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FHTM II

MATERIAL DE APOIO

(Não substitui a leitura dos textos da disciplina)


AULA DATA CONTEÚDO PREVISTO
01 15/02 Contrato pedagógico e apresentação da disciplina, do conteúdo programático, da metodologia, dos critérios avaliativos
02 22/02 Contexto sócio-histórico
03 01/03 Feriado
04 08/03 O processo de Erosão do Serviço Social Tradicional na América Latina com destaque para o contexto brasileiro
05 15/03 O Movimento de Reconceituação na América Latina
06 22/03 A Renovação do Serviço Social no Brasil: a perspectiva Modernizadora e a reatualização do conservadorismo
07 29/03 O Congresso da Virada de 1979 e a Intenção de Ruptura
08 05/04 O Congresso da Virada de 1979 e a Intenção de Ruptura
09 12/04 PROVA A1
10 19/04
ATIVIDADE EM GRUPO /

11 26/04 ATIVIDADE EM GRUPO


POSTAGEM APS
12 03/05 O legado do Movimento de Reconceituação sob a ótica de José Paulo Netto
13 10/05 O legado do Movimento de Reconceituação sob a ótica de José Paulo Netto
14 17/05 As transformações Societárias e o Serviço Social – o mercado, as condições de trabalho e os impactos no projeto ético político
15 24/05 As transformações Societárias e o Serviço Social – o mercado, as condições de trabalho e os impactos no projeto ético político
16 31/05 O Serviço Social na contemporaneidade e a busca pela afirmação de direitos e emancipação política
17 07/06 PROVA A2
18 14/06 VISTA DE PROVA
19 21/06 PROVA SUB
FUNDAMENTOS
▪ Os fundamentos do Serviço Social, não podem ser
reduzidos à história do Serviço Social.
▪ Estudar os fundamentos do Serviço Social significa
abordar os elementos históricos, teóricos,
metodológicos e éticos que fundamentam essa
profissão, tanto no passado quanto na atualidade
OS MOMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL
BRASILEIRO

▪ GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL (1930 – 1950)


▪ RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL (1960 – 1970)
▪ PERÍODO CONTEMPORÂNEO DO SERVIÇO SOCIAL (1980
– 2000)
O processo de Erosão do
Serviço Social Tradicional
PARA RECORDAR
Gênese e institucionalização do Serviço Social no Brasil
Incorporados pela profissão:
• 1- ideias e conteúdos do pensamento social da Igreja
Católica, em seu processo de institucionalização no Brasil.
Isto é, da Doutrina Social da Igreja, da influência franco-belga
e do pensamento de São Tomás de Aquino (tomismo e
neotomismo);
• 2- as principais matrizes teórico-metodológicas do
conhecimento social na sociedade burguesa (teoria
positivista e pensamento conservador).
Gênese e institucionalização do Serviço Social no
Brasil

Na relação entre profissão e Igreja Católica aparece:


• Caráter de apostolado abordando a Questão Social como moral e
religiosa;
• Prioridade na formação do indivíduo e da família na solução dos
problemas e atendimentos de suas necessidades materiais, morais
e religiosas;
• Função do Serviço Social: adequar valores e comportamentos dos
“clientes” para integrá-los à sociedade.
Gênese e institucionalização do Serviço Social no Brasil

Anos 1940:
 tecnificação, com fundamentos da teoria social
positivista;
 Papel do Serviço Social: qualificação e sistematização
do espaços sócio-ocupacionais (locais de trabalho)
para atender ao Estado e a necessidade de executar
as políticas sociais; ajustes e conservação.
 Assalariamento e ocupação de espaço na divisão
sócio-técnica do trabalho;
 Arranjo técnico-doutrinário: discurso humanista cristão
mais o suporte técnico-científico do pensamento
conservador;
Gênese e institucionalização do Serviço Social no Brasil

Fundamentação na teoria positivista:


• 1-aborda as relações sociais dos indivíduos no imediato: fatos,
dados. Relação aparente dos fatos;
• 2-visão restrita da teoria: o que torna verificável, experimentável e
fragmentada;
• 3-volta-se para “ajustes e conservação”;
• 4-prática ajustadora, manipuladora, voltada para o
aperfeiçoamento dos instrumentos e técnicas de
intervenção(modelos de análise, diagnóstico, planejamento) e,
• 5-burocratização das atividades institucionais.
O Serviço Social tradicional
▪ Denomina-se Serviço Social tradicional o Serviço Social do período da gênese
aquele que, na América Latina, começou nas décadas de 1920 e 1930, e, no Brasil,
nas décadas de 1930 e 1940. O Serviço Social tradicional era católico, conservador
e puramente instrumental.
▪ Os pioneiros do Serviço Social, em sua maioria, acreditavam que as desigualdades
sociais eram naturais, que existiam naturalmente pobres e ricos, mas que nem
tudo era tão ruim: acreditavam ser possível entrar num acordo entre trabalhadores
e patrões, entre trabalhadores e capitalistas, e melhorar as condições de vida dos
trabalhadores para que estes fossem plenamente integrados à sociedade. Por isso,
a ênfase do Serviço Social tradicional era na família e no que deveria ser feito
para transformar pobres em bons trabalhadores.
O Movimento de
Reconceituação na
América Latina
O Movimento de Reconceituação
Anos 1960:
 movimento de renovação no Serviço Social latino-americano;
 Aparece um novo projeto comprometido com as demandas das
classes subalternas;
 O Serviço Social latino-americano apropria-se de outra matriz
teórica, a teoria social de Marx, mas não em sua fonte original e
sim através de outros autores;
 Movimento de Reconceituação no Brasil: prioriza um projeto
tecnocrático /modernizador expresso em Araxá e Teresópolis e,
 A ditadura no Continente: silencia a produção crítica nos anos
60/70.
O Movimento de Reconceituação
▪ Nos anos 1960, em toda a América Latina desencadeou-se um movimento
de renovação profissional nos níveis teórico, metodológico, técnico-
operativo e ideopolítico. Segundo Maria Carmelita Yasbek, Maria Lúcia
Martinelli e Raquel Raichelis (2008), o Movimento de Reconceituação:
▪ “Impõe aos assistentes sociais a necessidade de construir um novo projeto
profissional, comprometido com as demandas e interesses dos
trabalhadores e das camadas populares usuárias das políticas públicas. É
no bojo desse movimento e em seus desdobramentos históricos, que se
definem e se confrontam diferentes tendências na profissão, que incidem
nos seus fundamentos teóricos e metodológicos e na direção social de sua
intervenção”(YASBEK; MARTINELLI; RAICHELIS, 2008, p. 16).
O Movimento de Reconceituação
▪ Em 1964 o clima de liberdade democrática foi abortado: o
golpe militar associado com a burguesia nacional e com o
capitalismo imperialista instaurou uma ditadura militar no Brasil.
Uma contrarrevolução preventiva em escala mundial aconteceu
na África, na Ásia e muito fortemente na América Latina (devido
à proximidade com a recentemente vitoriosa experiência
socialista cubana), vários países tiveram nessa época golpes
militares que instauraram ditaduras.
A Renovação do Serviço
Social no Brasil: a
perspectiva
modernizadora e a
reatualização do
conservadorismo
As vertentes do processo de renovação
▪ Quando atacada a base do Serviço Social tradicional, três
direções principais, constitutivas do processo de renovação, se
desenvolveram no Brasil pós-1964. José Paulo Netto, ao analisar o
período, considerou tratar-se de três vertentes, denominadas:
▪ perspectiva modernizadora
▪ reatualização do conservadorismo
▪ intenção de ruptura
A perspectiva modernizadora
▪ Propunha modernizar o Serviço Social com novas técnicas, novos
métodos. Tratava-se de uma perspectiva desenvolvimentista e
tecnicista, que não questionava a ordem estabelecida (isto é, nem,
por um lado, questionava o capitalismo, nem, por outro lado,
questionava a ditadura) e, pelo contrário, expressava uma tentativa de
consolidar o Serviço Social às tendências sociopolíticas que a
ditadura militar tornara dominantes.
▪ São representativos dessa perspectiva os documentos de Araxá
(1967) e de Teresópolis (1970)
A perspectiva modernizadora

 voltada para o desenvolvimento social e enfrentamento da


marginalidade e pobreza na perspectiva de integração da sociedade;
 Fundamenta-se nas matrizes funcionalista, positivista e
estruturalista.
 Recursos: modernização tecnológica e processos de relacionamento
interpessoal;
 Projeto profissional deve ser eficiente e eficaz.
A reatualização do conservadorismo
▪ Entrava-se, então, numa encruzilhada: por um lado, a perspectiva de apenas
modernizar as técnicas do Serviço Social não dava mais conta da realidade.
Por outro lado, a crise da ditadura estava apenas começando e ainda não
era possível ainda romper com o regime autoritário.
▪ A saída encontrada por uma parte dos/das assistentes sociais foi voltar-se
para dentro do ser humano individual, com a psicologização das relações
sociais. Como essa psicologização das relações sociais já havia sido
realizada no Serviço Social tradicional, essa vertente foi chamada de
reatualização do conservadorismo.
▪ Seminários de teorização do Sumaré (1978) e do Alto da Boa Vista (1984)
A reatualização do conservadorismo
• baseada na visão de pessoa e comunidade de E. Mounier;
• tarefa do Serviço Social: auxiliar nessa “abertura do sujeito
existente”, singular, em relação aos outros, ao mundo das
pessoas;
• no Serviço Social brasileiro: prioriza a “pessoa, o diálogo,
transformação social”;
• Atua nas situações sociais-problemas.
A intenção de ruptura
▪ Teve um caráter muito forte de oposição à ditadura militar (pois os
envolvidos nessa vertente participaram da resistência à ditadura) e
de enfrentamento à própria lógica da ordem capitalista.
▪ A sua denominação como vertente de intenção de ruptura se deveu
justamente ao fato de ter havido, com essa vertente, um rompimento
com o conservadorismo teórico e político na profissão e um
rompimento com o conservadorismo na dimensão operativa do
trabalho do assistente social.
▪ A tendência de intenção de ruptura passou por três momentos
diferentes: o de sua emersão, o de sua consolidação acadêmica e o
de seu espraiamento sobre a categoria profissional.
A intenção de ruptura
• questiona a prática profissional e seus objetivos de
adaptação social;
• inserção na sociedade de classes;
• aproximação aos movimentos sociais;
• no primeiro momento aproxima-se do marxismo através de
fontes secundárias: recusa a via institucional e as
determinações sócio-históricas;
• início do movimento de ruptura com o Serviço Social
tradicional;
O Congresso da Virada
de 1979 e a Intenção de
Ruptura
A intenção de ruptura e o Congresso da virada
▪ Devido ao ineliminável caráter de oposição ao regime
autoritário, a intenção de ruptura foi sufocada em 1975 e
somente pôde ganhar força no final da década de 1970, com a
crise da ditadura e a reinserção da classe operária na cena
política. O fortalecimento dessa tendência no campo acadêmico
acaba por configurar, nos anos de 1980, sua expansão para o
conjunto da categoria profissional, o que se estende até os anos
de 1990, com a construção de um projeto profissional.
O Congresso da virada
▪ III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais ficou conhecido como o
Congresso da Virada, um marco no processo de Reconceituação do Serviço
Social. Nesse congresso os/as assistentes sociais buscavam estabelecer e
pensar outro Serviço Social, rompendo com o Serviço Social tradicional.
▪ Romper com o Serviço Social tradicional era, de fato, a palavra de ordem
do Congresso da virada, em 1979. Houve, portanto, um salto na profissão:
antes o Serviço Social tradicional moralizava a questão social, naturalizava
as desigualdades e afirmava que o Serviço Social tinha o papel de
harmonizar as classes, de integrar a família, de contribuir para a
cooperação do empregado com o patrão, de ser uma profissão de vocação.
O legado do Movimento
de Reconceituação
O legado
No Brasil herança da Reconceituação só é retomada na crise da Ditadura Militar
Crise da Ditadura:
▪ Impacto da crise econômica mundial (1973), expõe mentira do “fazer o bolo crescer para
depois dividir” (Ministro Delfim Neto);
▪ Inicia transição “lenta, gradual e progressiva” (Geisel, 1974);
▪ Lutas pela redemocratização se fortalecem, especialmente movimentos de trabalhadores
como o “novo sindicalismo” (sindicalismo combativo, classista, na defesa dos
trabalhadores, rompe com sindicalismo pelego)
▪ 1977- Invasão da PUC/SP (Nadyr Kfouri, assistente social e reitora da PUC, diz para Erasmo
Dias:“não aperto mãe de assassino”)
▪ 1978 – Greves de trabalhores/as
▪ 1979 – Lei da Anistia
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Foto de 1979
Menina se recusa a
cumprimentar o
Presidente Figueiredo
(último presidente da
Ditadura civil militar)
O legado
Ao mesmo tempo, durante anos 1970 se forma um novo perfil profissional de
Assistente Sociais:
▪ Mercado de trabalho nacional (não apenas nos grandes centros urbanos)
▪ Ampliação do contingente numérico de Assistentes Sociais
▪ Criação de programas de pós-graduação
▪ Aumenta produção científica
▪ Criação de mercado editorial (exemplo: editora Cortez)
▪ Renovação dos quadros docentes nas universidades
▪ Interlocução com ciências sociais e humanas
O legado
Embora tivessem iniciativas de intenção de ruptura com o
conservadorismo (exemplo: Método BH) ainda tinha muito por ser
feito. Havia conservadorismo ético (Códigos de ética conservadores
em 1947, 1965, 1975 – apenas o código de 1986 traz mudanças) e
conservadorismo nas organizações da categoria profissional
Durante a crise da Ditadura o Serviço Social brasileiro crítico se volta
para conquistar a organização da categoria profissional, na tentativa
de romper com o conservadorismo na profissão (intenção de
ruptura)
Quais são hoje as organizações da categoria profissional de
assistentes sociais?
O legado
Atualmente como organizações profissionais, temos: CFESS – CRESS; ABEPSS (Associação Brasileira de
Ensino e Pesquisa em SS); ENESSO (Executiva Nacional de estudantes de SS)
Mas não foi sempre assim. Antes da reconceituação existiam: CFASS – CRAS (Conselho federal /
regional de Assistentes sociais, 1957) e ABESS (Associação Brasileira de escolas de Serviço Social,
1946). Eram conselhos com funções burocráticas, sem defesa dos/as trabalhadores/as
Assistentes sociais se reconhecem como parte da classe trabalhadora e também se organizam em
sindicatos
Inspirados pelo “novo sindicalismo” Assistentes sociais criam sindicatos e entidades para disputar
com organizações tradicionais:
▪ ALAETS (Associação Latino americana de ensino em Trabalho social) (fundada em 1965 e refundada
em 1971);
▪ CELATS (Centro Latino Americano de Trabalho Social, 1974);
▪ CENEAS (Comissão Executiva Nacional de Entidades de Assistentes Sociais, 1978 a 1983)
▪ ANAS (Associação Nacional de Assistentes Sociais, 1985)
O legado
A mudança de rumos para a profissão no que ficou conhecido
como “Congresso da Virada” (1979) foi organizado por
profissionais envolvidos nessas entidades representativas
(sindicatos)
O Congresso da Virada é realizado em um contexto de retomada
das lutas sociais no país, quando os movimentos sociais
(sindicais e populares) se organizam na perspectiva da classe
trabalhadora, momento em que o protagonismo é do operariado
O legado
A Reconceituação foi um movimento muito mais amplo do que aquele que se exauriu em
1975. Pois a Reconceituação não foi um evento, um episódio, mas um processo, que
começou quando assistentes sociais latino-americanos decidiram repensar o Serviço
Social, tornou-se explícito no Congresso da Virada e só pôde ser considerado concluído
quando essas afirmações geraram mudanças reais na profissão.
Isto é, quando o que se chama de projeto ético-político do Serviço Social foi estruturado
com conquistas como:
▪ Código de Ética Profissional de 1986
▪ Código de Ética Profissional de 1993
▪ Lei de Regulamentação da Profissão
▪ Lei Orgânica da Assistência Social
▪ Diretrizes Curriculares da ABEPSS
O legado
▪ Três aspectos fundamentais sobre o movimento de Reconceituação:
▪ 1. tal como ocorreu nas lutas contra as ditaduras em toda a América Latina, a
Reconceituação do Serviço Social aglutinou pessoas que pensavam de maneiras
muito diversas e que se uniram em aspirações progressistas e democráticas. Mas
este foi um movimento marcado pela heterogeneidade.
▪ 2. a Reconceituação mostrou que, por mais diversos que sejam os países que
formam a América Latina, há unidade entre eles (unidade na diversidade), com
problemáticas comuns e possibilidades de diálogo entre os profissionais latinos
sem a tutela norte-americana, como acontecia no Serviço Social tradicional.
▪ 3. pela primeira vez o Serviço Social recorreu à tradição marxista. Essa
aproximação do pensamento marxista se deu de três maneiras distintas:
inicialmente, o marxismo pela via político-partidária; em um segundo momento o
marxismo acadêmico; e, posteriormente, a perspectiva marxista para análise da
prática profissional.
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ANOS 1970 – O Serviço Social avançou de... ANOS 1980 – para...
Para o enfrentamento efetivo de seus dilemas e impasses
Da negação e denúncia do tradicionalismo
teóricos e práticos

Para a polêmica teórico-metodológica no Serviço Social


Do metodologismo
nos marcos do pensamento social contemporâneo

Para o debate clássico contemporâneo dessa tradição


Da apologética no trato do marxismo no Serviço Social
intelectual

Para a criação de condições acadêmicas e sócio-


profissionais que proporcionaram maior solidez a práticas
Do ativismo político-profissional
renovadoras inscritas no mercado de trabalho dos assistentes
sociais

Para ensaios históricos sobre o Serviço Social em


diferentes momentos conjunturais da formação social no país,
De uma abordagem generalista sobre a América Latina
ampliando as possibilidades de análise da profissão na história
brasileira

Para a politização da ação profissional, compreendendo as relações


Do militantismo do Serviço Social com o Estado e estratégias profissionais no mercado de
trabalho

Do ecletismo Para o pluralismo


As transformações
Societárias e o Serviço
Social
As transformações
▪ A partir da segunda metade da década de 1970, o Brasil, um país de
capitalismo periférico, viveu, assim como quase todo o restante da América
Latina, um período de redemocratização. No entanto, a transição entre
ditadura militar e Democracia no Brasil foi um processo comandado pelo
alto, isto é, os donos do poder permaneceram os mesmos.
▪ Mas o fim do período autoritário só aconteceu porque havia uma aliança
entre várias forças democráticas que lutavam contra a ditadura militar
(como socialistas, os sindicatos, os social-democratas, a teologia da
libertação, os democratas cristãos, a Ordem dos Advogados do Brasil,
Associação Brasileira de Imprensa, União Nacional dos Estudantes, etc).
As transformações
▪ Todo esse período de efervescência da sociedade civil nos anos
1980 teve dois grandes marcos:
▪ a transição democrática, pois em 1984 Tancredo Neves foi eleito
indiretamente o primeiro presidente civil depois do golpe de
1964, o que significou o fim da ditadura militar no Brasil;
▪ e, em 1987, foram convocadas eleições para uma Assembleia
Nacional Constituinte, responsável por formular a Constituição
de 1988 (que é a Constituição ainda em vigor no Brasil).
As transformações
▪ As transformações societárias no capitalismo tardio são profundas, como
demonstra José Paulo Netto (em Transformações societárias e Serviço Social),
“quer no plano econômico-objetivo da produção/reprodução das classes e suas
relações, quer no plano ídeo-subjetivo do reconhecimento da pertença de classe”
(NETTO, 1996, p. 93).
▪ Essas transformações societárias tem um ponto central na reestruturação do
capitalismo no final do século XX. Sendo um movimento internacional marcado
pela globalização e pela difusão do pensamento neoliberal, a reestruturação
produtiva consolida-se no Brasil ao defender a competência e eficiência do setor
privado, a desresponsabilização do Estado com a proteção do trabalho e as
parcerias do capital com o trabalho, reconceituando, desse modo, as
reivindicações e conquistas históricas dos trabalhadores (NETTO, 1996).
As transformações

▪ Nos anos 1990 presenciou-se a emergência de um fenômeno


denominado refilantropização, que teve como desdobramentos a
proliferação das Organizações Não Governamentais (ONGs), a
revalorização do privado, o advento da responsabilidade social
empresarial e o crescimento de atividades filantrópicas e de
voluntariado, resultando na despolitização das políticas sociais.
Ruptura no Serviço Social brasileiro
ANOS 1980:
 interlocução com a teoria social de Marx e o Serviço Social (produções de
Marilda Vilela Iamamoto);
 É uma teoria que apreende o ser social a partir das mediações, isto é,a natureza
relacional do ser social não é percebida no imediato;
 As relações são sempre mediatizadas por situações/instituições ;
 O ponto de partida é a aceitação dos fatos, dados como indicativos e sinais;
 Conhecimento não é manipulador;
 Relação dialética com a realidade em seu movimento contraditório
Anos 1980
• Anos 1980: Serviço Social brasileiro inicia interlocução com obra marxiana
• Alguns assistentes sociais assumem o desafio de se apropriar do marxismo como uma fonte
inesgotável de sugestões
• Serviço Social é colocado com objeto de pesquisa, isso incentiva balanço crítico da profissão
• O estudo sobre a profissão revela o processo de profissionalização do Serviço Social nos
quadros da divisão sócio-técnica do trabalho
• Por mais que seja forte o diálogo com a tradição marxista não se constituirá um “serviço
social marxista”
• Por meio da inspiração marxista, Serviço Social brasileiro se reconcilia com o tempo
presente para assegurar sua contemporaneidade = Serviço Social faz as pazes com o
presente

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Ruptura no Serviço Social brasileiro

 A partir dos anos 1980 a teoria social de Marx dá a direção do


pensamento e ação do Serviço Social no país ; contribui para a
formação dos assistentes sociais na realidade brasileira;

 Onde aparece: no currículo de 1982; nas atuais Diretrizes Curriculares


para o curso de Serviço Social da ABEPSS; Congressos, Encontros e
Seminários; na Lei de Regulamentação da Profissão; e no Código de
Ética Profissional de 1993.
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Ruptura no Serviço Social brasileiro
Anos 1980/1990: aproximação com outros pensadores, no debate e na
construção intelectual, entre eles:
 Gramsci: no estudo do Estado, da sociedade civil, da ideologia, da
subjetividade e cultura das classes subalternas;
 Agnes Heller: na problemática do cotidiano;
 Lukács: ontologia do ser social fundada no trabalho;
 Thompson: experiências humanas;
 Eric Hobsbawn: contexto histórico das sociedades.
Anos 1990
O Serviço Social brasileiro mantém a direção política conquistada nos
anos 1980:
 continua combatendo o conservadorismo, tanto na sociedade quanto
nas práticas profissionais;
 continua defendendo e querendo o aprofundamento da democracia;
 continua lutando pela ampliação das políticas sociais;
 continua defendendo o fortalecimento da sociedade civil e a
participação popular;
 continua se inspirando na tradição marxista;
 continua defendendo o compromisso assumido com a classe
trabalhadora.

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Anos 1990
Nos Anos 1990 fica claro que a sociedade havia mudado, tinha outro
projeto, um projeto conservador (capitalista, neoliberal,
antidemocrático, intensificando a exploração da força de trabalho)

Nos anos 1990 o Serviço Social mantém o projeto profissional começado


nos anos 1980, mantém um projeto profissional transformador

RESULTADO: choque entre projeto existente na sociedade e projeto


profissional do Serviço Social: eles vão em direções antagônicas

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PROJETO ÉTICO-POLÍTICO
DO Serviço social brasileiro
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
❖A ação humana sempre implica projetos

❖PROJETO = antecipação ideal da finalidade que se pretende alcançar, com


a invocação dos valores que a legitimam e a escolha dos meios para alcançá-
la

❖ Projetos individuais

❖ Projetos coletivos, que podem ser de dois tipos: societários ou


profissionais
“Os projetos societários constituem estruturas flexíveis e cambiantes:
incorporam novas demandas e aspirações, transformam-se e se renovam
conforme as conjunturas históricas e políticas” (NETTO, 2009, p02.).

“A experiência histórica demonstrou que, na ordem do capital, por razões


econômico-sociais e culturais, mesmo num quadro de democracia
política, os projetos societários que respondem aos interesses das classes
trabalhadoras e subalternas sempre dispõem de condições menos
favoráveis para enfrentar os projetos das classes proprietárias e
politicamente dominantes” (NETTO, 2009, p.03) .
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
❖Projetos societários = propostas para o conjunto da sociedade

❖Os projetos societários tem SEMPRE um caráter de classe

❖Os projetos societários são estruturas flexíveis e mutantes, que


transformam-se e se renovam conforme as conjunturas históricas e
políticas

❖No capitalismo, os projetos societários que respondem aos interesses


das classes trabalhadoras sempre dispõem de condições menos
favoráveis para enfrentar os projetos das classes proprietárias
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
Projetos profissionais
“Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão,
elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam
seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e
institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o
comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas
relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e
com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive
o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos
profissionais)” (NETTO, 2009, p.04).
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
Projetos profissionais:
• se renovam, se modificam
• são construídos pelo sujeito coletivo, por meio da
organização profissional
• têm inelimináveis dimensões políticas
• Uma das características conservadorismo consiste na
negação das dimensões políticas e ideológicas
• Projeto profissional = referências teóricas, técnicas, éticas e
políticas para o exercício profissional
• Projeto ético-político profissional = orientações de bases
normativas e valorativas pelas quais a profissão se relaciona
internamente e com a sociedade, um conjunto de referências
metodológicas para a intervenção, posturas e modos de
operar construídos e legitimados pela categoria profissional,
cujos conteúdos objetivem a crítica da sociedade capitalista
❖Ser orientado por um projeto profissional crítico significa somar-se à
luta mais ampla dos trabalhadores
❖A formulação de um projeto profissional crítico à sociedade burguesa é
uma demanda dos segmentos da sociedade que recebem os serviços
prestados pelo assistente social, e não apenas uma condição de grupos
ou do coletivo profissional
❖Assumir uma postura profissional comprometida com o atendimento
das necessidades humanas que tem na vida seu princípio básico é de
fundamental interesse de toda a sociedade.
❖Qual a diferença na intervenção de um profissional que tem clareza do
seu projeto profissional daquele que não a tem?
❖Quando nos referenciamos por um projeto profissional crítico,
podemos estabelecer o limite entre uma prática imediatista,
espontânea, intuitiva, manipulatória e aquela que tem uma clara
direção sociopolítica
❖Na condição de assalariado encontram-se as premissas reais que
diferenciam a prática profissional de intervenções assistencialistas,
assistemáticas e filantrópicas
❖Sem um projeto profissional crítico ficam muito limitadas as
possibilidades de diferenciação entre o exercício profissional e a prática
filantrópica, assistencialista, voluntarista
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
Projetos profissionais

❖Pluralismo: todo corpo profissional é uma unidade não homogênea


❖ No projeto profissional estão presentes projetos individuais e societários
diversos e, um espaço plural do qual podem surgir projetos profissionais
diferentes

❖ Hegemonia: mesmo um projeto que conquiste hegemonia nunca será exclusivo


“Embora seja frequente a sintonia entre o projeto societário hegemônico e
o projeto hegemônico de um determinado corpo profissional, podem
ocorrer – e ocorrem – situações de conflito e mesmo de contradição
entre eles. É possível que, em conjunturas precisas, o projeto societário
hegemônico seja contestado por projetos profissionais que conquistem
hegemonia em seus respectivos corpos (esta possibilidade é tanto maior
quando tais corpos se tornam sensíveis aos interesses das classes
trabalhadoras e subalternas e quanto mais estas classes se afirmem
social e politicamente). Tais situações agudizam, no interior desses
corpos profissionais, as diferenças e divergências entre os diversos
segmentos profissionais que os compõem” (NETTO, 2009, p.06).
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
Projetos profissionais
❖colisão: o enfrentamento de projetos profissionais com o projeto
societário hegemônico tem limites numa sociedade capitalista
❖essa colisão impõe limites: condições institucionais no mercado de
trabalho
❖ armadilhas: messianismo / fatalismo
❖Quando os sujeitos singulares agem somente com motivação moral,
incorrem no voluntarismo ou no moralismo, os quais podem levá-los a
um sentimento de onipotência e/ou resignação
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
Um projeto profissional precisa articular coerentemente várias
dimensões:
❖Imagem ideal da profissão
❖Valores
❖Função social
❖Objetivos
❖Saberes interventivos
❖Conhecimentos teóricos
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
Elementos que materializam o projeto profissional do Serviço Social
brasileiro:
❖as organizações da categoria (CRESS/ CFESS/ ABEPSS/ ENESSO)
❖o Código de ética de 1993
❖a Lei de Regulamentação de 1993
❖As Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social da ABEPSS
de 1996
❖Perfil profissional: que conhece suas competências e imprime
qualidade técnica às suas ações com uma direção crítica clara e
consciente, visando a defesa permanente dos direitos sociais e
humanos
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
❖Historicamente o Serviço Social vem sendo orientado por visões de mundo,
ideologias, formas de agir, sancionadas pelo modo de produção/ reprodução
capitalista ou que visam uma crítica à ele.
❖O Serviço Social sempre foi e é orientado por projetos coletivos críticos ou
conservadores, tenham os profissionais consciência disso ou não
Processo de construção do projeto profissional do Serviço Social:
▪ Serviço Social tradicional
▪ Crise do Serviço Social tradicional
▪ Ruptura do Serviço Social com o conservadorismo
▪ Construção do NOVO projeto profissional do Serviço Social
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
Estrutura básica do projeto profissional do
Serviço Social:
❖núcleo: a liberdade como valor central;
❖ compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos
indivíduos sociais;
❖ se vincula a um projeto societário que propõe a construção de uma nova
ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero;
❖ afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e o repúdio do arbítrio e
dos preconceitos;
❖se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da
universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas
sociais;
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
Estrutura básica do projeto profissional do Serviço Social (p. 21):
❖a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas
como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes
trabalhadoras;
❖o projeto se declara radicalmente democrático;
❖compromisso com a competência, que só pode ter como base o
aperfeiçoamento intelectual do assistente social;
❖componente elementar: compromisso com a defesa dos interesses da
classe trabalhadora
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO

❖ Esse projeto profissional, ganhou hegemonia no Serviço Social a


partir da ruptura
❖Hoje: hegemonia ameaçada: Do ponto de vista neoliberal, defender e
implementar este projeto ético-político é considerado de “atraso”
❖O projeto tem futuro porque aponta ao combate ético, teórico,
ideológico, político e prático social ao capitalismo e suas
transformações societárias
“É evidente que a preservação e o aprofundamento deste projeto, nas condições
atuais, que parecem e são tão adversas, dependem da vontade majoritária do corpo
profissional – porém não só dela: também dependem vitalmente do fortalecimento
do movimento democrático e popular, tão pressionado e constrangido nos últimos
anos.
Mas, na medida em que, no Brasil, tornam-se visíveis e sensíveis os resultados do
projeto societário inspirado no neoliberalismo – privatização do Estado,
desnacionalização da economia, desemprego, desproteção social, concentração
exponenciada da riqueza etc. -, nesta mesma medida fica claro que o projeto ético-
político do Serviço Social tem futuro. E tem futuro porque aponta precisamente ao
combate (ético, teórico, ideológico, político e prático social) ao neoliberalismo, de
modo a preservar e atualizar os valores que, enquanto projeto profissional, o
informam e o tornam solidário ao projeto de sociedade que interessa à massa da
população” (NETTO, 2009, p. 19).
❖O projeto profissional crítico é para ser efetivado no capitalismo:
mesmo que o AS continue atuando no capitalismo, ele pode
compreender melhor a natureza e o significado de sua prática no
contexto das relações sociais, compreensão esta que lhe permite
saber quando avançar e quando recuar e permite ir além da
imediaticidade, que é própria do cotidiano.
❖“Ao clarificar seus objetivos sociais, realizar escolhas moralmente
motivadas, compreender o significado social da profissão no
contexto da sociedade capitalista, escolher crítica e
adequadamente os meios éticos para o alcance de fins éticos,
orientados por um projeto profissional crítico, os assistentes sociais
estão aptos, em termos de possibilidade, a realizar uma
intervenção profissional de qualidade, competência e compromisso
indiscutíveis” (GUERRA, 2007, p. 15).
❖Competência para que e para quem?
❖Necessidade de competência crítica para que o projeto
profissional crítico ofereça respostas concretas, mas não
quaisquer respostas e sim as de cunho democrático, que vise a
democratização da vida social, do poder político e econômico,
indicando os meios de realizá-los
PROJETO ÉTICO – POLÍTICO PROFISSIONAL do Serviço Social

Reflexão crítica sobre a moral dominante, assistente social como um sujeito ético, que
é autonômo (mesmo dentro de limites históricos e sociais) e que define sua própria
norma
O assistente social escolher conscientemente e com responsabilidade estratégias e
táticas, sabendo que fazer é limitado pela condição de trabalhador assalariado
Projeto profissional coletivo que necessariamente precisa ser coerente com
determinado projeto societário e determinado projeto individual
PROJETO ÉTICO- POLÍTICO
PROFISSIONAL
HEGEMÔNICO
DO SERVIÇO SOCIAL
BRASILEIRO
O Serviço Social na
contemporaneidade e a
busca pela afirmação de
direitos e emancipação
política
A contemporaneidade
▪ As diversas transformações societárias no cenário
contemporâneo vêm requerendo do/da profissional de Serviço
Social o desenvolvimento de novas competências, isto é, o
aprofundamento do conhecimento da realidade social.
▪ Todas essas mudanças no mundo do trabalho atingem o
conjunto dos trabalhadores. Portanto, a polivalência (trabalhador
polivalente), a terceirização, a subcontratação, a queda do
padrão salarial, a ampliação de contratos temporários, o
desemprego, são dimensões constitutivas do próprio Serviço
Social atual.
A contemporaneidade
▪ Esses novos tempos atingem os trabalhadores, que geralmente
são os usuários do Serviço Social e os próprios assistentes
sociais, que são trabalhadores, exigindo um profissional crítico,
competente, propositivo, criativo e não apenas executivo. Esse é
o novo perfil de profissional que pensa, analisa, pesquisa e
decifra a realidade. Daí a necessidade de articulação dos
assistentes sociais com o conjunto dos trabalhadores porque a
insegurança do trabalho não afeta apenas os assistentes sociais.
A contemporaneidade
▪ O desafio frente a esses novos tempos é: redescobrir
alternativas e possibilidades para o trabalho profissional;
formular propostas que façam frente à questão social;
reconhecer os usuários não como vítimas, mas como sujeitos
que lutam; se aproximar urgente do modo de vida dos
trabalhadores e de suas formas de enfrentar e resistir à
exploração; materialização dos princípios éticos no cotidiano do
trabalho.
▪ Articulação ao tema transversal: Respeito à diversidade

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