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APOSTILA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA

PROFESSOR JOSÉ GERALDO SOBRINHO 2º ANO

Romantismo no Brasil: Diferentemente dos poetas da primeira geração


romântica, que se dedicavam à criação de uma identidade

segunda geração
nacional, os poetas da segunda geração se mostram mais
preocupados com a expressão de sentimentos.
O tema do amor, para os ultrarromânticos, é tratado de
modo idealizado. É comum que esses poetas projetem a
Amor e morte, medo e solidão, culto a uma natureza realização amorosa em sonhos e fantasias e não esperem
sombria, idealização absoluta da realidade: os que suas ambições amorosas se concretizem no mundo real.
ultrarromânticos levaram a extremos a expressão de A ideia de morrer, para o ultrarromântico, tem sentido
sentimentos contraditórios, vividos pela maioria deles de positivo, pois representa o fim da agonia de viver.
modo atormentado.
No poema a seguir, o eu lírico encontra na
O Ultrarromantismo da segunda geração morte a solução para a “dor da vida que devora”.
Essa visão da morte como término de todo
romântica sofrimento aparece em vários poemas
ultrarromânticos.
A segunda geração romântica é caracterizada por uma
postura de exagero sentimental. Inspirados por escritores
Se eu morresse amanhã!
ingleses como Byron e Shelley, os poetas ultrarromânticos
procuram expressar sentimentos arrebatados. Esse
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
arrebatamento aparece na poesia dessa geração de diversas
Fechar meus olhos minha triste irmã;
formas:
Minha mãe de saudades morreria
 No desejo de evasão da realidade;
Se eu morresse amanhã!
 Na atração pelo mistério;
 Na consciência da inadaptação do artista à Quanta glória pressinto em meu futuro!
sociedade em que vive; Que aurora de porvir e que manhã!
 No culto a uma natureza mórbida e soturna; Eu perdera chorando essas coroas
 Na idealização da mulher virginal e etérea. Se eu morresse amanhã!
A natureza, para os ultrarromânticos, é uma força Que sol! que céu azul! que doce n’alva
misteriosa e incontrolável, que pode simbolizar os Acorda a natureza mais louçã!
sentimentos arrebatados do eu lírico. Não me batera tanto amor no peito
Os artistas dessa geração valorizam a figura do poeta Se eu morresse amanhã!
como ser incompreendido e isolado que defende valores
morais e éticos opostos aos interesses econômicos da Mas essa dor da vida que devora
burguesia. A ânsia de glória, o dolorido afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Assim como os náufragos, o poeta Se eu morresse amanhã!
ultrarromântico se vê como um ser isolado e rodeado
por uma natureza ameaçadora. AZEVEDO, Álvares de. In: FACIOLI, Valentin;
OLIVIERI, Antônio Carlos (Orgs.). Poesia brasileira:
Romantismo. São Paulo: Ática, 2000. p. 60.

Porvir: o que está por vir; futuro.


Alva: primeira claridade da manhã; aurora.
Louçã: bela, viçosa.
Afã: ansiedade, inquietação.

A presença da morte como tema da preferência dos


ultrarromânticos também se manifestará na imagem da beleza
feminina. Os poemas dessa geração romântica apresentam
virgens lânguidas, pálidas e etéreas, em lugar das virgens
robustas pintadas pela primeira geração.

A linguagem da poesia da segunda


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geração
Página

GÉRICAULT. O naufrágio. 1821-1824. Óleo sobre tela, 19 × 25 cm.


APOSTILA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA
PROFESSOR JOSÉ GERALDO SOBRINHO 2º ANO
A liberdade formal é traço característico da produção
poética dessa geração, mas seus autores usam com Álvares de
frequência palavras que os ajudam a construir imagens de
saudade, solidão, morte e pessimismo. Azevedo
Os termos escolhidos remetem a uma existência
depressiva, em alguns casos, marcada pela irracionalidade Sua poesia é marcada
e, em outros, pela obsessão pela morte. Substantivos e pelo pessimismo da
adjetivos que indicam palidez são também utilizados para geração ultrarromântica e
caracterizar a beleza feminina etérea idolatrada pelos também por uma visão
autores do período. irônica do desespero
romântico do poeta
solitário.
Casimiro de Abreu Esse binômio
A poesia de
pessimismo-ironia
Casimiro de Abreu
aparece em Lira dos
foi a mais lida e
vinte anos, principal obra
declamada da
do poeta. Logo no
segunda geração
prefácio, lê-se que “a
romântica. Seus
unidade deste livro
versos musicais e
funda-se numa binômia:
sua sensibilidade
– duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco
para temas como a
mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira
saudade, a
medalha de duas faces”.
natureza e o
desejo lhe
O poema a seguir, que faz parte de Lira dos
garantiram uma
popularidade que vinte anos, apresenta uma perspectiva irônica da
outros poetas figura do poeta solitário e sofredor. Nele, Azevedo
ultrarromânticos, trata com humor temas recorrentes na poesia
com seus versos ultrarromântica: a proximidade da morte (“amanhã ao
carregados de pessimismo, não alcançaram. meu cadáver”) e a não realização das aspirações
Na poesia de Casimiro, em vez do pessimismo em amorosas do eu lírico, que podem apenas ser
relação ao sentimento amoroso, presente, por exemplo, na cantadas (“cantem nela / Os amores da vida
obra de Álvares de Azevedo, vemos sonhos de amor e esperançosa”).
suspiros de saudades.
O tema do saudosismo destaca a poesia desse autor O poeta moribundo
do conjunto dos textos ultrarromânticos brasileiros de sua
época. Com seus versos simples, ele dá expressão à saudade Poetas! amanhã ao meu cadáver
dos exilados (em poemas como “Minha terra”) e à saudade Minha tripa cortai mais sonorosa!...
de uma infância idealizada como inocente e ingênua (em Façam dela uma corda e cantem nela
“Meus oito anos”). Os amores da vida esperançosa!
[...]
Leia um trecho do poema mais conhecido de Coração, por que tremes? Se esta lira
Casimiro de Abreu e observe como o eu lírico projeta Nas minhas mãos sem força desafina,
na infância, essa “risonha manhã”, um tempo em que Enquanto ao cemitério não te levam,
a vida era doce, em oposição às “mágoas de agora”. Casa no marimbau a alma divina!
Eu morro qual nas mãos da cozinheira
Meus oito anos O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Oh! dias de minha infância! Entre os hinos de amor se enternecia.
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era AZEVEDO, Álvares de. In: CANDIDO, Antonio. Melhores poemas.
4. ed. São Paulo: Global, 2001. p. 76. (Fragmento).
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora, Sonorosa: melodiosa, harmoniosa.
Eu tinha nessas delícias Marimbau: instrumento de percussão constituído por placas de
madeira formando um teclado, percutidas por duas baquetas, tendo
De minha mãe as carícias
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cabaças como ressoadores.


E beijos de minha irmã!
Página

ABREU, Casimiro de. In: FACIOLI, Valentin;


OLIVIERI, Antônio Carlos (Orgs.). Poesia brasileira:
Álvares de Azevedo também escreveu prosa, como
Romantismo. São Paulo: Ática, 2000. p. 43. (Fragmento). Noite na taverna, e drama, como Macário.
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PROFESSOR JOSÉ GERALDO SOBRINHO 2º ANO
Em Noite na taverna, um grupo de rapazes reunidos
numa taverna relata suas aventuras amorosas. O desejo
carnal, que é visto pelos ultrarromânticos como o lado
destrutivo do sentimento amoroso, dá unidade às narrativas
feitas pelos diferentes personagens que participam dessa
reunião.
Macário, peça teatral, apresenta cenário bem
semelhante ao de Noite na taverna. Trata-se do diálogo, à
noite, numa taverna, entre um estudante e um estranho, que
mais tarde se apresenta como Satã. Essa obra mostra o
interesse do autor por temas satânicos.
O conjunto da obra de Álvares de Azevedo é povoado
por imagens de culpa associadas à erotização do
relacionamento amoroso, que simbolizam a obsessão desse
autor com o lado macabro da vida e do amor.

Fagundes Varela
Embora o poeta
tenha escrito textos
ultrarromânticos, o
conjunto de sua
obra mostra os
primeiros sinais da
preocupação com
temas sociais,
característica que
antecipa o traço
fundamental
definidor dos
autores da terceira
geração romântica.
Por isso, é visto
como um autor de
transição.
Apesar de abordar
os temas
preferidos dos ultrarromânticos (solidão, morte, inadaptação
social), Fagundes Varela compôs poemas que apresentam a
escravidão como injustiça social e ofensa à humanidade.

FONTE:
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ABAURRE, Maria Luiza M.


Literatura : tempos, leitores e leituras, volume
Página

único / Maria Luiza M. Abaurre, Marcela Pontara. – 2ª.


ed. – São Paulo : Moderna, 2010.

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