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GÊNEROS LITERÁRIOS

(LITERATURA)

PROF. THIAGO BENITEZ


Por cima do abismo
estende-se minh’alma
tensa como um cabo
onde me equilibro,
malabarista de palavras.
(Maiakóvski)
A literatura é uma manifestação artística e a palavra é
a sua matéria-prima. Entretanto, é necessário atentar para
o fato de que não basta fazer uso da palavra para produzir
literatura. Lembremos que a função poética da linguagem
ocorre quando a intenção do emissor está voltada para a
própria mensagem, quer na seleção e combinação das
palavras, quer na estrutura da mensagem, com as palavras
carregadas de significado.
Gêneros Literários
O termo gênero é utilizado, nas diferentes formas
de arte, para denominar um conjunto de obras que
apresentam características semelhantes de forma
e conteúdo.

A divisão tradicional em três gêneros literários –


Lírico, Dramático e Épico - originou-se na Grécia
clássica, com Aristóteles, quando a poesia era a forma
predominante de literatura. Por nos parecer mais
didática, adotamos uma divisão em quatro gêneros
literários, desmembrando do épico o gênero narrativo
(ou, como querem alguns, a ficção), para enquadrar as
narrativas em prosa.
Gêneros Épico
Quando temos uma narrativa
de fundo histórico; são os
feitos heróicos e os grandes
ideais de um povo o tema das
epopéias.
O narrador épico mantém distanciamento em relação aos
acontecimentos (esse distanciamento é reforçado,
naturalmente, pelo aspecto temporal: os fatos narrados
situam-se no passado).
Temos, portanto, um poeta observador voltado para o mundo
exterior, tornando a narrativa objetiva.

Os Lusíadas, de Luís de Camões, é o maior exemplo do


gênero escrito em Língua Portuguesa.
As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas


Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessem do sábio Grego e do Troiano


As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Gêneros Dramático
Textos dramáticos são aqueles em que
a “voz narrativa” está entregue às
personagens, que contam a história
por meio de diálogos e monólogos.

Drama, em grego, significa “ação”. Ao


gênero dramático pertencem os textos,
em poesia ou prosa, feitos para
serem representados. Isso significa
que entre autor e público desempenha
papel fundamental todo o elenco que
participa da encenação.

O gênero dramático, na Grécia Antiga,


desenvolveu-se por meio de duas
modalidades: a tragédia e a comédia.
Gêneros Dramático
A força de um valentão
Tragédia cuiabana em 3 atos
Primeiro Ato
(Na sala de aula de um Colégio X de Cuiabá. Alunos enfileirados e
uniformizados. O professor Marcão, vestido de jaleco branco, voz enrouquecida,
explica enfaticamente a geografia da moral social no mundo da economia
globalizada e alienada pelo capital)

Marcão: Pô! Até quando vocês pensam que o mundo poderá


sobreviver sem uma transformação abrupta nas relações comerciais
entre os países em desenvolvimento e aqueles que usurparam nossas
riquezas por meio da exploração colonial. Respondam, pô...
Chico: Não sei professor.

(Marcão dirige-se para o aluno Chico com voz afetiva e determinada)

Marcão: Que coisa, você não estuda nada mesmo, hein!


Primeiro Ato
O palco vazio com seus vários sets à vista do público; música de orquestra; no set das vizinhas,
quatro mulheres começam a estender peças de roupa lavada, lençóis, camisas, camisolas, etc.;
tempo; Corina chega apressada, sendo recebida com ansiedade pelas vizinhas.
BUARQUE, Chico. Gota d’Água. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975, p. 3. “

A ideia de uma indicação cênica que está sobreposta às falas de uma peça teatral nasce na Grécia.
Quem assume essa tarefa é o didaskalos, palavra originada de didaskalia que, em grego antigo, é
um substantivo feminino que pode significar instrução e que na língua portuguesa tem por
sinônimo rubrica.

A partir da leitura da rubrica do primeiro ato da peça Gota d’Água, do dramaturgo, músico e
escritor Chico Buarque, e ainda da indicação teórica sobre o termo rubrica, marque a alternativa
correta:
a) Nessa rubrica, o dramaturgo Chico Buarque dá indicações para a encenação da peça, por
exemplo, que as personagens recebem Corina com ansiedade.
b) No trecho, o narrador descreve o ambiente do espetáculo diretamente para os espectadores de
Gota d’Água.
c) Nessa rubrica, o diretor do espetáculo escreve os parâmetros para a interpretação dos atores,
por exemplo, que a intérprete de Corina tem de chegar apressada.
d) Na rubrica de Gota d’Água, o dramaturgo Chico Buarque faz uma crítica ao primeiro ato,
questionando alguns recursos cênicos.
e) Nas palavras do narrador, “o palco vazio” é apenas uma metáfora da vida.
Gêneros Lírico ou Poético
A poesia lírica surge como uma forma
de atender ao anseio humano de
expressão individual e subjetiva.
Ela se define pela expressão de
sentimentos e emoções pessoais.
Uma outra marca característica de
sua estrutura é o fato de dar voz a
um sujeito lírico, diferente da
narração impessoal própria da épica.

Seu nome vem de lira, instrumento


musical usado para acompanhar os
cantos gregos. Ao separar-se o texto
do acompanhamento musical, a
poesia passou a apresentar uma
estrutura mais rica.
Gêneros Lírico ou Poético

Com a poesia tendo como suporte o papel, a métrica, o


ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima, a
combinação das palavras passaram a ser mais
intensamente cultivados pelos poetas.

A intensidade expressiva da obra lírica exige um


trabalho muito especial do poeta sobre a sonoridade do
texto. Assim, o estudo dos elementos básicos de
versificação é imprescindível para compreendermos
melhor o texto poético.
Gêneros Lírico ou Poético

ELEMENTOS DA VERSIFICAÇÃO:

1. Verso e Estrofe:

Cada linha = verso (unidade rítmica do poema)

Conjunto de versos = estrofe


Gêneros Lírico ou Poético
•Soneto: composição poética de 14 versos = 2 quartetos e 2 tercetos
Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Gêneros Lírico ou Poético
Métrica: É o número de sílabas poéticas do verso.
• Na contagem das sílabas métricas (escansão), observam-se,
geralmente, as seguintes normas:
• A leitura de um verso deve ser caracterizada pelo ritmo;
• Faz-se a contagem de sílabas até a sílaba tônica da última
palavra;
• Os ditongos, em geral, equivalem a apenas uma sílaba métrica;
Gêneros Lírico ou Poético
Eu/ pos/sa/ me/ di/zer/ do a/mor/ (que/ ti/ve):
Que/ não/ se/ja i/mor/tal,/ pos/to/ que é/ cha/ma
Mas/ que/ se/ja in/fi/ni/to em/quan/to/ du/re.
VERSOS DECASSÍLABOS
Principais medidas:
Redondilha menor – 5 sílabas métricas
Redondilha maior – 7 sílabas métricas
Decassílabo – 10 sílabas métricas
Alexandrino – 12 sílabas métricas

Versos Livres – sem métrica regular


Gêneros Narrativo
A palavra ficção vem do latim fictionem (fingere, fictum), ato de
modelar, criação, formação; ato ou efeito de fingir, inventar,
simular; suposição; coisa imaginária, criação da imaginação.
Literatura de ficção é aquela que contém uma história inventada
ou fingida, fictícia, imaginada, resultado de uma invenção
imaginativa, com ou sem intenção de enganar.
A essência da ficção é, pois, a narrativa. É a sua espinha dorsal,
correspondendo ao velho instinto humano de contar e ouvir
histórias, uma das mais rudimentares e populares formas de
entretenimento. Mas nem todas as histórias são arte. Para que
tenha o valor artístico, a ficção exige uma técnica de arranjo e
apresentação, que comunicará à narrativa beleza de forma,
estrutura e unidade de efeito.
Gêneros Narrativo
• Elementos da narrativa
O mundo da ficção desenvolve-se ao redor dos seguintes
elementos estruturais:
1.Personagem
É a pessoa (de persona) que atua na narrativa. Pode ser
principal ou secundária, típica ou caricatural.
2.Enredo
É a narrativa propriamente dita, que pode ser linear ou
retrospectiva, cuja trama mantém o interesse do leitor, que
espera por um desfecho. Chama-se também simples-mente de
ação.
3. Espaço
É o meio físico e social onde se desenvolve a ação das
personagens. Trata-se do pano de fundo ou do cenário da
história, também designado de paisagem.
Gêneros Narrativo
4.Tempo
É o elemento fortemente ligado ao enredo numa seqüência
linear ou retrospectiva, ao passado, presente e futuro, com seus
recuos e avanços. Pode ser cronológico ou psicológico.
Cronológico, quando avança no sentido do relógio; psicológico,
quando é medido pela repercussão emocional, estética e
psicológica nas personagens.

5.Foco Narrativo
Tecnicamente, podemos dizer. que se refere às diferentes
maneiras de narrar. Geralmente, se resumem em duas:
a) narrador-onisciente: autor conta a história como
observador que sabe tudo. Usa a 3ª pessoa.
b) narrador-personagem: autor conta, encarnando-se numa
personagem, principal ou secundária. Usa a lª pessoa.
QUESTÕES DE VESTIBULAR
(ENEM) Leia o poema abaixo de Carlos Drummond de Andrade:

CIDADE GRANDE
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.

Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a


a) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria
linguagem.
b) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.
c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.
e) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes
vida.
(PUC) Sobre o gênero lírico, estão corretas, exceto:

a) Gênero marcado pela subjetividade dos textos. Presença de um


eu lírico que manifesta e expõe seus sentimentos e sua percepção
acerca do mundo.
b) As mais conhecidas estruturas formais do gênero lírico são a
elegia, o soneto, o hino, a sátira e a écloga.
c) São longos poemas narrativos em que um acontecimento
histórico protagonizado por um herói é celebrado.
d) Nota-se, no gênero lírico, a predominância de pronomes e
verbos na 1ª pessoa e a exploração da musicalidade das palavras.
e) Os poemas do gênero lírico podem apresentar forma livre ou
estruturas formais.
Leia os fragmentos abaixo e responda a qual Gênero Literário
eles pertencem:

“A serena, amorosa Primavera,


O doce autor das glórias que consigo,
A Deusa das paixões e de Citera;
Quanto digo, meu bem, quanto não digo,
Tudo em tua presença degenera.
Nada se pode comparar contigo (...)”.
Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
(mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
ficando seus corpos como presa para cães e aves
de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
desde o momento em que primeiro se desentenderam
o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles.
MADAME CLESSI – Deixa o homem! Como foi que você soube do meu nome?
ALAÍDE – Me lembrei agora! (noutro tom) Ele está-me olhando. (noutro tom, ainda) Foi
uma conversa que eu ouvi quando a gente se mudou. No dia mesmo, entre papai e
mamãe. Deixe eu me recordar como foi...
Já sei! Papai estava dizendo: “O negócio acabava...”
(Escurece o plano da alucinação. Luz no plano da memória. Aparecem pai e mãe de
Alaíde.)
PAI (continuando a frase) – “...numa orgia louca.”
MÃE – E tudo isso aqui?
PAI – Aqui, então?!
MÃE – Alaíde e Lúcia morando em casa de Madame Clessi. Com certeza, é no quarto de
Alaíde que ela dormia. O melhor da casa!
PAI – Deixa a mulher! Já morreu!
MÃE – Assassinada. O jornal não deu?
PAI – Deu. Eu ainda não sonhava conhecer você. Foi um crime muito falado. Saiu
fotografia.
MÃE – No sótão tem retratos dela, uma mala cheia de roupas. Vou mandar botar fogo
em tudo.
PAI – Manda.
Ele gostava de matar, por seu miúdo regozijo. Nem contava valentias,
vivia dizendo que não era mau. Mas, outra vez, quando um inimigo
foi pego, ele mandou: – “Guardem este.” Sei o que foi. Levaram
aquele homem, entre as árvores duma capoeirinha, o pobre ficou lá,
nhento, amarrado na estaca. O Hermógenes não tinha pressa
nenhuma, estava sentado, recostado. A gente podia caçar a alegria
pior nos olhos dele. Depois dum tempo, ia lá, sozinho, calmoso?
Consumia horas, afiando a faca (...)”.
O poema a seguir, de Raimundo Correia, é a base para as seguintes questões:

As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida noitada


Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Rufiando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,


Os sonhos, um por um céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam


Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

(Unifesp) De acordo com o poema é possível dizer que:


a) Possui versos sem rima, liberdade na expressão dos sentimentos e recorrência às imagens.
b) Tem versos livres, com predominância de narração e ênfase nos aspectos sonoros.
c) É um soneto em versos decassílabos, com predominância de rimas preciosas e intercaladas.
d) É um soneto com versos brancos, rimas cruzadas e predominância de versos livres.
e) É um soneto hendecassílabo com rimas ricas e alternadas.
(PAS – UEM) Assinale a alternativa INCORRETA:

a) A obra literária, no que se refere à forma e conteúdo, pode ser classificada em Gênero
Épico, Lírico, Dramático e Narrativo.
b) A Epopéia, longo poema em versos, pertence ao Gênero Épico e narra as peripécias de
um herói grandioso, protagonista de fatos considerados históricos, de episódios míticos e
maravilhosos. Como grandes epopéias da civilização ocidental, podem ser citadas: “A
Odisséia”, de Homero; “Eneida”, de Virgílio; e “Os Lusíadas”, de Camões.
c) O Gênero Dramático decorre de uma manifestação do “eu poético”, que extravasa
estados de alma, sentimentos e emoções pessoais. A matéria do Gênero Dramático é o
mundo empírico em que se debate o “eu”, razão pela qual predominam, em textos dessa
natureza, descrições de paisagens e de objetos.
d) No Gênero Lírico, o “eu poético” pode falar de si mesmo, de alguém ou com alguém. É
fundamental, no entanto, que o texto resulte marcadamente subjetivo, pois se trata,
sobretudo, da expressão de um estado emocional, não de narração objetiva de fatos.
e) Tanto no Gênero Narrativo quanto nos Gêneros Épico e Lírico pode-se contar uma
história, no entanto o que será diferente é a estrutura, a forma, de cada gênero.
(UFMT) Sobre literatura, gênero e estilos literários, pode-se dizer que:

a) O Gênero Narrativo pode ter narrador, personagens, tempo e espaço, mas, na


maioria das vezes, o que mais é apresentado nesse gênero são os diálogos e a
presença de um eu-lírico em todo o momento do enredo.
b) os romances, os contos e as crônicas fazem parte do Gênero Lírico, enquanto
as telenovelas, os teatros e os roteiros de cinema fazem parte do Gênero
Dramático.
c) o texto literário é aquele em que predominam a repetição perfeita da
realidade, a linguagem linear, a unidade de sentido (sem múltiplas
interpretações).
d) no Gênero Lírico, os elementos do mundo exterior/de fora predominam sobre
os do mundo interior do eu poético.
e) todo momento histórico apresenta um conjunto de normas que caracteriza
suas manifestações culturais, constituindo o estilo da época.

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