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Caio Watanabe R.A.

002202005246
Karina Paiva de Oliveira R.A. 002201904747
Leticia de Melo Oliveira R.A. 002201900447

9º Semestre de Psicologia

TRABALHO FINAL

PRÁTICA PROFISSIONAL:
SEMINÁRIOS EM PSICOLOGIA

ITATIBA

2023
1
Caio Watanabe R.A. 002202005246
Karina Paiva de Oliveira R.A. 002201904747
Leticia de Melo Oliveira R.A. 002201900447

9º Semestre de Psicologia

TRABALHO FINAL

PRÁTICA PROFISSIONAL:
SEMINÁRIOS EM PSICOLOGIA

Trabalho apresentado à disciplina


de PRÁTICA PROFISSIONAL:
SEMINÁRIOS EM PSICOLOGIA,
do curso de Psicologia da
Universidade São Francisco, sob
a orientação do Prof Dr. Eduardo
V. Bilbao como exigência parcial
para obtenção de nota semestral.

ITATIBA

2023
2

SUMÁRIO

1. Apresentação……………………………………………………………………………… 3

2. Objetivo do Trabalho………………………………………………………………………3

3. Introdução…………………………………………………………………………………..3

4. Justificativa………………………………………………………………………………..12

5. Método…………………………………………………………………………………….12

6. Análise…………………………………………………………………………………….13

6.1 Compreensões grupais sobre as informações coletadas…………………….…13


6.2 Apresentação do vídeo e debate…………………………………………………..18
6.3 Nova percepção do grupo sobre a especificidade do campo de trabalho
escolhido……………………………………………………………………………………..18
7. Conclusões do grupo sobre a experiência…………………………………………….19
8. Reflexões finais do grupo sobre a contribuição deste trabalho na formação do
Psicólogo………………………………………………………………………………...…………...20
9. Referências……………………………………………………………………………….21
ANEXO
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1. Apresentação
O presente trabalho discute através de pesquisa teórico-prática a história e
funcionamento da Saúde Pública e Mental no Brasil. Foram realizadas entrevistas com
psicólogos da área, com o intuito de conhecer a realidade diária da profissão, quais seus
enfrentamentos e percursos traçados até o momento. O objetivo central tem como
finalidade identificar as diferenças entre a prática e a teoria, ocorrendo a realização de uma
apresentação de um seminário sobre a área pesquisada.
Este projeto foi realizado durante o componente curricular do curso de Psicologia da
matéria Prática Profissional: Seminários em Psicologia, sob a orientação do professor
Eduardo Vicente Bilbao, tendo como integrantes do grupo Caio Watanabe, Karina Paiva de
Oliveira e Leticia de Melo Oliveira.

2. Objetivo do Trabalho
Este trabalho tem como objetivo ampliar o campo de conhecimento sobre o tema
Saúde Pública e Saúde Mental no Brasil, identificar na literatura nacional as demandas e
maiores dificuldades de atuação na área e através de uma pesquisa qualitativa ter mais
interação e uma nova visão desse meio

3. Introdução
A História da Saúde Pública no Brasil começa desde o seu descobrimento. Os índios,
que já sofriam de algumas doenças da época, viram a situação se agravar com a chegada
dos colonizadores. Desde a descoberta do Brasil começaram as buscas por soluções para
questões de saúde dos brasileiros. Porém só tinham acesso a tratamentos pessoas da
nobreza, assim pouco era feito para sanar problemas relacionados à saúde no Brasil. Os
pobres e escravos viviam em condições precárias, já os nobres e os colonos brancos com
posses tinham acesso aos médicos e remédios da época. E assim, tinham maiores chances
de enfrentar as doenças e a morte. Para a maior parte da população, a opção eram as
Santas Casas de Misericórdia, implementadas pelos religiosos. Porém os hospitais tinham
péssimas condições. Não recebiam verbas e em algumas vezes o tratamento era oferecer
refeição e caridade. Os doentes recorriam aos curandeiros ou similares, que eram quem
obtinham conhecimento de ervas e curas naturais. (Abreu, 2009)
Com a Independência, Dom Pedro I iniciou mudanças significativas voltadas à
melhoria da saúde no Brasil, porém ainda não foi possível mudar a imagem de um país
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doente, onde viver era um risco. Somente após o fim da escravidão, o Brasil passou a
depender da mão de obra de imigrantes para o trabalho nas lavouras de café e nas fabricas,
mas a fama de um país insalubre afugentava novos operários. Nos anos de 1900 a 1920
ocorreram importantes marcos, como por exemplo as reformas urbanas e sanitárias, em
especial nas grandes cidades portuárias e no Rio de Janeiro, que na época era a capital da
República. Mesmo assim, os problemas continuavam e o acesso à saúde ainda era voltado
às classes mais favorecidas. Os avanços da época não iam de encontro com os interesses
políticos, porém o crescimento econômico do país dependia de uma população saudável e
produtiva. Os sanitaristas comandaram este período realizando campanhas de saúde, um
dos destaques foi Oswaldo Cruz, que convenceu o Estado a tornar obrigatória a vacinação
contra a varíola. Os pobres, porém, mantinham-se sem saúde básica, moradia e sujeitos a
doenças fatais, como por exemplo a gripe Espanhola, que vitimou mais de 300 mil
brasileiros. (Schweickardt et al.; 2015)
Em 1943 surgiu a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que traz benefícios não
somente à saúde fisiológica, mas também à perspectiva financeira do trabalhador ao criar o
salário mínimo e as leis trabalhistas.
Com a Segunda Guerra o mundo paralisou. No Brasil a questão era levar mais saúde
ao povo. Em 1952 foi criado o Ministério da Saúde, que se ocupava principalmente das
políticas de atendimentos nas zonas rurais, enquanto que nas cidades o acesso à saúde
era privilégio dos trabalhadores com carteira assinada. (Nogueira, 2012).
Em 1964 deu-se início à ditadura e os governos militares focaram os investimentos
na militarização e mais uma vez a saúde do Brasil sofreu com a redução das verbas.
Doenças como a Dengue, Meningite e Malária se intensificaram, obrigando o governo a criar
soluções. Em 1966 nasceu o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) com a missão
de unificar todos os órgãos previdenciários que vem funcionando desde 1930 e melhorar o
atendimento médico. A atenção primária foi deixada à responsabilidade dos municípios. Nos
casos em que o município não era capaz de gerir, os governos estaduais e federal
assumiram a administração. (Nogueira, 2012).
Em 1986 ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que uniu novas ideias para os
conceitos de saúde pública no Brasil, através de mudanças que tinham por base o direito
universal à saúde, com o objetivo de trazer melhores condições de vida. A forte presença de
organismos internacionais também abriu os olhos da sociedade para o valor de ações em
saneamento, medicina preventiva, descentralização dos serviços e participação nas
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decisões. Durante a 8ª conferência emitiu-se um relatório final pontuando a saúde como
direito. O documento representa um marco para o Brasil, pois serviu de base para a criação
do capítulo de saúde da Constituição de 88, que culmina no SUS (Sistema único de Saúde).
Apesar de receber participação do setor privado, o SUS firmou o princípio de um sistema de
saúde gratuito e de qualidade para todos os brasileiros. (Bertolozzi & Greco, 1996)
O SUS foi solidificado pela Constituição Federal de 1988, no seu artigo 196, através
da Lei nº 8.080/1990. Todos os brasileiros podem usar o SUS, ele atende mais de 190
milhões de pessoas, tornando o único sistema de saúde pública no mundo com essa
quantidade de atendimentos gratuitos, sendo que 80% das pessoas que o utilizam,
dependem apenas dele.
Apesar de ser uma referência mundial em saúde pública, o Brasil ainda enfrenta um
longo caminho de construção e aperfeiçoamento das políticas e estruturas públicas de
saúde. O Sistema Único de Saúde brasileiro é o maior e mais complexo sistema de saúde
do mundo e justamente por isso é permeado por inúmeros percalços que entravam em seu
pleno funcionamento. O SUS depende do Governo Federal e do Ministério da Saúde, que
servem de guarda-chuva para uma série de outras instituições públicas que organizam as
atividades do Sistema no país. A situação da saúde pública sofreu nos últimos anos
principalmente por dois motivos: um governo irresponsável e uma pandemia mundial. Para
se ter uma ideia, em 2019 o Brasil havia investido apenas 3,9% do seu PIB(Ministério da
Saúde, 2019) na Saúde (bem abaixo dos 6% recomendados pela OMS). Logo no início de
2020, com poucos recursos e durante uma recessão econômica, o Brasil se vê obrigado a
enfrentar uma infestação causada por um vírus altamente transmissível, o COVID-19. O
Governo Federal lidou da pior forma possível com a pandemia e chegou a trocar de Ministro
da Saúde quatro vezes, o que gerou extrema instabilidade e insegurança para toda a área
da saúde.
Além dos dilemas políticos que o SUS enfrenta, existem outros problemas a serem
delimitados: falta de infraestrutura, dificuldade em atender todo o território nacional, pouco
investimento no atendimento de saúde mental, entre outros (Onocko-Campos, 2019). Como
já citado anteriormente, o investimento na Saúde ainda não atende as necessidades da
população. Além disso, o Ministério da Saúde estima que existam em média 2,8 médicos
para cada mil habitantes. A desigualdade na distribuição é o grande problema, com
povoados distantes por vários quilômetros de um profissional da saúde. Uma das soluções
para este problema já vigorava no país até 2018: o programa Mais Médicos, que recrutava
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médicos cubanos para trabalhar em áreas isoladas, principalmente no Norte do país. Com a
mudança de Governo em 2018 o programa foi extinto, porém está previsto para retornar
durante a regência do presente Governo.
O SUS também enfrenta uma disputa com o serviço de saúde privado no país. Uma
pesquisa da FIOCRUZ apontou que cerca de 23% da população brasileira conta com um
plano de saúde particular. Algumas operadoras destes planos se valem de práticas abusivas
como recusa de atendimentos e até de procedimentos vitais, sendo a pessoa obrigada a
utilizar o sistema público.
No quesito Saúde Mental, o Brasil é uma das populações mais ansiosas do mundo:
de acordo com informe mundial em saúde mental da OMS cerca de 18,6 milhões de
cidadãos brasileiros sofrem do transtorno. Também sofremos bastante com a depressão,
sendo esta a segunda doença mais debilitante após doenças cardiovasculares (OMS, 2019).
De acordo com dados do próprio MS, cerca de 32 milhões de brasileiros demandavam
atendimento em saúde mental, porém somente 4,4 milhões foram atendidos de fato. O
profissional da psicologia e da psiquiatria também está em falta: de acordo com o Conselho
Federal de Psicologia, o SUS conta apenas com 33 mil psicólogos e 6 mil psiquiatras
trabalhando na rede pública. Proporcionalmente são cerca de 969 pacientes para cada
psicólogo ou 5.333 para cada psiquiatra.
Dada a realidade do país, é muito difícil traçar um plano concreto para sanar todos os
problemas da saúde pública no território nacional. Entretanto, algumas ações podem ser
realizadas pouco a pouco a fim de construir um sistema cada vez mais Universal. Vários
estudiosos da área apontam para um maior investimento na atenção primária como principal
estratégia em saúde. O médico sanitarista da UNICAMP Gastão Wagner, além de defender
a ampliação da cobertura da atenção primária, também defende a melhoria na gestão
pública e maior controle social do SUS pela população: “A saúde é um problema social que
tem relação direta com o modelo de desenvolvimento que adotamos, com as formas de
organização do trabalho, com a qualidade do ambiente em que vivemos e com as políticas
públicas em geral”(Campo, 2000).
Apesar das inúmeras dificuldades, o Brasil ainda conta com o maior e mais complexo
Sistema de Saúde do mundo. No decorrer deste trabalho, apresentaremos as dificuldades e
retrocessos mas também as conquistas de tamanho projeto.
No contexto da Saúde Mental, até o século XVII no Brasil não existia nenhum tipo de
assistência médica designada às pessoas com doenças mentais. Aqueles em sofrimento
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mental que descendiam de famílias mais ricas ficavam em confinamento dentro de casa,
isoladas de toda a sociedade, e quando estes apresentavam comportamentos agressivos
eram sujeitos a prisão. (Lüchmann & Rodrigues, 2007)
Nesta época, pessoas com doenças mentais eram vistas como seres incapazes de
conviverem em coletividade, tendo em vista que não se adequaram aos deveres
econômicos e sociais do modelo capitalista. A doença mental era associada aos
manicômios, instituições que se caracterizavam pela internação compulsória e coercitiva
quando pessoas consideradas “loucas” apresentavam crises. Pode-se dizer que tais lugares
mantinham por detrás de seus muros a exclusão, violência e o controle. Roupas que seriam
para “proteção”, mas que na verdade eram somente uma maneira da sociedade esconder o
processo sócio-histórico de produção e reprodução da loucura. (Lüchmann & Rodrigues,
2007)
No Brasil, no ano de 1841, foi criado o hospital Dom Pedro II, caracterizando-se por
ser a primeira experiência em atendimento psiquiátrico no país. O tratamento oferecido às
pessoas com transtornos mentais era o de choques elétricos, uso de camisas de força e
doses de medicamentos excessivas. (Viana & Almeida 2011).
No século XVII as pessoas com doenças mentais passaram a ser vistas como
alienadas, pois se trata de uma doença que precisa ser estudada, diagnosticada e
devidamente tratada. Assim o manicômio torna-se um lugar onde se trata a doença mental e
a área da Psiquiatria passa a ter seu próprio conhecimento.(Carvalho, 2009 citado por
Bilbao, 2019)
No início do século XX, mas precisamente no ano de 1903 foi inaugurado na Cidade
de Barbacena/MG o Hospital Psiquiátrico Colônia, a intenção de tratar pacientes funcionou
bem durante 30 anos. Porém a procura por internações aumentou demasiadamente,
chegando a abrigar mais de 4 mil doentes,e a capacidade de proporcionar tratamento
adequado se tornou impossível. Com a grande demanda de pacientes, a cidade de
Barbacena ficou conhecida como “cidade dos loucos”. As condições precárias, falta de
medicamentos, alimentos e tratamento em si causaram a morte de mais de 60 mil pacientes,
submetidos a maus tratos. Em 1970 o psiquiatra Italiano Franco Basaglia, grande percursor
de novos tratamentos psiquiatricos, visita o Hospital, comparando-o com os grandes campos
de concentração nazista. Denúncias começaram a acontecer, mas somente em 1980 o
governo incorporou o Projeto de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica Pública, com o
intuito de transformar os hospitais públicos mineiros em geral. A reforma levou à criação de
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uma rede de serviços extra-hospitalares, como a criação em 2002 do Centro de Atenção
Psicossocial, a reformulação do Serviço de Atendimento ao Alcoolista, operando como
hospital-dia, que implantaram o Ambulatório de Saúde Mental, o Programa de Saúde da
Família (PSF) e o Centro de Convivência, com o intuito de oferecer oficinas diversas sendo
elas artesanais e ocupacionais em busca da desospitalização e inclusão social. (Vidal et al.;
2008).
Carvalho (2009) citado por Bilbao (2019) afirma que no século XX houve um grande
processo histórico, do qual surgiu um novo modelo de hospitais, com objetivo de
desconstruir o modelo de exclusão e isolamento. Alguns desses tratamentos não possuíam
intuito de cura médica. Pode-se citar como grande influência e pioneiro da psiquiatria da
época Brasil, o Dr. Ulisses Pernambuco, médico psiquiatra com fortes preocupações sociais.
Outros nomes de grande destaque foram o Dr. Ozório César, médico que começou a incluir
expressão artística em suas terapias e Nise da Silveira e o Museu de Imagens do
Inconsciente. Estes que estavam em busca de humanizar os atendimentos e se colocavam
contra o modelo hegemônico. Talvez tenham conseguido pouco, mas lançaram sementes
que no futuro se desenvolveram. (YASUI, 2010 citado por Bilbao, 2019)
O movimento da Luta Antimanicomial tem início na abertura do regime militar,
momento em que surgiram as primeiras manifestações do setor de saúde. Mas é entre os
anos de 1987 e 1993 que são realizadas inúmeras articulações. Vários núcleos do
movimento foram se fomentando, e então, no ano de 1993 foi consolidado o Movimento da
Luta Antimanicomial. É um movimento autônomo, social, imparcial, que mantém
colaboração com outros movimentos sociais. Exige ascensão mediante a novos espaços de
reflexão, para que então a sociedade de forma geral participe dele. (Coqueiro et al.; 2021)
Em 2011 ocorreram grandes mudanças no SUS. Estabeleceu-se a Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) como prioridade, que proporcionou uma ordem de 200 milhões de reais
em investimentos financeiros para custear os novos serviços e os já existentes. (Coutinho,
2022)
As condições críticas no enfrentamento dos problemas de saúde da população
tornou necessária mudanças que impôs a necessidade de mudança, dando início, a partir do
final da década de 70, o processo pelo qual ficou conhecido como Reforma Sanitária que
culminou com a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) garantido pela Constituição
Federal de 88. Contudo, existe uma grande diferença entre a saúde mental e reforma
psiquiátrica diferenças significativas: se de um lado a reforma psiquiátrica diz respeito a um
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processo político de transformação da assistência pública ofertada aos portadores de
sofrimento mental, a saúde mental abrange diferentes estratégias que visam a produção de
algum modo de inclusão de questões subjetivas na produção de bem estar de saúde,
alcançando diferentes sujeitos e situações. Em relação à saúde mental, existiam algumas
Instituições como abrigos, que eram gerenciadas pela Igreja Católica e abrigavam os
chamados “loucos”, muito embora em grande parte essas pessoas eram assimiladas e
toleradas nas relações sociais cotidianas. (Viana & Almeida 2011).
No Século XIX a loucura passou a ser domínio da medicina e ser reconhecida como
doença mental. Dessa forma surgiram os manicômios e/ou os hospitais psiquiátricos
designados templo da loucura, mas sobretudo, da ciência, assim a psiquiatria criou corpo
enquanto especialidade. O manicômio, lugar em que a loucura deve ser voltada para o
conhecimento médico, representa a possibilidade da existência da psiquiatria. (Miranda,
2010).
Em meados de 1970 deu-se início às reformas psiquiátricas e sanitárias no Brasil,
trazendo mudanças no modelo de atenção à saúde. Assim, na década de 1980 surgiram os
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), tendo sua regulamentação apenas em 1992 pela
Portaria MS 224/92 com a intenção de trazer cuidados intensivos às pessoas com
sofrimento psíquico grave, substituindo os modelos hospitalares. (Barbosa & Silva, 2002)
A construção da rede de serviço substitutivo aos manicômios como: centros de
atenção psicossocial (CAPS), os centros de convivência, serviços residenciais terapêuticos,
núcleos de trabalhos cooperados, leitos em hospitais gerais, consultórios de rua e saúde
mental na atenção básica, têm sido implementadas por inúmeros municípios como novos
espaços assistenciais que objetivam pôr fim ao silenciamento e a exclusão de milhares de
pessoas que trazem do suposto tratamento oferecido nos hospitais psiquiátricos. O objetivo
maior destes novos serviços e da rede substitutiva é acolher e resgatar a subjetividade de
cada um, e ao mesmo tempo possibilitar a construção de redes relacionais e de convivência
social. A implantação de um modelo psicossocial implica numa mudança de concepção
acerca das pessoas com sofrimento mental e na busca de saídas e construção de
estratégias em diversos campos que fazer conexão direta ou indiretamente com o campo da
saúde mental, para fazer caber como normal aquilo que muitos consideram não ter
cabimento: a loucura. (Moreira, 2013)
O crescimento do processo de urbanização e industrialização do país e o
agravamento de problemas sociais enfrentados, demandaram respostas que viriam a se
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concretizar com a presença da psicologia e de outras disciplinas subsidiando os processos
de administração científica do trabalho, da saúde e da educação. No interior dos hospícios e
de instituições médicas correlatas, o desenvolvimento e a expansão dos conhecimentos
psicológicos representavam uma contribuição da psicologia como ciência em detrimento da
psiquiatria. Em 1962 houve a regulamentação da profissão psicólogo, em 1971 a
institucionalização da profissão por meio da criação legal dos conselhos de psicologia e em
1975 ocorre o aumento pela procura da profissão. (Moreira, 2013)
Através da reforma psiquiátrica criou-se a nova proposta de atendimento e cuidado
em doença mental, assim como a criação dos centros de atenção psicossocial (os CAPS),
regulamentado pela Portaria nº 336 de 2002, cabe a esses serviços oferecer acolhimento,
cuidado e suporte desde o momento mais grave -a crise- até a reconstrução dos laços com
a vida. Este novo modelo é baseado no direito à liberdade, no tratamento afetivo, no respeito
à cidadania e aos direitos humanos. A participação dos usuários no serviço articulam os
conceitos de territórios, desinstitucionalização, portas abertas, vínculos, trabalho em equipe
e em rede. O que a prática nos CAPS revela de mais potente é que o vínculo é o recurso
que melhor trata o sofrimento, esta ferramenta que reveste todos os recursos disponíveis e
possíveis de serem utilizados de sentido terapêutico e os tornam efetivos em resposta. O
projeto terapêutico é singular, um instrumento mutável que busca responder às
necessidades daquele momento para cada usuário, sendo ainda a expressão e o espaço de
inscrição das soluções e de estratégias criadas por cada um na reconstrução da sua história
de vida. A clínica no território e o confronto com o manicômio, assim como o trabalho em
rede, exigem resposta sempre complexa e demanda a desconstrução do manicômio.
(Moreira, 2013)
Em 2001 foi criada a política nacional de saúde mental, que trata sobre a proteção
dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. Essa política oferece uma nova
direção à saúde mental no Brasil e também visa a diminuição progressiva dos leitos
psiquiátricos. Em 2002 se insere a portaria 336, que descreve sobre como o CAPS funciona:
CAPS I, atende regiões ou cidades que possuem pelo menos 15 mil habitantes, geralmente
CAPS de cidade pequena, nele frequentam pessoas de todas as faixas etárias e
transtornos diversos. O CAPS II atende uma população maior, com pelo menos 70 mil
habitantes de todas as faixas etárias, na ausência de outros tipos de CAPS na cidade. O
CAPS III funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, é um CAPS implementado em
municípios com mais de 200 mil habitantes. A peculiaridade do CAPS III é que ele possui
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leitos de permanência. Existe também o CAPS i, que seria o Caps infantil e adolescentes (0
a 17 anos), esse tipo de CAPS pode ser tanto II quanto III. Por último o CAPS AD (álcool e
outras drogas) com o viés de atender pessoas que possuem o sofrimento psíquico
relacionado ao uso de substâncias. Também pode ser tanto II quanto III.
As avaliações psicológicas na Saúde Pública são realizadas através dos CAPS
(Centro de Atenção Psicossocial), espaço integrado ao Sistema Único de Saúde que oferece
cuidados clínicos com o objetivo de integração psicossocial para as pessoas com transtorno
mental grave, buscando acolher e reintegrar essas pessoas e seus familiares.
A avaliação psicológica é uma dentre as inúmeras atividades exercidas pelo
psicólogo do CAPS. Sendo assim, é de extrema importância que o profissional entenda as
demandas para planejar ações que favoreçam a reabilitação dos usuários da rede, e em
contrapartida precisa respeitar as normas do SUS e os princípios do CAPS. (Gessner e
Langaro, 2019)
Para tal, num primeiro momento é realizada uma triagem, ou acolhimento, como
nomeado em alguns lugares. Após o atendimento, pode ser dividido tanto individual como
grupal -a depender das especificidades de cada um- e posteriormente a integração em
oficinas, atividades físicas, laborais, etc. Macedo e Dimenstein (2016) citado por Gessner e
Langaro (2019) relatam ocorrer com frequência o uso de instrumentos de testagem
psicológica no momento da triagem, para dar início ao tratamento do usuário, com o objetivo
de enquadrar em um diagnóstico mais preciso. Nesse contexto, a avaliação psicológica
apenas no ingresso pode parecer limitante, mas é uma forma de buscar alternativas fora dos
moldes da psicoterapia individual e assim permitir a utilização de todos os recursos
disponíveis pelo CAPS.
É importante citar algumas Leis que marcaram a saúde mental no Brasil, como por
exemplo a Portaria 189, de 1991, de Domingos Sávio, (coordenador de Saúde Mental do
Ministério da Saúde) que financia instrumentos com o fim de construir novas formas de
atendimento e assistência. Também a Lei nº 10.216 em maio de 2001, que assegura os
direitos de proteção para pessoas portadoras de transtornos mentais. (FONSECA, 2007
citado por Bilbao, 2019).
Em 2011 é criada a Portaria 3.088 que cria a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS),
que visa inserir o indivíduo na sociedade através de pontos de saúde para pessoas com
sofrimento ou transtorno mental (AMARAL, 2018, p.19 citado por Bilbao, 2019).
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Atualmente o Serviço de Saúde Mental no Brasil conta com diversas maneiras de
oferecer à população formas de se inserir na sociedade, em detrimento do modelo
manicomial. Maneiras essas que consideram as pessoas com transtornos mentais pessoas
produtivas, capazes e donas do seu próprio destino. (Carvalho, 2009 citado por Bilbao,
2019)

4. Justificativa
Escolhemos esse tema para o trabalho com o intuito de poder agregar conhecimento
para nós e nossos colegas de sala, abordando questões que vivenciamos na prática em
estágios passados, tendo em vista a realidade da situação atual da Saúde Pública e Mental
no Brasil.
Portanto, trazemos esse trabalho com teor investigativo, no intuito de aprender o
funcionamento prático-teórico da Saúde Pública e Mental, contendo dúvidas sobre as
políticas nas quais o tema se apoia, qual o preparo e amparo que os profissionais da área
recebem, e se há resquícios de esperança que num futuro não tão distante, caso venhamos
a nos inserir nesta área, haverá mudanças efetivas na atuação do psicólogo voltado para
Saúde Pública e Mental, ou se continuaremos de mãos atadas tendo de trabalhar vendados.

5. Método
A metodologia aplicada baseou-se em uma revisão bibliográfica, entrevista
semiestruturada e análise dos dados coletados, baseada na autora Rosália Duarte. Segundo
esta autora, mesmo com as entrevistas realizadas é importante salientar que o pesquisador
sempre vem à frente da pesquisa, pois é de responsabilidade dele embasar teoricamente o
que foi pesquisado. Outro ponto importante levantado por Duarte (2004) é que nem tudo o
que é dito pelo entrevistado deve virar objeto de análise, devendo sempre focar no objetivo
da pesquisa.
Por outro lado, um dos objetivos do trabalho é mostrar o ponto de vista dos
profissionais entrevistados da área de Saúde Pública e Mental. Segundo Duarte (2004)
deve-se tomar depoimentos como fonte de investigação tendo em vista que eles são
carregados de impressões e vivências individuais que permitirão compreender a lógica das
relações que se estabelecem no meio em que o entrevistado está inserido.
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As palavras-chaves para realizar a busca por trabalhos no banco de dados foram:
Saúde Pública, Saúde Mental, A história da saúde pública e a Relação entre a Saúde
Pública e o CAPS.
Os critérios de inclusão usados para definir quais os artigos selecionados foram:
através de sites acadêmicos, artigos publicados na língua portuguesa que tinham como
tema base a Saúde Público e Saúde Mental.

6. Análise
6.1 Compreensões grupais sobre as informações coletadas.
Para discutir Saúde Pública e Mental é necessário compreender que há uma crise
global permeando o tema. Não é possível esgotar o assunto neste artigo, mas é necessário
partir do fato de que a crise de paradigmas em curso tem definido ou impossibilitado a
definição das propostas e perspectivas em Saúde Pública no Brasil e no mundo. Tomamos
aqui o conceito de crise científica de Thomas Kuhn para compreender o processo que atinge
a estrutura das ciências da Saúde Mental.
Um primeiro olhar deve ser lançado à questão nosológica das doenças mentais. O
modelo vigente de identificação e tratamento do sofrimento psíquico ainda é em partes
sustentado pela perspectiva médica, que oferece manuais como DSM e CID enquanto
principais ferramentas de compreensão e classificação dos transtornos mentais. Não há
investigação etiológica por parte destes manuais, tampouco existem marcadores biológicos
ou exames que identifiquem essas doenças. A crise da saúde mental emana do vácuo entre
a nosologia e a etiologia dos transtornos: sabemos o que a depressão pode causar no
cérebro, mas e sua origem? O que causa a depressão? O dado de realidade que caracteriza
o sofrimento é o sintoma e a partir dele compreendemos que há algo de errado com a saúde
de um indivíduo. Mas o que causa o sintoma? São perguntas como essas que constituem
parte desta crise.
Mesmo sem saber as causas dos transtornos mentais, insistimos em oferecer
soluções: a medicalização psiquiátrica e o número de diagnósticos cresceram
assustadoramente nas últimas décadas (Whitaker, 2017). Isso pode significar uma evolução
das ciências da saúde mental, que desenvolveu novos fármacos e instrumentos
diagnósticos para combater e identificar o adoecimento, como também pode representar
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uma população cronicamente medicalizada e cada vez mais adoecida por razões que
fogem aos profissionais da saúde.
As formas de tratamento subsidiadas por essa perspectiva são inócuas: taxas de
depressão e ansiedade cresceram nos últimos anos. De acordo com relatório da OMS
(2017), de 2005 a 2015 a depressão cresceu em 18,4%. No mesmo período, as taxas de
ansiedade subiram 14,4%. Podemos acusar a psiquiatria e a psicologia por não cumprirem
seu papel, mas até que ponto a responsabilidade pela saúde mental se resume apenas às
funções destes profissionais? Um novo paradigma de tratamento se faz necessário, que
leve em consideração a história de vida do sujeito e as condições materiais que produzem
as possibilidades de existência. Como é possível tratar a dor daquele que sofre por más
condições de trabalho, por falta de saneamento básico, por falta de acesso à saúde e
educação básica? O tratamento nunca será efetivo enquanto não houver garantia de direitos
básicos e universais à toda população.
Sob o capitalismo as condições materiais geram situações que induzem o
sofrimento. Discutir os impactos dos meios de produção capitalista na saúde mental é uma
tarefa longa que não será feita neste artigo, mas que também constitui outra parte da crise
que enfrentamos.
Não é somente um novo paradigma de compreensão, estudo e tratamento das
doenças mentais que se faz necessário; é preciso uma transformação completa da cultura a
fim de possibilitar a vida em um modelo produtivo, econômico e social que compreenda a
saúde mental como direito básico e universal.
Entretanto, posta a realidade tal como ela é e entendendo que a transformação
cultural está um tanto distante, e que psicologia é convocada a tratar o sofrimento mental
hodiernamente, é preciso discutir o que tem sido feito em termos práticos. Levamos em
consideração a realidade brasileira de saúde pública, já que a proposta deste trabalho é
apresentar o campo em que se insere o profissional.
A fim de contextualizar a realidade brasileira da Saúde Pública e Mental, utilizamos o
artigo Saúde Mental no Brasil: avanços, retrocessos e desafios, de Rosana Teresa
Onocko-Campos (2019). Durante a obra a autora apresenta dados que nos são relevantes e
que foram confirmados em partes através das entrevistas realizadas com os profissionais
selecionados pelo grupo.
O Brasil obteve importantes conquistas em Saúde Pública no período de 2008 a
2014 (Onocko-Campos, 2019). Durante este período houveram fortes investimentos em
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políticas alternativas de tratamento através, principalmente, da expansão da Rede de
Assistência Psicossocial (RAPS) e seus dispositivos subjacentes (CAPS, CAPS Ad, entre
outros). De 2015 em diante, o Brasil registra um período de decadência em investimentos
públicos, sobretudo na área da saúde mental (Onocko-Campos, 2019). Em 2017 publica-se
a Portaria nº 3.5889, de 21 de dezembro, que reintroduz a figura do Hospital Dia na RAPS,
indicando um retrocesso da luta antimanicomial, já que resgata o modelo biomédico de
intervenção psicossocial. Além disso, a Portaria ainda institui o CAPS Ad IV, que legitima o
financiamento público para comunidades terapêuticas e outras formas de internação como a
Autorização de Internação Hospitalar (AIH), que absorve parte do financiamento de acordo
com a quantidade de leitos disponíveis (Onocko-Campos, 2019). Nota-se que o processo
que conduz a saúde pública no Brasil é definido por decisões políticas e disponibilidade de
recursos.
Durante as entrevistas com profissionais da saúde pública, esta realidade se
confirmou no âmbito prático. Uma impressão relevante sobre ambos os entrevistados é a de
que os profissionais que trabalham nesta área relatam um forte compromisso ético político
com a prática, já que a remuneração não é das mais altas (a média salarial do psicólogo de
CAPS Ad é de R$3.200, dependendo das horas trabalhadas). Além disso, por se tratar de
um campo com fortes tensões políticas, é comum ouvir a definição da prática como luta, já
que se enfrentam processos de reivindicação de direitos e de proteção destes contra
agentes antidemocráticos.
A psicóloga P. que trabalha no CAPS de Morungaba explica como questões
etiológicas, socioeconômicas, políticas, de medicalização e institucionalização do sofrimento
compõem o dia a dia e as possibilidades e impossibilidades de atuação.
Ao ser perguntada sobre as principais dificuldades do trabalho, P. relata que existe
uma falta de conhecimento sobre o que são os transtornos mentais e admite que é um
desafio político, social e cultural trabalhar com questões de saúde mental e pública.
A respeito da formação profissional necessária para atuar na área, P. entende que
existe dificuldade em compreender os processos de saúde e doença inseridos no contexto
histórico, e que a demanda de trabalho é tão alta a ponto de não sobrar tempo ao
profissional para se dedicar a estudos e especializações, tornando a prática automatizada e
mecânica.
Sobre o espaço de atuação, P. destaca a necessidade de uma equipe multidisciplinar
para lidar com as demandas de cada caso. P. também faz crítica ao modelo mercadológico
16
em saúde, que preconiza a contenção de gastos em detrimento do investimento em
políticas, programas e infra estrutura de atendimento.
A saúde pública no Brasil é, para P., exemplar. A psicóloga admite que há
sucateamento e excesso de burocracia na área em geral, mas que mesmo assim o serviço é
levado à toda população e continua fomentando e possibilitando atendimento público,
universal e gratuito. P. aponta que a dificuldade de investimento se dá por questões políticas
(decisões de gestores municipais, estaduais e federais) e que muito mais poderia ser feito
se houvesse mais capital, já que a estrutura do SUS é muito boa e gera bons resultados
quando recebe investimento.
Sobre o funcionamento dos dispositivos de saúde na prática, P. afirma que a rede é
muito completa e atende vários níveis: atenção primária, especializada (secundária e
terciária) e de alta complexidade. P. entende que existe uma dificuldade de comunicação
entre estes níveis e por conta disso o paciente se perde na “trama social que é a rede de
saúde”.
Quanto ao protocolo de encaminhamento, P. afirma que este permite o acesso do
usuário à rede de saúde, mas lamenta que sejam muito engessados , além de reconhecer
que podem gerar a medicalização do sofrimento. A título de exemplo, citou um caso
hipotético em que um usuário do serviço aparece no posto de saúde por conta de uma crise
de ansiedade relacionada ao fato de estar desempregado. A pessoa recebe um diagnóstico
de ansiedade e é encaminhada para o psiquiatra. Lá ela recebe uma receita de
medicamentos a serem tomados, sem se levar em consideração o quanto o fato da pessoa
estar desempregada fora responsável por este sofrimento.
Questionada a respeito das disputas políticas do campo, P. afirma que há um
processo permanente de conquista e preservação dos direitos que definem as
possibilidades de atuação. P. cita os retrocessos vistos nos últimos anos como exemplo da
importância de se lutar não só pela conquista, mas também pela manutenção dos direitos
conquistados.
Por fim, P. aconselha que para trabalhar com saúde pública é preciso gostar muito da
área e se dedicar ao trabalho. Afirma que é necessário ter disposição para enfrentar os
inúmeros e complexos desafios que permeiam o campo.
O entrevistado A. trabalha no CAPS AD. por motivos pessoais. Teve problemas com
álcool e na época fora tratado com eletrochoque e outros tratamentos agressivos Escolheu a
17
área pois acredita que existe uma forma de realizar tratamentos alternativos e menos
invasivos.
Foi perguntado sobre a maior dificuldade de trabalhar no CAPS, afirma que é a
respeito da dificuldade em tratar o vício em álcool, já que é um público difícil e que não
admite tratamentos. Cita também muito preconceito das pessoas ao redor destes usuários.
Questionado sobre remuneração, A. afirma que é mal remunerado e que o
profissional deveria ser muito mais valorizado, já que é um trabalho importante e que possui
alta demanda.
A. também acredita que quem quiser trabalhar na área deve ser livre de julgamentos,
pois somos uma sociedade que repugna os viciados e os trata de forma estigmatizada.
Perguntado sobre qual o papel do psicólogo, A. afirma que, independente da área de
atuação, seu papel é ajudar a encontrar destinos, apontar caminhos e ajudar as pessoas a
possuírem autonomia em geral.
A entrevista com o psicólogo H. fora breve por questões de compromisso do colega,
mas suficiente para esclarecer alguns pontos. H. trabalha no Centro de Atenção
Especializada (CEAE) de Diamantina há dois anos. O CEAEs são iniciativa do governo do
Estado de MG desde 2015. Realiza atendimentos clínicos individuais e em grupo para linhas
de cuidado específica (gestantes em alto risco, hipertensos, diabéticos e casos de
mastologia e ginecologia com alto risco de câncer).
Questionado se o trabalho em saúde pública e mental é eficaz, H. afirma que há de
se levar em consideração que a saúde pública atende uma parcela vulnerabilizada da
população e que é sim eficaz nesse sentido. Em relação à saúde mental, H. diz que esta
encontra empecilhos significativos, tendo em vista que há uma escassez de investimentos e
esvaziamento de políticas públicas no campo. H. nos lembra da Portaria nº 2.979, de
12/11/2019, que extingue o NASF (Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção
Básica), um dos principais meios de contato da população com atendimento psicológico. H.
também considera que há falta de preparo dos profissionais das equipes e entende que há
dificuldade em lidar com questões de saúde mental de forma ampla.
Quanto às críticas que podem ser feitas sobre o trabalho em saúde mental, H. admite
que é uma área extremamente limitada quando levada em consideração a quantidade de
investimentos, limitações práticas e dificuldade de acesso. Porém, H. também enxerga que
há uma enorme potência no campo e que o trabalho de emancipação dos sujeitos junto à
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coletividade permite a elaboração de processos críticos acerca da sociedade com mais
facilidade.
Estas entrevistas corroboram para a compreensão posta no artigo de Rosana Teresa
Onocko-Campos. Resumidamente, a saúde pública e mental no Brasil é um campo fértil,
possibilitando formas alternativas ao tratamento biomédico e sempre pautadas na
universalidade e gratuidade do serviço. Porém, o campo sofre com crises e disputas que
transformam o trabalho em Saúde Pública e Mental em uma verdadeira luta. Não à toa o
principal movimento no que diz respeito à reivindicação de direitos em saúde pública e
mental é denominado Luta Antimanicomial.

6.2 Apresentação do vídeo e debate.


O vídeo apresentado abaixo pelo link mostra uma entrevista com a psicóloga Ingrid
Quintão, do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal, sobre a reforma
psiquiátrica no Brasil, mostra como funcionava o Hospital Psiquiátrico Colônia da cidade de
Barbacena e explica os avanços ocorridos.

https://youtu.be/p9y8q4tvQgw

6.3 Nova percepção do grupo sobre a especificidade do campo de trabalho


escolhido.
As pesquisas bibliográficas e as entrevistas realizadas ampliaram nosso
conhecimento sobre a área, sendo possível entender a importância do profissional de
psicologia na Saúde Pública e Saúde Mental, destaque também deve-se dar a escassez de
profissionais interessados nessa área. Santos, Monteiro, Torres, Souza e Coelho (2014)
realizaram uma pesquisa, da qual entrevistaram um total de 431 psicólogos inscritos no
CRP-04 atuantes no município de Governador Valadares. A pesquisa constatou que as
áreas de atuação mais frequentes são a Clínica com 43,5% e a Organizacional com 24,7%,
ficando a área de Saúde Mental com apenas 15,3%.
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Fonte: Santos, K. R., Monteiro, L. G., Torres, M. L. C., Sousa, L. G. D., & Coelho, A. R. (2014). Perfil dos psicólogos
inscritos na subsede leste do CRP-04. Psicologia: Ciência e Profissão, 34, 864-878.

Outro ponto importante foi a compreensão de que Saúde Pública e Saúde Mental
ultrapassa os âmbitos médico, psicológico ou psiquiátrico, mas se torna um problema
político, social, educacional e familiar, pois é difícil tratar de Saúde entendendo o indivíduo e
seus sintomas, com o objetivo apenas de enquadrá-lo em alguma especificidade do DSM-5.
O meio em que vive e suas condições de vida serão fatores importantes para promoção da
saúde em geral, inclusive a saúde mental.

7. Conclusão
Este trabalho tem como finalidade aprofundar de forma intrínseca a Saúde Pública e
Saúde Mental a partir de entrevistas feitas com profissionais especializados na área e
através de literaturas disponíveis sobre o conteúdo. Assim sendo, pode-se afirmar que o
objetivo foi atingido, tendo em vista que com todas as pesquisas feitas pelos alunos, foi
possível ter uma maior compreensão sobre a história que engloba os assuntos abordados, e
sobre suas teorias. Ademais, as entrevistas feitas nos permitiu ter outra visão sobre a
realidade do dia-dia de psicólogos que atuam na área.
Foram apresentadas algumas limitações na execução do trabalho, tais como
encontrar profissionais que atuassem na área e concordassem participar das entrevistas, o
que também nos mostrou que apesar de ser uma ampla área de atuação, ainda é
desprovida de profissionais capacitados para atuar em tal.
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Simplificando, a elaboração e execução deste trabalho deu a nós estudantes, a
oportunidade de aprimorar nosso aprendizado e relacionar os conteúdos que já tivemos
durante as aulas com a experiência dos profissionais entrevistados, contribuindo para uma
formação de futuros profissionais mais completa.

8. Reflexões finais do grupo sobre a contribuição deste trabalho na formação


acadêmica.
Este trabalho foi de extrema relevância para termos uma visão mais aguçada sobre o
tema escolhido.
A experiência em si foi extremamente importante para nossa formação, tendo em
vista que logo estaremos no mercado de trabalho e com isso poderemos ter mais noção de
onde gostaríamos de nos inserir.
Também é importante ressaltar que a graduação em si é falha em nos mostrar a
realidade do dia a dia de psicólogos já atuantes na área, e com este trabalho conseguimos
tirar várias dúvidas que trazemos conosco desde o início.
21
9. Referências

Abreu, C. D. (2009). Capítulos da história colonial.

Barbosa, B. A. A. D. L., & Silva, M. A. D. (2022). A importância do Centro de Atenção


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