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Com o texto clássico de sua época e à frente de seu tempo, Júlia insere em suas
obras diferentes pontos de vista e representa a mulher, colocando reflexões e
mostrando, inclusive, a diferença de tratamento da sociedade. Nascida no Rio de
Janeiro, em 1862, a autora se mudou para Portugal, onde conheceu seu marido,
o poeta Filinto de Almeida, e lançou o livro Contos Infantis, em 1887, ao lado de
sua irmã Adelina Lopes Vieira. Júlia se tornou uma das escritoras mais
publicadas da Primeira República (1889-1930), chegando até a contribuir com
artigos e matérias que abordam os direitos sociais e a vulnerabilidade da mulher
de sua época nas principais revistas do meio.
O escritor Filinto de Almeida, que ocupou o lugar de sua esposa Júlia na ABL,
aparece em uma foto
clássica do grupo literário,
formado por grandes
autores da época,
chamado Panelinha –
criado em 1901, para a
realização de festas e
encontros de escritores e
artistas. Na fotografia
abaixo estão os escritores
e intelectuais Rodolfo
Amoedo, Artur Azevedo,
Inglês de Sousa, Olavo
Bilac, José Veríssimo,
Sousa Bandeira, Filinto de
Almeida, Guimarães Passos, Valentim Magalhães, Rodolfo Bernadelli, Rodrigo
Octavio, Heitor Peixoto. Sentados: João Ribeiro, Machado de Assis, Lúcio de
Mendonça e Silva Ramos. No site da ABL, Almeida ainda aparece como um dos
fundadores da instituição e ocupante da cadeira de número 3. Em 2017, o ciclo de
palestras Cadeira 41, da ABL, reconheceu a injustiça e incluiu Júlia entre autores
que poderiam ter entrado na instituição.
https://darkside.blog.br/julia-lopes-de-almeida-conheca-a-historia-da-primeira-mulher-da-abl/
CONTO 2
O CASO DE RUTH
Eduardo Jordão tem o consentimento da baronesa Montenegro para abraçar a
noiva Ruth (23 anos) que é extremamente tímida e recatada. Ruth torna-se triste e
melancólica depois que sua mãe ficou paralítica.
Então a baronesa, após rasgar elogios à neta, deixa os noivos sozinhos na sala. O
ambiente é descrito com riqueza de palavras e referências a famílias reais de
Portugal e aristocratas.
De súbito, Ruth sai da penumbra e avisa Eduardo que a vó mentira: ela não era
pura! Amava Eduardo demais para que mentisse para ele! Há oito anos, o padrasto
abusou dela durante quatro meses (foram amantes) naquela mesma sala e, quando
ele morreu, ela se libertou daquele martírio. (“É isto a minha vida. Cedi sem amor,
pela violência; mas cedi.”)
Eduardo deixa a sala e mergulha em uma intensa reflexão (“só Ruth e ele sabem
disso”). Deveria aceitar Ruth ou rejeitá-la... Então decide aceitá-la e lhe escreve
uma carta com sua resolução. O casamento é marcado, mas Ruth não quer a
desonra para Eduardo e então se suicida...
Em seu velório, Eduardo está ao seu lado. De um canto alguém diz que ela será
sepultada no mesmo jazigo que o padrasto. Eduardo fica estarrecido e ateia fogo
às roupas de Ruth.
Em meio às chamas, o cadáver dela parece feliz, finalmente.
CONTO 3
A ROSA BRANCA
A viúva do comandante Henrique demonstrava preferência à primeira neta
(Ângela), mais parecida com a família da viúva, e era meio indiferente à
segunda (Ignez) mais parecida com a família do pai. Ignez percebia e se
questionava por que mereceria menos que a outra.
A vó colocava a culpa de tudo na pobrezinha e preferia mandar Ignez para o colégio
e contratar professores em casa para Ângela.
As pessoas parecem se acostumar com essa diferença, mas Ignez não se
acostuma e sofre por isso.
Mesmo assim, Ângela vai estudar em Itú e diz para a avó que todos os dias
haverá uma rosa branca no oratório. Se a rosa estiver murcha, a menina estará
doente, se não houver rosa, será porque a menina morreu. A mãe dela fica meio
irritada com o comentário e Ângela diz tratar-se de uma brincadeira.
Ignez observou a vó, pois sabia que ela acreditava nessas superstições.
A menina, para não ver a vó triste, ia todas as manhãzinhas colher uma rosa
branca no jardim e deixar nos pés da santa no oratório.
Em uma noite de lua clara, Ignez achou que já era manhã e correu para colher a
flor, mas assustou-se ao constatar que ainda era noite alta.
Correu ao oratório e sentiu-se desfalecer, mas foi amparada pelos braços e pelos
beijos da avó agradecida.
CONTO 4
OS PORCOS
Umbelina apanhou uma surra do pai por aparecer grávida e o pai disse que
jogaria o bebê aos porcos. Ela, certa vez, encontrara um bracinho de criança
no meio da plantação de abóboras e atribuiu o feito ao pai.
Ela estava grávida do filho do patrão que até se casaria com outra. Umbelina
também não queria o filho, mas também não queria dar aos porcos. Ela
planejava matar o filho na porta do rapaz que a engravidara.
A cabocla foi rejeitada por todos e aquilo era uma vingança contra todos. Mataria
seu filho.
Porém o parto se deu na frente da casa do rapaz e Umbelina amou seu filho,
mas muito fraca desmaiou. Quando retomou um pouco dos sentidos, viu o vulto
de uma enorme porca e os gritos do bebê sendo devorado por ela.
Antes de morrer, a cabocla viu a silhueta da porca com carne pendurada na boca.
CONTO 5
O VOTO
Maurício era noivo (e primo) de Ginoca, órfã de mãe, mora com o pai Guilherme
que faz gosto pelo casamento dos dois. O rapaz era estudante de medicina e ela
moça direita da roça. O pai não gostava muito do fato de Maurício ter certo gosto
pelos livres pensadores (aqui se vê os costumes do povo interiorano).
O rapaz quase morre de febre amarela, mas se salva.
Temendo pela vida de Maurício, Ginoca promete que, se ele se salvasse, ela
permaneceria solteira para o resto da vida.
Sendo pessoas de uma firme crença religiosa, o pai e Ginoca cumprem a
promessa (o voto).
CONTO 7
SOB AS ESTRELAS
Ianinha e Júlio (antes de se tornar padre) eram namorados e fugiam para se
amar sob as estrelas.
Júlio obedece ao desígnio do tio padre, termina o relacionamento com a moça e
vai para o seminário.
Ianinha sofre muito, pede que ele não vá, mas é inútil. Agora padre, Júlio volta
à terra natal, mas tem dificuldades de lidar com as ardentes lembranças da moça.
Irritava-se com isso, pois pretendia ser santo e manter-se firme na fé.
Na esperança de que a moça tivesse morrido, Júlio vai visitar o cemitério. Ao se
deparar com uma sepultura sem nome, o coveiro explica-lhe que aquela é a
sepultura do filho de Ianinha e que ninguém sabe que é o pai.
À noite, no campanário, a cabocla aparece e conta ao padre sobre o filho. Júlio
resiste à tentação carnal e deixa Ianinha sozinha.
Ela que já havia tocado o sino do campanário para chamá-lo antes, ao vê-lo sair,
toca furiosamente o sino. Depois de um tempo, o sino se cala, pois Ianinha se
enforca na corda do sino.
CONTO 8
A PRIMEIRA BEBEDEIRA
O jovem rapaz, contrariando a mãe que comemorava aniversário naquele dia,
saiu para ver Albertina. A moça pediu que ele voltasse às dez e, para não voltar
para casa, foi ao bar. Lá encontrou amigos que lhe atiçaram o espírito, dizendo-
lhe que deveria fazer o que quisesse.
Então começaram a falar de amores e chegaram à Albertina, após o rapaz
mostrar uma carta dela. Os amigos escarneceram sobre as palavras da moça. Sob
os efeitos da bebida, o jovem expôs sua relação com ela, gabando-se. O
conhaque foi enegrecendo sua consciência. O rapaz revelou muitos assuntos
particulares.
Mais tarde, voltou à casa de Albertina e começou a gritar para que fosse
atendido, mas a moça se escondeu envergonhada.
Não sendo atendido, seguiu para casa. A mãe o encontra completamente bêbado
e cuida para que ninguém o veja assim.
CONTO 9
A CASA DOS MORTOS
A protagonista percorre os caminhos dentro de uma casa, atrás do som de
passos. Ao parar diante de uma porta, um vulto lhe avisa que não era para ela
(a protagonista) estar ali, pois era a casa dos mortos e nunca alguém percorreu
aquele caminho sem ter morrido. Outros vultos parecem curiosos. Ela procurava
pela mãe.
Quando a encontra, entre névoas, a mãe não deixa que a toque e diz que ela
deve voltar para os sofrimentos da febre. A protagonista vê a morte baixar dois
caixões com um casal. A mãe explica que o amor verdadeiro perdura após a
morte e quem nunca amou em vida, desfaz-se como areia ao vento, pois não
tem doces lembranças.
Então ela é conduzida, pela morte, para fora do sonho e acorda com lágrimas
nos olhos e as mãos em cruz sobre o peito.
CONTO 10
AS HISTÓRIAS DO CONSELHEIRO
O conselheiro conta uma divertida história para uma plateia. Esta, divertindo-
se, pede que ele lhes conte outra. Ele começa a contar a história que envolve “o
dr. Lemos, antigo advogado no lugar, homem pacato, idoso, cheio de
preconceitos religiosos e sociais, muito boa pessoa, mas muito cacete
também.”, apesar de no início Lemos se mostrar uma companhia desagradável e
invasiva, com o passar do tempo, contrariando as expectativas, ele passa a ser
um amigo indispensável para o conselheiro.
O velho (dr. Lemos) tinha um filho amado de quem se orgulhava muito e para o
qual rasgava inúmeros elogios, sendo esse filho sua única e preciosa razão de
viver.
Certo dia, o conselheiro recebeu uma carta que falava da desonra do filho do
dr. Lemos: o rapaz roubou o banco em que trabalhava e fugiu para a América do
Norte.
O conselheiro não conseguiu contar tal fato para o orgulhoso pai, por medo de o
mata-lo de desgosto.
Tempos depois, precisou sair da província para tratar da saúde e, assim que
deixou a cidade, outras pessoas contaram ao velho que acabou enlouquecendo.
CONTO 12
IN EXTREMIS
Laura e dr. Seabra são casados e têm uma filha pequena que ainda mama no
peito. Os dois apresentam uma determinada diferença de idade, ele mais velho,
e ela mais nova. Seabra sabia, secretamente, do amor que Laura e Bruno, jovem
amigo do casal, sentiam um pelo outro, mas sempre se manteve calado diante
dos dois que também se mantinham calados. Tudo era velado. Bruno está à
beira da morte e Laura tenta disfarçar seu desespero, mas o marido percebe,
pois está sempre atento. Apesar de todo amor, Laura permanece fiel e honesta
ao marido que sente um ciúme amargo e irremediável.
Ao chegar à casa de Bruno para uma visita, a mãe dele revela que os médicos
recomendam que ele somente tome leite materno, mas está difícil de achar ama
de leite. Laura, então, olha para o marido que dá um discreto sinal de afirmativo.
Em seguida, ela desabotoa o vestido e dá o seio cheio de leite para Bruno. É
na percepção do dr. Seabra que sabemos que o sono de Bruno que se segue
após o ato generoso de Laura, será o último.
CONTO 13
A BOA LUA
O velho Samé (Samuel) fez cem anos e está adoentado. Sua memória já falha
para muitas coisas, mas para os assuntos relativos às sementes e às colheitas
ele guarda boa memória.
“Contava as luas, sabia de cor o calendário. (...) E nesses dias a comida era-
lhe atirada como a um cão intruso, sem direito ao carinho de ninguém.”
Samé sofre uma queda enquanto jogava sementes de milho na terra em época
de “lua boa”. No chão, Samé vê um broto num tronco que julgava morto e beija a
terra, seu único amor.
Os netos e bisnetos acudiram-lhe, levaram-no para casa e prepararam tudo,
pensando que eram seus últimos momentos de vida, até o padre foi chamado
para a confissão. Quando todos adormeceram, Tio Samé viu uma cobra
descendo a parede e entrando sob os lençóis de uma neta que dormia por ali
perto. A neta morreu, mas o velho ficou para semear na boa lua.
CONTO 14
ESPERANDO...
A esposa de Luiz prepara um jantar para o marido e dá várias ordens à criada
e ao cozinheiro. Ela se demonstra uma mulher ansiosa e preocupada demais com
a própria aparência. Mas o marido demora muito para chegar e ela cai no choro.
Ela logo se pergunta o que teria acontecido e pensa em traição e depois em
acidente. Seu desespero já é grande quando Luiz chega e acalma a esposa Mimi,
dizendo-lhe que ela deve se acostumar a jantar sozinha. Ela entende que a lua
de mel acabara.
CONTO 15
INCÓGNITA
O ambiente é um necrotério e, sobre a pedra fria, está o cadáver de uma moça
que morreu afogada. Dois homens conversam sobre ela e um a conhecia
apenas de vista. O outro rapaz ficou impressionado e passou a refletir sobre
o que poderia ter acontecido à morta: matou-se? Foi traída? Ficou muito triste
em pensar que ninguém reclamara seu corpo. No outro dia, ele volta ao
necrotério e descobre que ninguém veio procurá-la e que seu corpo foi
encaminhado ao cemitério. Vai para casa, encontra a mulher e a filha, conta o
caso para elas que também se compadecem da história da pobre moça.
Temas: a morte, o abandono, a solidão. Mais uma vez uma mulher como
centro da história.
CONTO 16
A ALMA DAS FLORES
Adolfo vai a casa de Sales que o recebe com alegria, leva-o ao jardim e discorre
com alegria e orgulho sobre diversas variedades de flores. Em determinado
momento, Adolfo começa a ver, perto das plantas, personificações delas, como
se fossem suas almas, mas não divide sua visão com ninguém. Ao mudar-se
para outra casa, um quintal da vizinhança apresentava um canteiro deangélicas
e Adolfo então começou a ver mulheres que subiam aos céus. Ele ficaum pouco
perturbado, mas por fim entende o que está acontecendo: as visões queele tem
são o jeito de ele sentir o aroma das flores.
CONTO 18
O ÚLTIMO RAIO DE LUZ
A protagonista narra o conto. Ela está envelhecida e relembra o tempo em que
era jovem, estava doente e perdidamente apaixonada pelo médico de trinta
anos (ela tinha 15), mas nem a mãe nem o médico diziam qual era sua doença.
Certo dia, o médico aplicou-lhe um lenço negro sobre os olhos, dizendo-lhe
para não os retirar sob o risco de ficar cega. Ela obedece. Com o tempo, sem
poder ver, apura mais a audição. Sua irmã mais velha vem vê-la e ajudar a
cuidar dela. A audição fica tão apurada que ela já podia saber quem mentia... e
a cegueira revelou verdades... e, em um gostoso dia ensolarado, seus ouvidos
captaram uma conversa em segredo no jardim, então ela se levantou e foi até a
janela... era o médico falando de amor à sua irmã mais velha. Num impulso, ela
arrancou o lenço dos olhos e a luz do Sol acabou por cegá-la.
CONTO 19
A MORTE DA VELHA
Tia Amanda era uma velhinha muito cansada, mas que ainda trabalhava
recortando papéis para as confeitarias. Criou as sobrinhas e seu irmão já não
morava mais com elas, tampouco ajudava com algum dinheiro. Apenas uma das
sobrinhas era bonita e tinha alguma esperança no futuro. Aos poucos, a velhinha
foi enfraquecendo até que perdeu o trabalho que fazia para as confeitarias. Teve
que empenhorar seu relógio de ouro para dar sustendo às sobrinhas e quando
Luciano, seu irmão, soube, foi ralhar com ela para que ela não o envergonhasse,
pois pensariam que eles passam grandes necessidades. Para ajudar as sobrinhas,
pediu dinheiro a Luciano e este recusou. Ficou adoentada e precisou dos
cuidados das pessoas a quem cuidou durante toda a sua vida, mas não
encontrou a mesma dedicação e o mesmo amor. Ela foi ficando mais esquecida
e amarga. Certo dia, a casa pegou fogo. Nesse momento, o irmão começou a
tentar salvar bens materiais, mas não a velhinha que ficou olhando todos fugindo.
Pior que o incêndio e o medo, foi o fato de o irmão, por quem ela sacrificara a vida,
fugir e deixá-la para trás. Então ela entendeu que foi uma vida de sacrifícios em
vão. Quando o bombeiro veio para socorrê-la, ela preferiu ficar com as
chamas.
CONTO 20
PERFIL DE PRETA
Conto dedicado a Machado de Assis – Gilda, criada de D. Ricarda Maria,
levava os beijus para a irmã da sua senhora. Ao se desviar do calor da estrada,
em pleno sol de dezembro, Gilda segue próxima ao rio. Quando viu um grande
peixe dorminhoco perto da margem, pesca-o com as próprias mãos e depois
segue para entregar os beijus. Ela esconde o peixe para pegá-lo na volta. Mas Gilda
fez muitas paradas e se demorou a chegar na casa pretendida. Depois de fazer
a entrega, fica apreensiva de ter que voltar sem muita luz do dia. Na frente da
igreja de São Nicolau, um rumor chamou sua atenção. A estátua do santo que havia
sido tirada do altar para repintura apareceu sozinha, como por milagre, de volta ao
altar. Gilda benzeu-se, pois tinha medo de almas penadas, e começou o caminho
de volta. No caminho, flagrou seu namorado João Romão abraçado a
Norberta, outra criada, além de outras pessoas que faziam a pesca do bagre
amarelo. Ela fica com muita raiva e, na manhã seguinte, de volta ao trabalho no
engenho de mandioca de D. Ricarda Maria, causa uma distração repentina a
João Romão que operava uma perigosa máquina e que perde a mão direita e
já não pode mais seduzir moças com suas canções e sua viola. Mas, mesmo
assim, Norberta torna-se sua companheira definitiva, trabalha pelos dois e
espanta com galhos de arruda o mau-olhado de Gilda.
CONTO 21
A NEVROSE DA COR
Issira é uma princesa acometida por uma rara condição, é absolutamente
obcecada pela cor vermelha, tudo precisa ser vermelho. Um velho sacerdote
tenta, por meio de sábias lições, dissuadi-la de tudo que se relacionava ao
vermelho, principalmente, do sangue. A princesa está noiva do filho do rei
Ramazés, ela é linda, mas arrogante e ambiciosa. Houve um tempo em que ela
degolava ovelhas brancas para lhes beber o sangue, por causa da cor. Com o
tempo, voltou a sentir desejo do sangue, então começou a matar escravos,
bebendo-lhes o sangue. O povo denunciou ao rei que nada fez, mas com a morte
de seu filho, noivo de Issira, ele proibiu que ela matasse mais escravos. O rei
mandou que ela voltasse a própria terra, então ela, com muita sede de sangue,
cortou o próprio pulso e bebeu do próprio sangue até morrer.
Temas: conto com tons surreais e fantásticos, mas que pode ser lido como
uma alegoria da ganância humana, que tende a ser crescente e, muitas vezes, o
ganancioso acaba por “devorar”, “consumir-se” a si mesmo.
CONTO 22
AS TRÊS IRMÃS
D. Tereza sentia que a morte se aproximava e resolveu chamar as duas irmãs
para virem ao Rio e lhes deixar como herança os bens da casa bem preservada
e que nestas coisas mantinha as lembranças do passado. D. Lucinda (que
havia ido para Buenos Aires) e D. Violeta (que havia ido para a Bahia) não viam
D. Tereza há muito tempo. Ela mandou que a casa fosse preparada para a
chegada das irmãs, acrescentando detalhes que as fizesse lembrar de um
passado bom e agradável. Porém encontra as irmãs bem diferentes do que
pensava: D. Lucinda ostenta riqueza e ama o luxo material; D. Violeta ostenta a
família e a igreja. As irmãs zombavam de tudo. Depois da morte de D. Tereza,
as irmãs venderam a casa, repartiram os bens e seguiram cada uma para seu
destino.
CONTO 23
O VÉU
O protagonista, um estudante de medicina que reprovou no quarto ano e que
volta para visitar o pai e duas irmãs, acredita que “a maneira de vestir indica
fatalmente a maneira de pensar de uma mulher”.
No transporte, ele observa duas senhoras que sentaram à sua frente. Ele faz
uma descrição de suas impressões em relação às mulheres a partir do que
vestem e estabelece grandes diferenças. Por fim, lê impressões na face da
senhora mais baixa, mas não consegue ler da mais alta, pois ela tem o rosto
coberto por um véu. Suas impressões são preconceituosas, visto que
acreditava adivinhar o caráter pela aparência. Aos poucos, vai se apaixonando
pela mais alta, mesmo sem lhe ver o rosto. Fascinado pelo mistério, seguiu as
mulheres ao saírem do trem e ficou alguns dias espreitando a casa onde elas
haviam entrado na esperança de ver e falar com a mais alta. Escreveu à baronesa
(mulher mais alta) e esta consentiu-lhe que a visitasse. Qual foi a decepção do
rapaz ao ver que a mais alta, sem o véu, era muito velha e muito feia. A baronesa
deu-lhe um bom conselho bem irônico: que não se cansasse de seguir as
mulheres que usassem véu tão espesso.
CONTO 25
O DR. BERMUDES
Bermudes era um rapaz rico, lindo e galante, sustentado e mimado pela tia
Jacinta. Quando sua tia morre, não lhe deixa a fortuna e Bermudes passa a ser
um mendigo agora desprezado pela sociedade. O conto mostra uma sociedade
que valoriza as aparências e as conveniências e os interesses.
CONTO 26
A VALSA DA FOME
Hipólito vendera o piano e perdera para a fome a única irmã. Foi contratado
às pressas para tocar em uma elegante festa no Rio de Janeiro. Em princípio,
a plateia riu-se dele, por sua aparência magra, mal vestida e doentia. O
contratante explica a triste história de Hipólito a uma senhora. Quando começa
a tocar a valsa, Hipólito se vê fascinado por ter voltado a tocar piano. Ele deixa-
se embalar pela saudade e pela fome que sente. O pianista de totalmente
tomado pela música, não cessa de tocar, ao final de várias valsas conhecidas,
ele emenda a criação de uma valsa própria, composta à medida em que ia
tocando, embalada e inspirada pela extrema fome. Cada nota parece representar
as dores causadas pela sensação da fome. Ele toca enfurecidamente até
desmaiar sobre o piano.
CONTO 27
O FUTURO PRESIDENTE
O quadro inicia-se em um quarto de costuras com uma mulher cansada a vigiar
o sono do filho, enquanto costura até tarde. O marido, que tem apenas uma
das pernas e o juízo um pouco perturbado, está também trabalhando. A vida é
cara e eles ganham pouco. A pobre mãe depositava esperança no futuro do
pequeno filho. A mulher deseja que ele seja rico e caridoso. Certo dia, ouvira, no
bonde, duas pessoas conversando sobre pessoas humildes que fizeram grandes
coisas. Ela começa então a divagar sobre o futuro brilhante do filho até que
chegue a ser presidente de uma, ainda futura, república.
CONTO 28
O ÚLTIMO DISCURSO
Dr. Paula Guedes já estava bem velho, adoentado e acamado. Uma neta traz-
lhe um ofício do Instituto e o velhinho recupera parte das forças a fim de ler o
documento, junto de um certo alívio por ainda lembrarem dele. Era um convite
para que ele fizesse um discurso no tricentenário de Anchieta. O velhinho
regozijou-se de alegria, pois faria o discurso diante de importantes pessoas do
país. Um renascimento acontecia no corpo e na alma do dr. Paula Guedes, à
medida que preparava o discurso e todos os detalhes. Entre os detalhes da
preparação, o velhinho fez uma apresentação prévia para os familiares no salão
da própria casa. No calor da apresentação, dr. Guedes faleceu.
CONTO 29
NO MURO
Maria Tereza está em sua cadeira de balanço observando a luz da Lua que sobe
pelo muro branco no fundo do quintal. O ambiente está silencioso. De repente, ela
vislumbra, no muro, a visão de sua vilazinha mineira de onde seu marido a
trouxera para viver na turbulência urbana. Maria Tereza vê com detalhes a igreja,
a floresta e seus habitantes, tem lembranças de histórias nas imagens que as
sombras e a luz da Lua desenhavam no muro. Lembrou de histórias contadas
pela velha Teodora sobre o Cavaleiro da Pluma e a ressureição de uma
princesa. E foi com tristeza que percebeu que a velha escrava quase nunca
havia sido lembrada por ela, justo Teodora que se doou e foi tão boa para ela,
nem mesmo lembrava onde ficava seu túmulo. De súbito, levantou-se e fechou
a janela, parecia não mais querer lembrar-se. O marido chamou e ela resolveu
deixar que a luz da Lua apagasse aquelas lembranças desenhadas no muro.
CONTO 30
AS ROSAS
A protagonista fala de seu jardineiro, um homem feio e sombrio. As pessoas
pediam para que ela se livrasse dele por ter tal aspecto, mas, como ele cuidava
muito bem das flores, ela acabava por dar de ombros. Em um começo de noite,
viu que as roseiras estavam cheias de botões de flores, então o jardineiro lhe
afirmou que elas abririam aquela noite. Ela intentou levar um ramalhete para sua
mãe e outro para o túmulo da filha, além de enfeitar-lhe a casa. Disse ao jardineiro,
então, em tom rude, que não as tocasse, pois ela mesma as colheria. Ele
apenas obedeceu. Na manhã seguinte, constatou que nenhuma rosa restara
nos roseirais. Gritou pelo jardineiro que atendeu de pronto. Quando ela lhe
perguntou pelas flores ele a conduziu até seu pobre e feio quarto. Qual não foi
sua surpresa ao ver o corpo de uma mulher no meio de uma cama feita com as
rosas. Era a filha do jardineiro. Ele matara a filha, pois ela não quis deixar o
homem que batera nela. Convulsionado pela dor, achou-a muito maltrapilha e quis
vesti-la de rosas.
SUCESSO E RECONHECIMENTO
Lúcia Miguel-Pereira afirma que Júlia Lopes de Almeida “é a maior figura entre as
mulheres escritoras de sua época, não só pela extensão da obra, pela
continuidade do esforço, pela longa vida literária de mais de quarenta anos, como
pelo êxito que conseguiu, com os críticos e com o público; todos os seus livros
foram elogiados e reeditados, vários traduzidos, sendo que se consumiu em três
meses a primeira tiragem da Família Medeiros”.
Autora de dez romances, três coletâneas de contos e novelas, três compilações de
crônicas, quatro peças de teatro, três seleções de contos infantis e seis livros
diversos, entre relatos de viagem e conferências, pode-se falar, sem dúvida, no
caso dela, em “extensão da obra”.
Em vida, no entanto, viu reeditados, e apenas uma vez, os romances Memórias de
Marta, A intrusa e Cruel amor e o livro de contos Ânsia eterna. Sucesso
alcançou foi com livros que hoje denominamos paradidáticos: Contos infantis
(1886), lançado em parceria com sua irmã, Adelina Lopes Vieira (1850-
??), é adotado, a partir de 1891, em todas as escolas primárias do Brasil durante
mais de vinte anos; e Histórias da nossa terra, também de contos infantis, teve
vinte e uma edições entre 1907 e 1930.
TRADUÇÕES
Traduções, a obra de Júlia conheceu poucas: os contos As rosas (Les Roses)
no Paris Journal de 16 de fevereiro de 1914; A caolha (La Tuerta), no jornal La
Nación, de Buenos Aires, em 22 de outubro de 1922; Os porcos (Les Porcs), no
Tomo XVII, nº 28 da Revue de L’Amérique Latine, de Paris, em março de 1929; e
os romances Memórias de Marta e A família Medeiros no volume único Deux
Nouvelles Brésiliennes (Trad. Jean Duriau. Dunkerque: Imprimierie Du
Commerce – G. Guibert, 1928).
LITERATURA INFANTIL
A pesquisadora Rosa Maria de Carvalho Gens afirma que cabe a Júlia Lopes de
Almeida posição de destaque por perceber a importância do público infantil. “No
prólogo à segunda edição, assinado pelas autoras, encontra-se o protocolo da
leitura, que estabelece de saída o caráter moral: ‘Os Contos infantis são umas
narrações singelas, em que procuramos fazer sentir aos pequeninos paixões boas,
levando-os com amenidade de história a história’. (…) No entanto, para leitores
posteriores, não se acham muito apreensíveis tais traços, desejados pelas autoras
e que devemos configurar um modelo de leitura. Pelas narrativas passam meninas
pobres, mas honestas e dignas, pombinhos mansos, burrinhos trabalhadores e
pacientes, mães carinhosas, mas também crianças cruéis com animais, que
recebem castigo, muito longe do tom ameno a ser perseguido. As narrativas são
plasmadas por linguagem de clave bastante culta, com escolha lexical refinada”.
O objetivo das autoras, argumenta Rosa Gens, é “encaixar, através da
disseminação de hábitos, valores e de estruturas de linguagem, a infância na
sociedade”. O sentido moral e formador aparece também em Era uma vez…
Segundo ela, “a escritora acreditava na missão de educar, com a nítida firmeza de
que, através dela, o país se desenvolveria. O procedimento traz a dimensão da
época, de nítida diretriz desenvolvimentista, enfatizando-se na concepção do
mundo infantil como um degrau para o adulto”.
LINGUAGEM LITERÁRIA
Júlia Lopes, nascida no Rio de Janeiro, mas filha de pais portugueses, também
casada com um intelectual português, tendo passado largos anos em Portugal,
cujas leituras seguramente se iniciaram com autores portugueses e que deveriam
contemplar a obra de Eça de Queirós, traz, em sua escrita, o que os críticos
chamaram de tom lusitanizante. Talvez tenha sido o que a diferenciaria dos
escritores brasileiros da época: um estilo muito cuidado, obediência à norma
gramatical, a preocupação de não empregar vocábulos do falar oral, coloquial, para
caracterizar a chamada cor local, em suma, um português castiço.
O que a distinguiria de escritores renomados, como Coelho Neto, não seria
o tom lusitanizante, mas a simplicidade de sua escrita, a busca da clareza e até a
cadência de sua prosa, estilo que fez com que Lúcia Miguel-Pereira a elogiasse,
embora a tenha incluído entre os escritores que classifica como “sorriso da
sociedade”. Mas a inclusão entre os escritores “sorriso da sociedade” talvez lhe
tenha valido por retratar, preferencialmente, a sociedade da alta burguesia carioca
- que foi o meio a que pertenceu. Em raros textos, como Memórias de Marta, entra
na caracterização da vida dos proletários.
PREOCUPAÇÕES SOCIAIS
Essa preocupação com a educação das crianças — indiscutivelmente uma
preocupação política —, Júlia terá também em relação à mulher. Antes de se
aventurar pelo romance, a escritora publicou uma coletânea de contos, Traços e
iluminuras, em 1887, seguido mais tarde por Ânsia eterna, de 1903, além de A
isca, composto por quatro novelas.
ÂNSIA ETERNA
Lúcia Miguel-Pereira, afirma que “os contos de Ânsia eterna parecem todavia a
sua melhor obra, aquela em que, sem nada perder de sua singeleza, ela
aproveitou com mais arte os seus recursos de escritora e deixou mais patente
a sua sensibilidade”.
A CAUSA FEMININA
Júlia Lopes de Almeida era tratada, no entresséculos, como autora de indiscutível
valor no cenário das letras contemporâneas. Em 1897, ano em que surge seu
romance A viúva Simões em livro, Júlia aparece como personagem literária (e
combatente das causas feministas) tão importante que cabe a ela apresentar A
Mensageira aos leitores e leitoras brasileiros. Em um interessantíssimo texto
intitulado Duas palavras, Júlia afirma: “A mulher brasileira conhece que pode
querer mais, do que até aqui tem querido; que pode fazer mais do que até aqui tem
feito. (…) Esta revista, dedicada às mulheres, parece-me dever dirigir-se
especialmente às mulheres, incitando-as ao progresso, ao estudo, à reflexão, ao
trabalho e a um ideal puro que as nobilite e as enriqueça, avolumando os seus
dotes naturais. // Ensinará que, sendo o nosso, um povo pobre, as nossas aptidões
podem e devem ser aproveitadas em variadas profissões remuneradas e que
auxiliem a família, sem detrimento do trabalho do homem”. Este pensamento, visto
em seu contexto, embora prudente, extremamente revolucionário para um país
machista e paternalista, a escritora aprofundará em seus romances.
Tivesse Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) se limitado a colaborar em jornais e
revistas, sempre defendendo a importância da educação das crianças e a
valorização do papel da mulher na sociedade, já lhe caberia o honroso lugar de
uma das mais importantes vozes feministas brasileiras. Mas Júlia fez mais:
escreveu romances refinados, onde descreve com elegância e precisão as
encruzilhadas da mulher na sociedade de fins do Século 19 e princípios do
século 20, não se esquivando de enfrentar temas complexos e polêmicos para a
época.
O primeiro romance escrito (e segundo editado) de Júlia Lopes de Almeida foi A
família Medeiros, que aparece em folhetins no jornal Gazeta de Notícias, do Rio
de Janeiro, entre 16 de outubro e 17 de dezembro de 1891, e em livro no ano
seguinte. O crítico Wilson Martins afirma que o livro, iniciado em 1886 e concluído
em 1888, “não foi imediatamente publicado, porque o advento da Abolição pareceu,
por um momento, ter-lhe tirado o interesse; agora [1892], quando os negros
passaram a ser abertamente atacados e novas formas de escravidão
congeminadas pelos pais da Pátria, a história adquiria inesperada atualidade”.
Martins questiona alguns defeitos do livro: “diálogos artificiais, notas de rodapé
explicando ou justificando peculiaridades da língua, de vocabulário ou de costumes,
e, bem entendido, a intenção moralizante: os personagens dividem-se em dois
grupos nítidos: os escravocratas, todos criminosos, perversos e desumanos,
contrastando com os abolicionistas, todos nobres, generosos e esclarecidos”. Ainda
assim, não tem dúvida em apontá-lo como o melhor romance publicado naquele
ano — o que não é pouco se levarmos em consideração serem estes os primeiros
passos da autora na prosa de ficção.
Seu segundo romance escrito (e primeiro publicado em livro), Memórias de Marta,
apareceu, segundo a pesquisadora Rosane Saint-Denis Salomoni[4], em folhetins
na Tribuna Liberal, do Rio de Janeiro, entre 3 de dezembro de 1888 e 18 de janeiro
de 1889[5], portanto, antes de A família Medeiros. Curiosamente, o livro antecipa
o tema da obra-prima de Aluísio Azevedo (1857-1913), O cortiço, publicado em
1890. A narrativa de Júlia, lançada em livro em 1889[6], centra-se na história de
Marta, que, após a morte do pai, vai com a mãe morar num cortiço na Cidade Nova,
e lá convive com personagens também encontrados no romance de Azevedo: a
família de portugueses miseráveis, a moça bonita que termina na prostituição, a
ganância do proprietário das casas… Enfim, num ambiente promíscuo e vicioso,
Marta tenta sobreviver dignamente e, embora chegue a formar-se professora,
somente por meio de um casamento de conveniência consegue deixar para trás
aquela vida de privações.
Livro trabalhado
Também José Veríssimo, contemporâneo da autora, afirma que com A falência
Júlia Lopes de Almeida “toma decididamente lugar, e não somenos, entreos nossos
romancistas”. Crítico exigente, Veríssimo afirma: “os acostumados a julgar esta
espécie de obras, se leram outros livros da autora, não custarão a perceber que é
um livro trabalhado, mas daquele trabalho que honra e eleva o
artista, ao invés de diminuí-lo. Julgando-o em comparação com a nossa produção
somente, esse novo romance de D. Júlia Lopes é obra de merecimento, de bastante
merecimento, sem ser entretanto nem uma obra superior, nem uma obra forte,
como hoje se diz”. Finalmente, conclui, dizendo que um dos melhores elogios a este
livro é de que se trata de “um escritor já na posse de todos os seus meios”. Martins,
mais entusiasmado, escreve que “depõe mais contra a crítica e os leitoresdo que
contra a romancista que um romance dessa qualidade tenha praticamente caído no
esquecimento”.
Rosane Saint-Denis Salomoni afirma que, no mesmo ano em que foi publicado, A
falência alcançou uma segunda edição, “devido ao apreço do público” e uma
terceira edição no ano seguinte. Fato é que este é dos poucos romances de Júlia
que não passou antes pelo crivo dos leitores diários dos jornais, já que não foi
publicado em folhetins, o que tinha ocorrido com os três primeiros títulos (além de A
Casa Verde, escrito a quatro mãos com o marido Filinto de Almeida) e o que
aconteceria também com o novo romance, A intrusa, que, segundo Salomoni, foi
publicado em folhetins no Jornal do Comércio, em 1905, e em livro três anos
depois. Dele disse Martins (um dos poucos críticos a se debruçar sobre a obra de
Júlia): a autora “representa, talvez, o ponto mais alto do nosso romance realista e,
apesar da língua algo lusitanizante, não perderia no confronto com Aluísio Azevedo
(vítima do mesmo mal). É ela um dos nossos romancistas do passado a exigir
urgente releitura e reavaliação”.
QUESTÃO 01
O final do século XIX foi pontuado por narrativas que procuraram expressar o lado
imaginário, englobando elementos que, por vezes, fugiam do sentido de realidade
presentes nos trabalhos literários considerados “tradicionais”. Seguindo essa linha,
encontra-se Júlia Lopes de Almeida, escritora de grande sucesso na virada do
século XIX e XX, sendo considerada uma das primeiras ficcionistas a “viver de
literatura”. Em Ânsia eterna (1914), livro que reúne vários contos, a autora trabalha
com perspectivas que englobam não só o suspense, mas, principalmente, o
grotesco, enfatizando questões trágicas que invadem o senso de realidade.
(Fonte:Doutorando Viviane Arena Figueiredo (UFF) - XII Congresso Internacional
da ABRALIC - UFPR – Curitiba)
02. Em “Ânsia eterna”, Rogério Dias estabelece um diálogo inicial com o amigo para
discutir sobre a criação literária e as responsabilidades atreladas a ela, porém não
consegue lidar com as pressões do público leitor e assassina o rapaz, arrastando
seu corpo pelas ruas.
04. Em “O caso de Ruth”, Eduardo Jordão, ainda inconsolado pela morte de Ruth,
vê-se diante da obrigação de atear fogo ao corpo dela, já que ela seria sepultada
junto do padrasto que lhe abusara sexualmente.
QUESTÃO 02
Sobre os contos “Os porcos” e “A caolha”, está correto o que se afirma em:
08. Em ambos os contos, as amenidades fazem parte da vida tanto dos animais,
que vivem em um ambiente idílico e distraem Umbelina com seus hábitos
repetitivos, quanto da mãe de Antonico que encontra no amor do filho o amparo de
que precisa.
16. Há, nos dois textos, o trabalho feito sobre questões sociais e morais, como o
patriarcalismo (Umbelina devia obediência ao pai) e o preconceito (Antonico sofreu
bullying quando criança por ter uma mãe com aparência terrível).
QUESTÃO 03
Sobre a obra “Ânsia eterna” e sua autora, Júlia Lopes de Almeida, soma-se como
verdadeiro:
QUESTÃO 04
“Não se encontra em Ânsia eterna espaço para epifanias e divagações finais dos
personagens nas conclusões desses contos. Por vezes, é constatada uma crueza
nas finalizações, como se fosse um recurso utilizado pela autora para marcar, de
forma definitiva, a situação trágica.” (Fonte:Doutorando Viviane Arena Figueiredo
(UFF) - XII Congresso Internacional da ABRALIC - UFPR – Curitiba)
02. As primeiras linhas desse conto, já se configuram por uma intriga, uma situação
crítica que, de certa forma, já constituem as bases do elemento trágico, que se
consagra absoluto, ao final do texto.
16. É por meio da ira, que o elemento surpresa, aliado ao viés da crueldade,
começa a fazer parte do enredo, revelando sentimentos de mal-estar que estarão
presentes até o final do texto.
QUESTÃO 06
“Com uma linguagem leve e simples, Júlia Lopes de Almeida cativou seu público:
escreveu e publicou mais de 40 volumes entre romances, contos, narrativas,
literatura infantil, crônicas e artigos. Foi abolicionista e republicana além de mostrar,
em suas obras, ideias feministas e ecológicas.”
(Fonte: http://www.biblio.com.br/conteudo/Julialopesdealmeida/molduraobras.htm)
Considerando o texto apresentado, some o que for correto a respeito aos contos
presentes na obra “Ânsia Eterna”.
08. Em “A alma das flores”, a autora explora a sinestesia do leitor através das visões
do protagonista Adolfo, pois as visões que ele tem são o jeito de ele sentir o aroma
das flores.
16. Dr. Paula Guedes comanda uma família tradicional no conto “O último discurso”.
Ele prepara uma apresentação final, expondo sua opinião sobre os processos
políticos que levaram o país a uma corrida armamentista.
QUESTÃO 07
“Entre aquela variedade infinita de aromas e de tons, aqui e ali, rumas de pentes
de todos os feitios, da mais fina tartaruga ao mais negro búfalo, do melhor marfim
ao mais grosseiro osso. Pendentes e cuidadosamente alisadas, tranças negras,
castanhas, loiras, grisalhas, restos de uma multidão incógnita, destroçada, perdida
na noite escura da miséria, na podridão da vala-comum, nas enfermarias dos
hospitais, ou nas celas das penitenciárias.”
Considerando a análise do trecho do conto “Ondas de ouro”, bem como sua leitura
integral, some o que for verdadeiro.
02. Há, no fundo da narrativa, uma ironia, pelo fato de a atriz achar que o aplauso
exagerado se dera devido à sua performance.
08. O relacionamento entre pai e filha é abalado pela presença do ciúme, uma vez
que a atriz deseja se sobressair em sua interpretação para impressionar a plateia.
QUESTÃO 08
São aspectos em comum presentes nos contos “O último raio de luz” e “InExtremis”:
01. As personagens que são violadas em seus direitos mais básicos de respeito e
de amor, levando-as a comportamentos extremos e desesperados.
02. O amor profundo e não realizado, mantido de forma velada, causador de
frustrações e sofrimento.
08. O final brusco e trágico que permeia os dois contos e exploram atos movidos
pelo impulso passional.
QUESTÃO 09
Sobre Júlia Lopes de Almeida e sua obra “Ânsia Eterna”, está correto somar:
01. Percebe-se, nos contos reunidos, que Júlia Lopes de Almeida é uma escritora
que se utiliza de aspecto realista, naturalista, feminista e abolicionista para a
elaboração dos enredos.
16. A autora explora uma linguagem coloquial com termos eruditos para a
estruturação dos discursos narrativos.
QUESTÃO 10
02. O desfecho dessa narrativa inicia-se por uma sequência sutil que evolui para
uma finalização trágica, podendo causar ao leitor uma relativa satisfação.
GABARITO
QUESTÃO 01
GABARITO: 01 + 04 + 08
QUESTÃO 02
GABARITO: 02 + 04 + 16
QUESTÃO 03
GABARITO: 01 + 04 + 08 + 16
QUESTÃO 04
GABARITO: 01 + 02 + 16
QUESTÃO 05
GABARITO: 01 + 02 + 08 + 16
QUESTÃO 06
GABARITO: 04 + 08
QUESTÃO 07
GABARITO: 02 + 04 + 16
QUESTÃO 08
GABARITO: 02 + 08
QUESTÃO 09
GABARITO: 01 + 04 + 08
QUESTÃO 10
GABARITO: 02 + 04