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POLÍTICAS DE SAÚDE

Autoria: Luciane Eloisa Brandt Benazzi

1ª Edição
Indaial - 2020

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2020


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

S247c

Sarro, Ed Marcos

Comunicação empresarial, cerimonial e eventos. / Ed Marcos


Sarro. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

148 p.; il.

ISBN 978-65-5646-145-8
ISBN Digital 978-65-5646-146-5
1. Comunicação empresarial. – Brasil. 2. Comunicação. – Brasil.
3. Eventos. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 658.45
Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
NO BRASIL ANTES DO SUS............................................................7

CAPÍTULO 2
POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS...................73

CAPÍTULO 3
POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL..........................149
APRESENTAÇÃO
Prezado acadêmico, bem-vindo à disciplina Políticas de Saúde, a qual
pretende proporcionar a você oportunidades de aprendizado que potencializem
o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências, possibilitando
compreender o cenário histórico, social, político, econômico e cultural, no qual as
políticas de saúde brasileiras se conformaram.

O nosso objetivo é fomentar o conhecimento referente às políticas de saúde


no Brasil, sua evolução histórica e o contexto atual com a finalidade de subsidiar
o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem de estudantes do curso de
pós-graduação (lato sensu) em Gestão da Vigilância em Saúde. Assim, a ideia
é que você compreenda e, principalmente, reflita o passado, o presente e as
possibilidades futuras das políticas de saúde no Brasil, considerando os principais
acontecimentos nesses 520 anos.

Este material didático se propõe a oferecer subsídios teóricos à luz da revisão


bibliográfica, que lhe trarão ganhos em termos de uma maior compreensão das
políticas de saúde e de como elas podem afetar a população brasileira. Para tanto,
a aproximação ao objeto, ou seja, a história das políticas de saúde, foi realizada a
partir das referências existentes na área, sem a pretensão de esgotar o assunto.

Esperamos que o aporte teórico que aqui será apresentado possa


proporcionar reflexões sobre a trajetória das políticas de saúde. Para a organização
deste material e facilitação do estudo, dividimos o livro em três capítulos:

Capítulo 1 – Evolução histórica das Políticas Públicas de Saúde no


Brasil antes do SUS.
Capítulo 2 – Políticas de Saúde: um olhar sobre o SUS.
Capítulo 3 – Políticas de Saúde: conjuntura atual.

Para o bom aproveitamento dos conteúdos apresentados, é importante que


você programe algum tempo para realizar as atividades propostas e dedique-se a
pesquisar as indicações de leitura que oferecemos ao longo das seções.

Colocamos a sua disposição alguns vídeos, documentários e filmes que


contribuirão para o seu conhecimento e lembramos que você deve participar das
discussões nos fóruns para trocar ideias e experiências.

Desejamos uma ótima leitura, um excelente aprendizado e esperamos que a


disciplina seja proveitosa e esclarecedora!
C APÍTULO 1
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL
ANTES DO SUS

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Entender a construção histórica e evolutiva das políticas públicas de saúde no


Brasil antes do surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
• Oportunizar e estimular uma reflexão sobre o cenário histórico e cultural no
qual se conformaram as primeiras políticas de saúde.
• Garantir o conhecimento sobre a formação e as transformações das políticas
públicas de saúde e as formas de organização do setor saúde no Brasil.
• Identificar a sequência histórica dos modelos de políticas de saúde no Brasil.
• Analisar as políticas de saúde e suas tendências no contexto histórico, as
repercussões das condições de saúde da população e do sistema de saúde em
diversos recortes territoriais.
• Refletir criticamente o processo histórico da construção das políticas de saúde
no Brasil.
• Compreender as articulações entre políticas de saúde e processos sociais,
econômicos e políticos ao longo da história.
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Todos nós temos um passado, uma história que pode ser contada de diversas
maneiras, sob vários ângulos, mas que, geralmente, é apresentada como uma
sucessão cronológica de fatos e acontecimentos.

Será dessa forma que apresentaremos a você os aspectos históricos que


influenciaram a conformação do sistema de saúde brasileiro, ou seja, um conjunto
de datas que marcou o longo caminho das políticas de saúde até chegarmos à
constituição do Sistema Único de Saúde, o nosso SUS.

Neste capítulo, faremos uma descrição da evolução das políticas de saúde


no Brasil e veremos que as concepções e ações de saúde são construções
históricas e concretas. Salienta-se que essa revisão não pretende ser exaustiva,
sendo apresentados os principais fatos históricos ocorridos, com embasamento
na literatura especializada existente.

Para uma melhor compreensão da estruturação das políticas de saúde,


optou-se por uma divisão didática que distingue os períodos da história em:
período colonial; Brasil Império; República Velha; Era Vargas (República Nova,
Estado Novo); período Desenvolvimentista; Regime Militar e Nova República,
sendo que o período Pós-Constituinte será abordado no próximo capítulo.

Antes de analisarmos a história das políticas de saúde é preponderante a


definição de algumas premissas, como o que significa Estado e governo e quais
as concepções de política (não a partidária) e política pública, que possuem
conceitos abstratos.

Ressalta-se que apresentaremos os aspectos elementares desses temas


e não um detalhamento exaustivo, uma vez que não faz parte do escopo da
disciplina.

Existem diversas definições de Estado e governo, os quais, muitas vezes,


são confundidos; contudo, são distintos. Na VIII Conferência Nacional de Saúde
(CNS), em 1986, Sérgio Arouca, durante a abertura, explicitou essa diferença,
definindo que o Estado é composto por território, povo e governo, que representa
os interesses do povo (AROUCA, 1986). Assim, Estado envolve governo, que, por
sua vez, pode ser identificado como um grupo político que comanda o Estado por
um determinado período.

O termo “política” possui muitos significados e, segundo Secchi (2013), o


qual é reconhecidamente especialista em políticas públicas, para que se possa

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PoLÍTiCAS DE SAÚDE

compreender as políticas públicas é preciso distinguir dois termos: politics e


policy. Partindo disso, política enquanto politics está relacionada às formas de
obter e manter o poder sobre os homens; enquanto que o termo policy remete à
política em um sentido mais concreto de orientação para decisão e ação.

Para conhecer mais sobre a definição de política, assista ao


vídeo produzido pela Escola Virtual de Cidadania (EVC), da Câmara
dos Deputados. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=IPnB8uVXSg8.

Assim, o termo ‘política pública’ (public policy) se encaixa no segundo


termo, ou seja, policy, pois “trata do conteúdo concreto e do conteúdo simbólico
de decisões políticas, e do processo de construção e atuação dessas decisões”
(SECCHI, 2013, p. 1).

Várias definições e interpretações são dadas à expressão “política pública”,


as quais atendem aos mais variados objetivos. Em termos mundiais, a definição
mais conhecida e concisa é a concebida por Thomas Dye, que descreve políticas
públicas como o que o governo escolhe fazer ou não fazer, a qual foi por diversas
vezes revisitada (DYE, 1975 apud BRASIL; CAPELLA, 2016). Embora seja
bastante ampla, é específica ao atribuir ao governo o protagonismo, considerando
que uma política será pública quando associada/emanada ao ator estatal, ainda
que outros atores (públicos e privados) ajam na sua construção.

Cabe salientar que existe uma enorme pluralidade de pensamentos em torno


do tema das políticas públicas na literatura especializada, sendo que a própria
legislação brasileira não apresenta, em seu corpus, um conceito definido de
política pública.

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o conceito


de políticas públicas é: “o conjunto de programas ou ações governamentais
necessárias e suficientes, integradas e articuladas para a provisão de bens ou
serviços à sociedade, dotada de recursos orçamentários ou de recursos oriundos
de renúncia de receitas e benefícios de natureza financeira e creditícia” (IPEA,
2018, p. 13).

Há de se considerar que, de forma geral, as definições de políticas públicas,


embora apresentem abordagens distintas, assumindo uma visão multidisciplinar e

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

holística do tema, acabam guiando o nosso olhar para os governos.

As políticas públicas, também denominadas por algumas literaturas


específicas como políticas sociais ou de proteção social, estão voltadas para
a realização dos direitos sociais, sendo consideradas como uma das ações/
estratégias que o governo/Estado tem para intervir em problemas relacionados
à educação, emprego, habitação, saúde etc., na qual as políticas de saúde estão
inseridas.

Por falar em direitos sociais, é bom lembrar que de nada adianta eles serem
contemplados na Constituição Federal ou em outras legislações, se não houver as
políticas públicas que concretizem esses direitos, ou seja, o reconhecimento dos
direitos implica que o Estado proporcione meios para que eles se materializem,
sendo a política pública uma forma de efetivá-los, tendo como objetivo a
intervenção social, modificando uma situação específica, a fim de promover a
igualdade.

As políticas públicas, de acordo com Secchi (2013), apresentam


diferenciações no que se refere ao agente responsável, podendo apresentar uma
abordagem estatista (somente será pública quando realizada por um ator estatal)
ou multicêntrica (considera outros protagonistas, como organizações privadas, não
governamentais etc., considerando-a pública a partir da qualidade do problema e
não por meio do agente da ação). Ademais, elas são formadas por uma sequência
de sete fases interdependentes, que são: identificação do problema, formação de
agenda, formulação, tomada de decisões, implementação, avaliação e extinção.
Não teceremos maiores comentários acerca das fases, uma vez que foge aos
objetivos da disciplina. Contudo, em nosso último capítulo, abordaremos a fase da
avaliação, isto é, a avaliação das políticas de saúde.

Por fim, podemos inferir que para uma política pública existir é necessário
que o Estado reconheça a necessidade social, incluindo-a entre suas prioridades,
e, portanto, ela é decorrente, em tese, de um equilíbrio entre o que a sociedade
necessita e o entendimento que o Estado estabelece sobre ela.

Assim, ela é gestada pelo Estado, formada por um conjunto de ações,


materializada por meio de um documento que apresenta objetivos e metas claros
a serem atingidos, com base na decisão de um agente político de nível estratégico,
que se consolida por meio legal (portaria, decreto, lei etc.) e é implementada
utilizando recursos públicos (HERINGER, 2018).

Por tudo isso, dada a dimensão e complexidade do tema, podemos dizer


que as políticas públicas são ações, atividades, programas, entre outros, que o
poder público desenvolve de forma direta ou indireta, assegurando os direitos

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PoLÍTiCAS DE SAÚDE

de cidadania a todas as pessoas ou de forma específica para uma determinada


demanda, atendendo de forma plena as necessidades e direitos da população,
sendo papel do gestor público reconhecer e fomentar as políticas públicas
existentes.

Para fecharmos esse tópico, assista à entrevista concedida


por Leonardo Secchi ao programa Conexão Pública sobre Políticas
Públicas, disponível na plataforma YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=OjpLql_qfqo.

O que você entende ou pensa sobre política de saúde?

Primeiramente, precisamos nos debruçar sobre saúde no contexto das


políticas públicas, e, para isso, consideraremos a Constituição Federal (CF) de
1988, a qual afirma em seu Art. 196 que
“a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação” (BRASIL, 1988).

Assim, a partir do excerto anterior, é possível inferir o caráter de política de


Estado (dever do Estado) e o princípio da universalidade (direito de todos), sendo
apropriado alegar que a saúde é uma política social e intersetorial. Lembrando
que antes da CF, o direito à saúde até chegar ao status de direito social, percorreu
uma longa trajetória, haja vista que a saúde era sinônimo de segregação social,
já que a maioria das pessoas não tinha acesso aos serviços públicos de saúde.

Vale frisar que a saúde é determinada, sobretudo, pela economia, política


e sociedade e que não é simplesmente a ausência de doença, sendo que a
Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou que é mais do que isso, ou
seja, deve ser entendida como um bem-estar físico, mental e social. Entretanto,
para que esse bem-estar seja atingido, o indivíduo deve ter direito à moradia,
ao trabalho, ao salário condigno, à educação, ao saneamento, aos serviços de

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

saúde, entre outros, estando as políticas de saúde envolvidas nesse contexto, a


fim de proporcionar as condições necessárias para uma vida digna e decente.

No que diz respeito à política de saúde, ela reflete o momento histórico, a


situação econômica, a capacidade das classes sociais de a influenciarem, os
avanços científicos, entre outros, em que foi criada (ACURCIO, c2020).

Relativo ao conceito de política de saúde, alguns autores buscam elaborar


uma definição abrangente, dentre eles, Paim e Teixeira (2006, p. 74), os quais
consideram-na como sendo “a resposta social (ação ou omissão) de uma
organização (como o Estado) diante das condições de saúde dos indivíduos e das
populações e seus determinantes, bem como em relação à produção, distribuição,
gestão e regulação de bens e serviços que afetam à saúde, inclusive o ambiente”.

O termo política de saúde é multifacetado, tendo em vista que abarca


questões relacionadas ao poder em saúde, bem como diz respeito à constituição
de planos de programas de saúde e diretrizes, sendo formulada com base nas
necessidades dos usuários, muitas vezes segmentada por ciclos vitais, gênero,
etnias, orientação sexual, situação social, entre outras, incluindo, também, as
políticas intersetoriais, as quais são importantes e necessárias para a população
de modo geral.

Para você chegar a uma conclusão sobre a definição de Políticas


Públicas e contextualizar com a saúde, sugerimos que assista ao
vídeo produzido pela Escola Virtual de Cidadania (EVC), da Câmara
dos Deputados, sobre o tema, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=406y7gDN-ZE.

No que concerne à política de saúde enquanto disciplina acadêmica, ela


inclui estudos sobre o papel do Estado, as relações deste com a sociedade, os
movimentos sociais em saúde, as relações existentes entre as demais políticas,
em especial, as econômicas e as sociais, bem como abarca a formulação e a
implementação de políticas específicas no âmbito governamental, em especial
ao enfrentamento dos problemas de grupos populacionais específicos, gestão,
implantação e avaliação de programas, planos e projetos (SANTOS; TEIXEIRA,
2016).

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PoLÍTiCAS DE SAÚDE

No Brasil, temos diversas políticas públicas de saúde, as quais veremos


no decorrer da disciplina e que, muitas vezes, são operacionalizadas pelos
profissionais de saúde. Daí a importância de sabermos o que significa uma política
pública no contexto do Estado e da sociedade, conhecermos a sua relevância e
termos uma visão mais completa sobre ela.

É importante ressaltar que a história da política de saúde no Brasil se funde


com a história da saúde pública e com a construção da vigilância em saúde.

Após essa contextualização, convidamos você a fazer uma bela viagem no


tempo, em que passaremos a conhecer um pouco da trajetória histórica da política
de saúde do Brasil. Esperamos que aproveite bem os conteúdos apresentados e
participe das atividades propostas. Vamos ver como tudo isso começou?

2 AS POLÍTICAS DE SAÚDE NO
BRASIL: DO DESCOBRIMENTO AO
IMPÉRIO (1500-1889)
Nesta seção, abordaremos o transcorrer histórico dos cuidados em saúde no
Brasil, desde a chegada dos portugueses até o Império.

2.1 PErÍoDo CoLoNiAL (1500-1822)


A nossa viagem inicia no ano de 1500, virada do século XIV para o XV,
Idade Moderna, no qual o “futuro” Brasil esbanjava beleza com suas riquezas
naturais e seus índios nativos, dando a ideia, que se espalhou pela Europa, de
um verdadeiro paraíso, originando inúmeras expedições que zarpavam para
cá, trazendo pessoas que sonhavam sair do Velho para o Novo Continente,
vislumbrando uma vida melhor.

Contudo, logo essa idealização das terras brasileiras serem um


verdadeiro paraíso tornou-se uma utopia, pois com os colonizadores vieram as
doenças desconhecidas (sarampo, varíola, varicela/catapora, entre outras), a
desorganização social das tribos indígenas (população nativa do Brasil) e a
morte, pois o contato com o homem europeu dizimou uma parcela expressiva da
população indígena brasileira (entre 1563 e 1564 milhares de nativos morreram
devido à varíola, sendo 30 mil mortes em apenas três meses), que não tinha
imunidade para enfrentar vírus e bactérias oriundos de outros locais (GURGEL,
2010).

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

Diante desse panorama, os índios não estavam adaptados a uma série de


doenças que vieram com os colonizadores, modificando o processo de saúde e
doença da época.

Cabe salientar que os índios tinham suas próprias doenças, como o pian ou
bouba (doença infecciosa na pele causada por bactéria do gênero Treponema),
a leishmaniose cutânea, a doença de Chagas e a malária na forma mais branda,
entre outras, bem como encaravam as doenças como castigo ou provação,
recorrendo ao pajé, que exorcizava os maus espíritos, utilizando plantas da
flora local para o devido tratamento (GURGEL, 2010). Portanto, nessa época, a
atenção à saúde era fundamentada pelos princípios indígenas.

Nesse momento histórico, o Brasil se encontrava submetido econômica e


politicamente a Portugal, com a exploração econômica por meio de ciclos do pau-
brasil, cana de açúcar, mineração e café, atendendo às necessidades do comércio
internacional. Além disso, foi um período marcado pela colonização europeia, que
tentou disciplinar e controlar os nativos, ou seja, os índios.

No período em que o Brasil era colônia de Portugal, a política de saúde era


praticamente inexistente, não havia nenhum modelo de atenção à saúde que
atendesse à população, assim como não existia interesse por parte do governo
colonizador em formulá-lo (POLIGNANO, 2004). O governo restringia-se apenas
a supervisionar a comercialização de alimentos e o saneamento dos portos por
onde saíam os produtos, preocupando-se somente com medidas sanitárias,
visando o comércio exterior.

O Brasil Colônia, por pertencer a Portugal, seguia a mesma legislação


e práticas vigentes de lá. Assim, em 1521, D. Manoel baixou, em Portugal, o
Regimento do Físico-Mor (designação dada ao médico) e do Cirurgião-Mor do
Reino, os quais ficaram responsáveis por zelar pela saúde da população, mas que
não vieram ao Brasil devido aos perigos e aos baixos salários. Em 1550, a saúde
do povo era encarregada pelos almocatéis, que, basicamente, verificavam os
gêneros alimentícios e destruíam os que estavam em más condições (BERTOLLI
FILHO, 2004).

Em 1549, a Santa Casa de Misericórdia estabeleceu o primeiro hospital da


cidade de Salvador (Bahia), conhecido, mais tarde, como São Cristóvão.

A carência era gigantesca na área da saúde, não existiam serviços de


saúde, a atenção à saúde era limitada aos recursos da terra (plantas, ervas) e
aos conhecimentos advindos dos pajés, curandeiros e dos escassos médicos
existentes, assim como a assistência à saúde era efetuada pelas enfermarias e
Santas Casas de Misericórdia, mantidas pelos jesuítas, sendo que a população

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PoLÍTiCAS DE SAÚDE

com maior poder aquisitivo tinha acesso aos profissionais legais da medicina,
que eram trazidos da Europa. Assim, diante das epidemias que assolavam e
dizimavam a população, a única conduta era o isolamento (quarentena), sendo
que na maioria das vezes, as pessoas morriam à mingua.

No período de 1600, o Brasil Colônia não tinha estrutura urbana definida,


o saneamento era escasso e o controle das doenças era incipiente. Em 1660,
a população era de 184 mil habitantes, destes, 110 mil eram escravos e 74 mil
brancos e indígenas (GALVÃO, c2020; POLIGNANO, 2004).

Para se ter uma ideia, segundo Bertolli Filho (2004), em 1746, existiam
somente seis médicos, os quais haviam se graduado na Europa, e que atendiam
São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás e, conforme
Polignano (2004), em 1789, no Rio de Janeiro, existiam quatro médicos exercendo
a profissão.

Diante dessa situação, houve a proliferação dos boticários (espécie de


farmacêuticos) que preparavam medicamentos nas boticas e os comercializavam,
sendo uma forma de assistência à saúde da população (POLIGNANO, 2004).

Em maio de 1774, o regimento geral para delegados e juízes comissários


do físico-mor e cirurgião-mor foi promulgado no Brasil, a fim de intensificar a
fiscalização do exercício das artes de curar na colônia. Assim, o físico-mor e
seus delegados fiscalizavam as boticas, inspecionavam os estabelecimentos e
medicamentos vendidos, inclusive os preços, bem como eram responsáveis em
controlar a prática da medicina por diferentes curadores ou práticos (físicos,
cirurgiões, barbeiros, sangradores e parteiras).

Que tal uma sessão de cinema? Assista ao filme “O físico”, que


apresenta a história do “barbeiro-cirurgião”, o qual está disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=5OEpaQu5iq4.

A vinda da família real para o Brasil, em 1808, tendo o Rio de Janeiro como
sede, mudou um pouco o cenário, trazendo algumas mudanças significativas tanto
na parte administrativa como para a saúde, tornando-se necessária a criação de
uma estrutura sanitária mínima (POLIGNANO, 2004).

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

Inicia-se, então, o processo de formação de instituições voltadas para a saúde,


a fim de efetuar o controle sanitário dos produtos consumidos e comercializados,
combater a proliferação de doenças, resolver questões sanitárias e fiscalizar o
exercício das profissões da área da saúde, sendo incorporado o caráter de ação
denominado de Polícia Médica, originário da Alemanha (século XVIII) intervindo
nas condições de vida e saúde da população com o propósito de controlar o
aparecimento das epidemias (DIOGO, 2010).

A atenção à saúde, nessa época, estava voltada para a profilaxia dos


problemas epidêmicos, baseada no saneamento (urbanização, aterros de
pântanos, dos cemitérios, criação de normas de higiene para enterros etc.),
sendo que a organização dos serviços de saúde continuava a seguir as mesmas
normas de Portugal. Houve também a criação dos lazaretos, que serviam para a
quarentena das pessoas com moléstias epidêmicas e cutâneas e de viajantes,
como forma de profilaxia das doenças contagiosas e transmissíveis, bem como
a construção de ancoradouro especial para embarcações suspeitas, nascendo,
assim, a vigilância em saúde (BRASIL, 2005).

O órgão máximo para as questões de saúde era a Fisicatura-mor, um tipo


de tribunal, com leis, regimentos e poder punitivo aos infratores, que fiscalizava
as boticas e as pessoas que praticavam a cura, pois a principal preocupação da
Corte com a saúde, naquele momento, resumia-se em fiscalizar o exercício da
medicina. Entretanto, foi extinta após a Independência do Brasil, passando as
atribuições para as câmaras municipais e justiça ordinária.

Tendo em vista que Portugal não permitia a criação de faculdade em suas


colônias, não existia no Brasil nenhuma faculdade de medicina até a chegada da
Corte, sendo que em 18 de fevereiro de 1808, em sua passagem por Salvador
(Bahia), Dom João VI criou a primeira Faculdade de Medicina do Brasil,
denominada de Escola de Cirurgia da Bahia. Nesse mesmo ano, também foi
criada a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro (POLIGNANO, 2004).

Outro fato importante foi a criação da Junta da Instituição Vacínica da


Corte, pelo decreto de 4 de abril de 1811, que tinha por atribuição a propagação
da vacina antivariólica no Brasil, uma vez que a varíola era uma das maiores
preocupações sanitárias da época, devido ao alto grau de letalidade.

Como podemos ver, com a mudança da sede do governo português para


o Brasil, a Colônia ganhou importância, sendo exigida a criação de diversas
instituições até então inexistentes, bem como as preocupações com a saúde da
população, especialmente com a saúde da Corte, e a necessidade de saneamento,
impuseram uma nova organização para o governo, o qual buscava o controle das
epidemias (BRASIL, 2005).

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PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Desta forma, podemos resumir esse período da seguinte forma, conforme


demonstrado na Figura 1:

FIGURA 1 – RESUMO POLÍTICO, ECONÔMICO, ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE


E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO NO BRASIL COLÔNIA – 1500 a 1822

FONTE: A autora

2.2 PErÍoDo Do BrASiL ImPÉrio – 1822


A 1889
Como é sabido, em 7 de setembro de 1822 foi proclamada a independência
do Brasil e em 1824 foi criada a primeira Constituição brasileira, que em momento
algum incluiu dispositivo relacionado à saúde. Portanto, o Estado não tinha
nenhuma responsabilidade constitucionalmente sobre a saúde da população.

Em torno de 1829, foi criada a Junta de Higiene Pública, que apesar de


passar por várias reformulações, mostrou-se pouco eficaz, não alcançando o
objetivo principal, que era cuidar da saúde da população, sendo que as instâncias
médicas assumem as medidas de higiene pública (BRASIL, 2011).

Diante das constantes epidemias, em 1837 foi estabelecida a imunização das


crianças contra a varíola, de forma compulsória, que acabou não sendo efetivada
e em 1846 foi organizado o Instituto Vacínico do Império.

Entre 1828 e 1840, várias epidemias assolam o Rio de Janeiro, especialmente,


de febre amarela, febre tifoide, varíola e sarampo. Em 1849, uma grande epidemia
de febre amarela matou mais de 4 mil pessoas no Rio de Janeiro, sendo que

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

esse episódio desencadeou a necessidade de reorganização da higiene pública


no país (PASCHE, c2020).

Até 1849, as responsabilidades dos serviços da Saúde Pública eram


atribuídas aos municípios, por meio de Decreto Imperial; porém, com a situação
das frequentes epidemias, a municipalização foi revogada e, em 1850, em
decorrência da grande epidemia de febre amarela, a Junta de Higiene Pública foi
transformada em Junta Central de Saúde Pública, como objetivo de inspecionar
as vacinações, controlar o exercício da medicina e realizar a polícia sanitária, a
qual pode ser considerada o embrião do que viria a ser o Ministério da Saúde
(BRASIL, 2005; 2011; PASCHE, c2020).

Desta forma, até 1850 as atividades de saúde pública estavam limitadas ao


controle de navios, saúde dos portos e delegação das atribuições sanitárias às
juntas municipais, mesmo que estas não resolvessem os problemas de saúde
(BRASIL, 2011).

O primeiro hospital psiquiátrico (denominado de D. Pedro II), no Brasil, foi


inaugurado em 1852, no Rio de Janeiro, tendo como objetivo tratar de forma
medicamentosa os “doentes mentais” (COSTA, 1985).

Em 1855 ocorreu a epidemia de cólera, que em dois meses levou a óbito


aproximadamente 1.700 pessoas residentes em Porto Alegre, RS (cerca de 10%
da população da capital), conforme dados estimados e recolhidos entre os livros
de óbitos da Santa Casa (WITTER, 2007). Salienta-se que foi uma epidemia que
matou milhares de pessoas por onde passava, sendo que estimativas apontam
por volta de 200 mil mortes em menos de um ano (LEWINSOHN, 2003).

Durante o período do Brasil Império, ações de combate específico a


determinadas doenças transmissíveis foram realizadas, passando-se a identificar
os agentes etiológicos das doenças, devido à era bacteriológica, sendo a teoria
miasmática superada. Ademais, as ações tornaram-se mais restritas ao indivíduo
portador, para o qual ações de controle eram dirigidas, sendo o acesso à saúde
feito de forma privada. As pessoas eram atendidas por meio da filantropia (Santas
Casas de Misericórdia e sociedades beneficentes).

Salienta-se que vários decretos foram criados, com ênfase na reorganização


dos serviços sanitários, sendo que a partir do Decreto nº 9.554, de 3 de fevereiro
de 1886, foi criado o Conselho Superior de Saúde Pública, bem como houve a
separação dos serviços sanitários dos portos e o terrestre (BRASIL, 1886).

Não se pode deixar de mencionar a Abolição da Escravatura, ocorrida em


1888, que intensificou as correntes imigratórias, substituindo a mão de obra

19
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

escrava pela assalariada, ocasionando um crescimento populacional, tornando as


condições sanitárias ainda mais difíceis, uma vez que não havia políticas sociais
e de saúde, gerando uma eclosão de epidemias (BERTOLOZZI; GRECO, 1996).

Ressalta-se que a fase imperial brasileira, apesar das várias tentativas,


finalizou-se sem êxito para o enfrentamento dos problemas de saúde da
coletividade, apresentando precárias condições sanitárias, vários surtos
epidêmicos, ausência de infraestrutura básica e ausência de legislação e
conhecimentos em saúde pública (BRASIL, 2011; PONTE, 2010).

FIGURA 2 – RESUMO POLÍTICO, ECONÔMICO, ORGANIZAÇÃO DA


SAÚDE E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO BRASIL IMPÉRIO – 1822 a 1889

FONTE: A autora

Por fim, podemos dizer, de forma resumida, que, de 1500 a 1889 (do Período
Colonial até o Império), o foco da Corte estava relacionado com o saneamento
dos portos, infraestrutura e urbanização nas localidades de maior interesse
econômico. As intervenções eram pontuais para conter as frequentes epidemias,
sendo abandonadas quando a situação era contida, assim como a assistência
médica limitava-se apenas às classes dominantes, sendo exercida pelos raros
médicos que vinham da Europa, restando aos demais apenas os recursos da
medicina popular e as Santas Casas de Misericórdia.

É importante recordarmos que os problemas de saúde decorrentes da


urbanização e industrialização e, consequentemente, as epidemias, não
aconteceram somente no Brasil, haja vista que os países da Europa (Alemanha e
França, por exemplo) também passaram por esse processo.

Dessa forma, chegamos ao final da primeira seção, na qual iniciamos a nossa


viagem no tempo para nos apropriarmos do contexto da saúde da população na

20
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

época colonial e imperial, bem como saber a forma que as ações de saúde pública
foram organizadas e como era a questão de higiene e saneamento naquela época.

Nesse momento, você está convidado a testar os conhecimentos adquiridos


até aqui. Vamos lá?

1 Com base na leitura e conhecimentos adquiridos, leia as afirmativas


e marque “V” para as verdadeiras e “F” para as falsas.

( ) Durante o Brasil Colônia, os serviços de saúde eram proporcionais


ao número de habitantes, atendendo à população por meio dos
princípios indígenas.
( ) A preocupação com a assistência à saúde, no Brasil, inicia-se
com a chegada da Família Real, em 1808, no Rio de Janeiro,
ocorrendo uma transformação social no país.
( ) Os índios que habitavam o nosso país não estavam adaptados a
uma série de doenças que vieram com os portugueses, trazendo
um processo de saúde e doença diferenciado para a época.
( ) Tanto no Brasil Colônia como no Brasil Império, somente tinha
acesso aos serviços de saúde e aos médicos quem tinha recursos
financeiros parcos.
( ) As Santas Casas eram as instituições que cuidavam da
população que não tinha condições financeiras, uma vez que
trabalhavam com a ideia de caridade e tinham vínculo religioso.
( ) As intervenções em saúde, no período de 1500 a 1889, estavam
voltadas para as epidemias, que dizimavam a população, sendo
que ações perduravam à medida que a situação era contida.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

( ) F – V – V – F – V – F.
( ) V – V – F – F – V – F.
( ) F – V – V – F – V – F.
( ) V – V – F – F – V – V.
( ) V – V – V – V – V – V.

21
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

3 POLÍTICAS DE SAÚDE NA
REPÚBLICA VELHA (1889-1930)
Prosseguiremos com a viagem que tem como destino a República Velha,
com tempo de duração de 41 anos. Prepare-se para mais uma aventura!

A chamada República Velha tem o seu início em 1889, quando ocorre a


Proclamação da República por Deodoro da Fonseca, terminando em 1930 com
Getúlio Vargas e se caracteriza por um arranjo político semelhante aos últimos
tempos do Império, sendo o país governado pelas oligarquias dos estados mais
ricos (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), tendo a cafeicultura como o
principal setor da economia, dando poder aos cafeicultores, que aplicavam parte
do lucro nas cidades, favorecendo a industrialização e a expansão populacional
urbana (BERTOLLI FILHO, 2004).

A Proclamação da República traz um ideal de modernização ao Brasil,


tornando necessária a reavaliação dos serviços sanitários por parte do governo
republicano, embora com cunho mercadológico, uma vez que o modelo de trabalho
assalariado vinha sendo implementado e era premente manter a população longe
das doenças, objetivando uma mão de obra hígida.

Com o aumento da imigração no final do século XIX e início do século


XX, a população no Brasil passou de 14 para 17 milhões, entre 1890 e 1900,
as necessidades de saúde se intensificaram e a simples fiscalização já não era
mais satisfatória (na verdade nunca foi), carecendo de ações mais eficazes e
com embasamento científico (COSTA, 1985). Nesse período (1890 e 1900), as
principais cidades brasileiras continuavam a ser vitimadas pelas doenças (varíola,
febre amarela, cólera, peste bubônica e febre tifoide), que matavam milhares de
pessoas (BRASIL, 2005).

A ausência de um modelo sanitário contribuía para a vulnerabilidade,


propiciando as epidemias, como malária, febre amarela, varíola e peste
bubônica, que traziam consequências tanto para a saúde como para o comércio
e a economia, haja vista que os navios estrangeiros já não queriam mais atracar
nos portos brasileiros, pois nessa época, o Brasil já estava organizado sob uma
política capitalista, firmado com uma economia agroexportadora (POLIGNANO,
2004; COSTA, 1985).

Salienta-se que o controle sanitário, ou seja, a organização de saúde estava


a cargo do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, uma vez que ainda não
existia o Ministério da Saúde, sendo priorizadas, assim como nos períodos

22
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

Colonial e Imperial, as ações de saneamento e combate às endemias, visando à


manutenção do modelo econômico agrário e exportador, ou seja, a preocupação
era com a economia do país que estava em pleno desenvolvimento e não com a
saúde da população.

Nesse contexto, mais adiante, os assuntos sanitários foram assumidos por


profissionais de Medicina, tornando-se guia do Estado, a fim de garantir a melhoria
da saúde individual e da coletividade, visando ao progresso do país (BERTOLLI
FILHO, 2004). Dessa forma, os médicos higienistas, por meio de incentivos do
governo, começaram a ocupar cargos importantes na administração pública
(BRASIL, 2005).

Vale ressaltar que, embora houvesse a tentativa do monopólio médico no que


se refere às atividades de cura e prescrições de higiene e de medicamentos, os
terapeutas populares não oficiais continuavam atuando e a população continuava
a buscar seus serviços (ALVES, 2015; PIMENTA, 2003).

Em 1890, por meio do Decreto nº 169, de 18 de janeiro de 1890, foi instituído


o Conselho de Saúde Pública, destinado, especialmente, a emitir pareceres
sobre assuntos de higiene e salubridade, bem como para reorganizar o serviço
sanitário terrestre.

Fatos importantes ocorreram em 1892, dentre eles a criação do Serviço


Sanitário Paulista, o qual se tornou modelo para outros estados devido a sua
organização de prevenção e combate às doenças e à criação dos laboratórios
bacteriológicos, vacionogênicos e de análises clínicas e farmacêuticas, sendo
ampliado em 1899, transformando-se no Instituto Butantan (BERTOLLI FILHO,
2004).

A preocupação do poder público, no que se refere à saúde, baseava-se


nas questões de saneamento urbano e dos portos e nas endemias e epidemias
provocadas pelas doenças pestilentas (cólera, peste bubônica, febre amarela,
varíola) e nas doenças infecciosas e parasitárias (tuberculose, hanseníase, febre
tifoide) (BRASIL, 2005).

Salienta-se que a Constituição de 1891 (a segunda na história brasileira),


que adotou o sistema federativo, assim como a primeira Constituição (1824),
também não fazia menção à saúde em nenhum dos seus dispositivos (BRASIL,
1824; 1891).

23
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Que tal ler o artigo “O princípio do fim: o “torna-viagem”, a


imigração e a saúde pública no Porto do Rio de Janeiro em tempos
de cólera” e conhecer mais um pouco da história? Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/eh/v24n47/n47a04.pdf.

No final do século XIX, foram criados o Instituto Soroterápico Federal,


com o objetivo de fabricar soros e vacinas contra a peste, assim como a Liga
Brasileira contra a Tuberculose (criada por médicos e intelectuais), com a função
de desenvolver atividades contra a doença, haja vista sua franca expansão
e a ausência do Estado na promoção de ações de prevenção e de tratamento
etiológico (FAP, c2020).

Cabe salientar que a economia brasileira se desenvolveu de forma


significativa no início do século XX, no entanto, houve um aumento das epidemias,
o que atrapalhou esse desenvolvimento, uma vez que os trabalhadores estavam
adoecendo, sendo necessária a criação de estratégias de controle dessas
doenças, como a instauração de iniciativas governamentais por meio de
organizações mais estruturadas (ministérios, departamentos, conselhos) a fim de
promover saúde para a população.

Em 1902, ocorreram mudanças consideráveis na condução das políticas de


saúde pública com a entrada do presidente Rodrigues Alves, tanto por meio de
ações de urbanização e saneamento, no Rio de Janeiro, como ações de saúde
voltadas para as doenças prevalentes da época (varíola, febre amarela e peste
bubônica) (MATTA, 2007).

Nesse sentido, houve a nomeação do sanitarista Oswaldo Cruz, pelo


presidente Rodrigues Alves (que perdera uma filha vitimada pela febre amarela),
como diretor-geral de Saúde Pública, em 1903, inaugurando, assim, a nova era da
higiene nacional. Ademais, as atividades do Instituto Soroterápico de Manguinhos
foram ampliadas, passando a se dedicar também à pesquisa e à qualificação de
recursos humanos (PONTE, 2010; BERTOLLI FILHO, 2004).

Oswaldo Cruz, com a incumbência de erradicar a febre amarela, a peste


bubônica e a varíola, de modo autoritário (visão militar, em que os fins justificam
os meios), mas baseado no cientificismo europeu, propôs ações de desinfecção,
destruição de edificações consideradas nocivas à saúde pública, implementação
de programas de vacinação obrigatória em toda a população, notificação

24
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

permanente dos casos dessas doenças e a atuação da polícia sanitária, sendo


esse modelo denominado de sanitarista campanhista e causando indignação
da população devido ao uso da força nas intervenções (PONTE, 2010; BRASIL,
2005; COSTA, 1985; POLIGNANO, 2004).

Em 1903, um serviço de desinfecção para os navios, mercadorias e bagagens


foi inaugurado, por meio de um aparelho de gás de Clayton, sem a necessidade
de fazer a descarga da embarcação, impedindo uma possível invasão de vetores
(ratos, pulgas e mosquitos) e micróbios, especialmente dos ratos que saíam
quando o navio atracava (REBELO, 2013).

Ainda nesse ano (1903), em São Paulo, foi inaugurado o Instituto Pasteur,
para produzir e comercializar produtos de uso médico-veterinário (BERTOLLI
FILHO, 2004).

Foi nesse período que os programas e serviços de saúde pública, no


âmbito nacional, foram criados e implementados por Oswaldo Cruz (ex-aluno e
pesquisador do Instituto Pasteur), que adotou campanhas sanitárias, tornando-se
um dos pilares das políticas de saúde (LUZ, 1991).

Conforme apontam Costa e Sanglard (2006), um fato acontecido na França,


em 1902, pode ter contribuído para o Decreto nº 5.156/1904, o qual regulamentou
os serviços sanitários, embora haja diferenças em determinados aspectos, ou
seja, Jules Siegfried elaborou uma lei referente à proteção da Saúde Pública, a
qual foi considerada a base das políticas públicas para o controle da salubridade
das moradias, representando o pensamento higienista francês.

De acordo com Matta (2007), Oswaldo Cruz propôs um Código Sanitário,


sendo considerado como um código de tortura, tendo em vista o rigor das
ações propostas, em que a polícia sanitária tinha autonomia para identificar a
pessoa doente e colocá-la em quarentena para o tratamento ou invadir casas e
estabelecimentos para a desinfecção.

Para erradicar a febre amarela, Oswaldo Cruz criou, em 1904, o Serviço de


Profilaxia da Febre Amarela. Foram montadas brigadas denominadas de “mata-
mosquito” para eliminar o vetor da febre amarela, constituídas por um verdadeiro
exército formado por 1.500 guardas sanitários (popularmente chamados de
equipes “mata-mosquito”), munidos de larvicidas e outros instrumentos para a
desinfecção das casas, ralos, telhados, calhas etc. para eliminar depósitos de
larvas do inseto, além da queima de colchões e roupas das pessoas infectadas,
gerando medo e desconfiança. Ademais, os doentes eram isolados em casa ou
enviados para o Hospital de Isolamento São Sebastião e cada caso novo deveria
ser notificado às autoridades sanitárias (POLIGNANO, 2004; ACURCIO, c2020).

25
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Os métodos utilizados por Oswaldo Cruz foram alvo de discussão, crítica e


insatisfação popular, culminando com um movimento popular conhecido como a
Revolta da Vacina, por conta da instituição da vacinação antivaríola obrigatória
em todo o território nacional, pela Lei Federal n° 1.261, de 31 de outubro de 1904
(BERTOLLI FILHO, 2004). Dentre suas cláusulas havia a indicação da vacinação
antes dos seis meses de idade e para todos os militares, revacinação a cada sete
anos e exigência de atestado de imunização (candidatos a cargos ou funções
públicas, para quem quisesse se casar, viajar ou matricular-se em escolas), bem
como a polícia sanitária tinha total poder, devendo a população se submeter à
vacinação sob pena de pagar as despesas de internação caso houvesse recusa.

Nesse contexto, a revolta da vacina ocorreu devido ao povo nunca ter passado
por um processo semelhante, o que assustou, bem como por desconhecer a
composição e a qualidade do material utilizado para a imunização e por acharem
indecoroso as moças terem que mostrar o braço para um desconhecido aplicar
a vacina, apesar das ações serem divulgadas na imprensa por meio de folhetos
educativos explicando as medidas adotadas (BERTOLLI FILHO, 2004). Contudo,
de nada resolveu, uma vez que a maioria da população era analfabeta (FIOCRUZ,
2017).

FIGURA 3 – CHARGE SOBRE A REVOLTA DA VACINA

outros objetos

Publicado em

FONTE: <https://www.emaze.com/@AOLFTOCFC>. Acesso em: 21 set. 2020.

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

FIGURA 4 – NOTÍCIA PUBLICADA NOS JORNAIS SOBRE A REVOLTA DA VACINA

FONTE: <https://radios.ebc.com.br/na-trilha-da-historia/edicao/2016-11/historiadora-
destaca-papel-de-oswaldo-cruz-no-avanco>. Acesso em: 21 set. 2020.

FIGURA 5 – NOTÍCIA PUBLICADA NOS JORNAIS SOBRE A REVOLTA DA VACINA

FONTE: <https://braziljournal.com/na-previdencia-um-nova-
revolta-da-vacina>. Acesso em: 21 set. 2020.

As Figuras 4 e 5 representam as notícias publicadas nos jornais retratando


a Revolta da Vacina. A charge (Figura 3), de autoria de Leonidas, ilustra a revolta
da população contra a vacinação obrigatória, personificando Oswaldo Cruz (de
bigodes ao centro), montado em uma seringa, tendo mais atrás um estandarte em
que se lê: Vacina obrigatória.

Estudantes, a população em geral e cadetes da Escola Militar, em torno de


duas mil pessoas, foram às ruas protestar, houve depredação, violência, bondes

27
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

queimados e muito tumulto (Figura 4), gerando um saldo de 945 prisões, 110
feridos, 30 mortos e 461 deportados em menos de duas semanas de conflitos
(FIOCRUZ, 2005).

É importante frisar que, embora as ações promovidas por Oswaldo Cruz,


o qual foi um dos principais protagonistas do desenvolvimento das políticas
públicas de saúde no país, eram postas em prática de forma impositiva, elas
eram importantes para a saúde da população. Portanto, a crítica fica por conta
da maneira como elas aconteciam e por não serem explicadas à população do
porquê eram necessárias.

Outra questão a ser ressaltada é que a Revolta da Vacina foi fundamental


para o desenvolvimento da participação comunitária nas elaborações das ações
de saúde futuras, as quais serão discutidas ao longo da nossa disciplina. Ademais,
na literatura oficial, a revolta ficou estigmatizada como uma manifestação da
população à vacina em si, sendo enfatizada a violência, sendo omitida as
condições precárias em que a população vivia e o seu descontentamento, fatos
que contribuíram para que ela ocorresse.

O documentário da Fiocruz “A Revolta da Vacina” conta a história


da varíola, da vacina e da revolta popular de 1904. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=7&v=amw
FWGMJhUw&feature=emb_logo.

Para combater a peste bubônica, Oswaldo Cruz, além da vacinação dos


moradores das áreas infectadas, isolamento e tratamento dos doentes, adotou
um modelo polêmico, a desratização, sendo que os funcionários encarregados
deveriam recolher, pelo menos, 150 ratos por mês, sob pena de serem demitidos,
e aos que ultrapassassem, seriam recompensados com 300 réis por cada rato
abatido. Também foi instituída a compra de ratos, sendo que a Diretoria-Geral de
Saúde Pública (DGSP) pagava para cada pessoa a quantia de 200 réis para cada
animal morto (FIOCRUZ, 2017).

Essa medida de compra de ratos fez com que surgisse uma nova modalidade
de ofício, “os ratoeiros”, que se puseram a criar ratos e até mesmo iam a outras
cidades para capturá-los, a fim de ganhar dinheiro com a venda destes. Houve
inclusive novos empreendedores, como um certo Sr. Amaral, que contratou

28
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

“ratoeiros” a seu serviço, sendo, posteriormente, preso (PROJETO MEMÓRIA,


2003).

Observe que o fato de ganhar dinheiro com a venda de ratos


propiciou à população uma fonte de renda e, obviamente, muitas
pessoas viram como uma excelente oportunidade, assim como o
Sr. Amaral, em se beneficiar desta situação. Como podemos ver, o
“jeitinho brasileiro” é de longa data, incutido na cultura do país como
uma solução criativa ou uma forma “especial” de se resolver um
problema, geralmente por meio de esperteza, como neste caso.

Assim, a prática de compra e venda de ratos, por favorecer oportunistas,


objetivando lucro fácil, foi logo suspensa, sendo os ratos exterminados por
envenenamento ou com gases tóxicos aplicados nas galerias subterrâneas de
água e esgoto. Cabe informar que esse fato também virou motivo de piada e
deboche e serviu para o surgimento de diversas caricaturas de Oswaldo Cruz,
charges, crônicas e canções/marchinhas populares (FIOCRUZ, 2017).

FIGURA 6 – CHARGE SOBRE A COMPRA E VENDA DE RATOS

FONTE: <https://www.reddit.com/r/brasil/comments/7u3njg/charge_de_1911_
do_m%C3%A9dico_e_sanitarista_oswaldo/>. Acesso em: 21 set. 2020.

29
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

FIGURA 7 – CARICATURA SOBRE A COMPRA E VENDA DE RATOS

FONTE: <https://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/
enem/2019/04/25/noticia-especial-enem,1048944/precisamos-de-
uma-nova-revolta-da-vacina.shtml>. Acesso em: 21 set. 2020.

Antes de continuar a leitura do nosso material, convidamos


você a assistir ao vídeo produzido pela TV Senado, o qual retrata a
situação da época, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=6i6v9f_aWjg.

Por incrível que pareça, em 2001, a imprensa noticiou um


programa da prefeitura de Nova Iguaçu, RJ, sobre a compra de ratos,
pagando R$ 5,00 por quilo de rato a fim de eliminar a leptospirose,
conforme pode ser visualizado no link a seguir:
https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u40218.
shtml.

Sugerimos a leitura do artigo Não é meu intuito estabelecer


polêmica: a chegada da peste ao Brasil, análise de uma controvérsia,
1899. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59702013000501271&lng=pt&nrm=isso.

Conforme Polignano (2004), foi um período marcado por grandes


acontecimentos, em que Oswaldo Cruz buscou organizar a diretoria-geral de
saúde pública, incorporando ações de saúde, criando o registro demográfico

30
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

a fim de conhecer os fatos vitais da população, a inspetoria de isolamento e


desinfecção, um laboratório bacteriológico para assessorar no diagnóstico, um
serviço de engenharia sanitária e de profilaxia da febre amarela e o instituto
soroterápico, transformado, posteriormente, no Instituto Oswaldo Cruz.

Observe que o registro demográfico proposto por Oswaldo Cruz significa


elaborar ações e estratégias de saúde baseadas nas reais necessidades da
população, à medida que é realizado um diagnóstico situacional, o que pode ser
transportado para a realidade atual, por intermédio do SUS.

Desta forma, o modelo campanhista de Oswaldo Cruz, apesar das


arbitrariedades e dos exageros cometidos, obteve êxitos significativos no controle
das doenças epidêmicas, erradicando a febre amarela, em 1907, rendendo a
ele uma medalha de ouro, recebida no 14º Congresso Internacional de Higiene
e Demografia, além de participar de uma Exposição de Higiene, realizada na
Alemanha, naquele mesmo ano (PROJETO MEMÓRIA, 2003; FIOCRUZ, 2017),
o que fortaleceu o modelo, tornando-o hegemônico como proposta de intervenção
na área da saúde pública/coletiva durante décadas.

Vale lembrar que as ações em saúde, voltadas para a lógica do


neocolonialismo, visando mão de obra estrangeira, comercialização e exportação
do café, ou seja, com foco no desenvolvimento econômico do país e não no bem-
estar e saúde da população, estavam direcionadas para as capitais, estando a
população interiorana desassistida, ficando à margem dessas ações (ESCOREL;
TEIXEIRA, 2008).

Em 1909, Carlos Chagas descobre a doença provocada pelo Trypanosoma


cruzi (doença de Chagas), identificando o primeiro caso em Minas Gerais
(município de Lassance), numa menina de dois anos, chamada Berenice.

Nesse mesmo ano, Oswaldo Cruz deixa a Diretoria-Geral de Saúde Pública,


dedicando-se ao Instituto de Manguinhos (Instituto Oswaldo Cruz), onde criou
o primeiro curso de pós-graduação na área biomédica (Curso de Aplicação de
Manguinhos) e a revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, bem como lançou
expedições científicas, possibilitando um maior conhecimento da realidade
sanitária do interior do país, recomendando algumas medidas a serem implantadas
aos operários da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, como exames médicos
periódicos aos empregados, fornecimento durante a viagem e diariamente de
quinino (com desconto no salário caso não ingerisse e gratificação para quem não
contraísse malária), aconselhou que galpões telados fossem construídos para
alojar os operários, sendo disponibilizados água fervida, locais específicos para
defecação e uso de calçados (PROJETO MEMÓRIA, 2003).

31
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Para conhecer mais sobre a vida de Oswaldo Cruz, assista


ao filme “Sonhos tropicais”, o qual permite diversas abordagens
didáticas, envolvendo o contexto histórico, social, biológico/saúde,
ambiental, cultural, político, entre outros. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=fieH3FqzrZ0.

É no final da década de 1910, conforme Lima, Fonseca e Hochman (2005),


que se pode apontar como o início efetivo das políticas de saúde no Brasil, tendo
em vista o encontro de um movimento sanitarista organizado em torno de uma
proposta de saneamento e de políticas de saúde devido aos efeitos negativos,
assim como a substituição da fase de coerção pela persuasão.

As publicações de Belisário Penna (médico sanitarista) no jornal Correio da


Manhã (1917) e o livro Saneamento do Brasil (1918), alcançaram repercussão
nacional, demonstrando a necessidade de uma reforma da saúde pública e
saneamento dos sertões, contribuindo para a criação da Liga Pró-Saneamento do
Brasil, em 1918 (FINKELMAN, 2002).

De 1910 a 1920, vários acontecimentos importantes podem ser enaltecidos,


como: Fundação Rockefeller (fundação norte-americana), que desempenha
papel importante para a implementação de ações para a saúde pública no
Brasil, junto ao movimento sanitarista (1916); morte de Oswaldo Cruz (1917);
Carlos Chagas assume a direção do Instituto Oswaldo Cruz (1917); criação do
Serviço de Profilaxia Rural (1918); pandemia de gripe espanhola (1918), a
qual corroborou para a constatação da precariedade dos serviços de saúde e a
necessidade de reformá�los; reforma de Carlos Chagas, com a reorganização
dos Serviços de Saúde Pública; a criação do Departamento Nacional de Saúde
Pública (DNSP); a criação de um extenso Código Sanitário; a contemplação dos
cuidados com a maternidade e a infância; assistência hospitalar e combate à
tuberculose, à sífilis e à hanseníase (1920), entre outras ações.

Ressalta-se que Carlos Chagas inovou o modelo campanhista, que era


fiscal e policial, ao introduzir a propaganda e a educação sanitária, criar órgãos
especializados contra a lepra, tuberculose e doenças venéreas (como eram
chamadas na época as Infecções Sexualmente Transmissíveis), contemplar a
higiene industrial e expandir as atividades de saneamento para outros estados
(POLIGNANO, 2004).

32
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

Contudo, ainda existiam ações impositivas, como no caso da lepra, em que


as pessoas eram obrigadas a realizar exame diagnóstico em casos suspeitos,
o isolamento compulsório dos doentes e a proibição de pessoas com a doença
viajarem sem autorização sanitária (FINKELMAN, 2002).

Nesse enfoque, salienta-se que Carlos Chagas foi um importante sujeito


histórico nas condições de saúde populacional, promovendo articulações políticas
e práticas importantes para o desenvolvimento da saúde pública brasileira.

Tendo em vista o contexto atual, devido às semelhanças com a COVID-19,


merece destaque a gripe espanhola. No Brasil, a epidemia chegou em setembro
de 1918 e, na época, o governo não deu a devida atenção, pois acreditava-se
que o oceano impediria a chegada até aqui (qualquer semelhança não é mera
coincidência). Diante do desconhecimento de medidas terapêuticas para evitar o
contágio ou de cura, as autoridades simplesmente aconselhavam que se evitassem
aglomerações e a imprensa divulgava inúmeras receitas, sem evidências
científicas, para combater o mal. As ruas ficaram vazias, foram construídos cinco
hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento no Rio de Janeiro. Estima-
se que, entre outubro e dezembro de 1918, 65% da população adoeceu e que
em todo o mundo morreram de 20 a 40 milhões de pessoas durante a pandemia
(1918-1919). No Rio de Janeiro foram registradas 14.348 mortes (população de
910.710 habitantes) e em São Paulo 2.000 pessoas morreram (GOULART, 2005;
ROCHA, c2020).

Cabe pontuar que, inicialmente, para a população e, em especial, aos grupos


oposicionistas do governante, à época, Wenceslau Braz, o combate à gripe
espanhola era pretexto para intervir na vida da população, imperando a ideia
de que se fazia muito alarde por causa de uma simples doença (gripe). Após a
constatação de que se tratava realmente de uma doença avassaladora, a situação
instituída pela epidemia foi encarada com descaso, negligência e incompetência
governamental por não ter nenhuma estratégia para lidar com as ameaças que
amedrontavam o país, fatores amplamente explorados pelos jornais, inclusive
com charges, as quais apresentavam críticas à Diretoria-Geral de Saúde Pública
(GOULART, 2005).

33
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Quer saber mais sobre as semelhanças entre a gripe espanhola


e COVID-19? Acesse: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/
coronavirus-e-a-gripe-de-1918-19-paralelos-historicos/ e https://
www.ufrgs.br/coronavirus/base/uma-comparacao-entre-a-pandemia-
de-gripe-espanhola-e-a-pandemia-de-coronavirus/.

Você também pode assistir ao filme “Gripe Espanhola: os


mortos esquecidos”, o qual retrata os primeiros esforços médicos
para proteger a população de Manchester da Pandemia de Gripe
Espanhola em 1918. Ou ao documentário apresentado pela
BandNews, em 16 de abril de 2020, disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=fFZ6j2rUpwc.

É oportuno destacar que Monteiro Lobato teve papel importante na saúde


pública do país, participando de campanhas sanitaristas, principalmente por meio
do seu personagem Jeca Tatu (Velha Praga e Urupês – publicados em 1914),
um caipira genuinamente brasileiro, vítima da pobreza, das péssimas condições
de higiene, saneamento e saúde a que estava exposto. Em 1918, criou o Jeca
Tatuzinho, o qual foi associado à indústria farmacêutica, tornando-se garoto-
propaganda do Biotônico Fontoura (antianêmico). Também foi criado o Almanaque
do Jeca Tatu, que explicava a transmissão do ancilostomídeo e a importância de
andar calçado, numa linguagem acessível e simples para a população, assim
como o Jeca Tatu ilustrou diversas cartilhas educativas elaboradas pelo poder
público (SOARES, 2014). Lobato também criou o Zé Brasil, um personagem que
representava o trabalhador rural explorado, mas não passivo, formando uma tríade
de imagens simbólicas (Jeca Tatu, Jeca Tatuzinho e Zé Brasil), relacionando-os à
saúde pública e à educação (SANTOS, 2012).

Antes de prosseguir, recomendamos a leitura do artigo Jeca


Tatu, um ilustre opilado: o movimento sanitarista e o combate à
ancilostomíase na obra de Monteiro Lobato (Brasil, décadas de
1910-1920), o qual está disponível em: http://seer.upf.br/index.php/
rhdt/article/view/8599/114114260.

34
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

Durante a República Velha temos o primeiro movimento de reforma sanitária,


liderado por jovens médicos higienistas, que obteve conquistas importantes, como
a criação do DNSP, por exemplo. Foram estabelecidas bases para a criação de
um Sistema Nacional de Saúde caracterizado por ações verticais e concentradas
no governo (BRASIL, 2011).

Face ao exposto, o movimento sanitarista pode ser dividido em dois


períodos: 1903 a 1909, o qual foi marcado pela gestão de Oswaldo Cruz,
privilegiando o saneamento urbano da cidade do Rio de Janeiro e o combate às
epidemias (febre amarela, peste bubônica e varíola) e 1910 a 1920, com destaque
para a Liga Pró-Saneamento, com ênfase no saneamento rural, a atuação
da Fundação Rockefeller, criando um serviço de combate às verminoses e na
qualificação de recursos humanos. Assim, pela primeira vez, nos anos 1920, a
saúde surgia como questão social no Brasil, ganhando novos contornos (LIMA;
PINTO, 2003).

Em meados do século XX, ocorre o processo de industrialização de forma


mais ativa no país, e, consequentemente, há uma evolução histórica no que se
refere à saúde e ao saneamento, uma vez que a criação de indústrias nos centros
urbanos traz necessidades específicas, como mão de obra especializada, gerando
uma migração da população rural para a cidade, ocasionando uma urbanização
crescente e expansão das periferias e favelas no Brasil.

Associado a isso, ocorre uma importação de trabalhadores da Europa,


uma vez que a população brasileira não dava conta da demanda industrial.
Convém elucidar que esses sujeitos tinham conhecimentos das leis trabalhistas,
que aqui no Brasil ainda não eram difundidas, e que ao chegarem no Brasil se
deparavam com uma realidade totalmente diferente, iniciando, assim, a promoção
de reivindicações para que seus direitos fossem garantidos, criando os primeiros
movimentos trabalhistas nacionais, bem como desencadeou na criação de uma
legislação para a realidade trabalhista do Brasil.

Assim, em 1923, com a Consolidação da Lei Eloy Chaves, que cria e


regulamenta as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), temos o ponto de
partida para a criação da Previdência Social, considerada o marco da medicina
previdenciária e a era da institucionalização da atenção à saúde privada no Brasil
(modelo médico-assistencial privatista) (BRASIL, 2013).

Portanto, as CAPs são as primeiras iniciativas governamentais que garantem


à população trabalhadora contribuinte (com carteira assinada) acesso aos
serviços de saúde e de previdência social (aposentadoria).

As CAPs tiveram origem com os ferroviários (devido à importância do setor

35
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

para a economia), estendendo-se aos portuários (estivadores e marítimos),


mineradores, servidores públicos e telégrafos, sendo organizadas por empresas e
não por categorias e mantidas de forma bipartite (empregadores – 1% da receita
bruta – e empregados – 3% do salário), restritas às grandes empresas públicas
e privadas (BRASIL, 2005; 2011; POLIGNANO, 2004; ACURCIO, c2020). Elas
possuíam características parecidas com o modelo implementado na Alemanha
(modelo bismarckiano), ou seja, o trabalhador somente teria direito se pagasse
por ele, sendo descontado do seu salário.

Além das pensões e aposentadorias (seguridade social), as CAPs ofertavam


serviços médicos, funerários e de “socorro médico” (conforme denominado no
Decreto), bem como descontos em medicamentos, pensão para herdeiros em
caso de morte, assistência aos acidentados no trabalho, conforme os Arts. 9 e 27
do Decreto nº 4.682/1923 (BRASIL, 1923).

De acordo com alguns estudiosos, com a criação das CAPs temos o início
da responsabilização do Estado para regulamentar políticas sociais direcionadas
para o bem-estar do trabalhador de carteira assinada, que contribuía para
isso, promovendo a saúde deste. Contudo, enfatiza-se que a implantação das
políticas sociais no Brasil se iniciou pela saúde, ainda que atrelada às questões
da Previdência Social e com caráter excludente, contemplando somente os
trabalhadores formais.

Você pode estar se perguntando: por que os primeiros processos de


construção de políticas sociais no Brasil aconteceram no âmbito do trabalho?
A resposta é simples: o foco prioritário do governo era a questão econômica e,
portanto, os trabalhadores formais contribuíam para que ela se efetivasse, o que
justifica serem estes os protagonistas das políticas sociais.

O Decreto nº 16.300/1923 colocou em vigor o primeiro código sanitário


nacional, incorporando a expressão Vigilância Sanitária de forma indistinta, isto é,
empregada para controle sanitário de estabelecimentos, locais e pessoas doentes
(BRASIL, 2005).

Assim, é na década de 1920 que a saúde pública começa a ser prioridade,


fazendo parte da agenda política do governo, com marcada distinção entre a
proteção médico-assistencialista e as ações voltadas para a saúde pública, tendo
como base dos serviços de saúde os estabelecimentos filantrópicos, por meio
das Santas Casas, e privados, voltados para a atenção individual e daqueles que
podiam pagar (GERSCHMAN; SANTOS, 2006).

Finkelman (2002), em seus estudos sobre as políticas públicas de saúde,


identificou, nesse período, duas fases das ações sanitaristas, ou seja, uma

36
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

fase direcionada a combater as epidemias urbanas e a outra relacionada ao


saneamento rural.

Nesse período, as questões epidemiológicas e sanitárias perpassam por


todo o país, sendo que as doenças transmissíveis eram as mais comuns. Vale
lembrar que a transição do tipo de doença também acompanha os acontecimentos
ocorridos no momento, o que justifica as ações voltadas para as áreas portuárias,
vacinação e endemias.

Em síntese, esse período foi marcado pela assistência à saúde de baixa


qualidade e resolutividade, com ações que tinham como objetivo controlar as
doenças epidêmicas, emergindo nessa conjuntura o sanitarismo campanhista,
liderado por Oswaldo Cruz, com foco no curativo privatista e a criação das Caixas
de Aposentadorias e Pensões, dando início à assistência médica previdenciária,
restrita aos trabalhadores de determinadas empresas.

Para complementar o que foi apresentado até aqui, propomos


que assista ao documentário “Políticas de Saúde no Brasil: um
século de luta pelo direito à saúde”, parte 1, disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=TbXvEKP1wic.

FIGURA 8 – RESUMO POLÍTICO, ECONÔMICO, ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE


E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO REPÚBLICA VELHA – 1889 a 1930

FONTE: A autora

37
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Sugerimos que leia o artigo Origem das políticas de saúde


pública no Brasil: do Brasil Colônia a 1930. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/origem_politicas_
saude_publica_brasil.pdf.

1 Tomando como base o conteúdo apresentado, propomos que você


elabore um mapa mental, que pode ser de forma manual ou no
computador, de acordo com suas habilidades. Lembre-se de que
seu mapa deve conter os principais fatos ocorridos durante a
República Velha. Nunca fez um mapa mental? Não se preocupe,
segue um link para você aprender:
https://www.sbcoaching.com.br/blog/mapa-mental/. Então, mãos
à obra!
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4 POLÍTICAS DE SAÚDE: DA ERA


VARGAS ATÉ A NOVA REPÚBLICA
(1930-1988)
Nesta seção analisaremos os nexos entre as políticas de saúde e sociedade,
refletindo sobre os principais acontecimentos, “mergulhando” no contexto político,
econômico e social das respectivas épocas.

38
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

4.1 ErA VArGAS – 1930 A 1945


Getúlio Vargas foi presidente do Brasil em dois períodos (totalizando 15 anos)
e ficou conhecido como o “Pai dos Pobres”, por ter criado diversas leis sociais e
trabalhistas, além do volume de políticas sociais que implementou.

A Era Vargas acontece de 1930 a 1945, período em que ocorre a expansão


do processo de industrialização no Brasil, promulgação de uma nova Constituição
(1937), reivindicações dos trabalhadores, regulamentação da justiça do trabalho
(1939), homologação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) (1943), entre
outros acontecimentos. Contudo, essa concepção teórica pode ser considerada
até 1964.

Ao assumir a presidência do Brasil, Getúlio Vargas institui uma política de


privação de liberdade, não participativa da comunidade, cancelando a votação
presidencial, realizando uma reforma administrativa. Ao mesmo tempo, cria
medidas importantes que garantirão a assistência social e de saúde à população,
as quais veremos no decorrer do nosso texto.

Assim, a hegemonia política da classe dominante, relacionada,


especialmente, ao café, teve seu fim com a Revolução de 1930, tendo em vista
que Getúlio Vargas promoveu uma reforma administrativa e política, inclusive
suspendendo a Constituição de 1891, governando por meio de decretos até 1934,
quando foi aprovada a nova Constituição, reforçando o centralismo e a autoridade
presencial (BERTOLLI FILHO, 2004; BRASIL, 2011; ACURCIO, c2020).

Até a Revolução de 1930, as políticas sociais eram emergenciais e


fragmentadas e as questões de saúde pública, por parte do Estado, eram voltadas
para as situações emergenciais das epidemias que ocorriam nos centros urbanos,
sem contar com um programa de ação (FINKELMAN, 2002).

A literatura reconhece o primeiro governo de Getúlio Vargas como um


marco histórico na configuração das políticas sociais brasileiras, uma vez que as
mudanças institucionais promovidas durante o seu mandato estabeleceram um
arcabouço jurídico, moldando a política pública do Brasil, conformando o sistema
de proteção social por muito tempo (BRASIL, 2011).

Desmembraremos a Era Vargas em dois períodos: República Nova (de 1930


a 1937) e Estado Novo (de 1937 a 1945), para melhor compreensão.

Período da República Nova – 1930 a 1937

39
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Um dos fatos marcantes para a área da saúde foi o Decreto nº 19.402, de


14 de novembro de 1930, que criou a Secretaria de Estado com a denominação
de Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública (BRASIL, 1930),
incorporando o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) com a
denominação de Departamento Nacional de Saúde e Assistência Médico-Social
(LIMA; PINTO, 2003).

Todos os assuntos relacionados à saúde da população estariam sob a


responsabilidade do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP), exceto os
da área da medicina previdenciária, os quais estavam a cargo do Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio. Assim, era de sua incumbência prestar serviços
para os desempregados, pobres e aos que exerciam atividades não formais,
identificados como pré-cidadãos, isto é, aos que não usufruíam dos serviços
previdenciários e das CAPs (BRASIL, 2011).

De acordo com Lima, Fonseca e Hochman (2005), essa dualidade acabou


por se tornar uma marca do sistema de proteção social de saúde brasileira,
fazendo uma distinção e separação da área da saúde, marcando as ações de
políticas públicas de saúde.

Com a criação do MESP, houve a remodelação dos serviços sanitários


e o anúncio de que o Estado assumiria o compromisso em zelar pelo bem-
estar sanitário do povo brasileiro, sendo que os estados que contavam com
pouca assistência ficaram satisfeitos, enquanto que os demais, que já estavam
organizados de forma descentralizada, acharam essa intervenção desnecessária
e centralizadora (BERTOLLI FILHO, 2004).

Ressalta-se que o primeiro governo de Getúlio Vargas foi marcante na


trajetória dos direitos sociais, com políticas de proteção ao trabalhador que
beneficiavam a classe trabalhadora, como definição da jornada de trabalho (8
horas diárias); licença-gestante; direito a férias remuneradas e regulares; lei do
salário mínimo; obrigatoriedade da carteira de trabalho, entre outros.

No que se refere à implementação de serviços e programas de atenção


médica, desde o início da Era Vargas, foi impregnada de práticas clientelistas,
ancoradas nos sindicatos de trabalhadores que auxiliavam na criação das normas
adequadas às estratégias das elites sindicais e governamentais (LUZ, 1991).

Nesse contexto, por volta de 1933, as CAPs foram substituídas pelos


Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), passando a ser por categorias
profissionais, dando oportunidade para os empregados de pequenas empresas se
filiarem, ampliando a cobertura. Os IAPs eram centralizados no governo federal,
a gestão passou a ser tripartite (empregadores, trabalhadores formais e Estado),

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

sendo que o Estado usava o dinheiro dos tributos cobrados dos trabalhadores
formais e informais, ou seja, na verdade, o Estado não contribuía, e sim era o
trabalhador formal que contribuía duas vezes e o trabalhador informal pagava de
forma indireta, mas não usufruía.

O primeiro IAP a ser criado foi o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos


Marítimos (IAPM), sendo que ao longo da década outros institutos foram surgindo
(comerciários – 1934; bancários – 1935; industriários – 1938; empregados em
transportes e cargas – 1938; ferroviários e empregados em serviços públicos
– 1953), durando até 1966, sendo que cada Instituto dispunha de uma rede
ambulatorial e hospitalar para a assistência dos trabalhadores (POLIGNANO,
2004; FINKELMAN, 2002; MOROSINI; CORBO, 2007).

De acordo com Finkelman (2002), os IAPs, por variarem de órgão para órgão,
possuíam legislações distintas, as quais apresentavam restrições, colocando os
serviços de saúde em segundo plano, sendo que essas disparidades normativas
contribuíram para o surgimento de um sistema menos desigual e unificado, o
que não era bem-visto por alguns, uma vez que haveria o risco de centralizar e
concentrar o poder no Estado.

Contudo, os IAPs enaltecem a desigualdade social, haja vista que os


benefícios proporcionados por eles eram específicos para quem tinha um trabalho
e quem não tinha ficava à margem, ou seja, sem acesso à saúde, gerando um
distanciamento entre o trabalhador formal e o informal ou o não trabalhador.

A Constituição de 1934 trouxe inovações, dentre elas: garantia da


assistência médica; legislação trabalhista; voto secreto; voto feminino e autonomia
dos sindicatos. Naquele ano, foram criadas oito delegacias federais de saúde
para colaborar com os serviços locais, assim como as Conferências Nacionais de
Saúde e Educação e a implementação de programas de assistência médica aos
trabalhadores visando o processo de industrialização (BERTOLLI FILHO, 2004;
ESCOREL; TEIXEIRA, 2008; BRASIL, 2009).

Período do Estado Novo – 1937 a 1945

A quarta Constituição foi outorgada no dia 10 de novembro de 1937, sendo


que nesse mesmo dia a ditadura do Novo Estado foi implantada, por meio de um
golpe de Estado.

Em 13 de janeiro de 1937, por meio da Lei nº 378, o Ministério da Educação


e Saúde Pública passou a denominar-se Ministério da Educação e Saúde
(BRASIL, 1937). Também, nesse ano, foi criado o Conselho Nacional de Saúde
(CNS), com caráter normativo e consultivo, caracterizado como um colegiado, o
qual era formado por especialistas em saúde pública.
41
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

O Departamento Nacional de Saúde (DNS), a partir do golpe, foi reestruturado,


englobando diversos serviços, centralizando as atividades sanitárias e ampliando
a rede pública de postos e centros de saúde, além de instalar hospitais gerais,
leprosários, sanatórios etc. Dessa forma, a política de saúde do Estado Novo foi
centralizadora, sendo que nesse período o sanitarismo campanhista, da época de
Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, intensificou-se (LIMA; PINTO, 2003).

Ainda de acordo com os autores supracitados, o primeiro serviço de saúde


pública na esfera nacional foi o Serviço Nacional de Febre Amarela (1937),
desenvolvido pelo DNS juntamente à Fundação Rockefeller, que também foi
responsável por outros serviços nacionais de saúde, como o Serviço de Malária
do Nordeste (1939).

A direção do DNS ficou sob a responsabilidade de João de Barros Barreto,


entre 1938 e 1945, sendo a autoridade que mais tempo ficou à frente da política
nacional de saúde, consolidando a estrutura verticalizada dos serviços de combate
às doenças, assim como priorizou os registros estatísticos das campanhas de
saúde pública, contribuindo para que um sistema de informação das doenças
transmissíveis fosse implantado (FINKELMAN, 2002).

Como estava a realidade da saúde pública no que se refere à assistência


à saúde até esse momento? De modo geral, de acordo com a literatura
especializada, havia uma centralização da assistência à saúde em alguns
setores específicos (IAPs e privados), o foco estava no tratamento das doenças
específicas, com a preocupação em cobrir uma demanda pontual (a população
doente), uma vez que não existiam ações preventivas e de promoção à saúde,
sendo priorizadas as patologias já instaladas, tendo saúde como sinônimo de
ausência de doença. Getúlio Vargas, durante seu governo, prioriza o modelo
curativo, centrado em grandes hospitais e em equipamentos sofisticados.

Conforme Morosini e Corbo (2007), a política de saúde pública, com


a instalação dos postos e centros de saúde, na década de 1930, estabeleceu
formas mais permanentes de atuação, bem como alguns programas foram criados
(vacinação, puericultura, pré-natal, tuberculose, hanseníase, entre outros), os
quais foram organizados com embasamento nos saberes tradicionais e da velha
epidemiologia, sem considerar os aspectos sociais e denominados de programas
verticais.

Fazendo-se valer o parágrafo único do Art. 90 da Lei nº 378/1937, em


1941, aconteceu a I Conferência Nacional de Saúde, por proposição de
Gustavo Capanema (ministro da Saúde e Educação), apresentando quatro
temas principais: a organização sanitária estadual e municipal; a ampliação das

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

campanhas nacionais contra a lepra e a tuberculose; o desenvolvimento dos


serviços básicos de saneamento e o plano de desenvolvimento da obra nacional
de proteção à maternidade, à infância e à juventude (FIOCRUZ, c2020; BRASIL,
2009).

Em 1942, o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) foi criado, em


conjunto com a Fundação Rockefeller (antes de sua saída do Brasil), para atuar
na Amazônia (produção de borracha) com o intuito de combater a febre amarela
e a malária, as quais estavam a dizimar os trabalhadores dos seringais (LIMA;
PINTO, 2003).

Vale salientar que o SESP, originalmente concebido para promover o


saneamento nas regiões da borracha e de minerais, passou a implementar um
modelo de estabelecimento de redes integradas de saúde, contrastando com o
modelo verticalizado, bem como atuou em áreas geográficas carentes e distantes,
sendo o pioneiro na atenção básica domiciliar, ofertando serviços curativos e
preventivos (FINKELMAN, 2002).

Nos anos seguintes (1943 e 1944), houve a elaboração da Campanha


Contra a Bouba, a implantação dos Postos Experimentais de Combate à
Esquistossomose (Catende, PE) e ao Tracoma (Jacarezinho, PR), o Serviço
Nacional de Helmintoses (em especial a esquistossomose e a ancilostomose) foi
criado, assim como foi firmado um novo convênio com o governo americano, o
que assegurou o funcionamento do SESP até 1948.

Em 1943, temos a consolidação das leis trabalhistas, trazendo também


direitos no que se refere à área da saúde, mas com viés da produtividade, isto
é, objetivando um trabalhador saudável. Desta forma, é na Era Vargas que as
bases para um sistema nacional de saúde corporativo tutelado pelo Estado são
fundamentadas, na medida em que passou a patrocinar o fortalecimento de um
sistema previdenciário, que cobria também a atenção à saúde (GERSCHMAN;
SANTOS, 2006).

Embora, nesse período, o Brasil fosse considerado um dos países mais


enfermos do continente, houve diminuição da mortalidade por doenças epidêmicas
nos grandes centros do país. Em compensação, houve um crescimento
das doenças de massa, como esquistossomose, tuberculose, doenças
gastrointestinais, doença de Chagas, hanseníase e doenças sexualmente
transmissíveis (BERTOLLI FILHO, 2004).

Ressalta-se que o governo de Vargas teve duas bases distintas: a saúde


pública (centrada na erradicação das doenças infectocontagiosas, endemias
e epidemias) e a medicina ou assistência médica previdenciária (destinada às

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PoLÍTiCAS DE SAÚDE

pessoas acometidas por alguma doença que impedisse de trabalhar, de caráter


individual) (ESCOREL; TEIXEIRA, 2008).

Assim, o período de 1930 a 1945 foi marcado por ações centralizadas de


saúde pública, com a intensificação do modelo sanitarista campanhista, com o
estabelecimento da política de saúde pública por meio da instalação de centros e
postos de saúde e programas voltados para a saúde de forma verticalizada.

FIGURA 9 – RESUMO POLÍTICO, ECONÔMICO, ORGANIZAÇÃO DA


SAÚDE E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO NA ERA VARGAS – 1930 a 1945

FONTE: A autora

Antes de prosseguirmos a viagem rumo ao período


Desenvolvimentista, faremos uma parada para assistir a mais um
capítulo do documentário “Políticas de Saúde no Brasil: um século de
luta pelo direito à saúde”, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=vnFq8w70uZE&t=65s.

4.2 PERÍODO DESENVOLVIMENTISTA


– 1945 A 1964
O período desenvolvimentista também foi denominado de período de
redemocratização, devido às eleições diretas e liberdade de imprensa, mas
mantendo a política populista instalada por Getúlio Vargas (o qual foi deposto em

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Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

outubro de 1945), buscando o apoio da população de forma demagógica, a fim


de manter a imagem de “país do povo” do que realmente resolver os problemas
enfrentados pelo povo (BERTOLLI FILHO, 2004).

Entre 1945 e 1964, muitas estruturas corporativistas que foram construídas


anteriormente permaneceram sem alterações, principalmente na área do trabalho,
sendo que o Brasil viveu uma fase de democracia, caracterizada pela criação de
instrumentos legais, com a consolidação industrial, expansão da malha rodoviária
e a integração dos mercados regionais, que até então não participavam do
processo comercial (FINKELMAN, 2002).

Não podemos deixar de relatar que, com o término da Segunda Guerra


Mundial, diversas mudanças ocorreram no panorama mundial, influenciando a
saúde, haja vista o seu conceito formulado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), em 1948, reconhecendo que ela não tem somente implicação física e
biológica, mas sim sofre influência das questões econômicas e sociais.

Em 1948, foi desenvolvido o Plano SALTE, envolvendo as áreas da saúde,


alimentação, transporte e energia, colocando a saúde como uma das principais
finalidades, o qual previa investimentos até 1953, mas não chegou a ser
implementado (BRAVO, 2006).

No que se refere à assistência à saúde, a maior inovação ocorreu com a


criação do Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência (SAMDU), em
1949, uma vez que apresentava características inusitadas, como o atendimento
médico domiciliar para o setor público, o que era rotineiro para o setor privado; o
financiamento consorciado entre os IAPs e o atendimento universal para os casos
de urgência (FINKELMAN, 2002).

O Brasil vivencia novas eleições presidenciais em 1950 e, novamente,


Getúlio Vargas assume o poder. Contudo, com o seu suicídio, em 1954, Café
Filho assume a presidência do Brasil e junto os enormes problemas econômicos.

Foi durante o período Desenvolvimentista que ocorreram a II Conferência


Nacional de Saúde (1950), cujo tema central foi a legislação referente à higiene
e à segurança do trabalho, surgindo a proposta de um plano Nacional de Saúde
que atingisse as três esferas governamentais, e a III Conferência Nacional de
Saúde (1963), apresentando como tema principal a descentralização na área da
saúde, com a bandeira de um sistema de saúde para todos, com o protagonismo
municipal. Contudo, devido ao regime militar, com uma política centralizadora,
ocorreu o inverso dessa tese.

45
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Segundo Polignano (2004), em 1953, acontece o desdobramento do


Ministério da Educação e Saúde em dois Ministérios: Ministério da Educação
e Cultura e Ministério da Saúde, que não significou uma nova postura
governamental e preocupação efetiva em intervir nos problemas de saúde
pública. Bertolli Filho (2004) informa que essa nova pasta, durante a década de
1950, recebeu verbas ínfimas, ratificando o descaso das autoridades com a saúde
da população, uma vez que houve o investimento de 1,2% do PIB brasileiro em
saúde, enquanto que os Estados Unidos investiam 4,5%, na época. Além disso,
ele falhou, pois em nenhum momento propôs reformar ou elaborou uma política
de saúde eficiente, criando apenas serviços que se sobrepunham, contribuindo
para a sua burocratização.

Vamos assistir mais um capítulo do documentário “Políticas de


Saúde no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde”? Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=-fGcx4wLhAw.

Em 1956, foi criado, no Ministério da Saúde, o Departamento Nacional de


Endemias Rurais (DNERu), por meio da Lei nº 2.743, voltado para determinadas
doenças nas áreas rurais e para a educação sanitária da população rural,
incorporando os programas já existentes e com algumas conquistas, como a
erradicação da febre amarela e varíola (ESCOREL; TEIXEIRA, 2008).

O período de 1956 a 1960, governado por Juscelino Kubitschek, ficou


marcado pelo desenvolvimentismo (modernização econômica e institucional
coordenada pelo Estado), enquanto que as políticas sociais eram vistas como
paliativas (ESCOREL; TEIXEIRA, 2008; ACURCIO, c2020; BERTOLLI FILHO,
2004).

O SESP passa a ser Fundação Serviço Especial de Saúde Pública (FSESP),


em 1960, e em 1961 é realizada a primeira campanha com a vacina oral contra a
poliomielite, bem como ocorre a regulamentação do Código Nacional de Saúde,
enquanto que em 1962 a Campanha Nacional contra a varíola foi instituída, sendo
coordenada pelo Departamento Nacional de Saúde.

Nesse período, emerge o sanitarismo desenvolvimentista, considerando que


o nível de saúde populacional depende do grau de desenvolvimento da economia
do país. As políticas de saúde eram discutidas pelos sanitaristas de acordo com

46
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

os acontecimentos ocorridos na economia, enquanto que os principais avanços


ficaram a cargo dos sindicatos, que lutavam para que todos os IAPs ofertassem
assistência médica aos seus associados, sendo, inclusive, aprovada uma lei
que iguala os direitos de todos os trabalhadores, nunca colocada em prática
(ESCOREL; TEIXEIRA, 2008; ACURCIO, c2020).

Nesse contexto, os IAPs fortaleceram o modelo de assistência médica


curativa a fim de manter o trabalhador hígido para o trabalho, sendo que os
Institutos que possuíam mais recursos e que atendiam categorias profissionais
que exerciam maior poder de coerção, construíram hospitais próprios. Surgiram os
primeiros serviços médicos particulares contratados pelas empresas, originando a
medicina de grupo.

Portanto, de um lado havia o Ministério da Saúde, com escassos recursos


para atender à coletividade, atendendo de forma pouco eficiente para a redução
dos índices de morbimortalidade, e, de outro, a assistência médica individual,
prestando serviços para a população com acesso ao sistema de proteção social,
expandindo-se por ter como aliado o Estado na compra de serviços (SARRETA,
2009; BERTOLLI FILHO, 2004).

Assim, a população rural ficava sob a responsabilidade do Ministério da


Saúde, e as áreas industriais e com densidade populacional maior eram atendidas
pelas clínicas e hospitais próprios ou conveniados com os IAPs.

Para se ter ideia, em 1945 havia aproximadamente 2 milhões de pessoas


vinculadas aos Institutos Previdenciários, enquanto que na década de 1960 esse
número chegava a quase 8 milhões. O aumento da demanda e a sucessão de
leis federais que garantiam a assistência à saúde, começam a gerar precariedade
da qualidade dos serviços, surgindo longas filas e dificuldades para internações
hospitalares (BERTOLLI FILHO, 2004).

Um fato que merece destaque é o clientelismo, que interferia


de forma direta nas políticas de saúde, haja vista que os partidos e/
ou líderes políticos, em troca de votos, ofertavam leitos hospitalares,
ambulâncias, vacinas, entre outros, às vezes acima da demanda,
enquanto que outras localidades padeciam sem assistência médica
e hospitalar (BERTOLLI FILHO, 2004).

47
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Ainda que os recursos financeiros fossem parcos para a área da saúde, entre
1958 e 1965, foram criadas três campanhas nacionais para combater a malária,
embora fossem divulgadas informações, por parte do governo, de que estava
prestes a ser erradicada (BERTOLLI FILHO, 2004).

Entretanto, em todo esse contexto político da redemocratização, o campo


da saúde ainda permanecia problemático e a situação da saúde da população
padecia com quadros de doenças parasitárias e infecciosas, pela presença das
doenças da modernidade (doenças crônicas, doenças relacionadas ao trabalho)
e com taxas elevadas de mortalidade geral e morbimortalidade infantil. Cabe
ressaltar que a erradicação da varíola e da febre amarela foi efetivada nesse
período, mas a erradicação da lepra fracassou.

Segundo Luz (1991), nessa época, as políticas de saúde apresentavam uma


dicotomia institucional por meio do modelo campanhista, que ainda predominava
nos órgãos de saúde pública, e do modelo curativista, que predominava nos
serviços previdenciários de atenção médica, ambos burocratizados e ineficazes
perante os problemas de saúde da população urbana e rural.

Por fim, Sarreta (2009) declara que esse período, no Brasil, foi marcado
por mudanças significativas na área da saúde, a qual sofreu influência norte-
americana, tendo em vista a adoção do modelo baseado em grandes hospitais,
atendendo aos interesses das indústrias farmacêuticas e de equipamentos
médicos, em detrimento da atenção básica. Também relata que trata-se de um
cenário complexo, em que o desenvolvimento da política de saúde foi lento e
marcado por avanços e instabilidades institucionais, como o suicídio de Getúlio
Vargas (1954), a renúncia de Jânio Quadros (1961) e o golpe militar (1964), que
destituiu João Goulart, impôs a ditadura e perdurará por 20 anos, contribuindo,
assim, para a manutenção do formato corporativista e fragmentado.

48
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

FIGURA 10 – RESUMO POLÍTICO, ECONÔMICO, ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE E


PERFIL EPIDEMIOLÓGICO NO PERÍODO DESENVOLVIMENTISTA – 1945 a 1964

FONTE: A autora

4.3 PERÍODO DO REGIME MILITAR – 1964 A 1984

O período do Regime Militar, também denominado de Autoritarismo, inicia


em 1964 e termina em 1984, sendo que em 31 de março de 1964, a democracia
populista é findada pelo golpe de Estado, o qual foi liderado pelos chefes das
Forças Armadas, dando início ao regime ditatorial, privilegiando a autonomia
do Poder Executivo e limitando as ações dos Poderes Legislativo e Judiciário e
Marechal Castelo Branco assumindo a presidência da República.

Foi uma época de concentração de renda, resultando no empobrecimento


da população e, consequentemente, com repercussões na saúde, ocasionando o
aumento da mortalidade e da morbidade, com casos de epidemias de poliomielite
e meningite, com censura aos meios de comunicação sobre a divulgação dos
casos de meningite, em 1974. Houve, também, a redução de verbas destinadas
ao Ministério da Saúde (ACURCIO, c2020).

O Decreto-Lei nº 72, de 21 de novembro de 1966, unificou os Institutos


de Aposentadoria e Pensões e criou o Instituto Nacional de Previdência Social
(INPS), que conforme Finkelman (2002), tinha como objetivo principal a correção
dos inconvenientes da segmentação institucional, aumentando a eficiência
do sistema. Sarreta (2009) complementa que tal fato concentrou todas as
contribuições previdenciárias, incluindo trabalhadores do comércio, indústria e
serviços, gerando assistência médica, pensões e aposentadorias de todos os
trabalhadores brasileiros.

Vale ressaltar que os beneficiários de muitos IAPs eram contra essa


medida, visto que alguns deles eram mais desenvolvidos que outros, contando

49
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

com hospitais próprios e maior volume de recursos financeiros. Além disso, com
essa reformulação do sistema de saúde, boa parte dos recursos financeiros
provenientes das contribuições dos trabalhadores passou a ser destinado ao setor
privado para a construção de hospitais de grande porte para o atendimento dos
beneficiários do INPS. Os desempregados e autônomos (sem carteira assinada)
não usufruíam do benefício e continuavam sem direito à atenção à saúde. Como
ponto positivo, destacou-se a ampliação da cobertura previdenciária, inclusive
aos trabalhadores rurais, ainda que em regime diferenciado no que se refere ao
benefício e contribuição, que passaram a ter direito à assistência à saúde e à
aposentadoria.

Escorel (2008) relata que aqueles que não contribuíam para a previdência
social obtinham atenção à saúde caso integrassem o perfil dos programas
existentes, em serviços filantrópicos ou em consultórios e clínica privadas,
mediante pagamento efetuado pelo próprio usuário.

Nesse contexto, o Estado passou a ser o único a coordenar a assistência


médica, pensão e aposentadoria, sendo descontado 8% do salário mensal do
trabalhador (BERTOLLI FILHO, 2004).

A partir da criação do INPS, a contratação de serviços terceirizados com


médicos e hospitais foi priorizada, sob a alegação de que a rede de serviços
própria não tinha condições de atender a todos os beneficiários, passando o
INPS a ser o maior comprador de serviços privados de saúde, o que estimulou
a prática médica orientada pelo lucro, provocando um aumento no consumo de
medicamentos e equipamentos médico-hospitalares, o que gerou a formação de
um complexo sistema médico-industrial (ESCOREL, 2008; POLIGNANO, 2004;
ACURCIO, c2020).

Ressalta-se que esse complexo médico-industrial dava à categoria médica


e hospitalar um importante espaço econômico no país, privilegiando a iniciativa
privada da saúde, a capitalização de grupos (clínicas, hospitais), assim como a
elevação do consumo de medicamentos e equipamentos médicos e hospitalares,
conforme citado anteriormente.

50
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

O credenciamento e a remuneração dos serviços de saúde


terceirizados eram por Unidades de Serviço (US), tornando-se um
fator incontrolável de corrupção, causando um déficit orçamentário
devido às inúmeras fraudes ocorridas, tendo em vista que inventavam
pacientes ou ações que não haviam sido praticadas ou priorizavam
as ações que eram melhor remuneradas, em detrimento da escolha
pelo procedimento mais eficaz para o paciente (ESCOREL, 2008;
BERTOLLI FILHO, 2004).

Em 1966, foi criada a Campanha de Erradicação da Varíola, que estava


subordinada diretamente ao Ministério da Saúde e, em 1967, ocorreu a IV
Conferência Nacional de Saúde, tendo como tema recursos humanos em saúde.

Entre os anos de 1967 e 1973 (para alguns 1968 a 1974), ocorreu o “milagre
econômico”, devido a vários fatores, dentre eles, o crescimento da indústria de
bens de consumo duráveis, fazendo com que ocorresse uma concentração de
renda, permitindo que a classe média se inserisse nesse mercado, tornando-se
consumidora. Nessa perspectiva, conforme Luz (1991), houve, nesse período, a
política de saúde do 'milagre', coerente com a política econômica, sendo que a
saúde passa a ser vista como um bem de consumo, mais explicitamente, como
um bem de consumo médico.

Entre 1966 e 1976 houve a consolidação da dupla responsabilidade federal


no campo da saúde, sendo dividida entre o Ministério da Saúde e o Ministério da
Previdência Social, o qual se fortaleceu financeira, política e administrativamente
com a fusão das instituições de seguro social. Tal fato contribuiu para que as
tentativas integracionistas no âmbito do Ministério da Saúde fracassassem.
Salienta-se que a assistência médico-hospitalar previdenciária permaneceu
sob a responsabilidade do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MPAS)
(FINKELMAN, 2002).

Segundo a literatura especializada, foi um período de retrocesso e alterações


no ensino dos cursos de graduação da área da saúde, que em dez anos (de
1964 a 1973) cresceu rapidamente, com intervenções que modificaram de forma
substancial a formação dos profissionais da saúde, com disciplinas suprimidas
dos currículos (terapêutica, farmacotécnica, entre outras), uma vez que a
recomendação era a implantação do modelo flexneriano (o qual foi e continua
sendo alvo de críticas e elogios, conforme a vertente a ser seguida), tornando

51
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

os acadêmicos dependentes dos laboratórios e a população consumidora de


medicamentos provindos das multinacionais, seguindo o modelo biologicista.

O Ministério da Saúde, ao invés de ser um órgão executivo de política de


saúde, era um órgão burocrato-normativo, que na década de 1970 manteve
suas ações de vigilância epidemiológica e sanitária com os programas contra
determinadas doenças e vacinação (POLIGNANO, 2004).

Durante o governo de Costa e Silva, em 1968, foi elaborado, por iniciativa


do então ministro da Saúde, Leonel Miranda, o Plano Nacional de Saúde (PNS),
o qual foi objeto de intensa polêmica por se caracterizar pela universalização do
acesso, a integração da assistência médica no Ministério da Saúde, a privatização
da rede pública e a adoção do preceito de livre escolha do profissional e hospital
por parte do usuário/paciente. Além disso, propunha a venda de todos os hospitais
governamentais para a iniciativa privada, sendo que seria de competência do
Estado o financiamento dos serviços privados, os quais seriam também custeados
de forma parcial pelos pacientes, o que foi alvo de resistência e repercussão
negativa (FINKELMAN, 2002; ESCOREL, 2008).

No final da década de 1960, foi instituído o sistema de notificação de


determinadas doenças transmissíveis, basicamente daquelas passíveis de
controle por meio de programas de vacinação, bem como a criação do Boletim
Epidemiológico.

Conforme Ponte (2010), foi nos anos 1970 que ocorreram


mudanças mais significativas, tendo em vista o ápice e o fim do
denominado milagre econômico brasileiro, uma vez que, de 1968
a 1973, o PIB cresceu de forma exponencial, chegando a 14% em
1973. Em contrapartida, o percentual do orçamento para o Ministério
da Saúde, nesse mesmo ano, foi de 1,03%, demonstrando descaso
com a saúde da população, em especial às ações preventivas e
coletivas (BERTOLLI FILHO, 2004).

Contudo, com a crise surgem sinais de que o período de milagres não foi
tão milagroso, pois começam a aparecer problemas de toda ordem e, na área
da saúde, os indicadores de saúde não são animadores. Entre os anos de 1972
e 1976, mais de 1,4 milhão de crianças morreram em todo o Brasil por causas
evitáveis (doenças diarreicas, coqueluche, sarampo, poliomielite, tétano e difteria)

52
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

associadas à falta de saneamento básico e à desnutrição, bem como 72% dos


óbitos ocorridos no país eram de pessoas com menos de 50 anos de idade e,
destes, 46,5% eram crianças com menos de 4 anos de idade (PONTE, 2010).

No que concerne ao quadro epidemiológico da época, ficou evidenciado a


coexistência de doenças infectocontagiosas e crônico-degenerativas com as
doenças antes consideradas exclusivas da zona rural, como esquistossomose,
malária e doença de Chagas, que passaram a assolar a área urbana (BRAGA;
PAULA, 1987 apud BERTOLOZZI; GRECO, 1996).

Somente em 1971 é que se pensa sobre a assistência à saúde da população


rural, sendo instituído o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural
(FUNRURAL), por intermédio da Lei Complementar nº 11, de 25 de maio de 1971
(BRASIL, 1971). No entanto, apesar dos direitos à saúde serem mais restritos
que os da população de trabalhadores com carteira assinada, isso significou um
avanço.

A década de 1970 foi um período de contrastes, crítico no desenvolvimento


das políticas públicas de saúde, com enfrentamento de diversos projetos e
modelos no campo da saúde. Durante o governo de Ernesto Geisel, a política de
saúde foi implementada de forma mais estruturada, englobando dois elementos
principais: I) expansão da cobertura, com compra de serviços e por programas
de saúde, como o Programa Nacional de Imunização (1973), que universalizou
o acesso, homogeneizou coberturas e ampliou a oferta de vacinas, contribuindo
para a redução das doenças imunopreveníveis; e II) projetos alternativos ao
modelo hegemônico, como o Programa de Interiorização de Ações de Saúde
e Saneamento (PIASS), criado em 1976, configurando-se como o primeiro
programa de medicina simplificada no âmbito federal e intensificado em 1979, com
o objetivo de implementar políticas públicas em comunidades menores de 20 mil
habitantes (TEMPORÃO, 2003; GERSCHMAN; SANTOS, 2006; POLIGNANO,
2004).

Nessa conjuntura política, o modelo de saúde adotado era hospitalocêntrico,


sendo que de 1967 a 1979, houve um crescimento estrondoso de 67,9% na
quantidade de leitos hospitalares, atingindo quase 500 mil leitos (GERSCHMAN;
SANTOS, 2006).

De 1970 a 1976, diversas iniciativas referentes às políticas públicas de saúde


foram efetivadas, dentre elas: criação da Superintendência de Campanhas de
Saúde Pública (SUCAM), para ações de erradicação e controle das endemias em
áreas de risco (1970); instituição do Plano Nacional de Controle da Poliomielite,
importante marco para as atividades de vacinação do país (1971); destinação de

53
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

verba para a vacinação da população contra a meningite, devido ao aumento


da morbimortalidade decorrente desta doença (1974); criação do Ministério da
Previdência e Assistência Social (MPAS), com atuação voltada principalmente
para o atendimento médico�assistencial individualizado; Plano de Pronta
Ação (PPA), criado para universalizar o atendimento médico, principalmente
de emergência, e do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), que
financiou a criação de hospitais privados (1974), sendo que o PPA e FAS fizeram
da saúde um negócio altamente lucrativo; ocorreu a V Conferência Nacional de
Saúde, com foco na implementação do Sistema Nacional de Saúde, Programa de
Saúde Materno-Infantil, Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, Programa
de Controle das Grandes Endemias e Programa de Extensão das Ações de Saúde
às Populações Rurais (1975); Lei nº 6.259, a qual dispôs sobre a organização
das ações de vigilância epidemiológica, o Programa Nacional de Imunizações,
estabelecendo normas relativas à notificação compulsória de doenças (1975);
instituição do Sistema Nacional de Saúde, que não chegou a ser concretizado
(1975); criação da Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde (SNABS)
e da Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde (SNPES) (1976).

De acordo com Finkelman (2002), com o cancelamento do Plano Nacional de


Saúde (1968), anteriormente mencionando, houve a tentativa da implementação
de um conjunto de princípios e diretrizes e a definição de postulados básicos para
a institucionalização e implementação do Sistema Nacional de Saúde (SNS),
pelo novo ministro da Saúde, Mário Machado de Lemos, sendo que a prestação
de serviços gerais de saúde seguiria alguns princípios (que hoje regem o SUS),
como a universalização, a regionalização e a integração entre serviços preventivos
e de assistência individual. Contudo, o projeto não vingou e os elementos que
estavam no seu cerne somente foram retomados na VIII Conferência Nacional de
Saúde, que abordaremos mais adiante.

Reitera-se que o SNS foi instituído, em 1975, apenas no papel (Lei nº


6.229/1975), estabelecendo o campo de ação na área de saúde, dos setores
públicos e privados, reconhecendo e oficializando a dicotomia da questão da
saúde, sendo que a medicina preventiva, voltada para medidas e atendimentos
da coletividade, inclusive vigilância sanitária, seria de competência do Ministério
da Saúde; enquanto que a medicina curativa, com atuação para o atendimento
individualizado, seria de responsabilidade do Ministério da Previdência
(POLIGNANO, 2004; FINKELMAN, 2002). Dessa maneira, o SNS estava
direcionado para a promoção, proteção e recuperação da saúde, sendo a primeira
tentativa para racionalizar o sistema, de forma concreta, dentro das limitações que
o contexto político permitia (FINKELMAN, 2002).

Cabe frisar que em 1975 eclode a crise do modelo econômico implantado pela
ditadura militar, sendo que as desigualdades sociais se tornam mais evidentes

54
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

(pobre mais pobres e ricos mais ricos), desemprego, baixos salários, aumento
da marginalidade, índices altos de mortalidade infantil, sendo que o modelo de
saúde previdenciário apresenta as suas mazelas: incapacidade de solucionar os
principais problemas de saúde coletiva, priorizando a medicina curativa e centrada
na atenção médico-hospitalar, desvio de verbas, incapacidade de atendimento a
toda população e não repasse de recursos (POLIGNANO, 2004).

Assim, de 1968 até 1975, o que se vê na área da saúde é


uma política voltada para o modelo curativo, por meio de consultas
médicas, valorizando a doença e a sua cura, sem se preocupar
com a saúde em si, com o atendimento em massa, priorizando a
construção hospitalar e clínicas privadas sob o financiamento da
Previdência Social, bem como a multiplicação de faculdades privadas
com cursos de medicina por todo o Brasil. Graduavam-se médicos
especialistas, desvinculados da realidade sanitária da população, os
quais mantinham uma relação autoritária, tecnicista e mercantilizada
com seus pacientes, voltados para a sofisticação tecnológica e
dependentes de equipamentos médico-hospitalares e da indústria
farmacêutica, além do setor empresarial de serviços médicos que
cresceu rapidamente, haja vista que mais de 80% da rede privada
era financiada pelo Estado (ACURCIO, c2020; LUZ, 1991).

Como consequência de tudo isso, emergiu uma enorme insatisfação por


parte da população com relação à política de saúde, o que gerou quebra-quebra
de ambulatórios e conflitos nas filas de espera dos serviços de saúde. A imagem
de uma medicina que era miraculosa para as condições inadequadas de vida e
saúde começa a ser desmascarada e denunciada de forma pública (LUZ, 1991).

Devido a uma reforma administrativa em 1977, na investida de reordenar


o sistema de saúde, foi criado o Sistema Nacional de Assistência e Previdência
Social (SINPAS), por meio da Lei nº 6.439, de 1º de setembro de 1977, tutelado pelo
Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), compreendendo o Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS), o Instituto Nacional de Assistência Médica
(INAMPS), o Instituto Nacional de Administração da Previdência Social (IAPAS),
que tinha como atribuição arrecadar, fiscalizar e cobrar as contribuições e demais
recursos destinados à previdência e assistência social, dentre outras entidades,
como a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (DATAPREV), a

55
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) e a Liga Brasileira de


Assistência (LBA) (SARRETA, 2009; BRASIL, 1977).

O Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social


(INAMPS) foi criado como entidade do SINPAS, o qual ficou encarregado de
prestar assistência médica aos trabalhadores formais (com carteira assinada) e
seus dependentes, que contribuíam com a Previdência por meio de desconto em
seus salários, constituindo-se como política pública de saúde, sendo extinto em
1993 (BRASIL, 1977).

Por meio do INPS, o governo federal criou linhas de financiamento para a


iniciativa privada a fim de que hospitais particulares fossem construídos, ampliando
o número de leitos, demonstrando, desta forma, que havia a intenção de atender
a todos os trabalhadores brasileiros inscritos na Previdência (SARRETA, 2009).

Até então, quem era a população que tinha acesso à assistência à saúde e
de que forma? Como vimos até aqui, as pessoas que tinham vínculo empregatício
formal tinham acesso ao INAMPS, os que podiam pagar utilizavam os serviços
de saúde particulares e os que não possuíam nenhum tipo de acesso ficavam à
mercê do filantropismo.

Ainda no ano de 1977, ocorreu a VI Conferência Nacional de Saúde,


abordando os seguintes temas: situação atual do controle das grandes endemias;
operacionalização dos novos diplomas legais básicos aprovados pelo governo
federal em matéria de saúde e interiorização dos serviços de saúde e Política
Nacional de Saúde (FIOCRUZ, c2020).

Outro fato importante foi o 1º Simpósio Nacional de Política de Saúde,


realizado pela Comissão de Saúde da Câmara de Deputados, em 1979, sendo
que o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) apresentou uma proposta
coletiva do Movimento pela Reforma Sanitária, por meio do documento intitulado
“A questão democrática na área da saúde” (CEBES, 1980).

Portanto, os anos 1970 foram marcados pelo modelo assistencial privatista,


tendo o Estado como financiador do sistema, por meio da Previdência Social,
o setor privado nacional como prestador de serviços médicos assistenciais e o
setor privado internacional como o principal provedor de insumos (medicamentos
e equipamentos médicos), estando assim assentado nesse tripé (ACURCIO,
c2020).

É importante recordar que esse modelo (médico assistencial privatista) surgiu


na década de 1920, mas ficou mais evidente nos anos 1970 com a expansão
urbana e com o crescimento das tecnologias da área da saúde, vigorando até

56
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

os anos 1980, tendo como características a prática médica curativista, individual,


assistencialista e especialista, com ênfase no modelo hospitalocêntrico (doente
dentro do hospital), centrado na doença e vislumbrando geração de lucro, ou
seja, não havia a preocupação com a prevenção e tinha especialista para tudo,
apresentando uma medicina fragmentada e sem o cuidado com a humanização.

No final da década de 1970 e início dos anos de 1880, pensamentos distintos


no que se referem à saúde ganharam notoriedade com a formulação de propostas
voltadas para ações de cuidado primário à saúde, em oposição ao modelo vigente
e ao regime político, sendo que essas novas ideias ficaram conhecidas como
Movimento da Reforma Sanitária, uma vez que apresentavam um novo caminho
de organização do setor saúde, tendo como base a capilaridade das ações por
meio da municipalização dos serviços e com ações de atenção básica e não de
atenção hospitalar. Salienta-se que o Movimento da Reforma Sanitária ganhou
impulso com o surgimento, em 1976, do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde
(CEBES) e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), criada em
1979.

Com a crise financeira no setor saúde, que se expressava no modelo


privatizante e na seguridade social, no início dos anos 1980, a proposta do
movimento sanitário se fortalecia, sendo uma alternativa concreta para que o
sistema fosse reformulado, tendo em vista a ineficiência das políticas de saúde
implantadas até aquele momento.

Convém elucidar que abordaremos a Reforma Sanitária com


maior ênfase no Capítulo 2.

Em 1980, ocorreu a VII Conferência Nacional de Saúde, com tema central


“Extensão das ações de saúde através dos serviços básicos”, apresentando
como objetivo principal debater o PREVsaúde (Programa Nacional de Serviços
Básicos de Saúde), que tinha como finalidade reestruturar e ampliar os serviços
de saúde, saneamento e habitação, bem como visava à integração/articulação
dos Ministérios da Saúde e da Previdência e Assistência Social, a partir dos
serviços básicos de saúde, sendo que técnicos vinculados ao Movimento Sanitário
participaram do seu desenho (FIOCRUZ, c2020; ESCOREL, 2008; BERTOLOZZI;
GRECO, 1996).

Ressalta-se que a primeira versão do PREVsaúde pretendia reunir os

57
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

recursos do INAMPS, contudo, os empresários da saúde, que controlavam


politicamente a instituição, opuseram-se ferrenhamente, pois não viam com “bons
olhos” esse programa, uma vez que havia riscos à crescente privatização da saúde
previdenciária. Dessa forma, depois de três versões na busca da compatibilização
dos interesses envolvidos, o PREVsaúde foi sepultado (NARVAI, 2013).

Naquele mesmo ano, houve o lançamento do Plano de Ação Contra a


Poliomielite, com o estabelecimento dos dias nacionais de vacinação e em 1981
foi criado o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária
(CONASP), de forma autoritária, visto que a sua composição não contemplava
a participação de trabalhadores da saúde e da população. Oficializado pelo
Decreto nº 86.329/1981, suas competências eram propor a mudança do
modelo assistencial, sugerir critérios de alocação dos recursos, opinar sobre a
organização da assistência médica e previdência social, recomendar adoção de
políticas de financiamento, sugerir medidas corretivas, entre outras (BRASIL,
1981; BERTOLOZZI; GRECO, 1996).

Dentro do Plano do CONASP, surgiram as Ações Integradas de Saúde


(AIS), em 1982, as quais significaram avanços para a rede básica ambulatorial,
articulação com os serviços públicos municipais, participação popular e na
contratação de recursos humanos, apesar dos inúmeros problemas para a sua
implementação (BRASIL, 2011).

Assim, de acordo com Polignano (2004), as AIS eram um modelo assistencial


que buscava integrar ações preventivas, curativas e educativas e muitos estudiosos
as consideravam a grande matriz para o Sistema Único de Saúde, constituindo-se
uma estratégia de total relevância para o processo de descentralização da saúde,
haja vista sua ênfase à atenção básica/primária, tendo-a como “porta de entrada”
do sistema para a rede ambulatorial.

Finkelman (2002) complementa que as AIS estimularam a criação de


Comissões Interinstitucionais de Saúde (CIS), no âmbito dos estados, das
regionais estaduais de saúde e dos municípios, sendo que 2.500 municípios já
eram signatários do convênio com elas, até o final de 1987.

Quer conhecer mais sobre as Ações Integradas de Saúde?


Acesse o artigo Ações integradas de saúde (AIS): por que não dois
passos atrás, de autoria de Jairnilson Paim, disponível em: https://
www.scielo.br/pdf/csp/v2n2/v2n2a05.pdf.

58
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

De acordo com Luz (1991), entre 1975 e 1982, os serviços de saúde se


tornaram o centro da crise do modelo de política social (saúde, educação e
habitação), devido à política ser centralizadora, privatizante, concentradora e
ineficaz.

O regime militar chega ao fim em 1985 e, portanto, no período do governo


militar, que se estendeu de 1964 a 1985, as políticas de saúde se consolidaram
na privatização dos serviços médicos, apresentando um quadro epidemiológico
insatisfatório, com aumento populacional urbano devido ao êxodo rural,
ocasionando aglomerações nas periferias e surgimento de favelas, sem
nenhuma infraestrutura de saneamento, proporcionando condições ideais para a
proliferação de doenças.

FIGURA 11 – RESUMO POLÍTICO, ECONÔMICO, ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE


E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO NO REGIME MILITAR – 1964 A 1984

FONTE: A autora

Assista a mais uma parte do documentário “Políticas de Saúde


no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde”, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=opeOep47OVc.

59
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

4.4 PERÍODO DA NOVA REPÚBLICA


– DE 1985 A 1988
Com o fim do regime militar, surge a Nova República (1985-1988), que
foi marcada pelo movimento em prol das eleições diretas para a presidência
da República, o que não ocorreu, sendo eleito Tancredo Neves como novo
Presidente, por meio da Câmara. Todavia, com a morte de Tancredo, seu vice,
José Ribamar Sarney, assumiu o cargo, ficando até 1990.

Foi um período de grande crise inflacionária, sendo que vários planos


econômicos foram propostos a fim de conter a situação, mas que não surtiram os
efeitos desejados e necessários, uma vez que continuaram a privilegiar os setores
mais ricos, sendo que no setor saúde também foram apresentadas diversas
medidas, objetivando alterar as políticas que favoreciam a atenção privatizante ao
invés das ações públicas.

A década de 1980 foi demarcada por uma série de tentativas para que o
setor saúde fosse reestruturado, com apresentação de medidas que sinalizavam
para a unificação assistencial e preventiva em um único comando, organizada de
forma descentralizada, conforme preceitos da Reforma Sanitária. O ponto-chave
foi a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS), em 1986, a qual
contou com enorme participação da sociedade civil brasileira (mais de quatro mil
pessoas), sendo a primeira a incluir os usuários dos serviços de saúde (BRASIL,
2011).

Cabe mencionar que relativo à histórica VIII CNS, faremos uma


imersão no Capítulo 2.

Em 1986, ocorreu a inserção da saúde bucal na agenda da saúde, assim


como houve a criação do personagem Zé Gotinha, símbolo da erradicação da
poliomielite. Também ressurgiu a febre amarela em diversas cidades brasileiras,
após três décadas de sua erradicação. Outrossim, foi criada a Comissão Nacional
de Reforma Sanitária pela Portaria Ministerial MEC/MS/MPAS nº 2, de 22 de
agosto de 1986, com a incumbência de atuar nas discussões para a elaboração
da nova Constituição Federal, a fim de subsidiar as questões relacionadas à
saúde.

60
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

Nos anos 1980, as políticas de saúde estavam inseridas em uma profunda


crise econômica, descontrole inflacionário, elevação das taxas de juros, Plano
Cruzado (1986), desemprego em massa, formação da economia informal e
processo de redemocratização do país.

Foi uma época em que foram criados e mantidos programas e serviços


públicos, e algumas medidas a fim de facilitar o acesso da população aos serviços
de saúde foram tomadas. O governo da chamada Nova República favoreceu,
por meio de programas pilotos, a descentralização desses serviços no âmbito
municipal e distrital, bem como institucionalizou a participação popular, ratificando
as Ações Integradas de Saúde (AIS) (LUZ, 1991).

Com a assistência médica ainda sob a responsabilidade do INAMPS, em


julho de 1987 foi implantado o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
(SUDS), que tinha em seu desenho alguns elementos centrais preconizados pela
proposta da reforma sanitária, como universalização, equidade, descentralização,
regionalização, hierarquização e participação comunitária e que, segundo o
secretário de Medicina Social do INAMPS, à época, José Noronha, era o estágio
evolutivo das Ações Integradas de Saúde (BRASIL, 2011).

Já na literatura especializada encontra-se a correlação do SUDS com o


SUS, ou seja, que ele tenha se tornado um protótipo, servindo de base para a
construção do Sistema Único de Saúde e que com a sua criação, a política de
saúde passou a ter maior relevância no cenário brasileiro.

Assim, o SUDS surgiu no interior do INAMPS e avançou na política de


descentralização da saúde e do orçamento, permitindo maior autonomia dos
estados nas atividades, retirando o poder que o referido Instituto centralizava. Foi
motivo de controvérsias, pois enquanto o Ministério da Saúde pressionava por
uma política de saúde unificada com a incorporação do INAMPS, o Ministério da
Previdência defendia estratégias mais graduais para a unificação (MATTA, 2007).

Em 1987 é instalada a Assembleia Constituinte, presidida por Ulysses


Guimarães, com o objetivo de elaborar uma nova constituição para o Brasil,
sendo que diversos movimentos sociais e entidades se mobilizam para discuti-la,
o que favoreceu para que a saúde fosse colocada na pauta da agenda política,
difundindo, assim, as propostas da Reforma Sanitária.

Assim, em 1988 foi promulgada a nova Constituição Federal,


denominada “Constituição Cidadã”, que consagrou a saúde como produto
social, estabelecendo-a, em seu Art. 196, como “direito de todos e dever do
Estado” (BRASIL, 1988), significando um enorme avanço, à medida que prevê

61
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

acesso igualitário e universal a todos os cidadãos às ações e serviços de saúde,


priorizando as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais.

Desta forma, os Artigos 196 a 200 da Constituição Federal de 1988, ao


contemplar a saúde, institucionalizam o Sistema Único de Saúde, que será o
nosso protagonista no próximo capítulo.

Com a Nova República, foram inseridas alterações nas políticas sociais e


econômicas, sendo que sob o enfoque social, os movimentos organizados da
coletividade começaram a ter maior presença nos conselhos de gestão, nas
áreas da saúde, educação, trabalho e previdência. Do ponto de vista econômico,
houve um engajamento com o crescimento, além de ocorrerem discussões sobre
reformas em diversos âmbitos, sendo que na área da saúde, essas reformas
ocorreram por meio do movimento da reforma sanitária (FINKELMAN, 2002).

Cabe ressaltar que nesta fase foram evidenciados os programas


emergenciais, priorizando intervenções sociais para o combate ao desemprego,
à fome e à miséria, assim como houve o fortalecimento dos programas de
alimentação já existentes, a elaboração de novos programas e a implementação
de medidas nas áreas da saúde, educação, assentamento agrário, entre outras
(FINKELMAN, 2002).

O modelo de saúde vigente no país, nesse período, necessitava de


reformulações, pois era complexo, desintegrado e ineficiente, ou seja, a área da
saúde carecia de expansão da assistência médica e de uma política de saúde que
atendesse às normativas da nova Constituição Federal.

FIGURA 12 – RESUMO POLÍTICO, ECONÔMICO, ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE


E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO NA NOVA REPÚBLICA – 1985 A 1988

FONTE: A autora

62
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

Que tal fazer a última atividade de estudo para testar os conhecimentos


adquiridos?

1 Diante do que foi apresentado, coloque os fatos em ordem


cronológica dos acontecimentos, conforme o quadro indicativo:

1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
1930 1933 1941 1953 1966 1975 1976 1977 1982 1987

( ) Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs).


( ) Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS).
( ) Criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social
(SINPAS), vinculando-se a ele o INAMPS.
( ) Ministério da Saúde.
( ) Sistema Nacional de Saúde (SNS).
( ) Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública.
( ) Ações Integradas de Saúde (AIS).
( ) Programa de Interiorização de Ações de Saúde e Saneamento
(PIASS).
( ) I Conferência Nacional de Saúde.
( ) Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final do Capítulo 1 e nele você pôde “viajar” pelo túnel do
tempo e conhecer de forma mais detalhada as primeiras iniciativas e os esboços
das políticas públicas de saúde do nosso país, uma vez que descrevemos a
sequência histórica das políticas de saúde no Brasil entre 1500 e 1988.

Assim, nossa viagem teve início no Brasil Colonial, perpassando pelas ações
que antecederam a instalação do Modelo Assistencial Sanitarista, fizemos uma
escala nas ações assistenciais vinculadas ao setor previdenciário no Brasil,
chegando na Nova República.

Durante o nosso trajeto, constatamos que a formação histórica das políticas


de saúde brasileira é bastante complexa, com a criação de órgãos que muitas
vezes exerciam funções sobrepostas, bem como sem uma ideologia clara e

63
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

objetiva para as ações de atenção à saúde, seja de forma individual ou coletiva,


visando manter uma mão de obra saudável e alta produtividade laboral, ou
seja, relacionadas com a força de trabalho que desse retorno para o governo,
sem considerar as reais necessidades da população, beneficiando apenas os
que atuavam no mercado de trabalho formalizado. Posteriormente, ocorre uma
assistência à saúde especializada, hospitalocêntrica e curativa e, por fim, um
período marcado pela necessidade de reformulações, vislumbrando a garantia de
acesso universal aos serviços de saúde.

Esperamos que essa incursão retrospectiva através da história da saúde e


do próprio Brasil tenha proporcionado aprendizado e momentos reflexivos sobre
a conformação das políticas de saúde, uma vez que para as entendermos é
preciso ir além da conjuntura atual, sendo necessário conhecer os antecedentes
históricos, sociais, econômicos e políticos.

Com certeza há muito mais para se contar, a história é longa, permeada de


situações relevantes, mas o nosso objetivo não é esgotar esse tema que é tão
multifacetado. Buscamos, no decorrer do capítulo, dada a sua dimensão, expor
os fatos determinantes para que você possa ao final da disciplina contextualizar e
reconhecer a política de saúde vigente como constitutivo de uma história, a qual
foi e é compartilhada com diversos atores sociais.

Portanto, a construção de uma política de saúde é dinâmica e está relacionada


aos interesses políticos, sociais e econômicos, sendo que a compreensão do que
aconteceu e a constatação das contradições existentes de cada tempo histórico
nos ajudam a entender a construção do SUS, tema do nosso Capítulo 2. Até lá!

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SUS. São Paulo: UNESP; Cultura Acadêmica, 2009.

SECCHI, L. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos.


2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

SOARES, C. O Jeca Tatu de Monteiro Lobato e a medicina brasileira. 2014.


Disponível em: https://updatesaude.wordpress.com/2014/04/18/o-jeca-tatu-de-
monteiro-lobato-e-a-medicina-brasileira/. Acesso em: 3 maio 2020.

TEMPORÃO, J. G. O Programa Nacional de Imunização (PNI): origens e


desenvolvimento. História, Ciências e Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.
10, supl. 2, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v10s2/a08v10s2.
pdf. Acesso em: 8 maio 2020.

70
Capítulo 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL ANTES DO SUS

WITTER, N. A. Males e epidemias: sofredores, governantes e curadores no


Sul do Brasil (Rio Grande do Sul, século XIX). Tese (Doutorado em História).
Programa de Pós-Graduação em História. Niterói, RJ: Universidade Federal
Fluminense, 2007.

71
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

72
C APÍTULO 2
POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR
SOBRE O SUS

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender o processo histórico de formação do Sistema Único de Saúde


(SUS), sua relação com o movimento da Reforma Sanitária e sua interface com
as políticas de saúde.
• Relacionar o contexto atual do SUS com aspectos históricos, sociais e
econômicos do país e com as raízes históricas das políticas de saúde
implantadas ao longo do tempo, dentro de uma perspectiva crítica/reflexiva,
reconhecendo o sistema de saúde como um processo em constante construção.
• Identificar os fundamentos teórico-políticos e as dimensões do processo do
movimento e da Reforma Sanitária.
• Verificar a importância histórica da VIII Conferência Nacional de Saúde.
• Conhecer e analisar o processo de construção do SUS em sua base legal e
social de sustentação.
• Conceituar e identificar os princípios do SUS.
• Reconhecer o SUS como modelo legalmente constituído, com os seus avanços,
dificuldades e desafios contemporâneos.
• Constatar as principais políticas de saúde no período pós-constituinte.
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

74
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Prezado acadêmico, é com satisfação que apresentamos o Capítulo 2,
intitulado Políticas de Saúde: um olhar sobre o SUS, da disciplina Políticas de
Saúde.

Esse material didático reúne temas relacionados às Políticas Públicas de


Saúde, enfatizando o Sistema Único de Saúde (SUS), considerando, inicialmente,
a Reforma Sanitária e a VIII Conferência Nacional de Saúde, para em seguida
versarmos sobre o SUS como política de saúde, apresentando seus principais
desafios e perspectivas e, finalmente, abordaremos as principais políticas de
saúde no período pós-constituinte e sua relação com o SUS.

Como você pode perceber, trataremos de temas complexos e, portanto,


apresentaremos um panorama geral sobre as temáticas envolvidas, considerando-
se a heterogeneidade e as infinitas vertentes. Partindo dessa premissa, nosso
intuito é fazer com que você pluralize seu olhar, a fim de proporcionar uma reflexão
crítica, pois o eixo orientador deste capítulo está largamente baseado no Sistema
Único de Saúde (SUS), nosso protagonista.

O tema central da nossa disciplina são as políticas de saúde, assim, é notório


que elas são fundamentais para todas as dimensões da vida cotidiana, visto que
a afetam de forma direta e indireta ao abranger comportamentos e ações que
contribuem para a melhoria da saúde da população, além de desempenhar papel
preponderante nos serviços e sistemas de saúde, à medida que respondem às
necessidades populacionais.

No capítulo anterior, viajamos no tempo e vimos que a política de saúde


brasileira apresentou características divergentes em cada momento histórico.

De forma sucinta, podemos asseverar que no Brasil Colônia e Imperial


(1500 a 1889), a organização sanitária era basilar, episódica e centralizada, sendo
incapaz de assegurar assistência à saúde da população. Já a República Velha
(1889 a 1930) foi caracterizada pela omissão por parte do governo no que se
refere à assistência, uma vez que não havia um sistema de saúde e o Estado
somente intervinha em situações extremas. No que se refere à atenção à saúde
da população, ela ocorria por meio de campanhas impositivas.

As décadas seguintes foram marcadas pela manutenção do sanitarismo


campanhista, sendo posteriormente priorizadas a assistência médico-hospitalar
e a criação da medicina de grupo, com ações curativas e individuais, bem como
privilegiando somente a classe trabalhadora formal, excluindo milhares de
brasileiros da assistência à saúde.
75
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Durante o decorrer da história, constatamos também que houve a tentativa


de reverter o quadro caótico que se apresentava, por meio da criação de diversos
órgãos, departamentos e institutos (SNA, INPS, INAMPS, FUNRURAL, SUDS,
entre outros), a fim de ofertar “saúde” ao povo brasileiro, os quais não obtiveram
êxito.

No contexto atual, o Brasil se organiza em um sistema político federativo


alicerçado em três esferas de governo (União, estados e municípios) consideradas
pela Constituição de 1988 como entes autônomos administrativamente e
sem vínculo hierárquico, composto por 26 estados e o Distrito Federal e 5.570
municípios, com uma população estimada em mais de 211 milhões de habitantes,
de diversos pertencimentos étnicos, socioculturais e econômicos, espalhados
em mais de 8 milhões de km² (IBGE, c2020). Desta feita, garantir um sistema de
saúde público, gratuito e de qualidade é um desafio.

Assim, convidamos você a continuar a viagem pela máquina do tempo, que


levará ao universo do SUS. O embarque acontece na década de 1980, sendo que
aqueles que vivenciaram esses momentos relembrarão e aqueles que não haviam
nascido terão a oportunidade de apreender, mas antes de chegar ao destino
principal, ocorrerão duas escalas: a primeira no Movimento Sanitário – Reforma
Sanitária Brasileira –, e a segunda parada será na VIII Conferência Nacional de
Saúde (CNS), como já mencionado. Após, a viagem segue com destino à criação
do SUS, com desembarque nos dias atuais.

Então, preparado para mais essa aventura? Boa viagem!

2 PROCESSO HISTÓRICO DO SUS


Como era o SUS antes do SUS? No capítulo anterior, você já se apropriou
dos antecedentes históricos, fazendo uma imersão nos diversos acontecimentos.
Para respondermos a esse questionamento, relembraremos rapidamente os
últimos episódios da história.

Antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a atuação do setor


público estava baseada na assistência médico-hospitalar, a qual era prestada por
meio do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS),
que era uma autarquia do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS)
e não do Ministério da Saúde, que desenvolvia basicamente ações e campanhas
de vacinação e controle de endemias. A assistência à saúde, nessa época,
beneficiava apenas os trabalhadores formais, que eram segurados do INPS, junto
aos seus dependentes. Portanto, não tinha caráter universal.

76
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Diante desse cenário, podemos dizer que antes da criação do SUS, o Estado
brasileiro era de certa forma negligente com relação à saúde da população, uma
vez que era de senso comum que o próprio cidadão deveria cuidar da sua saúde,
já que a intervenção estatal ocorria apenas em casos considerados graves, os
quais não podiam ser resolvidos pelo indivíduo ou que representassem risco à
saúde pública ou à economia (epidemias).

Antes de adentrarmos no processo histórico do SUS, conforme havíamos


informado no Capítulo 1, retomaremos os temas Reforma Sanitária e VIII
Conferência Nacional de Saúde.

2.1 REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA

Inicialmente, faz-se necessário relatar que não é nossa intenção esgotar


esse tema, dada a dimensão e relevância, mas sim tecer algumas questões
importantes para que você possa contextualizar com a construção do SUS,
apresentando, assim, uma visão panorâmica da Reforma Sanitária no Brasil.

Também é importante frisar que devido às inúmeras bibliografias que


abordam essa temática, optou-se por se concentrar naquelas em que os autores
e/ou entidades participaram ativamente do movimento, em especial a obra de
Sarah Escorel, publicada em 1999, resultante da sua tese, orientada por Sérgio
Arouca, servindo de base para a elaboração do nosso tópico por ser referência
dentre as publicações existentes, e a tese de Jairnilson Paim, defendida em 2007.

Diante dessas considerações preliminares, daremos início à fundamentação


teórica.

Os relatos em torno da origem da Reforma Sanitária brasileira surgem por


volta da segunda metade do anos 1970, período que se compatibiliza com as
criações, em 1976, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) e da
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO), em
1979 (ESCOREL, 1999; PAIM, 2008).

Relativo a essas duas entidades (CEBES e ABRASCO) e suas vinculações


com a Reforma Sanitária, mereceriam um tópico à parte, devido à importância e
destaque que tiveram para o processo por meio do movimento sanitário, assim
como atuação na VIII CNS e especialmente para a construção da saúde coletiva
no Brasil, no entanto, foge aos objetivos da disciplina.

77
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Se você quer aprofundar seus conhecimentos sobre o CEBES


e a ABRASCO, sugerimos que acesse a Parte II - A articulação do
movimento sanitário - O movimento estudantil e o Centro Brasileiro
de Estudos de Saúde (Cebes), do livro Reviravolta na saúde: origem
e articulação do movimento sanitário, de Sarah Escorel, disponível
em: http://books.scielo.org/id/qxhc3/pdf/escorel-9788575413616-06.
pdf e o livro Saúde Coletiva como compromisso: a trajetória da
ABRASCO, de Nísia Trindade Lima e José Paranaguá de Santana,
disponível em:
http://www.abrasco.org.br/publicacoes/arquivos/20070913164801.pdf.

De maneira sucinta, podemos dizer que tanto o CEBES como a ABRASCO


defendiam, na época, a promoção da saúde em vez de políticas públicas que
somente se preocupavam com o controle das doenças, a existência de um
sistema de saúde universal e unificado e a participação social (LIMA; SANTANA,
2006; SOPHIA, 2012).

Por que surge um movimento sanitário? De acordo com Escorel (1999), um


pensamento transformador na área da saúde surge no período da ditadura militar,
no momento mais repressivo, no qual a classe popular e seus representantes eram
calados pelo regime. Manifesta-se, então, uma “voz”, sob bases universitárias, em
busca dos personagens, ou seja, da classe popular e da classe trabalhadora, que
não marcava presença no cenário político (geral e setorial), antes mesmo delas
próprias se organizarem, sendo, portanto, esse desenvolvimento teórico que
acabou dando sustentação ao movimento sanitário.

Nessa perspectiva, o movimento da Reforma Sanitária brasileira iniciou na


década de 1970, por profissionais da saúde e pessoas vinculada ao setor, em
busca da melhoria das condições de saúde, qualidade de vida e de atenção à
saúde da população, tendo o sanitarista Sérgio Arouca como um dos principais
militantes, em um cenário repressivo, devido à ditadura militar, e de crise
econômica, repercutindo de maneira negativa nas condições de vida e saúde do
povo brasileiro.

Assim, buscava-se a transformação do setor saúde, por meio de práticas


ideológicas, teóricas e políticas, visando à consecução dos direitos de cidadania
(ESCOREL, 1999; 2008).

78
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Conforme Escorel (1999), esse movimento iniciou dentro das universidades


por ação conjunta entre professores e alunos da área da saúde, em especial de
medicina, que pressionavam para que houvesse uma maior aproximação com a
realidade sanitária populacional. Em sua composição original, era formado por
três vertentes principais: o CEBES, em conjunto com os estudantes; os médicos
residentes e de renovação médica e os profissionais das áreas de docência e
pesquisa das universidades, sendo o CEBES o veículo de difusão e ampliação
dos debates e elaboração das propostas.

Portanto, foi um movimento social organizado, que se revelou muito mais


permanente do que pontual, representado por diversas categorias (professores,
acadêmicos, pesquisadores, profissionais, sociedades científicas, entidades
comunitárias, sindicatos) que lutava pela reestruturação do sistema de serviços
de saúde e defendia a democratização da saúde, sendo contrário à política de
saúde vigente, que era da medicina privatista previdenciária, que já mencionamos
no capítulo anterior.

O movimento sanitário foi conceituado por Escorel (1999, p. 63) como a


“articulação de um grupo de pessoas em torno de um pensamento e de uma
proposta de transformação do setor saúde [...] com uma atuação bem definida e
bem visível para outros setores”.

Nessa dimensão, o movimento sanitário apregoava a criação de um sistema


único de saúde, sendo o Estado o responsável soberano, sendo delegado
a ele o planejamento e a execução da política de saúde, devendo estabelecer
mecanismos para o financiamento desse sistema, que deveria ser organizado
de forma descentralizada, permitindo que a população participasse de forma
democrática para que obtivesse maior eficácia (ESCOREL, 1999).

Vale salientar que, de acordo com a Fiocruz (c2020), a Reforma Sanitária foi
aventada durante um período de mudanças intensas, cuja realidade social (anos
1980) era de exclusão da maioria da população no que se refere aos direitos à
saúde, haja vista que a assistência era restrita aos contribuintes do INAMPS, e
desde sempre teve o objetivo de ser muito mais do que uma reforma setorial,
ambicionando servir à democracia e à consolidação da cidadania no Brasil.
Ademais, o movimento sanitário apresentava basicamente quatro propostas
concretas: 1ª – o direito de todo cidadão, sem distinção, exclusão ou discriminação,
ao acesso à assistência pública de saúde; 2ª – as ações de saúde deveriam ser de
cunho preventivo e/ou curativo; 3ª – descentralização administrativa e financeira
da gestão e 4ª – controle social das ações de saúde.

Não podemos deixar de mencionar o trabalho de Silvia Gerschman, A


democracia inconclusa: um estudo da reforma sanitária brasileira (1999), que
versa, dentre vários temas, a atuação dos movimentos populares de saúde e o
79
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

movimento médico, considerando-os protagonistas no processo de formulação e


implementação das políticas de saúde entre os anos de 1970 e 1994, assim como
aborda as limitações da Reforma Sanitária, que, segundo a autora, deixam de ser
vistas como derrota e tornam-se parte de um processo inconcluso da construção
da democracia.

Gerschman (1999) aponta também para o importante papel que os


movimentos sociais tiveram para a construção dos ideais da Reforma Sanitária,
os quais foram expressos na VIII CNS. Portanto, os princípios e as diretrizes
da Reforma Sanitária foram sistematizados nesta Conferência, destacando-se
o conceito ampliado de saúde, o sistema unificado de saúde e a participação
popular. Lembrando que esse movimento está presente até os dias atuais, tendo
como a bandeira de luta a continuidade e a consolidação do SUS, que serão
discutidas posteriormente.

O que vem a ser exatamente a Reforma Sanitária? Segundo Paim (2007,


p. 135), a primeira edição do Jornal da Reforma Sanitária tentou definir o que é
Reforma Sanitária, relatando que “deve ser entendida como um longo processo
político de conquistas da sociedade em direção à democratização da saúde, num
movimento de construção de um novo Sistema Nacional de Saúde”.

Nessa acepção, sobre a democratização da saúde, Paim (2007) relata que


para que ela aconteça, deve-se ir muito além do que a formulação de uma Política
Nacional de Saúde ou a construção de um novo Sistema Nacional de Saúde,
sendo necessária uma revisão das concepções, paradigmas e técnicas, de forma
crítica, além de mudanças no relacionamento entre Estado e seus aparelhos com
a sociedade.

Lembrando que o tema “Saúde é democracia” foi a tônica das proposições


da Reforma Sanitária, a qual foi defendida pelo sanitarista Sergio Arouca em seu
discurso de abertura na VIII CNS.

Sérgio Arouca elaborou a primeira sistematização sobre o que seria a Reforma


Sanitária, a qual deveria ser entendida como um processo de transformação da
atual situação sanitária, com base em pelo menos quatro dimensões (específica,
institucional, ideológica e das relações), levando à discussão cinco questões:
estrutura do SUS, controle social, modernidade, ciência e tecnologia e produção
(PAIM, 2007).

Cabe salientar que, na época, não houve um consenso para a definição de


Reforma Sanitária, apesar dos esforços em delimitar de forma teórica e conceitual.
Após revisarem as concepções de saúde e seus determinantes, concluíram que
a Reforma Sanitária é uma ideia (que se plasmava durante a ditadura); uma

80
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

proposta (apresentada pelo CEBES); um movimento (mobilizando forças


sociais, ideológicas e políticas); um projeto (sintetizado no Relatório Final da VIII
CNS) e um processo (transformando-se em bandeira de luta) simultaneamente.
Paim (2007) concluiu e definiu que a Reforma Sanitária Brasileira é uma reforma
social centrada nas democratizações da saúde, do Estado e da sociedade e
cultura.

Assim, podemos depreender que a definição de Reforma Sanitária não é


unívoca, apresentando distintos entendimentos, uma vez que envolve posições e
perspectivas acerca do tema em si.

De acordo com Souza et al. (2019), a Reforma Sanitária Brasileira obteve


conquistas importantes por meio de três vias estratégicas, ou seja, pela via
parlamentar, uma vez que registrou o direito à saúde e criou o Sistema Único de
Saúde na Constituição; pela via técnico-institucional, haja vista que possibilitou a
implantação de políticas e programas de saúde; e pela via sociocomunitária, ao
passo que apostou na participação social.

Outro aspecto importante a ser retratado é que a expressão Reforma


Sanitária não consta nos relatórios das CNS posteriores, somente ressurgindo
na XII CNS, em 2003. Além disso, é relevante recordar que a Reforma Sanitária
Brasileira impulsionou a criação do Sistema Único de Saúde, instituído pela
Constituição Federal de 1988.

No que tange ao movimento sanitário, entre 1986 e 1990, ele passou por
significativas transformações, assumindo uma configuração diferenciada daquela
de sua origem, que lhe imprimiram novas características, incorporando novas
vertentes. Com isso, surgiram alguns conflitos e pontos de tensão dentro do próprio
movimento, assim como novos desafios externos a serem enfrentados. Nesse
sentido, o processo da Reforma Sanitária adentrou em um momento caracterizado
por ser eminentemente de base local e municipal (ESCOREL, 1999).

Na atual conjuntura, ainda existe o movimento da Reforma


Sanitária? Não traremos a resposta para esse questionamento, pois
queremos que você acesse o link a seguir, leia o material intitulado
Para onde vai a Reforma Sanitária Brasileira? e tire as suas próprias
conclusões. Disponível em:
https://www.analisepoliticaemsaude.org/oaps/boletim/
edicao/17/.

81
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Sugerimos que você acesse a videoaula - Parte 1 - Reforma


Sanitária: trajetória e rumos do SUS, de Jairnilson Paim, disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=PRssz1_wcEU, bem como
a Parte 2, que está disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=o2ESpAg9FG4&t=21s.

2.2 VIII CONFERÊNCIA NACIONAL DE


SAÚDE
Iniciamos o nosso tópico com a imagem da VIII Conferência Nacional de
Saúde, bem como com seus eixos temáticos (principais temas) e elementos
constitutivos.

Da mesma forma que relatamos no tópico anterior, não é nossa intenção


nos aprofundar nesse assunto, mas trazer à tona os principais elementos para
que você possa compreender a dimensão e a significância dessa Conferência,
ocorrida há mais de 30 anos, que continua sendo reverberada até hoje.

FIGURA 1 – VIII CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE

FONTE: <https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/592-8-conferencia-
nacional-de-saude-quando-o-sus-ganhou-forma>. Acesso em: 13 maio 2020.

82
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

QUADRO 1 – CONFERÊNCIA NACIONAL DA SAÚDE


PRINCIPAIS TEMAS: Saúde como direito.

Reformulação do Sistema Nacional de Saúde.

Financiamento do setor.

PRINCIPAIS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: Ampliação do conceito de


saúde.

Reconhecimento da saúde como direito de todos e dever do Estado.

Criação de um Sistema Único de Saúde.

Participação popular.

Constituição e ampliação do orçamento social.


FONTE: Adaptado de Paim (2007)

Pronto para conhecer ou relembrar um pouco desse fato histórico? Então,


vamos lá!

Em julho de 1985, por solicitação do Ministro da Saúde, o Presidente da


República convoca a VIII CNS, que foi realizada em março de 1986. Ressalta-se
que essa convocação ocorreu durante um conflito entre o Ministério da Saúde
(MS) e o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), uma vez que a
ideia era levar o INAMPS para o MS e estender a assistência à saúde aos demais
que não eram previdenciários, conforme uma das propostas do movimento
sanitário, o que não foi bem-aceito pelo MPAS. Assim, a VIII CNS seria uma
tentativa de solucionar o impasse (PAIM, 2008; CHAGAS; TORRES, 2008).

Ainda em 1985, a ABRASCO elabora um documento, denominado Pelo


direito universal à saúde, assumindo a bandeira da Reforma Sanitária para
fundamentar as discussões a serem apresentadas na VIII CNS. Nesse documento
foi salientado que a saúde deveria ser vista como um conjunto de condições
de vida que devem ir além do setor saúde, bem como defendeu a participação
da população na política de saúde e o controle da sociedade sobre o aparelho
estatal (controle social), definindo uma estratégia política e diretrizes a fim de
subsidiar elementos teóricos, técnicos e científicos para a Reforma Sanitária a ser
desenvolvida a partir de 1987 (PAIM, 2007).

O Relatório final da VIII CNS, elaborado pelo Prof. Guilherme R. da Silva,


registrou a participação de mais de 4 mil pessoas, incluindo mil delegados
(indicados por organizações e entidades), tornando-se o maior evento em termos

83
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

de participação populacional para debater políticas e programas de saúde. Vale


lembrar que as CNS anteriores se pautavam por um caráter eminentemente
técnico, com participação quase restrita de técnicos e gestores, com baixa
representatividade social (BRASIL, 1986; CHAGAS; TORRES, 2008).

De acordo com o Relatório, os temas centrais da VIII CNS foram: Saúde


como direito (tratou dos aspectos da saúde em geral e como ela seria definida no
Brasil); Reformulação do Sistema Nacional de Saúde (apresentou a necessidade
de um sistema de saúde capaz de suprir as demandas, iniciando-se a discussão
da formação de um sistema de saúde que fosse único); Financiamento setorial
(tratou sobre como esse sistema seria financiado) (BRASIL, 1986). Outros temas
também foram debatidos, dentre eles a hierarquização, a participação popular, o
atendimento integral, as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde
etc., proposições advindas dos movimentos da Medicina Preventiva da Saúde
Comunitária (PAIM, 2007).

Quer ter acesso aos Anais da VIII CNS? Basta acessar:


http://www.ccs.saude.gov.br/cns/pdfs/8conferencia/8conf_nac_
anais.pdf.

O Relatório da VIII CNS indicou a necessidade de mudanças no sistema de


saúde brasileiro, apontando que tais mudanças não seriam alcançadas apenas
com reformas administrativas e financeiras, seria necessário ampliar o conceito de
saúde, revisar a legislação, recomendando que um novo sistema único de saúde
fosse formado, desmembrado da Previdência, ou seja, era fundamental uma
Reforma Sanitária. Também expôs a necessidade da participação da população
na formulação da política, planejamento, gestão e avaliação do sistema de
saúde, por intermédio de órgãos representativos. Cabe frisar que este documento
fomentou a criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS),
em 1987, o qual mencionamos no Capítulo 1, assim como o Sistema Único de
Saúde (SUS).

Dessa forma, a VIII CNS definiu as estratégias a serem defendidas na


Constituição de 1988 e contribuiu com ideias fundamentais para a constituição
do novo Sistema Único de Saúde, como a participação popular, a equidade
(acesso dos que necessitam de mais atenção, tratando os desiguais de forma
igual, priorizando os que têm menos); a descentralização (gestão dos serviços

84
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

em MS, SES, SMS); a integralidade (superação da dicotomia serviços preventivos


e curativos), ver o indivíduo como um todo, verificando os fatores que levaram
à doença; a universalidade (cobertura populacional de qualquer classe
socioeconômica, prevalecendo a equidade).

Ressalta-se que ao encerrar a VIII CNS, novas imposições foram colocadas


para a Reforma Sanitária, sendo instituída a Comissão Nacional de Reforma
Sanitária (CNRS), composta por representantes de diversos segmentos
público e privado, a qual teria como responsabilidade estruturar as resoluções
da Conferência, trabalhando de forma técnica o documento que seria entregue
para a Assembleia Constituinte, contribuindo para a nova Constituição (CHAGAS;
TORRES, 2008). Entretanto, Paim (2007) relata que a CNRS não desempenhou
de maneira satisfatória sua função, que seria de ser o braço normatizador, mas
que apesar das críticas, acabou apresentando um saldo positivo.

Os principais desdobramentos da VIII CNS foram a formação da CNRS e


a conformação da Plenária Nacional de Entidades de Saúde, a qual se fez
representar no processo constituinte a fim de que as propostas elaboradas durante
a Conferência fossem aprovadas, culminando em um capítulo sobre saúde inédito
na história constitucional (ESCOREL, 1999).

Conforme Paim (2007), após a VIII CNS, houve um certo imobilismo por parte
do governo e falta de compromisso com o projeto da Reforma Sanitária, causando
perplexidade das entidades, uma vez que o Ministério da Saúde continuou com
a sua prática campanhista no combate à dengue. Necessitando, desta forma, da
intervenção do movimento sanitarista para pressionar o governo, a fim de que a
Reforma Sanitária fosse colocada em prática, sendo que a ABRASCO teve papel
fundamental.

Cabe mencionar que a Conferência em tela não ficou restrita a sua


realização, tornou-se um processo de discussão amplo e duradouro sobre política
de saúde, engendrando pré-conferências estaduais e conferências específicas,
trazendo à tona temas e áreas diversas, como saúde da mulher, da criança, do
trabalhador, saúde mental, entre outras, utilizando o Relatório Final da VIII CNS
como norteador (ESCOREL, 1999).

Assim, a VIII CNS foi um divisor de águas, reestruturando o sistema de


saúde do Brasil, bem como serviu para compor parte do texto apresentado na
Constituição Federal de 1988, sendo considerada uma das Conferências mais
importantes, se não a mais, realizada no país, devido ter sido decisiva para a
Reforma Sanitária e criação do SUS.

85
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Para elucidar a importância do Movimento da Reforma Sanitária


e da VIII Conferência Nacional de Saúde para o nosso país,
convidamos você a assistir ao vídeo de abertura da VIII Conferência
Nacional de Saúde, com a fala do sanitarista Sérgio Arouca.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-_HmqWCTEeQ e
ao vídeo que conta a história em comemoração aos 30 anos da VIII
CNS, produzido pela ENSP/FIOCRUZ, disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=zZAHdF0fNps.

Agora que já transitamos pelo Movimento e a Reforma Sanitária, assim como


pela VIII CNS, daremos prosseguimento ao nosso conteúdo e nos debruçaremos
sobre o nosso Sistema Único de Saúde, popularmente denominado de SUS.

2.3 PROCESSO HISTÓRICO DA


CONSTRUÇÃO DO SUS
Nesse tópico, propomos algo diferenciado do que estamos acostumados
a ler e estudar sobre o Sistema Único de Saúde, ou seja, não nos ateremos e
discorreremos exaustivamente sobre o seu arcabouço legal e configuração
normativa e organizativa e sim apresentaremos um universo mais abrangente, a
fim de que você possa ampliar seu olhar sobre o SUS.

Desta forma, pontuaremos rapidamente alguns aspectos importantes, uma


vez que os marcos regulatórios do SUS são bastante conhecidos.

86
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

FIGURA 2 – A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

FONTE: <http://auxiliardasaude.blogspot.com/2017/07/22-promocao-
da-saude-e-o-modelo-da.html>. Acesso em: 13 maio 2020.

Revisitaremos a história da construção do SUS, por isso a escolha da figura


anterior, a qual representa bem o que retrataremos nesta seção.

Imagine mais de 140 milhões de pessoas em um local (essa era a estimativa


populacional no ano de criação do SUS). Consegue visualizar? É muita gente,
não é mesmo? Agora pense que deve ser construído um local para atender toda
essa população. É essa analogia que podemos e devemos fazer ao pensar sobre
o SUS. Por isso ele é considerado o maior sistema de saúde do mundo, tornando-
se referência internacional.

Por falar em sistema, você sabe o que significa sistema de saúde? Conforme
a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) (2007, p. 317) entende-se
por sistema de saúde “o conjunto de entidades encarregadas das intervenções
na sociedade que têm como principal propósito a saúde”, sendo que essas
intervenções/ações de saúde englobam a assistência às pessoas, com o objetivo
de promover, proteger ou recuperar a saúde e/ou reduzir e/ou compensar uma
incapacidade irrecuperável. Portanto, os sistemas de saúde são o reflexo dos
valores sociais, os quais se expressam institucional e juridicamente, nos quais a
formulação das políticas de saúde se enquadra.

Cabe salientar que definição, estruturação (funcionamento e organização) e


objetivos de um sistema de saúde são característicos de cada país, conforme
o contexto econômico, político e histórico em que está inserido. Ademais, um
sistema de saúde, além de prestar serviços em saúde, oferta ações de saúde
pública. De acordo com Giovanella et al. (2012, p. 89):

Sistema de Saúde é o conjunto de relações políticas,


econômicas e institucionais responsáveis pela condução dos
processos referentes à saúde de uma dada população, que
se concretizam em organizações, regras e serviços que visam
alcançar resultados condizentes com a concepção de saúde
prevalente na sociedade.
87
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Agora que já se apropriou do conceito de sistema de saúde, convidamos você


a refletir sobre o SUS. O que significa a expressão Sistema Único de Saúde ou a
sigla SUS? Por que ele é único? Para compreendermos, que tal desmembrarmos
e analisarmos de forma individual cada termo?

• S = Sistema: conjunto de unidades, serviços e ações que interagem


para um determinado objetivo comum, sendo que os elementos que o
compõem são as atividades de promoção, proteção e recuperação da
saúde (LIMA, 2016). Assim, o SUS não é uma instituição ou um serviço
e sim um sistema, que é formado por várias instituições nos três níveis
governamentais e pelo setor privado, o qual é contratado e conveniado,
formando um corpus.
• U = Único: é único porque se refere à unificação de dois sistemas, ou
seja, o previdenciário e o do Ministério da Saúde (secretarias estaduais
e municipais de saúde) consubstanciada no acesso universal e ao
comando único em cada esfera governamental (FIOCRUZ, c2020).
Ademais, segue os mesmos princípios organizativos e doutrinas em todo
o território nacional (LIMA, 2016). Assim, a ideia de unicidade do SUS
nada mais é do que a padronização da organização, com os mesmos
objetivos e funcionamento, conforme o modelo nacional.
• S = Saúde: compreendida como resultante e condicionante de condições
de vida, trabalho e acesso a bens e serviços e, portanto, componente
essencial da cidadania e democracia e não apenas vista como ausência
de doença e objeto de intervenção da medicina (FIOCRUZ, c2020).

Para Paim (2015), conhecer a sigla em sua forma estendida não significa
compreender o seu conceito, uma vez que o SUS é especial, distinto, que não se
pode reduzir à junção de três palavras: sistema + único + saúde.

Em termos conceituais, a expressão “Sistema Único de Saúde” faz alusão


ao formato e aos processos jurídicos institucionais e administrativos que se
coadunam com a universalização do direito à saúde. Já em termos pragmáticos,
refere-se à rede de instituições (serviços e ações), a qual é responsável em
garantir o acesso à atenção à saúde (FIOCRUZ, c2020).

Nessa dimensão, o SUS não pode ser considerado um sistema de


prestação de serviços assistenciais, uma vez que ele é um sistema complexo,
que tem inúmeras atribuições, atuando em diversas áreas, tendo como principal
incumbência articular e coordenar ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e preventivas,
conforme preconizado no Art. 5º da Lei nº 8.080/90 (BRASIL, 1990).

88
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Seria um sistema, tendo em vista que não funciona como


deveria e está ineficiente e ineficaz?
É único, uma vez que existe serviço suplementar e privado?
E a saúde, já que está voltado mais para a doença?

O Sistema Único de Saúde é definido pela Lei Federal nº 8.080/90 em seu


Art. 4º como:

[...] conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos


e instituições Públicas Federais, Estaduais e Municipais, da
Administração Direta e Indireta e das Fundações mantidas
pelo Poder Público. [...] A iniciativa privada poderá participar
do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar
(BRASIL, 1990).

Oficialmente, a criação do SUS foi registrada em 1988 na Constituição


Federal, mas vimos que a sua concepção (ideia e proposta) se inicia no final
da década de 1970, mais especificamente em 1979, por meio do documento A
questão democrática na área da saúde, apresentado pelo CEBES no 1º Simpósio
Nacional de Política de Saúde, conforme evidenciado no capítulo anterior da nossa
disciplina, ou seja, o SUS foi concebido muito antes de 1988, pela sociedade
e pela Academia, uma vez que os valores, os princípios, as diretrizes e demais
normativas que regem o SUS constavam nesse documento.

De quem é o SUS? O SUS, como a Figura 3 do Conselho Nacional de Saúde


muito bem indica, é de todos e de cada cidadão, sendo a maior expressão de
uma política social e democrática. No entanto, cabe lembrar que ainda não há um
sentimento de pertencimento por parte da população com relação ao SUS, o que
pode ser corroborado quando se evidencia na mídia que os próprios governantes,
autoridades públicas, entre outros, são atendidos na rede privada.

O próprio Estado valida a expressão de que o SUS é para os pobres, à


medida que os próprios servidores não o utilizam. Desse modo, infelizmente,
faz parte do senso comum de gestores, políticos, mídia, profissionais de saúde
e da população atrelar o SUS ao atendimento daqueles que não têm condições
financeiras de pagar um plano privado, ou seja, dos pobres, esquecendo-se que
ele é universal e pertence ao povo e não ao governo, como muitos pensam.

89
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

FIGURA 3 – O SUS NÃO É DE NENHUM GOVERNO, É DO POVO BRASILEIRO

FONTE: <https://pontocritico.org/12/04/2018/sistema-unico-de-saude-sus-ameacado/o-
sus-nao-e-de-nenhum-governo-e-do-povo-brasileiro/>. Acesso em: 16 maio 2020.

Para complementar o que foi exposto, propomos que você leia o


artigo É o Sistema Único de Saúde-SUS para os pobres? Disponível
em:
https://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/index.php/cadernos/
article/view/391.

A Constituição de 1988, ao instituir a saúde como direito de cidadania e


dever do Estado, rompeu com o padrão de política social anterior, marcado
pela exclusão de milhares de brasileiros que não tinham acesso à atenção e
assistência à saúde, sendo que, após 1988, a atenção e a assistência à saúde
passaram a ser ofertadas para essa demanda, o que se tornou a maior conquista
social da história do Brasil.

Dessa forma, o SUS é assegurado pelo Estado e gerido sob responsabilidade


das três esferas autônomas (municípios, estados e União), sendo regulamentado
pelas Leis Orgânicas da Saúde (LOS) nº 8.080/90, a qual foi regulamentada pelo
Decreto nº 7.508/2011, e pela Lei nº 8.142/90 (BRASIL, 1990a; 1990b; 2011a).

De forma concisa, a Lei nº 8.089/90 dispõe a organização e o funcionamento


dos serviços e ações com finalidade de proteção, promoção e recuperação da
saúde, bem como define os objetivos do SUS, que são: a identificação e divulgação

90
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; a formulação de política


de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância
do disposto no § 1º do Art. 2º desta lei; a assistência às pessoas por intermédio
de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização
integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas (BRASIL, 1990a).
Ficam também estabelecidos os princípios e diretrizes e algumas determinações
com relação ao seu funcionamento.

No entanto, após as LOS, ao longo das décadas, diversas normas e


pactos foram editados e acertados, objetivando operacionalizar, normatizar e
organizar os serviços e ações. Durante a implantação do SUS, o foco estava
na descentralização (municipalização) dos serviços, sendo criadas as Normas
Operacionais Básicas (NOB), as quais não explicitaremos nesse momento, pois
serão elencadas na Seção 3 deste material.

Depois de duas décadas de operacionalização do SUS por intermédio de


portarias ministeriais, foi publicado o Decreto nº 7.508/2011, o qual é o dispositivo
legal no que se refere à organização do SUS, ao planejamento da saúde,
à assistência à saúde e à articulação interfederativa (Art. 1º). A partir dele, os
serviços de saúde devem ser estruturados na Região de Saúde, em Redes de
Atenção à Saúde (com suas respectivas Portas de Entrada), conforme Art. 4º e 5º.
Ele também institui o Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP),
que tem como meta organizar e integrar as ações e os serviços de saúde na
Região, a fim de garantir a integralidade da assistência à saúde da população
(BRASIL, 2011a). Portanto, esse Decreto traz novos conceitos e cria dispositivos.

O Decreto nº 7.508/11 pode ser acessado na íntegra por meio


do seguinte link:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/
Decreto/D7508.htm.

Como já colocado, os rumos históricos, especialmente os dos anos 1970 e


1980, possibilitaram uma nova perspectiva para a saúde no contexto brasileiro,
fazendo com que o SUS incorporasse os princípios sustentados pela Reforma
Sanitária, sendo que a estrutura organizacional e as diretrizes foram inspiradas,
em sua maioria, nas políticas de bem-estar social de diversos países (SANTOS;
MELO, 2018).

91
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Assim, seu tripé de sustentação se constitui nos princípios doutrinários:


universalidade (visa à garantia de que todas as pessoas tenham acesso à
saúde, a qual deve ser promovida pelo Estado, ou seja, todo cidadão é igual
perante o SUS e será atendido conforme as suas necessidades, sem distinção
ou restrições e sem custo); equidade (visa combater as desigualdades em
saúde no país, embora todos tenham direito à saúde, nem todos têm as mesmas
condições de acesso aos serviços de saúde e, desta forma, a maneira de
dirimir essa desigualdade é tratar de maneira desigual os desiguais, ou seja, é
ofertar mais a quem mais precisa, conforme pode ser visualizado na Figura 3.
Como exemplo, podemos citar uma pessoa que necessita de atendimento, mas
não pode se deslocar até o local de atendimento, sendo que para isso tem as
atividades de atenção domiciliar) e integralidade (pode-se dizer que apresenta
dois significados complementares: o da integralidade do cidadão, que considera
a pessoa como um todo, atendendo as suas necessidades, e a integralidade
das ações a ele dirigidas, sem cisão da prevenção com a cura, abrangendo a
promoção, a proteção e a recuperação da saúde. Resumidamente, ver como um
todo (holisticamente) e agir nesse todo, integralmente).

Cabe salientar que, incontestavelmente, a construção de um sistema de


saúde de acesso universal, gratuito, equânime e com atendimento integral é uma
demonstração de ousadia em um país com tamanha desigualdade social, bem
como uma evolução civilizatória.

Sugerimos que você assista ao vídeo elaborado pela Fiocruz,


o qual conta parte da história da construção do SUS, disponível
em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=51&v=Cb-
cslNmGnE&feature=emb_logo.

O SUS é um sistema público, disponibilizado a toda a população brasileira


(universalização) e financiado com recursos arrecadados por meio dos impostos
pagos por pessoas físicas e jurídicas. Portanto, podemos inferir que ele não é
gratuito, uma vez que é financiado pela sociedade brasileira. Embora ele seja
reconhecidamente como público, segundo a Constituição de 1988, os princípios
externados na Lei nº 8.080/90 não trazem a administração pública do sistema de
forma categórica (SANTOS; MELO, 2018).

As opiniões são diversas entre os estudiosos do tema “SUS”. Para Souza et


al. (2019), o Brasil não tem um sistema realmente único de saúde e sim dispõe

92
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

de vários serviços fragmentados, os quais disputam os mesmos recursos, com


a oferta de serviços que reflete e reproduz desigualdades sociais, mantendo a
iniquidade, desfavorecendo grupos vulneráveis, comprometendo a integralidade
da atenção, haja vista a priorização do diagnóstico e tratamento de doenças, em
prejuízo à prevenção e à promoção da saúde. Quem usa o SUS?

FIGURA 4 – TODOS USAM O SUS

FONTE: <http://alvarodegas.blogspot.com/2017/01/vai-
pro-sus.html>. Acesso em: 17 maio 2020.

Estamos acostumados a somente associar o SUS à assistência médico-


hospitalar, esquecendo-se que a rede que compõe esse sistema é enorme.
Portanto, todos usam o SUS, de uma forma ou de outra, seja por meio da vigilância
sanitária, que inspeciona os estabelecimentos comerciais (supermercados,
restaurantes, ópticas, farmácias etc.) ou por intermédio dos agentes de saúde,
que vistoriam as casas a fim de evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti
ou quando ocorre algum resgate pelos bombeiros ou pelo SAMU, por exemplo.

Também não podemos deixar de mencionar os diversos procedimentos de


média e alta complexidade realizados pelo SUS, como quimioterapia, doação
de sangue, transplante de órgãos, doação de leite humano, hemodiálise,
medicamentos de alto custo, dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
dos serviços pré-hospitalares de urgência e emergência (SAMU), dos Centros
Regionais de Saúde do Trabalhador (CEREST), do acesso livre e universal ao
tratamento de HIV, entre outros. Lembrando que o SUS atende aos usuários dos
serviços de saúde privados quando necessitam de atenção de alta complexidade.

É nítido que são inúmeros os serviços oferecidos pelo SUS, sendo que a
rede cresce cada vez mais à medida que são introduzidos novos tratamentos e
medicamentos, novas políticas e programas de saúde, entre outros, cuja oferta
nem sempre é conhecida pela população.

93
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Enfim, como vimos, são várias as áreas em que o SUS atua


beneficiando a população. Portanto, ele está em toda a parte,
podendo ser considerado patrimônio nacional. Todavia, é pouco
conhecido e mal falado por muitos brasileiros, embora, durante a
pandemia do coronavírus (COVID-19), parece que aos poucos a
população está entendendo o real valor do SUS e compreendendo
o significado do princípio da universalização, e nem entraremos
no mérito da questão das constantes trocas ministeriais durante a
pandemia.

Além disso, dados da Pesquisa Nacional de Saúde, de 2013, estimam que


cerca de 75 a 80% da população brasileira é SUS-dependente no que se refere às
ações de assistência à saúde (IBGE, 2015). No contexto atual, essa situação, com
certeza, deve ter se modificado e esse cenário tende a persistir, sobretudo diante
da crise econômica já instalada e intensificada com a pandemia (COVID-19). O
que de certa forma seria o ápice do SUS, haja vista o princípio da universalidade,
não fosse o despreparo do sistema.

Relativo ao financiamento, não aprofundaremos o tema, visto que somente


sobre ele teríamos que reservar um capítulo. No decorrer da disciplina, verificamos
que a área da saúde, por parte governamental, sempre foi negligenciada.
Desde a criação do SUS, a crise no financiamento da saúde pública no Brasil
vigora, pois sabe-se que os recursos destinados a ela são insuficientes para a
tarefa de se executar um sistema universal de saúde. Portanto, as mazelas
relativas ao financiamento do sistema de saúde brasileiro são recorrentes e o
subfinanciamento sempre imperou e, nesse sentido, a insuficiência de verbas está
atrelada à qualidade dos serviços ofertados, bem como às políticas de saúde, que
recebem recursos limitados.

Conforme Silva, Giovanella e Camargo Junior (2020), apesar de, entre


2003 e 2014, ter ocorrido um aumento substancial nos gastos per capita em
saúde, por parte do governo, o SUS permaneceu subfinanciado. Dessa forma,
o financiamento em saúde nunca foi suficiente para que a meta de um sistema
universal refreasse as desigualdades sociais e regionais brasileiras. Relatam,
ainda, que a política ultraneoliberal, dos dias atuais (governo Bolsonaro), além
de impor sucessivos ataques diretos ao SUS, que não somente alteram a sua
forma de financiamento, causando sérios riscos econômicos para os estados
e munícipios, também desvaloriza o modelo de atendimento que vinha sendo
construído até há pouco tempo.
94
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Para que seja ofertado um atendimento integral (que envolva promoção,


proteção, recuperação da saúde, assim como ações preventivas), o SUS está
interligado por uma rede de serviços que segue uma lógica hierarquizada
(conforme o nível de complexidade) e regionalizada (articula os serviços de
saúde de uma região), permitindo um maior conhecimento ou reconhecimento dos
problemas de saúde da população da área delimitada, o que, em tese, favorece
ações de educação em saúde, vigilância em saúde, além das ações de atenção
ambulatorial e hospitalar.

Salienta-se que essa rede também deve estar organizada consoante aos
demais princípios organizativos, que são: descentralização (cada nível
federativo tem responsabilidades próprias, sendo que de forma contextual,
o município tem autonomia para pensar qual é a melhor estratégia para tratar
as questões relacionadas à saúde, especialmente para a atenção básica)
e participação social (garantia de que a população, por meio de seus
representantes, participe de todo processo de formulação das diretrizes e
prioridades das políticas de saúde, bem como na fiscalização da sua concretização
e no cumprimento dos dispositivos legais e normativos). Para tanto, a participação
popular pode ocorrer por intermédio dos Conselhos e Conferências de Saúde,
conforme a Lei nº 8.142/90.

Entretanto, esse último princípio (participação social),


atualmente, não está sendo considerado em sua totalidade, o que,
de certa forma, contribui para a desestruturação do SUS. Diversas
ações são realizadas de forma impositiva, sem a participação da
população, apesar de estar prevista tanto na Constituição Federal
de 1988 como na Lei nº 8.080/90. Como exemplo, podemos citar a
reforma da Política Nacional de Atenção Básica e a imposição de um
teto nos gastos públicos.

Nessa linha de interpretação, há de considerar também que, de modo geral,


a saúde não é vista como um direito do cidadão, assim como não há uma tradição
em exercer cidadania, o que contribui para que a população não atue como
protagonista para a construção e aperfeiçoamento do sistema e das políticas
públicas de saúde.

95
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

O SUS é uma nova formulação política e organizacional para a reorganização


dos serviços e ações de saúde, englobando a atenção básica/primária, média e
de alta complexidade, a atenção hospitalar, os serviços de urgência e emergência,
as ações e serviços das vigilâncias sanitária e epidemiológica, saúde ambiental
e do trabalhador, assistência farmacêutica, entre outros (BRASIL, 1990; 2011b).
Ademais, ele é um aglutinador de políticas públicas intersetoriais, as quais
veremos no próximo capítulo, a fim de prover atenção à saúde da população em
todas as suas interfaces.

É importante ter em mente que o SUS não é o sucessor do INAMPS ou do


SUDS. Ele é um novo sistema de saúde, bem definido conforme a legislação
que o rege e, apesar de ter mais de 30 anos, ainda está em construção e
aperfeiçoamento, ou seja, não está consolidado.

Quanto à consolidação ou não do SUS, Santos (2012) relata que do ponto


de vista jurídico-legal, sua implementação pode ser considerada concluída,
sendo que a Reforma Sanitária finaliza sua colaboração para um sistema público
plenamente instituído. Já sob a perspectiva da real política pública de Estado,
o SUS se encontra contra-hegemônico, engatinhando, na implementação das
diretrizes constitucionais.

Outro aspecto a destacar é que na configuração normativa do SUS está


explícito que a saúde deve ser ofertada de forma universal e de modo irrestrito,
porém não de forma exclusiva, já que pode ser suplementada por serviços
privados. Assim como o preceito constitucional apregoa que o serviço de saúde
deverá ser público e gratuito, sem que haja prejuízo e busque o serviço privado.
Portanto, o sistema de saúde brasileiro é misto (SUS e privado suplementar).

Vale lembrar que o SUS não nasceu 100% público, visto que nos Arts. 197
e 199 da Constituição de 1988 há previsão de serviços do SUS realizados por
pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, sendo a assistência à saúde de
livre iniciativa privada, mediante contrato de direito público ou convênio (BRASIL,
1988).

Todavia, essas instituições contratadas e conveniadas pelo Estado são


regidas por um arcabouço legal específico, sendo a partir daí que esses modelos
de gestão se tornam cada vez mais fortalecidos pelo Estado, por meio da Lei nº
9.637/98 e Decreto nº 3.100/99 (criação das Organizações Sociais (OS)), uma
vez que a legislação confere benefícios e autonomias para essas entidades
(KRÜGER; REIS, 2019).

Para o funcionamento do SUS, há que se considerar a definição de quem são


os gestores e suas atribuições e a forma como as decisões referentes às políticas

96
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

de saúde são processadas, atentando-se que o seu funcionamento envolve uma


quantidade expressiva de pessoas envolvidas e de serviços (MACHADO; LIMA;
BAPTISTA, 2011).

Quer saber mais ou relembrar a configuração do SUS? Acesse


a publicação do Ministério da Saúde: O SUS de A a Z: garantindo
saúde nos municípios, que está disponível em:
h t t p s : / / b v s m s . s a u d e . g o v. b r / b v s / p u b l i c a c o e s / s u s _ a z _
garantindo_saude_municipios_3ed_p1.pdf.

Cabe frisar que o caráter universal do SUS é mais perceptível nas ações de
vigilância em saúde, em virtude de que alcançam a população brasileira em sua
completude, como o Programa Nacional de Imunizações (PNI), assim como as
ações diante das epidemias/pandemias.

Outro fato que merece ser ressaltado é que a política de saúde dos anos 1995
a 2002 estava pautada na contrarreforma do Estado, sendo que nesse período
prevaleciam dois projetos de SUS. De acordo com Paim (2008), o que estava
descrito na legislação e nas normativas vigentes, pautado na universalidade e
na responsabilidade do Estado, e o SUS para os pobres, submisso às medidas
econômicas, à burocracia e ao clientelismo.

Para não nos estendermos, tendo em vista que a história é longa, faremos
um recorte e, portanto, daremos um passo à frente para abordarmos de forma
mais pontual a temática nos dias atuais.

O SUS passou por vários momentos, tempos turbulentos entre 1990 e 1992,
tempos de crise financeira e descentralização nos anos de 1993 e 1994, pela
luta política até 2015 e pela crise política, instabilidades democráticas e fortes
ameaças de desmonte, extinção e privatização, no período de 2016 a 2020.
Assim, desde o início, o SUS passou por condições adversas, seja no âmbito
político, econômico ou social.

97
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Não há como relatarmos todos os acontecimentos e fatos


históricos, por isso indicamos o artigo Políticas de saúde no Brasil
em tempos contraditórios: caminhos e tropeços na construção de
um sistema universal, de autoria de Cristiani V. Machado, Luciana
D. de Lima e Tatiana W. F. Baptista, que apresenta um excelente
resumo de 1990 a 2016. Vale muito a leitura. O artigo pode ser
acessado em: https://www.scielo.br/pdf/csp/v33s2/1678-4464-csp-
33-s2-e00129616.pdf.

Após a leitura indicada, chegou a hora de colocar em prática o que você


aprendeu nessa seção.

1 Diante do que foi exposto, propomos que você leia as situações


hipotéticas a seguir:
Situação 1:
Seu Pedro sofreu um acidente doméstico em que teve o braço
queimado por água fervente (queimadura leve). Sua esposa
logo sugeriu que ele fosse até o hospital geral. Contudo, nesse
instante, receberam a visita de um agente comunitário de saúde,
que recomendou ao Seu Pedro sua ida até a Unidade Básica de
Saúde.
Diante dessa situação, cite dois princípios do SUS que podem ser
identificados.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________

Situação 2:
Dona Jaci, atualmente com 62 anos de idade, lembra-se de quando
o atendimento médico era somente para os trabalhadores
com carteira de trabalho assinada e que mesmo assim havia
restrições de acesso a algumas necessidades de atendimento.
Eram tempos difíceis, segundo ela.
Nessa narrativa, quais os dois princípios que podem ser apontados?
R.:____________________________________________________
____________________________________________________

98
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Situação 3:
Margarida, 23 anos, necessita de um transplante de medula óssea,
o qual deverá ser realizado pelo SUS. É um procedimento de alta
complexidade e custo. Desta forma, ao assumir o financiamento
desse procedimento para Margarida, qual é o principal princípio
do SUS?
R.:____________________________________________________
____________________________________________________

3 O SUS COMO POLÍTICA DE SAÚDE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Nesta seção, a linha que traremos para você busca identificar os principais
avanços do SUS, obstáculos, desafios, perspectivas e alguns problemas
estruturais que afetam seu desenvolvimento e sua consolidação, apresentando os
desdobramentos recentes dessa história.

Depois que já possibilitamos uma aproximação com o SUS, seus


antecedentes e suas raízes, os quais vimos até aqui, é valoroso refletirmos sobre
ele, tendo em vista de que se trata de uma história marcante para as políticas
de saúde no Brasil, com lutas e inquestionáveis avanços a favor dos direitos e
necessidades da população.

Para você, o que representa o SUS? Para muitos, ainda é comum relacionar
o SUS a longas filas, falta de medicamentos, médicos e leitos hospitalares,
atendimento voltado para os pobres, enfim, a elementos e momentos não muito
interessantes e alvo de muitas críticas.

Não há uma compreensão clara e definida do que é o SUS, pois de modo


geral, tanto a população quanto os profissionais de saúde, gestores do sistema,
políticos e até mesmo estudiosos sobre o tema, frequentemente confundem-no
com serviços de saúde. Há ainda aqueles, em especial os que prestam serviço
para o SUS, que o colocam na posição de sujeito, relatando que o SUS paga mal
e não o governo, que é o responsável por tal pagamento, ou ainda, que a verba
que o SUS envia é pouca, no caso de políticos e gestores (PAIM, 2015).

Por isso a importância de se conhecer a história, pois como pudemos


constatar no Capítulo 1, isso não é prerrogativa do SUS, pois a debilidade na
atenção à saúde, as filas para atendimentos médicos e hospitalares, a dicotomia
entre atenção à saúde de pobres e de ricos, assim como o repasse de verbas

99
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

para a área da saúde e as remunerações não satisfatórias aos profissionais de


saúde, entre outras, sempre existiram, desde os primórdios da nossa história.

Ressalta-se que existem diversas vertentes relativas ao que é o SUS.


Dentre elas, há os que defendem que o SUS é uma política de Estado por ter se
materializado na Constituição de 1988, denominada por Ulysses Guimarães como
Constituição Cidadã, e por garantir para toda a população o acesso às ações e
serviços de saúde. Enquanto que outros asseguram que o SUS é a maior política
pública em execução no Brasil, no que se refere à inclusão social. Existem ainda
aqueles que o denominam como uma política pública em construção, em um
contexto mutável, considerando as dimensões políticas, sociais, tecnológicas e
ideológicas. Há quem pense que o SUS é o maior plano de saúde do Brasil e os
que o intitulam como política pública brasileira de saúde. Além de todas essas
dimensões dadas ao SUS, tem-se a tese de que ele pode ser compreendido como
um macrossistema de saúde.

Sobre o SUS ser plano de saúde, existe uma publicação


denominada O SUS pode ser seu melhor plano de saúde. Disponível
em:
http://www.idec.org.br/uploads/publicacoes/publicacoes/
cartilha_SUS_3edicao.pdf.

Para Paim (2018), o SUS precisa ser visto além de uma política de saúde
pública, pois ele é um sistema público e universal de saúde e não um sistema de
saúde pública ou parte dele. O mesmo autor relata que a mídia, os conservadores
e liberais misturam o SUS com a saúde pública, erro muito comum até mesmo
nos setores progressistas. Limitam-no ao controle de doenças, epidemias ou
à profilaxia e que poderá, se não houver atuação política a seu favor, vir a se
tornar um sistema de saúde pública americanizado, como o Food and Drug
Administration (FDA) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC),
que se restringem à regulação de produtos e serviços de interesse para a saúde
e ao controle de doenças, assim como voltado para o atendimento da população
mais carente.

100
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

O que é o SUS, de Jairnilson Paim, é um e-book interativo da


Editora Fiocruz, com edição de 2015, que está disponível em: https://
portal.fiocruz.br/livro/o-que-e-o-sus-e-book-interativo. Não deixe de
acessar, pois é muito elucidativo.

Durante a leitura do material, você pôde perceber que o SUS foi instituído
como estratégia, fundamentado na premissa de que a saúde é determinada
socialmente, a fim de garantir atendimento integral, com cobertura universal
e de forma descentralizada. Também pode-se concluir que ao longo de todo
esse período, o país mudou sua conjuntura demográfica, econômica, política,
epidemiológica e educacional, porém, não superou as desigualdades sociais e os
problemas relacionados à saúde.

3.1 AVANÇOS DO SUS: UMA VISÃO


GLOBAL
Embora sejam tecidas críticas, a trajetória do SUS é de conquistas. É
consenso que nos últimos anos houve avanços perceptíveis, trazendo, desde a
sua criação, diversas melhorias para a saúde da população no Brasil.

Entretanto, existe uma dicotomia entre as bases jurídicas do SUS, a


Constituição de 1988 e a realidade dos serviços ofertados, uma vez que esse
sistema inclusivo não conseguiu englobar toda a população, conforme os ideais
propostos pela Reforma Sanitária e os preceitos da legislação, visto que parte da
população continua ainda fora dele, sendo alocada em planos de saúde privados.

Um dos fatores justificadores dessa situação está relacionado à


indisponibilidade de serviços ofertados pelo SUS, fazendo com que as instituições
privadas logrem “clientes” com condições financeiras favoráveis, a fim de suprir
essa lacuna. Na esteira dessa concepção, há uma universalização excludente,
pois junto ao acesso, por parte de toda a população, aos serviços de saúde,
transcorreu a precarização, resultando na exclusão da classe mais abastada,
migrando para o sistema privado (FAVERET FILHO; OLIVEIRA, 1990).

De acordo com Silva, Giovanella e Camargo Junior (2020), desde


a sua criação, o SUS, apesar de todas as adversidades provenientes do

101
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

subfinanciamento, ajustes fiscais e pressão do setor privado de saúde, oportunizou


a ampliação do acesso à assistência para a população, especialmente no período
de 2003 a 2014, durante as presidências de centro-esquerda, em que houve a
expansão do acesso aos serviços, juntamente aos avanços sociais, como o
Bolsa Família, aumento sistemático do salário mínimo e aposentadoria rural,
proporcionando melhorias nas condições de saúde da população.

Houve uma expansão da rede pública, principalmente das Unidades de


Atenção Básica (UBS), ampliando o acesso a consultas médicas, com diminuição
das internações (de 120 para 66/10.000 habitantes), entre 2001 e 2016, bem como
essa expansão repercutiu nos indicadores de saúde, com quedas nos índices de
mortalidade materno-infantil por doenças transmissíveis e de causas evitáveis,
além da diminuição dos casos de desnutrição infantil, por exemplo (SOUZA et al.,
2019).

Cabe mencionar que o SUS, como já declarado anteriormente, é referência


mundial, especialmente pelos programas de transplantes (estabelece fila única,
garantindo equidade ao acesso), de combate ao tabagismo (reduziu de 30%
para 15% o percentual de fumantes adultos, apesar de ser o 2º maior produtor
de tabaco) e o de HIV/Aids (tornando-se o primeiro país a ofertar medicamentos
gratuitamente). Além disso, promoveu diversos avanços, dentre eles a expansão
da rede de saúde a todo o país e a redução das taxas de mortalidade e de
doenças cardíacas (ABRASCO, 2018).

A iniciativa de fornecimento de medicamentos gratuitos e de forma


universal, por meio da farmácia básica e da farmácia popular, é outro impacto
positivo do SUS (SOUZA et al., 2019).

Além disso, temos a implementação da Estratégia da Família (ESF), a


qual considera os princípios de universalidade de acesso, atendimento integral
e equidade, progressivamente ampliada. Em 2019 foram implantadas mais de
43.000 equipes de Saúde da Família, possibilitando um aumento do acesso aos
cuidados de saúde, permitindo estender a atenção básica/primária, operando em
todo o território nacional, abrangendo uma diversidade de grupos populacionais.
Contudo, todos esses desenvolvimentos estão sendo ameaçados (SILVA;
GIOVANELLA; CAMARGO JUNIOR, 2020).

O Programa Mais Médicos, instituído em 2013, é outro avanço, uma vez


que conseguiu levar profissionais de saúde a localidades de difícil acesso e baixa
fixação, beneficiando milhares de pessoas. Recentemente por remodelação, por
assim dizer, tornando-se Programa Médicos pelo Brasil (PMPB), lançado em
2019, sendo motivo de controvérsias.

102
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Quer saber mais sobre o Programa Médicos pelo Brasil? Acesse


o artigo Programa Médicos pelo Brasil: mérito e equidade, disponível
em: https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2346/1524.

Machado e Silva (2019) relatam a ampliação da cobertura de imunização,


e com relação ao estado de saúde, observam que o SUS promoveu resultados
positivos, uma vez que vários estudos demonstram as reduções nas taxas de
mortalidade geral, materna e por doenças infecciosas e morbimortalidade infantil,
por exemplo, sendo que esses resultados podem ser atribuídos, em parte, aos
programas específicos implementados.

Outro aspecto importante a ser realçado é o papel do SUS face aos


eventos de emergência de interesse da Saúde Pública, como exemplos mais
contundentes no caso do H1N1, Zika Vírus e, mais recentemente, COVID-19, nos
quais o SUS coordenou inúmeras ações de vigilância, controle e atenção. Como
exemplo simbólico que reforça a importância do SUS podemos citar os testes de
COVID-19, que são disponibilizados de forma gratuita à população.

Que tal uma pausa? Indicamos o vídeo “O SUS que dá certo”,


disponível em: http://g1.globo.com/como-sera/noticia/2017/07/o-sus-
que-da-certo.html. Há outros vídeos da série SOS SUS em: http://
g1.globo.com/como-sera/quadros/sos-sus/.

É importante ressaltarmos que o CONASEMS criou a


Mostra Brasil, aqui tem SUS para divulgar projetos que transformam
a vida de milhões de brasileiros, retratando as experiências exitosas
das secretarias municipais de saúde de todas as regiões do país,
mostrando o SUS que dá certo. A série já conta com 61 vídeos, os
quais podem ser acessados pelo endereço:
https://www.conasems.org.br/reconhecer-a-importancia-do-sus-
e-o-primeiro-passo-contra-a-pandemia-defendaosus/.

103
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Nesse enfoque, o SUS permitiu um progresso substancial no que se refere


à cobertura universal de saúde. Entretanto, está sob grande ameaça, visto
que o país passa por uma combinação de recessão econômica, crise política,
medidas de austeridade mal concebidas e decisões políticas que visam reverter o
direito à saúde, ocasionando uma fraqueza estrutural do SUS, ameaçando a sua
sustentabilidade (MASSUDA et al., 2018).

Em 2018, a Revista Poli fez uma edição especial em decorrência dos 30


anos do SUS, dentre as matérias apresentadas, destacou o SUS em números
(informações referentes ao ano de 2017), conforme você pode visualizar na
Figura 5.

FIGURA 5 – SUS EM NÚMEROS

FONTE: <http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/
poliweb59.pdf>. Acesso em: 20 maio 2020.
104
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Com base na Figura 5, podemos constatar a imensidão dos benefícios, uma


vez que mais de 17 trilhões de medicamentos foram distribuídos, mais de 69
milhões de cirurgias foram realizadas, mais de 120 milhões de doses de vacinas
foram aplicadas, mais de 42 mil unidades básicas de saúde estão espalhadas
pelo país e assim por diante.

Cabe salientar que todos esses esforços e avanços ajudam na construção de


uma rede de cuidados sob a tutela do SUS, que ainda atende de forma parcial às
necessidades da população, mas que ocasionam grande impacto nas condições
de vida, auxiliando, na medida do possível, na redução das desigualdades e
iniquidades.

Entretanto, há de se considerar que todos os ganhos conquistados durante as


mais de três décadas de existência do SUS não são perenes, necessitando, desta
forma, defendê-lo e acima de tudo lutar para que sua construção não desmorone.

Na prática, o que se observa do SUS, apesar de todos os avanços, além


da falta de investimentos na rede de atendimento e o sucateamento, é o acesso
universal à saúde cada vez mais comprometido. O sistema, apesar de ter sido
pensado para atender toda a população brasileira, não comporta tal tarefa,
favorecendo a invasão dos serviços terceirizados. Outrossim, carece de recursos
humanos e a formação de profissionais para trabalhar no sistema, uma vez
que o ensino da área da saúde ainda está voltado para o modelo flexneriano
(biomédico). Veremos as dificuldades e os desafios do SUS mais detalhadamente
no próximo tópico.

Indicamos a leitura do artigo SUS: oferta, acesso e utilização


de serviços de saúde nos últimos 30 anos, de Francisco Viacava
et al., disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
81232018000601751&script=sci_abstract&tlng=pt, o qual
complementará o seu aprendizado.

105
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

3.2 SUS: PRINCIPAIS DESAFIOS,


AMEAÇAS E PERSPECTIVAS
Desde sua gênese, o SUS é alvo de inúmeras medidas políticas e
econômicas que o desvirtuam da sua concepção original, o que acaba gerando
empecilhos para o seu desenvolvimento, além de incutir na população uma visão
desfavorável, especialmente por parte da mídia, que faz questão de enaltecer
suas mazelas, contribuindo ainda mais para diminuir sua credibilidade.

O primeiro desafio do SUS foi referente a sua implantação, a qual não se


realizou de forma pragmática, esbarrando em diversos obstáculos. O momento
político e econômico dos anos 1990 não era favorável à ampliação de direitos
sociais, no qual imperava a individualidade, o consumismo, a supercapitalização,
a contenção de gastos sociais, a privatização de setores públicos e, por
conseguinte, sustentar o projeto da Reforma Sanitária não era tarefa fácil.

Um aspecto que contribui para que o SUS não atinja seu princípio da
universalização em saúde, dentre tantos que poderíamos citar, é a dificuldade
da integração entre as esferas governamentais no tocante ao sistema de saúde,
que, por consequência, compromete o acesso aos serviços, impossibilitando que
a população usufrua dos seus direitos constitucionais em saúde, especialmente
ao direito universal e equitativo, denotando discrepância entre o SUS real e o
constitucional.

Apesar das inúmeras conquistas registradas, nenhum governo priorizou o


SUS, de fato. Assim ele apresenta grandes entraves, enfrenta críticas, é alvo de
discussões, oferta serviços de baixa qualidade em boa parte de suas unidades
de saúde e suporta o peso das cargas trazidas pelas modificações dos perfis
demográfico (aumento da expectativa de vida e envelhecimento populacional)
e epidemiológico (expansão de doenças, como dengue, zika, sarampo e,
atualmente, COVID-19), bem como pelas transformações sociais e econômicas.

Conforme Paim (2018), as bases de sustentação política do SUS sempre


foram vistas com preocupação, desde as origens do movimento sanitário, sendo
que o CONASS e o CONASEMS, com os conselhos estaduais e municipais,
permitiram a ampliação da base de apoio, assim como o Conselho Nacional
de Saúde (CNS) tem mobilizado grupos sociais, confrontando determinadas
iniciativas governamentais, e a expansão dos gestores municipais de saúde que
também têm fortalecido as bases políticas e sociais.

Nesse sentido, o SUS vivencia os efeitos das disputas e tensões políticas

106
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

desde sempre, passando por uma série de emendas, leis, portarias, decretos e
normas que nem sempre favorecem o seu projeto inicial.

Na concepção de Paim (2018), a situação do SUS piorou muito, seja devido


à Emenda Constitucional 95 (EC 95/2016), seja pelo golpe de Estado em 2016,
ou pelas ações desastrosas do Ministério da Saúde. Ele ressalta também que,
enquanto ocorrem mudanças relevantes no perfil demográfico e epidemiológico
populacional, há uma redução de recursos para o SUS, por parte do governo
federal, indo contra aos direitos constitucionais. Ademais, informa que a maior
ameaça de todas é a privatização da atenção por meio da financeirização do setor
saúde.

Na atualidade, existe um esforço obscuro e negativo, que salta aos olhos, pelo
desmonte do SUS, o que seria um retrocesso. Ressalta-se que, se antes o cenário
era de subfinanciamento, agora temos uma conjuntura de desfinanciamento, com
a aprovação da EC 95/2016.

Dentre as medidas que expressam esse desmonte do SUS, podemos citar:


a EC 95, que limita o crescimento das despesas primárias à taxa de inflação
durante 20 anos; a revisão das diretrizes da Atenção Básica em sentido contrário
à perspectiva integradora da Atenção Primária à Saúde; a redução significativa do
Programa Farmácia Popular, entre outras (KRÜGER, 2019).

Paim (2018) relata que dentre os obstáculos estão aspectos negativos, como
os valores dominantes da sociedade brasileira, calcados para o individualismo,
diferenciação e distinção em oposição à coletividade, igualdade e solidariedade,
associado pelas limitadas bases políticas e sociais do SUS, uma vez que não
conta com a força de partidos e com o apoio de trabalhadores organizados em
centrais e sindicatos que defendam os direitos à saúde. Associado a isso, é
possível, ainda, apontar a insuficiência da estrutura pública, as dificuldades com
a montagem de redes na regionalização, a falta de planejamento ascendente, os
impasses para que os modelos de atenção e práticas de saúde sejam alterados
e o modelo médico centrado na doença, no tratamento, no hospital e menos na
comunidade e na atenção básica.

107
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

FIGURA 6 – CHARGE SOBRE A SITUAÇÃO DO SUS

FONTE: <https://pfarma.com.br/noticia-setor-farmaceutico/saude/1874-saude-
publica-ainda-sofre-com-recursos-insuficientes.html>. Acesso em: 20 maio 2020.

A Figura 6 retrata muito bem a situação do SUS, ou seja, o diagnóstico é


sabido, cada um tem uma sugestão para o seu tratamento e ninguém chega a um
prognóstico.

Salienta-se que sempre que ocorre uma data significativa, como


15 anos, 20 anos, 25 anos e 30 anos de SUS, surgem inúmeras
publicações científicas ou não, entrevistas, reportagens, entre
outras, fazendo análises críticas, avaliações positivas e/ou negativas,
balanços, apontamentos das conquistas, desafios e perspectivas. Ao
tomarmos conhecimentos sobre elas, a retórica é a mesma, ou seja,
o tempo passa e as adversidades são sempre as mesmas. Como não
é possível discorrermos sobre os resultados encontrados, sugerimos
que você busque nas bases de dados científicas, ao menos, uma
publicação de cada marco histórico, a fim de uma reflexão crítica.

108
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Existem diversos entraves que afetam a evolução do SUS, dentre eles, tem-
se a gestão ineficiente, que se retroalimenta com o financiamento insuficiente, isto
é, um coloca a culpa no outro e que, consequentemente, recai na qualidade do
atendimento, denegrindo a imagem do SUS.

As condições precárias dos equipamentos, a infraestrutura física, muitas


vezes em péssimo estado, e os recursos humanos insuficientes e mal capacitados
para atender à população são problemas recorrentes. Congruente a isso, temos
a pouca valorização salarial para os profissionais da saúde, que é reflexo de uma
gestão inoperante.

Nessa linha de raciocínio, é premente a melhoria no que se refere à


qualificação profissional para que haja acolhimento e qualidade nas práticas,
ofertando à população um atendimento humanizado por meio de uma equipe
onisciente, suscitando em uma atenção mais resolutiva.

Sob o prisma da integralidade, o encontro das práticas formativas


com as práticas de atenção e gestão no SUS é um desafio a ser
alcançado e para que o processo de capacitação dos profissionais
seja realizado, tem-se a Educação Permanente em Saúde, na
tentativa de romper com o modelo hegemônico de capacitação,
por meio da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
(PNEPS), do Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS)
(https://www.unasus.gov.br/.) e do Ambiente Virtual de Aprendizagem
do SUS (AVASUS) (https://avasus.ufrn.br/), por exemplo.

Assista ao documentário elaborado pelo Conselho Federal de


Enfermagem alusivo aos 30 anos de SUS, disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=3FfAcgT0oys.

Outrossim, há a carência de inovações tecnológicas, as quais esbarram


em uma cultura organizacional que nem sempre está alinhada com a realidade
tecnológica, mostrando-se resistente ao novo. Assim, torna-se indispensável a
implantação da informatização das informações de saúde onde ainda não tem,
assim como a implementação e a incorporação dessas em toda a Rede. Embora
o prontuário eletrônico e os Sistemas de Informação da Saúde (SIS) já existam,
podem ser considerados obsoletos, assim como o agendamento on-line, que

109
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

pouco funciona. Portanto, urge uma transição de um SUS analógico para um


digital.

Outro ponto a ser ressaltado é a pouca participação popular no controle


social, condição fundamental para que ocorram avanços e que os princípios do
SUS se consolidem.

De acordo com Souza et al. (2019), para o aprimoramento do SUS, há a


necessidade de adotar estratégias e táticas específicas, sendo que no âmbito das
políticas de saúde, o desafio é a reorientação do modelo de atenção à saúde,
superando o modelo biomédico e mercantilista, com o propósito de fortalecer
as práticas de promoção da saúde, articulando as ações intersetoriais, além de
ampliar a cobertura, melhorando a qualidade das ações de diagnóstico, tratamento
e prevenção das doenças. Assim, é essencial garantir a primazia da política de
saúde sobre os interesses comerciais, colocando o complexo produtivo a serviço
do SUS.

Na concepção dos autores supracitados, outro desafio que se refere ao


fortalecimento do SUS está relacionado à melhoria da sua eficiência, sendo que a
profissionalização e publicização da gestão, a regionalização da saúde e a política
pessoal são as questões que se destacam. Por último, relatam o financiamento e
a insuficiência de recursos, que é de conhecimento de todos.

Uma outra questão emergente se refere aos altos índices de desemprego,


desencadeando o cancelamento de muitos planos privados, sobrecarregando
os serviços públicos de saúde. Nesse sentido, as dificuldades e os desafios são
inúmeros a serem enfrentados pelo SUS no século XXI, pois é um sistema de
saúde em constante construção e que acompanha o desenrolar da história social
e econômica do país.

Além dos desafios já citados, podemos acrescentar e ratificar os seguintes:


visão hegemônica de que saúde é gasto e não investimento; taxa de gasto público
com a saúde abaixo da média mundial; escassez de profissionais; má distribuição
dos médicos entre os níveis de cuidados de saúde e zonas geográficas; reserva
de mercado; desigualdades regionais; dificuldades em implantar/implementar a
descentralização dos serviços de saúde; dificuldade/falta de integração da atenção
básica à rede; necessidade de melhorias no atendimento de média complexidade;
falta de compreensão dos princípios e campo de atuação do SUS por parte da
população; falta de engajamento da população por seus direitos; judicialização;
renúncia fiscal; reformas trabalhistas e previdenciárias; falta de vontade política,
entre outros. Contudo, o maior desafio a ser enfrentado pelo SUS é político-
ideológico.

110
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

O maior desafio do SUS é político. É político o desafio de


torná-lo único. É político o desafio de fazê-lo efetivamente
público, democrático, integral e igualitário. Não só porque o
SUS tem a ver com o dever do Estado e o direito dos cidadãos
em relação à saúde, nem porque necessita alargar as bases
sociais, políticas e ideológicas em sua defesa, a partir de
uma consciência sanitária crítica. É político porque lida com a
questão do modelo de desenvolvimento, com as desigualdades
(sociais, raciais, étnicas, de gênero etc.), com a articulação
público-privada, com a democratização da atenção à saúde,
com o complexo econômico e industrial da saúde, com a
questão ambiental na cidade e no campo, com o orçamento
e a disputa dos fundos públicos face aos interesses do capital
financeiro (PAIM, 2018, s.p.).

Destarte, nesses mais de 30 anos, o SUS passou pelas fases de crescimento


e amadurecimento, mas desde o início, o seu maior desafio a ser vencido, além
do financiamento ou subfinanciamento, é o de abarcar toda a população, seguido
pela ampliação do acesso as suas ações e serviços.

Convidamos você a assistir ao vídeo em que Jairnilson Paim faz


uma leitura dos 30 anos do SUS, disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=C3KRpdIdOGk&t=382s.

Como vimos, o SUS passou por inúmeros períodos históricos turbulentos,


sobreviveu (e continua sobrevivendo) a diversos ataques ao longo de sua história,
sempre ligados ao financiamento e, apesar de todas as dificuldades enfrentadas,
permanece como parâmetro para outras democracias.

Recentemente foram impostos novos desafios ao SUS, como no caso da


pandemia COVID-19, que assola o país, associado às restrições orçamentárias
em todos os níveis de atenção, infelizmente, não se vislumbra um horizonte
promissor.

111
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Relativo à pandemia e aos desafios a serem enfrentados,


propomos a leitura do artigo Pandemia do Coronavírus e Atenção
Primária: reflexões sobre os desafios dos gestores, disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/341392155_Pandemia_do_
Coronavirus_e_Atencao_Primaria_reflexoes_sobre_os_desafios_
dos_gestores.

Assim, os desafios são gigantes, proporcionais ao tamanho do SUS, sendo


imperativo que mudanças sejam realizadas a fim de garantir a sua permanência
como um sistema público, gratuito e universal, visando ao cuidado integral de toda
a população residente no Brasil, de forma resolutiva e equânime.

Não deixe de ler o artigo A saúde nos governos Temer e


Bolsonaro: lutas e resistências, disponível em: https://periodicos.unb.
br/index.php/SER_Social/article/download/25630/25147.

3.3 CONTEXTO ATUAL DO SUS:


ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS E
PERSPECTIVAS
Estudos realizados pelo Banco Mundial (2017; 2018) geraram um relatório
com propostas de reformas para o SUS, indicando que existem oportunidades
para aperfeiçoar a gestão do SUS e de ampliação da eficiência no uso de
recursos públicos, assim como sugere a expansão da cobertura de atenção
básica (atenção primária à saúde) e o seu fortalecimento como porta de entrada
do sistema de saúde; o desenvolvimento de redes integradas de atenção à
saúde; e a introdução de novos arranjos de gestão e governança, aumentando
a autonomia, a flexibilidade e a eficiência de provedores. Também propõe a
expansão de serviços privados de saúde, entre outras sugestões.

112
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Enfim, o relatório é bem polêmico, pois o Banco Mundial é uma


instituição financeira internacional que atende aos interesses do
setor privado e efetua empréstimos a países em desenvolvimento.
Isso gerou notas das principais entidades em defesa do SUS, como
CEBES (http://cebes.org.br/2019/04/mais-sus-para-os-brasileiros/) e
ABRASCO
(https://www.abrasco.org.br/site/noticias/institucional/a-reforma-
da-saude-e-a-abrasco-em-defesa-do-sus/40212/).

Confira o relatório com as propostas apresentadas pelo Banco


Mundial para a reforma do SUS em: http://pubdocs.worldbank.org/
en/545231536093524589/Propostas-de-Reformas-do-SUS.pdf.

Relativo às futuras ações de saúde sob o novo governo do Brasil, não foi
constatado, inicialmente, nenhum plano, bem como algumas atitudes chamam
a atenção, como a rejeição do uso das expressões “incluindo acesso universal
a serviços de saúde sexual e reprodutiva” e “a exclusão de serviços de saúde
sexual e reprodutiva de programas de cobertura universal de saúde”, durante a
63ª sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres, da ONU, em março de
2019, relatando que essas políticas podem promover o aborto. Temos, ainda, a
proibição de ilustrações em folhetos distribuídos a adolescentes que fornecem
instruções de como usar preservativos e a recusa do Ministério da Mulher,
Família e Direitos Humanos em adicionar a comunidade LGBTQ+ como um grupo
explicitamente protegido, afirmando que as políticas de diversidade ameaçaram
a família brasileira (CASTRO et al., 2019). Ademais, o que se via nos discursos
iniciais do ex-ministro Henrique Mandetta era o de caráter privatista, modificando-
se ao longo da pandemia de COVID-19 (CEBES, 2019).

Salienta-se que durante a elaboração desse material houve a


troca de ministros, sendo que Nelson Teich assumiu após a saída
de Mandetta, permanecendo por um curto período e que, nesse
momento (setembro de 2020), o ministro interino da Saúde é o
general Eduardo Pazuello.

113
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

É importante realçar que o desmonte do SUS é um processo que vem


acontecendo a longo prazo, tornando-se mais intenso no atual governo.

O que se vê e escuta na mídia é que o atual governo quer de


fato desmantelar o SUS e com suas medidas vem demonstrando que
isso é um real interesse.

Dentre as medidas tomadas, até o presente momento (setembro de 2020),


temos a substituição do Programa Mais Médicos pelo Programa Médicos pelo
Brasil, que, de forma controversa, reforça alguns inimigos da saúde coletiva, como
a hegemonia da categoria médica, a inserção de elementos privatizantes tanto na
assistência como na gestão, a flexibilização das leis trabalhistas, o apagamento
da participação social e a agenciação da administração pública, sob o pretexto de
avanço, desenvolvimento e modernização (CEBES, 2019).

Relativo à Política de Saúde Mental, por meio da Nota Técnica nº 11/2019


do Ministério da Saúde: “Nova saúde mental”, há a defesa da retomada de que
o número de leitos sejam ampliados em hospitais psiquiátricos, passando a
considerar as comunidades terapêuticas como dispositivos das redes de atenção
psicossocial a serem financiadas pelos SUS, assim como, no que se refere à
Política Nacional de Álcool e Drogas, há uma condução para o proibicionismo,
priorizando as internações, em detrimento do cuidado na Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS), agindo na contramão do que foi construído até então na
lógica da Reforma Psiquiátrica Brasileira (CEBES, 2019).

Mudanças também ocorreram no modelo de gestão de políticas para a saúde


indígena. Inicialmente, seria extinta a Secretaria Especial de Saúde Indígena,
do Ministério da Saúde, mas o governo voltou atrás devido à mobilização das
comunidades indígenas e oposições de outros gestores do SUS (CEBES, 2019).
Contudo, o Decreto nº 9.795/2019 (não específico para a saúde indígena) extingue
o Departamento de Gestão da Saúde Indígena, responsável pela garantia das
condições necessárias à gestão do subsistema, programando a aquisição de
insumos e coordenando as unidades de atendimento (BRASIL, 2019b).

Outra medida é o novo modelo de financiamento da Atenção Primária à Saúde


(APS) no âmbito do SUS, denominado de Programa Previne Brasil, instituído pela
Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019. Segundo a Secretaria de Atenção

114
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Primária à Saúde (SAPS), essa iniciativa busca ampliar o acesso da população


aos serviços de saúde a fim de garantir a universalidade do SUS, tendo como
foco o atendimento às necessidades e prioridades epidemiológicas, demográficas,
socioeconômicas, espaciais, entre outras (BRASIL, 2019a).

Face a essa medida do governo, o CONASS e o CONASEMS se


manifestaram favoráveis. De acordo com Erno Harzheim, secretário da Atenção
Primária da Saúde do Ministério da Saúde (SAPS/MS), essa medida está calcada
em critérios técnicos e científicos e, por ser ‘fácil, simples e factível’, fortalece
a atenção primária, à medida que valoriza a responsabilização das equipes de
Saúde da Família pelas pessoas e estimula o aumento da cobertura (NEVES;
MACHADO, 2019).

Em contrapartida, diversas entidades, instituições, grupos de pesquisa


e outras associações se pronunciaram contra, conforme ilustrado a seguir,
buscando a revogação da Portaria supracitada, tendo em vista que esse novo
modelo não foi elaborado com transparência e tampouco assegura a redução das
desigualdades regionais, à medida que adota o número de pessoas cadastradas
nas equipes de saúde e o desempenho das unidades como critério para o repasse
dos recursos.

FIGURA 7 – PROTESTO CONTRA O DESMONTE DO SUS

FONTE: <https://www.abrasco.org.br/site/noticias/institucional/defesa-da-
atencao-primaria-e-do-direito-universal-a-saude-pela-revogacao-da-portaria-
no-2979-19-do-ministerio-da-saude/44034/>. Acesso em: 22 maio 2020.

115
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Um artigo para complementar o tema anterior é Mudanças no


financiamento da Atenção Primária à Saúde no Sistema de Saúde
Brasileiro: avanço ou retrocesso?, publicado em 2020, o qual está
disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/csc/2020.v25n4/1181-
1188/pt.

O governo também vetou integralmente o projeto de lei (PLS 416/2009),


aprovado no Congresso Nacional, que garantia a todos os pacientes do SUS
a disponibilização de medicamentos, sangue, componentes hemoderivados e
outros recursos necessários ao diagnóstico e tratamento das doenças, bem como
à prevenção, alegando que o projeto cria despesa obrigatória, sem indicar qual
seria a fonte de custeio (AGÊNCIA SENADO, 2019).

Um outro ponto a discutir é a Saúde da Família, mais especificamente o


NASF-AB (Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica), conforme
veremos a seguir.

A Nota Técnica nº 3/2020-DESF/SAPS/MS informa, dentre


outras, que a composição de equipes multiprofissionais deixa de estar
vinculada às tipologias de equipes NASF-AB e que a partir de janeiro
de 2020 o Ministério da Saúde não realizará mais o credenciamento
de NASF-AB.

FONTE: <https://www.conasems.org.br/wp-content/
uploads/2020/01/NT-NASF-AB-e-Previne-Brasil.pdf>. Acesso em: 12
maio 2020.

O governo Bolsonaro, de modo fatídico, decretou o fim do Núcleo Ampliado


de Saúde da Família e Atenção Básica e, embora as novas medidas não indiquem
diretamente a sua extinção, acabam com o financiamento específico, bem
como liberam secretários municipais e estaduais de saúde a adotarem qualquer
modelo, inclusive nenhum (FIOCRUZ, c2020). Isso era de se esperar, visto que
em 2019 já havia ocorrido a instituição do Programa Previne Brasil (novo modelo
de financiamento).
116
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Reis e Meneses (2020) relatam que a inexistência de financiamento


específico para o NASF-AB traz risco de desmantelamento à medida que reduz
a atuação multiprofissional e como resultado restringe o acesso da população a
classes profissionais que antes eram acessadas por meio da atenção secundária.
Informam, ainda, que já há casos de dispensabilidade de alguns profissionais,
que atualmente são em torno de 30.000, e que dificilmente os gestores municipais
se arriscarão serem contrários ao que está nas entrelinhas do Ministério da
Saúde. Asseveram que mudanças devem ocorrer, mas sem retrocessos, e que os
trabalhadores do SUS e usuários precisam ser consultados para as tomadas de
decisões.

Baseado nisso, é importante nos atentarmos que no atual contexto em que


vivemos, de desemprego, desregulamentação do trabalho, informalidade laboral,
crise econômica, pandemia, violência, entre outros tantos fatores, a demanda por
ações de atenção psicossocial e reabilitação tende a aumentar.

Salienta-se que, em plena pandemia pelo coronavírus, foi instituída a Agência


Para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (ADAPS), por meio do
Decreto nº 10.283, de 20 de março de 2020 (BRASIL, 2020), gerando novas
insatisfações perante as entidades que defendem o SUS, uma vez que essa ação
induz a uma maior precariedade da organização do Sistema, em especial a ESF.

Atualmente, o SUS vivencia um momento delicado, que está à beira de um


colapso, enfrentando um dos seus maiores desafios da história, que é de como
repensar a sua gestão e se fortalecer para atender à alta demanda da pandemia
do novo coronavírus, uma vez que sobrecarrega ainda mais o Sistema.

Nesse sentido, o SUS vem fornecendo a base necessária para que as ações
de enfrentamento à pandemia sejam atendidas, por meio da sua rede de serviços,
equipamentos e recursos humanos disponíveis.

Contudo, suas mazelas ficam mais evidentes em momentos como estes,


denotando o déficit de recursos humanos na saúde, falta de investimento,
escassez de equipamentos de proteção individual (EPI), falta de treinamento para
lidar com as suspeitas e com os casos diagnosticados, deficiência nas ações de
prevenção interna nos espaços de cuidado, falta de equipamentos e dispositivos
essenciais ao diagnóstico e tratamento da população com quadros clínicos
suspeitos ou contaminados pelo vírus, entre outras.

Desta forma, a atual pandemia reacende a defesa do SUS, demonstrando,


mais uma vez, a sua importância e necessidade, colocando em pauta seus
princípios de universalidade, integralidade e equidade.

117
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Por fim, nas últimas décadas, a realidade que se descortina demonstra que
o SUS tem experenciado interesses antagônicos, isto é, os que defendem a sua
permanência e consolidação como um sistema plenamente público e universal e
os que visam a sua submissão a um setor privatizado e mercantilizado.

Diante de tudo isso, vem em mente o seguinte questionamento: o SUS


vai continuar? De acordo com Paim (2018), embora o SUS sofra com ataques,
boicotes, golpes, não é plausível a sua extinção, haja vista que existem inúmeros
interesses vinculados ao Estado, ao capital e às classes dominantes que indicam
a sua manutenção, seja por meio de legitimação ou cooptação, seja como lócus
de acumulação, expansão e circulação do capital. Na verdade, é uma incógnita,
um capítulo em aberto e o momento atual é de apreensão frente ao atual governo
federal.

O cenário que vem sendo desenhado nesses últimos tempos tem


demonstrado um quadro crítico, no qual o SUS padece de insuficiência crônica
de recursos, diagnosticado com sérios problemas de organização e gestão, com
prognóstico não favorável sob o ponto de vista governamental, necessitando de
tratamento intensivo em todos os âmbitos.

Sejamos otimistas, aguardando as cenas dos próximos capítulos.

O Relatório 30 anos de SUS, que SUS para 2030?, destaca


importantes conquistas do SUS e apresenta recomendações
estratégicas que poderão subsidiar presentes e futuros gestores do
SUS para o alcance das metas dos ODS em 2030. Disponível em:
https://iris.paho.org/handle/10665.2/49663.

1 Tendo como base o que foi discutido, elabore um quadro com as


conquistas do SUS, desde a sua criação até o presente momento,
buscando na literatura especializada e nos meios oficiais de
divulgação do SUS informações adicionais. Para que você
consiga os dados complementares, sugerimos algumas bases
de dados científicos como: LILACS; BIREME; Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS); SCIELO e Google Acadêmico e sites oficiais

118
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

como: Ministério da Saúde; CONASS; PENSE SUS; FIOCRUZ;


ABRASCO; CEBES, entre outros.
R.:____________________________________________________
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4 PRINCIPAIS POLÍTICAS DE SAÚDE


NO PERÍODO PÓS-CONSTITUINTE E
SUS
Inicialmente, traçaremos um breve percurso histórico no que se refere ao
governo. Em 1990, Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente, depois
da ditadura, a ser eleito por voto popular, o qual seguiu uma agenda neoliberal,
sem se comprometer com a Reforma Sanitária, sofrendo impeachment em 1992.
Assume, então, Itamar Franco, sendo que um dos grandes destaques do seu
governo foi o Plano Real.

Em 1994, a presidência do Brasil fica a cargo de Fernando Henrique


Cardoso, que investe, inicialmente, pouco em políticas de saúde, sendo reeleito
em 1998, marcando de forma efetiva a política neoliberal no país e os processos
de privatizações. Assim, de modo geral, a década de 1990 é lembrada pela
hiperinflação, crise fiscal e privatizações no país.

Quer entender melhor esse período e o contexto da saúde e do


SUS? Acesse http://observatoriohistoria.coc.fiocruz.br/local/File/na-
corda-bamba-cap_9.pdf e leia A política nacional de saúde nos anos
1990 e 2000: na contramão da história?

119
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

No ano de 2002 é eleito Luiz Inácio Lula da Silva, sendo reeleito em


2006, marcando um período de esperança por parte da classe trabalhadora,
já que era a primeira vez na história do país que um ex-operário chegava
ao posto de governante. De forma sucinta, o seu governo, inicialmente,
manteve alguns aspectos da política econômica do seu antecessor, mas
suspendeu as privatizações. Já no segundo mandato, promoveu um programa
desenvolvimentista, sendo que a taxa de pobreza teve uma queda representativa.
Relativo à saúde, algumas promessas foram efetivadas, como o cumprimento dos
gastos com saúde, conforme previstos na Constituição, aumento das redes de
pronto-socorro, ampliação do atendimento à saúde bucal, a criação de farmácias
populares, entre outros.

O ano de 2010 ficou na história pelo fato de pela primeira vez uma mulher
ser eleita como presidente do Brasil. De forma democrática e por eleição direta,
assume a presidência Dilma Vana Rousseff, com uma proposta não muito
diferente da anterior, mantendo a ideia de aceleração do crescimento social e
econômico, reelegendo-se em 2014, mas sofrendo impeachment em 2016.

Assim, assume seu vice, Michel Temer (acusado de ter provocado o


impeachment, denominado de golpe parlamentar e considerado como governo
interino e ilegítimo), lançando um pacote de reformas neoliberais, com novos
atores políticos ocupando o centro do palco, como o ministro da Saúde Ricardo
Barros (vinculado a empresas privadas de seguro de saúde), o qual criticou o SUS
e a consagração constitucional da seguridade social, defendendo a expansão dos
planos de saúde privados. Foi um período em que várias propostas, medidas
e programas apresentados pelo governo federal para o SUS foram criticados e
repudiados por sanitaristas e atuantes do SUS.

Em 2019, toma posse Jair Bolsonaro, que segue, até o presente momento,
na presidência da República.

Agora que você já relembrou os principais fatos políticos, retomaremos


a nossa viagem ao túnel do tempo. Reiteramos que, por se tratar de um longo
período histórico e com inúmeros acontecimentos, priorizaremos os mais
relevantes, que serão demonstrados por meio de quadros, sendo que alguns
serão somente citados e outros discorreremos de forma sucinta.

Outro ponto a destacar é que, nesse momento, não citaremos as políticas


nacionais, tendo em vista que abordaremos esse tema no último capítulo do
nosso material, bem como não serão apresentadas as legislações pertinentes
ao SUS (exceto as Leis Orgânicas de Saúde), as quais serão demonstradas em
um quadro específico. Nesse enfoque, os principais fatos ocorridos na década de
1990 referentes às políticas de saúde podem ser visualizados no Quadro 2.

120
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

QUADRO 2 – PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS NAS


POLÍTICAS DE SAÚDE – DÉCADA DE 1990
ANO PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS
 Implementação do Sistema Único de Saúde (SUS).
1990
 Aprovação da Lei Orgânica da Saúde – Lei nº 8.080/90 e Lei nº 8.142/90.
 Criação da Comissão de Intergestores Tripartite (CIT) e Comissão de Intergestores Bi-
partite (CIB).
1991  Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS).
 NOB-SUS 91.
 Decreto nº 100 – institui a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).
 Aprovação da NOB-SUS 92.
1992
 XIX Conferência Nacional de Saúde – Tema central: Municipalização é o caminho.
 Publicação da NOB-SUS 93.
1993  Descentralização e municipalização dos serviços de saúde.
 Extinção do INAMPS.
 Lançado o Programa Saúde da Família (PSF).
 Criada a Confederação Nacional de Saúde (entidade sindical que reúne todos os hospi-
1994
tais, clínicas e serviços de diagnóstico, imagem e fisioterapia – lucrativos e filantrópicos – e
operadoras de planos de saúde).
 Regulamentação do Sistema Nacional de Auditoria (SNA) no âmbito do SUS (Decreto nº
1995 1.651).
 Programa Comunidade Solidária.
 NOB-SUS 96 (institui o Piso da Atenção Básica e fortalece a descentralização e a Aten-
ção Básica).
 X Conferência Nacional de Saúde – Temas: 1. Saúde, cidadania e políticas públicas; 2.
1996 Gestão e organização dos serviços de saúde; 3. Controle social na saúde; 4. Financiamento
da saúde; 5. Recursos humanos para a saúde; e 6 Atenção integral à saúde.
 Lei nº 9.313, de 13 de novembro de 1996, pessoas com HIV/Aids passam a ter acesso a
medicamentos.
 Criação do Piso de Atenção Básica (PAB) – repasse de recursos ao gestor municipal, por
pessoa, para o atendimento à saúde.
1997  Criação da CPMF.
 Criação do Disque Saúde.
 Criação do projeto de Reforço à Reorganização do SUS (REFORSUS).
 Regulamentação da Lei nº 9.656/98 sobre planos e seguros de saúde.
1998  Lei nº 9.637/1998 – criação do Programa Nacional de Publicização.
 Criação do Plano Estratégico de Mobilização Comunitária para o Combate à dengue.
 Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pela Lei nº 9.782, de 26
de janeiro de 1999.
1999
 Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999, que estabeleceu o medicamento genérico e a
utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos.
FONTE: A autora

121
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Nessa década, sob o ponto de vista demográfico, o Brasil passava por um


período de mudanças bruscas, com diminuição do crescimento populacional e
da taxa de fecundidade, sendo que esse perfil incidiu na saúde, uma vez que
necessitou de ações voltadas para adultos e idosos, sabidamente de maiores
custos. Já o perfil epidemiológico também sofreu alteração, passando de doenças
infecciosas para o predomínio das doenças crônico-degenerativas. Assim, esse
contexto, associado a múltiplos fatores de diferentes ordens, afetou de forma
acentuada a demanda e a oferta de saúde, denominando os anos 1990 como
crise da saúde (VIANA; DAL POZ, 2005).

No que se refere ao Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS),


salienta-se que a sua implantação oficial, pelo Ministério da Saúde, iniciou-se em
1991, mas já havia experiências de práticas em saúde com agentes comunitários,
de forma isolada e focalizada, em algumas regiões, como nos estados do Ceará
(constituindo-se como política estadual), Mato Grosso do Sul e Paraná (VIANA;
DAL POZ, 2005).

Ainda, segundo esses autores, o objetivo principal do PACS era contribuir


para a redução da mortalidade materno-infantil, especialmente nas regiões Norte
e Nordeste. Contudo, devido à repercussão, houve a percepção, pelo Ministério
da Saúde, de que os agentes poderiam ser peça importante para a organização
do serviço básico de saúde nos municípios. Dessa forma, o PACS tornou-se um
auxiliar na implementação do SUS e na organização dos sistemas locais de saúde
e não simplesmente um programa verticalizado do Ministério da Saúde.

Relativo às Normas Operacionais Básicas do SUS (NOB-SUS 1991, 1992,


1993 e 1996), suas edições foram feitas a fim de colaborar com a implantação
do SUS, sendo que a NOB/91 e a NOB/92, em especial, acabaram dificultando
o processo de financiamento e descentralização do SUS, uma vez que ainda
estavam vinculadas aos recursos do orçamento do INAMPS. Após a mobilização
popular, foram editadas as NOB-SUS 93 e 96, com o objetivo de efetivar a
implantação do SUS, sendo que a NOB-SUS 96 reconfigurou as bases no
processo de municipalização das ações de saúde, em especial às relativas ao
financiamento das ações.

Em 1994 foi lançado o Programa de Saúde da Família (PSF), idealizado a


partir de uma reunião convocada pelo Ministério da Saúde, em 1993, sobre o tema
Saúde da Família, em resposta aos secretários municipais de saúde que queriam
apoio financeiro para efetuar mudanças na forma de operação da rede básica de
saúde, sendo concebidas as diretrizes do PSF (VIANA; DAL POZ, 2005).

O objetivo principal do PSF é contribuir para que o modelo assistencial seja


reorientado a partir da atenção básica, estando em conformidade com os princípios

122
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

do SUS, definindo responsabilidades entre os serviços de saúde e a população,


imprimindo, desta forma, uma nova dinâmica de atuação nas unidades básicas de
saúde. Portanto, visa atender ao indivíduo e à família de forma integral e contínua,
com foco na família, desenvolvendo ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde, sendo que as equipes de PSF, funcionando adequadamente, resolvem
85% dos problemas de saúde em sua comunidade (BRASIL, 1997; 2000).

Na visão de Verdi, Ros e Souza (2013), o PSF expandiu, deixando de ter as


limitações de um programa focal e setorial, mudando a forma de ver o cuidado
em saúde, bem como reorganizou a atenção primária em saúde e consolidou os
princípios do SUS, e, portanto, não poderia mais ser visto como um programa.
Relatam também que, da forma como foi concebido, o seu princípio é atender
muito mais a comunidade do que a família, tendo como base o território onde as
famílias vivem.

Outro fato importante a ser destacado é que o PSF, a partir de 1996, começa
a se integrar mais com o PACS, apontando para uma fusão dos dois programas,
já que as suas operações poderiam ser combinadas, uma vez que a equipe de
saúde da família inclui o agente comunitário de saúde (VIANA; DAL POZ, 2005).

Assim, é inegável o papel do PSF como dispositivo de reestruturação e


reorganização do sistema público de saúde, sendo que um novo paradigma de
saúde começa a ser planejado, com assistência voltada à família e não somente
no indivíduo, como antes era peculiar, e, pela primeira vez, um programa estava
direcionado para intervir de forma preventiva, ou seja, agir antes da demanda
necessitar, assim como não centrado na figura do médico.

Também é pertinente relatarmos a CPMF (Contribuição Provisória sobre


Movimentação Financeira), com alíquota inicial de 0,2%, passando a 0,38% no
início de 1999, a qual foi uma alternativa econômica de fonte de recurso para
financiar exclusivamente a saúde.

Entretanto, desde que começou a vigorar, as denúncias de


desvios, por parte do governo, foram frequentes, uma vez que houve
a utilização dos recursos arrecadados para cobrir outros déficits do
Tesouro (POLIGNANO, 2004). Era para ter duração de um ano e se
prorrogou até 2007, sem trazer bônus para a saúde da população,
fracassando em seu propósito inicial (financiar melhoramentos na
rede pública de saúde), mas contribuindo para os cofres públicos.

123
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Em 1998, por meio da Lei nº 9.656, houve a regulamentação dos planos de


saúde. Se de um lado houve a limitação nos abusos cometidos pelas empresas,
por outro, a regulamentação oficializou o universalismo excludente ao criar quatro
modelos diferenciados de cobertura de serviços (plano ambulatorial ou básico;
plano hospitalar com ou sem obstetrícia; plano odontológico e plano referência ou
referencial), sendo o plano ambulatorial o mais acessível (mais barato), mas com
menor cobertura, e o plano referência, o mais completo (mais caro). Desta forma,
os fatos demonstraram, de forma clara, que o compromisso da Medicina Supletiva
era essencialmente com o ganho financeiro e lucro do capital e não com a saúde
das pessoas (POLIGNANO, 2004).

A Lei nº 9.637/1998 contribuiu para o processo de terceirização dos serviços


de saúde, oficializando a dupla porta de entrada no SUS, à medida que permitiu a
oficialização de convênios com planos privados de saúde como meio de captação
adicional de recursos, o que agravou ainda mais as desigualdades de acesso e
aumentou a regressividade do sistema (LIMA, 2010).

Salienta-se que foi um período de crise no que se refere ao financiamento do


SUS, o que agravou ainda mais a operacionalização do Sistema, principalmente
no que se refere ao atendimento hospitalar, haja vista a escassez de leitos nos
grandes centros urbanos. As Santas Casas de Misericórdia criaram planos de
saúde próprios e os hospitais universitários entraram em crise, devido ao baixo
valor pago pelos serviços prestados e à demora na liberação desses recursos
(POLIGNANO, 2004).

[...] a atenção básica não se tornou a porta de entrada do


sistema, nem conseguiu ganhar a eficiência necessária para
resolver os problemas de saúde da população. Ao contrário, a
forma como a descentralização foi implementada gerou uma
multiplicidade de sistemas municipais de saúde, com graus
diferenciados quanto à participação das instituições privadas
na provisão de serviços ao SUS e na configuração da rede de
serviços (LIMA, 2010, p. 303).

Chegou a hora de revisarmos tudo o que já vimos até aqui.


Então, reserve um tempinho, faça uma pipoca, se quiser, e confira a
história completa Políticas de Saúde no Brasil: um século de luta pelo
direito à saúde, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-
gSIBFcnCIs.

124
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Agora que você já se apropriou dos principais fatos ocorridos nos anos 1990
referentes às políticas de saúde e assistiu ao documentário indicado, vamos
prosseguir e relembrar os acontecimentos históricos dos anos 2000.

Da mesma forma que apresentamos os acontecimentos anteriores,


abordaremos os próximos fatos sem aprofundar os detalhes, visto que fugiríamos
dos nossos objetivos, bem como não há como esgotar temas tão abrangentes em
apenas uma disciplina.

QUADRO 3 – PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS NAS


POLÍTICAS DE SAÚDE – DE 2000 A 2010
ANO PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS
2000  Criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – Regulamentação do setor
privado de saúde.
 XI Conferência Nacional de Saúde – Tema central: Efetivando o SUS – Acesso, qualida-
de e humanização na atenção à saúde com controle social.
 Emenda Constitucional 29.
 Publicação do RENAME.
2001  Norma Operacional de Assistência à Saúde / NOAS-SUS 01/2001.
 Implantação da Agenda Nacional de Saúde (instrumento de orientação estratégica da
Política de Saúde no Brasil – Portaria nº 393, de 29 de março de 2001).
 Lei nº 10.216/01 – Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
2002  NOAS-SUS 01/02.
 Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais.
 Instituição do Cartão Nacional de Saúde – Cartão SUS (Portaria GM/MS nº 1.560, de 29
de agosto de 2002).
 Criação do Programa de Promoção da Alimentação Saudável em Comunidades Indíge-
nas (PPACI) pela Portaria nº 2.405, de 27 de dezembro de 2002.
 Programa Nacional de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de Medicina
(PROMED) para adequar a formação médica aos preceitos do SUS.
 Instituição da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA) (Portaria nº
1.919, de 22 de outubro de 2002).
2003  Criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
 Programa de Volta para Casa (contribui para o processo de reinserção social de pesso-
as com histórico de internação psiquiátrica).
 XVII Conferência Nacional de Saúde – Tema central: Saúde – direito de todos e dever
do Estado, o SUS que temos e o SUS que queremos.
 Criação da Secretaria de Vigilância de Saúde (SVS).

125
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

2004  Programa “Brasil Sorridente”.


 Programa “Farmácia Popular do Brasil”.
 Criação da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobras).
 Constituição do Comitê Técnico de Saúde da População Negra, no âmbito do Ministério
da Saúde (Portaria nº 10, de 7 de janeiro de 2004).
 Criação do Grupo de Trabalho para coordenar a formulação do Plano Nacional de Saú-
de Indígena.
 Criação do Grupo de Trabalho para formulação de uma Política de Assistência Farma-
cêutica para os Povos Indígenas.
 Criação do Comitê Técnico para a formulação de proposta da Política Nacional de Saú-
de da População de Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais (GLTB) (Portaria nº 880,
de 13 de maio de 2004).
2005  Publicação do Plano Nacional de Saúde.
 Criação dos Núcleos de Atenção Integral na Saúde da Família (NAISF).
 Programa nacional de reorientação da formação profissional em saúde (Pró-saúde).
 SUAS (Sistema Único de Assistência Social).
2006  Pacto pela Saúde: Pacto pela Vida; Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão.
 PSF passa a ser Estratégia Saúde da Família (ESF).
2007  Eliminação do sarampo.
 XIII Conferência Nacional de Saúde – Tema central: Saúde e qualidade de vida, políticas
de estado e desenvolvimento.
 Programa Telessaúde.
 Programa Saúde na Escola (PSE).
 Programa Mais Saúde – Direito de Todos.
2008  Criação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).
 Processo Transexualizador (Portarias nº 1.707 e nº 457).
2009  Lançamento da Campanha Nacional de Prevenção à Influenza H1N1.
2010  Portaria nº 4.279 (estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saú-
de).
 Criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena.
 Calendário de Vacinação para os Povos Indígenas.
 Criação da UnaSUS.
 Instituição do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas (Decreto nº
7.179).
 Criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).
 Outubro Rosa.
 Portaria nº 886 (institui a Farmácia Viva).
FONTE: A autora

126
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Como você pôde constatar, inúmeros eventos marcaram a primeira década


de 2000. Ressalta-se que muitos outros fatos ocorreram nesse período, sendo,
aqui, apresentados os mais relevantes. Dentre eles, a Emenda Constitucional
nº 29 (EC 29) vinculou percentuais mínimos de verbas para o setor saúde, até
2004, para a União (5%), Distrito Federal e estados (12%) e municípios (15%),
os quais deveriam aplicar em ações e em serviços de saúde, sendo, na época,
uma conquista da sociedade para a construção do SUS, mas infelizmente, não
aconteceu.

Relativo à Norma Operacional de Assistência à Saúde, a 1ª edição (NOAS-


SUS 01/2001) buscou a ampliação das responsabilidades dos municípios no
acesso ao serviços de Atenção Básica, instituindo a sua Gestão Plena, enquanto
que a 2ª edição (NOAS-SUS 01/2002) assegurou a manutenção das diretrizes
organizativas definidas pela NOAS-SUS 01/01. Contudo, o Pacto pela Saúde
(2006) extinguiu as formas de habilitação de gestão dos estados e municípios.

A criação da SVS no Ministério da Saúde, em substituição ao Centro


Nacional de Epidemiologia da Fundação Nacional de Saúde (CENEPI/FUNASA),
representou, em vários aspectos, um grande avanço para o desenvolvimento das
ações de controle, prevenção e proteção à saúde da população brasileira.

Em 2004, foi lançado o Programa “Brasil Sorridente”, primeiro programa


específico de saúde bucal no país, proporcionando acesso gratuito ao tratamento
odontológico (atendimento básico e especializado, reabilitação e ações de
prevenção) por meio do SUS, posteriormente, denominado de Política Nacional
de Saúde Bucal – Programa Brasil Sorridente.

Também nesse ano (2004), foi criado o Programa “Farmácia Popular do


Brasil” (atualmente, Programa “Aqui tem Farmácia Popular”), tendo como
objetivo a ampliação do acesso da população aos medicamentos básicos e
essenciais, a fim de diminuir o impacto do preço dos medicamentos no orçamento
familiar. Ambos os programas continuam em vigência.

127
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Quer saber mais sobre o Programa “Aqui tem Farmácia


Popular”? Acesse:
https://www.gov.br/saude/pt-br/@@search?SearchableText=
Programa+Aqui+tem+Farm%C3%A1cia+Popular.

A publicação, em 2005, do Plano Nacional de Saúde (PNS) foi um avanço,


de elaboração inédita, servindo de referência para o sistema nacional de saúde.
Salienta-se que o Plano Nacional de Saúde/PNS – Um Pacto pela Saúde no Brasil
havia sido aprovado pela Portaria nº 2.607, de 10 de dezembro de 2004 (BRASIL,
2005a).

A Portaria nº 1.065/2005 cria os Núcleos de Atenção Integral na Saúde


da Família (NAISF), com o objetivo de ampliar a integralidade e a resolubilidade
da atenção à saúde, com vistas à inserção das ações de alimentação, atividade
física, saúde mental e reabilitação no âmbito da atenção básica, bem como
previa a inclusão de outras categorias profissionais (nutricionista, psicólogo,
fonoaudiólogo etc.) ao PSF (BRASIL, 2005b). Forma-se, assim, um novo modelo,
incorporando os princípios da universalidade e integralidade, atendendo, dessa
forma, as necessidades essenciais do indivíduo e da família.

Em 2006, por meio da Portaria nº 399, é divulgado o Pacto pela Saúde,


tendo como finalidade estruturar os serviços e garantir o acesso a todos, bem
como promover “inovações nos processos e instrumentos de gestão” e “redefinir
responsabilidades coletivas por resultados sanitários em função das necessidades
da população e na busca da equidade social” (BRASIL, 2006, p. 1).

O Pacto é composto por três componentes: Pacto em Defesa do SUS


(envolve ações concretas entre as esferas para reforçar o SUS como política
de Estado); Pacto pela Vida (constitui o compromisso entre os gestores do SUS
em priorizar as situações de impacto na saúde da população) e Pacto de Gestão
(trazendo alterações nas regras existentes a fim de reforçar a regionalização e o
fortalecimento da gestão compartilhada e solidária do SUS) (BRASIL, 2006).

Ressalta-se que a Portaria GM/MS nº 1580, de 19 de julho de 2012,


extinguiu a exigência de adesão ao Pacto pela Saúde ou assinatura do Termo de
Compromisso de Gestão, de que trata a Portaria nº 399/2006 (BRASIL, 2012).

A partir deste Pacto houve uma evolução na estrutura regulatória das relações

128
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

federativas no SUS, bem como diversas políticas públicas foram revistas e outras
instituídas, as quais veremos no decorrer do último capítulo da nossa disciplina.

Ainda, em 2006, o PSF deixou de ser um programa e credenciou-se como


Estratégia Saúde da Família, por meio da Portaria nº 648/2006, sendo revogada
pela Portaria nº 2.488/2011, fundamentada na abordagem coletiva, multi e
interprofissional, centrada na família e na comunidade (BRASIL, 2011b).

De acordo com Pinto e Giovanella (2018), ao assumir a Saúde da Família


como estratégia, a PNAB de 2006 trouxe inovação, pois fortaleceu a mudança do
modelo assistencial e estabeleceu a equipe multiprofissional com função de porta
de entrada preferencial e de coordenação da atenção na rede.

O Decreto nº 6.286/2007 instituiu o Programa Saúde na Escola (PSE), com


o objetivo de contribuir para a formação integral dos estudantes da rede pública
de educação básica por meio de ações de prevenção, promoção e atenção à
saúde (BRASIL, 2007). Assim, o PSE surgiu como uma política intersetorial entre
os Ministérios da Saúde e da Educação, sob o prisma da atenção integral à saúde
de crianças, adolescentes e jovens, no âmbito das escolas e unidades básicas
de saúde, devendo ser realizada pelas equipes de saúde da atenção básica e
educação de forma integrada (BRASIL, 2011b).

Salienta-se que em 2013 o PSE foi universalizado e a Portaria nº 15, de 10


de outubro de 2013, instituiu o Projeto Consultórios Itinerantes de Odontologia
e de Oftalmologia, no âmbito do PSE, e Programa Brasil Alfabetizado (PBA),
sendo que a Portaria Interministerial nº 1.055, de 25 de abril de 2017, redefiniu
as regras e os critérios para a adesão ao PSE por estados, Distrito Federal e
municípios, dispondo sobre o respectivo incentivo financeiro para custeio de
ações, priorizando, dentre outras, ações de prevenção à obesidade infantil.

Em dezembro de 2007 foi lançado pelo Ministério da Saúde o Programa


Mais Saúde – Direito de Todos – 2008-2011, sendo contempladas 86 metas
e 208 ações, as quais estavam distribuídas em oito eixos de intervenção. Foi
considerado um plano inovador, que buscou avanços em direção a um novo
padrão de desenvolvimento focado no crescimento, no bem-estar e na melhoria
das condições de vida do cidadão brasileiro (BRASIL, 2010a).

Em 2008, por meio da Portaria nº 154, foram criados os Núcleos de Apoio


à Saúde da Família (NASF), tendo como objetivo a ampliação da abrangência e
do escopo das ações da atenção básica, assim como sua resolubilidade, a fim de
apoiar a inserção da estratégia de Saúde da Família na rede de serviços, a partir
da atenção básica, e o processo de territorialização e regionalização (BRASIL,
2008).

129
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

As Redes de Atenção à Saúde (RAS), conforme a Portaria nº 4.279, de 30


de dezembro de 2010, são “arranjos organizativos de ações e serviços de saúde
de diferentes densidades tecnológicas que, integradas por meio de sistemas de
apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado”
(BRASIL, 2010b, p. 1).

Conforme Mendes (2011), a implantação das RAS é uma forma diferenciada


de organizar o sistema de atenção à saúde em sistemas integrados, os quais
permitem responder às condições de saúde da população brasileira com
efetividade, eficiência, segurança, qualidade e equidade.

Quer aprofundar ou conhecer mais sobre as RAS? É só acessar:


http://repocursos.unasus.ufma.br/rede_atencao/modulo1/und1/
media/pdf/livro.pdf e ler Redes de atenção à saúde: a atenção à
saúde organizada em redes.

O Sistema Universidade Aberta do SUS (Una-SUS) foi criado em 2010 pelo


Ministério da Saúde para atender às necessidades de capacitação e educação
permanente dos profissionais de saúde que atuam no SUS. Ressalta-se que os
cursos têm enfoque prático e dinâmico, na modalidade Educação a Distância,
inteiramente gratuitos, em diversos níveis de capacitação.

Por fim, em um estudo realizado por Machado, Baptista e Nogueira (2011),


foram identificadas quatro prioridades na agenda federal da saúde no período de
2003 a 2008: a Estratégia Saúde da Família, o Brasil Sorridente, os Serviços de
Atendimento Móvel de Urgência e o Programa Farmácia Popular, sendo que a
ESF havia sido iniciada anteriormente e as demais foram adotadas como marcos
de governo, trazendo inovações para as áreas ainda fragilizadas.

130
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Antes de prosseguirmos, sugerimos que você acesse a


publicação do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de
Vigilância em Saúde: Saúde Brasil 2010: uma análise da situação
de saúde e de evidências selecionadas de impacto de ações de
vigilância em saúde (SB2010), disponível em: https://bvsms.saude.
gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2010.pdf.

QUADRO 4 – PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS NAS


POLÍTICAS DE SAÚDE – DE 2010 A 2020

ANO PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS


2011  Estratégia Consultório na Rua.
 Estratégia Rede Cegonha.
 Plano Nacional de Enfrentamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis.
 Campanha Saúde Não Tem Preço.
 XIV Conferência Nacional de Saúde – Tema: Todos usam o SUS! SUS na seguridade
social – política pública, patrimônio do povo brasileiro.
 Instituição da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
 Programa Academia da Saúde.
 Novembro Azul.
 Quali-SUS-Rede.
 Portaria nº 940 (regulamenta o Sistema Cartão Nacional de Saúde).
2012  Programa Nacional de Qualificação da Assistência Farmacêutica (Qualifar-SUS.
 Portaria nº 130 (redefine o CAPS AD III).
 Sancionada a Lei Complementar nº 141/2012.
2013  Programa Mais Médicos instituído por meio de Medida Provisória (621, de 8 de julho de
2013) convertida na Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013.
 Portaria nº 2.803 (Processo Transexualizador no SUS).
 Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP).
 Lei nº 12.852 – institui o Estatuto da Juventude.
 Decreto nº 7.958 (atendimento a vítimas de violência sexual pelos profissionais de segu-
rança pública e da rede de atendimento do SUS).
 Portaria nº 963 (redefine a Atenção Domiciliar no âmbito do SUS).
 Portaria nº 340 (redefine o Componente Construção do Programa de Requalificação de
Unidades Básicas de Saúde).
 RDC/Anvisa nº 36 (institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e
dá outras providências).
 Sistema de informações e-SUS atenção básica (e-SUS AB).

131
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

2014  Portaria nº 94 (Serviço de Avaliação e Acompanhamento das Medidas Terapêuticas Apli-


cadas à Pessoa com Transtorno Mental em Conflito com a Lei).
 Portaria nº 485 (redefine o funcionamento do Serviço de Atenção às Pessoas em Situa-
ção de Violência Sexual no âmbito do SUS).
 Dia D de mobilização para combate dos focos do mosquito Aedes aegypti.
2015  Emenda Constitucional 86/2015 (altera o Art. 198 da CF).
 XV Conferência Nacional de Saúde – Tema: Saúde pública de qualidade para cuidar bem
das pessoas: direito do povo brasileiro.
 Campanha “Políticas de Equidade. Para Tratar Bem De Todos: Saúde das mulheres
lésbicas e bissexuais”.
 Portaria nº 798 (redefine a Semana Saúde na Escola).
 Lançamento do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia.
2016  Portaria nº 1.482, institui Grupo de Trabalho para discussão e elaboração de Projeto de
Plano de Saúde Acessível.
 Emenda Constitucional 95 (Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras providências) ou PEC 241 ou PEC 55.
 Campanha “Cuidar bem da saúde de cada um. Faz bem para todos. Faz bem para o
Brasil”.
 Portaria nº 1.836 (Revoga o inciso VII do Art. 5º e o Art. 107 da Portaria nº 158, que
redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos).
2017  Portaria nº 10/17 (UPA 24h).
 Portaria de Consolidação nº 02 (ESFR).
 Portaria de Consolidação nº 5.
 Lei nº 13.438 (Altera a Lei nº 8.069 – Estatuto da Criança e do Adolescente –, para tornar
obrigatória a adoção pelo SUS de protocolo que estabeleça padrões para a avaliação de
riscos para o desenvolvimento psíquico das crianças.
 e-Saúde (aplicativo para celulares).
2018  SUS incorpora medicamento para tratar a paramiloidose (PAF).
 Ministério da Saúde: a) anuncia ações para a qualificação da assistência farmacêutica
no SUS; b) mantém estratégia para o combate de Febre Amarela; c) mudança no calendário
de vacinação.
 Ouvidoria do SUS implantará novo modelo de atendimento aos usuários do SUS.
2019  Lei nº 13.958 institui o Programa Médicos pelo Brasil.
 XVI Conferência Nacional de Saúde – Tema central: Democracia e Saúde.
 Programa Previne Brasil (Portaria nº 2.979).
 Portaria nº 2.983 institui o Programa de Apoio à Informatização e Qualificação dos Dados
da Atenção Primária à Saúde.
 Criação do Departamento de Saúde Digital com objetivo de formular e coordenar a im-
plementação da Política Nacional de Saúde Digital e Telessaúde no SUS.
 Decreto nº 9.795/2019 – Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo
dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério da Saúde, remaneja
cargos em comissão e funções de confiança, transforma funções de confiança e substitui
cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores – DAS por Funções
Comissionadas do Poder Executivo – FCPE.
132
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

2020  Nota Técnica nº 3/2020-DESF/SAPS/MS – Núcleo Ampliado de Saúde da Família e


Atenção Básica (NASF-AB) e Programa Previne Brasil.
 Portaria nº 99, de 7 de fevereiro de 2019 – redefine o registro das Equipes de Atenção
Primária e de Saúde Mental no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).
 Instituída a Agência Para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (ADAPS) –
Decreto nº 10.283, de 20 de março de 2020.
 Suspensão temporária da transferência a estados e municípios, de recursos incluídos no
Bloco de Atenção de Média e Alta Complexidade (MAC), destinados ao custeio de Equipes
Multiprofissionais de Atenção Domiciliar e Equipes Multiprofissionais de Apoio (Programa
Melhor em Casa), Portaria nº 821.
 Estabelece recursos do Bloco de Custeio das Ações e dos Serviços Públicos de Saúde
a serem disponibilizados aos Estados, Distrito Federal e Municípios, destinados ao custeio
de ações e serviços relacionados à COVID-19 (Portaria nº 774).
 Define o procedimento para o registro obrigatório de internações hospitalares dos casos
suspeitos e confirmados de COVID-19, nos estabelecimentos de saúde públicos e privados
que prestam serviços no SUS (Portaria nº 758).
 Dispõe sobre a Ação Estratégica “O Brasil Conta Comigo – Profissionais da Saúde”,
voltada à capacitação e ao cadastramento de profissionais da área de saúde, para o enfren-
tamento à pandemia do coronavírus (COVID-19), Portaria nº 639.
 Institui o Programa Conecte SUS e altera a Portaria de Consolidação nº 1/GM/MS, de
28 de setembro de 2017, para instituir a Rede Nacional de Dados em Saúde e dispor sobre
a adoção de padrões de interoperabilidade em saúde (Portaria nº 1.434, de 28 de maio de
2020).
FONTE: A autora

Em 2011, vários acontecimentos importantes foram registrados, dentre


eles a campanha “Saúde Não Tem Preço”, com o objetivo de disponibilizar,
gratuitamente, medicamentos para o tratamento de hipertensão, diabetes e
asma por meio do Programa Farmácia Popular, sendo que posteriormente,
o Ministério da Saúde ampliou a disponibilização e gratuidade de outros
medicamentos. O Programa Academia da Saúde é uma estratégia de promoção
e produção do cuidado com a saúde, a partir da implantação de espaços públicos.

Também foi instituída a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) pela Portaria


nº 3.088/2011, que é uma rede de cuidado para o atendimento de pessoas com
sofrimento ou transtorno mental, incluindo os usuários de crack, álcool e outras
drogas que estabelecem relação prejudicial com a substância.

Em 2013, o destaque foi para o Programa Mais Médicos, com a finalidade


de ampliar o número de profissionais formados, levando mais atendimentos às
regiões sem atenção médica. Foi bastante polêmico, na época, pois criou novos
programas de graduação em Medicina e mudanças curriculares, desencadeando

133
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

conflitos com a profissão ‘médico’, tendo como principal motivo a contratação de


médicos estrangeiros sem revalidação de diploma junto ao Conselho Federal de
Medicina (MACHADO; SILVA, 2019).

Em contrapartida, após dois anos de Programa, 63 milhões de brasileiros já


haviam sido beneficiados com a presença dos médicos em 4.058 municípios do
Brasil (BRASIL, 2015). O programa aumentou em 18.000 o número de médicos
que trabalhavam na Atenção Básica em 4.058 municípios, bem como melhorou a
qualidade do atendimento e a satisfação do paciente (CASTRO et al., 2019).

Cabe salientar que em 2002 foi realizada uma pesquisa IBOPE-CNI, sendo
que 59% da população brasileira aprovava as políticas de saúde do Governo
Federal. Em 2014, esse percentual passou para 19%, de acordo com as
mesmas fontes e metodologia de pesquisa, sendo que essa desaprovação foi em
decorrência da demora no atendimento na rede pública, da falta de equipamentos
e investimentos de saúde e da falta de médicos e profissionais de saúde (MEDICI,
2014).

No que se refere às condições de saúde da população brasileira, de acordo


com Souza et al. (2019), reduções expressivas das taxas de mortalidade por
causas evitáveis e doenças transmissíveis, da morbimortalidade materno-infantil
e da desnutrição infantil, ocorreram entre 1990 e 2015. Por outro lado, entre 2015
e 2016, os índices de mortalidade infantil cresceram, opondo-se à tendência
histórica, que é de redução.

Outro ponto a destacar é que a expansão das ações de vigilância, controle


e prevenção auxilia na redução da morbimortalidade referente às doenças
transmissíveis, especialmente das imunopreveníveis. Entretanto, doenças que
ainda não dispõem de tecnologias de controle efetivas, como zika, dengue e
chikungunya, mantiveram a prevalência elevada das enfermidades infecciosas no
país (SOUZA et al., 2019).

Em 2016, foi lançada a Campanha “Cuidar bem da saúde de cada um. Faz
bem para todos. Faz bem para o Brasil”, em parceria com os Ministérios da
Saúde e das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, objetivando
a garantia do acesso à saúde, com respeito aos direitos de transexuais e travestis.

134
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Para complementar seus conhecimentos, indicamos a leitura


do artigo Categorias institucionais das políticas de saúde no Brasil
(1990-2017), disponível em:
http://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/index.php/cadernos/
article/view/381.

A 16ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2019, teve o tema


“Democracia e Saúde” e a referência à “8ª+8”, marcando o resgate da histórica 8ª
Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986.

Para ter acesso ao Relatório Final da 16ª CNS, acesse:


https://conselho.saude.gov.br/16cns/Relatorio_16CNS.pdf.

Ressalta-se que o Decreto nº 9.795, de 17 de maio de 2019, de forma


resumida, muda o organograma do Ministério da Saúde, sendo que a Atenção
Básica ganhou uma Secretaria, a Especial de Saúde Indígena foi mantida, a
Gestão Participativa perdeu espaço, uma vez que a secretaria que cuidava do
assunto foi extinta. Foi criada uma coordenação responsável pela temática do
tabaco, mas não está claro se o Programa Nacional do Controle do Tabagismo
sairá ou não do Instituto do Câncer (Inca), entre outras alterações.

Agora que você já está bem inteirado sobre os fatos ocorridos no percurso
histórico, vamos recordar as principais legislações envolvendo o SUS?

O quadro a seguir traz um resumo das principais legislações básicas do


SUS. Por não ser objetivo principal da disciplina e por questões de logística, não
as aprofundaremos.

135
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

QUADRO 5 – PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES BÁSICAS DO SUS


ANO LEGISLAÇÃO BREVE RESUMO
Art. 196: “saúde é direito de todos e dever do Estado garantido me-
diante o acesso igualitário às ações e serviços para sua promoção, pro-
teção e recuperação”.
Art. 197: designa ao poder público regulamentar, controlar e fiscalizar
serviços de saúde públicos e privados.
Constituição Art. 198: descreve que as ações e serviços públicos de saúde inte-
1988
Federal gram uma rede regionalizada e hierarquizada, seguindo as diretrizes
de descentralização, atendimento integral e participação comunitária.
Complementa aspectos do financiamento específico da saúde.
Art. 199: estabelece diretrizes para a complementariedade do sistema
pela iniciativa privada.
Art. 200: define competências e atribuições do SUS.
Dispõe sobre as condições para a promoção e recuperação da saúde,
1990 Lei nº 8.080 a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências.
Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Úni-
1990 Lei nº 8.142 co de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de
recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.
Acrescenta dispositivos à Lei nº 8.080 e institui o Subsistema de Aten-
1999 Lei nº 9.836
ção à Saúde Indígena.
Acrescenta capítulo e artigo à Lei nº 8.080 e regulamenta a assistência
2002 Lei nº 10.424
domiciliar no SUS.
Altera a Lei nº 8.080, garantindo às parturientes o direito à presença de
2005 Lei nº 11.108
acompanhante no âmbito do SUS.
Regulamenta a Lei nº 8.080, para dispor sobre a organização do SUS, o
2011 Lei nº 7.508 planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfede-
rativa, e dá outras providências.
Altera a Lei nº 8.080, para dispor sobre a assistência terapêutica e a
2011 Lei nº 12.401
incorporação de tecnologia em saúde no âmbito SUS.
Acrescenta artigos 14-A e 14-B à Lei nº 8.080, dispõe sobre as comis-
2011 Lei nº 12.466 sões intergestores, CONASS e CONASEMS e suas respectivas com-
posições.
Altera o caput do Art. 3º da Lei nº 8.080, incluindo a atividade física como
2013 Lei nº 12.864
fator determinante e condicionante da saúde.
Altera a Lei nº 8.080, obrigando os hospitais a manter, em local visível,
2013 Lei nº 12.895
aviso informando o direito da parturiente a acompanhante.
Altera os Arts. 23 e 53 da Lei nº 8.080, permitindo a participação de
2015 Lei nº 13.097
empresas ou de capital estrangeiro na assistência à saúde.

136
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

Lei nº 13.427

Altera o Art. 7º da Lei nº 8.080, para inserir o princípio da organização de


atendimento público específico e especializado para mulheres e vítimas
Portaria de
de violência doméstica em geral.
Consolidação
nº 1
Consolidação das normas sobre os direitos e deveres dos usuários da
saúde, a organização e o funcionamento do Sistema Único de Saúde.

Portaria de
Consolidação das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sis-
Consolidação
tema Único de Saúde.
nº 2

Consolidação das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sis-


2017 Portaria de
tema Único de Saúde.
Consolidação
nº 3
Consolidação das normas sobre os sistemas e os subsistemas do Sis-
tema Único de Saúde.
Portaria de
Consolidação
Consolidação das normas sobre as ações e os serviços de saúde do
nº 4
Sistema Único de Saúde.

Portaria de
Consolidação das normas sobre o financiamento e a transferência dos
Consolidação
recursos federais para as ações e os serviços de saúde do Sistema
nº 5
Único de Saúde.

Portaria de
Consolidação
nº 6
FONTE: A autora

É importante salientar que em setembro de 2017 houve a assinatura de


seis Portarias de Consolidação dos Atos Normativos do Ministério, que unificam
normas/legislações de 1990 a 2017, sistematizando aproximadamente 750
portarias (consideradas de conteúdo normativo e de efeitos permanentes ou
duradouros), as quais foram divididas em eixos temáticos pelo Ministério da
Saúde. Ressalta-se que não se trata de uma revisão normativa, mas sim de uma
análise, visando à adequação necessária.

Assim, veja como é relevante e fundamental que nos debrucemos sobre


as atualizações propostas pelo Ministério da Saúde, uma vez que é a nossa
vivência, seja como profissional de saúde ou como cidadão, sendo que as

137
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

nossas sugestões e críticas referentes às propostas apresentadas e/ou impostas


permitirão o aperfeiçoamento gradual do nosso sistema de saúde.

Para finalizar, convidamos você a assistir ao vídeo 30 anos do


SUS: desafios e caminhos para o direito à saúde, disponível em:
https://portal.fiocruz.br/video/30-anos-do-sus-desafios-e-caminhos-
para-o-direito-saude.

Para encerrarmos o nosso capítulo com chave de ouro, só falta você realizar
a atividade de estudo. Portanto, mãos à obra!

1 Em todo fechamento de período histórico, no Capítulo 1,


apresentamos um resumo, contendo o cenário político e
econômico, a organização da saúde e o perfil epidemiológico.
Agora, chegou a hora de você elaborar esse resumo, seguindo
as mesmas etapas, com base no que foi disponibilizado para
você durante o Capítulo 2. Você pode fazer um resumo para cada
década ou um resumo mais expandido, englobando desde 1990
até 2020. Fica a seu critério. A seguir, um modelo a ser seguido,
conforme apresentado no capítulo anterior.

138
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nosso capítulo chega ao fim, e como bem vimos, historicamente, a atenção
à saúde no Brasil está atrelada às mudanças sociais, econômicas, culturais, mas
principalmente às políticas que ocorreram desde o século XV, se intensificando
nos séculos seguintes até chegar ao século XXI, sempre produzindo alterações
significativas na vida e na saúde da população.

Foi uma imersão nos diversos acontecimentos relacionados à saúde, mas em


especial no Sistema Único de Saúde, em que foi possível relembrar e conhecer
fatos históricos, que esperamos que tenham enriquecido seu aprendizado. Acima
de tudo, almejamos que seu olhar tenha se pluralizado no que se refere ao SUS.

O que será do SUS e das políticas de saúde nos próximos anos ainda é
um capítulo a ser redigido. O que sabemos é que decorridos esses 32 anos, o
SUS traz em sua biografia a concepção de um sistema universal, equânime e
integral, permeado de lutas, desafios, entraves, mas com ganhos significativos
para a sociedade.

Durante a abordagem teórica que o capítulo proporcionou, pôde-se ratificar


que progressos ocorreram na saúde da população, mas também pôde-se inferir
que ainda falta muito a ser conquistado e que necessitamos prementemente que
o modelo centrado na doença e na assistência médico-hospitalar seja superado.

Constatamos também que o SUS é, e sempre será, uma obra inacabada,


pois está em constante aperfeiçoamento e adaptação e que várias agendas e
atores influenciam para que essa construção permaneça ou vá à ruína.

Embora o SUS seja questionado, alvo de críticas, discriminado e a todo


momento sejam revelados gargalos profundos, todos nós devemos intervir para
que ele se mantenha, especialmente no que se refere a ser de acesso universal e
atendimento integral, ainda mais em tempos de pandemia.

Ao terminarmos mais uma etapa da nossa disciplina Políticas de Saúde,


esperamos que todas essas informações tenham contribuído de forma positiva
para o seu engrandecimento pessoal e profissional e que tenham ampliado a sua
visão crítica.

Desta forma, agradecemos seu empenho e nos encontraremos no próximo e


último capítulo!

139
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

REFERÊNCIAS
ABRASCO. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA. SUS, 30 anos.
2018. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/noticias/sistemas-de-
saude/o-sus-trouxe-ganhos-imensos-para-populacao-mas-nenhum-governo-o-
priorizou/37424/. Acesso em: 16 maio 2020.

AGÊNCIA SENADO. Executivo veta extensão de oferta de sangue e


hemoderivados pelo SUS. 2019. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/
noticias/materias/2019/12/27/executivo-veta-extensao-de-oferta-de-sangue-e-
hemoderivados-pelo-sus. Acesso em: 20 maio 2020.

BAHIA, L. Sistema Único de Saúde. c2020. Disponível em: http://www.sites.


epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/sisunisau.html. Acesso em: 15 maio 2020.

BANCO MUNDIAL. Propostas de reformas do sistema único de saúde


brasileiro: nota de política econômica. Brasília: Grupo Banco Mundial, 2018.
Disponível em: http://pubdocs.worldbank.org/en/545231536093524589/
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BANCO MUNDIAL. Um ajuste justo: análise da eficiência e equidade do gasto


público no Brasil. Brasília: Grupo Banco Mundial, 2017. Disponível em: http://
documents.worldbank.org/curated/en/884871511196609355/pdf/121480-
REVISED-PORTUGUESE-Brazil-Public-Expenditure-Review-Overview-
Portuguese-Final-revised.pdf. Acesso em: 20 maio 2020.

BRASIL. Decreto nº 10.283, de 20 de março de 2020. Institui o Serviço Social


Autônomo denominado Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária
à Saúde - Adaps. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/decreto/D10283.htm. Acesso em: 20 maio 2020.

BRASIL. Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019. Institui o Programa


Previne Brasil, que estabelece novo modelo de financiamento de custeio da
Atenção Primária à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde, por meio da
alteração da Portaria de Consolidação nº 6/GM/MS, de 28 de setembro de 2017.
2019a. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.979-de-12-
de-novembro-de-2019-227652180. Acesso em: 17 maio 2020.

140
Capítulo 2 POLÍTICAS DE SAÚDE: UM OLHAR SOBRE O SUS

BRASIL. Decreto nº 9.795, de 17 de maio de 2019. Aprova a Estrutura


Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das
Funções de Confiança do Ministério da Saúde, remaneja cargos em comissão
e funções de confiança, transforma funções de confiança e substitui cargos em
comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS por Funções
Comissionadas do Poder Executivo - FCPE. 2019b. Disponível em: https://www2.
camara.leg.br/legin/fed/decret/2019/decreto-9795-17-maio-2019-788131-norma-
pe.html. Acesso em: 20 maio 2020.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Relatório da 16ª Conferência Nacional


de Saúde: versão preliminar. Brasília: Conselho Nacional de Saúde; 2019c.
255 p. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/16cns/Relatorio_16CNS.pdf.
Acesso em: 13 maio 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa mais médicos – dois anos: mais


saúde para os brasileiros. Brasília, DF: Secretaria de Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde, 2015. Disponível em: http://maismedicos.gov.br/images/
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147
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

148
C APÍTULO 3
POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA
ATUAL

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Conhecer a atual conjuntura das políticas de saúde.


• Apreender sobre a existência de políticas nacionais de saúde voltadas para
determinados setores e grupos sociais, enfatizando a Vigilância em Saúde e
sua relação com as políticas nacionais em saúde, bem como a avaliação e o
monitoramento das políticas de saúde.
• Refletir de forma crítica as políticas nacionais de saúde.
• Analisar criticamente a utilidade das políticas públicas no campo da
saúde, contextualizando com a realidade brasileira, identificando lacunas,
possibilidades e limites.
• Compreender a importância da avaliação e do monitoramento das políticas de
saúde como ferramentas de controle e retroalimentação.
• Instrumentalizar os profissionais de saúde para atuarem no campo das políticas
públicas, participando do seu planejamento, execução e avaliação.
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

150
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Prezado acadêmico, você está sendo convidado a revisitar as políticas
públicas desenvolvidas na atenção à saúde em âmbito nacional, bem como a
fazer um paralelo com a Vigilância em Saúde, além de conhecer o universo da
avaliação e o monitoramento das políticas públicas.

Assim, o último capítulo da disciplina Políticas de Saúde está dividido em


três seções, a saber: Conhecendo as políticas nacionais de saúde vigentes;
Vigilância em saúde e interface com as políticas nacionais de saúde e Avaliação e
monitoramento das políticas de saúde: uma visão panorâmica.

Ao longo deste capítulo, queremos que você prossiga a viagem, ampliando


seus conhecimentos acerca das políticas nacionais de saúde vigentes e
esperamos que você analise de modo crítico-reflexivo a interface destas políticas
com a atenção à saúde das diversas populações, articulando com suas práticas
profissionais, se possível.

É importante recordar que no decorrer do capítulo anterior constatamos que


a Reforma Sanitária e os movimentos sociais no Brasil começaram a ganhar força
nas décadas de 1970 e 1980, gerando debates no âmbito social, econômico e
político sobre a criação de um sistema de saúde único, sendo que a Constituição
de 1988 consagrou a saúde como um direito fundamental, culminando com o
Sistema Único de Saúde (SUS), inserido efetivamente no ordenamento jurídico
em 1990. Nessa acepção, é estabelecido que compete ao Estado implementar
as políticas públicas, a fim de que possa cumprir o seu papel, respondendo às
demandas de saúde da população.

Nesse sentido, é importante que as políticas de saúde ofertadas sejam


elaboradas a partir das necessidades e reivindicações da sociedade civil,
considerando as especificidades próprias de cada segmento populacional.

Convém elucidar que não temos a pretensão de esgotar os temas aqui


abordados, mas sim trazer à tona as políticas nacionais voltadas para a promoção
da saúde, especialmente as contempladas na Portaria de Consolidação nº 2,
de 28 de setembro de 2017, de forma concisa, enfatizando a Política Nacional
de Atenção Básica e a Política Nacional de Vigilância em Saúde, bem como
apresentar elementos embasados em evidências científicas e legais.

No decorrer das seções, você encontrará sugestões de sites da internet que


complementarão seu aprendizado, por meio de artigos científicos, explicações,
legislações pertinentes, publicações oficiais, webpalestras, entre outros.

151
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Propomos que, antes de iniciar a leitura do material didático, você faça um


exercício recordatório e busque identificar quais são as políticas nacionais de
saúde que conhece. Acredite, ao término do estudo, você se surpreenderá em
saber quantas existem.

Vamos lá, preparado? Desejamos que a leitura seja proveitosa!

2 CONHECENDO AS POLÍTICAS
NACIONAIS DE SAÚDE VIGENTES
Até aqui, vimos que a saúde se firmou como direito social a partir da
Constituição Federal de 1988, denominada de Constituição Cidadã justamente
por ser um marco histórico aos direitos dos cidadãos, e da regulamentação do
Sistema Único de Saúde, conquistando grandes avanços na atenção primária em
saúde, por meio da expansão de suas políticas e ações.

Desse modo, foi com a instituição da Seguridade Social como padrão de


proteção social e a saúde como direito de todos e dever do Estado, a partir da
promulgação da Constituição vigente, que as políticas de saúde vêm sendo
discutidas e definidas de forma mais profusa.

Destarte, antes de iniciarmos a apresentação das atuais políticas de saúde,


teceremos um rápido comentário sobre a elaboração das políticas, a fim de
propiciar uma contextualização.

A formulação de uma política é composta de diversas etapas


consubstanciadas e interdependentes, que engloba aspectos pertinentes ao
modus operandi escolhido por um Estado para intervir nas relações sociais dos
cidadãos, em um contexto de consensos e conflitos (PAESE; AGUIAR, 2012).
Assim, a elaboração de uma política revela o posicionamento político-ideológico
de um governo, bem como significa “quem decide o que, quando, com que
consequências e para quem” (TEIXEIRA, 2002, p. 2).

No Brasil, a criação da Secretaria de Políticas de Saúde (SPS), em 1997,


integrada por áreas de formulação e avaliação de políticas, foi um divisor de
águas, pois pela primeira vez o Ministério da Saúde evidenciava a necessidade
da formulação de políticas de saúde, gerando uma grande expectativa.

Outro marco histórico foi o lançamento do documento Políticas de Saúde:


metodologia de formulação, em 1998, que foi elaborado com base na Constituição

152
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Federal e nas Leis Orgânicas da Saúde, estabelecendo que o processo de


construção das políticas deveria ser coletivo, viabilizando a participação efetiva
de órgãos públicos, da iniciativa privada, de entidades representativas dos
profissionais e da sociedade civil (BRASIL, 1998).

O documento apresenta os elementos básicos que devem constar em uma


política para que ela cumpra a sua finalidade, como: introdução (bases legais
e justificativa); propósito (delimitando o raio de ação e servindo de base para
a avaliação do seu impacto); diretrizes (indicando as linhas de ação a serem
praticadas e os caminhos sobre os quais atuará o setor saúde que operacionalizará
a política); responsabilidades institucionais (atribuições e competências que
possibilitarão a consecução das diretrizes, apresentando parcerias com vistas
à intersetorialidade das ações) e parâmetros de avaliação, assim como as três
fases específicas e sequenciais: proposição; aperfeiçoamento e validação.

Também informa que o processo de formulação de uma política de saúde


deve ser desencadeado a partir de demandas específicas, como da alta direção
(área técnica) do Ministério da Saúde; da equipe da Secretaria de Políticas
(Departamento de Formulação); de outros segmentos de governo ou da
sociedade civil, concluindo que a política não deve restringir-se aos gestores,
órgãos integrantes do SUS e Ministério da Saúde, devendo expressar os rumos
de todo o sistema de saúde nacional, sendo parte integrante das políticas sociais
do Governo Federal.

Nessa dimensão, a formulação de uma política é um processo dinâmico,


sistematizado, organizado e complexo, que envolve a distribuição e redistribuição
de responsabilidades com a participação dos atores envolvidos na temática,
especialmente da sociedade civil, devendo ser bem delineada, com metas,
objetivos e diretrizes claros e factíveis.

Partindo dessas colocações, complementamos com a citação de Lucchese


(2004, p. 3):

As políticas públicas em saúde integram o campo de ação social


do Estado orientado para a melhoria das condições de saúde
da população e dos ambientes natural, social e do trabalho.
Sua tarefa específica em relação às outras políticas públicas
da área social consiste em organizar as funções públicas
governamentais para a promoção, proteção e recuperação da
saúde dos indivíduos e da coletividade.

Após esse breve recorte, daremos início ao escopo desta seção, que é
retratar as políticas nacionais de saúde na atual conjuntura.

153
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

As políticas de saúde têm se modificado ao longo do tempo no Brasil,


adequando-se ao cenário social, econômico, político e demográfico, bem como
vêm enfrentando desafios, como a inserção da saúde no modelo da Seguridade
Social e de desenvolvimento, o subfinanciamento e a relação público/privado, o
que nos leva a refletir criticamente sobre elas.

É notório que elas têm inúmeros outros desafios, dentre eles, a transição
demográfica e as mudanças sociais, gerando reflexos positivos ou não, uma vez
que dependem dos investimentos efetuados pelo Estado e implantação, nesse
período, de serviços, programas e políticas, os quais devem ser universais,
emancipatórios, equânimes e redistributivos, assumindo, assim, a noção de
equidade, reconhecendo a saúde como direito e priorizando as necessidades
populacionais (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2017).

Nesse sentido, as políticas públicas são instituídas pelo Estado como


resposta às demandas requisitadas pela sociedade, numa tentativa de manifestar
o compromisso público em atuar numa determinada área em longo prazo.

O referencial utilizado para caracterizar as políticas nacionais de saúde


está ancorado na Portaria de Consolidação nº 2, de 28 de setembro de 2017,
que compilou as normas sobre as políticas vigentes do Sistema Único de Saúde,
apresentando-as em Anexos e não mais em Portarias, dividindo-as em capítulos e
seções (BRASIL, 2017a).

É importante salientar que todas as Portarias referentes às


Políticas, aqui abordadas, foram revogadas e transformadas em
Anexos pela Portaria de Consolidação nº 2, de 2017, sendo que
apresentaremos o número do Anexo entre parênteses na sua
descrição. Contudo, a Portaria original constará no texto para que
você tenha ciência.

154
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Dessa forma, as Políticas Nacionais de Saúde serão apresentadas de acordo


com a classificação contida na Portaria de Consolidação nº 2/2017, em forma de
subitens e figuras, a fim de facilitar a visualização, sendo, em seguida, discorrido
sucintamente cada uma delas.

O Capítulo I – Das Políticas de Saúde, da Portaria de Consolidação nº


2/2017, está dividido em quatro seções: Das Políticas Gerais de Promoção,
Proteção e Recuperação da Saúde (Art. 2º); Das Políticas de Controle de Doenças
e Enfrentamento de Agravos de Saúde (Art. 3º); Das Políticas Voltadas à Saúde
de Segmentos Populacionais (Art. 4º) e Das Políticas de Promoção da Equidade
em Saúde (Art. 5º), com suas respectivas Políticas, conforme veremos a seguir.

Reitera-se que como são várias políticas, mais precisamente 51 políticas


nacionais de saúde vigentes, não será possível aprofundar cada uma delas,
assim, abordaremos brevemente, apresentando seus objetivos e pontos mais
relevantes, indicando a leitura de materiais complementares ao longo do texto.

2.1 POLÍTICAS GERAIS DE


PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E
RECUPERAÇÃO DA SAÚDE
FIGURA 1 – POLÍTICAS GERAIS DE PROMOÇÃO,
PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DA SAÚDE

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

155
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Ressalta-se que, embora as diretrizes da promoção da saúde tenham sido


introduzidas na Constituição de 1988 e na Lei nº 8.080/90, a Política Nacional
de Promoção da Saúde (PNPS) somente foi aprovada pela Portaria nº 687, de
30 de março de 2006, passando por reformulação em 2014, por meio da Portaria
nº 2.446/2014, sendo que a Portaria nº 227/2016 instituiu o Comitê Gestor da
Política Nacional de Promoção da Saúde (CGPNPS).

Assim, a PNPS (ANEXO I) tem como objetivo geral a promoção da equidade


e da melhoria das condições e modos de viver, ampliando a potencialidade da
saúde individual e da coletividade, a fim de reduzir vulnerabilidades e riscos à
saúde decorrentes dos determinantes sociais, econômicos, políticos, culturais e
ambientais, conforme o Art. 6º da Portaria nº 2.446/2014 (BRASIL, 2017a).

Um estudo de revisão narrativa realizado por Malta et al. (2018) sobre


os temas prioritários da PNPS, no período de 2005 a 2017, demonstrou que
avanços ocorreram, em especial nos programas e ações; alimentação adequada
e saudável; enfrentamento ao uso do tabaco e seus derivados; enfrentamento
do uso abusivo de álcool e outras drogas; práticas corporais e atividades físicas;
promoção do desenvolvimento sustentável; promoção da mobilidade segura e
sustentável; e promoção da cultura da paz e de direitos humanos.

Para saber mais sobre a Política Nacional de Promoção da


Saúde (PNPS), acesse o material publicado pelo Ministério da
Saúde, em 2018, disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_
promocao_saude.pdf.

A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados foi


instituída pela Lei nº 10.205/2001, e regulamentada pelo Decreto nº 3.990/2011,
sendo que em seu Art. 8º relata que terá por finalidade garantir a autossuficiência
do país nesse setor, harmonizando as ações do poder público em todos os níveis
de governo, e que será implementada, no âmbito do SUS, pelo Sistema Nacional
de Sangue, Componentes e Derivados (SINASAN) (BRASIL, 2017a; 2001). Em
2018, a Portaria nº 747/2018 redefiniu a Câmara de Assessoramento da Política
Nacional de Sangue, Componentes e Derivados no âmbito do SINASAN. É
importante frisar que sobre essa Política, pouca publicação é encontrada, tanto
no âmbito do Ministério da Saúde como na área acadêmica/científica, inclusive

156
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

a própria Portaria de Consolidação nº 2 somente a menciona, sem apresentar


maiores informações.

Abordaremos a Política Nacional de Vigilância em Saúde


(PNVS) na próxima seção.

A Política de Saúde Mental foi instituída pela Lei nº 10.216/2001, sendo que
a Portaria de Consolidação nº 2/2017 – Anexo II não traz maiores informações,
apresentando apenas o Capítulo I – Do Colegiado Nacional de Coordenadores de
Saúde Mental (Art. 2º ao Art. 7º) e o Capítulo II – Do Fórum Nacional sobre Saúde
Mental de Crianças e Adolescentes (Art. 8º ao Art. 9º) (BRASIL, 2017a).

Em 2019, a Nota Técnica nº 11 trouxe esclarecimentos sobre as mudanças


na Política Nacional de Saúde Mental e nas Diretrizes da Política Nacional sobre
Drogas, bem como a publicação do Decreto nº 9.761/2019, que aprova a Política
Nacional sobre Drogas, e a da Lei nº 13.840/2019, que muda radicalmente a
matriz da política nacional sobre drogas (BRASIL, 2019a).

Fatos esses que geraram polêmicas e críticas, haja vista o


desmantelamento de diversas conquistas alcançadas ao longo do
tempo, uma vez que propõe investimentos em hospitais psiquiátricos
e compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia (eletrochoques),
além da possibilidade da internação psiquiátrica de crianças e
adolescentes e internação compulsória de dependentes químicos.

A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) foi aprovada


em 1999, considerada um marco para ações de enfretamento da insegurança
alimentar e nutricional, bem como foi pioneira ao adotar como princípio a
realização do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) (JAIME et
al., 2018). Em 2011, foi atualizada pela Portaria nº 2.715, que, dentre as suas
diretrizes, estabelece a promoção de práticas alimentares e estilos de vida
saudáveis, tendo como objetivo melhorar as condições de alimentação, nutrição

157
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

e saúde da população, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas


e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado integral
dos agravos relacionados à alimentação e nutrição (BRASIL, 2013a). Atualmente,
é Anexo III da Portaria de Consolidação nº 2/2017.

A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF),


criada pelo Decreto nº 5.813/2006 (ANEXO IV), teve suas diretrizes detalhadas
como ações no Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Portaria
Interministerial nº 2.960/2008) (BRASIL, 2017a), tendo como objetivo “garantir à
população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e
fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento
da cadeia produtiva e da indústria nacional” (BRASIL, 2016a, p. 24). Assim,
enalteceu a fitoterapia brasileira à medida que estabeleceu diretrizes e linhas
prioritárias para que ações fossem desenvolvidas a fim de garantir acesso e o uso
racional dos fitoterápicos e das plantas medicinais.

Estudos têm mostrado que a implementação da PNPMF pouco evoluiu, haja


vista a falta de conhecimento dos profissionais de saúde e o ensino na graduação
sobre Fitoterapia ser incipiente, o predomínio do uso do medicamento sintético
como modelo dos serviços e a dificuldade do acesso aos fitoterápicos e às plantas
medicinais (SÁ et al., 2018).

Convidamos você a ler o artigo Políticas públicas de plantas


medicinais e fitoterápicos no Brasil: história no sistema de saúde,
para complementar seu conhecimento. Disponível em:
http://pensaracademico.facig.edu.br/index.php/
pensaracademico/article/view/18/439.

A Portaria nº 2.761/2013 institui a Política Nacional de Educação Popular


em Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde (PNEPS-SUS) (ANEXO V),
reafirmando os princípios do SUS, em especial o compromisso com a participação
popular, propondo uma prática político-pedagógica que perpassa as ações
voltadas para a promoção, proteção e recuperação da saúde, dialogando com
a diversidade de saberes, objetivando a valorização dos saberes populares, o
incentivo à produção individual e coletiva de conhecimentos e a inserção destes
no SUS (BRASIL, 2017a).

158
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Conforme Sthal e Leal (2017), a PNEP-SUS é uma conquista, uma vez que a
proposta é pensar projetos educativos não para as comunidades e sim com elas,
visto que seus eixos e estratégias propõem mudanças paradigmáticas na práxis
em saúde, superando o ensino tradicional e o modelo biomédico, reorientando as
relações entre usuários e profissionais.

Que tal reservar um momento para estudar um pouco mais sobre


a PNEP-SUS? Acesse a dissertação intitulada A “permanência” da
Política Nacional de Educação Popular em Saúde do SUS no Brasil
contemporâneo: um contexto de relações de força e transformações
sociais, disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/36759.

2.2 POLÍTICAS DE CONTROLE DE


DOENÇAS E ENFRENTAMENTO DE
AGRAVOS DE SAÚDE
Agora que já possibilitamos uma aproximação com as políticas gerais de
promoção, proteção e recuperação da saúde, apresentaremos as políticas de
controle de doenças e enfrentamento de agravos de saúde, conforme a Figura 2.

159
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

FIGURA 2 – POLÍTICAS DE CONTROLE DE DOENÇAS E


ENFRENTAMENTO DE AGRAVOS DE SAÚDE

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

As Diretrizes para Vigilância, Atenção e Eliminação da


Hanseníase como Problema de Saúde Pública foram aprovadas
pela Portaria nº 149/2016 (ANEXO VI), com a finalidade de orientar
gestores e profissionais dos serviços de saúde, as quais estão
elencadas no Manual Técnico Operacional, publicado no mesmo
ano, que pode ser acessado em:
http://www.credesh.ufu.br/node/1201.

Amplie seus conhecimentos lendo o artigo Resgate das políticas


de controle da Hanseníase no Brasil, publicado em 2019 e que está
disponível em:
h t t p : / / w w w. s e e r. u f a l . b r / i n d e x . p h p / n u s p f a m e d / a r t i c l e /
viewFile/6940/6372.

160
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Em 16 de maio de 2001, a Portaria nº 737 aprovou a Política Nacional de


Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violência (PNRMAV) (ANEXO
VII), com o objetivo da redução da morbimortalidade decorrente destes, mediante
o desenvolvimento de um conjunto de ações articuladas e sistematizadas,
priorizando as medidas preventivas, apresentando sete diretrizes, dentre elas:
monitorização da ocorrência de acidentes e de violências; sistematização,
ampliação e consolidação do atendimento pré-hospitalar e assistência
interdisciplinar e intersetorial às vítimas de acidentes e de violências (BRASIL,
2017a).

Sugerimos a leitura do artigo Institucionalização do tema da


violência no SUS: avanços e desafios, como complemento referente
ao tema, disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/csc/v23n6/1413-8123-csc-23-06-2007.pdf.

As Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio foram constituídas


pela Portaria nº 1.876/2006 (ANEXO VIII), apresentando diversos objetivos,
dentre eles, o desenvolvimento de estratégias de promoção de qualidade de vida,
educação, proteção e recuperação da saúde e de prevenção de danos, bem como
de estratégias de informação, comunicação e sensibilização da sociedade de que
o suicídio é um problema de saúde pública e que pode ser prevenido, organizando
linha de cuidados integrais em todos os níveis de atenção, garantindo o acesso às
diferentes modalidades terapêuticas (BRASIL, 2017a).

Salienta-se que em 2017 foi divulgada a Agenda de Ações Estratégicas para


a Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil 2017-2020,
assim como foi instituído o comitê para elaborar e operacionalizar o Plano Nacional
de Prevenção do Suicídio no Brasil (Portaria nº 3.479/2017), em conformidade
com as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio (BRASIL, 2017b).

Já a Política Nacional para Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) foi


instituída pela Portaria nº 874/2013, na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas
com Doenças Crônicas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (ANEXO IX), com
o objetivo de reduzir a mortalidade e a incapacidade causadas por esta doença,
bem como diminuir a incidência de alguns tipos de câncer, contribuindo, assim,
para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com câncer por
meio de ações de promoção, prevenção, detecção precoce, tratamento oportuno
e cuidados paliativos (BRASIL, 2017a).

161
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Propomos a leitura do artigo Política de Atenção ao Câncer no


Brasil após a Criação do Sistema Único de Saúde, a fim de aprimorar
seu aprendizado, que está disponível em: http://docs.bvsalud.org/
biblioref/2018/07/906037/politica-de-atencao-ao-cancer-no-brasil-
apos-a-criacao-do-siste_x9E2LuK.pdf.

Após a leitura do artigo indicado, seguimos a nossa imersão nas políticas


nacionais de saúde.

2.3 POLÍTICAS VOLTADAS À SAÚDE


DE SEGMENTOS POPULACIONAIS
A Figura 3 mostra as políticas voltadas à saúde de segmentos populacionais,
conforme a Portaria de Consolidação nº 2/2017. Vamos conhecê-las?

FIGURA 3 – POLÍTICAS VOLTADAS À SAÚDE DE SEGMENTOS POPULACIONAIS

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

162
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), no


âmbito do SUS, foi instituída pela Portaria nº 1.130/2015, tendo como objetivo a
promoção e a proteção referente à saúde da criança e aleitamento materno,
desde a gestação até os nove anos de idade, priorizando a primeira infância e
as populações de maior vulnerabilidade, visando reduzir a morbimortalidade,
conforme o Art. 2º do Anexo X, sendo considerada uma referência para a atenção
integral à criança (BRASIL, 2017a).

Cabe salientar que a saúde da criança consta na agenda política brasileira


há várias décadas, sendo que em 1937 foi criado, pelo Departamento Nacional
de Saúde do Ministério da Educação e Saúde, o primeiro programa de proteção
materno-infantil e adolescência. Em 1975, o Programa Nacional de Saúde
Materno-Infantil foi instituído, visando reduzir a morbimortalidade da criança e da
mulher. Já em 1983, houve o lançamento do Programa de Assistência Integral
à Saúde da Mulher e da Criança (PAISMC), sendo desmembrado em Programa
de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e Programa de Assistência
Integral à Saúde da Criança (PAISC), em 1984 (BRASIL, 2011a).

Que tal acessar a publicação do Ministério da Saúde, de 2018,


e saber mais sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Criança: orientações para implementação? Disponível em: https://
portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/
Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-
Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-PNAISC-
Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf

No que se refere às Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde


de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde,
a Portaria de Consolidação nº 2/2017 somente as cita, sem abordá-las em seu
texto.

Essas Diretrizes foram propostas pelo Ministério da Saúde com base na


Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, em
2010, tendo como objetivo geral “sensibilizar e mobilizar gestores e profissionais
do SUS para integrar nas ações, programas e políticas do SUS e nas outras
políticas de Governo, estratégias interfederativas e intersetoriais que convirjam
para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens” (BRASIL, 2010, p. 71).

163
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Ressalta-se que apenas no final dos anos 1980, as agendas do Brasil


passaram a priorizar políticas públicas para a juventude, com o Programa de
Saúde do Adolescente (PROSAD), criado pela Portaria nº 980/1989, para jovens
de ambos os sexos, com faixa etária de 10 a 19 anos. Contudo, teve insuficiente
aderência no contexto nacional e os adolescentes passaram a ser vistos como
integrantes da família, sendo redirecionados para o atendimento geral, sem
considerar suas especificidades. Em 2007, houve uma proposta preliminar
da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens
(PNAISAJ), que não foi promulgada (BRASIL, 1996; 2007a).

A Coordenação-Geral da Saúde de Adolescentes e Jovens propôs, em


2017, um documento denominado Proteger e cuidar da saúde do adolescente na
Atenção Básica, para auxiliar as Equipes de Atenção Básica/Saúde da Família
no trabalho com esse público, propondo como grandes eixos: cuidado da saúde,
hábitos saudáveis e a atenção aos principais aspectos clínicos (BRASIL, 2017d).

Alguns autores consideram que as políticas públicas de saúde


voltadas à adolescência e à juventude estão aquém do que é
estabelecido nos documentos, afirmando que, provavelmente, isso
ocorra devido às políticas serem criadas de forma verticalizada, sem
a participação dos jovens e sem conhecimento real das demandas
específicas de saúde do grupo. Assim, o nosso grande desafio,
enquanto profissionais de saúde, é garantir que estas políticas
públicas de saúde voltadas para os adolescentes sejam de fato
implementadas.

Indicamos o artigo Políticas Nacionais de Atenção Integral à


Saúde de Adolescentes e Jovens e à Saúde do Homem: interlocuções
políticas e masculinidade, disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/csc/v18n3/20.pdf.

164
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

No que se refere à temática “Saúde da Mulher” ser incorporada às políticas


nacionais de saúde, registros históricos mostram estar presente desde as
primeiras décadas do século passado, estando limitada às necessidades voltadas
à gravidez, parto e puerpério, por meio de programas materno-infantis com foco
no papel social de mãe, com visão fragmentada da mulher (SANTOS et al., 2010).

Em 1984 foi formulado o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher


(PAISM), contemplando a mulher em todas as suas fases do ciclo biológico,
rompendo com o modelo vigente que estava atrelado ao ciclo gravídico-puerperal,
incluindo ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação
(SANTOS et al., 2010).

Somente em 2003 foi dado início à formulação de uma política nacional


para a saúde da mulher e em 2004 a Política Nacional de Atenção Integral
à Saúde da Mulher – Princípios e Diretrizes é lançada, voltada para todos os
períodos do ciclo biológico vital, resguardadas as especificidades das diferentes
faixas etárias e dos distintos grupos populacionais, sendo reimpressa em 2011,
trazendo objetivos gerais e específicos, novas diretrizes e incorporando o ideário
feminista de que a saúde da mulher está relacionada a aspectos socioculturais e
não somente às questões reprodutiva e sexual (BRASIL, 2009; 2011c).

É importante destacar que a Portaria de Consolidação nº 2/2017 somente


cita a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres (PNAISM) em
sua Seção III, Art. 4º, sem apresentá-la em forma de Anexo.

De acordo com Costa et al. (2019), a política de saúde à mulher até


o momento é negligenciada, já que a mulher ainda é vista como objeto de
reprodução e, portanto, a PNAISM não se efetivou na realidade, embora tenha
sido um avanço, permitindo uma reorganização da assistência à saúde da mulher,
necessita ser repensada enquanto direito.

Para saber mais sobre a Política Nacional de Atenção Integral à


Saúde da Mulher: princípios e diretrizes, acesse o link a seguir: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_atencao_mulher.pdf.

Indicamos também o artigo Avanços e desafios da concretização


da Política Nacional da Saúde da Mulher: uma revisão de literatura,
disponível em: https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_
saude/article/download/6012/pdf.

165
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Referente à saúde do homem, apenas em 2007 foi criada, no Ministério da


Saúde, a Área Técnica de Saúde do Homem, sendo que, em 2008, o Programa
Mais Saúde incluiu a implantação de ações direcionadas para a Atenção à Saúde
do Homem, bem como foram publicados os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH).

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, no âmbito do


SUS, foi oficialmente lançada por meio da Portaria nº 1.944/2009 (ANEXO XII):

Visando à promoção da melhoria das condições de saúde


da população masculina brasileira, contribuindo, de modo
efetivo, para a redução da morbidade e da mortalidade dessa
população, por meio do enfrentamento racional dos fatores
de risco e mediante a facilitação ao acesso, às ações e aos
serviços de assistência integral à saúde (BRASIL, 2017a, p.
107).

Essa Política representou uma inovação empreendida pelo Ministério da


Saúde, haja vista que, historicamente, os homens não eram sujeitos singularizados
nas ações de saúde desenvolvidas pelo Estado. Contudo, salienta-se que a
elaboração dessa política não contou com a colaboração dos envolvidos, ou seja,
os homens não foram ouvidos no que se refere as suas especificidades, sendo
construída de forma protocolar, o que dificulta sua implementação, como muito
bem é constatado nas produções científicas.

Um passo importante para a proteção à pessoa idosa foi a Política Nacional


do Idoso, criada pela Lei nº 8.842/1994 e regulamentada pelo Decreto nº
1.948/1996, com o objetivo de assegurar um envelhecimento saudável, bem
como preservar a capacidade funcional e a autonomia, a fim de garantir qualidade
de vida a essa população. Assim, foi estabelecida a Política Nacional de Saúde do
Idoso por meio da Portaria nº 1.395/1999, reconhecendo como uma das principais
consequências do envelhecimento a perda da capacidade funcional e mental.

Em 2003, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) compilou diversos


dispositivos legais vindo a somar com a Política Nacional do Idoso, tornando-se
um dos principais instrumentos de efetivação dos direitos da pessoa idosa.

A Portaria nº 2.528/2006 aprovou a Política Nacional de Saúde da Pessoa


Idosa (PNSPI) (ANEXO XI), que tem como finalidade primordial recuperar, manter
e promover a autonomia e a independência das pessoas idosas, direcionando
medidas consonantes com os princípios do SUS para esse fim, trazendo um novo
paradigma, incorporando a concepção de envelhecimento ativo (BRASIL, 2017a).

A Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência foi instituída


pela Portaria nº 1.060/2002, (ANEXO XIII), e tem como objetivo a reabilitação da

166
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

pessoa com deficiência, a proteção a sua saúde e a prevenção dos agravos que
determinem o aparecimento de deficiências, mediante o desenvolvimento de um
conjunto de ações articuladas entre os diversos setores da sociedade e a efetiva
participação da sociedade (BRASIL, 2017a).

Aprovada pela Portaria nº 254/2002, a Política Nacional de Atenção à Saúde


dos Povos Indígenas (PNASPI) (ANEXO XIV) tem como objetivo garantir a essa
população o acesso à atenção integral à saúde, no âmbito do SUS, contemplando
a diversidade cultural, social, histórica, geográfica e política, a fim de superar os
fatores de vulnerabilidade aos agravos a sua saúde (BRASIL, 2017a). Assim, a
PNASPI visa proporcionar atenção à saúde de forma particularizada, tomando
como base a heterogeneidade sociocultural e as especificidades epidemiológicas
e organizativas desse público.

É pertinente relatar que o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena


(SASISUS) está organizado em 34 Distritos Especiais de Saúde Indígena (DSEI)
localizados em todas as regiões brasileiras e que cabe à Secretaria Especial de
Saúde Indígena (SESAI) coordenar o SASISUS, bem como planejar, coordenar,
supervisionar, monitorar e avaliar a implementação da PNASPI (BRASIL, 2020).

Ressalta-se que, historicamente, a atenção à saúde indígena ficava a


cargo das missões religiosas e que com a criação da Fundação Nacional do
Índio (FUNAI), em 1967, foram formadas as Equipes Volantes de Saúde (EVSs).
Em 1999, o Subsistema de Atenção à saúde dos povos indígenas foi criado e
por meio dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) uma rede foi
implantada nas próprias comunidades para atender a essa população (FUNAI,
c2020). Já a Portaria nº 2.759/2007 estabeleceu diretrizes gerais para a Política
de Atenção Integral à Saúde Mental das Populações Indígenas (BRASIL, 2007b;
2017a), que, apesar de terem boas intenções, são superficiais e não estão sendo
operacionalizadas, conforme demonstrado em diversos estudos realizados.

Outro ponto a destacar é que a PNASPI prevê atenção


diferenciada às populações indígenas considerando a diversidade
sociocultural e as particularidades epidemiológicas e logísticas,
especialmente aos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato
(PIIRC), que são mais vulneráveis às doenças infectocontagiosas.
Nesse sentido, diante da pandemia do novo coronavírus, o
Ministério da Saúde elaborou um Plano de Contingência Nacional
para Infecção Humana pelo novo Coronavírus (COVID-19) em
Povos Indígenas, que pode ser acessado em: http://docs.bvsalud.

167
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

org/biblioref/2020/04/1095139/plano_de_contingencia_da_saude_
indigena_preliminar.pdf.

Também foi criada uma plataforma de dados, pelo IBGE, para


o enfrentamento à pandemia da COVID-19, com o objetivo de
apoiar órgãos governamentais, representantes da sociedade civil
e comunidades e organizações indígenas e quilombolas na gestão
dos impactos da pandemia sobre estas populações, que pode ser
acessada em: https://mapasinterativos.ibge.gov.br/covid/indeg/.

Antes de avançarmos, convidamos você a acessar os artigos


Análise crítica da interculturalidade na Política Nacional de Atenção
às Populações Indígenas no Brasil, disponível em: https://www.ncbi.
nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6385672/ e Relações entre produção
científica e políticas públicas: o caso da área da saúde dos povos
indígenas no campo da saúde coletiva, disponível em: https://www.
scielo.br/pdf/csc/v25n5/1413-8123-csc-25-05-1653.pdf.

Agora que você já realizou a leitura dos artigos indicados, avançaremos


mais um pouco na vasta gama de políticas nacionais de saúde, seguindo
nossa caminhada, dando continuidade às políticas voltadas aos segmentos
populacionais, conforme pode ser visto na Figura 4.

168
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

FIGURA 4 – POLÍTICAS VOLTADAS À SAÚDE DE


SEGMENTOS POPULACIONAIS – CONTINUAÇÃO

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT)


foi instituída oficialmente por meio da Portaria nº 1.823/2012 (ANEXO XV), está
alinhada com o conjunto de políticas de saúde do SUS e visa à atenção integral
à saúde do trabalhador, vendo o sujeito de forma holística, considerando suas
condições de vida e trabalho.

Ressalta-se que a PNSTT despontou pela necessidade de implementação


de ações em saúde do trabalhador em todos os níveis de atenção do Sistema
Único de Saúde.

A PNSTT apresenta sete objetivos em seu Capítulo II, Art. 8º, dentre eles:
o fortalecimento da Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) e a integração
com os demais componentes da Vigilância em Saúde e a incorporação da
categoria trabalho nos determinantes do processo saúde-doença dos indivíduos e
da coletividade, assegurando, desta forma, que a identificação das condições de
trabalho seja considerada nas ações dos serviços de saúde do SUS. Portanto, é
um dos objetivos que chama a atenção, pois se instituído nos atendimentos dos
serviços do SUS, amplia a possibilidade da efetividade política.

É uma política que inclui todos os trabalhadores, independentemente da sua


inserção no mercado de trabalho, formal ou informal, da zona urbana ou rural e
169
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

de seu vínculo empregatício, porém, em seu Art. 7, informa que deve priorizar
pessoas e grupos em situação de maior vulnerabilidade, ou seja, aquelas que
estão em situações precárias e informais de trabalho, em atividades de maior
risco à saúde ou ao trabalho infantil, devendo ser identificados por meio da
análise da situação de saúde local e regional, considerando suas especificidades
e singularidades sociais e culturais.

Cabe salientar que a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do


Trabalhador (RENAST) é a principal estratégia de efetivação, organização e
implementação das ações de Saúde do Trabalhador em todos os serviços do
SUS e que, no âmbito nacional, a Coordenação-Geral de Saúde do Trabalhador
(CGSAT), do Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância
das Emergências em Saúde Pública (DSASTE), da Secretaria de Vigilância em
Saúde (SVS), é a responsável pela gestão e planejamento das ações de Saúde
do Trabalhador, além de coordenar a implementação da PNSTT.

Para complementar o assunto, sugerimos que acesse o artigo


Alguns aspectos da Política Nacional de Saúde do Trabalhador no
Brasil. Disponível em:
h t t p s : / / w w w. s c i e l o . b r / p d f / p s o c / v 3 0 / 1 8 0 7 - 0 3 1 0 - p s o c -
30-e154362.pdf.

O Decreto nº 7.053/2009 instituiu a Política Nacional para a População


em Situação de Rua (PNPR) (ANEXO XVI), dando visibilidade a essa população
marginalizada, vulnerabilizada e que cresce exponencialmente, inaugurando um
novo modelo de relacionamento do Estado com este público.

No âmbito do Ministério da Saúde, a Portaria nº 3.305/2009 instituiu o Comitê


Técnico de Saúde para a População em Situação de Rua, com a finalidade de
propor ações que promovam o acesso à atenção à saúde e colaborar com a
elaboração, o acompanhamento e a avaliação de ações programáticas voltadas
para esta população. Já a Portaria nº 122/2012 definiu as diretrizes de organização
e funcionamento das equipes de Consultório na Rua (eCR), que integram a Rede
de Atenção Psicossocial e desenvolvem ações de Atenção Básica (BRASIL,
2017a). Recentemente, o Decreto nº 9.894/19 entrou em vigor, dispondo sobre
o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da PNPR (BRASIL,
2019d).

170
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Embora a PNPR seja considerada uma conquista singular à medida que


evidencia na agenda pública os direitos das pessoas em situação de rua, houve
atrasos em sua implantação/implementação em diversos municípios, sendo que
muitos ainda não aderiram. Conforme relatam Pereira e Mattos (2019), o baixo
grau de sua institucionalização permite que entes federativos atuem de forma
paliativa e imediatista.

Não deixe de assistir à Webpalestra – Atenção à saúde para as


pessoas em situação de rua, disponível em: https://repositorio.ufsc.
br/handle/123456789/202706.

A Portaria Interministerial nº 1.426/2004 institui a Política Nacional de


Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei, em Regime
de Internação e Internação Provisória (PNAISARI), sendo que a Portaria
Interministerial nº 1.082/2014 redefiniu as diretrizes para a sua implantação e
implementação, incluindo o cumprimento de medida socioeducativa em meio
aberto e fechado. No momento, está na forma do Anexo XVII pela Portaria de
Consolidação nº 2/2017.

Publicações e eventos relacionados à PNAISARI têm revelado que sua


implementação ainda não foi concretizada em diversos municípios, bem como a
saúde no sistema socioeducativo se encontra deficiente e, na maioria dos casos,
vem sendo prestada em desacordo com a Política.

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de


Liberdade no Sistema Prisional no âmbito do SUS (PNAISP) foi instituída pela
Portaria Interministerial MS- MJ nº 1/2014 (ANEXO XVIII), sendo que a Portaria
nº 482/2014 estabeleceu as normas para a operacionalização da PNAISP. Já a
Portaria nº 94/2014, que instituiu o serviço de avaliação e acompanhamento de
medidas terapêuticas aplicáveis à pessoa com transtorno mental em conflito com
a Lei, vinculado à PNAISP, foi revogada pela Portaria nº 1.325/2020.

Cabe salientar que a PNAISP foi idealizada tendo em vista a debilidade


do Plano Nacional de Saúde do Sistema Penitenciário (PNSSP) que, após 10
anos de execução, demonstrou-se insuficiente para atender às necessidades da
população carcerária, de acordo com vários estudos. Todavia, estudos recentes

171
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

têm demonstrado que, apesar da PNAISP ter sido um marco no contexto prisional
brasileiro, de nada adianta ter uma política de saúde prisional se as condições
carcerárias são insalubres, as ações de saúde pontuais e paliativas, com foco na
doença e não em medidas preventivas, ou seja, se não é colocado em prática o
que é apregoado por ela.

Para complementar seus conhecimentos sobre a PNAISP,


indicamos os artigos:
Política Nacional de Atenção Integral à saúde das pessoas
privadas de liberdade no sistema prisional: uma análise do seu
processo de formulação e implantação, disponível em:
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/
article/view/5043/3093.
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas
Privadas de Liberdade no Sistema Prisional: uma análise sobre a
evolução normativa, disponível em:
https://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/index.php/cadernos/
article/view/434/493.
Políticas de saúde voltadas às pessoas em situação de privação
de liberdade: uma perspectiva crítica em tempos de contrarreformas,
disponível em:
https://broseguini.bonino.com.br/ojs/index.php/CBAS/article/
view/180.

2.4 POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA


EQUIDADE EM SAÚDE
Observe que a Figura 5 traz as políticas de promoção da equidade em
saúde. Vimos, no Capítulo 2, que um dos princípios do SUS é a equidade, que é
fundamental para garantir a universalidade em saúde.

172
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

FIGURA 5 – POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA EQUIDADE EM SAÚDE

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

Como as políticas de promoção da equidade em saúde podem contribuir de


forma efetiva para os segmentos sociais a que elas são dirigidas?

Vale frisar que a implantação e a implementação dessas políticas são


voltadas para as necessidades de segmentos populacionais mais vulneráveis,
as quais visam à garantia do acesso à saúde com qualidade para essas
populações, partindo do princípio da equidade, que é um conceito relacionado à
justiça redistributiva, ou seja, para se atingir um objetivo comum, que é promover
saúde, às vezes, é necessário utilizar meios específicos devido às peculiaridades
encontradas.

Nesse sentido, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra


(PNSPN) foi aprovada pela Portaria nº 992/2009 (ANEXO XIX), com o objetivo
geral de “promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução
das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas
instituições e serviços do SUS”, tendo como marca o “reconhecimento do racismo,
das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes
sociais das condições de saúde” (BRASIL, 2017a, p. 182-183).

A PNSPN foi um marco importante, pois reconhece todos os processos


históricos de luta desse grupo populacional, bem como a influência que o racismo

173
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

tem nas condições sociais, que impactam na saúde, tendo como finalidade maior
o combate da discriminação étnico-racial nos serviços e atendimentos ofertados
no SUS, promovendo a equidade em saúde da população negra. Portanto, é uma
política transversal que reafirma os princípios constantes na Lei nº 8.080/90.

Convidamos você a aprofundar as informações assistindo a


Webpalestra – Saúde da População Negra: aplicações práticas na
Atenção Básica, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=55dufbESkNA.

Acesse também o documento Política Nacional de Saúde


Integral da População Negra: uma política do SUS, disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_
saude_populacao_negra_3d.pdf.

Em 2019, o Ministério da Saúde (MS) publicou a pesquisa Vigitel


Brasil 2018 População Negra: vigilância de fatores de risco e proteção
para doenças crônicas por inquérito telefônico, que desapareceu do
site do MS em junho de 2020, gerando polêmica e suscitando no
artigo Desmantelamento de políticas públicas e de pesquisas sobre
a saúde da população negra: descaso ou necropolítica?, publicado
no site da ABRASCO, que pode ser conferido em: https://www.
abrasco.org.br/site/noticias/desmantelamento-de-politicas-publicas-
e-de-pesquisas-sobre-a-saude-da-populacao-negra-descaso-ou-
necropolitica-artigo-de-elaine-oliveira-soares/49422/.

A Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da


Floresta e das Águas (PNSIPCFA) foi instituída pela Portaria nº 2.866/2011, no
âmbito do SUS, sendo alterada pela Portaria nº 2.311/2014 e atualmente está
contemplada no Anexo XX da Portaria de Consolidação nº 2/2017, que tem
como objetivo a promoção da saúde para essa demanda por meio de ações que
reconheçam as especificidades (gênero, etnia, raça, geração etc.) visando ao
acesso aos serviços de saúde, bem como à redução de riscos e agravos à saúde

174
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

provenientes dos processos de trabalho e das tecnologias agrícolas, melhorando


os indicadores de saúde e da qualidade de vida (BRASIL, 2017a).

Quer saber mais? Acesse o Observatório da Política Nacional


de Saúde Integral das Populações do Campo, Floresta e Águas –
Teia de saberes e práticas em:
http://www.saudecampofloresta.unb.br/.

Considerando como determinantes sociais da saúde a orientação sexual e


a identidade de gênero, assim como as condições desfavoráveis de saúde da
população lésbica, gay, bissexual, travesti e transexual (LGBT+) e objetivando
que as iniquidades e desigualdades em saúde nesse grupo sejam reduzidas, foi
instituída a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais (PNSILGBT), por meio da Portaria nº 2.836/2011
(ANEXO XXI). Tal política prevê um conjunto de ações em diversas áreas da
saúde como: transversalidade, participação social, produção de conhecimentos,
promoção, atenção e cuidado, ampliando o foco de atenção do Estado aos
problemas relativos ao HIV/AIDS.

LGBT+ é a terminologia utilizada pela Organização das Nações


Unidas (ONU) em documento traduzido pela UNAIDS Brasil para
as pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (ONU, 2013),
sendo acrescentado o símbolo + para abranger demais pessoas
que não se encaixam nas classificações para a orientação sexual,
identidade e expressão de gênero, como drag queens, drag kings,
crossdressers, transformistas, agênero, entre outras. Além disso,
há a inserção da letra “I” à sigla, que está relacionada à população
intersexual, mas que não está contemplada de maneira explícita na
PNSILGBT (REIS, 2018).

175
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

É oportuno enfatizar que, no setor saúde, há retornos positivos, ainda que


tímidos, como o programa “Brasil sem Homofobia”, a própria PNSILGBT, o uso
do nome social e a inclusão do processo transexualizador por meio do SUS, por
exemplo. Sem embargo, ainda existem lacunas entre o sistema de saúde e a
população LGBT+, pois diversos estudos apontam que a população transexual é a
que mais enfrenta dificuldades para acessar os serviços de saúde, desde a atenção
básica até a alta complexidade. Ademais, a vulnerabilidade, a discriminação e a
invisibilidade desse grupo populacional são notáveis e persistentes, necessitando,
portanto, que os entraves sejam eliminados e que a conduta dos profissionais
de saúde seja menos estigmatizada, a fim de que possam receber cuidados
humanizados e pautados nos princípios da integralidade e da equidade.

Outro aspecto relevante é que o atual governo, no dia da sua posse, em


janeiro de 2019, retirou qualquer menção sobre a população LGBTI+ das
diretrizes de políticas públicas do novo Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH) e diante da repercussão negativa informou que a
promoção dos direitos LGBTI+ ficaria sob responsabilidade da nova Diretoria de
Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(DPLGBT), subordinada à Secretaria Nacional de Proteção Global do MMFDH.
Ademais, houve a retirada de uma cartilha com dicas de prevenção de infecções
sexualmente transmissíveis voltadas para homens trans do site do Ministério da
Saúde (CERIONI, 2019).

Indicamos a leitura do artigo Implementação da Política


Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
e Transexuais (PNSI LGBT) no Paraná, Brasil, publicado em 2020 e
disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/icse/2020.v24/e190568/
pt.

Em meio à pandemia de COVID-19, a ABRASCO fez uma


consideração sobre a saúde da população LGBTI+ nesse contexto,
alertando que o silêncio da mídia e da sociedade brasileira sobre
esse grupo populacional durante a pandemia é uma evidência de
sua persistente invisibilidade social. Também aborda que a tendência
é que as iniquidades oriundas da raça/cor, da etnia, do gênero,

176
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

orientação sexual, classe, idade, deficiências, acentuem-se, tornando-


se imperativo que essas diferenças sejam consideradas durante esse
momento. Você pode acessar na íntegra essa comunicação em:
https://www.abrasco.org.br/site/noticias/posicionamentos-oficiais-
abrasco/consideracoes-da-abrasco-sobre-a-saude-da-populacao-
lgbti-no-contexto-da-epidemia-de-covid-19/47257/.

A Portaria nº 4.384/2018 alterou a Portaria de Consolidação nº 2/2017 para


instituir a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/
Romani, no âmbito do SUS (ANEXO XXI-A), tendo como objetivo geral a
promoção da saúde integral deste grupo populacional, respeitando seus saberes,
práticas e medicinas tradicionais, priorizando a redução e o combate à ciganofobia
ou romafobia (BRASIL, 2017a).

Vale salientar que o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou, em maio


de 2020, um documento com recomendações para a implementação de medidas
que garantam o atendimento à saúde dos povos ciganos diante da pandemia
provocada pelo vírus SARS-CoV-2 (novo Coronavírus), bem como orientando as
secretarias estaduais e municipais de Saúde e os Conselhos de Saúde para o
cumprimento da Portaria nº 940/2011, que isenta os povos ciganos e nômades de
apresentação de comprovante de residência para cadastro e atendimento no SUS
(SUSCONECTA, 2020).

A Portaria nº 4.384, de 28 de dezembro 2018, pode ser


acessada em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2018/
prt4384_31_12_2018.html.

Agora que concluímos as políticas relacionadas ao Capítulo I da Portaria


de Consolidação nº 2/2017, chegou a vez de nos apropriarmos das políticas que
compõem o Capítulo II - Das Políticas de Organização da Atenção à Saúde, o
qual está dividido em duas seções, a saber: Das Políticas Gerais de Organização
da Atenção à Saúde (Art. 6º) e Das Políticas de Atenção a Agravos Específicos
(Art. 7º), conforme a seguir.

177
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

2.5 POLÍTICAS GERAIS DE


ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À
SAÚDE
FIGURA 6 – POLÍTICAS GERAIS DE ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) será abordada na


próxima seção.

A Política Nacional de Saúde Bucal ‘Brasil Sorridente’ (PNSB) foi instituída


por pactuação da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), de 12 de fevereiro de
2004 e não está em forma de Anexo na Portaria de Consolidação nº 2/2017, ou
seja, somente é citada (BRASIL, 2017a).

A inserção da saúde bucal no SUS ocorreu quando o programa ‘Brasil


Sorridente’ foi criado, em 2004, e, portanto, durante anos, a Odontologia não
foi contemplada nas políticas públicas de saúde, bem como o acesso à saúde

178
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

bucal era difícil e restrito. Nesse sentido, a PNSB tem como objetivo principal
a reorganização da prática e a qualificação das ações e serviços oferecidos,
reunindo uma série de ações em saúde bucal voltada para a população de todas
as faixas etárias, com ampliação do acesso ao tratamento odontológico gratuito
por meio do SUS (BRASIL, 2016b).

Você poderá complementar seus conhecimentos sobre a PNSB


com a leitura do artigo Ocaso do ‘Brasil Sorridente’ e perspectivas
da Política Nacional de Saúde Bucal em meados do século XXI,
publicado em 2020, disponível em:
https://tempusactas.unb.br/index.php/tempus/article/view/2622.

A Política Nacional para os Hospitais de Pequeno Porte (PNHPP) foi


instituída pela Portaria nº 1.044/2004 (ANEXO XXIII) utilizando um modelo de
organização e financiamento que estimule a inserção desses estabelecimentos na
rede hierarquizada de atenção à saúde, agregando resolutividade e qualidade às
ações definidas para o seu nível de complexidade (BRASIL, 2017a). A sua adesão
acontece de forma voluntária, por meio de um processo de contratualização, via
Secretaria Estadual de Saúde.

De acordo com Corrêa (2019), em seu estudo sobre a PNHPP, somente


12 estados aderiram a ela, sendo que a maior parte das adesões ocorreu nas
unidades federadas das Regiões Norte e Nordeste; para uma política que é
nacional, essa aderência pode ser considerada pequena.

A Portaria nº 3.390/2013 institui a Política Nacional de Atenção Hospitalar


(PNHOSP) (ANEXO XXIV), determinando as diretrizes para a organização
do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS), sendo que as
disposições desta Portaria devem ser aplicadas a todos os hospitais, públicos ou
privados, que prestem serviços e ações de saúde no âmbito do SUS (BRASIL,
2017a).

179
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Recomendamos a leitura do artigo Política Nacional de


Atenção Hospitalar: con(di)vergências entre normas, Conferências e
estratégias do Executivo Federal, disponível em:
https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2017.v41nspe3/99-113/pt.

O Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 1.559/2008, instituiu a Política


Nacional de Regulação do SUS (ANEXO XVI), organizada em três dimensões
de atuação: Regulação de Sistemas de Saúde (atuação nos sistemas de saúde);
Regulação da Atenção à Saúde dirigida aos prestadores públicos e privados) e
Regulação do Acesso à Assistência (organização, controle, gerenciamento e
priorização do acesso e dos fluxos assistenciais), conforme seu Art. 2º, itens I, II e
III (BRASIL, 2017a).

Salienta-se que essa política resultou dos debates sobre regulação em saúde
por meio das Normas Operacionais Básicas (NOB 01/91, 01/92, 01/93 e 01/96),
aprofundando-se com as Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS),
ganhando ainda mais ênfase com o Pacto pela Saúde (CONASS, 2011).

FIGURA 7 – POLÍTICAS GERAIS DE ORGANIZAÇÃO DA


ATENÇÃO À SAÚDE – CONTINUAÇÃO

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

180
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

A Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF) foi instituída pela


Portaria nº 1.653/2004 (ANEXO XXVIII), sendo que alguns de seus Capítulos e
Anexos passaram por nova redação, revogações e retificações entre 2017 e 2020.

É importante recordar que a assistência farmacêutica, como política pública,


iniciou-se com a instauração da Central de Medicamentos (CEME), em 1971, cuja
missão era fornecer medicamentos para a população sem condições financeiras
para adquiri-los.

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC),


aprovada pela Portaria n° 971/2006 (ANEXO XXV), atende às diretrizes da
Organização Mundial de Saúde (OMS), e está voltada para o cuidado continuado,
humanizado e integral em saúde, sendo que o Anexo 2 – Observatório das
Experiências de Medicina Antroposófica no SUS – foi revogado pela Portaria nº
702/2018.

Em 2017 foram incluídas à PNPIC a arteterapia, ayurveda, biodança,


dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia,
reflexoterapia, Reiki, Shantala, terapia comunitária integrativa e Yoga (BRASIL,
2017e). Já em 2018, a Portaria nº 702 incluiu novas práticas (aromaterapia,
apiterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia,
hipnoterapia, imposição de mãos, medicina antroposófica/antroposofia aplicada
à saúde, ozonioterapia, terapia de florais e termalismo social/crenoterapia),
alterando a Portaria de Consolidação nº 2/2017 (BRASIL, 2018a). Assim,
atualmente, são 29 as práticas integrativas e complementares instituídas pela
PNPIC, no âmbito do SUS.

Vale mencionar que, apesar da relevância da PNPIC e de suas práticas, há


alguns obstáculos, como a dificuldade na oferta, na ampliação do acesso e no
financiamento para que o serviço seja fortalecido, com tímida utilização no dia a
dia assistencial devido à precariedade de recursos humanos e materiais para a
sua efetivação (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2016).

Habimorad et al. (2020) realizaram uma revisão narrativa referente à PNPIC,


demonstrando potencialidades e fragilidades referentes à implantação dessa
Política, destacando, dentre os achados, que o seu enfoque, por ser na Atenção
Básica (APS), garante o princípio da integralidade e que a falta de conhecimento
por parte dos profissionais e gestores do SUS, assim como a dos usuários com
relação às práticas integrativas e complementares, é uma importante fragilidade.

A Política Nacional de Medicamento (PNM) foi aprovada pela Portaria nº


3.916/1998, (ANEXO XVII) com a finalidade de assegurar à população o acesso
aos medicamentos dispostos como essenciais, promovendo seu uso racional e
garantindo sua segurança, eficácia e qualidade (BRASIL, 2017a).
181
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

É oportuno frisar que a formulação da PNM contou com setores do Ministério


da Saúde, gestores do SUS das três esferas, diversos segmentos público e
privado diretamente envolvidos e com a sociedade civil, via Conselho Nacional
de Saúde, denotando uma nova concepção de governança democrática, uma vez
que permitiu a participação popular, caracterizando transparência (CAMPELO;
SANTOS; OLIVEIRA, 2017; PAESE; AGUIAR, 2012).

Cabe mencionar que a PNM junto à PNAF são marcos fundamentais para a
população obter acesso aos medicamentos e aos serviços farmacêuticos no país.

2.6 POLÍTICAS DE ATENÇÃO A


AGRAVOS ESPECÍFICOS
Relativo às Políticas de Atenção a Agravos à Saúde, a Portaria de
Consolidação nº 2/2017 reuniu dez Políticas, que podem ser visualizadas nas
Figuras 8 e 9.

FIGURA 8 – POLÍTICAS DE ATENÇÃO A AGRAVOS ESPECÍFICOS

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

182
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Em 2005, a Portaria nº 426 instituiu a Política Nacional de Atenção Integral


em Reprodução Humana Assistida (PNRHA) (ANEXO XXX) com a finalidade
de proporcionar tratamento de reprodução humana assistida a casais inférteis,
no âmbito do SUS. É previsto que seja ofertado tratamento para a infertilidade
de média e alta complexidade, em todas as unidades federadas. Todavia, o
que se constata é que existem vários estados que não ofertam esse serviço, e,
assim, não tem sido universal, integral e equânime (OLIVEIRA, 2018). Outrossim,
os poucos estudos relacionados ao tema indicam a falta de conhecimento da
referida Política, tanto por parte de gestores como da população, em especial dos
beneficiários, ou seja, os casais inférteis.

A Portaria nº 962/2013 regulamentou a Política Nacional de Proteção dos


Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (ANEXO XXIX), que
havia sido instituída pela Lei nº 12.764/2012. Dessa forma, essa Lei engendrou
uma série de debates em torno de como essa população deveria ser assistida
pelas ações e serviços disponíveis no SUS, sendo elaborados dois documentos
pelo Ministério da Saúde, um intitulado Diretrizes de Atenção à Reabilitação da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, remetendo o autismo à deficiência, e
outro denominado Linha de Cuidado para a Atenção às Pessoas com Transtornos
do Espectro do Autismo e suas Famílias na Rede de Atenção Psicossocial do
Sistema Único de Saúde, concebendo-o como transtorno mental, ou seja, dois
documentos com concepções e orientações distintas (BRASIL, 2014; 2015a).

Para aprofundar seus estudos, sugerimos que você leia o artigo O


sujeito autista na Rede SUS: (im)possibilidade de cuidado, disponível
em: https://periodicos.uff.br/fractal/article/view/5635/17145.

A Política Nacional de Atenção Cardiovascular de Alta Complexidade


teve sua origem por meio da Portaria nº 1.169/2004 (ANEXO XXXI), devendo ser
operacionalizada por meio da organização e implantação de redes regionalizadas
de atenção cardiovascular, oferecendo todas as condições e suportes adequados
à assistência especializada e humanizada às pessoas com patologias
cardiovasculares (BRASIL, 2017a).

A assistência à pessoa com doença neurológica, no SUS, está prevista na


Portaria nº 1.161/2005, que instituiu a Política Nacional de Atenção ao Portador
de Doença Neurológica (ANEXO XXXII), incentivando os estados e municípios
a organizar e desenvolver estratégias educativas, de promoção de qualidade de

183
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

vida, proteção e recuperação da saúde, entre outras, perpassando pelos níveis de


atenção, especialmente o de alta complexidade (BRASIL, 2017a).

A Portaria nº 1.168/2004 instituiu a Política Nacional de Atenção ao


Portador de Doença Renal (ANEXO XXXIII), com atuação nas três esferas
governamentais, estabelecendo ações de promoção, prevenção, tratamento e
recuperação dos pacientes com problema renal na atenção básica, média e de
alta complexidade (BRASIL, 2017a).

FIGURA 9 – POLÍTICAS DE ATENÇÃO A AGRAVOS ESPECÍFICOS – CONTINUAÇÃO

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

A Portaria nº 221/2005 cria a Política Nacional de Atenção de Alta


Complexidade em Traumato-Ortopedia (ANEXO XXXIV), em que as Secretarias
Estaduais de Saúde deverão estabelecer um planejamento para formar uma rede
hierarquizada de atenção em alta complexidade em traumato-ortopedia, estadual
ou regional, a fim de prestar assistência às pessoas com afecções do sistema
musculoesquelético que necessitem ser submetidas aos procedimentos de alta
complexidade (BRASIL, 2017a).

A Política Nacional de Atenção em Oftalmologia (PNAO) instituída pela


Portaria nº 957/2008 (ANEXO XXXV) deve ser implantada em todas as unidades
federativas, sendo que na Atenção Básica as ações deverão estar voltadas à
promoção da saúde e à prevenção dos danos e recuperação, assim como às
ações clínicas para o controle das doenças que levam a alterações oftalmológicas.
Já a atenção diagnóstica e terapêutica especializada deve promover o acesso a

184
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

serviços de qualidade do paciente com doenças oftalmológicas a procedimentos


de média e alta complexidade (BRASIL, 2017a).

A PNAO foi discutida no VI Fórum Nacional de Saúde Ocular, ocorrido em


2019, e de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), embora seja
uma conquista, não foi implementada como deveria, bem como não atende na
totalidade princípios da Reforma Sanitária devido a vários motivos, dentre eles:
disparidade de oferta no país; financiamento concentrado no cuidado à catarata e
ao glaucoma; falta de integração da Atenção em Oftalmologia na Atenção Básica
etc. Assim, é premente a revisão da PNAO, de forma que ela possa efetivamente
sair do papel, bem como a necessidade de estudos consistentes a fim de garantir
sua operacionalização (ÁVILA, 2019; BENIZ NETO, 2019).

A Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença


Falciforme e outras Hemoglobinopatias (PNAIPDF) foi estabelecida pela
Portaria nº 1.391/2005 (ANEXO XXXVI), que instituiu as suas diretrizes (BRASIL,
2017a). Dessa forma, afirmou-se o compromisso público para a proteção à saúde
das pessoas com essas doenças, garantindo seus direitos em todos os níveis
de assistência no SUS. É oportuno relembrar que o SUS disponibiliza exames
necessários para o diagnóstico da doença falciforme, como o Teste do Pezinho
(Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTP)).

A Política Nacional de Atenção Integral em Genética Clínica foi instaurada


pela Portaria nº 81/2009 (ANEXO XXXVII), apresentando cinco objetivos
(Art. 2º), dentre eles: possibilitar que os determinantes e condicionantes dos
principais problemas de saúde relacionados a anomalias congênitas e doenças
geneticamente determinadas sejam identificados, a fim de fornecer subsídios para
a elaboração de ações e políticas públicas no setor (BRASIL, 2017a).

A Portaria nº 199/2014 institui a Política Nacional de Atenção Integral às


Pessoas com Doenças Raras, bem como as Diretrizes para Atenção Integral às
Pessoas com Doenças Raras no âmbito do SUS (ANEXO XXXVIII), tendo como
objetivo geral a redução da morbimortalidade e das manifestações secundárias,
bem como a melhoria da qualidade de vida das pessoas, por meio de ações
de promoção, prevenção, detecção precoce, tratamento oportuno, redução de
incapacidade e cuidados paliativos (BRASIL, 2017a).

Em 2019 foi realizado o Fórum de Políticas Públicas para Pessoas com


Doenças Raras pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,
o qual informou que há uma estimativa de 13 milhões de pessoas com doenças
raras, no Brasil, bem como existem em torno de 240 serviços que ofertam
assistência e tratamento para esse grupo populacional (BRASIL, 2019e).

185
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

2.7 POLÍTICAS DE ORGANIZAÇÃO DO


SUS
Por fim, apresentaremos as políticas nacionais que estão contempladas no
Capítulo III - Das Políticas de Organização do SUS, que em seu Art. 8º traz cinco
Políticas, conforme demonstradas na Figura 10.

FIGURA 10 – POLÍTICAS DE ORGANIZAÇÃO DO SUS

FONTE: Adaptada de Brasil (2017a)

A Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa (ParticipaSUS)


está na forma de Anexo 1 do Anexo XXXIX, tendo sua origem na Portaria
nº 3.027/2007. São destaques dessa Política: a valorização dos diferentes
mecanismos de participação popular e de controle social, a promoção da inclusão
social de populações específicas e a afirmação do protagonismo da população na
luta por saúde a partir da ampliação de espaços públicos de debates e construção
de saberes e a promoção da integração e interação das ações de auditoria,
ouvidoria, monitoramento e avaliação com o controle social, entendidos como
medidas para o aprimoramento da gestão do SUS nas três esferas de governo
(BRASIL, 2017a).

Vale frisar que a ParticipaSUS foi uma sugestão de Sérgio Arouca por meio
da construção da Secretaria de Gestão Participativa para fazer a ‘reforma da
reforma sanitária’, bem como que essa política é uma inovação, refletindo num

186
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

amadurecimento do processo participativo popular e do controle social no SUS


(DOWBOR, 2019).

Em 2003 foi criada a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação


na Saúde (SGTES), o que possibilitou a instituição da Política Nacional de
Educação Permanente em Saúde (PNEPS) por meio da Portaria nº 198/2004
(ANEXO XL), tendo suas diretrizes de implementação publicadas na Portaria
nº 1.996/2007, promovendo avanços na área da educação na saúde, uma vez
que é uma estratégia do SUS para a formação e o desenvolvimento dos seus
profissionais e trabalhadores, articulando a integração entre ensino, serviço e
comunidade (BRASIL, 2018b).

Reserve um tempinho para conferir os materiais selecionados


para complementar esse tema: artigo A retomada do processo de
implementação da Política Nacional de Educação Permanente
em Saúde no Brasil, publicado em 2019, disponível em: https://
www.scielo.br/pdf/sdeb/v43nspe1/0103-1104-sdeb-43-spe01-0012.
pdf e Webpalestra – Educação permanente em saúde na APS:
encontros e desencontros, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=2cr3aAK5eP8.

A Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde


(PNCTIS) foi reivindicada em 1994 durante a I Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação em Saúde (CNCTIS), sendo que em 2003 foi criada a
Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde
(SCTIE/MS) e, em 2004, foi aprovada a PNCTIS, durante a II CNCTIS (BRASIL,
2008a).

Salienta-se que a PNCTIS somente é citada na Portaria de


Consolidação nº 2/2017, sendo indicado o endereço eletrônico (http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Politica_Portugues.pdf) para
seu acesso (BRASIL, 2017a). Portanto, não está na forma de Anexo.

187
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

A Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde (PNGTS),


instituída pela Portaria nº 2.690/2009 (ANEXO XLI), tem o objetivo geral de
maximizar os benefícios de saúde a serem obtidos com os recursos disponíveis,
assegurando o acesso da população a tecnologias efetivas e seguras, em
condições de equidade, apresentando sete princípios e sete diretrizes, que são
os alicerces para o desenvolvimento da avaliação, incorporação e gestão de
tecnologias no SUS, entre os três níveis de gestão do SUS (BRASIL, 2017a).

Como podemos constatar, temos duas políticas nacionais para desenvolver


atividades na área da ciência, tecnologia e inovação em saúde que contemplam a
questão da inserção de tecnologias no SUS, a PNCTIS e a PNGTS, como marcos
nesse processo, contribuindo, dessa forma, para que as atividades de avaliações
de tecnologias em saúde (ATS) se fortaleçam a fim de apoiar a tomada de decisão
no âmbito do SUS.

A Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS) foi


instituída pela Portaria nº 589/2015, em atenção à necessidade de uma política
que orientasse as ações de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) de
todo o sistema de saúde do país. Assim, conforme o Art. 2º da referida Portaria,
a PNIIS tem como finalidade a definição dos princípios e diretrizes a serem
observados pelas entidades públicas e privadas de saúde no âmbito do SUS,
bem como pelas entidades vinculadas ao Ministério da Saúde, para a melhoria
da governança no uso da informação e informática e dos recursos de informática,
objetivando a promoção do uso inovador, criativo e transformador no que se
refere à tecnologia da informação em todos os processos de trabalho em saúde
(BRASIL, 2017a).

Nesse sentido, a PNIIS tem como meta a organização do Sistema Nacional


de Informação em Saúde (SNIS) e entre seus objetivos está a melhoria da
qualidade da interação entre a gestão das informações nas três instâncias
gestoras, considerando o Programa Governo Eletrônico (e-Gov), e-Saúde e o
Registro Eletrônico em Saúde (RES), alinhando, assim, as ações de informação e
informática (BRASIL, 2017a).

Ressalta-se que a gestão da informação em saúde de forma integrada é um


dos princípios da PNIIS e para atender a esse princípio a Resolução nº 7/2016
definiu como modelo de informação para o registro das ações em saúde na
Atenção Básica o prontuário eletrônico em todo o território nacional, estando em
consonância com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) (BRASIL, 2016c).

Embora a temática humanização na saúde não seja recente, é somente


em 2003 que passa a ser retratada como política pública, denominada
Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão à Saúde (PNH) ou

188
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

HumanizaSUS, objetivando contribuir para que os princípios do SUS fossem


colocados em prática nos serviços de saúde, consolidando-os, assim como
produzir mudanças nos modos de gestão e de cuidado, voltada ao protagonismo
dos sujeitos.

Cabe observar que a Portaria de Consolidação nº 2/2017 não traz a Política


Nacional de Humanização (PNH) em forma de Anexo.

Nessa acepção, a PNH deve estar inserida e se fazer presente em todas


as políticas e programas do SUS devido ao seu princípio de transversalidade,
mostrando, assim, uma nova forma de fazer política em saúde (REDE HUMANIZA
SUS, 2017). Portanto, não se apresenta como uma política específica, pois seu
enfoque está em se unir às demais políticas.

A PNH apresenta um conjunto de diretrizes como: acolhimento; gestão


participativa e cogestão; ambiência; clínica ampliada e compartilhada; valorização
do trabalhador e defesa dos direitos dos usuários. Ademais, possui vertentes
distintas, uma vez que foca nos profissionais, usuários, gestores e prestadores
de serviços, podendo ser caracterizada como uma proposta de qualificação na
atenção e gestão na rede do SUS (REDE HUMANIZA SUS, 2017).

Durante seu período de existência, passou por mudanças estruturais,


sustentando-se dentro e fora da máquina do Estado, contudo, o que se constata,
por meio das publicações científicas, de modo geral, é que alguns gestores não
priorizam a PNH, os usuários a desconhecem, assim como a humanização em
saúde não é abordada de forma dialogada e referenciada entre os profissionais.
Também se verifica que alguns autores a consideram como utópica, enquanto que
outros defendem que a humanização em saúde é uma prática rotineira.

Para corroborar o que foi descrito anteriormente, recomendamos


que acesse a dissertação Fatores associados ao não conhecimento
da política nacional de humanização – PNH, disponível em:
http://200.131.62.27/bitstream/tede/749/5/Dissert%20Rutiely%20
T%20Silva.pdf.

Apesar de sua relevância, ainda há desafios para a sua implementação e


apropriação pelos serviços, dada a sua abrangência, amplitude de seus princípios

189
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

e diretrizes e certa resistência dos atores envolvidos, sendo que para a PNH ser
efetiva, a humanização deve ser uma prática diária do gestor com os trabalhadores
para, então, alcançar os usuários.

A Biblioteca Nacional de Saúde (BVS) possui uma seção de


publicações e instituições parceiras e colaboradores da PNH. As
informações podem ser acessadas em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/humanizacao/pub_destaques.
php.

Para finalizar essa seção, é relevante lembrarmos que além das


políticas nacionais de saúde, existem vários programas de saúde
sob a égide do Ministério da Saúde, como o Programa Nacional de
Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB);
o Programa Nacional de Imunizações (PNI), o mais antigo de todos
eles; o Programa Nacional de Controle do Tabagismo; o Programa
Nacional de Segurança do Paciente; o Programa de Qualificação
das Ações de Vigilância em Saúde (PQA-VS), entre outros, sendo
que alguns deles podem ser acessados no site: https://www.gov.br/
saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas.

De acordo com Bernardes e Guareschi (2007), embora tanto o programa


quanto a política sejam uma forma epistemológica e substantiva, a diferença entre
eles é que as políticas são diretrizes do sistema de saúde e os programas são
modos de operacionalizar as diretrizes das políticas.

Nesse sentido, Teixeira e Silveira (2016, p. 173) definem programas de


saúde como: “conjunto estruturado de ações de saúde de natureza individual e/
ou coletiva voltados para o cuidado a determinados grupos populacionais ou a
doenças/agravos específicos”.

190
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Vale salientar que sobre os programas e ações de saúde


vigentes, as normas estão consolidadas na Portaria de Consolidação
nº 5. Portanto, vale a pena dar uma conferida.

1 Tomando como base o que foi apresentado, relacione as colunas


de acordo com os respectivos objetivos:

I- PNPS.
II- PNASPI.
III- PNSIPCFA.
IV- PNM.
V- PNGTS.

( ) Tem como objetivo maximizar os benefícios de saúde a serem


obtidos com os recursos disponíveis, assegurando o acesso da
população a tecnologias efetivas e seguras, em condições de
equidade.
( ) Tem como objetivo garantir o acesso à atenção integral à saúde,
no âmbito do SUS, contemplando a diversidade cultural, social,
histórica, geográfica e política, a fim de superar os seus fatores
de vulnerabilidade aos agravos à saúde.
( ) Seu objetivo é promover a equidade e a melhoria das condições
e modos de viver, ampliando a potencialidade da saúde individual
e da coletividade, para reduzir vulnerabilidades e riscos à saúde
decorrentes dos determinantes sociais, econômicos, políticos,
culturais e ambientais.
( ) Tem como finalidade assegurar à população o acesso aos
medicamentos dispostos como essenciais, promovendo seu uso
racional e garantir sua segurança, eficácia e qualidade.
( ) Tem como objetivo promover a saúde por meio de ações que
reconheçam as especificidades (gênero, etnia, raça, geração etc.)
visando ao acesso aos serviços de saúde, reduzindo os riscos e
agravos à saúde provenientes dos processos de trabalho e das
tecnologias agrícolas.

191
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – II – I – IV – III.
b) ( ) III – II – I – V – IV.
c) ( ) IV – III – II – I – V.
d) ( ) III – IV – I – II – V.

3 VIGILÂNCIA EM SAÚDE E
INTERFACE COM AS POLÍTICAS
NACIONAIS DE SAÚDE
Nesta seção, apresentaremos a relação da Vigilância em Saúde (VS) com
uma das principais políticas nacionais de saúde, que é a PNAB, bem como
teceremos, brevemente, algumas considerações de sua integração com a Atenção
Básica (AB), e, posteriormente, abordaremos a Política Nacional de Vigilância em
Saúde (PNVS).

Nosso intuito não é resgatar a evolução histórica da vigilância em saúde


como ação, modelo e sistema, mas sim trazer subsídios para reflexões acerca da
sua interface com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).

No decorrer da disciplina, pôde-se constatar que a VS está presente no


processo histórico das políticas de saúde desde a vinda da corte portuguesa,
por meio da Vigilância Sanitária, perpassando pelas ações desenvolvidas para
impedir a proliferação e o contágio de doenças, a fim de evitar as epidemias,
demarcando, assim, a sua importância como forma de resolução dos problemas
de saúde.

Convém salientar que com o tempo, a VS passou por ampliação de conceito,


tornando-se reconhecida na agenda das políticas de saúde, visto que é ela a
responsável pelas informações para que as ações e as intervenções reduzam
riscos e promovam a saúde nos territórios, uma vez que está integrada às Redes
de Atenção à Saúde (RAS), devendo, portanto, “assumir para si, ao lado do
planejamento, da gestão e da atenção à saúde, a autoria e o protagonismo da
política nacional de saúde e seus respectivos planos” (FRANCO NETTO et al.,
2017, p. 3145).

192
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Nessa dimensão, a Vigilância em Saúde está inserida no campo de atuação


da Saúde Pública, sendo um dos componentes fundamentais das políticas
públicas de saúde, assim como suas ações têm como pilares a promoção e a
proteção da saúde, a prevenção e o controle dos eventos adversos e agravos à
saúde da população, tanto no âmbito individual quanto coletivo (BRASIL, 2017f).

Antes de revisitarmos a PNAB em seu contexto histórico,


queremos que você reflita: qual é o lugar do trabalhador da Vigilância
em Saúde no contexto da PNAB? Agora que você já pensou a
respeito, nos debruçaremos sobre a PNAB.

3.1 PoLÍTiCA NACioNAL DE ATENÇÃo


BáSiCA (PNAB)
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é uma das políticas mais
relevantes na assistência à saúde, especialmente quando se trata de promoção
e prevenção à saúde, propondo uma Atenção Básica mais fortalecida, visando
ao cuidado integral e direcionado para as necessidades de saúde da população,
institucionalizando as ações de promoção à saúde no âmbito do SUS.

A PNAB foi publicada pela Portaria nº 648/2006, apresentando como


objetivo principal estabelecer diretrizes organizacionais, considerando o Pacto
pela Saúde, redefinindo os princípios gerais, responsabilidades de cada esfera
governamental, infraestrutura e recursos necessários, características do processo
de trabalho, atribuições dos profissionais e as regras de financiamento, incluindo
as especificidades do Programa Saúde da Família (PSF). Assim, iniciou uma nova
discussão sobre a organicidade institucional do sistema em redes de atenção,
introduzindo e ratificando a atenção básica/atenção primária em saúde como
modelo prioritário (BRASIL, 2007c).

Em 2011 foi revisada (Portaria nº 2.488), sendo que suas diretrizes e normas
para a organização da Atenção Básica, da Estratégia Saúde da Família (ESF)
e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) foram reavaliadas e
reafirmadas, bem como houve inclusões importantes, como o Núcleo de Apoio
à Saúde da Família (NASF) e o Programa Saúde na Escola (PSE), por exemplo,
ampliando o acesso e o fomento à resolutividade (BRASIL, 2011d; 2008b).

193
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Em 2015, por meio do Departamento de Atenção Básica (DAB) do Ministério


da Saúde, iniciou-se o processo de nova revisão, a fim de atualizar a PNAB,
que foi suspenso devido aos acontecimentos no cenário político nacional, como
reformas ministeriais, em especial na gestão do Ministério da Saúde.

Posteriormente, a revisão foi retomada, mas sua discussão ficou restrita às


reuniões entre os técnicos do Ministério da Saúde e a espaços, como a Comissão
Intergestores Tripartite (CIT), sendo levado à consulta pública um texto preliminar,
recebendo milhares de contribuições, apesar do curto tempo (10 a 15 dias), mas
que não geraram alterações expressivas. Assim, foi refutada por pesquisadores,
movimentos sociais, entidades e trabalhadores do SUS, sendo questionado o
processo de revisão, com alegação de que não houve ampla participação e que
foi seletiva.

Após muitas polêmicas e críticas, em 2017, a PNAB foi alterada e o novo


texto aprovado, por meio da Portaria nº 2.436/2017 (ANEXO XXII da Portaria
de Consolidação nº 2/2017), reafirmando os princípios anteriores, consolidando
conceitos e propondo modificações significativas.

Cabe mencionar que a sua nova versão foi publicada em um contexto de


crise econômica, instabilidade política e ameaça aos direitos previdenciários,
trabalhistas e à saúde, permeado por disputas ideológicas.

Dentre as principais alterações da terceira edição da PNAB que foram


motivos de controvérsias estão: mudanças nas modalidades e composição das
equipes; o aumento das atribuições dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), a
diminuição no seu quantitativo nas equipes de Saúde da Família (eSF), podendo
contar com apenas um ACS, e a sua integração com os Agentes de Combate a
Endemias (ACE), bem como a permissão de que as equipes de Atenção Básica
(eAB) sejam formadas sem a presença do ACS; carga horária dos profissionais
flexibilizada; padrões diferenciados para as ações e os serviços de saúde; não
priorização financeira da ESF; flexibilização de outros modelos de organização da
AB.

Nessa acepção, a revisão e as mudanças na PNAB 2017 implicam


relativização da cobertura universal, ameaçando as conquistas obtidas com o
fortalecimento da Atenção Básica, retrocesso e a desconstrução do compromisso
com a ampliação da Saúde da Família e do sistema público à medida que
apresenta um texto ambivalente (MOROSINI; FONSECA; LIMA, 2018).

Gomes et al. (2020) relatam que a nova edição da PNAB, de forma isolada,
pouco influenciou na composição e no crescimento das equipes de Saúde da
Família, apesar de a PNAB ser reconhecida como instrumento legal e expressivo

194
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

para a organização da AB. Acrescentam, ainda, que essa constatação é um fato


inusitado, haja vista a tensão ocorrida durante a sua reformulação e que, por ser
recente, os reflexos advindos demandam tempo para que os reais efeitos sejam
avaliados.

Salienta-se que a nova PNAB sofreu diversas alterações, sendo que Portaria
nº 2.979/2019 revogou o Capítulo II - Das Equipes de Saúde da Família (Seção
I e II - NASF), a Portaria nº 2.539/2019 trouxe nova redação a alguns itens do
Anexo 1 do Anexo XXII, a Portaria nº 1.710/2019 também promoveu alterações na
redação do item 6 – Do Financiamento das ações da Atenção Básica, bem como a
Portaria nº 397/2020 alterou alguns Artigos do Capítulo I e a Portaria nº 804/2020
deu nova redação ao fluxo de credenciamento desburocratizado para serviços e
equipes de saúde no âmbito da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (BRASIL,
2017a).

Desde a primeira publicação da PNAB até hoje, diversas políticas, programas


e ações foram instituídos e modificados na busca de ampliar o acesso e a
integralidade do cuidado à saúde da população na AB. Avanços importantes foram
alcançados, especialmente no que se refere ao acesso da população aos serviços
e ações, à ampliação da ESF e à expansão do número de ACS. Contudo, persiste
o desafio da baixa resolubilidade desses serviços.

Ademais, com essas novas medidas citadas, a universalidade do SUS está


comprometida, bem como a adoção do novo modelo de financiamento da AB/APS
poderá gerar consequências drásticas no modelo assistencial da ESF, acentuando
e cristalizando iniquidades e fortalecendo a mercantilização de prestação de
serviços de APS (GIOVANELLA; FRANCO; ALMEIDA, 2020).

Após essa imersão na PNAB, chegou a hora de discorrermos, sucintamente,


a integração entre a Vigilância em Saúde e a Atenção Básica.

3.2 ViGiLÂNCiA Em SAÚDE (VS) E


ATENÇÃo BáSiCA (AB): umA iNTEGrAÇÃo
PoSSÍVEL?
Você, como futuro especialista em Gestão em Vigilância em Saúde,
provavelmente já deve ter se apropriado deste tema e, por isso, abordaremos de
forma sintética, mas necessário para a contextualização. Também não traremos
uma resposta para essa indagação, até mesmo porque nosso objetivo é fazer
com que você chegue a uma conclusão.

195
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Primeiramente, é primordial recordarmos que, de acordo com a Política


Nacional de Atenção Básica (PNAB), os termos Atenção Básica (AB) e Atenção
Primária à Saúde (APS) são considerados equivalentes, nas atuais concepções,
sendo um componente-chave dos sistemas de saúde, definida como o primeiro
nível de atenção ou porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde, que
tem como papel fundamental o reconhecimento e o mapeamento dos problemas
de saúde do território (BRASIL, 2017f).

Vimos no capítulo anterior que o SUS tem diversos desafios e a integração


das ações da Vigilância em Saúde com a Atenção Básica é mais um, sendo que
para isso, foi publicado, em 2018, o Guia Operacional, considerando o disposto na
PNAB e na PNVS, com o objetivo de orientar gestores e profissionais de saúde na
operacionalização do processo de integração da AB com a VS (BRASIL, 2018c).

Para ter acesso ao Guia Política Nacional de Atenção Básica


– Módulo 1: Integração, Atenção Básica e Vigilância em Saúde é só
acessar o link a seguir:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_
pnab.pdf.

Cada dia mais há a necessidade de se pensar os problemas de saúde na


coletividade e, nessa dialética, encontra-se a Vigilância em Saúde, que deve
interatuar com a Atenção Básica a fim de fortalecer uma vigilância centrada
nas condições de vida e saúde e de seus determinantes que ocorrem no
território, tendo em vista que alguns princípios, como a integração de saberes, a
intersetorialidade, a territorialidade e a atuação junto à comunidade, permitem que
haja essa articulação.

Não custa nada lembrar que o modelo de saúde baseado na Vigilância em


Saúde tem como objetivo trabalhar sob o respaldo de um conjunto articulado e
integrado de ações, que assumem configurações específicas de acordo com a
situação de saúde da população em cada território, transcendendo os espaços
institucionalizados do sistema de serviços de saúde, buscando respostas efetivas
e oportunas para as demandas e serviços de saúde.

A atuação conjunta entre a AB e a VS para a integralidade do cuidado é


exemplificada no Guia PNAB, com o fato de uma exposição aos agrotóxicos, que
196
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

pode ser ambiental, alimentar, ocupacional, entre outras, e que os profissionais da


VS podem realizar inspeções e investigar os casos notificados, contribuindo para
o estabelecimento do nexo causal ou da relação com o trabalho (BRASIL, 2018c).
Entretanto, o contato maior com o usuário ocorre por meio dos profissionais
da AB e, portanto, eles têm melhores condições para diagnosticar, notificar,
tratar e acompanhar os indivíduos, observando possíveis efeitos da exposição.
Relata também que o sujeito pode ter seu caso notificado em outro município,
mas a responsabilidade sanitária sobre o território onde ele vive é da equipe de
referência no âmbito da AB, que deve acompanhar o caso.

A PNAB traz a possibilidade de o usuário ser atendido fora de sua área


de cobertura, desde que viável, em consonância com a pactuação e que se
mantenha o diálogo com a equipe de referência, bem como as informações sejam
compartilhadas, como a assistência aos trabalhadores que se encontram no
território, mas que residem em outras áreas (BRASIL, 2018c). Nesse contexto, há
a integração entre a AB e a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT).

Vale salientar que é de responsabilidade do gestor local e equipes a


integração das ações de AB e VS, devendo ser discutidos e desenhados os
diversos arranjos de organização da agenda, avaliando e definindo as ações,
de acordo com a realidade, as quais devem ser diversificadas, com vistas à
integralidade e pautada na promoção da saúde (BRASIL, 2018c).

Assim como a Vigilância em Saúde e Atenção Básica devem estar integradas


para identificar os problemas de saúde nos territórios e realizar o planejamento
estratégico das intervenções clínicas e sanitárias, as equipes que as compõem
também devem estar articuladas para que as atividades/ações/práticas estejam
centradas na pessoa, família e comunidade, voltadas para as necessidades de
saúde da coletividade ou da singularidade.

Para que essa integração ocorra de forma efetiva, é recomendado que o


território seja único para ambas as equipes, sendo que o agente de combate às
endemias (ACE) trabalhe em conjunto com o agente comunitário de saúde (ACS)
e com os demais membros profissionais da AB e da VS, bem como é de extrema
necessidade que os profissionais da AB tenham acesso às orientações constantes
no Guia de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2018c).

Nessa acepção, é relevante que as equipes de saúde ampliem seu olhar


para as questões relacionadas à saúde do trabalhador, sanitárias e ambientais,
sendo capacitadas para atuarem nestas áreas.

A resolubilidade é outro ponto importante a ser considerado para a integração


da AB com a VS, haja vista que parte significativa das equipes de AB do país tem

197
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

capacidade resolutiva limitada, devido à distribuição de cotas mensais de exames


e consultas especializadas, gerando filas de espera de meses, por exemplo,
necessitando do aprimoramento da articulação da AB com os demais pontos de
atenção das Redes de Saúde (BRASIL, 2018c).

Nessa perspectiva, devido à transversalidade das ações de VS e à integração


com a AB, podem se constituir unidades sentinelas para monitorar alguns agravos
importantes, como os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), que mantêm
interface direta com a VS, sendo unidades de monitoramento e matriciamento para
avaliação das tendências evolutivas das infecções sexualmente transmissíveis
(IST), do HIV e das hepatites virais em grupos populacionais específicos.

É importante ressaltar que, embora várias estratégias e normativas tenham


sido elaboradas objetivando essa integração, constata-se que ainda não se
efetivou e que diversos municípios não contam com essa junção, o que gera
dificuldades para que os elementos determinantes do processo saúde-doença
sejam identificados e que o efetivo controle dos agravos e doenças aconteça,
tornando a prática do princípio da integralidade da atenção no nível local distante
(BRASIL, 2018c).

Observe que é o próprio Ministério da Saúde que apresenta


esses fatos, reconhecendo que não existe a integração entre a
Vigilância em Saúde e a Atenção Básica, conforme preconizado.

Outro ponto que merece destaque é a (re)organização da AB no que se refere


a sua práxis diante da pandemia de COVID-19 (SARS-CoV-2), com adaptações e
mudanças nas ações e serviços ofertados aos usuários do SUS, em parceria com
a vigilância em saúde, a fim de buscar medidas estratégicas de enfretamento ao
novo coronavírus, assim como em dar continuidade às ações rotineiras, provendo
cuidados à população, evidenciando ainda mais a necessidade dessa integração.

3.3 PoLÍTiCA NACioNAL DE ViGiLÂNCiA


Em SAÚDE (PNVS)
A Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS), resultante da mobilização
de diversas classes que lutam em defesa do SUS, foi aprovada pelo Conselho

198
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Nacional de Saúde (CNS), por meio da Resolução nº 588/2018, incorporando


diretrizes e propostas debatidas e reconhecidas durante a 1ª Conferência Nacional
de Vigilância em Saúde (CNVS), que foi convocada pela Portaria nº 1.017/2016
(BRASIL, 2016d), mas realizada somente em 2018.

O processo de construção da PNVS teve início com a criação de um Grupo


de Trabalho formado por representantes da Secretaria de Vigilância em Saúde
(SVS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Conselho Nacional de
Secretários de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais
de Saúde (CONASEMS), sendo elaborada a minuta do documento, que foi
apresentada ao Ministério da Saúde, em 2014, recebendo contribuições que
foram avaliadas, para, posteriormente, seguir as demais etapas (GUIMARÃES et
al., 2017).

É importante frisar que antes da etapa nacional, inúmeras conferências


estaduais e municipais foram realizadas, assim como foram proporcionados
debates livres com representantes de determinados segmentos específicos, como
a população do campo, da floresta e das águas, população em situação de rua,
entre outros, além de contar com a participação de trabalhadores e gestores da
área da saúde, usuários do SUS e membros da academia e, portanto, foi um
documento construído coletivamente (CNS, 2018; OKUMOTO; BRITO; GARCIA,
2018).

Cabe enfatizar que, desde a promulgação da Constituição de 1988, a


vigilância em saúde não havia sido mais discutida amplamente, e, pela primeira
vez, tem-se uma política pública de Vigilância em Saúde direcionada para a
promoção, proteção e prevenção de doenças e agravos, sendo um documento
inédito que norteia o planejamento das ações de vigilância em saúde nas três
instâncias de gestão do SUS (OKUMOTO; BRITO; GARCIA, 2018; CNS, 2018).

De acordo com o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ronald


dos Santos, na época da aprovação da PNVS, “a política é um instrumento
que traz luz para um novo modelo de atenção, sem o foco na doença, mas na
prevenção e na promoção” (CNS, 2018, p. 1).

No que se refere à Resolução (nº 588/2018) em si, convém destacar que


ela traz um conjunto de temas, os quais se apresentavam de forma fragmentada,
sintetizando os marcos jurídicos, bem como facilita a compreensão de
determinados conceitos relativos à vigilância em saúde.

Para tanto, a PNVS é função essencial do SUS, sendo definida como uma
política pública de Estado, que incide sobre todos os níveis de atenção à saúde,
abrangendo todos os serviços de saúde, sejam eles públicos ou privados, bem

199
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

como estabelecimentos de produção e/ou circulação de bens de consumo e


tecnologias relacionadas (OKUMOTO; BRITO; GARCIA, 2018; BRASIL, 2018d).

Sua principal finalidade é definir princípios, diretrizes e estratégias nas três


esferas de gestão do SUS, no que se refere à vigilância em saúde, visando à
promoção e à proteção da saúde, assim como à prevenção de agravos e doenças,
além de reduzir a morbimortalidade, riscos e vulnerabilidades decorrentes das
dinâmicas de produção e consumo nos territórios (BRASIL, 2018d).

A PNVS é orientadora do modelo de atenção à saúde nos territórios e está


alinhada com as demais políticas de saúde do SUS, tendo caráter universal e
transversal, evidenciando a necessidade da articulação dos saberes, processos
e práticas relacionados às vigilâncias sanitária, epidemiológica, saúde ambiental
e saúde do trabalhador (OKUMOTO; BRITO; GARCIA, 2018; BRASIL, 2018d).
Portanto, ela abarca os quatro grandes eixos da VS, os quais devem trabalhar
de forma articulada (inter e intrasetorial), assim como agrega esforços com as
outras políticas existentes, como a PNH e a PNAB, isto é, toda a ação deve ser
articulada de políticas para políticas (política transversal).

Outrossim, é uma política que contempla toda a população que reside


no território brasileiro, mas que prioriza a atenção para territórios, pessoas e
grupos em situação de vulnerabilidade e maior risco, visando à superação das
desigualdades de saúde e sociais, buscando a equidade e incluindo intervenções
intersetoriais (CNS, 2018; BRASIL, 2018d).

Em seu Art. 7º apresenta dez princípios (alguns são comuns aos norteadores
do SUS), dentre eles o da Integralidade, que visa à articulação das ações de
vigilância em saúde com as demais ações e serviços desenvolvidos e ofertados no
SUS, objetivando a garantia da integralidade da atenção à saúde da população,
bem como em seu Art. 8º elenca nove diretrizes, sendo uma delas a construção
de práticas de gestão e de trabalho que assegurem a integralidade do cuidado,
inserindo as ações de vigilância em saúde em toda a Rede de Atenção à Saúde,
especialmente na Atenção Primária, como coordenadora do cuidado (BRASIL,
2018d).

É uma política que tem a sua gestão sob a responsabilidade exclusiva do


poder público, ou seja, nenhuma das vigilâncias (epidemiológica, sanitária, saúde
do trabalhador e ambiental) pode ser realizada pela rede privada, e entre os
seus artigos (Art. 16º) consta a garantia de financiamento específico, crescente,
permanente e suficiente, de forma tripartite, para assegurar os recursos e
tecnologias necessários ao cumprimento do papel institucional das três esferas
de gestão.

200
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Ressalta-se que mesmo antes da aprovação, diversos autores já apontavam


os desafios para a implantação e implementação da PNVS.

Guimarães et al. (2017) indicam, dentre outros obstáculos, que por se tratar
de uma política que visa reduzir as disparidades sociais, apresenta desafios
metodológicos para o seu acompanhamento, em especial no que se refere às
medidas avaliativas e de monitoramento das diferenças sociais e seu impacto
sobre a ocorrência das doenças. Acrescentam, ainda, que a existência da com-
partimentalização entre as vigilâncias, embora estejam sob a égide da SVS, bem
como a existência de um hiato entre Secretaria de Atenção à Saúde e Secretaria
de Vigilância em Saúde são outras objeções para a PNVS.

Já para Okumoto, Brito e Garcia (2018), a efetivação da PNVS está submetida


ao seu fortalecimento e articulação com outras instâncias do sistema de saúde,
da mesma forma que seu sucesso está atrelado ao fortalecimento do SUS.

Por fim, é oportuno informar que, por se tratar de uma política


recente, existem poucos estudos relacionados à PNVS. Portanto,
diante desse cenário, fica o convite e o desafio para que você, como
futuro especialista em Gestão da Vigilância em Saúde, desenvolva
pesquisas e análises sobre a PNVS e outros assuntos pertinentes.

Antes de avançarmos, convidamos você a realizar a atividade de estudo.

1 Lembra que anteriormente instigamos você a refletir a integração


entre a VS e a AB, desafiando a elaboração de uma conclusão?
Leia atentamente o tópico que aborda o assunto e elenque
os pontos que chamaram a sua atenção. Sugerimos que
adicionalmente faça uma busca em outros materiais para
auxiliar a sua conclusão e agregar informações, sem esquecer
de referenciar no texto. Essa atividade é um resumo conclusivo,
sendo necessária a emissão de opinião pessoal/profissional.
R.:____________________________________________________
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201
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

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4 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO
DAS POLÍTICAS DE SAÚDE: UMA
VISÃO PANORÂMICA
Primeiramente, queremos esclarecer que por serem temas extremamente
amplos, que apresentam um universo teórico e metodológico diversificado e
extenso, não pretendemos detalhar todos os pontos relacionados à avaliação e
monitoramento.

Como bem descrito no título, nosso intuito é trazer a você uma visão
panorâmica sobre a avaliação e o monitoramento das políticas públicas de
saúde, por meio de concepções básicas, visando a sua compreensão e que
sejam entendidos como potentes dispositivos para a realização de mudanças
necessárias nos rumos das políticas.

Assim, iniciaremos nossa abordagem com uma breve introdução para


contextualizar os temas principais.

4.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO


SOBRE A AVALIAÇÃO
O ato de avaliar, sob a vertente empírica, é tão antigo quanto a humanidade,
sendo amplamente utilizado e referindo-se a julgamentos, emissão de juízo
de valor sobre algo ou alguma coisa, geralmente de forma informal. Assim, a
avaliação está no cotidiano, desde questões mais simples até as mais complexas.

Do ponto de vista teórico-científico, a avaliação formal é uma atividade


atual, possibilitando análises em todas as áreas do conhecimento, permitindo o

202
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

julgamento de processos, produtos e no caso das políticas de saúde, seus efeitos


ou impactos, com o objetivo de ajudar na tomada de decisões e que vêm sofrendo
transformações e diferentes influências.

Na literatura, não há consenso sobre sua definição e sua terminologia


apresenta diversos sentidos, contudo, há concordância entre diferentes atores de
que a avaliação incorpora uma carga subjetiva à medida que está atrelada a um
julgamento, requerendo, portanto, explicitação clara dos critérios e parâmetros
que serão utilizados para a sua emissão.

Nessa acepção, existem inúmeras possibilidades de defini-la, bem como há


um extenso espectro no que se refere aos seus objetivos e métodos.

Para toda e qualquer avaliação existem algumas perguntas essenciais que


devem ser respondidas, como podemos visualizar na Figura 11.

FIGURA 11 – PERGUNTAS CENTRAIS DA AVALIAÇÃO

FONTE: Adaptada de Simões (2018)

Nessa abrangência, os questionamentos apresentados por Simões (2018)


remetem ao objeto da avaliação (programa, política, serviço, desempenho,
satisfação etc., ou seja, o que será avaliado); qual a finalidade da avaliação
(prestar contas, aprimorar, gerar conhecimento, auxiliar na tomada de decisão,
constatar efetividade, legitimar/contrapor a política, desviar a atenção de possíveis
falhas da política etc.); organização da avaliação (qual seu escopo, quais as
perguntas avaliativas?, quem realizará a avaliação?, quais métodos/abordagens?,
em quanto tempo? com que recursos? etc.); critérios que servirão de base à
avaliação (quem define, qual a justificativa de escolha, como serão aplicados etc.);
e, por fim, usabilidade da avaliação (quem utilizará?, quando?, de que modo?
etc.). Portanto, as perguntas orientam, direcionam e dão sentido ao que se deseja
avaliar e servem para qualquer tipo de avaliação.

203
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

De forma geral, segundo Sousa (2018), a avaliação pode apresentar três


objetivos básicos: julgar quais os resultados gerados por uma ação, política
ou programa; contribuir para o desenvolvimento e apoiar a construção de
conhecimento no que se refere ao fenômeno avaliado.

Por fim, faz-se necessário pontuar que a avaliação da implementação de uma


política evidencia o quanto a intervenção está adequadamente operacionalizada,
permitindo conhecer a totalidade dessa intervenção no que se refere à validade do
conteúdo, assim como os fatores que podem explicar as possíveis discrepâncias
entre o planejamento e a execução (LEVITON et al., 2010).

4.2 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS


PÚBLICAS DE SAÚDE
Na agenda pública brasileira, a avaliação foi inserida na década de 1980,
especialmente pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), objetivando
o aperfeiçoamento das políticas e programas sociais, suas operações e resultados
a fim de torná-los mais efetivos aos beneficiários, bem como para atender à
gestão e à produção do conhecimento. Posteriormente, passou a ser de interesse
da Saúde Pública/Saúde Coletiva (CANESQUI, 2015).

De acordo com Rua (2012, p. 107), a avaliação de políticas públicas é


uma avaliação formal, que é “o exame sistemático de quaisquer intervenções
planejadas na realidade, baseado em critérios explícitos e mediante procedimentos
reconhecidos de coleta e análise de informação sobre seu conteúdo, estrutura,
processo, resultados, qualidade e/ou impactos”. Apresentando duas dimensões: a
dimensão técnica, caracterizada por produzir ou coletar informações que serão
utilizadas nas decisões e a dimensão valorativa, que consiste em examinar as
informações obtidas, por meio de critérios específicos, tendo como finalidade
extrair conclusões acerca do valor.

Quer entender mais sobre a avaliação de políticas públicas? A


Casa Civil da Presidência da República lançou, em 2018, dois Guias
Práticos de Avaliação: um de análise ex ante (se refere à avaliação
da etapa prévia de construção da política) e um ex post (se refere
à avaliação posterior à existência da política, durante ou após a
sua implementação), ambos disponíveis em: https://www.gov.br/

204
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

cgu/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/auditoria-e-fiscalizacao/
arquivos/guia-analise-ex-ante.pdf/view e https://www.gov.br/cgu/
pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/auditoria-e-fiscalizacao/
arquivos/guiaexpost.pdf/view.

A avaliação na área da saúde, no Brasil, tem se expandido progressivamente


ao longo do tempo, gerando informações que auxiliam na melhoria de diversas
dimensões que sejam passíveis de mensuração, indo desde o acesso,
perpassando pelos serviços de saúde, pelos profissionais, usuários e sua
satisfação, bem como a verificação da efetividade ou não de um programa ou
política de saúde.

O que vem a ser avaliação de políticas de saúde? Teixeira e Silveira (2016, p.


48) trazem a seguinte definição para a avaliação de políticas de saúde:

A avaliação é um dos tipos de julgamento possíveis que


se faz sobre as práticas sociais [...]. As práticas sociais
compreendem desde as práticas cotidianas e do trabalho até
aquelas que correspondem a intervenções, formalizadas ou
não em planos e programas, voltadas para a modificação de
uma determinada situação. A avaliação de uma política de
saúde, desse modo, pode ser considerada o julgamento que
se faz sobre as práticas relacionadas com qualquer um dos
seus componentes. O julgamento pode corresponder desde a
uma apreciação dicotômica do valor de uma intervenção, que
pode ser qualitativa ou quantitativa, até a análise sobre seu
significado.

Observe que essa definição de avaliação de políticas de saúde


é dada pelo Glossário de Análise Política em Saúde, sendo que não é
clara, estando mais relacionada ao contexto de julgamento do que ao
de avaliação, sem em nenhum momento referenciar o que significa
‘avaliação de políticas de saúde’ (TEIXEIRA; SILVEIRA, 2016).

205
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Nessa acepção, cabe assinalar a dificuldade em se encontrar na literatura


uma definição específica, podendo estar atrelada à polissemia do termo avaliação
e a sua forte conexão com o vocábulo julgamento (juízo de valor).

Silva (2014, p. 16), em seu livro que aborda a avaliação de políticas e


programas de saúde, adota a definição de avaliação em saúde como “um
julgamento que se faz sobre uma intervenção sanitária (política, programa
ou prática), voltada para a resolução de problemas de saúde, visando aferir o
mérito, esforço ou valor da referida intervenção ou do seu produto, para o seu
aperfeiçoamento ou modificação”.

Vale referenciar que a preocupação com a avaliação vem desde a criação


do SUS, sendo que o Art. 15 da Lei nº 8.080/90 versa sobre a necessidade de
instrumentos e mecanismos avaliativos (BRASIL, 1990), culminando com a
criação do Departamento de Controle, Avaliação e Auditoria (DECA), em 1993.
Em 1998, a temática avaliação ressurgiu com a implantação do Programa
Nacional de Avaliação de Serviços Hospitalares e, posteriormente, com o início
da elaboração da Proposta de Avaliação de Desempenho do Sistema de Saúde
(PROADESS), cujo foco da avaliação incide sobre o desempenho dos serviços de
saúde (BRASIL, 2015b; FIOCRUZ, 2003).

No documento Políticas de Saúde: metodologia de formulação, reportado


anteriormente, a avaliação também é pauta, uma vez que traz, de forma singela,
os parâmetros avaliativos das políticas de saúde, indicando que a avaliação deve
ter como objeto essencial o propósito da política, assim como verificar a efetividade
das políticas, ou seja, aferir o seu impacto sobre a saúde e qualidade de vida da
população. Todavia, podendo abranger outros critérios que eventualmente tenham
sido quantificados quando da explicitação das diretrizes, bem como envolver
a avaliação do processo de desenvolvimento, isto é, a qualidade dos serviços
prestados (BRASIL, 1998).

Dessa forma, o Ministério da Saúde vem empreendendo, ao longo do tempo,


na elaboração de diversos materiais pertinentes à avaliação, bem como criou
o Departamento de Monitoramento e Avaliação do Sistema Único de Saúde
(DEMAS/SE/MS) como local organizacional desse processo, que dentre as
suas atribuições está a coordenação da formulação e execução da Política de
Monitoramento e Avaliação do SUS (BRASIL, 2019f). Salienta-se que antes do
DEMAS havia o Departamento de Monitoramento e Avaliação da Gestão do SUS
(DEMAGS).

É preciso lembrar que, desde 2003, o Ministério da Saúde tem investido na


implementação de uma política de avaliação para a Atenção Básica, elaborando
e operacionalizando projetos e atividades voltados para a avaliação de políticas

206
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

e programas, tomando como imagem/objetivo a institucionalização da avaliação


nas três esferas de gestão do SUS, uma vez que as práticas de monitoramento e
avaliação são incipientes, tendo como finalidade a melhoria da qualidade da AB,
disseminando a cultura avaliativa (BRASIL, 2005).

Para complementar seus estudos, leia a publicação do Ministério


da Saúde: avaliação na atenção básica em saúde: caminhos da
institucionalização, disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/avaliacao_
ab_portugues.pdf.

Em 2013, por meio da Portaria nº 1.517/2013 foi instituído o Grupo de Trabalho


para a Elaboração da Política de Monitoramento e Avaliação do Sistema Único
de Saúde (SUS), o qual tem como competência elaborar a proposta da Política
de Monitoramento e Avaliação do SUS (PM&A-SUS) e auxiliar na construção do
Sistema de Avaliação para a Qualificação do SUS (BRASIL, 2013b).

No final do ano de 2013 foi apresentado um esboço da PM&A-SUS com suas


diretrizes, culminando em cinco versões, em 2014, e que não teve prosseguimento
(CAMPELO; SANTOS; OLIVEIRA, 2017).

Em 2017, por meio da Portaria nº 1.535/2017, foi novamente instituído


um Grupo de Trabalho para formular a Política Nacional de Monitoramento e
Avaliação do Sistema Único de Saúde (PNMA-SUS) e seu Plano Operativo, que
até o presente momento não havia sido instituída (BRASIL, 2017g).

Convém ressaltar que no percurso do processo de institucionalização das


práticas de monitoramento, avaliação e de disseminação da informação no âmbito
do SUS, a formulação da PM&A-SUS e da PNIIS iniciou ao mesmo tempo, de
forma articulada e inter-relacionada, partindo da premissa de que por meio de um
processo de monitoramento e avaliação, sistemático e contínuo, seria possível
lograr informações que serviriam para a tomada de decisões e prestação de
contas, contribuindo, dessa forma, para a transparência e divulgação de dados
sobre a gestão do SUS, uma justificando a outra. Contudo, diferentemente da
PNIIS, que foi instituída em 2015, a PM&A-SUS não foi publicada (CAMPELO;
SANTOS; OLIVEIRA, 2017).

207
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Ainda relativo à avaliação das políticas de saúde, temos a Política Nacional


de Regulação, já mencionada, que estabelece como ação a avaliação de
desempenho da gestão e dos serviços, bem como da satisfação dos usuários, e o
Programa Nacional de Avaliação dos Serviços de Saúde (PNASS) que, de modo
geral, objetiva avaliar os estabelecimentos de atenção especializada em saúde,
ambulatoriais e hospitalares, os quais são contemplados com aporte financeiro
oriundo de políticas, programas e incentivos do Ministério da Saúde (BRASIL,
2017a; 2015b).

No entanto, é importante ter em mente que a criação de documentos,


departamentos, grupos de trabalho, programas, políticas e outros mecanismos,
por si só, não garante êxito, sendo imprescindível que a avaliação seja incorporada
à rotina e assimilada por todos os atores envolvidos.

É pertinente ressaltar que a primeira versão da Política Nacional de Atenção


Básica (PNAB) aponta a importância da avaliação e do monitoramento para o
desenvolvimento da atenção básica, demarcando a realização da avaliação, bem
como o acompanhamento sistemático dos resultados como parte integrante do
processo de planejamento e programação. Assim como a nova versão corrobora
a relevância dessa temática e introduz como dispositivo a autoavaliação (BRASIL,
2006a; 2017a).

Ademais, em 2006, foi criado o Manual com eixos avaliativos e indicadores


de referência, denominado de Monitoramento e Avaliação na Política Nacional de
Humanização na Rede de Atenção e Gestão do SUS, que sistematiza as diretrizes
orientativas para a discussão sobre monitoramento, avaliação e a implementação
de indicadores no âmbito da Política Nacional de Humanização (PNH) (BRASIL,
2006b).

No que concerne às avaliações de políticas do SUS, Cruz (2015) aponta que


necessariamente devem buscar a articulação dos indicadores das ações e dos
serviços com os indicadores de desigualdades e iniquidades, de determinantes
da saúde, de ações ambientais, intersetoriais, culturais e de participação social,
entre outros, de forma qualitativa e quantitativa, abertos às dimensões da ética,
do conflito, da subjetividade e da micropolítica, que sirvam ao trabalho local e à
aferição e mudança permanente das práticas.

Sousa (2018) assevera que, em decorrência da metodologia utilizada pelo


avaliador, toda avaliação revela apenas um recorte da realidade, assim como o
uso dos resultados obtidos para a tomada de decisão está sujeito ao contexto
econômico, social e político.

Sob esse prisma, Silva (2014) indica que, preliminarmente à avaliação de um

208
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

programa ou política seja realizado um estudo exploratório da real situação, ou


seja, um estudo de avaliabilidade (EA), também denominado estudo pré-avaliativo,
o qual determina se há justificativa para que a avaliação seja executada, bem
como delimita os objetivos e revela os pontos críticos que demandam atenção e
foco.

O EA compreende um conjunto de procedimentos que precede a avaliação,


identificando se os objetivos estão claramente formulados, analisando os nexos
entre os problemas, objetivos e atividades, proporcionando facilidades para a
avaliação, pois ajuda a determinar os propósitos e o foco avaliativo, promovendo
entendimento mais detalhado sobre a política/programa, a apreciação preliminar
das possibilidades de avaliação e permite saber se uma política ou um programa
está em condições de se submeter a um processo avaliativo (SILVA, 2014;
THURSTON; RAMALIU, 2005).

Na esteira dessa concepção, tomando como base que muitas políticas


e programas de saúde não apresentam clareza em seus objetivos e diretrizes,
os estudos de avaliabilidade são úteis, pelos motivos já citados, auxiliando os
planejadores na identificação dos pontos positivos e nas fragilidades, aumentando
a probabilidade de sucesso da avaliação, bem como favorece a racionalização dos
recursos, que geralmente são escassos para o processo avaliativo, e, portanto,
têm ganhado destaque, especialmente para programas.

Antes de prosseguirmos, que tal entender melhor sobre a


avaliabilidade lendo o artigo Aplicação do Estudo de Avaliabilidade
na área da saúde: uma revisão integrativa? Disponível em:
https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2019.v43n120/240-255/pt.

Também propomos a leitura do artigo Política Nacional de


Promoção da Saúde: um estudo de avaliabilidade em uma região
de saúde no Brasil, para que você possa entender na prática
como funciona o EA. Basta acessar: https://www.scielo.br/pdf/csc/
v23n1/1413-8123-csc-23-01-0103.pdf.

Outro ponto que merece ser esclarecido é a análise e avaliação de políticas.


Como não faz parte do escopo dessa disciplina, apenas comentaremos de forma
abreviada.

209
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

Embora os termos ‘análise’ e ‘avaliação’ apareçam como sinônimos nos


dicionários e sejam muitas vezes utilizados como tais em divulgações acadêmicas,
existem diferenças semânticas e merece atenção especial quando relacionados
às políticas públicas.

Assim, a análise de políticas se preocupa com o processo de elaboração


da política, especialmente no que se refere à definição da agenda, indo além
da observação e da análise dos resultados, estudando o ‘conteúdo’ enquanto
diretrizes, planos e programas, necessitando de modelos teóricos que possibilitem
a compreensão da realidade dos processos envolvidos. Embora o objeto central
seja o mesmo (política pública), a avaliação preconiza uma leitura ex-post da
política pública, enquanto a análise de política reforça a importância da apreciação
dos procedimentos, determinando as características gerais da política em última
instância (SERAFIM; DIAS, 2012; SOUZA, 2009; SANTOS; TEIXEIRA, 2016).

O Glossário de Análise Política em Saúde, na página 34, traz


uma explicação sobre análise política de saúde que vale a pena ser
conferida. Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/22110/4/glossario%20
em%20saude.pdf.

4.3 MONITORAMENTO DAS


POLÍTICAS DE SAÚDE
Afinal, o que vem a ser monitoramento? Inicialmente, faz-se necessário
informar que a literatura especializada apresenta um amplo e difuso espectro de
conceitos sobre monitoramento, assim como já constatado nos outros termos aqui
abordados.

Conforme Teixeira e Silveira (2016, p. 133), monitoramento é “o mesmo


que acompanhamento, processo de supervisão continuada do processo de
implementação de uma determinada política, plano ou programa”.

No âmbito nacional, o termo monitoramento é usualmente utilizado para


caracterizar o acompanhamento sistemático das metas e objetivos definidos

210
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

em um programa, projeto ou serviço, sendo entendido como “o processo de


acompanhamento da implementação de determinadas ações, tomando-se
como base o que um projeto (ou equivalente) estabelece como metas de sua
implementação (planejamento)” (BRASIL, 2008c, p. 11).

O monitoramento também é compreendido como:

[...] como parte do processo avaliativo, que envolve coleta,


processamento e análise sistemática e periódica de
informações e indicadores de saúde selecionados com o
objetivo de observar se as atividades e ações estão sendo
executadas conforme o planejado e estão tendo os resultados
esperados (BRASIL, 2005, p. 20).

De acordo com Pereira (2017), o monitoramento é uma atividade que se


debruça sobre a etapa de implementação da política analisada, com forte caráter
de intervenção, dotado de proatividade e que deve ser continuamente alimentado
com dados referentes ao seu desempenho. O modus operandi mais apregoado
nos sistemas de monitoramento é formado pela compilação, organização e
análise dos indicadores, pois permite que aspectos inerentes à política e os seus
múltiplos contextos de implementação sejam acompanhados e mensurados.

Assim, para as políticas públicas nacionais essa é uma característica


essencial, visto que a execução dessas políticas ocorre nos diversos cenários
estaduais e municipais e, portanto, a unificação de parâmetros para o seu
monitoramento possibilita uma análise comparativa e unificação de metodologias
de aferição de desempenho, embora as particularidades locais devam ser
consideradas (PEREIRA, 2017).

O monitoramento é um processo sistemático e contínuo, que acompanha de


forma rotineira as ações, as metas e os procedimentos relacionados ao alcance
de objetivos macro, bem como os indicadores de saúde, visando à obtenção
de informações relevantes que subsidiarão a tomada de decisão, reduzindo
problemas e corrigindo os rumos, ou seja, verifica a realização das atividades e o
alcance dos efeitos da intervenção (OLIVEIRA; REIS, 2016).

Em suma, o monitoramento observa, mede e produz informações, em tempo


eficaz, acompanhando a execução dos programas e políticas públicas, tendo
como objetivo averiguar se as metas e os objetivos estão sendo alcançados
de acordo com o planejamento, constituindo-se em uma ferramenta de grande
utilidade para a gestão, pois fundamenta a tomada de decisão e controle social,
permitindo gerenciar adequadamente os recursos disponíveis, corrigir desvios e/
ou solucionar problemas que possam aparecer no transcorrer da execução.

211
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

É importante ter em mente que monitoramento difere de acompanhamento,


que está relacionado às atividades de registro e documentação, objetivando
o cumprimento do que foi planejado, sem questionar, caracterizando-se pelas
atividades de supervisão, fiscalização e controle, sem interagir, sendo que os
resultados, nem sempre, são compartilhados (RUA, 2012).

Você deve estar se perguntando: qual a diferença entre avaliação e


monitoramento? De modo geral, as atividades de avaliação e monitoramento
são complementares, ou seja, são faces de um mesmo processo, devendo estar
intrinsicamente vinculados aos instrumentos de planejamento em saúde.

Para compreender melhor, elaboramos um quadro que faz um paralelo entre


avaliação e monitoramento, com base na literatura analisada.

QUADRO 1 – QUADRO COMPARATIVO ENTRE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO


AVALIAÇÃO MONITORAMENTO
Corresponde ao exercício de mensurar, compre- Representa o rol de esforços para o acompa-
ender e julgar os efeitos de uma determinada nhamento sistemático a respeito de algum dos
intervenção, de maneira a subsidiar as escolhas aspectos de uma determinada intervenção, por
da comunidade política no processo de tomada meio de indicadores mensurados a partir da co-
de decisão, seja ele na etapa de formulação ou leta contínua de dados.
implementação da intervenção avaliada.

Possui um caráter mais momentâneo, estabe- Realizado de forma mais permanente ou no de-
lecendo um recorte temporal claro, em geral de correr de um período de tempo mais prolongado,
maior profundidade na análise realizada, como com vistas a verificar ao longo do tempo o com-
se fizesse um flash na situação, obtendo uma portamento do sistema analisado (programa,
foto com grande resolução dessa realidade. projeto, serviço, política etc.).

É o exame discreto de processos, produtos, qua- Não tem como alcançar tal profundidade, devido
lidade, efeitos, impactos, das ações realizadas, a sua necessidade de celeridade dos achados
devendo explorar em profundidade os aspectos para que possa subsidiar decisões sobre a con-
sobre os quais incide. dução das políticas, programas e projetos.

Produz relatórios complexos e densos. Produz pequenos sumários de dados parciais


ou uma ata de decisões tomadas com base nos
achados.

Pode ser usada ou não para subsidiar a tomada Sempre terá de ter a aplicação na tomada de
de decisões. decisões.

212
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

Não precisa incluir os procedimentos para a ime- Precisa incluir os procedimentos para a imediata
diata apropriação dos achados produzidos e sua apropriação dos achados produzidos e sua in-
incorporação ao processo da gestão. corporação ao processo da gestão.

Não necessariamente tem relação com o dese- Concentra-se em atividades, processos e produ-
nho da intervenção, sendo inclusive recomendá- tos e tem como referência o desenho da política,
vel o uso de metodologias de avaliação indepen- do programa ou projeto.
dente de objetivos.

Aprofunda a compreensão sobre o desenvolvi- Acompanha no tempo o desenvolvimento de


mento das atividades, por meio da investigação determinadas atividades e formula hipóteses a
das hipóteses geradas pelo monitoramento. respeito.

Amplia a compreensão sobre o avaliado, por Sua função primordial é verificar.


meio de instrumental qualitativo ou quantitativo,
dependendo da questão levantada.

Melhora a efetividade, impacto e programação Melhora a eficiência e ajusta o plano de trabalho


futura. (subentende uma lógica de intervenção).

FONTE: Adaptado de Sousa (2018), Faria (2018), Rua (2012) e CONASS (2016)

Com base no quadro e no que vimos até aqui, podemos constatar que tanto a
avaliação quanto o monitoramento são dispositivos que auxiliam no melhoramento
e efetividade dos programas e políticas, mas que são atividades distintas, estando
entrelaçadas, ou seja, são processos complementares.

Diante do exposto, de forma resumida, pode-se inferir que o monitoramento


oferece informações sobre o funcionamento da política/programa, objetivando a
sua análise a fim de melhorá-lo, sendo que o gestor acompanha o desenvolvimento
das ações; enquanto que a avaliação informa se as mudanças esperadas/
planejadas com a política/programa estão sendo alcançadas, sendo que o gestor
está preocupado com os impactos causados.

No entanto, mesmo reconhecendo os avanços na área da avaliação e


monitoramento, ainda são notórios os desajustes nas práticas das políticas de
saúde, o que denota a carência de ferramentas mais apropriadas e consistentes
para a sua realização, assim como uma maior apropriação destes por parte dos
diferentes atores envolvidos, necessitando que sejam inseridos, por parte da
gestão, como pauta estratégica.

Há, ainda, que pontuar a carência de materiais específicos sobre


monitoramento e avaliação das políticas de saúde, bem como ressaltar que a sua
213
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

institucionalização, de forma geral, constitui-se um dos grandes desafios para o


sistema de saúde na atualidade.

Recomendamos o livro Avaliação de Políticas e Programas de


Saúde, de Ligia Maria Vieira da Silva, para quem deseja realizar uma
avaliação de políticas, programas ou práticas de saúde e aprimorar
seus conhecimentos. Ele pode ser adquirido na Livraria Virtual da
Fiocruz:
https://portal.fiocruz.br/livro/avaliacao-de-politicas-e-programas-
de-saude.

Convidamos você a conhecer o Observatório de Análise Política


em Saúde (OAPS), que é formado por uma rede de pesquisadores
inseridos em diversas instituições de ensino e pesquisa da área
da saúde e afins envolvidas com a produção de conhecimento
crítico na área de Políticas de Saúde. Disponível em: https://www.
analisepoliticaemsaude.org/oaps/.

Falta pouco para encerrarmos nosso capítulo. Que tal fazer agora a atividade
de estudo?

1 Leia atentamente as assertivas a seguir, assinalando somente as


que forem verdadeiras:

( ) O monitoramento é um processo contínuo, tendo como principal


função a verificação, melhorando a eficiência de uma política.
( ) A avaliação infere um julgamento, subsidia a tomada de decisão
por parte da gestão, bem como deve ser realizada de forma
regular.
( ) Existe uma gama muito grande de produção científica referente à
avaliação de políticas públicas, sobretudo das políticas de saúde.
214
Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

( ) A avaliação e o monitoramento das políticas de saúde, embora


sejam distintos, apresentando características divergentes, são
complementares.
( ) O estudo de avaliabilidade é fundamental para a avaliação, pois
identifica a clareza dos objetivos, devendo anteceder a avaliação.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao fim da nossa viagem, tanto do capítulo como da disciplina,
esperamos que tenha sido proveitosa e que você tenha apreciado a paisagem
(conteúdo).

Almejamos que o material didático tenha agregado conhecimentos úteis e


proporcionado reflexões produtivas, servindo para a sua qualificação acadêmica e
profissional, atingindo suas expectativas.

Nesse capítulo, você teve a oportunidade de se debruçar sobre as políticas


nacionais de saúde vigentes, assim como pôde constatar que elas são definidas a
partir de critérios técnicos, por meio de órgãos deliberativos e com a participação
de diversos segmentos da sociedade, sendo que suas implementações requerem
esforço colaborativo de todos os atores envolvidos.

Durante a disciplina, foi possível mergulhar no percurso histórico e é claro,


teria muito mais para ser exposto e discutido, mas fica a dica: pesquise! Nas
referências, você tem inúmeras sugestões que podem abrir novas possibilidades,
levantar novos questionamentos e responder às indagações que, provavelmente,
esse material não tenha respondido.

Diante das temáticas abordadas em nossa disciplina e guardadas as


limitações aqui assumidas, foi possível compreender a evolução das políticas de
saúde em nosso país, bem como podemos depreender que a subalternização das
políticas de saúde está atrelada aos contextos histórico-políticos, à conjuntura
econômica e a questões sociais.

Atualmente, vivenciamos um grande avanço das políticas de austeridade


fiscal, tanto no cenário nacional como mundial, o que potencializa a ampliação
das desigualdades sociais, refletindo nos mais diversos indicadores de saúde.

Especificamente, no contexto brasileiro, em termos de saúde, estamos


passando por momentos críticos, como bem evidenciado em vários momentos

215
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

da disciplina, como os indícios de desmonte do SUS e, consequentemente, de


inúmeras políticas públicas de saúde. Portanto, a atual conjuntura demanda a
defesa do sistema de saúde e das suas políticas, que devem promover e proteger
a saúde a todo e qualquer cidadão, conforme apregoado na Lei nº 8.080/90.

Enquanto cidadãos, acadêmicos, profissionais da saúde e/ou gestores,


não podemos ficar na plateia assistindo ao ‘espetáculo’, precisamos colocar em
prática o princípio de número VIII do SUS – participação da comunidade, ou seja,
sermos protagonistas.

As políticas públicas de saúde têm se modificado ao longo dos anos,


enfrentado desafios e limitações e precisam ser compreendidas como prioridades,
estando vinculadas ao SUS e a outros setores, incorporando os princípios de
universalidade, integralidade e equidade.

Verifica-se a necessidade de desenvolvimento de estudos científicos


referentes às políticas de saúde, tanto no âmbito acadêmico, abordando o papel
do Estado ou as relações entre elas e as demais políticas públicas, por exemplo,
como também no âmbito governamental, discorrendo a elaboração de propostas
para o enfrentamento de problemas de grupos populacionais específicos ou
a avaliação das políticas nacionais de saúde existentes, permitindo, assim,
conhecer tendências, lacunas e desafios.

Diante disso, fica a dica para que você invista seu tempo em pesquisar e
produzir ciência, pois tão importante quanto conhecer um tema é apropriar-se
dele e contribuir para a construção de novos conhecimentos.

Foi um prazer e uma honra fazer parte do seu aprendizado. Desejamos muito
sucesso e realizações pessoais e profissionais.

REFERÊNCIAS
ÁVILA, M. A proposta da Oftalmologia brasileira. 2019. Disponível em: https://
www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/
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conquista. Portarias 957 e 958, 2008. 2019. Disponível em: https://www2.camara.
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de-eventos/seminarios-e-outros-eventos-2019/apresentacao-jose-beniz-cbo-vi-
forum-nacional-de-saude-ocular. Acesso em: 11 jun. 2020.

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Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

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novo Coronavírus (COVID-19) em Povos Indígenas. Versão preliminar.
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preliminar.pdf. Acesso em: 10 jul. 2020.

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sobre as mudanças na Política Nacional de Saúde Mental e nas Diretrizes da
Política Nacional sobre Drogas. 2019a. Disponível em: http://pbpd.org.br/wp-
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sobre Drogas. 2019b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2019-2022/2019/decreto/D9761.htm. Acesso em: 4 jun. 2020.

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de 23 de agosto de 2006, 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 9.250, de 26
de dezembro de 1995, 9.532, de 10 de dezembro de 1997, 8.981, de 20 de
janeiro de 1995, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de 14 de setembro
de 1993, 8.069, de 13 de julho de 1990, 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
e 9.503, de 23 de setembro de 1997, os Decretos-Lei nos 4.048, de 22 de janeiro
de 1942, 8.621, de 10 de janeiro de 1946, e 5.452, de 1º de maio de 1943,
para dispor sobre o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e as
condições de atenção aos usuários ou dependentes de drogas e para tratar do
financiamento das políticas sobre drogas. 2019c. Disponível em: https://www.
in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-13.840-de-5-de-junho-de-2019-155977997. Acesso
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Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a
População em Situação de Rua. 2019d. Disponível em: https://www2.camara.leg.
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217
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

BRASIL. Decreto nº 9.795, de 17 de maio de 2019. Aprova a Estrutura


Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das
Funções de Confiança do Ministério da Saúde, remaneja cargos em comissão
e funções de confiança, transforma funções de confiança e substitui cargos em
comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS por Funções
Comissionadas do Poder Executivo - FCPE. 2019f. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D9795.htm#art8. Acesso
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Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas
práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC.
2018a. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2018/
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Capítulo 3 POLÍTICAS DE SAÚDE: CONJUNTURA ATUAL

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Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia
Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares. 2017e. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
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219
PoLÍTiCAS DE SAÚDE

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