acordo com Santos e Sá (2013), o filósofo alemão aponta a existência como
estruturada indissociavelmente na liberdade, ou seja, não existe um sentido a priori no existir
humano, portanto, ele não é universal, cabendo então a cada um se singularizar, traçar seu
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caminho rumo à propriedade se desvencilhando dos modos impróprios que a sociedade lhe
convida. A angústia acaba por ser justamente o fenômeno qual nos aponta o vazio de sentido
prévio, portanto, a liberdade. Vale lembrar que a liberdade se faz sempre na medida de cada
ente, ou seja, da ôntica e do sentido quais já lhe pré-determinam, bem como lembrar que
propriedade e impropriedade sempre se dão de maneira mista. Sendo assim, a sociedade
consumista tecnicista, por desconsiderar estas questões em sua tentativa de universalização do
ser, acaba por constituir diversas problemáticas entorno da existência humana que se fazem
presentes na psicologia clínica contemporânea. Discorreremos a seguir.
Como foi exposto na introdução, a clínica psicanalítica e a fenomenológica-existencial
aparecem de acordo com as problemáticas contemporâneas que perpassam o existir. Dutra
(2012), sobre a clínica fenomenológica-existencial contemporânea, evidencia a clínica do
vazio, além de denunciar a epidemia crescente dos suicídios e suas tentativas. Problemáticas
estas, que seriam derivadas do crescente modo de vida imperado pelo universal, onde tanto a
indústria quanto a ciência acabam por ser cumplices cruciais, gerando uma sociedade onde o
tédio profundo é sua grande marca. A dificuldade de singularização, de traçar sentido próprio,
acaba por ser enorme.
Santos e Sá (2013), também apontando para a clínica fenomenológica-existencial,
acrescentam que o próprio conceito de doença foi naturalizado em tal sociedade de consumo,
já que acaba por estar atrelado ao fracasso em produzir, naturalização esta, endossada pela
visão biologizante da disfunção de neurotransmissores. Onde por fim, ter saúde significa
adequação à capacidade de produção e consumo. Além disto, Santos e Sá (2013) denunciam
que muitas terapias se situam no eixo técnico seguindo a lógica do mercado, onde se controla
a existência para a produção e para o consumo utilizando técnicas e medicamentos, estes que,
cada vez mais são utilizados de maneira banal e desenfreada. Por fim a ansiedade, a
compulsão, o tédio e a depressão, seriam senão expressões acentuadas do modo de vida
contemporâneo. Desta forma, segundo Santos e Sá (2013), acaba por ser imprescindível
conhecer o horizonte histórico qual vivemos, para compreender onde surge e se situa o
sofrimento que acolhemos na clínica, para que por fim, não sejamos mais um dos
perpetuadores da lógica qual o sofrimento emergiu. Já que somos consciência intencional, ser-
no-mundo-com, de certo modo a maneira como enxergamos o outro já limita ou expande suas
possibilidades próprias. Por fim, a tentativa social contemporânea de extirpar a angústia gera
um preço caro a se pagar, cabendo então não só à sociedade mas também à própria psicologia,
através de meditações filosóficas, repensar o próprio rumo que vem tomando.
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Segundo Assmann e Londero (2017), neste espetáculo líquido os seres humanos


acabam se engendrando em um processo exaustivo, gerando cada vez mais quadros
depressivos e ansiosos pelos sentimentos de fracasso e solicitação constante, frutos da
tentativa de se atingir o inatingível. A questão complica pois, logo estes depressivos e
ansiosos acabam por virar cartas foras do baralho, já que não servem mais à produção e ao
consumo. Assmann e Londero (2017) apresentam o protagonista Jack do filme Clube da Luta
como uma caricatura das problemáticas contemporâneas. O clube e o personagem Tyler qual
é a outra personalidade de Jack, acabariam por ser movimentos de resistência por parte do
protagonista. Sendo assim, a clínica psicoterápica é colocada em paralelo ao clube, pois em
última instância ela deve servir justamente como espaço de resistência para o paciente, este
que, por seus motivos, sucumbiu ao status quo. Da mesma maneira qual discorremos no
parágrafo anterior, Assmann e Londero (2017) também ressaltam a importância do
psicoterapeuta conhecer as condições sociais que estão enlaçadas no sofrimento, para que a
clínica não se torne apenas um espaço de alienação à lógica vigente.
Chegamos ao final de nossa discussão. Em última análise, o fetiche da mercadoria e a
proposta de verdade universal, quais foram tomando cores em nossa introdução como
alicerces centrais das problemáticas contemporâneas, acabam aqui por ganharem cores ainda
mais vívidas. Ficamos inevitavelmente inclinados a apontar que por fim, a sociedade de
consumo só foi possível de ser estruturada justamente por conta da hegemonia social do
pensamento racionalista originado na modernidade. Tal modelo de pensamento acaba então
por se revelar o ponto central de todas as problemáticas, seja por má fé ou alienação, pois é a
partir dele que todas se estruturam. Como já dissemos uma vez, é claro que vários avanços
tecnológicos foram feitos a partir deste modelo de pensar, porém, o que por exemplo Lacan e
Heidegger nos denunciam, acaba por ser que tal modelo quando diz respeito à seres vivos não
vai ser possível. Kierkegaard em sua época já anunciava o desastre do racionalismo para se
pensar o humano. Tanto a psicanálise quanto a fenomenologia-existencial apontam não só a
ineficácia do modelo causa-efeito para organismos vivos, mas também a falta de sentido
prévio para a existência, nos convocando por fim a traçar caminho próprio já que a
subjetividade, a alma humana no sentido filosófico, demanda isto por excelência. É
fundamental ressaltar que traçar sentido próprio é sempre na medida do concreto qual já
existe, portanto, a partir de si mesmo no mundo com os outros. Não se trata portanto de
liberdade pura, mas sim de uma abertura que se da na medida de cada ente.
Por fim, uma nova modalidade de domínio nos aparece na sociedade de consumo,
praticada pelas grandes indústrias de forma implícita e sedutora. Como dissemos na
40

introdução do trabalho, estas instituições do poder não são novidade, porém, este novo
modelo de dominação trás renovações. Uma nova sociedade se constitui com o declínio da
sociedade de produção, e isto renova também o sofrimento qual permeia a sociedade e nos
chega à clínica. Estaríamos na era do empobrecimento da subjetividade, do declínio das
narrativas, da perda da criatividade, onde a depressão, o tédio, a ansiedade, a compulsão, e o
suicídio, imperam. É a era do vazio existencial como pontuam alguns autores, e a tentativa de
extirpar este vazio, a angústia, através de universalizações da existência, seria justamente o
que perpetua tal era. Desta forma, caberia à psicologia meditar filosoficamente seu papel, para
que se possa gerar terapêuticas profícuas a partir da oposição ao status quo qual surge o
sofrimento. O já citado ato de postura de Kierkegaard se mostra fundamental não só para a
clínica, mas para a existência como um todo. Ademais, sabemos que por vezes acabamos
repetindo algumas questões em nossa fala, mas por fim, pensamos que talvez seja um fardo
inevitável de se tentar lidar através da linguagem com o real, este, em última instância,
inarrável por excelência.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em nossas considerações finais, gostaríamos de dizer novamente que não pretendemos


culpabilizar a industrialização e o consumismo, bem como os fenômenos que lhes permeiam,
por todo o sofrimento humano qual existe neste mundo. Seria demasiadamente inocente tal
proposição. O que temos em mente é compreendê-los como vetores estruturais da sociedade
contemporânea, e sendo assim, grandes influências sobre a construção da subjetividade atual.
Outra questão que tem de se tornar clara, é que tal proposta de compreensão não comporta a
ideia ingênua de que poderíamos viver à parte de todo este cenário, pois por fim acabamos por
se subjetivar a partir dele, por mais ou por menos que seja ninguém escapa, ainda mais em um
mundo de globalização crescente. A proposta então, acaba por ser gerar compreensão para
que possamos nos munir de conhecimento sobre o sofrimento que nos chega na clínica, bem
como em todo o nosso redor.
Além disto, queremos elucidar que não pretendemos dar a entender que comportamos
o real em nossas mãos, seria extremamente hipócrita de nossa parte, já que viemos diversas
vezes apontando justamente para a lacuna que existe entre a linguagem e o real por mais que a
narrativa se aproxime. Desta forma, o que pretendemos acaba por ser se aproximar o máximo
que nos é possível a partir das evidências que aparecem, mas nunca deixando de considerar
que por fim estamos a narrar uma interpretação, pleonasmo este, que nos parece pertinente ser
dito no mundo qual habitamos. Imagine só, se já se faz impossível em última instância dar
conta de uma única existência através da linguagem, imagine quando se trata do mundo. Vale
dizer também, que muitas questões sobre nosso tema obviamente acabaram por ficar de fora,
já que estamos lidando com um fenômeno de proporções gigantescas.
Pensamos que nossa proposta de compreender as influências da industrialização e do
consumismo, de certo modo, acabou por se realizar. É claro que, como dissemos,
inevitavelmente muitas questões acabam por ficar de fora, e muito ainda tem de ser discutido
sobre tal temática, porém, acreditamos que a partir dos diversos artigos teóricos e alguns de
campo quais se fizeram presentes aqui, pudemos apresentar uma certa noção da temática
proposta. Tanto as questões teóricas que foram apontadas, quanto as evidências de campo, e
também os acontecimentos históricos, acabam por corroborar entre si. Do mesmo modo, o
quadro geral que tomou contorno em nossa introdução, acabou por se mostrar alinhado com o
que foi exposto na discussão. Com isto, criou-se uma base de evidências. Por fim,
gostaríamos de dizer que nosso percurso foi com o intuito da revisão integrativa de sintetizar
42

de maneira crítica algum tema, e posteriormente gerar práticas baseadas em evidências, desta
forma, o que esperamos é que nosso trabalho possa colaborar de algum modo com as práticas
da psicologia dentro da área da saúde.
43

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