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Contexto de Renovação

do Serviço Social
Material Teórico
Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Maurício Vlamir Ferreira

Revisão Textual:
Profa. Ms. Rosemary Toffoli
Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

• Serviço Social - Do início a evolução conceitual


• Décadas de 60 e 70 - Revoluções, conceitos e paradigmas
• Os Fundamentos Metodológicos: Pilares da Profissão
• Revisão

·· Traçar um paralelo entre a evolução do Serviço Social e o histórico político social


e econômico no país.
·· Explicar os momentos importantes da organicidade teórico-metodológica do
Serviço Social no Brasil através do tempo
·· Identificar os fatores que tornaram o Serviço Social um referencial de ação prática
nas lutas sociais.
·· Ilustrar os fundamentos metodológicos que norteiam a ação teórica e a prática
profissional do Serviço Social.

Nesta unidade, explicaremos a história do serviço Social no Brasil, partindo da análise


conjuntural do processo histórico social econômico e político brasileiro.
Você vai perceber que é através das transformações sociais, políticas e econômicas que
o Serviço Social se afirma como importante profissão na compreensão e no trabalho dos
Assistentes Sociais com as expressões da questão social.
Através dessa força de mobilização, os trabalhadores vão conhecer formas de repressão
e de que maneira o Estado criou ações para coibir, além de tentar ofuscar esta nova forma
de pressão popular, que não existia em outros tempos, com medidas paliativas de cunho
assistencialista.
A partir da organização e da transformação da sociedade, bem como as políticas de ação
dos governos, surgirão as condições e contradições que permeiam o processo de construção
teórico-metodológico do Serviço Social.
Também nesta unidade serão abordados os pilares teórico-metodológicos do Serviço Social,
analisando de forma objetiva a contribuição que o positivismo, a fenomenologia e o marxismo
como correntes importantes para que o Serviço Social tenha um referencial adaptado de
análise teórica e científica, como na ação da prática profissional.
Neste processo de aprendizado, será muito importante a sua participação no fórum de
discussão online e também na realização dos exercícios no ambiente virtual.
Lembramos a você a importância de realizar todas as atividades propostas dentro do prazo
estabelecido para cada uma. Dessa forma, você evitará que o conteúdo se acumule e que você
tenha problemas ao final do semestre.

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Unidade: Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

Contextualização

O Serviço Social, em seu início, na década de 1930, estabeleceu uma ligação muito forte
com a igreja católica e com as senhoras dos representantes das oligarquias no país, de forma
voluntária e assistencialista.
Nesse período, o Serviço Social era visto como uma ação interventiva, com o objetivo de
amenizar as decorrências das tensões sociais, e também em resposta à nova organicidade que
se desenvolvia, ou seja, a nova ordem militar, a nova elite industrial, o surgimento da classe
média e a reorganização operária em sindicatos apoiados e fiscalizados pelo governo.
O novo cenário social apresenta o trabalho do Assistente Social não se caracterizando pelo
aspecto moral e higienista e procurando a ação do Estado e do setor produtivo como formas
de atenuar os efeitos das contradições sociais em postura neutra no sentido da defesa de uma
hipotética harmonia da sociedade.
Nas décadas de 1940 e 1950, temos o Serviço Social como uma força atuante na profissão,
consistindo no trabalho coletivo tendo em sua origem a aplicação principal em centros sociais
e comunitários, com o atendimento voltado principalmente ao atendimento dos trabalhadores
e seus familiares.
No início da década de 1960, além dos contrastes e diferenças econômicas entre uma
população representada pela sociedade elitista dominante contra uma maioria empobrecida e
explorada, norteariam o Serviço Social até o momento em que os fundamentos do pensamento
marxista consolidassem o método atual de sua ação, como conhecemos a ação metodológica
da profissão nos dias atuais.
O Serviço Social, como toda profissão no campo das Ciências Sociais, passou por processos
de aperfeiçoamento no campo teórico e em sua metodologia de planejamento e ação prática.
Após o golpe de 1964 “reconceituação do Serviço Social”, e sua análise se torna aprofundada
através do estudo método, da técnica e dos instrumentos utilizados no desenvolvimento da
profissão, porém a profissão passará por um processo de retorno ao conservadorismo, só
rompido no final dos anos 1970, quando, no aspecto metodológico, o estudo da profissão
agregará três correntes de pensamento diferentes, o positivismo, a fenomenologia, chegando
à materialidade dialética marxista.

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Serviço Social - Do início a evolução conceitual

O Serviço Social, em seu início, na década de 1930, teve uma ligação muito forte com
a igreja católica e com as senhoras dos representantes das oligarquias no país, de forma
voluntária e assistencialista.
A primeira abordagem conceitual metodológica para a ação do Serviço Social no Brasil tem forte
influência do campo da Sociologia, e da Psicologia, defendida por Mary Richmond, que conceituou
clinicamente o método de ação em três estágios clínicos: Estudo, Diagnóstico e Tratamento.
Baseado neste conceito, o profissional analisava se realmente o indivíduo necessitava da
intervenção do Serviço Social, o que denotava um aspecto fiscalizador para o Assistente
Social neste período.
Na década de 1930, o Brasil vivia grandes períodos de mudança.
Os efeitos ainda sentidos da I Guerra Mundial, empobrecendo várias nações europeias,
levando o mundo a uma crise econômica jamais vista no mundo, desencadeando a quebra da
bolsa de Nova Iorque em 1929.
No Brasil as consequências econômicas mundiais refletiram na queda no preço do café,
gerando mais descontentamento com a Velha República, inflamando a revolução que colocou
Getúlio Vargas no poder em 1930.
A grande dependência brasileira de sua agricultura fez refletir na sociedade o agravamento
de expressões da questão social, como o desemprego, o aumento do custo de vida nas cidades,
o êxodo rural e a ampliação da situação de miséria na população.
Diante da grave situação que enfrentava o país, Getúlio Vargas impõe através de decretos, a
criação de ministérios nas áreas da indústria, comércio, trabalho, educação e saúde, no sentido
de fortalecer a política de modernização econômica no Brasil.
Porém, ainda seria necessária uma intervenção do Estado na implantação de políticas sociais,
um tema antes discutido apenas na forma da caridade, organizado em trabalhos voluntários
pelas senhoras oriundas das elites burguesas.
Neste período, o Serviço Social era visto como uma ação interventiva, com o objetivo de
amenizar as decorrências das tensões sociais, e também em resposta à nova organicidade que
se desenvolvia, ou seja, a nova ordem militar, a nova elite industrial, o surgimento da classe
média e a reorganização operária em sindicatos apoiados e fiscalizados pelo governo.
Com o novo cenário social delineado, estava colocada a premissa do Assistente Social como
um agente de ação presente nas políticas sociais, na intervenção direta com a população,
mesmo que a profissão ainda caminhasse sob a aura assistencialista, porém com um caráter
metódico, burocrático de forma a considerar os usuários do Serviço Social como clientes de
um processo de assistência social.
Dessa forma, neste momento, o contato do Assistente Social com os usuários tinha como
objetivo manter uma presença do Estado na manutenção do controle social, ao mesmo tempo
em que havia a tentativa de se inovar na intervenção entre os representantes do Estado nas
políticas sociais com a população.
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Unidade: Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

Também neste período a ação do Serviço Social, tendo como Década de 1940. O governo
Vargas cria a Política de Assistência
consequência o seu objeto de intervenção, nortearia-se em conceitos Social, abrindo espaço para a
higienistas, no sentido da recuperação física, social e moral dos ação do Estado nas expressões da
questão social.
indivíduos, inserindo-os em padrões de sociabilidade condizentes com
o que prevalecia às normas sociais vigentes na época.
Assim, o Assistente Social seria reconhecido profissionalmente
como executor de políticas públicas assistenciais, trabalhador
assalariado e representante do Estado ou do setor privado, priorizando
sua ação de trabalho no atendimento à classe trabalhadora.
Após a Segunda Guerra Mundial, o aprofundamento das
relações econômicas entre Brasil e os Estados Unidos acabam por
fazer prevalecer o interesse norte-americano sobre os interesses
brasileiros, principalmente nas questões referentes à expansão do
capitalismo no país. Fonte: Governo do Brasil/
Wikimedia Commons
Esta situação acabou por gerar uma dependência econômica,
pois o financiamento de importantes obras em indústrias estratégicas, como a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), acaba por redirecionar o endividamento nacional para os
credores estadunidenses.
Neste período a política de intervenção econômica dos Estados Unidos prevalece
como modo de ação em todo o Ocidente, gerando um padrão econômico baseado no
desenvolvimentismo, tendo como objetivo a expansão do capitalismo.
No final da década de 1940 e no decorrer da década de 1950, a partir do conceito
desenvolvimentista, a ação do Serviço Social e do Assistente Social, em um aspecto geral,
inicia um processo de desvinculação da prática da igreja católica e privilegia a mediação das
relações de uma sociedade produtiva com o Estado.
O trabalho do Assistente Social deixa de se caracterizar pelo aspecto moral e higienista e procura
a ação do Estado e do setor produtivo como formas de atenuar os efeitos das contradições sociais
em postura neutra no sentido da defesa de uma hipotética harmonia da sociedade.

Para uma maior compreensão deste período, recomendamos que você assista ao vídeo
“Sra. Darcy Vargas no Nordeste”. O vídeo apresenta a primeira-dama de Getúlio
Vargas como presidente da Legião brasileira de Assistência (LBA) em visita à capitais
nordestinas de estados que sofriam forte impacto com a seca na região. O link deste filme
pode ser encontrado no material complementar para atividades de aprofundamento.

O Serviço Social de Grupo começa a se cristalizar como uma força atuante na profissão,
consistindo no trabalho coletivo tendo em sua origem a aplicação principal em centros sociais
e comunitários, com o atendimento voltado principalmente ao atendimento dos trabalhadores
e seus familiares.
Este método tem sua ligação com o Serviço Social desenvolvido nos Estados Unidos, sendo
este aplicado, principalmente, após a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929,
nos períodos da depressão econômica nos anos 1930, como também no período pós II
Guerra Mundial nas décadas de 1940 e 1950.

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Neste período o Serviço Social valia-se do modelo americano de Serviço Social segundo
o qual as metodologias do Serviço Social de Grupo e do Serviço Social de Comunidade
eram executadas na prática cotidiana da profissão, com uma característica evidentemente
funcionalista, ou seja, uma característica metodológica positivista, de forte influência da
psicanálise que propõe estudar os fenômenos de um determinado meio, indivíduo, pessoas e,
até mesmo, um local coletivo.
As técnicas do estudo de caso do Estudo de Caso, do Estudo de Grupo e do Desenvolvimento
de Comunidade foram vastamente utilizadas nesta época.

O Estudo de Caso

O Estudo de Caso tinha como objetivo verificar a origem do problema do indivíduo, cuja
personalidade era avaliada para se identificar de que forma o Assistente Social pudesse intervir.

O Estudo de Grupo

O Estudo de Grupo elencava a ação dos profissionais do Serviço Social na perspectiva de


conhecer os conflitos conjuntos dos grupos, no sentido de encontrar soluções e apaziguar o
tensionamento social da comunidade atendida.

O Desenvolvimento de Comunidade

O Desenvolvimento de Comunidade consiste no método de interação, contribuindo para um


processo de adaptação e equilíbrio no envolvimento dos grupos na perspectiva de proporcionar
um sentido organizacional da comunidade, promovendo o fortalecimento cultural social e
econômico, na perspectiva do estímulo e desenvolvimento do trabalho coletivo.
Este método contribuiu para o esforço de guerra norte-americano, pois pedia o trabalho
coletivo de toda a comunidade tanto no auxílio à família de soldados enviados para a guerra,
como no esforço conjunto do fornecimento de mão-de-obra coletiva para a manufatura dos
suprimentos de guerra, e também na industrialização de alimentos e a fabricação de armas
para o campo de batalha.
O trabalho do Serviço Social norte-americano influenciou o trabalho comunitário no
Brasil, principalmente, na criação do Serviço Social da Indústria (SESI) no auxílio à classe
trabalhadora e da Legião Brasileira de Assistência (LBA), em apoio aos familiares dos
soldados que participaram da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na campanha brasileira
da II Guerra Mundial.
Como visto, o Serviço Social brasileiro neste período passa por forte influência dos
métodos estrangeiros de ação.
As mudanças dos aspectos teórico-metodológicos da profissão acontecem a partir da
realização de encontros e congressos do Serviço Social, nos quais os aspectos da atuação
profissional começam a ser discutidos e, a partir de então, a profissão começa a unificar seu
método de ação.

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Unidade: Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

O primeiro Congresso do Serviço Social foi organizado pelo Centro de Estudos e Ação
Social (CEAS), realizado em 1947, na cidade de São Paulo, e através deste encontro foi
elaborado o primeiro código de ética da profissão.
Este evento foi elaborado também no sentido de subsidiar propostas e ações para o II
Congresso Pan-Americano de Serviço Social, realizado na cidade do Rio de Janeiro, no
ano de 1949.

Décadas de 60 e 70 - Revoluções, conceitos e paradigmas

A realidade cotidiana do Brasil, na forma dos aspectos sócio-políticos desde o início


da década de 1960, além dos contrastes e diferenças econômicas entre uma população
representada pela sociedade elitista dominante contra uma maioria empobrecida e
explorada, colocariam novos paradigmas que norteariam o Serviço Social até o momento
em que os fundamentos do pensamento marxista consolidassem o método atual de sua
ação, como conhecemos a ação metodológica da profissão nos dias atuais.
O II Congresso do Serviço Social, realizado em 1961, com o apoio oficial do governo
federal, sob a presidência de Jânio Quadros, aparentemente demonstrava conciliar o
desenvolvimentismo com o bem-estar social nesta área.

1961. O governo de Jânio


Quadros tenta a aproximação do
Este encontro tinha como foco a discussão da ação dos
desenvolvimentismo com a política profissionais nas várias vertentes de atuação do Serviço Social,
de bem-estar social, porém, no
mesmo ano, o então presidente
como era concebido conceitualmente naquele momento o Serviço
renuncia ao seu mandato. Social de menores, o Serviço Social de famílias, o Serviço Social de
educação popular, o Serviço Social médico, além do Serviço Social
da indústria, da agricultura e do comércio.
Neste período, o Serviço Social teve seu reconhecimento e
importância no sentido de ser uma profissão de ação imediata da
relação entre as políticas implementadas pelo Estado e a comunidade.
Havia neste momento a preocupação ideológica sobre a ampliação
do capitalismo nas camadas populares, no sentido de minimizar as
tensões sociais.
Para tanto, aprofundou-se a necessidade da aproximação do
Serviço Social com os métodos de Desenvolvimento e Organização
das Comunidades como perspectivas de ação para mudanças
Fonte: Governo do Brasil/
Wikimedia Commons em conjunto com as preocupações da “Questão Social” pelas
classes dominantes e pelo Estado, de modo que se evitassem a
desestabilização institucional do país.
Porém, a organização da classe trabalhadora, na cidade e no campo, fortaleceu os
movimentos sociais de luta por mais direitos e conquistas.

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As ligas camponesas, organizadas para a luta pela reforma agrária, os movimentos populares
de alfabetização, a luta por melhores condições de vida dos trabalhadores da cidade mudaram
a ação e a abordagem do Serviço Social neste período.
A mudança agora seria teórica, prática e metodológica.

Para mais compreensão deste período, recomendamos que você assista ao vídeo
“De Jânio Quadros a João Goulart”. O link deste filme pode ser encontrado
no material complementar para atividades de aprofundamento.

Após o golpe militar de 1964, o regime militar influenciará uma série de mudanças na ação
teórico-metodológica do Serviço Social.
Os encontros realizados nas décadas de 1960 e de 1970 deram novos rumos ao Serviço
Social, tanto no sentido de alinhamento com a ideologia e a política de repressão das
instituições democráticas como nos projetos econômicos governamentais, quanto na retomada
do conservadorismo da profissão e, finalmente, com a reorganização dos movimentos sociais
no final da década de 1970 no processo de ruptura e reorganização da profissão, atualizando
e dando cores definitivas nas lutas pelos direitos e garantias sociais à população brasileira e aos
próprios profissionais do Serviço Social.

Década de 1960 e 1970. A repressão da Ditadura Militar contribui para o avanço do


funcionalismo e do conservadorismo do Serviço Social.

Fonte: Wikimedia Commons

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Unidade: Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

A organização do Serviço Social neste período histórico delineou-se em 3 etapas:

1ª Etapa – Perspectiva Modernizadora

A perspectiva modernizadora tem seu início quando discutida no I Seminário de


Teorização do Serviço Social, conhecido também como “Encontro de Araxá” na cidade de
Araxá, localizada no estado de Minas Gerais, em 1967.
Seu caráter de alinhamento com o posicionamento ideológico do regime militar, em que
a tecnocracia e a burocracia do sistema vigente permeavam a introdução de instrumentos e
experiências que iam de encontro à preservação da dignidade humana no sentido da garantia
de uma condição social de cima para baixo, sem uma prévia discussão com a população.
É exatamente em subserviência ao momento de repressão vivido pelo Serviço Social, que
a profissão não se posiciona no questionamento do endurecimento das forças reacionárias no
país, mas a profissão procura seguir um caminho mais seguro para si, com uma característica
de ação limitada sem criticar o Estado brasileiro.
Esta ordem imposta à profissão daria sentido à unificação das ações do profissional do
Serviço Social, passando por cima de qualquer tentativa de conhecimento das diferentes
situações encontradas nos diferentes cenários econômicos sociais e geográficos do Brasil.
O resultado desta perspectiva de ação resultava no enquadramento da ação profissional
sobre os indivíduos analisados com desajustes familiares e sociais, não havendo a possibilidade
de uma compreensão mais aprofundada das origens da situação vigente.
Para tanto, o conservadorismo, a manutenção da tradicionalidade faziam-se impor sobre
a formação dos novos profissionais da área social. Nesse sentido, o profissional, negando a
autonomia e a capacidade crítica do profissional, sendo, por muitas vezes, um trabalhador na
área da psicologia social.

2ª Etapa – Perspectiva de Reatualização do Conservadorismo

No segundo encontro realizado na cidade de Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro,


em 1970, a caracterização da renovação do Serviço Social procurou analisar ligações entre
a superficialidade do empirismo da prática social e a sua relação com o método de ação,
sobressaindo os aspectos operacionais e os seus resultados, procurando também sugestionar
novas técnicas de intervenção no sentido da afirmação da profissão como uma ciência moderna
e técnica, porém com um sentido de reatualização do conservadorismo da profissão.
De acordo com o resultado destas discussões, o Serviço Social, neste período, valorizou a
participação do Assistente Social nos aspectos interprofissionais, o que acabou por contribuir
no pensar da profissão não apenas como formadora de agentes na ação direta da prestação de
serviço, mas como participante dos processos mais amplos de formulação das políticas sociais
e no planejamento das formas de ação destas políticas.

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3ª Etapa – Intenção de Ruptura

Como consequência dos desgastes dos governos militares e do ressurgimento dos


movimentos populares, como o movimento contra a carestia, a reorganização da classe
trabalhadora e a pressão popular pela anistia e pela redemocratização do país, o Serviço
Social necessitava se repensar e se reorganizar com os avanços teórico-metodológicos que
iam ao encontro da nova ordem social no fim da década de 1970.
A intenção de romper com o status hegemônico-conservador da profissão teria seu início
no encontro realizado na cidade de Sumaré, no estado de São Paulo, em 1978.
A partir deste período, com o momento de redemocratização e abertura política do país,
os profissionais do Serviço Social rompem as amarras dos conceitos conservadores, buscando
na ideologia marxista a leitura crítica do sistema das relações capitalistas, além de questionar o
funcionalismo dentro da prática cotidiana, questionando todos os fatores conceituais tanto de
ordem teórica, quanto metodológica.
Esta nova postura criaria também novas teorias e reformularia conceitualmente todo o
conteúdo dos cursos acadêmicos, influenciando os docentes e novos profissionais do Serviço
Social, uma vez que o foco do trabalho do profissional seria o sujeito e suas relações sociais no
cotidiano, possibilitando ao Assistente Social a compreensão da realidade a partir da análise
da dialética, a partir da construção de soluções junto ao usuário e não impondo formulações
prontas para este.

Para mais compreensão sobre as políticas de governo em relação ao Serviço Social,


recomendamos que você assista ao vídeo “A História da Assistência Social
no Brasil”. O link deste filme pode ser encontrado no material complementar
para atividades de aprofundamento.

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Unidade: Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

Os Fundamentos Metodológicos: Pilares da Profissão

O Serviço Social, como toda profissão no campo das Ciências Sociais, passou por processos
de aperfeiçoamento no campo teórico e em sua metodologia de planejamento e ação prática.
Este processo é conhecido como “reconceituação do Serviço Social”, e sua análise se
torna aprofundada através do estudo do método, da técnica e dos instrumentos utilizados no
desenvolvimento da profissão.
No aspecto metodológico, o estudo da profissão agrega três correntes de pensamento que dão
embasamento a ideias que vão desde princípios tradicionais e conservadores, no caso o positivismo,
passando pelo aspecto investigativo da fenomenologia, à materialidade dialética marxista.

Positivismo
O positivismo procura levar uma condição de resposta imediata no sentido de tentar
esclarecer rapidamente às expressões da questão social, através de práticas ligadas à
modernização conservadora do Serviço Social, com ação funcionalista, de forma a contemplar
a análise estruturalista e sistêmica, priorizando a visão fragmentada do estudo.
A fragmentalidade na ação positivista presume o estudo dos indivíduos perante o avanço de
uma sociedade industrial e cada vez mais capitalista, determinando que a prática profissional
tenha assimilado subjetivamente este método.
Para o pensamento positivista, a relação das coisas acontece quando há a possibilidade da
observação dos fatos, sendo este o principal atributo da ciência. Dessa forma, o positivismo
institui a lógica através do empirismo de que o mais importante é o estabelecimento da lógica
das relações sobre os fatos.

Segundo este preceito, o investigador é o agente que


identifica a realidade de forma neutra, de forma que o empírico
da
Empirismo é forma torna-se válido quando é possível sua verificação, uma vez que
tica,
valorização da prá
em que o conhecim
ento a lógica deve ter sua confiabilidade, quando colocada frente a
é fru to da
adquirido frente com os dados de uma investigação.
s do
experiência, atravé
ectos
trabalho com os asp
do s da sub jet ivid ade. Através da lógica positivista, foi estabelecido o conceito da
advin
aceitação do verdadeiro quando o empírico pode ser verificado,
ou seja, o conhecimento seria limitado apenas através da
experimentação do sensorial.
Esta corrente positivista atuou e ainda atua, metodologicamente, nos diversos campos da
ciência, passando pelas áreas biológicas, exatas e humanas.

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A limitação do positivismo no campo do Serviço Social está na tentativa de dar exatidão
para um determinado diagnóstico, sem levar em conta as variações das relações sociais.
Este limite da exatidão dos dados, que não leva em conta as subjetividades presentes no
indivíduo e em sua relação com a sociedade, que acaba contribuindo para a limitação do
positivismo como método único e absoluto na ação do Serviço Social.
Assim, o conceito da ação positivista não aceitava dados importantes tanto no trabalho
de campo, como no diagnóstico científico, o que acabava por generalizar e empobrecer o
trabalho do Assistente Social, uma vez que a formalidade científica deveria estar à frente da
informalidade do trabalho cotidiano.

Fenomenologia
Na busca do aperfeiçoamento da investigação, procurando dar um caráter específico
ao objeto de estudo, a fenomenologia busca diferenciar a essência natural do ser humano,
dissecando o seu psíquico, o seu processo histórico e a sua experiência cultural, valorizando,
assim, a compreensão subjetiva do indivíduo, ou seja, a sua trajetória vivida.
Nesse sentido, a fenomenologia inseriu os projetos, investigações do ramo das ciências
humanas na aceitação científica da comunidade acadêmica de uma forma geral.

A particularidade da investigação do indivíduo, a partir


deste momento, começou a validar pesquisas na área do
comportamento, do psíquico e das relações humanas através
A intencionalidade do conceito fenomenológico da intencionalidade, sem a
cia
dirige-se a consciên preocupação da análise ou da explicação dos fatos.
que sempre est ará
a
ligada ao objeto, um Assim, segundo os pressupostos da fenomenologia, o objeto
que, seg un do este
vez
eito
princípio, sem o suj principal do estudo deste fundamento é a análise isolada dos
não há ob jeto.
sujeitos em seu mundo particular, como se o campo de estudo
se voltasse apenas para a análise, sem objetivar uma finalidade,
não se considerando a possibilidade dos conflitos ou mudanças
sociais, porém, valorizando a intencionalidade.

Marxismo
O movimento de reconceituação do Serviço Social, nas décadas de 1960 e 1970, contribuiu
para a discussão teórica da profissão na medida em que os conceitos teórico-metodológicos
conservadores acabavam por diminuir a ação do profissional frente à ampliação das expressões
da questão social.
Através da análise da ampliação da necessidade da ação do Serviço Social nos mais diversos
campos de atuação durante este período, houve a necessidade de possibilitar mais explicações
perante às situações geradas pela desigualdade social, decorrente da ampliação também
desigual da acumulação do capital nas mãos de uma pequena minoria em nosso país.

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Unidade: Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

Como consequência, a má distribuição da riqueza, a exploração salarial e a precarização


das condições de vida da classe trabalhadora, o aumento do desemprego, o aumento do
custo de vida, o êxodo rural que ampliava o latifúndio e a exploração dos camponeses, agora
chamados de boias frias em condições subumanas de trabalho, além da falta de liberdade
democrática, ampliou a necessidade do Serviço Social, focando no estudo da luta travada
entre o capital e o trabalho.
A corrente teórico-filosófica mais cientificamente esclarecedora para o conhecimento
do conflito capital x trabalho, seria o marxismo, pois tráz à luz questões importantes que
fazem parte da vivência cotidiana no aspecto político, mas, sobretudo, nas relações dialéticas
históricas e econômicas da sociedade, observada na forma materialista de análise, como no
aspecto da alienação e do fetichismo sobre a mercadoria.
Dessa forma, a compreensão da realidade tem um novo sentido, pois a partir do pensamento
marxista é possível traçar uma forte relação entre o poder dominante, ou seja, o burguês dono
dos meios de produção e a dependência econômica da classe trabalhadora, que acaba se tornando
parte do modo de produção capitalista, que vende o seu trabalho, como forma de sobreviver na
sociedade que, por sua vez, transforma-se numa rede de consumo com seu interesse voltado ao
individualismo e à vida privada, contrário, portanto, a um mundo menos desigual e justo.
O método histórico é aquele que penetra no mundo dos fenômenos através de sua ação
recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e das mudanças que ocorrem na matéria e na
sociedade, sustentado por três fatores:
• A materialidade do mundo: onde a realidade é a função principal dos objetos dos
processos e dos fenômenos;
• A prática social: onde a prática é toda atividade material, orientada para transformar
a natureza e a vida social.
• A consciência: que é a capacidade de reflexão do objeto, desenvolvido com as sensações,
com a criticidade, com o senso de justiça e com as formas de emissão de conceitos.
Dessa forma, a função cerebral só se desenvolve quando a experiência está ligada ao
envolvimento real diante da materialidade.
Quando o pesquisador aplica o método dialético em sua pesquisa científica, este compreende
a realidade, valorizando a contradição dinâmica do fato observado e a atividade criadora do
sujeito que está sempre a caminho, em formação, inacabado, aberto para novas alternativas
sobre as formas de ação no caso.
Assim, o materialismo histórico valoriza o campo das ideias e possibilita o debate sobre as
alterações necessárias em relação às forças econômicas dominantes, fortalecendo as forças
de organização política e social, como ferramentas de transformação e luta das populações
menos favorecidas.
A partir da compreensão da transformação do materialismo histórico, na interpretação
marxista, também é possível compreender que o ser social compreende as relações humanas
com o natural, que ocorrem independente da consciência, portanto, de modo objetivo.

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No campo dos ideais políticos, na filosofia, na religião e, até mesmo, no estético, a
consciência social se faz presente, segundo este método.
A materialização da produção dos bens ocorre através dos meios de produção, que são
os recursos utilizados para a fabricação do produto, desde as matérias primas (combustíveis,
minerais, vegetais etc.) passando pelas máquinas e ferramentas utilizadas pelo trabalhador.
Os meios de produção, somados ao trabalho humano, sua cultura, suas habilidades e sua
experiência resultarão na força produtiva.
Quando existe a cooperação, a dependência da produtividade ou, então, a exploração
assalariada, denominamos estas atividades como relações de produção.
A partir do desenvolvimento da comunidade, seja ela primitiva, ou parte do sistema feudal,
mercantilista, capitalista, socialista ou comunista, é que será desenvolvido o modo de produção.
O marxismo como influência teórico-metodológica do Serviço Social, desde o fim dos anos
1970 até os dias atuais, ampliou a conscientização e inovou as formas de atuação teórico-
prática dos profissionais em lutas históricas pela independência profissional, pela inserção da
profissão como necessária na luta pelos direitos dos usuários tanto na área social, nas áreas
da saúde e educação, como na organização da classe trabalhadora, na ampliação dos direitos
sociais na constituição de 1988, como na construção de um código de ética profissional dos
mais avançados entre as profissões.
Este momento também proporcionou a mais participação das pesquisas na área social,
além de mais participação da comunidade acadêmica nas decisões da profissão.

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Unidade: Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

Revisão

Nesta unidade, você conferiu que o Serviço Social, em seu início, na década de 1930,
teve uma ligação muito forte com a igreja católica e com as senhoras dos representantes das
oligarquias no país, de forma voluntária e assistencialista.
Neste período, o Serviço Social era visto como uma ação interventiva, com o objetivo de
amenizar as decorrências das tensões sociais, e também em resposta a nova organicidade que
se desenvolvia, ou seja, a nova ordem militar, a nova elite industrial, o surgimento da classe
média e a reorganização operária em sindicatos apoiados e fiscalizados pelo governo.
Com o governo de Getúlio Vargas, com o novo cenário social delineado, o trabalho do
Assistente Social deixa de se caracterizar pelo aspecto moral e higienista e procura a ação do
Estado e do setor produtivo como formas de atenuar os efeitos das contradições sociais em
postura neutra no sentido da defesa de uma hipotética harmonia da sociedade.
O Serviço Social de Grupo começa a se cristalizar nas décadas de 1940 e 1950 como uma
força atuante na profissão, consistindo no trabalho coletivo tendo em sua origem a aplicação
principal em centros sociais e comunitários, com o atendimento voltado principalmente ao
atendimento dos trabalhadores e seus familiares.
A realidade cotidiana do Brasil, na forma dos aspectos sócio-políticos desde o início da década
de 1960, além dos contrastes e diferenças econômicas entre uma população representada pela
sociedade elitista dominante contra uma maioria empobrecida e explorada, norteariam o Serviço
Social até o momento em que os fundamentos do pensamento marxista consolidassem o método
atual de sua ação, como conhecemos a ação metodológica da profissão nos dias atuais.
O Serviço Social, como toda profissão no campo das Ciências Sociais, passou por processos
de aperfeiçoamento no campo teórico e em sua metodologia de planejamento e ação prática.
A “reconceituação do Serviço Social”, e sua análise se torna aprofundada através do estudo
método, da técnica e dos instrumentos utilizados no desenvolvimento da profissão.
No aspecto metodológico, o estudo da profissão agrega três correntes de pensamento que
dão embasamento a ideias que vão desde princípios tradicionais e conservadores, no caso o
positivismo, passando pelo aspecto investigativo da fenomenologia, chegando a materialidade
dialética marxista.

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Material Complementar

Para mais aproveitamento de seu estudo, sugerimos os recursos didáticos dos livros e vídeos.
Todo o material pode ser encontrado na internet. Os livros podem ser baixados em
arquivo PDF.
Vídeos:
Filme 1: “Sra. Darcy Vargas no Nordeste”
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=_Uf6IEuoy0Q

Filme 2 : “De Jânio Quadros a João Goulart”


Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=t1vnTyrxW3M

Filme 3 : “A História da Assistência Social no Brasil”


Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=gq4YXI1pggg

Livros:
“Ditadura e Serviço Social. Uma análise do Serviço Social no Brasil pós-
64.” Autor: José Paulo Netto
Acesse o link: http://minhateca.com.br/viniciusbarbosadearaujo/Netto*2c+Jos*c3*a9+Pau-
lo/Netto*2c+Jos*c3*a9+Paulo+-+Ditadura+e+Servi*c3*a7o+Social+-+Uma+An*c3*a1li-
se+do+Servi*c3*a7o+Social+no+Brasil+P*c3*b3s-64,83054974.pdf

“Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil.” Autora: Safira


Amman
Acesse o link: http://minhateca.com.br/disney/Documentos/Documents/LIVROS/Ser-
vi*c3*a7o+Social/AMMANN*2c+Safira.+Ideologia+do+desenvolvimento+de+comuni-
dade+no+Brasil,133747654.pdf

“Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: Ensaios Críticos”. Autora:


Marilda Iamamoto
Acesse o link: http://minhateca.com.br/jucineidemagalhaes/livro+renova*c3*a7*-
c3*a3o+e+conservadorismo+no+servi*c3*a7o+social+ensaios+cr*c3*adticos+-maril-
da+iamamoto+7*c2*aa.+edi*c3*a7*c3*a3o,34399999.pdf

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Unidade: Teoria e Metodologia: Abordagem conceitual

Referências

Netto, José Paulo. Ditadura e Serviço Social. Uma análise do Serviço Social no Brasil pós-
64. 8ªed. São Paulo. Ed. Cortez. 2005.

AMMANN, S. B. Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil. 10. ed.


Sao Paulo: Cortez, 2003.

IAMAMOTO, M. V. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: Ensaios Críticos.


7. ed. Sao Paulo: Cortez, 2004.

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Anotações

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