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Focalização omnisciente
A reconstrução do Ramalhete
A figura de Afonso da Maia
O narrador perspectiva A infância e os estudos de Carlos em Coimbra
(Cap. I e II) O retrato de Ega
O retrato de Eusebiozinho
O retrato de Dâmaso
Focalização interna
O tempo da história é aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas
personagens, reflectindo os mesmos acontecimentos cronológicos do País- Regeneração. Ele é
dominado pelo encadeamento de três gerações de uma família cujo último membro se destaca em
relação aos outros, o romance percorre, através das acções relatadas, uma larga zona do século XIX.
O tempo da história relaciona-se com um outro tempo, o dos factos reais, de natureza política,
económica, social e cultural ocorrido no século XIX.
Os marcos cronológicos são: (1820-1822: juventude de Afonso; 1875-1877: Carlos em
Lisboa;1887: regresso de Carlos).
O tempo do discurso é aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador,
ordenado ou alternado logicamente, alongado ou resumido.
Convém notar que, na 1ª parte da obra, se verifica uma drástica compressão do tempo da
história. Cerca de oitenta páginas é realmente a analepse que se encontra instaurada. Com o
movimento retrospectivo que a analepse implica, recupera-se o tempo vivido pelos antecessores de
Carlos da Maia nos quase sessenta anos anteriores: a juventude e exílios de Afonso da Maia, a
educação, o casamento e suicídio de Pedro, a formação de Carlos, incluindo a sua passagem por
Coimbra. Assim, todo o passado de uma família, toda uma série de episódios inseridos nesta analepse
servem para explicar o aparecimento, em Lisboa e em 1875, de uma personagem: Carlos da Maia.
Personagem que tem atrás dela eventos largamente representativos da configuração mental, cultural
e social do século a que pertence.
Um segundo aspecto da problemática do tempo nos Maias é o que se relaciona com o ritmo
narrativo assumido pelo discurso. Deste modo, pessoas e eventos rapidamente descritos tenderão
necessariamente a ser desvalorizados na sequência natural da história; pelo contrário, aqueles
acontecimentos e figuras sobre as quais o narrador se debruce com mais demora, ganharão mais
impacto e projecção.
A situação do discurso narrativo nos Maias é, a este propósito, praticamente esquemática: as
zonas da história que antecedem o presente vivido por Carlos a partir de 1875 são, normalmente,
objecto de anisocronias, isto é, de um tratamento segundo o qual o tempo do discurso é menor do que
o da história (compressão drástica do tempo da história). Ora esse período tão amplo aparece
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reduzido, ao nível do discurso, às cerca de noventa páginas que o narram e que coincidem com a mais
profunda analepse operada no romance.
E pelo contrário, a existência de Carlos em Lisboa (tento no plano da intriga como no da crónica de
costumes) é objecto de uma tentativa de isocronia, o que quer dizer que, nessa fase da história, o
narrador se esforça para que a duração do discurso seja idêntica à da história.
Em termos técnico- narrativos, verifica-se que o recurso fundamental utilizado pelo narrador
na consumação da anisocronia é o resumo ou sumário, isto é, um tipo de duração do discurso mediante
a qual os eventos narrados são comprimidos de forma mais ou menos redutora, mas sempre referidos
de modo abreviado.
Mas a redução do tempo da história ao nível do discurso faz-se mais radical noutro caso:
naquele em que são pura e simplesmente omissos períodos mais ou menos longos da história.
Recebendo a designação de elipse, esse tipo de elaboração discursiva da história sugere, desde logo,
uma desvalorização total dos eventos suprimidos que deste modo podem ser apenas suspeitados ou
imaginados, mas nunca considerados como elementos fulcrais para a compreensão do significado da
obra. Com a elipse o tempo não pára, apenas se omite a representação do desgaste que a sua
passagem imprime naqueles que a ele estão sujeitos.
A isocronia acontece, de modo especial, em dois episódios: o suicídio de Pedro e a educação
de Carlos, acontecimentos dotados de grande impacto na sequência da história. Para se criar um
alongamento dos eventos representados, cria-se uma cena dialogada, ritmo de enunciação, mais do que
narrativo, é sobretudo, dramático. No entanto, a importância da isocronia através do privilégio da
cena dialogada expressa-se de modo sistemático sobretudo a partir da altura em que Carlos se
embrenha, por um lado, na vida social do seu tempo, e por outro lado, no desenrolar da intriga
principal, incluindo os episódios. Tudo isto, é representado com a lentidão e o pormenor que só a cena
dialogada faculta; deste modo, o discurso narrativo dos Maias privilegia, nestas zonas da história, um
ritmo narrativo de tipo isocrónico mediante o qual o tempo do discurso tende a respeitar a duração
do tempo da história.
Concluindo, podemos afirmar que a omnisciência do narrador permite uma manipulação do
tempo da história, criando uma anisocronia: o tempo do discurso é maior do que o da história. Para
esse efeito, serve-se dos recursos técnicos do sumário e da elipse.
Ao adoptar o ponto de vista interno, o narrador tenta a isocronia: o tempo do discurso tem
uma duração idêntica ao da história. Para tal, serve-se da cena dialogada, sobretudo quando Carlos se
instala em Lisboa.