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Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

Programa de Pós Graduação em Comunicação – PPGCCOM/UFSM

RESUMO: Os estudos culturais e seu legado teórico. (HALL, S. 2003)

Resumo apresentado por Ulysses do


Nascimento Varela como avaliação parcial
da disciplina Estudos Avançados III,
Estudos culturais feministas (2018-1) para
a Professora Dra. Ana Carolina D.
Escosteguy.

Santa Maria, 2018


Os Estudos culturais e seu Legado teórico Por Ulysses Varela
Stuart Hall, 2003.

A primeira impressão que se tem do texto é que Stuart Hall, jamaicano, formado e
tendo trabalhado na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, pode e deve ser considerado um
influente Sociólogo e Teórico Cultural e que, como demonstra no texto teve uma grande
preocupação com sua produção acadêmica e intelectual. Talvez por isso seja fácil
compreender a sua visão de que, a importância da vida e da atividade intelectual na sociedade
é notável e sua literatura já demonstra, na época, uma consciência de que havia-se ainda
muito a estudar e compreender a respeito dos estudos culturais.
O autor é um profundo conhecedor sobre a origem dos Estudos Culturais, pois discorre
sobre o tema e a sua percepção sobre o que ocorria a época com a desenvoltura de um expert,
talvez isso ocorra pelo próprio Hall ter sido, como ele mesmo cita no texto, um
contemporâneo de grandes estudiosos como Raymond Williams e Richard Hoggart,
precursores ao abordar o tema. Porém, percebe-se que, apesar da proximidade física Hall, do
inicio ao fim do ensaio, no qual aborda “Os Estudos culturais e seu Legado teórico” tenta
incansavelmente expor seu ponto de vista sob o olhar dos Estudos culturais a partir de uma
perspectiva político-ideológica, o que nos permite uma compreensão do tema a partir de uma
visão mais ampla e questionadora, e o que certamente contribui para a compreensão do
surgimento dos estudos culturais e seu legado e, neste contexto, a relação do feminismo para
com o tema, essenciais para compreendermos a construção do pensamento em sociedade no
passado, atualmente e porque não dizer no futuro.
Se há uma fórmula para o convencimento a partir das palavras podemos afirmar que o
autor se apoderou dela com propriedade para, ao iniciar o texto, destacar que a compreensão
dos "Estudos Culturais e seu legado teórico" é preciso olhar para o passado, pois só dessa
forma, com uma “analise genealógica” se conseguirá pensar o presente e o futuro dos estudos
culturais. É verdade também que os estudos culturais não devem ser vistos sob a ótica de uma
disciplina, mas como um campo vasto e capaz de interagir por várias ciências, disciplinas e
campos entre eles a sociologia, a antropologia a linguística e tantas outras.
Ao destacar o seu olhar para com os estudos culturais, Hall alerta para o fato de ter sido
necessário se livrar de alguns “fardos” como o fato de ser um homem negro – envolvendo
todas as questões teóricas e criticas a partir da sua raça e o fato dele enquanto represente da
política britânica e dos estudos culturais. Um ponto de vista de estranhamento e afastamento
do seu objeto, essencial para se ter um olhar diferenciado sobre o que se estuda. Porém, em
diversos momentos no texto fica claro que ele acaba por fazer um trabalho que ele mesmo
considera ser autobiográfico, no qual seu objetivo é incentivar reflexões sobre os estudos
culturais como prática a partir do seu posicionamento institucional e seu projeto, o que, de
certa forma, consegue atingir de forma pontual.
Hall alcança seus objetivos ao abordar o Início dos estudos culturais por conseguir expor
o tema a partir de suas impressões e objetivos: transmitir impressões de certos momentos,
nos estudos culturais, e a partir dai, demarcar algumas posições relativamente à questão geral
do relacionamento entre uma teoria e política. Ao dar destaque a definição de estudos
culturais como: “uma formação discursiva, no sentido foucaultiano do termo”, ao precisar sua
origem, quando destaca que os estudos culturais tiveram início bem antes com outros autores
como Raymond Williams num ensaio de 1989 com o título “ The Future of Cultural Studies” e
afirmar que não tiveram uma origem simples o autor consegue sintetizar a sua linha reflexiva
do que vem a ser esse campo teórico. Tal capacidade demonstra o quão fundamental é, não
apenas viver uma época, mas conhecer a fundo a sua produção intelectual e como essa
compreensão é importante para o futuro. É exatamente este o seu foco quando se dispõe a
compreender a relevância dos Estudos Culturais e como eles “abarcam discursos múltiplos,
bem como numerosas histórias distintas e compreendem um conjunto de formações, com as
suas diferentes conjunturas e momentos do passado” (Hall, 2003, p.200).
Sabiamente o estudioso cita o trabalho “Centre for Contemporary Cultural Studies” que
traz uma carga de sentimentos negativos, discussões, ansiedades instáveis e silencio irados
ficando marcado como um “ruído teórico” contrapondo que os Estudos culturais tiveram
diversificados modos de abordagens, trajetórias, um número de metodologias e
posicionamentos teóricos diversificados. O que justifica na época a multiplicidade de objetos
de estudo e dos enfoques analíticos que compõe esse movimento intelectual. Por este motivo
Hall enfatiza que uma abertura temática e uma inclinação ao novo e ao ainda não nomeado,
Estudos Culturais não podem ser reduzidos ao que ele chama de “pluralismo simplista”. Desta
forma fica claro que o que se pretende com essa formação discursiva específica é um aspecto
político, não necessariamente presente em outros discursos críticos e intelectuais. “Apesar do
projeto dos estudos culturais se caracterizar pela abertura, não se pode reduzir a um
pluralismo simplista...Consiste num projeto aberto ao desconhecido ao qual não se consegue
ainda nomear”. (Hall, 2003, p.201). Exatamente neste ponto Hall destaca um ponto de tensão
(abordagem dialógica a teoria) que abrange a definição de Estudos culturais na qual estão “a
recusa de se fechar o campo, de policiá-lo (clausura arbitrária) e ao mesmo tempo, uma
determinação de se definirem posicionamentos a favor de certos interesses em defendê-los”.
Não há como se adentrar em campo de batalha sem estar preparado e com as armas em
punho para vencer uma guerra e foi exatamente isso que ele fez. Chegando ao ponto crucial
da discussão sobre a questão dos estudos culturais enquanto um projeto intelectual. Cabe aqui
uma análise e uma crítica, por parte do autor, das teorias que mais o influenciaram nos
Estudos culturais estas reconhecidas como “rupturas” que definiram os rumos da conjuntura
teórica por onde ele produziu e pensou.
A primeira foi o marxismo, Hall discorda da teoria de que os estudos culturais baseiam-
se numa prática crítica marxista. Ele prefere considerar o marxismo como um problema, um
perigo, do que como uma solução a prática social. De fato devemos entender o marxismo
como um paradigma clássico no qual a prioridade é o capital, o poder e as classes sociais, uma
teoria que fundamenta qualquer análise das ciências sociais. Daí surgem os grandes “silêncios”
do marxismo, por não atingir os domínios como a cultura, a linguagem e o simbólico, estes que
se constituem exatamente o objeto de estudo dos estudos culturais na sua origem.
Pelo que observamos enquanto Marx fez uma análise econômica, Hall amplia o
aspecto analítico das questões sociais focando principalmente na cultura, de modo que ambos
partem do mesmo ponto e no qual o poder concentrado em uma minoria subjulga a grande
maioria e os recortes se dão em direções distintas.
Além do Marxismo Hall aponta para uma segunda conjuntura ao interferir no projeto
dos estudos culturais o pensamento de Gramsci e sua “metáfora da hegemonia”, a qual
remodelou a forma de se pensar as relações de poder na sociedade. Nesse ponto o autor
destaca que Gramsci dá maior destaque aos estudos culturais quando promove o
“deslocamento” do marxismo nos seus estudos e cria o “intelectual orgânico” estando na
vanguarda do conhecimento e de posse de um saber profundo e verdadeiro. Hall, acredita que
buscava-se produzir um intelectual orgânico, como uma figura que surge em uma determinada
classe, num dado momento histórico, alinhando-se ao seu grupo em vez de tornar-se um
intelectual tradicional, institucionalizado e hegemônico.
Observo que neste sentido se ampliam os horizontes para os estudos culturais, pois o
intelectual orgânico comunica-se com sua comunidade e este deve transmitir o seu saber com
todos, exatamente o que se espera dos estudiosos a cerca das teorias e conhecimentos.
No percurso dos estudos culturais Hall destaca o que ele chama de momentos teóricos
que provocaram “rupturas” profundas nos estudos culturais. Um deles é o feminismo e o
outro as questões de raça. Hall destaca que a intervenção do feminismo foi específica e
decisiva para os estudos culturais. Não é a toa que ele afirma: “abrimos a porta aos estudos
feministas, como bons homens transformados. E, mesmo assim, o feminismo arrombou a
janela, todas as resistências por mais insuspeitas que fossem, vieram a tona” (Hall, 2003,
p.209) com esta afirmação o autor reconhece sua posição ainda “patriarcal” no encontro com
esse movimento teórico que vinha desenvolvendo-se de forma independente. A partir daí se
expandiu radicalmente a noção de poder e de como as questões de gênero e sexualidade
detém centralidade nessas discussões. As rupturas são tão importantes para os estudos
culturais a ponto de mudar horizontes e de se tornar um fato marcante e a ponto de o autor
destacar que “Eis aqui outra forma de pensar, outra metáfora para a teoria: o modo como o
feminismo rompeu e interrompeu os estudos culturais” (Hall, 2003, p. 210).
Com relação as questões raciais, estas foram inseridas na agenda dos estudos culturais
pelo próprio Hall. O que segundo ele só foi possível a partir de uma intensa luta teórica de
introdução de políticas raciais, a própria resistência ao racismo, além de questões críticas
relacionadas a política cultural sob o olhar do trabalho teórico.
Outra, e considerada não menos importante, ruptura dos estudos culturais e
classificada por Hall como um “desvio necessário”. Deu-se pelo que ficou conhecida como
“virada linguística” que representa a descoberta da discursividade e da textualidade enquanto
conceitos. Observo que, pelo foco da sua proposta neste texto não houve maior
aprofundamento no tema, mas o autor concluir enfatizando que os progressos teóricos
decorrentes do encontro com trabalhos estruturalistas, semiótico, e pós-estruturalista e até a
reconfiguração da teoria que resultou em se ter de pensar questões culturais a partir das
metáforas da linguagem e da textualidade, ou seja, um deslocamento necessário. Para
justificar a afirmação Hall complementa que “se você perder contato com essa tensão, poderá
produzir um ótimo trabalho intelectual, mas terá perdido a prática intelectual como política”
(Hall, 2003, p.213), ou seja, não há como evoluir sem deslocar o olhar, os estudos o foco para
se ver os estudos culturais como um projeto e exemplifica utilizando um fato marcante que é a
questão da AIDS no mundo na década de 90 e como ela vinha sendo abordada de forma
distinta em cada País, mesmo atingindo grandes populações sem que os estudos culturais
demonstrem do que são capazes de fazer. Uma realidade que ainda perdura nos dias atuais
sem que haja perspectivas de mudança efetiva em algumas regiões, lamentavelmente.
Percebemos que, nesse sentido, qualquer um que venha desenvolver um trabalho
intelectual dos estudos culturais necessitará vivenciar e sentir na pele a “tensão” de como o
trabalho irá mudar ou incentivar a ações diretas e imediatas de forma irrisória.
Para finalizar o autor retoma a discussão do problema político-estratégico considerado
também como um problema teórico “a política da teoria”. Devemos entender que o
intelectual e a teoria, conforme exaltado pelo autor, devem servir para realizar intervenções
no mundo e onde o mesmo faça alguma diferença para a sociedade, agindo como um conjunto
de conhecimentos contestados, contextualizados e conjunturais formando um discurso
dialógico. Este é o legado que os estudos culturais podem deixar para o futuro.
Finalizando o texto Hall faz uma reflexão sobre a política do trabalho intelectual se
contrapondo ao trabalho acadêmico e que mesmo se complementando são distintos devendo
emergir o que ele chama de “trabalho político-intelectual” orgânico que extrapole os muros
das instituições para fazer a diferença no mundo.
De modo geral, como dito no inicio, Hall atinge seu objetivo, pois levanta todos os
meandros ligados aos estudos culturais nos abrindo a mente para a importância destes
estudos e de como o conhecimento já existente é fundamental para se atingir as mudanças
sociais necessárias ao futuro e propõe a prática intelectual, extremamente importante e que
entenda a necessidade da modéstia e não substitua simplesmente a política pelo trabalho
intelectual. Certamente o legado dos estudos culturais se define pelo sentido e importância de
seu papel na sociedade, e nesse aspecto assim como Hall, devemos sempre questionar os
outros e a nós mesmos para encontrar novos olhares, novas perspectivas, novas repostas e
novas abordagens.

Bibliografia:
HALL, S. Os estudos culturais e seu legado tórico. In: SOVIK, Liv (org.) Da diáspora. Identidades
e mediações culturais. Stuart Hall. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 199-218.

Posições:
Não necessáriamnete abordar o texto completo, mas destacar um aspecto do texto e sua
relação com que comenta – comentários fortes e destacando a conjuntura da época ou
paralelo com a contemporaneidade.

- Resgata o ponto de vista do autor e tangencia a visão dos autores.


- destacar questões relevantes
-dar ênfase aos argumentos e opiniões pessois a cerca do texto. Demonstrando a
contextualização pessoal.

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