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STUDO

Centro de Estudo e Explicações

Teste de Português
Grupo I

Parte A

Leia o poema.

Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo


Onde há paisagens que não pode haver.
Tão belas que são como que o veludo
Do tecido que o mundo pode ser.

Bem sei. Vegetações olhando o mar,


Coral, encostas, tudo o que é a vida
Tornado amor e luz, o que o sonhar
Dá à imaginação anoitecida.

Bem sei. Vejo isso tudo. O mesmo vento


Que ali agita os ramos em torpor
Passa de leve por meu pensamento
E o pensamento julga que é amor.

Sei, sim, é belo, é longe, é impossível,


Existe, dorme, tem a cor e o fim,
E, ainda que não haja, é tão visível
Que é uma parte natural de mim.

Sei tudo, sei, sei tudo. E sei também


Que não é lá que há isso que lá está.
Sei qual é a luz que essa paisagem tem
E qual a rota que nos leva lá.

Fernando Pessoa,
Poesia do Eu, edição de Richard Zenith, 2.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2008, pp. 314-315.

1. Nas três primeiras estrofes, o sujeito poético descreve um lugar idealizado.


Apresente duas características desse espaço e exemplifique cada uma delas
com uma transcrição pertinente.

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2. Explique o conteúdo dos versos 3 e 4 e relacione-o com a temática


pessoana em evidência no poema.
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3. Explicite dois sentidos das anáforas e das suas variantes (versos 1, 5, 9, 13,
17 e 19), tendo em conta o desenvolvimento temático do poema.
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Exame nacional 2019
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SOLUÇÕES

Exame de Português 12.º ano – 1.ª Fase


Grupo I
Parte A

1- O sujeito poético descreve, nas três primeiras estrofes do poema, um lugar imaginado.
Assim, estas “ilhas ao sul de tudo” apresentam paisagens belas, acolhedoras e amenas
como o “veludo”. Trata-se ainda de um espaço com vegetação “olhando o mar”, “coral,
encostas” , mas impossível (“que não pode haver”) porque é apenas um espaço sonhado.
Concluindo, o “eu” perspetiva um lugar idílico, que só existe fruto da uma idealização, de
uma construção mental.

2. Os versos três e quatro apresentam uma comparação entre a beleza da paisagem e o


“veludo”. Efetivamente, este recurso expressivo destaca o caráter aprazível deste mundo
idealizado, o qual pode proporcionar felicidade caso exista harmonia entre os vários
elementos (“como que o veludo / Do tecido que o mundo pode ser”). Está, assim,
evidenciada a temática do sonho e da realidade, na medida em que as ilhas imaginadas
permitem ao sujeito poético vislumbrar um mundo de plenitude a que, no entanto, só
pode aceder através do sonho (“o que o sonhar / Dá à imaginação anoitecida”).
Em conclusão, para o sujeito só é possível aceder a este mundo através do sonho, pois
a sua realidade não existe a não ser na sua imaginação.

3. A repetição presente no início dos versos 1, 5, 9, 13, 17 e 19 remete para a consciência


do “eu” da existência de um mundo idealizado. Na verdade, o sujeito reitera a sua certeza
através da forma verbal “sei”, destacando que, apesar de “longe” e “impossível”, cada um
de nós poderá descobrir a “luz que essa paisagem tem” e o caminho para lá chegar: só o
sonho, inerente à essência do “eu”, permite aceder a este espaço de felicidade (“E, ainda
que não haja, é tão visível / Que é uma parte natural de mim”).
Em suma, o sujeito tem a certeza da inacessibilidade deste espaço, pois não passa de um
lugar sonhado, intelectualizado.

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