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A dimensão estética na literatura

A DIMENSÃO ESTÉTICA NA LITERATURA

01. Proposição inicial

           

      A modernidade como momento de agudização da situação do homem no mundo

   A modernidade encerra uma sociedade que vive sob uma constante ameaça, marcada na evidência de qu
num ajuntamento de consumidores passivos. O resultado disso é uma alienação aos padrões de um mundo
para lucrar incessantemente. E é aí que os indivíduos se isolam, os valores coletivos desaparecem e a sub

Na realidade, o mundo que se contempla na modernidade reúne todas as características para prom
que, normalmente, impulsionam a juventude. À medida que o tempo vai passando e as frustrações vão to
compreendendo menos o mundo que o envolve, mundo que só faz dimensionar mistérios e enigmas, mos
extenso é, na verdade, incapaz de abrir as portas para um verdadeiro conhecimento. Daí as aproximações
os grandes místicos, os revolucionários e os criadores. Todos eles se vêem permanentemente ameaçados,
pela perda do ideal que permanentemente se esquiva, seja pela sempre irrealizável busca de auto-superaçã

Mas é oportuno lembrar que os pressupostos que estruturam a alienação do sujeito vêm numa prog
significa que o homem, ao longo do tempo, vem sofrendo modificações que, paulatinamente, alteram a su
seu próprio estar no mundo. Desse modo, chega a ser surpreendente a informação de que, há mais de dois
descaracterização do sujeito humano que são muito similares às questões que se enfocam hoje, do que res
empreendendo um percurso que é, para dizer o menos, preocupante quando se pensa aonde ele quer e pre

Aí estão, para comprovar tais assertivas, as reflexões que foram feitas pelo poeta e dramaturgo ale
como um mecanismo efetivo para a educação da humanidade. Diante da importância que Schiller atribuiu
respeito do tema, já que ele contorna, invariavelmente, qualquer obra literária.

02. A estética

O que é a estética? O termo dicionarizado indica:

Estética (do gr. aisthetikê, sensitivo, sensível; aísthesis, sensação, percepção)

“O conhecimento da beleza na Arte e na Natureza, ou seja, a teoria ou filosofia do Belo, entendendo-se p


experimentadas no contato com a arte ou manifestação da Natureza”.

Na acepção moderna, o termo estética foi usado pela primeira vez pelo filósofo alemão

Alexander Gottlieb Baumgarten, em sua obra Meditações filosóficas sobre questões da obra poética. M
tempo, tão dispersa na sua proposta de determinar os valores da arte que um sem número de pensado
intelectuais ingleses, franceses e alemães dedicaram um significativo espaço em suas reflexões, na tenta
estética. Em todos eles, de certa forma, predomina uma idéia de intermediação, ou seja, a estética seria um
impressões sensíveis e a razão.

O fato de ser algo que se caracteriza numa posição intermediária entre duas formas

basilares do conhecimento – o conhecimento sensível e o inteligível – faz com que se veja a percepção e
como uma cognição  confusa que, embora claramente percebida, é pouco distinta quando confrontada
lógico estabelece.

2.1. A original e importante posição de Schiller: a estética e sua função como propiciadora d

O pensamento estético de Schiller sempre guardou uma grande proximidade com a questão d
decisiva importância para os estudos originais e diferenciados que Schiller realizou sobre a e
dinamarquês  Frederico Cristiano de Augustenburg que, em 1791,  lhe ofereceu uma pensão por três anos
profundidade da obra de Kant. Um dos resultados desse estudo foi a homenagem que o poeta prestou ao p
não se tratava de uma mera correspondência. Na verdade, Schiller redigia suas famosas Cartas sobre a
uma práxis educativa e política que procura estabelecer a importância do “reino estético”, o chamado
entre o ser físico e o ser moral do homem. Essa dimensão é que torna Schiller um pensador que extrai da
indagação do belo. É preciso lembrar que as posições de Schiller nascem das reflexões kantianas, mas é p
o filósofo nas reflexões que produziu, pelo fato mesmo de que Kant, nas suas três obras fundam
prática e Crítica do juízo –, preocupa-se, essencialmente, em distinguir as diversas funções mentais, es
atuação. Schiller, como disse, vai além, ao estabelecer uma dinâmica que se processa entre os dois mo
sentidos, vale dizer, sua sensibilidade e sua razão. Poder-se-ia, ainda, afirmar que se trata de examinar o p
um lado, e a vontade moral, de outro.

Delineia-se, desse modo, a função do “terceiro caráter” da estética, função que indica a existência
ideal absoluto de um homem integralmente homem. Como diz Anatol Rosenfeld, “de certo modo, porta
obra-de-arte, deve tornar-se em “forma viva”, “em bela alma”.  Neste sentido, o homem deve restabel
desfeita pelos dilaceramentos da civilização especializada”. Acrescenta ainda o autor que essa “fragmen
bruta ao intelecto refinado” (ROSENFELD, apud SCHILLER. 1991. 24).

2.2. A influência de Kant

                        Como disse, as origens das reflexões de Schiller estão em Kant. A contribuição do filó
distinção clara entre o gosto estético e o conhecimento lógico, por um lado, e os princípios morais, por o
se refere são dotados de uma autonomia que os particulariza de modo inequívoco.

Para esclarecer isso, Kant mostra como o mundo se biparte entre o natural e o moral. No natural,
causal e contornada por leis rigorosas que explicam a realidade. Aí está o conhecimento científico, exam
desenvolve a sua teoria do conhecimento. No lado moral, faz-se presente um homem diferente daquele se
se o ser espiritual que está condicionado pelo imperativo moral que, inclusive, o coloca no reino da
seu Crítica da razão prática (teoria moral). A princípio, é de se supor que razão teórica e  razão prática,
sejam mutuamente excludentes. Mas Kant insiste no princípio de que o homem tem um trânsito in
determinação que é admitida como sendo o primado da razão prática sobre a razão teórica, o que most
coisas. A explicação para essa articulação é feita por Kant através de um finalismo cultural e de um
teleologia e essa organização funcional são examinadas na Crítica do juízo, obra que Kant coloca numa p
a Crítica da razão prática. E é na Crítica do juízo que Kant vai examinar a funcionalidade do belo, o
características, é apreendido por nós de forma prazerosa. É assim que se dá uma teleologia natural em q
um modo particular.

Caracterizam-se desse modo as três principais dimensões da obra de Kant: a do conhecer científic
desprazer. Neste último, em que se faz presente o prazer estético, é que se particulariza o modo como
mente, de maneira, dir-se-ia, gratuita, sem a interferência de conceitos.

Segundo Kant, define-se assim o momento em que se fica diante do belo, ou seja, é quando se
prazer desinteressado, gratuito, que produz a sensação de harmonia entre a natureza e nossa mente. Pa
da Crítica do juízo, uma vez que a harmonia que se estabelece é entre o reino da natureza e o reino moral

2.3. A presença de Schiller

É bom lembrar aqui como Schiller conceituava a estética. Para ele, a “estética investiga a fac
assinalar com exatidão e correção os limites do gosto” (MICHAELIS. 2004, 16).  É importante lemb
faculdade comunicativa, uma vez que ao contemplarmos um objeto (artístico ou da própria natureza) es
prazer que nos invade. [1] E é de se notar que essa condição gratuita do objeto em despertar nosso praze
nossa faculdade de conhecer é acionada, sem se fazer acompanhar de suas funções cognitivas. Como se
uma vez que o sujeito entrega-se a uma contemplação sem acionar quaisquer conceitos, atribuindo ao obj
à nossa contemplação.

É importante alertar para a questão de forma e de conteúdo no objeto estético: Na contemplação


organização formal e não seu conteúdo. Daí que Anatol Rosenfeld, distinguindo a dimensão hedoní
hedonística, em particular, provocando desejos que me impelem a agir sobre o objeto, sempre exige a exi
a contemplação estética se desinteressa  da existência real do objeto, satisfazendo-se com sua organização

            2.4. Schiller x Kant

Já havia assinalado que Kant desenvolve a sua Crítica do juízo como um elemento intermediári


pura e Crítica da razão prática). É, pois, nesse livro aglutinador que o filósofo vai desenvolver sua esté
belo está no fato de o objeto adequar-se à nossa apreensão mental e emocional. E essa apreensão sen
sensação prazerosa. Em acréscimo, Kant fala da funcionalidade dos organismos que intervêm nessa
apreensão prazerosa e funcionalidade dos organismos – ocorre o que ele chama de “teleologia natural
refletirmos sobre eles, mas, como foi dito, fazendo isso sem a interferência da conceituação. Desse modo
o ser moral, em última instância, é quem apreende, aprecia e julga a natureza, superpondo-se, pois, ao mu

 Lembre-se que Schiller considerava o gosto como uma faculdade comunicativa e nesse aspecto
por conta mesmo do fato de que, na compreensão do filósofo, não é possível existir um princípio objetiv
que, na contemplação do belo, as faculdades do conhecimento agem de forma tão livre, tão desoneradas
contemplação do objeto, que é impossível não se pensar em condições subjetivas internas que têm de ser
Schiller entende que o juízo do gosto é, ao mesmo tempo, empírico e a priori. De fato, é a experiênci
tempo, uma comunicabilidade universal do prazer recai sobre o objeto. Assim, os nossos sentidos apree
sensação prazerosa. Desse modo, antes mesmo da experiência de contemplação do objeto, o sujeito já de
um sentido estético comum entre os homens, um princípio universal de beleza. Tal princípio não se d
exemplos, daí Schiller haver afirmado que “a reflexão estética é um movimento de exemplificação”.  

 
 

3. A importância da Estética

            É importante esclarecer o que era para Schiller a fragmentação de que o homem foi vítima, frag
que acabou por romper a unidade ingênua, tal como foi colocado por Anatol Rosenfeld. No início da cart
ao que dissera na carta anterior, quando fez críticas agudas aos costumes, à cultura que lhe eram contemp
momento, movia-se entre a natureza bruta e uma decadência requintada, conforme observa Anatol R
seguinte início.

Ter-me-ei excedido contra o nosso tempo nesta descrição? Não espero esta censura, antes vejo outra: a de
me, que este quadro se assemelha à humanidade atual, mas assemelha-se também a todos os outros povos
divorciar-se da natureza pela sofisticação, antes de poder voltar, pela razão, para o seu meio (SCHILLER

            Essas considerações podem recuar no tempo, o que fica ainda mais espantoso quando comp
civilização ocidental como, por exemplo, a que existiu na Grécia clássica. Nesse aspecto, ressalta-se um
dos gregos, o espírito e os sentidos não tinham territórios separados e demarcados como hoje, não tinham
poesia não se fazia do modo artificial de hoje, nem a especulação filosófica se deixava guiar pelos sofism
razão e natureza. Como diz Schiller, “por mais alto que a razão subisse, arrastava sempre consigo, amo
suas distinções, nada ela mutilava” (SCHILLER. 1991.51). Desse modo, ao decompor a natureza hum
mostrá-la nos indivíduos, os gregos não procediam como se estivessem rasgando a natureza hu
contemporâneos ao poeta, quando a imagem da espécie humana  se projeta nos indivíduos de forma tã
pode fazer através de um trabalho de indagação a cada indivíduo. Quer dizer, transita-se no terreno da fra
dizer que até mesmo classes inteiras de pessoas mostram-se através das potencialidades que int
intencionalmente, a exclusão de outras que são tidas como aleijões cuja presença urgia apagar.

É nesse ponto que se pode destacar a importância da estética, visto que ela será responsável pelo
sentido, é preciso lembrar que a estética trabalha com as sensações, ou seja, ela vai examinar como a ob
sensações desse sujeito. A bem dizer, a estética trabalha, sobretudo, com o exame da fruição a que a obra
aspecto, muito se há de lembrar de Roland Barthes na sua caracterização do prazer que envolve o leitor
cinicamente, dizendo: “O texto que o senhor escreve tem de me dar prova de que ele me deseja. Essa pr
das fruições da linguagem, seu kama-sutra (desta ciência, só há um tratado: a própria escritura)” [BAR
estabelece uma possível distinção entre o prazer e a fruição, percepções que acompanham a leitura. Daí a

O escritor do prazer (e seu leitor) aceita a letra; renunciando à fruição, tem o direito e o p
como o estão todos aqueles que amam a linguagem (não a fala), todos os logófilos, escritores, epis
falar (não há nenhum debate com a anulação do desfrute): a crítica versa sempre sobre textos de pra

Com o escritor de fruição (e seu leitor) começa o texto insustentável, o texto impossível. E
atingido por um outro texto de fruição; não se pode falar “em” ele, à sua maneira, só se pode ent
fruição (e não mais repetir obsessivamente a letra do prazer) [BARTHES. 1977. 31-32]. 

            Como se pode avaliar, o texto do prazer, para Barthes, é aquele texto bem comportado, com
dimensões, contentando-se em estar nelas e a partir delas ter a possibilidade de fazer-se compreender com
uma mensagem tanto quanto possível única, clara e direta. Já o texto de fruição desconhece limites e, po
impossível de ser reproduzido, de ser falado na sua inteireza e originalidade. Visto está, pois, que o tex
possa parecer uma óbvia tautologia), é para ser sentido, pois são as sensações que ele alcança, motivo
essa razão é que Barthes afirma que a re-apresentação de um texto de fruição está condenada ao plágio
encontra na tentativa da reprodução. Daí também Barthes haver dito que A fruição é in-dizível, inter-dita
a fruição está interdita a quem fala, como tal, ou ainda que ela só pode ser dita entre as linhas...”), ou a Le
fruição, ou, correlativamente, aquele que frui faz com que toda letra – e todo dito possível – se des
[BARTHES. 1977. 31].  

               Essa caracterização de texto de fruição parece-me ilustrar o sentimento estético, na medida em q


autênticas percepções que envolvem o sujeito, alcançando-o num plano da mais pura sensibilidade. E aí,
emergentes da mente profunda podem, de alguma forma, ocasionar o desequilíbrio emocional do sujeito.
promovendo uma relação equilibrada e harmoniosa entre  mente e natureza.

Todos esses aspectos lembram a função que Schiller vê na estética, como forma de colaborar com
farão presentes alguns elementos importantíssimos como, por exemplo, o fato de o gosto ser algo que
atuam de forma ainda mais efetiva sobre o sujeito. Nos Fragmentos das preleções sobre Estética do sem
Friedrich Michaelis, discípulo de Schiller, reuniu anotações das aulas do mestre, lê-se que “o gosto prom
civiliza e cultiva”. Essa afirmação decorre também do fato de que o “homem não pode fruir inteiramen
comunicar sua satisfação” (MICHAELIS. 2004. 34). Essa disposição, pois, de o indivíduo interagir com
universal do gosto é de grande importância para mostrar como a estética colabora com a formação do s
ajuizar o universalmente comunicável em sensações”, concluindo, de forma assertiva que

Nada de material, empírico é universalmente comunicável; pois é contingente. O gosto, porém, refere alg
faculdade de referir uma representação sensível a algo supra-sensível. Ele conduz do mundo sensível ao i
referência ao supra-sensível, o respeito da razão. O gosto baseia-se numa faculdade de recepção de impre
sensível  auto-ativa, na fantasia e no entendimento (MICHAELIS. 2004. 35).

            Assim, Schiller entende que o gosto promove a atividade das faculdades superiores do espírito, au
aqui surge um elemento essencial na compreensão do papel da estética na formação do ser. Trata-se da co
gosto “suavizam ou reparam a violência que é feita à sensibilidade”. Esse, inclusive, é o entendimento qu
função estética. Para ele, o sentimento estético tem uma tendência de cair em duas categorias contrastante
pode transitar de uma para a outra, citando como exemplo a vestimenta da crinolina, a grande saia estufad
pesada de uma rainha quanto mostrar-se leve e graciosa no corpo de uma bailarina. Do mesmo modo, diz
graciosos, mas adquirem uma pomposa majestade tão logo forem calçados acompanhando um vestido de

            Mas o que me interessa destacar nas colocações que o autor faz a respeito do sentimento estético é
como que domam as cruciais emoções do ser humano, o que, normalmente, é feito através da obra de arte
proximidade que vejo entre as colocações de Ehrenzweig e a afirmação de Schiller de que as apresentaçõ
“suavizam ou reparam a violência que é feita à sensibilidade”, transcrevo o trecho abaixo, em que o psica

Não estaríamos muito longe da verdade, se considerássemos o sublime e o gracioso da experiência estética como “sentimen
relativas às experiências de nossa infância que são apenas relembradas para manter memórias mais perigosas em esquecim
embebida em sentimentos de sublimidade e graciosidade que são inteiramente incongruentes. Agora sabemos, através da Psic
de um ódio e um amor tão ardentes quanto desconhecidos em nossa vida adulta. Nenhuma dessas emoções selvagens sobrev
obscuro um paraíso infantil bem ordenado no qual os pais mistificados vivem em sublimidade e justiça com uma graciosa
relação pais e filhos, desde que vista na perspectiva da criança pequena admirando seus majestosos pais, ou então, vista na
prole inocente. O ódio passional, o medo e o amor desesperado são esquecidos. Os sentimentos encobridores de sublimidade e

               Através
de tais mecanismos, a obra fundada na estética, afastando as emoções perigosas que brota
sentido de produzir o equilíbrio entre o ser e a natureza que o envolve. Esse aspecto está bem retratado po
além de mostrar a função do poeta como o que dá forma imaginária a qualquer manifestação do ser e do m
modo em que os elementos estéticos possam promover a harmoniosa sintonia entre o ser e a natureza.

                                    

     Autopsicografia

O poeta é um fingidor,

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama o coração.

            Esse poema de Pessoa é referência constante nas considerações que se fazem sobre a questão da
quando se fala do “Autopsicografia”, destaca-se apenas a primeira estrofe, onde se projeta o eu poético e
estrofe que, no meu entendimento, é até mais importante, uma vez que lá está expresso o agenciamento
responsável pela criação do texto literário, tem como resultado, na recepção do leitor, a magia de aliviar a
de que se falou há pouco. Daí que o receptor do texto, apropriando-se da dor do eu poético, descobre que
– consegue desvencilhar-se da sua própria dor. Isso é, na propriedade da percepção de Fernando Pessoa, a

                        Voltando a Schiller, seria oportuno lembrar que, na Carta VI, ele mostra como se deu a rup
ruptura se deve, por um lado, a uma operação do pensamento preciso, a racionalidade científica, interessa
imposição das forças do Estado que exigia uma clara determinação dos negócios e das condições em que
poder político. Desse modo, as forças harmoniosas que caracterizavam o ser submeteram-se a imperativo
completamente. É assim que o espírito de governo faz com que o entendimento especulativo (das ciência
que resultou uma indesviável corrosão da imaginação, oprimida pelo espírito da abstração que, no dizer d
poderia aquecer o coração e acender a fantasia”.

            É curioso observar-se como se dá a relação do Estado com o homem. Na verdade, é uma articulaç
só tolerará a subjetividade do indivíduo, sua vontade de ser inteiramente livre, quando tal subjetividade es
dizer, só quando o indivíduo puder ser livre dentro dos limites reguladores traçados pelo Estado. Esse est
revela ainda outras dimensões dessa presença do Estado, como é o caso de um embate entre o que se pod
objetivo. Se o homem subjetivo tentar valer-se de uma ação opressora, e o homem objetivo reagir tão vig
opressão, o Estado intervirá, imediatamente, para não prmitir que padrões de atuação diferenciada operem
lei sobre a individualidade hostil, numa incisiva prevenção contra vôos mais largos que tal individualidad
Estado.

            Essa presença do espírito da abstração, força consolidadora do vigor do Estado, é como que o resu
caminhada que o homem começou desde o paleolítico inferior, quando se impôs procedimentos que revel
no sentido de passar da animalidade para a humanidade. Segundo Georges Bataille, essa passagem está co
consciência da morte e a contenção da sexualidade. Diz o etnólogo-filósofo: “Uma vez que o trabalho, tan
determina a atitude diante da morte, é legítimo pensar que o interdito regulando e limitando a sexualidade
dos comportamentos humanos fundamentais – trabalho, consciência da morte, sexualidade contida – rem
1987. 28).

4. Mas... assim caminha a humanidade

            Schiller destacou de modo muito incisivo a qualidade da vida e do modo de ser da civilização clás
Entretanto, o próprio poeta reconhece que também eles, os gregos, viram-se na contingência de modificar
o conhecimento impunha isso, tal como diz Schiller na já citada Carta VI, ao reconhecer que a humanidad
totalidade porque o entendimento, pelo acúmulo que até então realizara, era inevitavelmente forçado a se
nitidez do conhecimento; não podia também subir mais porque apenas um certo grau de clareza pode coe
temperatura. Os gregos haviam alcançado tal grau, e caso quisessem prosseguir no sentido de uma formaç
totalidade de seu ser e perseguir a verdade por rotas separadas (SCHILLER. 1991. 55-6).

            É assim, pois, que as coisas se deram, inevitavelmente, com os gregos: “como nós, [tiveram] de ab
verdade por rotas separadas”, comprometendo a unidade do homem, fragmentando-o. Conforme diz Schi
forças entrem em contradição com as coisas, na sua manifestação fenomênica, obrigando o senso comum
tem de abandonar a aparência exterior dos objetos para penetrar na sua profundeza. Isso é resultado da pr
racionalidade, realiza, operando uma proposta científica que só se contenta quando avança ainda mais, ist
objetos às condições da experiência.

04. O que é, afinal, a posição de Schiller

            Mas é importante observar que Schiller não assume uma posição alienada na defesa da totalid
daquela força constrangedora que faz o senso comum afastar-se da aparência exterior dos objetos
diferenciada.Daí que ele dê, como exemplo, a impossibilidade que os seres humanos teriam para descobr
visual que a natureza lhes deu. Foi preciso que o astrônomo fizesse tal descoberta utilizando um telescóp
do infinito e a crítica da razão pura (do conhecimento científico) seria impossível se não tivesse havid
fazem presentes no entendimento científico, privilegiando a razão como forma de articular o conh
Entretanto, o pensador pergunta se as ações dessas forças humanas formadas em separado do ser, co
promoverem essa ultrapassagem da totalidade intuitiva não corresponderiam a uma maldição a que tais
dá vai enfatizar a importância do equilíbrio que deve existir nas forças em tensão entre racionalidade e in
de uma imagem poética, ao dizer que “embora o exercício ginástico forme corpos atléticos, somente o
beleza”.

            Dessa forma, a estética há de exercer um papel articulador, intermediário, entre o estado pass
pensamento (racionalidade). Schiller insiste em que o estado estético é condição necessária sem a qual
compromissos morais (homem racional, moral), daí sua incisiva afirmação de que “não existe maneira
antes, estético. Assim, Schiller pergunta: “O que é o homem antes de a beleza suscitar-lhe o livre praz
(SCHILLER. 1991. 124).

Essa noção de equilíbrio é o vetor que consubstancia o ideal de beleza, o ideal estético. Um exemp
Schiller utiliza para mostrar como o homem deve “aprender a desejar nobremente, para não ser forçad
ponto, verificar como se distinguem as noções de belo e de sublime. Para tanto, são preciosas as observaç

O sublime é, ao lado do belo, um dos temas principais da especulação estética do século XVIII. A expres
dignidade. A dignidade é manifestação da resistência que o espírito autônomo opõe ao impulso natural. C
não antagonismo, mas harmonia entre o ser moral e o ser sensível, decorre que este ideal não se conforma
daquele antagonismo entre ambos os seres, torna visíveis os limites particulares do sujeito ou os limites g
texto, que devemos aprender a desejar (naturalmente) de forma mais nobre, a fim de não ser necessário qu
(ROSENFELD, in: SCHILLER. 1991. 124). 

            4.1. A esperança (utópica?) que se deve depositar no homem

            Assim, o homem, onerado inapelavelmente com as imposições da racionalidade que pensa fazê-lo
submissão ao reino da ciência, só encontrará sua perfeição enquanto ser humano se aprender a articular se
artifício da civilização, ou seja, na racionalidade. E esse exercício, no idealismo de Schiller, há de ser con
entre os modos sob que o homem se apresenta na modernidade pode ser rastreado em Nietzsche, quando
resultou da reconciliação entre a dimensão organizada de Apolo e a embriaguez desestruturadora de Dion
platônico. Neste último, nos tempos contemporâneos, estão impingidos todos os mecanismos supressores
tecnologia que guia seus desejos e suas inclinações e lhe oferece, inclusive, a possibilidade de buscar o pr
variados padrões e condições, um prazer transitório, um gozo efêmero. Sob a égide da modernização e do
sua capacidade de dirigir-se, porque perde a possibilidade de orientar o próprio desejo.

            Dessa forma, o homem vai, cada vez mais, vivendo um/num mundo de artifícios em que sua dime
responder por sua identidade e por sua autenticidade. Quer dizer, cada vez mais, o indivíduo se afasta da
confisco de sua própria humanidade.

            É por isso que a arte, fiada na sua condição de elemento articulador entre o ser natural e o ser r
contra essa desintegração do sujeito. E os exemplos que dela emanam são inumeráveis. Podem-se citar a
todos eles reponta aquele anseio de retorno – de um eterno retorno naquela perspectiva colocada por
recalcado – isto é, um retorno a um naturalismo que represente uma espécie de busca de um tempo perdid

o
Referências bibliográficas

BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.

BATAILLE, Georges. O erotismo. Porto Alegre: L&PM, 1987.

EHRENZWEIG, Anton. Psicanálise da percepção artística. Uma interpretação da teoria da percepção in

ROSENFELD, Anatol. Texto/contexto II. São Paulo: Edusp/Perspectiva; Campinas: Ed. da Universidade

SCHILLER, Friedrich. Cartas sobre a educação estética da humanidade. São Paulo: EPU, 1991.

SCHILLER, F. Schillers Werke. Nationalausgabe, apud MICHAELIS, Christian Friedrich. Friedrich S


semester de inverno de 1792-93, (Trad, introdução de Ricardo Barbosa), Belo Horizonte: Editora UFM

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